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Sara Rodrigues ALERGIA RINITE ALÉRGICA DEFINIÇÃO · Rinite é a inflamação e/ou disfunção da mucosa de revestimento nasal, caracterizada por alguns dos sintomas nasais: obstrução nasal, rinorreia anterior e posterior, espirros, prurido nasal e hiposmia. · Geralmente ocorrem durante dois ou mais dias consecutivos por mais de uma hora na maioria dos dias. Prevalência · RA é a doença de maior prevalência entre as doenças respiratórias crônicas. · Problema global de saúde pública que afeta a qualidade de vida e dificulta o controle da asma. · Segundo ISAAC Brasil (International Study of Asthma and Allergic Diseases in Childhood), na faixa dos 6 aos 7 anos acomete 25,7% das crianças e entre 13 e 14 anos 29,6% dos jovens. · Nos pacientes com asma ativa, a RA afeta 19,0 % entre adolescentes e 24,3% entre os escolares. · Brasil está no grupo de países com maiores taxas de prevalência de asma e rinite alérgica no mundo. Fatores desencadeantes · No nosso meio, os ácaros domésticos são os principais agentes etiológicos, seguidos por alérgenos de barata, epitélio de animais domésticos e mais raramente fungos. · No Sul do Brasil os pólens têm importância na sensibilização de adultos e crianças. · Irritantes da mucosa: poluentes, odores fortes, perfumes, ar condicionado, produtos de limpeza. · Alimentos raramente desencadeiam sintomas respiratórios isolados. · Alergia a alimentos, em geral, vêm como manifestações associadas a quadros mais graves, como anafilaxia. A rinite alérgica pode ser classificada com base em três critérios a) Pela exposição a alérgenos b) Pela duração dos sintomas c) Pela gravidade dos sintomas Classificação a) Pela exposição a alérgenos · Sazonal: causada por diferentes tipos de pólens. · Perene: causada por alérgenos que existem ao longo de todo o ano. · Profissional: causada por alérgenos no local de trabalho. b) Pela duração dos sintomas · Intermitente: sintomas ocorrem < quatro dias/semana ou < quatro semanas consecutivas. · Persistente: sintomas ocorrem > quatro dias/semana e > quatro semanas consecutivas. c) Pela gravidade dos sintomas: · Leve: sono normal, sem comprometimento das atividades diárias, escolares ou profissionais e com sintomas não perturbadores. · Moderada a grave: distúrbio do sono e comprometimento das atividades diárias, escolares ou profissionais. Fisiopatologia · A inflamação da mucosa nasal é caracterizada por complexa interação entre mediadores inflamatórios, mediada por IgE-Ag específico: 1. IgE específica ligada superfície mastócitos da mucosa nasal (Processo de Sensibilização). 2. A ligação Ag-IgE específico nos mastócitos sensibilizados, liberação imediata e tardia de mediadores (histamina, triptase, quimase, quininas e heparina). 3. Mastócitos degranulados rapidamente sintetizam outros mediadores, como leucotrienos (LTs) e prostaglandina D2 (PGD2). 4. Estes mediadores, por diversas interações, causam: · Estímulo glândulas mucosas, aumentando secreções. · Aumento permeabilidade vascular, levando à exsudação plasmática (edema). · Vasodilatação, levando à congestão nasal. · Estímulo nervos sensitivos, causando espirros e prurido. Todos estes eventos podem ocorrer em minutos! Sinais e sintomas da rinite alérgica · Rinorreia (secreção nasal excessiva), prurido, congestão nasal e espirros. · Na rinite alérgica sazonal: edema periorbitário, tosse seca, dispneia e disfonia. · Na rinite alérgica perene sintomas durante todo o ano: congestão nasal, cefaleia e sensação de garganta seca. · Cornetos nasais hiperemiados ou pálidos, com mucosa nasal edematosa e com secreção hialina. · Rinorreia clara, podendo ser anterior e/ou posterior. · - Anterior: espirros e limpeza frequentes do nariz. · - Posterior: roncos, secreção pós-nasal, limpeza constante da faringe e laringe. · Obstrução nasal pode ser bilateral ou intermitente, alternando entre uma fossa nasal e outra. · Inflamação mucosa nasal pode se estender aos seios paranasais, orelha média, conjuntiva, faringe, laringe e brônquios levando à sinusite, otite média, conjuntivite, faringite, laringite e asma, respectivamente. · Para aliviar a irritação ou fluxo de muco, alguns pacientes esfregam o nariz na direção superior do rosto com a palma da mão: “Saudação Alérgica”. · Com tais movimentos repetidos forma uma prega sobre o nariz: “Prega nasal transversal”, com deformidade permanente. Saudação alérgica A congestão nasal intensa pode estar associada: · Anosmia ou hiposmia e perda do paladar. · Sintomas oculares como prurido, lacrimejamento e hiperemia conjuntival. · Disfunção tubária com estalidos e estouros nos ouvidos. · Sintomas sistêmicos como mal-estar geral, cansaço, irritabilidade e agitação para dormir. · Edema das pálpebras · Cianose periorbitárias devido à estase venosa secundária à obstrução nasal crônica: “Olheiras”. · Linhas de Dennie-Morgan : linhas na pálpebra inferior. · Pode ocorrer anormalidades no crescimento craniofacial, consequente da obstrução nasal crônica levando rosto alongado, boca entreaberta, mandíbulas retraídas. · Cavidade oral pode apresentar dentição alterada, palato em ogiva e grânulos hiperemiados na orofaringe. · Exame otológico pode mostrar otite média secretora Respirador bucal Palato ogiva Alterações na arcada dentária Diagnóstico da rinite alérgica · Anamnese completa e exame físico cuidadoso. · Investigar: · História familiar de atopia · Asma · Dermatite atópica · Sinusopatias crônicas · Infecções · Diagnósticos diferenciais de rinopatias não alérgicas. · Animais de estimação, insetos(baratas), tapetes, cortinas, móveis estofados; · Troca periódica colchões e travesseiros; encapá-los com capa impermeável; · Métodos utilizados na limpeza doméstica · Ar condicionado e ventiladores · Contato com tabagismo. · Observar que muitos sintomas não são específicos da rinite alérgica. · O aspecto da mucosa nasal pode não diferenciar outros tipos de rinopatias. · Tanto a rinite alérgica quanto a não alérgica podem apresentar os mesmos sinais de palidez, edema ou hiperemia da mucosa. · Pacientes com história de rinite alérgica, investigar sintomas em outros órgãos como pulmão (asma) e pele (dermatite atópica). · Paciente assintomático ou pouco sintomático no momento do exame físico: pode apresentar exame normal ou com poucos achados (edema e hiperemia de mucosa), mesmo com história sugestiva de rinite. · O ambiente geralmente influencia a expressão da doença, mas a genética determina a gravidade e a especificidade dos sintomas. · Quando ambos os pais são alérgicos, as possibilidades dos filhos serem alérgicos aumenta muito, chegando a mais de 80%. · A presença da rinite alérgica nos asmáticos pode chegar a 58% ou mais. · Ela pode também estar associada com eczema, urticária e alergias do sistema digestivo. Exames complementares · Podem ser in vivo e in vitro. · Dosagem IgE total, exame citológico nasal e eosinofilia periférica ao hemograma são exames inespecíficos. · Testes cutâneos de leitura imediata (Prick test) identificam o alérgeno responsável pela reação. · Dosagem de IgE específica também identificam o alérgeno (custos mais elevados). Testes cutâneo- alérgicos (prick test) Avaliação por imagem · Rx simples da rinofaringe: hipertrofia da tonsila faríngea (adenoide) ou processos tumorais da rinofaringe. · Rx seios paranasais não tem papel no diagnóstico da rinite alérgica. · A tomografia computadorizada e ressonância magnética de seios paranasais: quadros inflamatórios e infecciosos crônicos sinusais, complicações de quadros infecciosos agudos e na avaliação de processos tumorais benignos e malignos. Tratamento Consiste em quatro estratégias principais: 1. Medidas de controle de ambiente 2. Farmacoterapia: anti-histamínicos orais, anti-histamínicos associados descongestionantes, corticosteroides orais e tópicos nasais e antileucotrienos. No tratamento da rinite alérgica, os anti-histamínicos de segunda geração são preferíveis aos de primeira. 3. Imunoterapia: é eficaz nos casos de difícil controlee na presença de comorbidades ou complicações. Deve ser combinada com a farmacoterapia e o controle do ambiente. 4. 4. Cirurgia: tratamento de comorbidades, como obstrução nasal por desvio do septo importante, hipertrofia do corneto nasal inferior, hipertrofia de tonsilas faríngeas ou sinusite refratária e suas complicações. Controle ambiental Evitar: · Poeira, mofo, polens, baratas e irritantes como fumaça · Contato com animais com pelos ou penas. · Ar condicionado: se não for possível evitar, fazer limpezas periódicas. · Temperaturas ambientes muito baixas e mudanças bruscas de temperatura. · Inseticidas e produtos de limpeza com odor forte · Quarto de dormir bem ventilado e ensolarado. · Travesseiros de espuma, fibra ou látex envoltos em material plástico (vinil) ou com capas impermeáveis. · Limpar estrado da cama duas vezes por mês. · Trocar roupas de cama e cobertores regularmente. · Aspirar os colchões com frequência. · Camas e berços devem ficar afastados da parede. · Retirar bichos de pelúcia, livros, revistas e caixas do quarto de dormir. · Usar brinquedos fáceis de lavar (plástico). · Evitar tapetes, carpetes, cortinas e almofadões. · Preferir pisos laváveis (cerâmica, porcelanato) e cortinas tipo persianas que possam usar pano úmido. · Não usar vassouras nem espanadores. · Preferir uso pano úmido diariamente na casa ou aspiradores de pó com filtros especiais, 2x/semana. · Afastar o paciente do ambiente enquanto se faz a limpeza. · Ambientes fechados por tempo prolongado (casa de praia ou de campo): arejar e limpar 24 horas antes da entrada dos alérgicos. · Não fumar dentro de casa e do automóvel. · Não armazenar lixo dentro de casa. · Nos alérgicos ao pólen, manter janelas da casa e do carro fechadas durante o dia, abrindo-as à noite (menor contagem de polens). · Preferir vida ao ar livre. · Esportes devem ser praticados, evitando-se dias com alta exposição aos polens ou poluentes. · Animais de estimação para crianças alérgicas: peixes e tartarugas. Farmacoterapia Diferentes agentes terapêuticos estão disponíveis. · Farmacoterapia de primeira linha: · - Antihistamínicos via oral (2ª geração) · Loratadina, desloratadina, rupatadina, cetirizina · - Corticosteróides intranasais · Acetonido de triancinolona, budesonida, dipropionanato de beclometasona, ciclesonida, propionato de fluticasona Recomendações do ARIA · Anti-histamínicos H1 orais de 2ª geração são os recomendados no tratamento da rinite alérgica. · Anti-histamínicos orais H1 de 1ª geração não são recomendados quando os de 2ª geração são disponíveis, por questões de segurança. Anti-histamínicos H1 clássicos ou de primeira geração Anti-histamínicos H1 não clássicos ou de segunda geração Corticosteroides de uso tópico nasal Conclusão · A rinite alérgica sempre deve ser lembrada na abordagem de um paciente com quadro respiratório. · Atentar para as comorbidades, em especial a asma, cujo tratamento concomitante melhora o controle da própria rinite alérgica. · Manter acompanhamento periódico do paciente com ajustes necessários à otimização terapêutica. · Essa combinação de ações permite bom controle da doença com melhora de qualidade de vida aos pacientes. ·
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