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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO FACULDADE DE FARMÁCIA Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu Mestrado Profissional em Ciência e Tecnologia Farmacêutica MAYRA LEAL CHRISÓSTOMO BODART Desenvolvimento e estudo de estabilidade de solução oral magistral de L-Carnitina para tratamento de doenças metabólicas RIO DE JANEIRO 2019 MAYRA LEAL CHRISÓSTOMO BODART Desenvolvimento e estudo de estabilidade de solução oral magistral de L-Carnitina para tratamento de doenças metabólicas Dissertação de Mestrado Profissional apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia Farmacêutica, Faculdade de Farmácia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ciência e tecnologia Farmacêutica. Orientadora: Profª. Drª. Elisabete Pereira dos Santos Coorientadora: Profª. Drª. Ana Lúcia Vazquez Villa Rio de Janeiro 2019 CIP - Catalogação na Publicação Elaborado pelo Sistema de Geração Automática da UFRJ com os dados fornecidos pelo(a) autor(a), sob a responsabilidade de Miguel Romeu Amorim Neto - CRB-7/6283. B666d Bodart, Mayra Leal Chrisóstomo Desenvolvimento e estudo de estabilidade de solução oral magistral de L-Carnitina para tratamento de doenças metabólicas / Mayra Leal Chrisóstomo Bodart. -- Rio de Janeiro, 2019. 125 f. Orientadora: Elisabete Pereira dos Santos. Coorientadora: Ana Lúcia Vazquez Villa. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Farmácia, Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas, 2019. 1. Carnitina, . 2. Erro inato de metabolismo. 3. Formulação líquida. 4. Estabilidade. 5. Farmácia Magistral. I. Santos, Elisabete Pereira dos, orient. II. Villa, Ana Lúcia Vazquez, coorient. III. Título. Dedicatória Dedico esse trabalho a todos os pacientes da Farmácia Universitária AGRADECIMENTOS Agradeço principalmente a Deus por me dar forças e por me impulsionar nos momentos mais difíceis. Eu senti Sua presença em vários momentos desse projeto ao colocar anjos no meu caminho a cada vez que uma dificuldade aparecia! Ao meu marido que entendeu toda a minha ausência, que me mandava dormir quando eu virava noites estudando ou escrevendo, ou por me dar apoio e chocolate nas inúmeras vezes que eu chegava desesperada com as diversas dificuldades que encontrei no caminho. Sem você, eu não teria conseguido! Aos meus pais que sempre acreditaram em mim, que me ensinaram a ser o que sou hoje e que comemoraram cada pequena vitória encarada nesse projeto, sem nem ao menos entender o que significava! Se eu consegui essa conquista hoje, é porque vocês me apoiaram desde o início! Obrigada por tudo! Essa conquista é nossa! À minha irmã, afilhada, minha “filhinha” e amiga, que tanto me deu apoio durante esse período, que mandava mensagens carinhosas e fotos malucas tentando me animar quando eu mais precisava de um carinho! À professora Elisabete Pereira dos Santos pela orientação e confiança para realização desse trabalho. À professora Ana Lúcia Vazquez Villa por acreditar mais em mim do que eu, pela paciência, contribuições, incentivos, broncas e amizade. Às professoras Mariana Sato de Souza de Bustamante Monteiro e Zaida Maria Freitas, pela contribuição e cuidado com a orientação na Banca de Acompanhamento. À Banca examinadora por aceitar o convite e fornecer preciosas contribuições para o trabalho. À professora Helena Keiko pela ajuda, contribuições e disponibilidade em realizar os testes microbiológicos da formulação. A imensa ajuda que recebi de todos do Laboratório de Imunofarmacologia, chefiado pela Bartira Rossi Bergmann, que abriu as portas do laboratório para mim. Agradeço especialmente ao Douglas e Maria Paula, pela amizade, ajuda, por não me deixarem com fome quando eu não almoçava para ganhar tempo; à Ariane por todas as dicas, contribuições, avaliações e orientações; à Ariele, Felipe e Izabelle por toda torcida, ajuda e amizade! Eu me senti parte do laboratório de vocês! Vocês foram fundamentais à realização do projeto! Aos queridos Aline e Jonatas da Central Analítica. Ao LabTIF, especialmente à Letícia Coli, Paloma Wettler, Mariani Grillo e Fernanda Locatelli por me ajudarem com algumas análises. Ao Marco Antonio que disponibilizou o HPLC e tempo para me ajudar. À todos do LabCQ, especialmente ao Pedro e Luis que tanto me ajudaram. Às grandes amigas Cláudia, Fernanda e Elaine. Vocês acompanham meu crescimento pessoal e profissional e me ajudaram e ajudam sempre! Eu não teria conseguido sem vocês! Obrigada pelos maravilhosos momentos de diversão, de ajuda e de incentivo! À Érika, da Seção de Referência da Biblioteca Central do CCS, que tanto me ajudou com a busca de Referencial Bibliográfico. À Sarah Noslien que desde o começo me ajudou, me incentivou e me ajudou! À Larissa Rodrigues, minha amiga e aluna de iniciação científica, que me alavancou e fez com que o projeto desse certo. Você foi essencial nos momentos em que mais precisei! À Ana, Fernanda Cardoso e Valery que me tanto me ajudaram. Aos meus amigos da “Panela” Ana Elisa, Sarah, Felippe e Walter, que sempre escutaram minhas reclamações, medos e sempre me incentivaram! Aos amigos feitos no Laboratório de Desenvolvimento Galênico (LADEG): Priscila, Ana Paula, Luciana, Fiammeta, Tatiele, Márcio, Raphaela, Mirella, Deise, Bruna, Leide. Vocês fizeram meus dias mais leves, felizes e animados! À todos do meu setor que seguraram as pontas quando eu precisava resolver algum problema ou realizar alguma análise! Muito obrigada a todos! Em especial à amiga Tatiana Zanela que tanto me apoiou, me incentivou, me deu forças e segurou o setor quando eu mais precisava! Muito obrigada! Com certeza sem seu apoio e ajuda, eu não teria conseguido! Às queridas Cleonice Marques e Letícia Dysarz que escutavam meus momentos de desespero, que me apoiaram, me incentivaram e muitas vezes me tranquilizaram! À todos os amigos da Farmácia Universitária, que me apoiaram e me incentivaram tanto durante esses anos de mestrado. À todos, os meus mais sinceros agradecimentos! Muito obrigada! “A persistência é o caminho do êxito” (Charles Chaplin) RESUMO BODART, Mayra Leal Chrisóstomo. Desenvolvimento e estudo de estabilidade de solução oral magistral de L-Carnitina para tratamento de doenças metabólicas. Rio de Janeiro, 2019. Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia Farmacêutica) – Faculdade de Farmácia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2019. Erros inatos do metabolismo (EIM) são distúrbios genéticos que levam a falhas enzimáticas causando interrupção de vias metabólicas, o que pode comprometer diversos processos celulares. O rápido diagnóstico e tratamento das patologias associadas aos EIM evitam danos irreversíveis neurológicos e cognitivos, fornecendo uma melhor qualidade de vida aos pacientes. A administração de L- carnitina é amplamente utilizada nesse perfil de tratamento e no Brasil, apenas suplementos voltados para o público esportivo pode ser encontrada sob a fórmula líquida, não existindo formulação medicamentosa de L-carnitina voltada para o público alvo. Na Farmácia Universitária, é usualmente dispensada sob a forma de sachê, porém apresenta alta higroscopicidade o que dificulta sua pesagem e manipulação. A necessidade de multidoses diárias a pacientes pediátricos e com problemas cognitivos evidenciou a necessidade do desenvolvimento de uma solução magistral de L-carnitina. Todavia, a escolha dos excipientes a serem utilizados para esse público alvo,que apresenta uma serie de restrições e alterações metabólicas, se torna um desafio e, além disso, a L-carnitina é um excelente substrato para microrganismos, apresentando problemas em sua estabilidade. Diante disso, esse trabalho teve como objetivo desenvolver uma formulação líquida oral de L-Carnitina, com excipientes que atendam ao público alvo garantindo boa estabilidade físico- química e microbiológica. Foram desenvolvidas oito formulações com duas concentrações de L-carnitina (10 e 20%) e diferentes combinações de agentes de viscosidade, acidulante e conservantes. Duas dentre as oito formulações apresentaram melhores características físico-químicas, organolépticas e microbiológicas, sendo conduzidas ao estudo de estabilidade completo. O estudo de estabilidade realizado foi do tipo “em uso”, onde alíquotas diárias foram retiradas das embalagens multidoses para mimetizar as condições de uso. As amostras foram armazenadas em condições controladas de temperatura (5ºC, 25ºC e 40ºC) e em diferentes materiais de embalagem primárias (vidro âmbar e plástico PET leitoso). As amostras foram analisadas nos tempos 0, 15, 30 e 45 dias após suas manipulações. Elas foram analisadas em relação as suas características organolépticas e físico-químicas como aspecto, odor, pH (Brasil, 2005) e teor do princípio ativo (EUA, 2018), utilizando a cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE), essa metodologia passou por uma validação parcial e teve a adequabilidade do sistema verificada. Para análise microbiológica, os testes foram determinados pela farmacopeia brasileira para soluções orais não estéreis (contagem total de bactérias aeróbias, contagem de leveduras e fungos e presença de Escherichia coli) (Brasil, 2005). Para a observação de produtos de degradação, as formulações foram expostas a condições de estresse como aquecimento, solução ácida, básica e oxidativa e apenas apresentou degradação quando mantida sob meio fortemente ácido e básico com aquecimento a 70ºC. A melhor formulação apresentou boa estabilidade físico-química e microbiológica durante os 45 dias de estudo de estabilidade quando mantida sob temperatura ambiente. Portanto, podemos concluir que a estabilidade foi garantida mesmo com a abertura subsequente da embalagem primária para mimetização das condições de uso pelo paciente, tendo essa formulação um perfil seguro para o público alvo e será comercializada pela Farmácia Universitária da UFRJ. Palavras chaves: Carnitina, estabilidade, formulação líquida, erro inato de metabolismo. Resumo em Língua estrangeira BODART, Mayra Leal Christóstomo. DEVELOPMENT AND STABILITY STUDY OF MAGISTRAL ORAL SOLUTION OF L-CARNITIN FOR TREATMENT OF PATHOLOGIES ASSOCIATED TO INBORN ERRORS OF METABOLISM (IEM). Rio de Janeiro, 2019. Dissertation (MsC in Science and Pharmaceutical Technology) – Faculdade de Farmácia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2019. Inborn errors of metabolism (IEM) are genetic disturbs witch can be correlated with enzymatic defects; these defects are able to cause interruption of several metabolic paths compromising many cellular processes. A fast diagnosis and treatment of these pathologies associated to IEM allows to avoid irreversible neurological and cognitive damages, therefore the patients could have an improvement in their quality of life. The supplementation with L-carnitine is widely use in this treatment. Commonly dispensed in sachet, it has a high hygroscopic that makes difficult the process of weighing and manipulating. The requirement of multiple daily doses of pediatric patients with cognitive issues manifested the haste to develop a magistral solution of L-carnitine. However, the excipient selection to use it in this public, which has an enormous series of restriction and metabolic alterations, became a challenge, furthermore, L-carnitine is an excellent substrate for microorganisms that shows stability problems. For that reason, this work aims to develop an oral solution formulation of L-carnitine with excipients that fulfill the public needs, warranting a good physics-chemistry and microbiological stability. To this end, eight formulations were developed, containing two distinct concentration of L-carnitine (10% and 20%), and different combinations of thickening agent, acidifiers and preservatives. Two of them presented better organoleptic characteristics and were piloted to the fully stability study. The stability study method applied was “in use”; in witch, daily samples were taken from the multidose bottles to mime the use conditions of the patient. To run the stability study, the samples were kept in dissimilar controlled temperature levels (5ºC, 25ºC e 40ºC) and different sorts of primary packaging (amber glass and plastic PET). The analysis were performed along 0, 15, 30 and 45 days after the manipulation. The samples were analyzed by their organoleptic and physic-chemistry characteristic as aspect, odor, pH (Brazil, 2005) and content of active (USA, 2018) using high performance liquid chromatography (HPLC) which had an initial validation process to adequate to the system. The microbiological assay was made as described in Brazilian Pharmacopoeia 5nd edition for oral solution non- sterile (aerobic bacteria total count, yeast and fungus count and presence of Escherichia coli). In order to evaluate the degradation products, the formulations were exposed to stress conditions as heat, acid, basic and oxidative solutions. The oral solution that exhibited the better stability physic-chemistry, microbiological and organoleptic along 45 days was the stocked in shelf at ambient temperature. Thus, we can conclude that even opening the primary packaging everyday to mime the use condition of the patient, the oral solution maintained the stability condition, presenting a safe profile to the patient and will be commercialized by the Farmácia Universitária of UFRJ. Key words: carnitine, stability, liquid formulation, Inborn errors of metabolism LISTA DE FIGURAS Figura 01. Metabolismo dos aminoácidos de cadeia ramificada e a sinalização das etapas interrompidas pelas acidemiaspropiônica, metilmalônica, isovalérica e glutárica. 34 Figura 02. Via principal do catabolismo da leucina e bloqueio da enzima isovaleril-CoAdesidrogenase. 35 Figura 03. Vias metabólicas alternativas do isovaleril-CoA em caso de interrupção da via principal. 36 Figura 04. Metabólitos secundários produzidos quando ocorre o bloqueio enzimático da PCC. 36 Figura 05. Transporte dos ácidos graxos do meio extramitocondrial para a matriz mitocondrial com auxílio de enzimas. 41 Figura 06. Estrutura da L-carnitina. 42 Figura 07. Estrutura química das isoformas de carnitina: levógira e dextrógira. 43 Figura 08. Estrutura do sal cloridrato de L-carnitina. 43 Figura 09. Ilustração do processo de manipulação durante o processo de mistura. 46 Figura 10. Representação esquemática de um sistema de cromatografia líquida. 58 Figura 11. Metabólitos possiveis da L-carnitina quando consumida por microrganismos 59 Figura 12. Espectro referente à análise de IV-TF do padrão de L-carnitina 79 Figura 13. Espectro referente à análise de IV-TF da matéria-prima de L- carnitina 79 Figura 14. Principais bandas presentes no espectro IV-TF representadas na estrutura da L-Carnitina. 80 Figura 15. Cromatograma do solvente (água ultrapurificada). 82 Figura 16. Cromatograma da Fase Móvel 82 Figura 17. Cromatograma da L-carnitina padrão a 2,0 mg/mL 83 Figura 18 Espectro UV/VIS do pico cromatográfico da L-carnitina padrão a 2,0 mg/mL 83 Figura 19. Cromatograma da solução com padrão de L-carnitina e padrão interno. 83 Figura 20. Cromatograma de solução com matéria-prima de L-carnitina e padrão interno. 84 Figura 21. Cromatograma dos excipientesusados no desenvolvimento da formulação em presença do padrão interno. 84 Figura 22. Cromatograma da L-carnitina em presença do padrão interno e excipientes usados no desenvolvimento da formulação: ácido cítrico e benzoato de sódio. 85 Figura 23. Comparação entre o espectro de varredura do pico cromatográfico correspondente à L-carnitina na solução padrão e na solução com os excipientes. 85 Figura 24. Curva padrão da L-carnitina a partir da média de valores encontradas no primeiro dia de análise 87 Figura 25. Curva padrão da L-carnitina a partir da média de valores encontradas no segundo dia de análise 87 Figura 26. Curva padrão da L-carnitina a partir da média de valores encontradas no terceiro dia de análise 87 LISTA DE QUADROS Quadro 01. Níveis de variações aceitáveis de DPR para precisão 89 Quadro 02. Resultado das análises de pH no estudo de estabilidade completo das formulações a 20% (p/v) 102 Quadro 03 Resultado das análises de teor no estudo de estabilidade completo das formulações a 20% (p/v) 105 Quadro 04 Resultados do estudo de estabilidade microbiológico da formulação 6 acondicionada em vidro e em plástico 108 Quadro 05 Resultados do estudo de estabilidade microbiológico da formulação 7 acondicionada em vidro e em plástico 109 Quadro 06 Resultados do estudo de estabilidade microbiológico da formulação controle acondicionada em vidro e em plástico 110 LISTA DE TABELAS Tabela 01. Principais características de identificação da Carnitina 42 Tabela 02. Principais características dos materiais comumente usados para embalagem 54 Tabela 03. Principais resistências dos materiais comumente usados para embalagem 54 Tabela 04. Descrição dos excipientes utilizados nas formulações testadas e suas proporções 68 Tabela 05. Densidade da água de 20 a 30°C 69 Tabela 06. Características de incubação dos testes microbiológicos 76 Tabela 07. Esquema das condições de exposição das amostras para avaliação da estabilidade 77 Tabela 08. Principais bandas encontradas em espectro de IV-FT de L- carnitina 80 Tabela 09. Parâmetros aplicados no teste de linearidade 86 Tabela 10. Valores obtidos para LD e LQ. 88 Tabela 11. Resultado encontrado para o teste de precisão. 89 Tabela 12. Resultados obtidos para o teste de exatidão. 90 Tabela 13. Composição das formulações testes a 10% (p/v) 94 Tabela 14. Resultado da análise FIQ inicial das formulações a 10% (p/v). 94 Tabela 15. Resultado das análises microbiológicas no estudo de estabilidade prévio 95 Tabela 16. Resultado das análises físico-químicas no estudo de estabilidade prévio 96 Tabela 17. Composição das formulações testes a 20% (p/v) 97 Tabela 18. Resultado FIQ inicial da estabilidade prévia das formulações a 20% (p/v) 97 Tabela 19. Resultado das análises FIQ das formulações a 20% (p/v) 98 Tabela 20. Resultado das análises MIC das formulações a 20% (p/v) 99 Tabela 21. Resumo do estudo de estabilidade completo em uso 101 Tabela 22. Análise estatística dos valores de pH avaliando cada formulação nas diferentes embalagens 104 Tabela 23. Resultado da análise estatística do teste de teor realizado em comparação com as embalagens para cada formulação 106 Tabela 24. Teor de L-carnitina da Formulação 6 sob soluções degradantes dez vezes menos concentrada 112 Tabela 25. Resumo do estudo de degradação forçada sob diferentes condições. 112 Tabela 26. Tempos de retenção dos picos encontrados no estudo de estabilidade. 113 Tabela 27. Áreas dos picos encontrados no estudo de degradação. 113 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 3-MMM 3-Metilcrotonil glicinúria ANOVA Análise de Variância ANVISA Agencia Nacional de Vigilância Sanitária BPF Boas Práticas de Fabricação CACT Deficiência de Carnitina/AcilcarnitinaTranslocase CG Cromatografia Gasosa CLAE Cromatografia Líquida de Alta Eficiência CMC Carboximetilcelulose CoA Coenzima A CPT-II Deficiência da Palmitoil Carnitina Transferase CTBA Contagem total de bactérias aeróbicas CTFL Contagem total de fungos/leveduras DAD Detector de Arranjo de Diodos DCP Deficiência de Carnitina Primária DLE Deficiência de Beta-Cetotiolase DP Desvio Padrão DPR Desvio Padrão Relativo EIM Erro Inato do Metabolismo FB Farmacopeia Brasileira FD&C Food, drug and Cosmetics administration FIQ Físico-químico FU Farmácia Universitária GA I AcidemiaGlutária tipo 1 GA II AcidemiaGlutária tipo 2 HGM Acidúria 3-Hidroxi-3-Metilglutárica HUCFF Hospital Universitário Clementino Fraga Filho IC Inclinação da curva de calibração IPPMG Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira IVA AcidemiaIsovalérica IV-TF Espectroscopia de Infravermelho com Transformada de Fourier Lacmac Laboratório de Controle de Qualidade de Medicamentos, Alimentos e Cosméticos LCHADD Deficiência de 3-hidroxiAcil-Coenzima A Desidrogenase de Cadeia Longa LD Limite de Detecção LQ Limite de Quantificação MCAD Deficiência da Desidrogenase das Acil-Coa dos Ácidos Graxos de Cadeia Média MCC Deficiência isolada de 3-metilcrotonil-CoA carboxilase MCM Deficiência da enzima metilmalonil-CoAmutase MIC Microbiológico Milli-Q Água Ultrapurificada MMA AcidemiaMetilmalônica PA AcidemiaPropiônica PAH Fenilcetonúria PCC Deficiência da enzima Propionil-CoACarboxilase PEAD Polietileno de alta densidade PEBD Polietileno de baixa densidade PET Polietilenotereftalato pH Potencial hidrogeniônico PP Polipropileno PS Poliestireno PVC Policloreto de vinila qs Quantidade suficiente qsp Quantidade suficiente para RDC Resolução da Diretoria Colegiada RE Resolução TR Tempo de retenção SCOT Deficiência de SCOT TI Informe técnico T2 Anomalia da Acetoacetil-CoATiolase mitocondrial UFC Unidade Formadora de Colônia UFC/mL Unidade Formadora de Colônia por mL UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro USP Farmacopeia dos Estados Unidos UV Ultravioleta VIS Visível VLCAD Deficiência da Acil-Coenzima A Desidrogenase de Cadeira Muito Longa LISTA DE FÓRMULAS E SÍMBOLOS % Porcentagem ® Registrado °C Grau Celsius °C Graus Celsius µm Micrograma a Coeficiente angular b Coeficiente linear bar Unidade de pressão cm-¹ Número de onda d2020 Densidade relativa g grama h hora H2O Água H3O + Íon hidrônio HCl Ácido clorídrico HO- Íon hidroxila KBR Brometo de potássio L Litro log Logarítmo M Molar mg Miligrama min Minuto mL Mililitro mL/min Mililitro por minuto mm Milimetro NaOH Hidróxido de sódio p/p Peso por peso p/v Peso por volume r Coeficiente de correlação R² Coeficiente de determinação λ Comprimento de onda ρt Densidade de massa SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 26 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................ 29 2.1 Erros Inatos do Metabolismo (EIM) ............................................................... 29 2.1.1 Manifestações Clínicas .............................................................................. 29 2.1.2 Diagnóstico ................................................................................................ 30 2.1.3 Classificação dos EIM ................................................................................ 31 2.1.3.1 AMINOACIDOPATIAS ........................................................................ 33 2.1.3.2 ACIDEMIAS ORGÂNICAS .................................................................. 33 2.1.3.3 OUTRAS DOENÇAS DE EIM TRATADAS COM L-CARNITINA ....... 38 2.2 L-Carnitina .......................................................................................................40 2.2.1 Bioquímica ................................................................................................. 40 2.2.2 Características Gerais ............................................................................... 41 2.2.3 Efeitos adversos e precauções .................................................................. 43 2.2.4 Farmacocinética......................................................................................... 44 2.3 Farmácia Universitária da UFRJ ........................... Erro! Indicador não definido. 2.4 Desenvolvimento De Formulações Líquidas ................................................ 48 2.4.1 Forma Farmacêutica Líquida ..................................................................... 48 2.4.2 Excipientes Farmacêuticos Usados Para Soluções Líquidas Orais ........... 49 2.4.2.1 SOLVENTE: ÁGUA PURIFICADA ..................................................... 49 2.4.2.2 CONSERVANTES ............................................................................... 50 2.4.2.3 AGENTE PROMOTOR DE VISCOSIDADE ........................................ 51 2.4.2.4 ACIDULANTE ..................................................................................... 52 2.4.2.5 EDULCORANTES ............................................................................... 52 2.4.3 Embalagens Usadas Para Soluções Líquidas Orais.................................. 52 2.5 Controle De Qualidade De Soluções Orais Magistrais ................................ 55 2.5.1 Densidade de Massa ................................................................................. 55 2.5.2 Determinação potenciométrica do pH ........................................................ 56 2.5.3 Doseamento do princípio ativo .................................................................. 56 2.5.4 Controle microbiológico ............................................................................. 59 2.6 Estudo De Estabilidade .................................................................................. 60 3 JUSTIFICATIVA ..................................................................................................... 63 4 OBJETIVOS ........................................................................................................... 64 4.1 Objetivo Geral ................................................................................................. 64 4.2 Objetivos Específicos ..................................................................................... 64 5 MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................... 65 5.1 Materiais ........................................................................................................... 65 5.1.1 Matérias-primas e Reagentes .................................................................... 65 5.1.2 Equipamentos e acessórios ....................................................................... 66 5.2 Métodos ........................................................................................................... 66 5.2.1 Análise de identificação da L-Carnitina ...................................................... 66 5.2.2 Desenvolvimento das formulações ............................................................ 67 5.2.3 Metodologia De Análise Físico-Química .................................................... 68 5.2.3.1 Determinação Do Aspecto ................................................................ 68 5.2.3.2 Determinação do odor ....................................................................... 68 5.2.3.3 Determinação do pH .......................................................................... 68 5.2.3.4 Determinação da densidade de massa ............................................ 69 5.2.3.5 Determinação do teor do princípio ativo ......................................... 70 5.2.3.5.1 PREPARO DE CURVA PADRÃO ................................................. 70 5.2.3.5.2 PREPARO DE SOLUÇÃO DE PADRÃO INTERNO ..................... 70 5.2.3.5.3 PREPARO DE SOLUÇÃO PADRÃO ............................................ 70 5.2.3.5.4 PREPARO DE SOLUÇÃO AMOSTRA ESTOQUE ....................... 70 5.2.3.5.5 PREPARO DE SOLUÇÃO AMOSTRA .......................................... 71 5.2.3.5.6 INFORMAÇÕES DE SISTEMA CROMATOGRÁFICO ................. 71 5.2.3.5.7 ADEQUAÇÃO DO SISTEMA ........................................................ 71 5.2.4 Validação Parcial da Metodologia de Análise de Doseamento .................. 72 5.2.4.1 Precisão .............................................................................................. 72 5.2.4.2 Exatidão .............................................................................................. 73 5.2.4.3 Seletividade ........................................................................................ 73 5.2.4.4 Linearidade ........................................................................................ 74 5.2.4.5 Faixa de trabalho ............................................................................... 75 5.2.5 Metodologia de Análise Microbiológica ...................................................... 75 5.2.5.1 Análise microbiológica ..................................................................... 75 5.2.6 Estudo de Estabilidade .............................................................................. 76 5.2.6.1 Estudo Prévio de Estabilidade ......................................................... 76 5.2.6.2 Estudo de Estabilidade Completo Em Uso ..................................... 76 5.2.7 Estudo de Degradação Forçada ................................................................ 77 5.2.8 Análise de dados ....................................................................................... 78 6 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 79 6.1 Análise de identificação da L-Carnitina ........................................................ 81 6.2 Validação Parcial da Metodologia de Doseamento ...................................... 81 6.2.1 Determinação da faixa de trabalho ............................................................ 81 6.2.2 Seletividade ............................................................................................... 81 6.2.3 Linearidade ................................................................................................ 86 6.2.4 Precisão ..................................................................................................... 88 6.2.5 Exatidão ..................................................................................................... 90 6.3 Desenvolvimento da metodologia de análise ............................................... 91 6.4 Desenvolvimento das formulações ............................................................... 91 6.5 Estabilidade prévia das formulações iniciais ............................................... 95 6.6 Estudo de estabilidade completo em uso ................................................... 100 7 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 116 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 117 26 1. INTRODUÇÃO Os erros inatos do metabolismo (EIM) são distúrbios de natureza genética que representam uma importante causa de morbidade e mortalidade entre a população pediátrica (SHAWKY; ABD-ELKHALEK; ELAKHDAR, 2015). Resultam em anormalidades na síntese de proteínas, normalmente enzimas, alterando suas principais funções. Tal alteração pode levar a bloqueio de uma determinada via metabólica com consequente acúmulo de substratos e derivados, bem como a diminuição da síntese do produto esperado. Dependendo da rota afetada,esse bloqueio repercute de maneira clínica variável, sendo geralmente grave e muitas vezes letal (SCRIVER et al., 2002). Embora sejam individualmente raros, eles possuem uma incidência, em conjunto, estimada em 1/1.000 nascidos vivos (ARAÚJO, 2004). Em muitos casos, as crianças parecem perfeitamente normais ao nascimento e podem demorar a apresentar manifestações clínicas. O rápido diagnóstico é essencial para impedir o agravamento e a irreversibilidade dos sintomas, podendo representar a sobrevivência do paciente em alguns casos (JARDIM; ASHTON-PROLLA, 1996). Mas, a variabilidade de sintomas clínicos, o enorme número de doenças de grande complexidade e o fato de serem considerados extremamente raros pela maioria dos profissionais, pode dificultar o correto diagnóstico clínico (EL HUSNY; CALDATO, 2006). Exemplos de patologias associadas à EIM e que possuem alta incidência, as aminoacidopatias e acidemias orgânicas são ocasionadas por deficiência severa da atividade de enzimas específicas de determinadas vias metabólicas, podendo levar ao acúmulo de substratos que, em concentrações mais elevadas que o normal, se tornam tóxicas. Elas apresentam grande impacto no sistema gastrointestinal e nervoso, podendo apresentar manifestações como: vômito, recusa alimentar, apneia, convulsão, coma, lesão cerebral e retardo mental e cognitivo (BEHRMAN, K, 2014; DEODATO et al., 2006a; GARCÍA et al., 2002a; NADAI; PINHEIRO, 2006). Para a maioria das aminoacidopatias e acidemias, o tratamento é feito a partir de restrição alimentar, administração de cofatores das enzimas deficientes e, principalmente, com a suplementação de L-carnitina. Esta substância é capaz de se conjugar e aumentar a excreção dos ácidos orgânicos acumulados nessas doenças, 27 evitando as indesejáveis manifestações clínicas ou retardando o progresso da doença (BERRY, 1998).Sendo o público alvo composto em sua grande maioria por pacientes pediátricos e, por muitas vezes, com dificuldades de deglutição, a forma farmacêutica mais indicada é a líquida. As soluções de uso oral podem ser administradas a pacientes de diferentes idades e com diferentes necessidades, conferindo maior flexibilidade na administração da dosagem correta (NUNN; WILLIAMS, 2005). O desenvolvimento de formulações orais líquidas possui vários fatores críticos e requer cuidados para garantia da segurança e qualidade do produto. Essas preparações apresentam, em sua maioria, alto teor de água o que pode propiciar a degradação físico-química e contaminação microbiológica(BILLANY, 2005; LACHMAN; LIEBERMAN; KANING, 2001). Além disso, a L-carnitina apresenta estrutura semelhante a de aminoácidos e pode ser utilizada por bactérias como fonte de carbono, nitrogênio e de energia, favorecendo também o crescimento microbiano (MEADOWS & WARGO, 2015).Para isso, substâncias inertes denominadas excipientes podem auxiliar no desenvolvimento de soluções mais estáveis, eficazes e atraentes. Mas diferentes estudos apontam algumas dessas substâncias consideradas inertes como sendo responsáveis por reações adversas relacionadas a medicamentos. Além disso, pacientes com EIM apresentam uma série de restrições e, desta forma, a escolha dos excipientes da formulação não pode ser realizada ao acaso e deve ser feita de maneira criteriosa sendo o mais simples possível, no intuito de diminuir a probabilidade de reações não esperadas, mas garantindo a qualidade e estabilidade da formulação (ANSEL; POPOVICH; ALLEN JUNIOR, 2000; GUERRA, 2012). Para identificar o período de utilização e condições de estocagem, mantendo as mesmas propriedades que possuía no momento de sua fabricação, são realizados os testes de estabilidade onde são retiradas amostras em tempos definidos e encaminhadas para análises. A realização do estudo de estabilidade é projetada para verificar as características físicas, químicas e microbiológicas de um produto farmacêutico durante seu prazo de validade. Além de identificar a degradação química ou mudança física de um produto farmacêutico quando expostos a condições forçadas de armazenamento. Esse resultado é utilizado para 28 estabelecer ou confirmar o prazo de validade e recomendar as condições de armazenamento (BRASIL, 2005). A Farmácia Universitária (FU) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) recebe diariamente muitos pacientes provenientes do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG) e de outros centros de saúde que apresentam alguma patologia associada à EIM. Eles, em sua grande maioria, fazem uso de suplementação de L-carnitina que, atualmente, não possui formulação oral líquida medicamentosa disponível no mercado brasileiro. Iniciando o atendimento desses pacientes, a L-carnitina era dispensada na FU sob a forma de sachê contendo a dose individualizada. Mas a forte característica higroscópica do ativo requer uma manipulação, pesagem e selagem rápidas, além da necessidade de dois funcionários envolvidos para uma boa qualidade do produto final. Esse processo é impraticável com a demanda recebida pela FU e, desta maneira, o desenvolvimento de uma formulação líquida de L-carnitina que atenda as necessidades dos pacientes, foi importante para atendimento de todos os pacientes além de aumentar a adesão ao tratamento. A formulação líquida oral de L-carnitina foi desenvolvida nas apresentações de 10% e 20%, sendo avaliadas quanto às suas estabilidades físico-química e microbiológica e apresentando resultados favoráveis durante 45 dias mantidos a temperatura ambiente. 29 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Erros Inatos do Metabolismo (EIM) Os erros inatos do metabolismo (EIM) são um grupo altamente heterogêneo de distúrbios de natureza genética e representam uma importante causa de morbidade e mortalidade entre a população pediátrica (SHAWKY; ABD-ELKHALEK; ELAKHDAR, 2015). Geralmente, correspondem a defeitos enzimáticos capazes de ocasionar a interrupção de uma via metabólica, podendo causar falhas de síntese, degradação, armazenamento ou transporte de moléculas no organismo. Como consequência, tem-se a ausência de um produto esperado, o acúmulo de substrato da etapa anterior à interrompida ou o surgimento de uma rota metabólica alternativa, o que podem levar ao comprometimento de diversos processos celulares (EL HUSNY & FERNANDES-CALDATO, 2006). O estudo dos EIM originou-se no início dos anos 1900, quando Archibald E. Garrod descobriu e identificou as primeiras doenças metabólicas: alcaptonúria, pentosúria, porfiria e albinismo(SHLOMI, CABILI & RUPPIN, 2009). Desde as primeiras descobertas de Garrod, no início do século XX, diversos novos distúrbios foram descritos, na medida em que novas ferramentas de diagnóstico bioquímico e molecular tornaram-se disponíveis(SHAWKY, ABD-ELKHALEK & ELAKHDAR, 2015). Atualmente, existem cerca de 500 distúrbios conhecidos e, embora sejam individualmente raros, eles possuem uma incidência, em conjunto, estimada em 1/1.000 nascidos vivos. Desta forma, cumulativamente, causam importante agravo à saúde (ARAÚJO, 2004). 2.1.1 Manifestações Clínicas Os sintomas e sinais dos EIM podem abranger diferentes sistemas e podem se iniciar em diferentes faixas etárias, apesar de o distúrbio ter origem genética. Neonatos com EIM são, geralmente, saudáveis ao nascimento, com os sintomas podendo se iniciar desde as primeiras horas até as primeiras semanas de vida. Em alguns casos, podem ser adiados por meses até que algum evento, de natureza exógena, altere o equilíbrio bioquímico mantido pela criança até então (ARAÚJO, 30 2004; EL-HATTAB, 2015; JARDIM & ASHTON-PROLLA, 1996). Embora o quadro clínico possa variar, os sintomas iniciais geralmente são inespecíficos, incluindo letargia, redução da alimentação, vômitos, taquipneia e convulsões. Na medida em que a doença metabólica progride, pode haver estuporprogressivo ou coma, associados com alterações de tônus (hipotonia, hipertonia), de postura (opistótono) e dos movimentos (interposição lingual, estalar dos lábios, mioclonia), bem como presença de ascite (acúmulo de fluido na cavidade peritoneal), síndromes dismórficas (malformações da face) e apneia do sono (EL-HATTAB, 2015; NASSER et al., 2012; RAGHUVEER, GARG & GRAF, 2006). De uma maneira geral, os pacientes portadores de EIM apresentam acometimento de diversos sistemas, sendo as manifestações neurológicas, hepáticas e cardíacas as principais envolvidas. Os sintomas neurológicos incluem quadros de retardo mental, disfunções no desenvolvimento psicomotor, regressão psicomotora e convulsões. Sintomas psiquiátricos costumam estar presentes em quase todos os EIM que acometem o sistema nervoso. Já as manifestações hepáticas incluem hepatomegalia e hipoglicemia, icterícia colestática ou insuficiência hepática com icterícia, transaminases elevadas, entre outros. O quadro cardíaco envolve doenças como cardiomiopatia, falência cardíaca e arritmias(ARAÚJO, 2004; EL-HATTAB, 2015). 2.1.2 Diagnóstico A quantidade, complexidade e variedade de manifestações clínicas relacionadas aos EIM dificultam o correto diagnóstico clínico dessas doenças, o que pode trazer danos irreparáveis ao organismo da criança. Por outro lado, a detecção e a intervenção precoces levam a medidas terapêuticas satisfatórias, seguidas de evoluções clínicas favoráveis (BURTON, 1998; JARDIM & ASHTON-PROLLA, 1996). Segundo RAO et al., 2009, quando existe a suspeita de um EIM, cinco importantes aspectos devem ser considerados e seguidos: 1- Histórico familiar: observar a existência de consanguinidade entre os pais, casos de familiares falecidos precocemente ou abortos sem causa definida, 31 ou a ocorrência de um irmão ou irmã previamente afetado por um quadro clínico semelhante. 2- Exames físicos: avaliação de aspectos como dermatite, alopecia, dismorfia facial, catarata, entre outros. 3- Testes iniciais de triagem: realização de exames laboratoriais, como hemograma completo, dosagem de eletrólitos, glicose, amônia, lactato, razão lactato/piruvato, substâncias redutoras, ácidos orgânicos, aminoácidos e cetonas. 4- Testes avançados de triagem: realização de ensaios com base no contexto clínico, que podem incluir ácidos graxos de cadeia longa, quantificação de aminoácidos, ácidos orgânicos, carboidratos e outros metabólitos. 5- Testes definitivos de diagnóstico: para confirmar o distúrbio detectado, ensaio enzimático específico em leucócitos, plasma ou células vermelhas, imunoensaios e análises baseadas em mutações gênicas serão realizados(RAO et al., 2009). Cabe ao pediatra, portanto, se familiarizar com os sinais e sintomas característicos dos EIM e com os exames laboratoriais necessários para se chegar a um diagnóstico preciso. A clínica que alia a história da doença e um bom exame físico é capaz de conduzir para a realização de exames confirmatórios mais adequados, para a terapêutica precoce, bem como para o importante aconselhamento genético (BURTON, 1998; EL HUSNY & FERNANDES-CALDATO, 2006). 2.1.3 Classificação dos EIM Segundo Saudubray & Charpentier (1995), os EIM podem ser divididos em duas categorias, conforme suas características fisiopatológicas e fenótipo clínico: Categoria 1, que corresponde às alterações que afetam um único órgão ou sistema orgânico, e que são normalmente mais facilmente diagnosticadas; e Categoria 2, que engloba doenças onde a alteração bioquímica compromete vias metabólicas comuns a diversos órgãos e, por isso, os relatos clínicos são muito diversificados, tornando difícil o diagnóstico pelo profissional da saúde. A fim de facilitar o estudo 32 dessas doenças, a Categoria 2 foi dividida em três principais grupos: Grupo I, Grupo II e Grupo III. As doenças do Grupo I afetam a síntese ou o catabolismo de moléculas complexas. Os sintomas são permanentes, progressivos com o passar do tempo, podem apresentar-se em todas as idades, não estão relacionados com a ingesta alimentar e também não possuem relação com eventos intercorrentes, como infecções. Entre os distúrbios enquadrados neste grupo estão as doenças com alterações de depósitos lisossômicos, doenças dos peroxissomos, alteração no metabolismo de lipídios, alteração na síntese de purinas e pirimidinas e alteração no transporte de metais. As principais manifestações clínicas desse grupo de doenças são: hidropsia fetal, hepato e/ou esplenomegalia, alterações esqueléticas, convulsões, hipotonia (não sustentar cabeça e membros), fácies grotesca, neurodegeneração subaguda, mieloneuropatia subaguda, deficiência auditiva, achados dismórficos, alterações oculares e da pele, limitações e deficiências articulares (EL HUSNY & FERNANDES-CALDATO, 2006; SAUDUBRAY et al., 2002). As doenças enquadradas no Grupo III são doenças resultantes de deficiência na produção ou utilização de energia por erros inatos do metabolismo intermediário no fígado, miocárdio, músculo ou cérebro. Algumas manifestações clínicas comumente encontradas são: hipoglicemia, miopatia, insuficiência cardíaca, retardo de crescimento e até morte súbita (EL HUSNY & FERNANDES-CALDATO, 2006; EL-HATTAB, 2015). Já as doenças enquadradas no Grupo II são erros inatos do metabolismo intermediário que culminam em intoxicação e a maioria das doenças são tratadas com suplementação de L-carnitina. As intoxicações podem ser decorrentes do acúmulo de substrato tóxico por conta do bloqueio de rotas do metabolismo intermediário e podem se tornar agudas ou crônicas. Apresentam relação evidente com o aporte alimentar e com as intercorrências (infecções), podendo permanecer sem manifestação clínica por grandes intervalos de tempo. Substâncias exógenas podem desestabilizar o equilíbrio e ocasionar uma descompensação metabólica, levando a uma intoxicação aguda e recorrente ou crônica e progressiva. Grande parte de patologias desse grupo apresentam como tratamento suplementação de L- carnitina associada com cofatores enzimáticos. Os principais distúrbios 33 caracterizados neste grupo são as aminoacidopatias, acidemias orgânicas, defeitos do ciclo da ureia e intolerância aos açúcares (SAUDUBRAY et al., 2002). 2.1.3.1 AMINOACIDOPATIAS As aminoacidopatias são causadas por mutações de genes que codificam proteínas específicas. Tais mutações podem alterar a estrutura primária de uma proteína ou a quantidade de proteína sintetizada. Essa alteração pode comprometer a capacidade funcional da proteína, podendo levar ao bloqueio de determinadas vias metabólicas e ao acúmulo de substratos que, em concentrações mais elevadas que o normal, podem ser tóxicas (BEHRMAN, KLIEGMAN & JENSON, 2013). O sistema nervoso é, normalmente, muito impactado pelo acúmulo dos substratos, podendo desencadear manifestações clínicas como coma (em fase aguda). Em algumas aminoacidopatias, a intoxicação somente se manifesta depois de vários meses, até mesmo anos (SAUDUBRAY et al., 2002). A patogenia mais conhecida nesse grupo de EIM é a fenilcetonúria, que é causada pela deficiência completa ou quase completa da fenilalanina hidroxilase (PAH). Esta enzima atua sobre a conversão de fenilalanina a tirosina, e por conta da deficiência enzimática, ocorre o acúmulo do substrato no organismo. Tal situação perturba os processos essenciais no cérebro, como a mielinização e a síntese de proteínas, resultando em lesão cerebral e retardo mental (GARCÍA et al., 2002b). As crianças afetadas podem nascer livres de sintomas, mas se não tratadas no período pós-natal, eles surgem tardiamente nos primeiros meses e o retardo se torna progressivamente pior. O tratamento consiste em uma dieta pobre em fenilalanina e suplementação com L-carnitina (NADAI et al., 2006). 2.1.3.2 ACIDEMIAS ORGÂNICAS As acidúrias ou acidemias orgânicassão normalmente causadas por deficiência severa da atividade de enzimas envolvidas no metabolismo de aminoácidos ramificados, o que resulta em acúmulo tecidual de ácidos carboxílicos (SCRIVER et al., 2002). As acidemias orgânicas mais comuns são as acidemiaspropiônica (PA), metilmalônica (MMA), isovalérica (IVA) e glutárica Tipo 1 (GA I) e Tipo 2 (GA II). Elas são assim classificadas a partir dos ácidos orgânicos 34 que se acumulam em decorrência do bloqueio na via metabólica, como mostrado na Figura 1 (WAJNER et al., 2001). Figura 1. Metabolismo dos aminoácidos de cadeia ramificada e a sinalização das etapas interrompidas pelas acidemiaspropiônica, metilmalônica, isovalérica e glutárica (Adaptado de WAJNER et al., 2001). Três aminoácidos de cadeia ramificada – leucina, isoleucina e valina – são quimicamente similares e a primeira etapa para o metabolismo deles é uma transaminação, formando os alfa-cetoácidos correspondentes. Após esta etapa, através de um complexo multienzimático, ocorre uma descarboxilação oxidativa e as vias seguem de forma independente(PAMPOLS & RIBES, 1994; SANJURJO & BALDELLOU, 2006). A IVA é causada pela deficiência da enzima isovaleril-CoAdesidrogenasena via de degradação do aminoácido leucina. De uma forma geral, a enzima transforma o substrato isovaleril-CoA em 3-metilcrotonil-CoA. No entanto, ao haver falha enzimática, ocorre o acúmulo intracelular do substrato isovaleril-CoA, como mostra a Figura 2. 35 Figura 2. Via principal do catabolismo da leucina e bloqueio da enzima isovaleril-CoAdesidrogenase (1) (Adaptado de VARGAS & WAJNER, 2001) O substrato isovaleril-CoA, quando descompensado, desencadeia a formação de metabólitos alternativos (Figura 3), que podem ser encontrados no sangue e na urina. Do mesmo modo, pode-se encontrar nos fluidos biológicos o próprio isovaleril- CoA, que se encontra em excesso devido ao seu acúmulo. Essas alterações são acompanhadas dos seguintes sintomas clínicos: acidose, cetose, acidose lática, hiperamonemia, hiperglicinemia e níveis diminuídos de carnitina durante as crises metabólicas (PAMPOLS & RIBES, 1994; SANJURJO & BALDELLOU, 2006). Também pode ocorrer uma via secundária, que é a via endógena de excreção da isovaleril-CoA, através da sua conjugação com a glicina. O produto formado é excretado na urina e os níveis de isovaleril-CoA nos fluidos biológicos são diminuídos. Esta via é a base dos principais tratamentos de suplementação com glicina. Outra suplementação importante é a de L-carnitina, que remove o excesso de ácido isovalérico. Com a suplementação destes dois componentes, associados a uma dieta com baixa quantidade de proteína, a possibilidade de desenvolvimento de retardo mental é baixa, porém, o déficit de atenção e de aprendizado ainda assim podem aparecer (COWETT, 1998). 36 Figura 3. Vias metabólicas alternativas do isovaleril-CoA em caso de interrupção da via principal (Adaptado de CAMPISTOL et al., 2007). A PA é causada pela deficiência da enzima propionil-CoAcarboxilase (PCC), enzima mitocondrial que possui a biotina como cofator do catabolismo dos aminoácidos isoleucina, valina, treonina e metioninia, dos ácidos graxos de número ímpar de carbonos e da cadeia lateral do colesterol. Este processo metabólico fornece como produto o propionil-CoA, que é convertido pela enzima PCC em metilmalonil-CoA, e seus produtos entram no ciclo de Krebs e na fosforilação oxidativa, gerando energia. A deficiência da enzima PCC resulta em acúmulo intramitocondrial de propionil-CoA, que passa a ser metabolizado por vias secundárias e produz metabólitos secundários, como mostra a Figura 4 (FENTON, GRAVEL & ROSENBLATT, 2001). Figura 4. Metabólitos secundários produzidos quando ocorre o bloqueio enzimático da PCC (2) (FENTON, GRAVEL & ROSENBLATT, 2001). 37 Existe um grande número de metabólitos decorrentes das rotas alternativas, e a maioria deles são ácidos orgânicos. Eles encontram-se elevados em fluidos fisiológicos e a identificação deles na urina pode levar ao diagnóstico da doença, especialmente o metil-citrato e o 3-OH-propionato. O acúmulo de propionil-CoA intracelular induz a inibição da enzima N-acetilglutamatosintetase e do sistema mitocondrial de transporte de glicina, levando ao aumento dos níveis de amônia e de glicina, comumente encontrados em pacientes com enzima deficiente. O propionil- CoA também pode se conjugar com a carnitina, dando origem à propionil-carnitina. A produção desse metabólito pode ter como consequência a deficiência secundária de carnitina no plasma, sendo necessária a sua suplementação(FENTON, GRAVEL & ROSENBLATT, 2001; SANJURJO & BALDELLOU, 2006). A MMA é um grupo de EIM de aminoácidos que se caracteriza pelo acúmulo de metilmalonil-CoA e de ácido metilmalônico nos fluidos biológicos (FENTON, GRAVEL & ROSENBLATT, 2001; HOFFMAN, 1994). Esse acúmulo pode ser causado pela deficiência da enzima metilmalonil-CoAmutase (MCM), ou pela deficiência de seu cofator cobalamina, ambos essenciais para a produção do substrato succinil-CoA (SANJURJO & BALDELLOU, 2006). Os metabólitos característicos da PA também podem se acumular secundariamente na MMA, tais como o ácido propiônico, o 3-OH-propiônico e o substrato metil-citrato e, por conta disso, as manifestações clínicas de ambas as acidemias são muito semelhantes (NYHAN, BARSHOP & OZAND, 2005). Normalmente, os sintomas clínicos são percebidos nos primeiros dias de vida extra-uterina, já que ocorre a perda da função dialisadora da placenta materna. As manifestações clínicas incluem sintomas gastrointestinais, vômitos, recusa alimentar, desidratação, apneia, hepatomegalia, manifestações neurológicas, hipotonia, letargia e convulsões. A demora no diagnóstico e tratamento podem trazer danos irreparáveis ao sistema nervoso central da criança, podendo progredir para o coma, danos neurológicos permanentes ou morte (DEODATO et al., 2006b). Os achados laboratoriais mais frequentes incluem cetoacidose metabólica, hiperglicemia, hiperamonemia, acidose lática, anemia, trombocitopenia, deficiência de carnitina livre e aumento de acilcarnitinas (GOSEN, 2008; LEHNERT et al., 1994). O tratamento dos pacientes com PA ou MMA deve ser feito com restrição proteica, administração de cofatores das enzimas deficientes (biotina para a PA e 38 hidroxicobalamina para a MMA) e, principalmente, com a administração de L- carnitina. Esta substância é capaz de se conjugar e aumentar a excreção dos ácidos orgânicos acumulados nessas doenças. A enzima carnitina aciltransferase catalisa a formação de ésteres de carnitina como a propionilcarnitina e metilmalonilcarnitina. Além disso, a L-carnitina também pode restaurar a razão acil-CoA/CoA livre intramitocondrial e corrigir a deficiência secundária de carnitina (HOPPEL, 2003; WALTER, 2003). 2.1.3.3 OUTRAS DOENÇAS DO GRUPO II Além das doenças explicadas anteriormente, várias outras doenças apresentam tratamento com L-carnitina. Alguns exemplos resumidos são: 3-Metilcrotonil glicinúria (3-MMM), a Deficiência Isolada de 3-metilcrotonil-CoA Carboxilase (MCC), Acidúria 3-Hidroxi-3-Metilglutárica (HMG) são falhas no catabolismo da leucina que causam hipoglicemia, ausência de corpos cetônicos e acumulo de produtos tóxicos no plasma, urina e tecidos (GRÜNERT et al., 2012); A Deficiência de Beta-cetotiolase (DLE) é uma anomalia da Acetoacetil- CoATiolase mitocondrial (T2) envolvida no catabolismo da isoleucina, geralmente grave, por vezes acompanhados por letargia/coma(GRÜNERT et al., 2012); A Deficiência de Carnitina Primária (DCP) causa deficiência no transportador de carnitina impedindo o transporte de ácidos graxos para o interior da mitocôndria, podendo ocasionar encefalopatia hepática, hipoglicemia e cardiomiopatia (MCGOVERN et al., 2004); A Deficiência de Carnitina/AcilcarnitinaTranslocase(CACT) catalisa a troca da carnitina interna com as acilcarnitinas externas, se apresentam no período neonatal ou na primeira infância e pode causar morte súbita, além de anomalias neurológicas, hipoglicemia, hiperamonemia, hepatomegalia e cardiomiopatia (VITORIA et al., 2015); A Deficiência da Acil-Coenzima A Desidrogenase de Cadeira Muito Longa (VLCAD), enzima voltada na beta-oxidação de ácidos graxos de cadeia muito longa, gera acúmulo dos intermediários reacionais e pode se manifestar ao nascer, na infância ou na fase adulta. Manifestações metabólicas, diarreia, sonolência extrema, 39 mudança de comportamento, hiperglicemia e vômitos, cardiomegalia, hepatomegalia e problemas musculares podem ser observadas(TENOPOULOU et al., 2015); A Deficiência da Desidrogenase das Acil-Coa dos Ácidos Graxos de Cadeia Média (MCAD) é responsável pela quebra de ácidos graxos para obtenção de energia, também impede a formação de reservas energéticas. Os sintomas incluem letargia, hipoglicemia, vômitos e, em casos extremos, convulsões, danos cerebrais, coma e morte súbita (DRENDEL et al., 2015); A Deficiência da Palmitoil Carnitina Transferase (CPT-II), que é responsável pela entrada de ácidos graxos na mitocondria, podelevar à cardiomegalia com batimento cardíaco irregular, hepatomegalia, fraqueza muscular, perda de apetite, sonolência extrema, indícios de descompensação metabólica (MALIK et al., 2015); A Deficiência de SCOT (SCOT)é uma doença recessiva do metabolismo dos corpos cetônicos. A enzima SCOT é responsável pela ativação do acetoacetato, transformando-o em acetoacetil-Coa para a utilização pela mitocôndria. Pode compreender como sintomas a letargia, hipotonia, vômitos e até coma em casos graves (FUKAO et al., 2011); A Deficiência de 3-hidroxi-Acil-Coenzima-A-Desidrogenase de Cadeia Longa (LCHADD), que é responsável pela oxidação dos ácidos graxos de cadeia longa (12 a 16 carbonos), pode desencadear uma cardiomegalia com batimento irregular, hepatomegalia e fraqueza muscular. Costuma se manifestar na faixa dos 15 a 30 anos, em neonatos pode apresentar como sintomas catarata, imperfeições no cérebro e óbito. A escolha da terapêutica adequada dependerá do EIM responsável pela doença e da substância acumulada ou deficiente que está levando ao desequilíbrio bioquímico. Uma das principais abordagens de tratamento para esse perfil de doenças apresentadas é a suplementação de L-carnitina, que evita o acúmulo do metabólito que causa os sintomas apresentados nas patologias acima descritas (EL HUSNY & FERNANDES-CALDATO, 2006; SCHWARTZ, SOUZA & GIUGLIANI, 2008). 40 2.2 L-Carnitina 2.2.1 Bioquímica A L-carnitina é uma amina quaternária com importante função na oxidação de ácidos graxos, principal fonte de energia das células. Ela é um componente de baixo peso molecular, sendo sintetizada de forma endógena no fígado, rins e cérebro a partir de dois aminoácidos essenciais: lisina e metionina. Para esse processo, é necessária a presença de ferro, ácido ascórbico, niacina e piridoxina (HOPPEL, 2003). Além da produção endógena, cerca de 75% da L-carnitina presente no organismo é proveniente da alimentação, sendo as principais fontes a carne vermelha e os laticínios (EVANS & FORNASINI, 2003). Ela é armazenada principalmente nos músculos esqueléticos e cardíacos para fornecer rapidamente energia para as atividades musculares (BREMER, 1983; REBOUCHE & ENGEL, 1984). A L-carnitina atua no processo de produção de energia no organismo. Ela tem importante função no transporte dos ácidos graxos para seu local de destino, onde irá ocorrer a oxidação (produção de energia). Os ácidos graxos são a principal fonte de energia do organismo e são moléculas orgânicas, de caráter lipofílico. Para transitarem pelo sistema sanguíneo, são normalmente associados a proteínas sanguíneas (albumina) para garantir solubilidade em meio aquoso. Entretanto, quando ligados a proteínas, os ácidos graxos não conseguem penetrar na mitocôndria, que é seu local de oxidação. Para atingirem a matriz mitocondrial, uma série de reações enzimáticas deve ocorrer para realizar o transporte do meio extra mitocondrial para o interior desta organela. Esse processo é de suma importância, principalmente para ácidos graxos de cadeia longa (BROQUIST, 1994). A primeira etapa envolve uma família de isoenzimas presentes na membrana mitocondrial, denominadas acil-CoAsintetases. Nesta etapa, em quehá consumo de ATP, o ácido graxo é ligado à coenzima A (CoA), formando acil-CoA. Com ação da enzima carnitina palmitoiltransferase I, o acil-CoA e a carnitina formam o complexo acil-carnitina, liberando uma CoA. Em seguida, a acil-carnitina é transferida pela carnitina-acilcarnitinatranslocase para a matriz, ao mesmo tempo em que uma molécula de carnitina é transportada para o meio extramitocondrial. Na matriz, a acil- 41 carnitina passa pela enzima carnitina palmitoiltransferase II e libera o grupo acil, que se conjuga com a CoAintramitocondrial, liberando uma molécula de carnitina na matriz intramitocondrial (Figura 5). Essas reações são importantes para manter separadas a CoAextramitocondrial da intramitocondrial, já que estas possuem funções diferentes. A CoA intramitocondrial atua na degradação oxidativa do piruvato, dos ácidos graxos e de alguns aminoácidos, enquanto que a CoA citosólica é normalmente utilizada para a biossíntese dos ácidos graxos. Esse processo mediado pela carnitina regula a oxidação dos ácidos graxos (BROQUIST, 1994; CHAMPE, HARVEY & FERRIER, 2006; NELSON & COX, 2014). Figura 5. Transporte dos ácidos graxos do meio extramitocondrial para a matriz mitocondrial com auxílio de enzimas (Adaptado de NELSON & COX, 2014). 2.2.2 Características Gerais A L-carnitina (Figura 6) é um pó cristalino branco ou quase branco, com odor característico, altamente higroscópico e muito solúvel em água. Por conta disso, é indicado para formulações líquidas (MARTINDALE, 2009). 42 Figura 6. Estrutura da L-carnitina (HOPPEL, 2003). É solúvel em álcool quente e praticamente insolúvel em acetona. Possui peso molecular de 161,2g/mol, seu ponto de fusão é entre 196 e 197ºC, seu ponto isoelétrico é 3,8 e possui densidade aparente de aproximadamente 0,64g/mL. Uma solução a 5% em água apresenta pH entre 6,5 e 8,5 (SWEETMAN, 2009). As principais características de identificação estão apresentadas na tabela 01: Tabela 01. Principais características de identificação da Carnitina Nome químico 3-hidroxi-4-N-trimetilamino-butirato Sinônimos Carnitina, Levocarnitina, L-carnitina base, Vitamina BT, CAS 541-15-1 DCB/DCI 05242 – Levocarnitina A L-carnitina é encontrada naturalmente nos animais, vegetais e microrganismos. Em humanos, a sua biossíntese endógena não é suficiente para as atividades do organismo, sendo necessário adquiri-la exógenamente. A dieta é o principal meio de obtenção de L-carnitina e os alimentos que apresentam abundância em sua composição são as carnes vermelhas, derivados lácteos, peixes e ovos (BREMER, 1983; WALTER & SCHAFFHAUSER, 2000). Na década de 80, a empresa suíça Lonza® desenvolveu e patenteou a técnica para a síntese da L-carnitina em escala industrial, tornando-a acessível à população. O processo de fabricação da L-carnitina era realizado por reações químicas na presença de catalisadores quirais. Inevitavelmente, a síntese química conduzia à 43 mistura racêmica dos isômeros L-carnitina (Figura 7e) e D-carnitina (Figura 7d) (BERNAL et al., 2007; CAVAZZA, 1981; WALTER & SCHAFFHAUSER, 2000). L-Carnitina D-Carnitina Figura 7. Estrutura química das isoformas de carnitina: (e) levógira e (d) dextrógira (HOPPEL, 2003). Diversos estudos sugerem que a D-carnitina não seja biologicamente ativa. Isso porque a substânciapode se ligar ao sistema de transporte da L-carnitina, diminuindo a concentração da isoforma levógira nas células e inibir reações dependentes de levocarnitina, já que a concentração de L-carnitina livre nas células é um importante regulador para a síntese e degradação de ácidos graxos. Diante disso, a companhia suíça Lonza® mais uma vez desenvolveu e patenteou um processo de biotransformação único, estereosseletivo, para a produção de L- carnitina (livre da isoforma dextrógira) (SÁNCHEZ-HERNÁNDEZ et al., 2010; WALTER & SCHAFFHAUSER, 2000). Para contornar o forte odor característico e a alta higroscopicidade da L- carnitina base, a companhia sintetizou o sal cloridrato de L-carnitina (Figura 8), que não teve boa aceitação. Figura 8. Estrutura do sal cloridrato de L-carnitina (C7H15NO3.HCl) (SWEETMAN, 2009). 2.2.3 Efeitos adversos e precauções Após administração oral, alguns efeitos adversos podem ocorrer, tais como náuseas, vômitos, diarreia e cólicas abdominais. Para evitar os distúrbios 44 gastrointestinais, a solução oral deve ser ingerida lentamente, com doses espaçadas e uniformes ao longo do dia. Alguns pacientes podem exalar odor característico, provavelmente devido à formação do metabólito trimetilamina, o que pode ser reduzido ou eliminado com a redução da dose (PATRICK, HINCHCLIFFE & JONATHAN, 2005; SWEETMAN, 2009). Deve-se evitar administrar doses elevadas de L-carnitina oral por longos períodos a pacientes com insuficiência renal grave, pois eles não conseguem eliminar os metabólitos tóxicos trimetilamina e N-óxido de trimetilamina. Além disso, deve-se monitorar a glicemia de pacientes diabéticos que fazem uso de insulina, a fim de evitar crises de hipoglicemia (SWEETMAN, 2009). 2.2.4 Farmacocinética A concentração plasmática de L-carnitina representa a soma do material endógeno e exógeno. As doses orais de L-carnitina são absorvidas lentamente no intestino delgado, através de um sistema de transporte dependente de sódio ou via difusão passiva (LI et al., 1992). Após dose oral de 1 a 6 g de L-carnitina, a biodisponibilidade encontrada é de 5 a 18% da dose administrada, enquanto que a biodisponibilidade da L-carnitina proveniente da dieta é superior a 75%. A concentração máxima é alcançada 3 a 4 horas após a administração oral. A porção não absorvida é degradada pelos microrganismos presentes no intestino grosso, conduzindo à formação de metabólitos (REBOUCHE & ENGEL, 1984). Alguns metabólitos são recuperados na urina (óxido-N-trimetilamina) e nas fezes (γ- butirobetaína). A L-carnitina possui alta eliminação renal, mas sofre intensa reabsorção tubular (98-99%). Ela não se liga às proteínas plasmáticas e seu estado de equilíbrio é alcançado após quatro dias de administração oral (EVANS & FORNASINI, 2003). 45 2.3 Farmácia Universitária da UFRJ A Farmácia Universitária (FU) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) atende cerca de 200 pacientes diários vindos de clínicas especializadas, como as do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ) e do Instituto de Pediatria e Puericultura Martagão Gesteira (IPPMG/UFRJ). Eles são atraídos por medicamentos de qualidade a preço de custo, se tornando um grande benefício principalmente para pacientes de baixa renda (BARROS, 2016). Uma grande parcela dos paciêntes provenientes do IPPMG apresentam alguma doença relacionada a EIM e necessitam de suplementação de L-carnitina para seu tratamento. A FU é uma farmácia escola fundada em 1986 pela necessidade de haver um local que oferecesse estágio em manipulação alopática para os alunos da Faculdade de Farmácia (FF) da UFRJ. A FU recebe mais de 200 estudantes por ano, da Faculdade de Farmácia da UFRJ, UFRJ Macaé e do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ) para realização do estágio curricular obrigatório de manipulação alopática, que são orientados por farmacêuticos e docentes. A FU possibilita o contato dos estudantes com a manipulação de formas farmacêuticas e orientação aos pacientes sobre os principais efeitos adversos do medicamento, instruções de administração, uso racional e cuidados no armazenamento (BARROS, 2016; RODRIGUES et al., 2009). Atuamente apresenta inúmeros projetos relevantes e foi classificada pela Pró- reitoria de Extensão da UFRJ como um programa de extensão. Vale ressaltar o caráter multidisciplinar das suas atividades que, ao longos dos anos, vem desempenhando papel estratégico na formação de estudantes não só de graduação, mas também de Pós-Graduação, em áreas carentes de recursos humanos, tais como a busca de novas formulações de medicamentos, assistência farmacêutica, farmacovigilância e projetos que consolidam a pesquisa na área de cosmetologia (RODRIGUES et al., 2009). Com uma grande parcela de pacientes em busca de suplementação de L- carnitina e sem a existência de uma formulação de L-carnitina existente no mercado, 46 a FU buscou atender às prescrições na forma farmacêutica de pó dispensado em sachês. O processo, relativamente simples, consiste em transferir a massa equivalente à dose do ativo para o sachê, proceder com a expulsão do máximo de ar do interior da embalagem e finalizar com completa selagem. Porém, a L-carnitina base, sendo extremamente higroscópica, requer associação com agente dessecante para reduzir a absorção de água durante o processo de manipulação. Os constituintes da formulação devem ser tamisados antes da homogeneização, que deve acontecer em gral e pistilo. A mistura deve ser realizada em progressão geométrica até total homogeneização. O processo descrito, a pesagem e a selagem do sachê, devem ocorrer o mais breve possível para evitar grande exposição da formulação à umidade do ambiente. Com esse objetivo, no máximo vinte sachês eram produzidos a cada manipulação, que contava com a dedicação de dois funcionários dividindo as tarefas de pesar e selar no menor intervalo de tempo possível. Mas, mesmo com esses cuidados, a mistura apresentava grande absorção de água, tornando-se grumosa e, por muitas vezes, líquida, tornando difícil sua pesagem e envase total da dose (Figura 09). Muitas vezes não se conseguia manipular a quantidade de sachês planejada e uma quantidade considerável de mistura tornava-se inutilizada e era descartada. Figura 09. Ilustração da absorção de água durante o processo de manipulação da mistura (D), durante o processo de pesagem (M) e durante processo de envase (E). Além dos problemas relativos à produção da formulação, a dispensação sob a forma de pó leva a problemas na adesão do paciente. Para administração do conteúdo do sache, é necessário que o pó seja disperso em líquidos ou em 47 alimentos durante as refeições. Este tipo de administração, no entanto, apresenta alguns inconvenientes, principalmente pela dificuldade em fazer pacientes infantis ou com dificuldade de deglutição em ingerirem a dose correta em todas as refeições. E o forte odor característico desagradável da formulação pode dificultar ainda mais a correta administração. Além disso, alguns sachês (normalmente os últimos manipulados) podem apresentar conteúdo mais aglomerado (grumado) e apresentar alteração no escoamento do pó, ficando retido na superfície interna da embalagem, podendo levar a redução da dose a ser administrada. Por conta das desvantagens da dispensação da L-carnitina em pó envasada em sachê, o mais indicado para esse público alvo seria a disponibilização de uma formulação líquida oral de L-carnitina. O mercado farmacêutico disponibiliza poucos medicamentos na forma farmacêutica líquida e, até o momento, não existe registro de formulação líquida oral de L-carnitina com finalidade medicamentosa, apenas suplementos voltados para o público desportivo, normalmente associado a diversos componentes vitamínicos e nutrientes energéticos. Por se tratarem de suplementos, não sãoconsiderados como alternativa de tratamento, já que não são produzidos com a qualidade e exigências necessárias para um medicamento, tornando a qualidade e a quantidade declarada duvidosa. Em muitos casos, não necessitam nem de registro em órgão regulatório (VENTURA, 2011). As formas farmacêuticas líquidas são as mais indicadas para uso em pediatria, já que, além de facilitarem a administração e contribuir para a adesão dos doentes à terapêutica, apresentam grande flexibilidade, permitindo o ajuste simples e rápido das doses que, em função da evolução da patologia e do desenvolvimento da criança, podem sofrer ajustes. Estes aspectos são particularmente relevantes nos casos de terapias prolongadas, como no tratamento das doenças relacionadas à EIM (PINTO; BARBOSA, 2008). Esse público apresenta importantes diferenças e alterações fisiológicas, além de apresentarem uma série de restrições. Dessa forma, a formulação deve ser o mais simples possível, com o mínimo de excipientes, mas sem deixar de apresentar a qualidade e segurança necessárias (EL HUSNY; FERNANDES-CALDATO, 2006). 48 2.4 Desenvolvimento De Formulações Líquidas 2.4.1 Forma Farmacêutica Líquida A forma farmacêutica é uma ferramenta fundamental na adesão ao tratamento farmacoterapêutico, principalmente quando se trata de doenças crônicas, onde o medicamento pode ser utilizado por longos períodos, além de assegurar a eficácia e segurança do medicamento. Para pacientes pediátricos, idosos e que apresentem alguma dificuldade de deglutição, a forma farmacêutica líquida é a mais adequada, pois facilita a administração do medicamento e confere grande flexibilidade quanto à dosagem, permitindo ajustes simples e rápidos que podem ser necessários durante o tratamento (PINTO; BARBOSA, 2008; VENTURA, 2011). No entanto, o desenvolvimento de formulações líquidas possui fatores críticos e requer diferentes cuidados para garantia da segurança e qualidade do produto. Por apresentarem elevado teor de água, estão passíveis de degradação físico- química, podem apresentar menor estabilidade dos componentes da formulação e apresentam maior susceptibilidade de proliferação de microrganismos (FERREIRA; SOUZA, 2011a). Além disso, a L-carnitina é sintetisada a partir dos aminácidos essenciais lisina e metionina e, por apresentar estrutura semelhante a de um aminoácido, pode ser usada como substrato para microrganismos. Bactérias Gram-positivas e Gram- negativas podem consumir a L-carnitina como fonte de carbono, nitrogênio e de energia podendo levar à formação de metabólitos indejesados (MEADOWS; WARGO, 2015; SÁNCHEZ-HERNÁNDEZ et al., 2010). Caso o sistema conservante não seja eficiente, a concentração da formulação pode ser comprometida, levando a uma administração de dose subterapêutica, exposição do paciente a produtos de degradação tóxicos ou ingestão de um número inaceitável de microrganismos (BILLANY, 2005). Na tentativa de impedir os problemas apontados, substâncias inertes denominadas excipientes podem auxiliar no desenvolvimento de soluções mais estáveis, eficazes e atraentes. Essas substâncias possuem diferentes funções, sendo comumente usadas para solubilizar, espessar, diluir, estabilizar, conservar ou flavorizar formulações farmacêuticas. As características organolépticas da 49 formulação são importantes fatores de adesão à terapêutica e diferentes opções de excipientes são encontrados no mercado (GLASS et al., 2006). Porém, estudos apontam que essas substâncias consideradas inertes, podem ser responsáveis por algumas reações adversas relacionadas a medicamentos. Além disso, alguns adjuvantes são reconhecidamente desaconselhados para uso em crianças. Os edulcorantes, utilizados para tornar as formulações orais mais palatáveis, podem conter açúcar sendo contra-indicado para pacientes diabéticos e com erros inatos de metabolismo. Os corantes também são utilizados nessas formulações e podem causar reações alérgicas em pacientes com hipersensibilidade (VENTURA, 2011). Desta forma, a escolha dos excipientes da formulação não pode ser realizada ao acaso e deve ser feita de maneira criteriosa sendo o mais simples possível, no intuito de diminuir a probabilidade de reações adversas, mas garantindo a qualidade e estabilidade da formulação (ANSEL; POPOVICH; ALLEN JUNIOR, 2000; GUERRA, 2012). 2.4.2 Excipientes Farmacêuticos Usados Para Soluções Líquidas Orais Os excipientes são substâncias adicionadas aos compostos farmacologiamente ativos para permitir a produção de formas farmacêuticas estáveis, atraentes, eficazes e seguras e, normalmente, representam a maior parte da forma farmacêutica. Os excipientes podem auxiliar na manutenção da estabilidade física, química e microbiológica do produto, interferir na disponibilidade do princípio ativo no organismo, melhorar a aceitabilidade do paciente e manter a efetividade do produto durante a sua estocagem e uso.Cada excipiente tem uma função definida no produto e podem funcionar como conservantes, solventes, edulcorantes, aromatizantes, agentes doadores de viscosiade, veículo, entre outros. Portanto, sua seleção vai depender das características desejadas do produto final farmacêutico(AULTON, 2016; BRASIL, 2012a). Os principais tipos de excipientes utilizados em soluções orais estão descritos abaixo: 2.4.2.1 SOLVENTE: ÁGUA PURIFICADA A água é o solvente mais usado em formas farmacêuticas líquidas por apresentar diversas vantagens como a ausência de toxicidade, compatibilidade 50 fisiológica e baixo custo. A água potável apresenta diferentes contaminantes que podem interferir na qualidade da formulação final. Por isso, a água deve ser tratada por sistemas de purificação como destilação, troca iônica ou osmose reversa, para atender aos requisitos de pureza estabelecidos na monografia da Farmacopeia Brasileira. A água purificada pode ser utilizada na fabricação de soluções não estéreis de uso não parenteral e em formulações magistrais (BRASIL, 2010a). 2.4.2.2 CONSERVANTES As formulações líquidas orais apresentam, em sua grande maioria, alto teor de água em sua composição, o que favorece o crescimento microbiano durante sua manipulação, armazenamento e uso. Os chamados conservantes são substâncias usadas para inibir o crescimento microbiano, com o objetivo de prolongar a estabilidade do produto, principalmente em formulações multidose. Um bom conservante deve apresentar atividade de amplo espectro contra bactérias, leveduras e mofos, ser efetivo em baixas concentrações, ser solúvel em água e, de preferencia, ser incolor e inodoro (AULTON, 2016; PAULO et al., 2013). Dentre os conservantes mais utilizados em formulações farmacêuticas, destacam-se os parabenos, usados desde 1932, sendo o metilparabeno e propilparabeno os mais conhecidos. Eles apresentam amplo espectro de atividade, são ativos contra fungos e bactérias Gram positivas, mas fracos para as Gram negativas. Apesar de só serem efetivos em fase aquosa, não apresentam alta solubilidade em água necessitando de aquecimento prévio. Atuam em uma faixa de pH de 3 a 8, sendo mais ativos em pH baixo e apresentam sabor não muito convidativo. São normalmente utilizados entre 0,015 a 0,2% para soluções ou suspensões orais (SONI et al., 2001). O benzoato de sódio é o conservante mais antigo e utilizado. É um agente bacteriostático e fungicida, bastante utilizado em formulações farmacêuticas orais e considerado seguro quando usado em concentrações inferiores a 0,5%. Possui alta solubilidade em água a 25°C e é pH depentende, apresentando maior atividade em valores baixos de pH, quando é convertido em sua forma ativa, o ácido benzóico. É possível também encontrar o ácido benzóico comercializado como conservante, mas ele não apresenta boa solubilidade em meios aquosos (LACHMAN; LIEBERMAN; KANING, 2001; MARTINDALE, 2009; VILAPLANA; ROMAGUERA, 2003).51 O ácido cítrico é um ácido orgânico normalmente encontrado em frutas cítricas, solúvel em água e com agradável sabor cítrico. Possue atividade antimicrobiana devido à sua acidificação do meio e também por sua característica de quelar íons metálicos, o que diminui o crescimento bacteriano, porém é menos eficaz no controle de fungos. Não apresenta atividade em soluções com valores de pH maiores do que 5,5 e sua atividade é potencializada com a diminuição do pH (MAX et al., 2010). O ácido sórbico e os sorbatos de sódio ou de potássio são potentes inibidores de bolores e leveduras, possuindo pouca ou nenhuma efetividade na inibição de bactérias. Também possuem melhor atividade em baixos valores de pH. É inodoro e incolor, e utilizado em concentrações inferiores a 0,3% (FERREIRA, 2000b; GUYNOT et al., 2005). 2.4.2.3 AGENTE PROMOTOR DE VISCOSIDADE Usados para mudar a consistência de uma preparação, fornecem maior resistência ao escoamento. São utilizados em formulações orais no intuito de diminuir o contato do ativo com as papilas gustativas e facilitar a administração (FERREIRA, 2000b). Alguns exemplos estão descritos abaixo: A carboximetilcelulose (CMC) é um derivado hidrossolúvel de celulose, normalmente encontrada na forma sódica (sal de sódio), é higroscópica, altamente solúvel em água, tanto a frio quanto a quente, inodoro e insípido. É amplamente utilizado em formulações de uso oral. Vários graus de viscosidade podem ser comercializados (baixa, média e alta viscosidade) e proporcionam viscosidades diferentes quando dispersadas em soluções. Apresenta boa estabilidade na faixa de pH entre 4 e 10 (LUBI, 2002; PRISTA; ALVES; MORGADO, 1990). A goma xantana é um polissacarídeo constituído de manose, glicose e ácido glicurônico. A estrutura rígida do polímero e natureza específica da ramificação fornece uma boa estabilidade da viscosidade de soluções aquosas, não sendo afetadas por alteração de temperatura e pH(LUBI, 2002). A hidroxietilcelulose é um polímero derivado da celulose, não iônico, solúvel em água, estável em formulação de pH entre 2 e 12, entretanto, pode ocorrer hidrólise em soluções com pH inferiores a 5. Em temperaturas elevadas, apresenta 52 diminuição de viscosidade, o que pode ser revertido com o resfriamento da formulação. É amplamente usado em preparações de uso oftálmico e tópico, e estudos sugerem sua administração em formulações orais na administração oral (LUBI, 2002). O alginato de sódio também é utilizado como agente suspensor em formulações orais, com concentração usual entre 1 e 5%. É higroscópico, a solução aquosa apresenta boa estabilidade quando está na faixa de pH entre 4 e 10. As soluções de alginato de sódio são susceptíveis à contaminação microbiana, o que pode alterar sua viscosidade. O mesmo pode acontecer caso a solução seja exposta à temperaturas superiores a 70°C. 2.4.2.4 ACIDULANTE É importante a prática de ajuste de pH das formulações manipuladas com o objetivo de garantir a estabilidade físico-química e microbiológica. Muitos dos excipientes adicionados à formulação necessitam de uma faixa de pH ideal para garantir suas atividades na composição da formulação. Solução de ácido cítrico, solução de ácido clorídrico e solução de ácido acético são importantes exemplos de acidulantes descritos no formulário nacional 2ª Ed.(BRASIL, 2010a, 2012a; FERREIRA, 2000b). 2.4.2.5 EDULCORANTES Formulações líquidas orais podem apresentar sabor desagradável, sendo o uso de edulcorantes uma forma de melhorar a palatabilidade da formulação, favorecendo a adesão do paciente ao tratamento. São classificados em naturais, semissintéticos e sintéticos (BALBANI; STELZER; MONTOVANI, 2006).Os principais edulcorantes utilizados em preparações orais líquidas são: sacarose, sacarina sódica, aspartame, ciclamato de sódio, sorbitol, manitol e frutose (FERREIRA; SOUZA, 2011a) 2.4.3 Embalagens Usadas Para Soluções Líquidas Orais A embalagem primária é destinada ao acondicionamento do produto acabado e fica em contato direto com o seu conteúdo durante todo o tempo. Pode ser de 53 vidro ou de plástico e deve proteger o produto das condições ambientais preservando sua estabilidade. Ela não deve interagir fisicamente ou quimicamente com a preparação e deve preservar a concentração, qualidade e pureza da formulação. (BRASIL, 2007b, 2010b). O vidro utilizado na embalagem de produtos farmacêuticos necessita ter qualidades protetoras superiores, ser quimicamente inerte, impermeável, forte, rígido e não se deteriorar com o tempo. Para uso farmacêutico, são classificados de acordo com a resistência ao ataque hidrolítico(ANSEL; POPOVICH; ALLEN JUNIOR; FERREIRA, 2000c): • Vidro tipo I – vidro neutro, de alta resistência térmica, mecânica e hidrolítica. Destinado ao acondicionamento de medicamentos para aplicação intravascular e uso parenteral. • Vidro tipo II – vidro alcalino do tipo sódico/cálcico, de resistência hidrolítica elevada. Destinado ao acondicionamento de soluções de uso parenteral, neutras e ácidas, que não tenham seu pH alterado. • Vidro tipo III – vidro alcalino do tipo sódico/cálcico, de resistência hidrolítica média, porém com boa resistência mecânica, sem qualquer tratamento superficial. Destinado ao acondicionamento de soluções de uso oral. • Vidros tipo NP (Não parenteral) – vidro alcalino do tipo sódico/cálcico, de resistência hidrolítica baixa e alta alcalinidade. Indicado ao acondicionamento de produtos não parenterais, de uso tópico e oral. Embora o vidro tenha muitas características adequadas, atualmente a maioria dos produtos farmacêuticos são embalados em material plástico. Nesse grupo inclui- se o polietileno de alta densidade (PEAD), polietileno de baixa densidade (PEBD), polipropileno (PP), poliestireno (PS), policloreto de vinila (PVC), polietilenotereftalato (PET) e vários outros. Algumas características de materiais plásticos podem ser observadas na tabela abaixo: 54 Tabela 02. Principais características dos materiais comumente usados para embalagem Característica PEAD PEBD PP PS PVC PET Transparência Opaco Transp. Opavo Transl. Transp. Transp. Transp. Transp. Absorção de água B B B A B B Permeabilidade ao vapor d’água B MB MB A B B Permeabilidade ao oxigênio A A A A B B Permeabilidade ao CO2 A A A A B B Legenda: Transp. – Transparente; Transl. – Translúcido; MB – Muito Baixa; B – Baixa; A – Alta. (adaptado de FERREIRA, 2000c). Os materiais plásticos são mais leves quando comparados ao vidro, apresentam maior resistência a impactos reduzindo custos de transporte e perdas, maior versatilidade no design e cores de embalagens com baixo custo e maior aceitação do consumidor. Porém, se pode encontrar diferentes problemas na utilização de embalagens plásticas como: permeabilidade dos recipientes ao oxigênio atmosférico e ao vapor de umidade, lixiviação dos constituintes do recipiente para o conteúdo interno, absorção de fármacos do conteúdo para o recipiente e possível alteração do recipiente após o armazenamento. Algumas características devem ser levadas em consideração no momento da escolha da composição do material de embalagem a ser utilizado. Algumas dessas características podem ser observadas no tabela 03 (LACHMAN; LIEBERMAN; KANING, 2001; ROCHA et al., 2014). Tabela 03. Principais resistencias dos materiais comumente usados para embalagem Característica PEAD PEBD PP PS PVC PET Resistência a ácidos 4 4 4 3 4 4 Resistência a álcalis 3 3 4 3 3 3 Resistência ao calor 2 4 3 4 3 4 Resistência a alta umidade 5 5 5 5 5 5 Neutralidade (ser inerte) 5 5 3 a 4 1 2 4 Legenda: 1 – Muito baixa; 2 – baixa; 3 – boa; 4 – muito boa; 5 – excelente (adaptado de FERREIRA, 2000c). 55 2.5 Controle De Qualidade De Soluções Orais Magistrais No Brasil, a atividade farmacêutica magistral é regulamentada pelaRDC N° 67/2007 que dispõe sobre as boas práticas de manipulação de preparações magistrais para uso humano em farmácias, para garantir a qualidade do produto final. Essa resolução reforça a importância do estabelecimento em ter um laboratório capacitado de controle de qualidade para realização dos ensaios determinados pela farmacopeia brasileira 5ª ed. De acordo com a RDC N°67/2007, para a realização do controle de qualidade de preparações líquidas não estéreis, deve-se realizar no mínimo os ensaios de descrição, aspecto, caracteres organolépticos, pH e peso ou volume antes do envase. Devido a pequena escala de produção, testes destrutivos são impossibilitados de serem realizados. Desta forma, os principais testes aplicáveis a soluções orais magistrais produzidos rotineiramente são a determinação da densidade de massa e determinação do pH. Além disso, podem ser realizados periodicamente, testes microbiológicos para soluções orais e determinação do teor do princípio ativo(BRASIL, 2007a, 2010a, 2012a). 2.5.1 Densidade de Massa A densidade de massa (ρ) de uma substância é a razão de sua massa por seu volume a 20°C. Ela é determinada considerando a temperatura da solução e é calculada a partir da densidade relativa (dtt). A densidade relativa de uma substância é a razão de sua massa pela massa de igual volume de água, ambas a 20°C (d2020). Ela pode ser determinada com o auxílio de picnômetro. Deve-se realizar a calibração do picnômetro antes da análise da amostra. Para realizá-la, deve-se determinar a massa do picnômetro vazio e depois de seu conteúdo preenchido com água na temperatura de 20°C, recentemente destilada e fervida. Após a calibração, deve-se determinar a massa do picnômetro preenchido com a amostra. A partir dessas informações, pode-se calcular a densidade relativa (d2020) a partir da razão entre a massa da amostra líquida e a massa da água (BRASIL, 2010b). 56 2.5.2 Determinação potenciométrica do pH O valor de pH é definido como a medida da atividade do íon hidrogênio de uma solução. Convencionalmente é usada a escala da concentração de íon hidrogênio da solução. A água é um eletrólito extremamente fraco, cuja autoionização produz íon hidrônio (hidrogênio hidratado) e íon hidróxido: H2O+ H2O �� H3O + + OH- (Equação III) As concentrações do íon hidrônio nas soluções aquosas podem variar entre limites amplos, que experimentalmente vão de 1 a 10-14 M, que é definida pela relação: pH = - log [H3O +] = log 1/[ H3O +] (Equação IV) Desta forma, a escala de pH é uma escala invertida em relação às concentrações de íon hidrônio, ou seja, quanto menor a concentração de íon hidrônio, maior o valor do pH. A determinação potenciométrica do pH é feita pela medida da diferença de potencial entre dois eletrodos adequados, imersos na solução em exame. Um destes eletrodos é sensível aos íons hidrogênio e o outro é o eletrodo de referência, de potencial constante. Os aparelhos comercialmente utilizados para a determinação de pH são instrumentos potenciométricos, providos de amplificadores eletrônicos de corrente com célula de vidro-calomelano, os quais são capazes de reproduzir valores correspondentes a 0,02 de unidades de pH (BRASIL, 2010). 2.5.3 Doseamento do princípio ativo O ensaio de doseamento visa quantificar o principio ativo e determinar seu teor em preparações farmacêuticas. As monografias encontradas nos compêndios farmacêuticos oficiais apresentam metodologia específica para cada ativo e suas diferentes formas farmacêuticas. Diferentes técnicas podem ser encontradas e as mais conhecidas e utilizadas são: métodos volumétricos (titulação), espectrofotometria, Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE) e a Cromatografia Gasosa (CG). Essas metodologias de análise oficiais são 57 consideradas validadas, onde testes específicos são realizados para demonstrar que o método analítico produz resultados confiáveis e adequados à finalidade a que se destina. Métodos não oficiais precisam ser validados conforme disposto na RDC N°166, de 24 de julho de 2017(BRASIL, 2017a; TERRA; ROSSI, 2005). A análise volumétrica é efetuada pela determinação do volume de uma solução, cuja concentração é exatamente conhecida (solução titulante), que reage quantitativamente com um volume conhecido da solução amostra. A adição da solução titulante é feita gradativamente para que ocorra a reação entre amostra e solução titulante. Esse processo é denominado de titulação. Quando a reação entre o titulante e o titulado é completa, obtém-se o ponto de equivalência ou ponto estequiométrico, que é acompanhado de modificação física provocada pela própria reação ou pela adição de uma solução indicadora. A concentração da amostra é definida a partir do volume usado da solução titulante na reação. É considerado um método de baixo custo e de fácil acesso(PAVIA; LAMPMAN; VYVYAN, 2013). A espectrofotometria na região UV-VIS do espectro eletromagnético é uma das técnicas analíticas mais empregadas, em função de sua robustez e custo relativamente baixo. A incidência de uma radiação continua (feixe de luz) sobre uma amostra resulta em absorção da radiação, onde átomos e moléculas passam de um estado de energia mais baixa (estado fundamental) para um estado de energia maior (excitado) e a diferença entre as energias encontradas (entre os estados excitado e fundamental) pode ser quantificada. A absorção de energia depende da estrutura eletrônica da molécula e, por isso, a espectroscopia de absorção na região do ultravioleta-visível (UV-VIS) tem ampla aplicação na caracterização de espécies orgânicas e inorgânicas. A absorção é influenciada pela concentração da amostra e pela estrutura do analito analisado. De acordo com o intervalo de frequência da energia eletromagnética aplicada, a espectrofotometria de absorção pode ser dividida em ultravioleta, visível e infravermelho(BRASIL, 2010; PAVIA; LAMPMAN; VYVYAN, 2013). A cromatografia gasosa (CG) é uma técnica de separação cromatográfica baseada na diferença de distribuição de espécies de uma mistura entre duas fases não miscíveis, na qual a fase móvel é um gás de arraste que se move através da fase estacionária contida em uma coluna. É baseada no mecanismo de adsorção, 58 distribuição de massa ou exclusão de tamanho. É aplicada a substâncias e seus derivados que se volatilizam sob as temperaturas empregadas e é aplicada para testes de identificação, de pureza e determinação quantitativa (BRASIL, 2010). A cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) é uma técnica de separação cromatográfica fundamentada na distribuição dos componentes de uma mistura entre duas fases imiscíveis: a fase móvel (líquida) e a fase estacionária (sólida, líquida ou super fluida) que se encontra retira na coluna cromatográfica. O cromatógrafo é constituído por um sistema de bombeamento, injetor, coluna cromatográfica (em alguns casos onde a metodologia de análise exigir temperaturas superiores à ambiente, pode ser acoplado um forno), um detector (o mais utilizado é o UV/VIS) e um sistema de aquisição de dados (ANTUNES, 2015; EUROPEAN PHARMACOPOEIA, 2004). A representação dos componentes pode ser visualizada na figura abaixo: Figura 10. Representação esquemática de um sistema de cromatografia líquida. 1 – Sistema de acondicionamento de Fase Móvel; 2 – Bomba; 3 – Injetor; 4 – Coluna cromatográfica; 5 – Detector; 6 – Sistema de aquisição de dados; 7 – Computador (adaptado de Applies Porous Technologies Inc, 2004) Os sistemas de bombas disponíveis atualmente podem oferecer sistemas de eluição isocráticos, onde a fase móvel é formada por um único solvente ou por uma mistura de solventes de composição constante, sistema de eluição por gradiente, com composição variável ao longo da corrida. As fases estacionárias são armazenadas em colunas cilíndricas de altapressão denominadas de coluna cromatográfica. Quando sistemas são compostos por fase estacionária polar e fase móvel apolar, é definido como cromatografia de fase normal, enquanto o oposto 59 (fase estacionária apolar e fase móvel polar) é denominada de cromatografia de fase reversa. A afinidade de uma substância pela fase estacionária e, consequentemente, seu tempo de retenção na coluna é controlado pela polaridade da fase móvel em relação à fase estacionária (BRASIL, 2010). 2.5.4 Controle microbiológico A contaminação microbiana de um produto não estéril pode conduzir não somente à sua deterioração, com perda da estabilidade físico-química, mas também ao risco de infecção para o usuário. A L-carnitina é sintetisada a partir dos aminácidos essenciais lisina e metionina e, por apresentar estrutura semelhante a de um aminoácido, pode ser usada como substrato para microrganismos. Bactérias Gram-positivas e Gram-negativas podem consumir a L-carnitina como fonte de carbono, nitrogênio e de energia podendo levar à formação de metabólitos indejesados (Figura 11) (MEADOWS; WARGO, 2015; SÁNCHEZ-HERNÁNDEZ et al., 2010). Figura 11 – Metabólitos possiveis da L-carnitina quando consumida por microrganismos (MEADOWS & WARGO, 2015). Por conta disso, produtos farmacêuticos orais não estéreis devem ser submetidos aos controles de contaminação microbiana. Os ensaios microbiológicos para preparações aquosas para uso oral não estéril são: contagem total de bactérias 60 aeróbias (máximo permitido de 10² UFC/mL), contagem total de fungos/ leveduras (máximo permitido de 10 UFC/mL) e a pesquisa do patógeno específico Escherichia coli (deve ser ausente em 1mL de formulação) (BRASIL, 2010b). 2.6 Estudo De Estabilidade A estabilidade de preparações magistrais é o período no qual um produto manipulado mantém, dentro dos limites especificados e nas condições de armazenamento e uso, as mesmas características e propriedades que apresentava ao final de sua manipulação. Formulações líquidas, principalmente as aquosas, podem apresentar suscetibilidade à degradação físico-química e microbiológica podendo implicar no comprometimento da estabilidade da formulação (BILLANY, 2005; LACHMAN; LIEBERMAN; KANING, 2001). Os estudos de estabilidade têm como objetivo gerar evidências sobre as variações que podem ocorrer com a formulação em função do tempo, diante de fatores ambientais como temperatura, umidade e luz. As informações obtidas também orientam quanto ao prazo de validade do medicamento e as condições de armazenamento. Tais estudos se iniciam no desenvolvimento da formulação, quando são avaliados fatores intrínsecos como a fórmula em si, a compatibilidade entre seus componentes, pH e adequação da embalagem primária, entre outros fatores. Uma vez definido, o produto farmacêutico segue por longo período de armazenamento, em sua embalagem final, sob condições controladas de temperatura e umidade, simulando aquelas em que o produto estará exposto, e passa por avaliações físico-químicas e microbiológicas (ANSEL; POPOVICH; ALLEN JUNIOR, 2000; BRASIL, 2012a). Para as indústrias, atualmente são definidos três tipos de estudo de estabilidade: acelerado, que é projetado para acelerar a degradação química e/ou mudanças físicas de um produto farmacêutico em condições forçadas de armazenamento, estudo de longa duração que é projetado para verificar as características físicas, químicas, biológicas e microbiológicas de um produto farmacêutico durante seu prazo de validade, e o estudo de acompanhamento que é realizado para verificar se o produto farmacêutico mantêm suas características 61 encontradas no estudo de estabilidade de longa duração (BRASIL, 2012a; SILVA et al., 2009). Todos os estudos descritos acima são realizados para determinação do prazo de validade considerando o produto em sua embalagem primária lacrada, ao abrir a embalagem para uso, um medicamento multidose adquire a característica de um medicamento extemporâneo, onde o manuseio e as condições de exposição desconhecidas não foram avaliadas previamente em estudos de estabilidade( BRASIL, 2012a). O medicamento magistral é produzido de forma personalizada, para atender a necessidade particular de um paciente para uso imediato, sendo considerada uma preparação extemporânea. Dessa forma, não se atribui a ele um prazo de validade, mas sim uma data limite para uso denominada de “Prazo de Uso”. A definição dessa data limite tem sido um grande desafio, pois a estabilidade de produtos extemporâneos pode variar de uma formulação para outra, dependendo do fármaco utilizado, da composição da formulação, da forma farmacêutica do produto final, do processo de manipulação, da embalagem e de condições de armazenamento, entre outros diversos fatores que podem alterar a estabilidade da formulação (ANSEL; POPOVICH; ALLEN JUNIOR; BRASIL, 2012a; FERREIRA, 2010). Na tentativa de determinar o melhor prazo de uso de medicamentos multidose, pode-se realizar o estudo de estabilidade em uso, que é projetado para verificar a manutenção da qualidade do produto em situações semelhantes às de uso, quando ocorre a abertura e subsequentes reaberturas da embalagem primária, simulando as condições de conservação do produto pelo período de tempo recomendado para o tratamento (BRASIL, 2010c). O estudo de estabilidade deve ser conduzido em ambiente com condições de temperatura e umidade controladas. Para determinação das condições de armazenagem, deve-se levar em conta as características da Zona Climática em que o Brasil se encontra, que é a zona IV com temperatura ambiente de 30°C ± 2°C e umidade relativa de 70 ± 5%. E, para formulações que necessitem ser acondicionadas sob baixas temperaturas, a temperatura de condicionamento durante o teste deve ser de 5°C ± 3°C. Já para o estudo de estabilidade acelerado, a temperatura deve ser de 40°C ± 2°C e umidade relativa de 75% ± 5%. Ao usar 62 embalagem de material impermeável a umidade não precisa ser controlada(BRASIL, 2012a). Para avaliar a estabilidade contra fatores extrínsecos podem ser realizados testes de degradação forçada, onde a formulação é avaliada sob efeitos da temperatura, oxidação, luz e susceptibilidade à hidrólise em ampla faixa de pH. O estudo permite a geração de produtos de degradação e, dessa forma, avaliar a seletividade e especificidade do método analítico, bem como obter informações acerca das possíveis rotas de degradação do produto (BRASIL, 2012b). 63 3 JUSTIFICATIVA A relevância deste trabalho se baseia nos benefícios alcançados com a suplementação de L-carnitina em pacientes portadores de erros inatos do metabolismo. A reposição contínua desta substância pode proporcionar melhor qualidade de vida aos pacientes fornecendo melhoria dos sintomas e prevenção de graves sequelas. A L-carnitina não possui preparação medicamentosa industrializada na forma líquida no Brasil e é geralmente dispensada em farmácias de manipulação sob a forma de pó (sachê) para mistura em alimentos ou líquidos durante refeições. Este tipo de administração, no entanto, apresenta alguns inconvenientes, principalmente pela dificuldade em fazer pacientes infantis ou com dificuldade de deglutição, que necessitam de multidoses diárias, em ingerirem a dose correta em todas as refeições. A apresentação em solução oral facilitaria também a administração do medicamento por pacientes com sondas de gastrostomia. Algumas características da formulação podem se tornar um desafio, como o fato de formas farmacêuticas líquidas apresentarem alta proporção de veículo aquoso, tornando propício o crescimento de microrganismos. Além disso, a L- carnitina pode ser utilizada como fonte de carbono, nitrogênio e reserva energética, sendo considerada um bom substrato para bactérias. A formulação também deve apresentar boa texturasatisfatória e a capacidade de agradar o paladar do público alvo, que é formado em sua maioria por pacientes infantis e com alterações metabólicas. Por conta disso, a formulação a ser desenvolvida deve ser o mais simples possível, utilizando o mínimo de excipientes, mas apresentando boa estabilidade físico-química e microbiológica, garantindo a qualidade e segurança da formulação. 64 4 OBJETIVOS 4.1 Objetivo Geral O presente trabalho tem como objetivo desenvolver uma solução aquosa magistral de L-carnitina, avaliando sua estabilidade físico-química e microbiológica em diferentes tempos e sob diferentes condições. Este estudo visa disponibilizar essas soluções aos pacientes portadores de patologias associadas a Erros Inatos de Metabolismo (EIM) atendidos pela Farmácia Universitária da UFRJ, com apelo especial para os que realizam tratamento no Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG), o hospital pediátrico da UFRJ. 4.2 Objetivos Específicos 1- Desenvolvimento e caracterização da formulação líquida de L-carnitina; 2- Desenvolvimento e validação de metodologia analítica para solução oral de L-carnitina; 3- Estudo de estabilidade físico-química e microbiológico; 4- Estudo dedegradação forçada das formulações. 65 5 MATERIAIS E MÉTODOS 5.1 Materiais As matérias-primas e reagentes utilizados foram de grau analítico, e os solventes utilizados foram de grau HPLC. Todos os equipamentos e vidrarias utilizados encontravam-se previamente calibrados. As soluções foram preparadas com água destilada e água Milli-Q. 5.1.1Matérias-primas e Reagentes • Ácido Cítrico (Infinity Pharma); • Ácido p-aminobenzóico (Sigma); • Ácido clorídrico (Vetec); • Ácido fosfórico 85% (Tedia); • Água destilada (FU); • Água ultrapurificada (Milli-Q); • Benzoato de sódio(Farmos); • Brometo de potássio (Shimadzu); • Carboximetilcelulose (Farmos); • Filtro 0,45µm (Chromafil); • Membrana de celulose regenerada 0,45µm para filtração de fase aquosa (Merck); • Heptanosulfonato de sódio (Sigma); • Hidróxido de sódio (Vetec); • L-carnitina Matéria-prima (Infinity Pharma); • Padrão SQR de L-carnitina (Sigma); • Metanol (Vetec); • Metilparabeno (Farmos); • Peróxido de hidrogênio 3% (Vetec); • Solução tampão padrão pH 4,01 (Merck); • Solução tampão padrão pH 7,01 (Merck); • Sulfato de cobre (Vetec). 66 5.1.2 Equipamentos e acessórios • Agitador mecânico com haste de hélice (Fisatom); • Balança analítica (Sartorius); • Banho de ultrassom (LGI); • Caneco de aço inoxidável de 200mL, 500mL, 1000mL e 3000mL; • Coluna cromatográfica C18 3,9 x 300mm - 10µm 125A (Waters); • Cromatógrafo Líquido de Alta Eficiência (CLAE) (Shimadzu LC-20AT); • Detector de arranjo de diodos (DAD – UV/VIS) (Shimadzu SPD-M20A); • Espectrofotômetro de Transformada de Fourier (ShimadzuIRPrestige-21); • Filtro de vidro, suporte e papel de filtro; • Placa de aquecimento e agitação (IKA C-MAG HS7); • Potenciômetro (Meter 922); • Pipetador automático 5000µL. 5.2 Métodos 5.2.1 Análise de identificação da L-Carnitina Para identificação e caracterização da L-Carnitina foi realizada a análise de Espectroscopia de Infravermelho com Transformada de Fourier (FTIR). Essa técnica fornece evidências da presença de grupos funcionais presentes na estrutura do ativo, confirmando sua composição química. Para obter as medidas, a radiação no infravermelho passa através da amostra e é comparada com aquela transmitida na ausência de amostra. O espectrofotômetro registra o resultado na forma de bandas de absorção. A região do espetro eletromagnético de maior interesse para essa técnica se encontra entre 4000 a 400 cm-1 (FORATO et al., 2010). As amostras foram preparadas com a mistura de 3mg de L-carnitina, previamente seca à vácuo por 5 horas a temperatura de 50°C, com 297 mg de brometo de potássio (KBr). A mistura homogeneizada foi compactada em prensa hidráulica, sob pressão de 15 bar por 2 minutos. As pastilhas formadas foram levadas ao espectrofotômetro para análise e a faixa de varredura dos espectros foi feita entre 4000 a 400 cm-1, com resolução de 4 cm-1. O espectro é formado pela intensidade das bandas de absorção dada em transmitância, e a posição em 67 número de onda (cm-1). As bandas observadas no espectro foram caracterizadas de acordo com os grupos funcionais presentes na estrutura do ativo e comparada com literatura (USP, 2016). 5.2.2 Desenvolvimento das formulações Foram manipuladas 10 formulações diferentes de L-carnitina. Foram produzidos lotes de bancada de 100mL de cada solução com o objetivo de selecionar a melhor formulação. A técnica de preparo envolveu a dissolução da L- carnitina em veículo aquoso (água destilada), seguida da adição do agente conservante. Após total dissolução dos componentes, completou-se o volume final com o veículo e filtrou-se a formulação em papel de filtro. Após essas etapas, as soluções foram levadas ao agitador mecânico acoplado com haste em hélice e polvilhou-se o agente de viscosidade, mantendo sempre agitação constante e intensa até total incorporação nas formulações. Para ajuste do pH foi adicionada quantidade suficiente de solução de ácido cítrico 50% até o pH indicado de cada formulação (essa etapa contou com o auxílio do potenciômetro). Antes do envase, realizou-se a conferencia do volume final. As proporções dos componentes utilizados nas formulações estão descritas na Tabela 04. As soluções foram acondicionadas em frascos de vidro neutro âmbar de 60 mL, com tampa branca de rosca e batoque e volume suficiente para preencher dois terços da capacidade do frasco. Antes do envase, os frascos foram lavados, higienizados com álcool 70% (p/p) e secos (ANVISA, 2004). 68 Tabela 04. Descrição dos excipientes utilizados nas formulações testadas e suas proporções. Componentes F1 F2 F3 F4 F5 F6 F7 F8 L-carnitina 10% 10% 10% 10% 20% 20% 20% 20% Benzoato de sódio 0,3% 0,4% - 0,3% 0,4% 0,3% - 0,2% Metilparabeno - - 0,1% - - - - 0,1% Ácido Cítrico q.s. q.s. q.s. 0,9% - 1,8% 1,8% q.s. pH 5,5 5,5 5,5 5,0 5,0 5,0 5,0 5,5 Carboximetilcelulose 0,3% 0,3% 0,3% 0,3% 0,3% 0,3% 0,3% 0,3% Água destilada q.s.p. q.s.p. q.s.p. q.s.p. q.s.p. q.s.p. q.s.p. q.s.p. Legenda. F = Formulação; q.s.= “Quantidade suficiente” para pH 5,5; Q.s.p. = “Quantidade suficiente para”. 5.2.3 Metodologia De Análise Físico-Química 5.2.3.1 Determinação Do Aspecto Após prévia agitação da solução, observou-se cor, homogeneidade, turvação e presença precipitado. As avaliações foram realizadas no dia do preparo do produto e após o(s) período(s) de exposição indicado(s) nos estudos de estabilidade (BRASIL, 2010; PRISTA; ALVES; MORGADO, 1990). 5.2.3.2 Determinação do odor Para determinação do odor, foram realizados movimentos circulares com a solução, próximo ao nariz para avaliação olfativa. As avaliações foram realizadas após o preparo do produto e nas datas determinadas nos testes de estabilidade (BRASIL, 2010; PRISTA; ALVES; MORGADO, 1990). 5.2.3.3 Determinação do pH As determinações potenciométrica do pH foram realizadas no potenciômetro digital, previamente calibrado com as soluções tampão padrões. A determinação do pH foi efetuada diretamente na amostra, procedendo-se três leituras consecutivas e 69 obtendo-se como resultado a média das leituras (BRASIL, 2010b). A amostra deve apresentar pH entre 4 e 6 (USP, 2016). 5.2.3.4 Determinação da densidade de massa Para determinação da densidade de massa das amostras (ρt), utilizou-se picnômetro para líquidos limpo e seco, com capacidade para 25mL. Inicialmente, pesou-se o picnômetro e, em seguida transferiu-se água destilada, recentemente destilada e fervida, a 20°C para o picnômetro e registrou-se a massa encontrada. Obteve-se a massade água pela diferença entre as massas obtidas. Após o picnômetro estar limpo e seco, transferiu-se a amostra e removeu-se o excesso da substância, caso necessário, e pesou-se. Obteve-se a massa da amostra pela diferença da massa do picnômetro cheio e vazio. Registrou-se a temperatura encontrada da solução amostra e calculou-se a densidade relativa (d2020) pela razão entre a massa da amostra e a massa da água (expressa em g/mL ou kg/L). A partir desse resultado, encontrou-se a densidade de massa da amostra (BRASIL,2010). ρt = d (água) x d t t + 0,0012 (Equação I) Onde: ρt = densidade de massa dtt = densidade relativa (ver equação II) d (água) = densidade da água na temperatura registrada (ver tabela 2) Tabela 05.Densidade da água de 20 a 30°C (adaptado de BRASIL, 2010). TEMPERATURA (°C) DENSIDADE (g/L) TEMPERATURA (°C) DENSIDADE (g/L) 20 0,99820 25 0,99704 21 0,99799 26 0,99678 22 0,99777 27 0,99651 23 0,99754 28 0,99623 24 0,99730 29 0,99594 70 5.2.3.5 Determinação do teor do princípio ativo A análise das amostras foi realizada por Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE) conforme metodologia de análise para solução oral de L-carnitina descrita na Farmacopeia Americana (USP,2017). Todos os padrões utilizados para preparo das soluções descritas abaixo foram pesados em balança analítica com quatro casas decimais, os balões volumétricos utilizados foram devidamente calibrados, as soluções padrões e soluções amostra foram avolumadas com água ultra purificada, homogeneizadas e filtradas com filtro de poro 0,45µm. Os ensaios foram realizados em triplicata. 5.2.3.5.1 PREPARO DE CURVA PADRÃO Foi preparada solução padrão de L-carnitina 04 mg/mL e, a partir desta, foram feitas as soluções para a curva padrão nas concentrações de 1,6, 1,8, 2,0, 2,2, 2,4 e 2,6 mg/mL. As alíquotas foram transferidas para balão volumétrico, avolumadas com água ultrapurificada.e filtradas em filtro 0,45µm. 5.2.3.5.2 PREPARO DE SOLUÇÃO DE PADRÃO INTERNO Preparou-se uma solução de ácido p-aminobenzóico com concentração final de 0,02 mg/mL, avolumando-se com água ultrapurificada. 5.2.3.5.3 PREPARO DE SOLUÇÃO PADRÃO Para preparo da Solução Padrão, transferiu-se 10,0 mg de L-carnitina para balão volumétrico de 5,0 mL, adicionou-se 1mL da Solução de Padrão Interno e completou-se o volume com água ultra purificada . 5.2.3.5.4 PREPARO DE SOLUÇÃO AMOSTRA ESTOQUE Para o preparo das Soluções Amostras Estoques, preparou-se soluções finais com concentração de ativo de 10,0 mg/mL. Desse modo, para análise de formulações de L-carnitina a 10%, transferiu-se alíquota de 5,0 mL de amostra para balão volumétrico de 50,0 mL e avolumou-se com água ultrapurificada. Já para análise de formulações de L-carnitina a 20%, transferiu-se alíquota de 5,0 mL de 71 amostra para balão volumétrico de 100,0 mL e completou-se o volume com água ultra purificada. 5.2.3.5.5 PREPARO DE SOLUÇÃO AMOSTRA Para preparo da solução amostra, foram transferidos 5,0 mL de Solução Amostra Estoque para balão volumétrico de 25,0 mL. Adicionou-se 5,0 mL de Solução de Padrão Interno e avolumou-se com água ultrapurificada. As soluções finais foram filtradas em filtro de porosidade 0,45 µm. 5.2.3.5.6 INFORMAÇÕES DE SISTEMA CROMATOGRÁFICO As análises foram realizadas em Cromatógrafo Líquido utilizando coluna cromatográfica C18 (30 cm x 3,9 mm, 10 µm), com fase móvel composta por uma mistura de 555mg de 1-heptanosulfonato de sódio, 980mL de Tampão Fosfato 0,05M pH 2,4 e 20mL de Metanol, que foi filtrada através de membrana de celulose regenerada de porosidade 0,45µm, sob vácuo. O volume de injeção foi de 40 µL, com fluxo de 1,5mL/min, sistema mantido a temperatura ambiente e tempo de corrida de 15 min. A detecção foi realizada com detector DAD, com monitoramento no comprimento de onda de 225 nm (USP, 2018). De acordo com a Farmacopeia dos Estados Unidos (USP 40, 2017), o teor de L-Carnitina em soluções orais deve estar entre 90 e 110% do valor declarado. A partir dos resultados encontrados para a curva padrão, foi determinada a equação da reta e os valores de coeficiente de correlação (R), coeficiente angular (a) e coeficiente de determinação (R2). O critério mínimo aceitável de coeficiente de correlação (R) é de 0,99. A partir da equação da reta, obteve-se a concentração nominal de L-carnitina nas soluções amostras (BRASIL, 2017a). 5.2.3.5.7 ADEQUAÇÃO DO SISTEMA O tempo de retenção relativo para L-carnitina e para o ácido p-aminobenzóico é, respectivamente, 0,56 e 1,0. A resolução entre os picos de L-carnitina e do padrão interno não deve ser menor que 1,5. E o desvio padrão relativo (DPR) não deve ser maior que 2,0% (USP, 2016). 72 5.2.4 Validação Parcial da Metodologia de Análise de Doseamento A Farmacopeia dos Estados Unidos (USP 40° Edição) contempla em seu conteúdo, a monografia correspondente à solução oral de L-carnitina. Os métodos analíticos compendiais devem ter sua adequabilidade demonstrada ao uso pretendido, necessitando passar por um estudo de validação parcial. Esse procedimento visa garantir que os resultados obtidos sejam confiáveis e reprodutíveis. A validação parcial deve avaliar, pelo menos, os parâmetros de precisão, exatidão e seletividade (BRASIL, 2017a). Para a realização da validação parcial do método de doseamento da L- carnitina em solução oral, foram usados critérios estabelecidos pela Resolução RDC N° 166, de 24 de julho de 2017 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). 5.2.4.1 Precisão A precisão de um método analítico expressa a proximidade entre os resultados obtidos de uma série de medidas obtidas de uma mesma amostra homogênea em condições determinadas (BRASIL, 2017a). Em geral, a precisão pode ser definida em níveis de repetibilidade (mesmas condições em um curto intervalo de tempo) e precisão intermediária (diferentes dias e/ou diferentes analistas) (VALDERRAMA; BRAGA; POPPI, 2009). Foram analisadas seis diferentes soluções de L-carnitina com concentração de 10mg/mL. As análises foram realizadas sob as mesmas condições de operação, mesmo analista e mesma instrumentação, em uma única corrida. O procedimento foi realizado em dois dias diferentes. A precisão foi demonstrada calculando-se o desvio padrão relativo (DPR) da série de medições, conforme Equação III (BRASIL, 2017a). DPR = DP x 100 (Equação III) CMD Onde: DPR = desvio padrão relativo DP = Desvio padrão CMD = Concentração média determinada 73 5.2.4.2 Exatidão A exatidão de um método analítico é a proximidade dos resultados obtidos pelo método avaliado em relação ao valor verdadeiro. É expressa pela relação entre a concentração média determinada experimentalmente e a concentração teórica (BRASIL, 2017a). Foram preparadas soluções padrões de L-carnitina nas concentrações de 1,6, 2,0 e 2,4 mg/mL, representando os níveis de concentração baixo (80%), médio (100%) e alto (120%). Foram realizadas análises em triplicata para cada nível mencionado. O cálculo da exatidão pode ser calculado pela equação IV (BRASIL, 2017a). Exatidão = CME x 100 (Equação IV) Cteórica Onde: CME = Concentração Média Experimental Cteórica = Concentração teórica 5.2.4.3 Seletividade Seletividade é a capacidade que o método possui em identificar ou quantificar o analito de interesse na presença de outros componentes como impurezas, produtos de degradação, diluentes e componentes da matriz. Foi preparada solução padrão de L-carnitina na concentração de 2,0 mg/mL, levada para analise e comparada com: • Amostra preparada com matéria prima do ativo na mesma concentração; • com solução contendo todos os componentes da formulação desenvolvida; • com solução contendo apenas o veículo das formulações (branco); • com fase móvel. Esses testes foram realizados para comprovar que os picos de interessenão sofrem interferência com a presença de nenhum componente utilizado (BRASIL, 2017a). Para demonstrar ausência de interferência de produtos de degradação, foi realizado estudo de degradação forçado (item 5.2.7) para expor a amostra a condições de degradação em ampla faixa de pH, de oxidação, de calor e de luz. 74 5.2.4.4 Linearidade A linearidade de um método deve demonstrar sua capacidade de obter respostas analíticas proporcionais à concentração do analito em uma amostra dentro de um intervalo específico (BRASIL, 2017a). Foi desenvolvida uma curva de calibração onde o sinal analítico denominado variável dependente y é linearmente proporcional à sua concentração, denominada variável independente x. Com os resultados obtidos obteve-se a equação da reta com estrutura definida como (RIBEIRO et al., 2008): y = ax + b (Equação V) Onde: y = variável referente ao sinal analítico a = Coeficiente angular x = variável referente à concentração da amostra (mg/mL) b = Coeficiente linear Para preparo de três curvas de calibração, foram preparadas soluções padrões de L-carnitina, em dias diferentes, nas concentrações de 1,6, 1,8, 2,0, 2,2, 2,4 e 2,6mg/mL. Os resultados foram tratados por métodos estatísticos para determinação da equação da reta, do coeficiente de correlação (r) e do coeficiente angular (a). O critério mínimo aceitável para o coeficiente de correlação (r) é de 0,990 e o coeficiente angular (a) deve ser significativamente diferente de zero. A partir das curvas de calibração, estimou-se o limite de detecção (LD) e o limite de quantificação (LQ) a aplicando as equações VI e VII (BRASIL, 2017a): • Limite de detecção LD = (3,3 x DP) (Equação VI) IC • Limite de quantificação LQ = (DP x 10) (Equação VII) IC 75 Onde: DP = desvio padrão do intercepto com o eixo Y das 3 curvas de calibração IC = inclinação da curva de calibração 5.2.4.5 Faixa de trabalho A faixa de trabalho foi estabelecida determinando o limite de quantificação inferior e superior do método validado. Neste caso, o intervalo utilizado foi de 80 a 120% da concentração teórica do teste. A faixa foi estabelecida uma vez que o método apresenta exatidão, precisão e linearidade adequada quando aplicados a amostras de concentração dentro do intervalo especificado (BRASIL, 2017a). 5.2.5 Metodologia de Análise Microbiológica As análises microbiológicas das formulações desenvolvidas foram realizadas em parceria com a Professora Doutora Helena Keiko Toma, coordenadora do Laboratório de Controle de Qualidade de Medicamentos, Alimentos e Cosméticos (LACMAC) da Faculdade de Farmácia da UFRJ. As formulações foram submetidas aos ensaios para soluções orais não estéreis, definidos pela Farmacopéia Brasileira 5° Edição, que conta com as análises de contagem total de bactérias aeróbicas, contagem total de bolores e leveduras e pesquisa de patógenos (Escherichia coli). 5.2.5.1 Análise microbiológica Higienizou-se a parte externa do frasco a ser analisado com álcool 70%. Em fluxo laminar, transferiu-se 10 mL da amostra para 90 mL de solução de diluição (tampão fosfato - pH 7,2) e ajustou-se o pH da solução final para 7 com HCl 0,1 M ou NaOH 0,1 M (Solução 1:10). Repetiu-se o procedimento, transferindo 10 mL da solução recém-preparada para 90 mL de solução de diluição, fazendo o ajuste necessário para manter o pH final em 7 (solução 1:102). Repetiu-se o procedimento para obter a solução 1:103. Esses meios foram mantidos por 24horas para fortificação. Após esse período, transferiu-se 0,1 mL das soluções preparadas para placas de Petri contendo 15mL de meio de cultura adequado para cada análise (Tabela 06). Incubou-se as placas conforme temperatura e período indicado para 76 cada análise, apresentados na Tabela 06. Tomou-se a média aritmética das placas de cada meio e calculou-se o número de UFC/mL do produto. Tabela 06. Características de incubação dos testes microbiológicos TESTE MEIO DE CULTURA TEMPERATURA TEMPO Contagem total de bactérias aeróbias Ágar caseína-soja 32,5ºC ± 2,5°C Até 7 dias Ágar Sabouraud-dextrose 22,5°C ± 2,5°C Até 5 dias Leveduras e fungos Ágar Sabouraud-dextrose 22,5ºC ± 2,5°C 5 a 7 dias Patógeno específico (E.coli) Caldo MacConkey 32,5ºC ± 2,5°C 18 – 72 h 5.2.6 Estudo de Estabilidade 5.2.6.1 Estudo Prévio de Estabilidade As amostras desenvolvidas no item “5.2.2 Desenvolvimento das formulações” que não apresentaram incompatibilidades farmacotécnicas, foram encaminhadas para estudo de estabilidade prévio. Nessa etapa elas foram avaliadas pelas análises físico-químicas de aspecto, odor e pH, descritas no item “5.2.3 Metodologia de Análise Físico-química”, e pelas análises microbiológicas descritas no item “5.2.5 Metodologia de Análise Microbiológica”. Os tempos de análises realizados foram: após 15, 30 e 45 dias das formulações serem mantidas em estufa a temperatura constante de 40°C. Como a estabilidade microbiológica era o maior desafio, esse estudo prévio teve como objetivo identificar a formulação com melhor e maior tempo de estabilidade microbiológica, que foi encaminhada para estudo de estabilidade completo. Nessa etapa não foi avaliado o teor de L-carnitina nas formulações. 5.2.6.2 Estudo de Estabilidade Completo Em Uso Lotes de bancada de 4 L foram produzidos de acordo com o modo de preparo descrito no item “5.2.2 Desenvolvimento das formulações”. No momento do envase, 2.000 mL da formulação preparada foram envasados em frascos PET e os outros 2.000 mL foram envasados em frascos de vidro âmbar. As soluções foram divididas 77 e expostas em temperaturas controladas de 5°C, 25°C e 40°C e analisadas nos dias 0 (após a manipulação das formulações), 15, 30 e 45. Foram realizadas análises físico-químicas e microbiológicas. Por ser um produto de embalagem multidose, o estudo de estabilidade realizado foi do tipo “em uso”, onde, a partir de um mesmo frasco alíquotas diárias de 1,0 mL eram retiradas e desprezadas para simulação de uso do produto. Desse frasco, foram retiradas alíquotas para realização das análises físico-químicas e microbiológicas. Foram produzidas também, soluções com a mesma composição da amostra excetuando-se o princípio ativo, denominadas de “Amostras em Branco”, e elas foram utilizadas apenas no teste de Teor. E ainda, foi produzida uma formulação sem a presença de conservantes microbianos em sua composição, sendo denominada de “Formulação Controle” para o estudo microbiológico. As análises físico-químicas foram realizadas em triplicatas verdadeiras, quando são retiradas três alíquotas a partir de um mesmo recipiente. Um resumo do estudo de estabilidade está descrito na Tabela 7. Tabela 07. Esquema das condições de exposição das amostras para avaliação da estabilidade. Amostra Embalagem Temperatura Análise Tempo de análise Amostra 1 Branco 1¹ Amostra 2 Branco 2¹ Controle PET Vidro âmbar 5°C 25°C 40°C Físico-Química Microbiológica 0 dias ² 15 dias 30 dias 45 dias Legenda.¹Amostras em Branco - apenas para análise de teor (FIQ); ² Após a manipulação das formulações. 5.2.7 Estudo de Degradação Forçada A RDC 53 de 2015 indica que os testes de degradação forçada devem promover uma degradação maior que 10% da amostra e inferior àquela que degradaria completamente a amostra. Baseado no Informe Técnico N° 01 de 2008, 78 as soluções foram testadas com igual volume de solução degradante. Para hidrólise ácida foi adicionado 25mL de ácido clorídrico 0,1 N a 25mL de formulação. Para hidrólise básica, 25mL de formulação foram misturadas com 25mL de hidróxido de sódio 0,1N. Para avaliação da degradação térmica, a formulação foi mantida sob aquecimento a 60°C. Todas as formulações foram mantidas sob agitação nas condições especificadas por 24h. Em paralelo foi deixada uma soluçãopadrão de L- carnitina na mesma concentração da amostra sob agitação por 24 horas para controle. Por não apresentar degradação superior a 10%, foi realizada uma segunda etapa do estudo, com base no trabalho de Khoshkam e Afshar (2014) onde 25,0 mL da formulação e 25,0 mL de solução de ácido clorídrico 1M foram misturados e aquecidos a 70°C por 24 horas com agitação constante e em sistema vedado. Ao final do aquecimento, as amostras foram neutralizadas até o pH 7. O mesmo procedimento foi realizado com 25 mL de amostra e 25 mL de solução de hidróxido de sódio 1M para exposição à hidrólise básica. Para avaliação de degradação oxidativa, 25 mL de solução amostra foram misturadas com 25 mL de solução de peróxido de hidrogênio a 3% e foi mantida a temperatura ambiente por 4 horas, protegidas da luz. Para avaliação da exposição ao calor, a amostra foi aquecida a 70°C por 12 e 24 horas sob agitação constante e em sistema vedado. As soluções foram diluídas com água ultrapura até a concentração final de 10mg/mL, filtradas com filtro 0,45µm e analisadas em triplicata por CLAE para determinação do teor de L-Carnitina e avaliação da existência de possíveis produtos de degradação. 5.2.8 Análise de dados Os resultados experimentais obtidos foram expressos como a média dos resultados acompanhados do desvio padrão (DP). A análise estatística de dados foi realizada usando o software Excel® (2010) aplicando-se o teste t de Student para comparação de dois grupos ou ANOVA (AnalysisofVariance) para comparação de três ou mais grupos, considerando-se o nível de significância de 0,05 (p < 0,05). 79 6 RESULTADOS E DISCUSSÃO 6.1 Análise de identificação da L-Carnitina Foram realizadas análises por Espectroscopia de Infravermelho por Transformada de Fourier (IV-TF) tanto do padrão, quanto da matéria-prima de L- carnitina. Os espectros obtidos estão apresentados nas figuras 12 e 13, onde foram sinalizadas as bandas características da molécula de L-carnitina (Figura 14). Figura 12. Espectro referente à análise de IV-TF do padrão de L-carnitinacom a demarcação das principais bandas (a -h). Figura 13.Espectro referente à análise de IV-TF da matéria-prima de L-carnitina com a demarcação das principais bandas (a - h). Pode-se observar que o perfil encontrado em ambos os espectros são semelhantes e a identidade molecular da matéria-prima é a mesma que a do padrão, e ambas estão coerentes com o encontrado na literatura (Tabela 08). 80 Figura 14. Principais bandas presentes no espectro IV-TF representadas na estrutura da L- Carnitina. Tabela 08. Principais bandas encontradas em espectro de IV-FT de L-carnitina (adaptado de KIEFER; MAZZOLINI; STODDART, 2007 e 姜波et al, 2013). IDENTIFICAÇÃO BANDA (cm-1) GRUPO CORRESPONDENTE a 3461 O - H b 1582 COOH c 1481 CH2 d 1394 COOH e 1147 C - COOH f 1097 C - N+ g 975, 944, 903 C – N – (CH3)3 h 875 CH2 Com a identificação e caracterização da L-carnitina presente no padrão e na matéria-prima que foi utilizada no desenvolvimento das formulações, as próximas etapas puderam ser realizadas sabendo da integridade da amostra na etapa inicial. Antes de iniciar o desenvolvimento das formulações, foi necessário desenvolver a metodologia de análise e realizar o processo de validação parcial do doseamento do ativo. g h a c b,d f e 81 6.2 Validação Parcial da Metodologia de Doseamento A quantificação da L-carnitina foi realizada por CLAE conforme descrito na monografia de “L-carnitina solução oral” da Farmacopeia dos Estados Unidos (USP,2017). E, de acordo com a RDC N°166, de 24 de Julho de 2017, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), os métodos analíticos compendiais devem ter sua adequabilidade comprovada por meio de validação parcial, que exige, no mínimo, os parâmetros de precisão, exatidão e seletividade. Além desses, foram avaliados também a especificidade, linearidade e faixa de trabalho, limite de detecção e limite de quantificação. 6.2.1 Determinação da faixa de trabalho A determinação da faixa de trabalho é estabelecida determinando-se a concentração do analito de interesse em diferentes níveis de concentração. A partir dos resultados obtidos, pode-se determinar a faixa de concentração na qual os resultados apresentam nível de incerteza para o método empregado. Conforme descrito na monografia para Solução Oral de L-carnitina (USP 40), a concentração teórica do teste de teor é de 2mg/mL e, o intervalo utilizado para a validação foi de 80% a 120% da concentração teórica, sendo então a faixa de trabalho de 1,6 mg/mL a 2,4mg/mL. A faixa de trabalho será confirmada a partir do estudo de linearidade. 6.2.2Seletividade Seletividade é a capacidade que o método possui de identificar ou quantificar o analito de interesse na presença de outros componentes. Para demonstrar a ausência de interferentes, as análises foram realizadas com espectro de varredura entre 190 e 800nm, com monitoramento no comprimento de onda de 225nm, definido na monografia. Foram realizadas análises do solvente utilizado (água ultrapurificada), da solução de L-carnitina a partir do padrão e da solução de L- carnitina a partir da matéria-prima, de uma solução contendo componentes da formulação a ser desenvolvida e de uma solução contendo apenas o veículo das formulações (solução em branco). 82 Foi realizada a análise do solvente utilizado (água ultrapurificada) para diluir as amostras do teste de doseamento e da fase móvel. A análise de ambos é importante para comprovar que o solvente e a fase móvel utilizados não interferem na resposta das análises, o que pode ser observado nos cromatograma abaixo (Figura 15 e 16) onde nenhum pico de absorção é observado no comprimento de onda de análise. Figura 15. Cromatograma do solvente (água ultrapurificada). Figura 16. Cromatograma da Fase móvel. Uma solução de L-carnitina padrão foi analisada na concentração de 2,0 mg/mL utilizando água ultrapurificada como solvente. O tempo de retenção encontrado foi de 2,938 minutos e não apresentou nenhum interferente em seu cromatograma (Figura 17): 83 Figura 17. Cromatograma da L-carnitina padrão a 2,0 mg/mL (a). O uso do detector de arranjo de diodo (DAD) permite mais uma forma de avaliar a pureza do pico cromatográfico. Foi obtido então, o espectro de varredura do pico cromatográfico correspondente à L-carnitina. Com essa avaliação pode-se dizer que não há outra substância absorvendo nos comprimentos de onda. No espectro (Figura 18), observa-se o mesmo perfil de espectros em todos os comprimentos de onda, indicando não haver interferente no pico obtido. Figura 18. Varredura de todos os comprimentos de onda do pico da L-carnitina padrão a 2,0 mg/mL. No preparo das soluções para análise de teor, foi adicionado o ácido p- aminobenzóico como padrão interno. As soluções de L-carnitina padrão e de L- carnitina matéria-prima foram analisadas com a adição do padrão interno e seus cromatogramas podem ser observados nas figuras 19 e 20. Figura 19. Cromatograma da solução com padrão de L-carnitina (a) e padrão interno (b). 84 Figura 20. Cromatograma de solução com matéria-prima de L-carnitina (a) e padrão interno (b). O tempo de retenção da L-carnitina na solução contendo padrão foi 2,926 minutos e o encontrado para o padrão interno foi 4,377 com resolução de 1,995. Já no cromatograma com a L-carnitina matéria-prima, o tempo de retenção encontrado foi de 2,927 minutos para a L-carnitina e 4,383 para o padrão interno, com resolução de 2,004. A resolução entre os picos nos dois cromatogramas foi maior que 1,5, mínimo aceitável especificado na monografia, indicando uma boa separação entre os analitos. Não foram observados interferentes na análise cromatográfica. Para avaliar o impacto dapresença dos excipientes usados no desenvolvimento da formulação, foi analisada uma solução contendo ácido cítrico a 40,0 µg/mL, padrão interno a 40,0 µg/mL, benzoato de sódio a 60,0 µg/mL e carboximetilcelulose a 30,0 µg/mL. Ao filtrar a solução final, o CMC ficou retiro na membrana e não é observado no cromatograma obtido, que pode ser visualizado na figura 21. Figura 21. Cromatograma dos excipientes usados no desenvolvimento da formulação (ácido cítrico (a) e benzoato de sódio (d)), em presença do padrão interno (b). 85 A solução analisada acima foi contaminada com L-carnitina para avaliação da interferência entre os componentes da formulação. O cromatograma obtido pode ser visualizado na figura 22. Figura 22. Cromatograma da L-carnitina (b) em presença do padrão interno (c) e excipientes usados no desenvolvimento da formulação: ácido cítrico(a) e benzoato de sódio (d). Observando os cromatogramas das figuras 21 e 22, pode-se observar que os picos da L-carnitina e do padrão interno não sofreram interferência com a presença dos excipientes adicionados. Os tempos de retenção encontrados também não apresentaram alteração e houve boa separação entre os componentes da formulação com valores de resolução maiores que 1,5 (R = 1,895, R = 1,992 e R = 4,803 respectivamente). Buscando avaliar a pureza do pico da L-carnitina foi obtido seu espectro de varredura (figura 23) e comparado com o espectro do padrão de L- carnitina apresentado na figura 18. Figura 23. Comparação entre o espectro de varredura do pico cromatográfico correspondente à L- carnitina na solução padrão(d) e na solução com os excipientes (e). Com os resultados obtidos, pode-se afirmar que o método detectou o analito de interesse na presença de outros componentes que podem estar presente nas amostras, apresentando então especificidade e seletividade. 86 6.2.3 Linearidade Foram feitas injeções em triplicata de soluções de L-carnitina de concentrações: 1,6, 1,8, 2,0, 2,2, 2,4 e 2,6 mg/mL. A partir do resultado foi construída curva padrão linear e obtida a equação da reta de regressão de y em x (y = ax + b), estimada pelo método dos mínimos quadrados. A criação da curva de calibração é importante para avaliar a associação linear entre as variáveis apresentadas. Para isso, alguns coeficientes foram obtidos a partir da curva de calibração: o coeficiente angular (a), o coeficiente linear (b), o coeficiente de determinação (r²) e o coeficiente de correlação (r). Conforme preconizado na RDC N° 166, de 24 de julho de 2017, o valor de r para uma correlação linear adequada deve ser maior que 0,99. As injeções foram repetidas em três dias diferentes, a partir de soluções diferentes para cada dia, e então, foram obtidas três curvas que podem ser visualizadas nas figuras 24, 25 e 26. O resumo dos resultados obtidos estão descritos na tabela 09. Tabela 09. Parâmetros aplicados no teste de linearidade PARÂMETRO DIA 01 DIA 02 DIA 03 MÉDIA DP Coeficiente Angular (a) 228078 233595 229904 230526 2811 Coeficiente Linear (b) -31949 -46294 -6030,1 -28091 20407 Coeficiente de correlação (r) 0,9998 0,9996 0,9997 0,9997 0,0001 Coeficiente de determinação (R²) 0,9995 0,9995 0,9996 0,9995 0,0001 Legenda: DP – Desvio padrão. 87 Figura 24. Curva padrão da L-carnitina a partir da média de valores encontradas no primeiro dia de análise. Figura 25. Curva padrão da L-carnitina a partir da média de valores encontradas no segundo dia de análise. Figura 26. Curva padrão da L-carnitina a partir da média de valores encontradas no terceiro dia de análise. 88 A partir dos resultados obtidos, pode-se calcular o limite de detecção e o limite de quantificação. Esses dados são importantes para definição da faixa de trabalho. O limite de detecção (LD) demonstra a menor quantidade do analito que pode ser detectada pelo método proposto, mas não necessariamente ser quantificada. Por isso é calculado também o limite de quantificação (LQ), que informa qual é a menor quantidade do analito que pode ser quantificada pelo método, com precisão e exatidão aceitáveis. Os valores usados para o calculo e os resultados obtidos foram apresentados na tabela 10. Tabela 10. Valores obtidos para LD e LQ. PARÂMETRO MÉDIA DOS VALORES Desvio padrão dos valores de “b”(intercepto com o eixo Y) 20407 Inclinação da curva de calibração (IC) (média dos valores encontrados para “a”) 230526 Limite de Detecção 0,29 mg/mL Limite de Quantificação 0,88 mg/mL Desse modo, a faixa de trabalho proposta no item “6.2.1. Faixa de trabalho” foi adequada por estar acima do limite de detecção e de quantificação, e o método apresenta linearidade demonstrando sua capacidade de obter resposta analítica diretamente proporcional à concentração do analito. 6.2.4 Precisão A precisão do método analítico expressa a proximidade entre os resultados obtidos na metodologia pretendida e pode ser considerada no nível de repetibilidade, de precisão intermediária ou de reprodutibilidade. A repetibilidade avalia as amostras sob as mesmas condições de operação, mesmo analista, mesmas condições ambientais, em uma única corrida analítica (BRASIL, 2017a). Foram então preparadas seis amostras de L-carnitina 20%, que foram diluídas até a concentração 2,0 mg/mL e realizadas seis injeções em mesma corrida analítica. Esse processo foi repetido no dia seguinte onde seis injeções foram realizadas em uma mesma corrida, sob as mesmas condições ambientais e instrumentais, e com o mesmo analista. Foi calculado o desvio padrão relativo dos resultados obtidos, que expressam a capacidade de repetibilidade do método. 89 Já a precisão intermediária, busca avaliar a resposta das injeções em função das variações existentes de um mesmo laboratório em dias diferentes, da análise realizada por analistas diferentes. Para sua avaliação, as amostras de L-carnitina a 2,0 mg/mL foram analisadas em um terceiro dia e realizadas por um outro analista. A precisão pode ser demonstrada pela dispersão dos resultados, calculando-se o desvio padrão relativo (DPR) da série de medições. Os resultados podem ser observados na tabela 11. A reprodutibilidade é aplicável apenas em estudos de validação de métodos analíticos com a finalidade de incluí-los em compêndios oficias, não sendo aplicável sua realização nesse estudo de validação. Tabela 11. Resultado encontrado para o teste de precisão. Dia Teor de L-carnitina (%) Média Intra-dia DPR Intra-dia 1 97,23 97,06 97,07 93,90 95,20 93,20 95,61 1,8572 2 96,84 97,84 98,83 98,38 99,34 98,95 98,36 0,9213 3 97,34 97,52 97,15 95,56 96,65 97,89 97,02 0,8493 Teor médio Inter-dias (%) 96,99% DPR Inter-dias (%) 0,6335 Legenda: DP = Desvio Padrão; DPR = Desvio Padrão Relativo; A legislação vigente, RDC N°166/17, e o Guia de Harmonização Internacional (ICH Q2/05), não indicam um limite de aceitação de valor de DPR para determinação da precisão, mas segundo Wood (1999), o método pode ser considerado preciso quando apresentar variação dentro do aceitável para a concentração do analito, conforme apresentado no quadro 01. Quadro 01. Níveis de variações aceitáveis de DPR para precisão CONCENTRAÇÃO DO ANALITO (%) COEFICIENTE DE VARIAÇÃO (%) 1 2 10-1 2,8 10-2 4 10-3 5,6 90 As amostras analisadas apresentavam concentração equivalente a 2,0 x 10- 1g/100mL. Dessa forma, a partir dos resultados apresentados no teste de precisão, com valores menores que 2,8%, pode-se considerar que o método é preciso (WOOD, 1999). 6.2.5 Exatidão A determinação da exatidão do método analítico foi obtida a partir da análise de soluções com três diferentes concentrações contemplando o intervalo linear do método analítico. As concentrações deveriam contemplar a faixa linear baixa, média e alta e foram realizadas em triplicata. Foram usados os valoresde 80% (baixa), 100% (média) e 120% (alta concentração) da faixa de trabalho, equivalente a 1,6 mg/mL, 2,0 mg/mL e 2,4mg/mL (BRASIL, 2017b). As amostras foram preparadas de maneira independente, a partir uma mesma solução mãe. O teor das amostras foi calculado, assim como o valor de DPR para cada nível trabalhado (baixo, médio e alto). Os valores podem ser observados na tabela 12. Tabela 12. Resultados obtidos para o teste de exatidão Nível Concentração média Teórica (mg/mL) Conc. média Experimental (mg/mL) (%) Média (%) DP DPR (%) 80% (1,6 mg/mL) 1,6176 1,6072 99,36 99,77 1,08 1,08 1,6272 1,6101 98,95 1,6088 1,6247 100,99 100% (2,0 mg/mL) 2,0220 2,0129 99,55 99,96 0,81 0,81 2,0340 2,0226 99,44 2,0110 2,0289 100,89 120% (2,4 mg/mL) 2,4264 2,4179 99,65 99,32 0,29 0,29 2,4408 2,4205 99,17 2,4132 2,3924 99,14 A exatidão do método analítico busca refletir a proximidade entre o valor verdadeiro ou de referência (obtido a partir de um padrão de pureza conhecida) e o 91 valor medido ou experimental (resultado da análise do método em processo de validação), mostrando sua capacidade de obter o resultado mais próximo ao verdadeiro. Observando os resultados obtidos, os valores médios de teor encontram-se dentro da faixa de 98,0 a 102,0%, com baixo desvio padrão entre eles, pequena amplitude e DPR menor do que 5,0%. Dessa maneira, considerou-se que o método analítico apresenta exatidão adequada. Com todos os parâmetros avaliados, pode-se concluir que o método analítico apresenta desempenho adequado para as condições que foi aplicado, fornecendo resultados confiáveis e não distorcidos, e atendendo às normas estabelecidas por agências reguladoras. O método analítico em questão encontra-se validado e apto para ser utilizado nas análises físico-químicas a seguir. 6.3 Desenvolvimento das formulações Para desenvolvimento da formulação foi proposta a utilização do ativo, conservante, agente de viscosidade e acidulante. Inicialmente selecionou-se o metilparabeno como um dos conservantes a ser usado nas formulações testes. Ele é o conservante com melhor aceitação no mercado farmacêutico e apresenta largo espectro de ação, sendo eficiente contra bactérias gram positivas, bactérias gram negativas, fungos e leveduras. É insípido, incolor, inodoro e é estável em uma ampla faixa de pH, mas apresenta solubilidade relativa em meios aquosos necessitando de aquecimento para sua solubilização em água. De acordo com SILVA et al., 2008, numerosos casos de reações adversas foram associados à sua utilização e é considerado um excipiente de risco quando utilizado em soluções orais. Ele será testado e sua resposta será avaliada e comparada com a resposta dos outros agentes conservantes. Dependendo de sua relação risco/benefício ele poderá ser descartado (BALBANI; STELZER; MONTOVANI, 2006; DA SILVA et al., 2008; FERREIRA; SOUZA, 2011a; SONI et al., 2001). Outro agente conservante selecionado foi o benzoato de sódio, que apresenta eficiente ação contra bolores, leveduras e bactérias gram positivas. Além disso, apresenta boa solubilidade em água à temperatura ambiente (25°C), eliminando a necessidade de aquecimento da formulação. Porém, sua efetividade é 92 potencializada em meio ácido, na faixa de pH de 2 a 5. Embora seja considerado seguro quando usado em concentrações inferiores a 0,6%, também é apontado como excipiente relacionado a reações adversas (VILAPLANA & ROMAGUERA, 2004). O ácido sórbico e sorbato de potássio também são considerados potentes inibidores de bolores e leveduras, mas possuem pouca ou nenhuma efetividade na inibição de bactérias, importante microrganismo a ser inibido na formulação. O ácido sórbico apresenta baixa solubilidade em meios aquosos enquanto que o sorbato de potássio possui boa solubilidade em água. Quando administrados em longo prazo, podem ocasionar reações alérgicas e sintomas como coceira, congestão nasal, dor abdominal, diarreia, problemas gástricos, enxaqueca e vômito. Além disso, podem causar deficiência nutricional e redução de absorção de vitaminas, minerais e nutrientes, o que pode ser problemático para o público alvo.Com o perfil de pacientes com patologias associadas à EIM e necessitando de multidoses diárias, a formulação será de uso contínuo e esses fatores podem ser agravados. Dessa forma, por não apresentar ação bactericida, o sorbato de potássio não foi testado (NUNN; WILLIAMS, 2005; SENA et al., 2014; SWEETMAN, 2009). A influência do pH também é um fator determinante para a estabilidade da formulação. O ativo L-carnitina apresenta estabilidade em solução na faixa de pH 4 a 6 e os agentes conservantes escolhidos necessitam de pH acidificado para terem sua ação potencializada e efetiva. Dessa forma, o ajuste de pH da formulação será realizado pela adição de ácido cítrico e deve ser estabilizado em pH 5,0. O ácido cítrico foi escolhido por apresentar atividade antimicrobiana devido à sua acidificação do meio e por sua propriedade em quelar íons metálicos, o que diminui o crescimento bacteriano. Apesar de apresentar baixa eficiência contra bolores e leveduras, seu uso associado a outro sistema conservante é indicado, pois o poder antimicrobiano é mais efetivo e ele potencializa a ação dos outros agentes conservantes (MAX et al., 2010). Muitos pacientes portadores de EIM apresentam dificuldades de deglutição, principalmente quando as soluções possuem baixa viscosidade. Além disso, muitos pacientes possuem sondas de gastrostomia, sendo necessária a administração do medicamento pela sonda. O aumento da viscosidade da formulação ajuda na 93 administração da solução nestes dois casos. Além disso, quando a solução é ingerida, apenas uma parte do fármaco dissolvido na formulação entra em contato com as papilas gustativas do paciente, enquanto que o restante é carreado pela solução viscosa, mascarando o sabor da formulação. Dessa forma, com a finalidade de proporcionar um leve aumento da viscosidade da formulação, foi utilizado um agente promotor de viscosidade (BILLANY, 2005). A sacarose, amplamente utilizada no mercado farmacêutico, tem baixo custo, não deixa gosto residual e, além de fornecer sabor adocicado e viscosidade a medicamentos líquidos, também pode agir como conservante e antioxidante, porém não pode ser utilizada para o público alvo que apresenta restrições ao seu consumo (BALBANI; STELZER; MONTOVANI, 2006). Outra opção comumente utilizada é a goma xantana, mas sua utilização não é recomendada em formulações voltadas para crianças menores de um ano de idade, especialmente para crianças prematuras. McCallum (2011) e Woods et.al (2019), acreditam que a goma xantana, quando utilizada a longo prazo em crianças prematuras, pode alterar a microbiota no intestino ainda prematuro dos bebês. Alguns relatos apontam casos fatais como a enterocolitenecrosante. Portanto, por precaução, não é recomendado o uso da goma para esse público e ela não foi testada(MCCALLUM, 2011; WOODS, 2019). A Hidroxietilcelulose e a carboximetilcelulose são agentes de viscosidade que não são convertidos em glicose após sua ingestão, tornando-se bons candidatos ao uso. Normalmente utilizada em soluções tópicas ou oftálmicas, estudos apontam a utilização de hidroxietilcelulose para formulações de uso oral. Ela apresenta boa estabilidade em diferentes faixas de pH, no entanto, as soluções com pH abaixo de 5 são menos estáveis podendo intensificar reações de hidrólise. Além disso, necessita de longo tempo para sua dispersão completa (em média ao menos uma hora com aquecimento)(ROWE; SHESKEY; QUINN, 2009).Optou-se então pela Carboximetilcelulose (CMC), um derivado hidrossolúvel de celulose, amplamente utilizado em formulações orais, que apresenta boa estabilidade na faixa de pH entre 4 e 10. A faixa de concentração normalmente utilizada é de0,50 a 2,0% (p/v), mas usando a concentração de 0,3% (p/v) obteve-se o resultado esperado e, por estar com concentração abaixo da usual, o aparecimento de reações indesejáveis aos pacientes pode ser reduzido (ROWE; SHESKEY; QUINN, 2009). 94 Para determinação da concentração de L-carnitina a ser utilizada no desenvolvimento da formulação, levou-se em consideração o fato da formulação ser de uso contínuo, ter a dose calculada a partir do peso corporal do paciente e que constantemente sofre ajustes, a concentração do ativo foi definida para ser flexível e atender às diferentes dosagens apresentadas pelos pacientes. Com o objetivo de fornecer uma concentração que atenda à maioria das prescrições recebidas na FU foram desenvolvidas formulações de L-carnitina a 10% (p/v) e 20% (p/v), podendo atender pacientes pediátricos, que necessitam de volumes menores, e pacientes adultos, que necessitam de grandes volumes. As soluções iniciais desenvolvidas para caracterização foram realizadas com a concentração de 10% (p/v) e estão apresentadas na tabela 13: Tabela 13. Composição das formulações testes a 10% (p/v) COMPONENTES FORMULAÇÃO 1 FORMULAÇÃO 2 FORMULAÇÃO 3 FORMULAÇÃO 4 L-carnitina 10% 10% 10% 10% Benzoato de sódio 0,3% 0,4% - 0,3% Metilparabeno - - 0,1% - Ácido Cítrico q.s. pH 5,5 q.s. pH 5,5 q.s. pH 5,5 0,9% pH 5,5 5,5 5,5 5,0 Carboximetilcelulose 0,3% 0,3% 0,3% 0,3% Água destilada q.s.p. q.s.p. q.s.p. q.s.p. Legenda.q.s.= “Quantidade suficiente”; Q.s.p. = “Quantidade suficiente para”. Todas as formulações foram analisadas inicialmente quanto às suas características físicas. Analisou-se o aspecto visual, odor e pH das formulações e buscou-se avaliar a existência de alguma incompatibilidade farmacotécnica após a manipulação das formulações. O resultado dessas análises pode ser visualizado na tabela 14. Tabela 14. Resultado da análise FIQ inicial das formulações a 10% (p/v) Análise Aspecto Odor pH Formulação 1 Límpidas, incolores, sem a presença de partículas e sem grumos. Aroma quase imperceptível, agradável. 5,60 Formulação 2 5,61 Formulação 3 5,74 Formulação 4 5,03 95 6.5 Estabilidade prévia das formulações iniciais Após a análise inicial, observou-se que todas as formulações apresentavam boa compatibilidade farmacotécnica e foram encaminhadas para estudo de estabilidade prévio. As formulações foram armazenadas em estufa com temperatura controlada a 40°C. Foram encaminhadas amostras para análise físico-química (FIQ) (exceto a análise de teor) e microbiológica (MIC) após 15, 30 e 45 dias de exposição. O resultado físico-químico pode ser observado na tabela 15 e o resultado microbiológico, na tabela 16. Tabela 15. Resultado das análises FIQ da estabilidade prévia das formulações a 10% (p/v) Formulação 1 Teste 15 dias 30 dias 45 dias Carnitina 10% Aspecto Límpido e incolor Límpido e incolor Límpido e incolor Benzoato 0,3% Odor Característico Característico Característico pH 5,5 pH 5,69 ± 0,07 5,74 ± 0,14 5,87± 0,11 Formulação 2 Teste 15 dias 30 dias 45 dias Carnitina 10% Aspecto Límpido e incolor Límpido e incolor Límpido e incolor Benzoato 0,4% Odor Característico Característico Característico pH 5,5 pH 5,65± 0,13 5,69 ± 0,15 5,77± 0,09 Formulação 3 Teste 15 dias 30 dias 45 dias Carnitina 10% Aspecto Límpido e incolor Límpido e incolor Límpido e incolor Metilparabeno 0,1% Odor Característico Característico Característico pH 5,5 pH 5,77± 0,11 5,77 ± 0,19 5,82 ± 0,15 Formulação 4 Teste 15 dias 30 dias 45 dias Carnitina 10% Aspecto Límpido e incolor Límpido e incolor Límpido e incolor Benzoato 0,3% Odor Característico Característico Característico pH 5,0 pH 5,01± 0,15 5,08± 0,18 5,07± 0,06 96 Tabela 16. Resultado das análises MIC do estudo de estabilidade prévio das formulações a 10% (p/v) Análise 15 dias 30 dias 45 dias Formulação 1 Sem crescimento* Fora de especificação Fora de especificação Formulação 2 Sem crescimento Fora de especificação Fora de especificação Formulação 3 Sem crescimento Sem crescimento Fora de especificação Formulação 4 Sem crescimento Sem crescimento Sem crescimento *Crescimento de bactérias de 6UFC/mL. Máximo permitido 10 UFC/mL. Conforme observado na tabela 15, todas as formulações apresentaram boa estabilidade físico-química, sem alteração significativa de suas características organolépticas e com pequenas variações de valores de pH não estatisticamente significantes (p>0,05). Quanto a estabilidade microbiológica, apenas a Formulação 4 não apresentou crescimento bacteriano durante os 45 dias quando mantida sob alta temperatura. Essa formulação é a única que apresentou pH final 5,0. Para esse ajuste, foi necessário adicionar à formulação quantidade de ácido cítrico equivalente à 0,9 % (p/v) da formulação. Como o ácido cítrico também tem poder antimicrobiano e acidifica o meio, potencializando o efeito do benzoato de sódio, tornou o sistema conservante da formulação eficiente (ANSEL; POPOVICH; ALLEN JUNIOR,2016). A segunda formulação mais estável foi a Formulação 3, que apresentou estabilidade por 30 dias. Essa formulação apresentou pH final de 5,74, mas diferentemente das outras formulações, o agente conservante utilizado foi o metilparabeno, que apresenta amplo espectro de atividade e é ativo contra fungos e bactérias. A desvantagem do seu uso é sua baixa solubilidade em veículos aquosos, o que implica na necessidade de aquecimento da formulação a fim de promover sua solubilização. Além disso, é necessário aguardar o resfriamento da formulação para prosseguir com a incorporação dos outros componentes. Além do tempo gasto nessa etapa, o metilparabeno está fortemente relacionado a efeitos indesejáveis após sua administração e apresentam sabor desagradável (PESSANHA et al., 2012; SENA et al., 2014). E, em se tratar de formulação farmacêutica voltada, principalmente, para crianças e neonatos, o potencial para toxicidade é maior. Levando em consideração que a Formulação 4 apresentou melhor estabilidade durante os 45 dias de exposição a altas temperaturas, ela será encaminhada para 97 estudo de estabilidade completo. Apesar do benzoato de sódio também estar relacionado a efeitos indesejáveis como aparecimento de erupções cutâneas, dermatites de contato e outros, sua utilização pode ser considerada positiva já que o benzoato induz a excreção de produtos nitrogenados em pacientes com determinadas patologias associadas à EIM e é amplamente usando nesse perfil de pacientes (JARDIM; ASHTON-PROLLA, 1996). Além da formulação a 10%, a formulação de concentração a 20% também é importante para atender pacientes que utilizam um volume maior diariamente. Dessa forma, foi realizado um segundo estudo de estabilidade prévio com soluções de L- carnitina com concentração de 20% (p/v). A composição das formulações pode ser observada na tabela 17. Tabela 17. Composição das formulações testes a 20% (p/v) COMPONENTES FORMULAÇÃO 5 FORMULAÇÃO 6 FORMULAÇÃO 7 FORMULAÇÃO 8 L-carnitina 20% 20% 20% 20% Benzoato de sódio 0,4% 0,3% - 0,2% Metilparabeno - - - 0,1% Ácido Cítrico q.s. 1,8% 1,8% q.s. pH 5,5 5,0 5,0 5,5 Carboximetilcelulose 0,3% 0,3% 0,3% 0,3% Água destilada q.s.p. q.s.p. q.s.p. q.s.p. Legenda. q.s.= “Quantidade suficiente” para pH 5,5; Q.s.p. = “Quantidade suficiente para”. Após a manipulação, todas as soluções foram analisadas quanto às suas características físico-químicas. Avaliou-se o aspecto das formulações, odor e pH, e buscou-se observar incompatibilidade farmacotécnica. O resultado dessas análises pode ser visualizado na tabela 18. Tabela 18. Resultado FIQ inicial do estudo de estabilidade prévio das formulações a 20% (p/v) Análise Aspecto Odor pH Formulação 5 Límpidas, incolores, sem a presença de partículas e sem grumos. Aroma quase imperceptível, agradável. 5,55Formulação 6 5,02 Formulação 7 5,01 Formulação 8 5,53 98 Após a análise inicial, observou-se que todas as formulações apresentavam boa compatibilidade farmacotécnica e foram encaminhadas para estudo de estabilidade prévio, realizado sob as mesmas condições que o estudo anterior para as soluções com 10% (p/v), onde as formulações foram armazenadas em estufa com temperatura controlada a 40°C. Foram encaminhadas amostras para análise físico-química (FIQ) (exceto a análise de teor) e microbiológica (MIC) após 15, 30 e 45 dias de exposição. O resultado físico-químico pode ser observado na tabela 19 e o resultado microbiológico, na tabela 20. Tabela 19. Resultado FIQ do Estudo de Estabilidade Prévio das formulações a 20% (p/v) Formulação 5 Teste 15 dias 30 dias 45 dias Carnitina 20% Aspecto Límpido e incolor Límpido e incolor Límpido e incolor Benzoato 0,4% Odor Característico Característico Característico pH 5,5 pH 5,57 ± 0,15 5, 61± 0,04 5,60 ± 0,13 Formulação 6 Teste 15 dias 30 dias 45 dias Carnitina 20% Aspecto Límpido e incolor Límpido e incolor Límpido e incolor Benzoato 0,3% Odor Característico Característico Característico pH 5,0 pH 5,01± 0,07 5,03 ± 0,09 5,01± 0,16 Formulação 7 Teste 15 dias 30 dias 45 dias Carnitina 20% Aspecto Límpido e incolor Límpido e incolor Límpido e incolor Ácido cítrico 2% Odor Característico Característico Característico pH 5,0 pH 5,02± 0,17 5,00 ± 0,11 5,01 ± 0,08 Formulação 8 Teste 15 dias 30 dias 45 dias Carnitina 20% Aspecto Límpido e incolor Límpido e incolor Límpido e incolor Benzoato 0,2% Metilparabeno 0,1% Odor Característico Característico Característico pH 5,5 pH 5,55± 0,15 5,59± 0,12 5,62± 0,06 99 Tabela 20. Resultado das análises MIC do estudo de estabilidade prévio das formulações a 20% (p/v) Análise 15 dias 30 dias 45 dias Formulação 5 Sem crescimento Fora de especificação Fora de especificação Formulação 6 Sem crescimento Sem crescimento Sem crescimento Formulação 7 Sem crescimento Sem crescimento Sem crescimento Formulação 8 Sem crescimento Sem crescimento Fora de especificação Especificação: Máximo permitido 10 UFC/mL. A análise físico-química das formulações com concentração a 20% (p/v) apresentou boa estabilidade, assim como observado nas formulações com concentração de 10% (p/v). Todas as formulações apresentaram boa estabilidade físico-química, sem alteração de suas características organolépticas e com pequenas variações de valores de pH não estatisticamente significantes (p>0,05). A Formulação 8 apresentou em sua composição a associação do benzoato de sódio com o metilparabeno em concentrações menores, buscando potencializar o poder antimicrobiano com o sinergismo dos dois conservantes. Porém, a conservação microbiana foi mantida apenas por 30 dias, repetindo o resultado encontrado quando o metilparabeno foi utilizado isoladamente. Isso pode ter acontecido pelo fato do benzoato de sódio possuir maior ação em faixas mais ácidas e, nesse caso, como o pH da formulação foi mantido em 5,5, seu uso não fez diferença no poder conservante da formulação. Já as formulações com valores de pH mais baixos apresentaram boa estabilidade microbiológica durante os 45 dias de estudo, confirmando a importância do ajuste do pH final para 5,0. A Formulação 7, inclusive, só contou com o ácido cítrico como conservante e conseguiu preservar a formulação de forma eficiente. Para estudo de estabilidade completo, foram encaminhadas as formulações 6 e 7 que apresentaram boa estabilidade físico-química e microbiológica. O estudo completo contou com a retirada diária de alíquotas, mimetizando as condições de uso em formulações multidoses onde há a abertura subsequente da formulação. A Formulação 7 apresenta em sua composição apenas ácido cítrico como agente conservante e, desta forma, apresentando pouca atividade contra bolores e 100 leveduras. O estudo mimetizando as condições de uso pode evidenciar a limitação dos conservantes testados. 6.6 Estudo de estabilidade completo em uso As formulações desenvolvidas visam, principalmente, o atendimento à demanda dos pacientes da FU que apresentam alguma patologia associada à EIM. Esse perfil de paciente é formado por diferentes faixas etárias e, dessa forma, por diferentes massas corpóreas. A dose de carnitina é definida por quilograma de peso do paciente e, nesse caso, existe uma enorme diferença nos volumes a serem dispensados, podendo variar de 60 mL a 3 litros. As embalagens disponíveis para esses volumes tão discrepantes são frascos de vidro (volume de 60 mL até 200 mL) e de plástico PET (volume de 200mL até 1L).Um fator importante para garantia da estabilidade do produto final é a determinação do material de embalagem primária a ser utilizado, uma vez que os componentes da embalagem podem interagir com o produto farmacêutico, promovendo uma possível instabilidade. Além disso, a embalagem adequada garante ao paciente que o medicamento permaneça completamente protegido contra reações externas adversas, sendo uma barreira entre os meios internos e externos ao medicamento (ROCHA et al., 2014). Durante o desenvolvimento de um produto é necessário conduzir estudo de estabilidade na embalagem proposta para comercialização. Nesse caso, o estudo de estabilidade foi realizado nos dois tipos de embalagem disponíveis. Com base no estudo de estabilidade prévio realizado nas formulações iniciais, o estudo de estabilidade completo foi realizado com as formulações6 e 7. Foi incluída no estudo, formulação controle sem a presença de agente conservante, contando apenas com L-carnitina a 20% (p/v), CMC 0,3% e água destilada. O resumo do estudo pode ser observado na tabela 21. 101 Tabela 21. Resumo do estudo de estabilidade completo em uso Formulação Embalagem Temperatura Análise Tempo de análise Formulação 6 Formulação 7 Controle*¹ PET (200mL) Vidro âmbar (200mL) 5°C 25°C 40°C Físico-Química Microbiológica 0 dias *² 15 dias 30 dias 45 dias Obs.: *¹ Formulação sem a presença de ativo; *²Análise realizada após a manipulação. As formulações 6 e 7 apresentaram-se límpidas, transparentes, incolores, sem a presença de partículas ou precipitações durante todo o estudo de estabilidade. A Formulação Controle exposta em estufa apresentou alteração quanto à coloração e ao odor após 30 dias de armazenamento, tornando-se amarelada e com odor mais forte e característico. As soluções controle expostas em geladeira e temperatura ambiente não apresentaram alteração nas características organolépticas. O resultado encontrado nas análises de pH podem ser observados no quadro 02. 102 Quadro 02. Resultado das análises de pH no estudo de estabilidade completo das formulações a 20% (p/v) Embalagem Composição Condição Análise inicial 15 dias 30 dias 45 dias p (dias) p (Temperatura) Vidro Formulação 6 Benzoato 0,4% Ácido cítrico 2% 5°C 25°C 40°C 5,01 ± 0,05 5,01 ± 0,01 5,02 ± 0,01 5,02 ± 0,01 5,02 ± 0,01 5,03 ± 0,02 5,02 ± 0,01 5,01 ± 0,02 5,02 ± 0,04 5,02 ± 0,04 0,06 0,27 Formulação 7 Ácido Cítrico 2% 5°C 25°C 40°C 5,01 ± 0,03 5,00 ± 0,01 5,01 ± 0,01 5,01 ± 0,01 5,01 ± 0,01 5,02 ± 0,01 5,01 ± 0,02 5,01 ± 0,05 5,02 ± 0,02 5,02 ± 0,05 0,16 0,17 Controle Sem conservante 5°C 25°C 40°C 5,91 ± 0,04 6,00 ± 0,01 6,07 ± 0,02 6,11 ± 0,02 5,92 ± 0,02 6,14 ± 0,04 6,23 ± 0,05 6,03 ± 0,06 6,31 ± 0,04 6,58 ± 0,06 0,09 0,25 Embalagem Composição Condição Análise inicial 15 dias 30 dias 45 dias p (dias) p (Temperatura) PET Formulação 6 Benzoato 0,4% Ácido cítrico 2% 5°C 25°C 40°C 5,01 ± 0,05 5,01 ± 0,01 5,03 ± 0,01 5,02 ± 0,02 5,01 ± 0,02 5,02 ± 0,03 5,04 ± 0,02 5,00 ± 0,03 5,03 ± 0,04 5,03 ± 0,07 0,63 0,06 Formulação 7 Ácido Cítrico 2% 5°C 25°C 40°C 5,01± 0,03 5,00 ± 0,02 5,01 ± 0,02 5,01 ± 0,02 5,00 ± 0,01 5,02 ± 0,03 5,02 ± 0,05 5,00 ± 0,07 5,04 ± 0,03 5,05 ± 0,05 0,29 0,14 Controle Sem conservante 5°C 25°C 40°C 5,91 ± 0,04 6,00 ± 0,04 6,07 ± 0,03 6,11 ± 0,04 6,01 ± 0,02 6,18 ± 0,04 6,44 ± 0,03 6,15 ± 0,01 6,15 ± 0,05 6,76 ± 0,02 0,13 0,23 Leg: o valor de “p (dias)” é a avaliação estatística entre os tempos analisados para cada formulação, o valor de p para temperatura avalia as diferenças significativas entre os resultados encontrados para cada temperatura condicionada. (n = 3). 103 Inicialmente, foi realizada avaliação estatística comparando os resultados de pH da formulação 6 em função do tempo, avaliando os resultados encontrados nos dias 15, 30 e 45 dias (independente da temperatura de acondicionamento) onde p > 0,05 e, portanto, as alterações observadas ao longo desse período não foram consideradas significativas. O mesmo foi realizado para a formulação 7 (p = 0,16) e para a formulação controle (p = 0,09). Dessa forma, o valor de pH não foi alterado para nenhuma das formulações (6, 7 e controle) ao longo dos 45 dias de estudo de estabilidade. Ao mesmo tempo, foi avaliado em cada formulação a influência da temperatura sobre os resultados obtidos para o pH. Dessa forma, todos os valores de pH da Formulação 6 exposta a 5°C foram comparadas com as de 25°C e 40°C e não houve alteração significativa entre elas. Dessa forma, para a Formulação 6 os valores de pH não são influenciados pela temperatura exposta. O mesmo foi observado para a Formulação 7 e Formulação Controle. As análises descritas acima foram realizadas para avaliar as alterações do tempo e da temperatura de armazenamento da formulação para cada embalagem de armazenamento avaliada. A tabela 22 une os valores de pH encontrados tanto na embalagem de vidro quanto no frasco PET para verificar se há uma variação significativa entre os materiais de embalagem comparados. Ao avaliar todos os resultados obtidos (Vidro e PET) ao longo do 15, 30 e 45 dias foi obtido p = 0,09, não sendo considerada então variação significativa ao longo do tempo mesmo em embalagens diferentes. Para avaliação da influência da temperatura nas formulações mantidas nas diferentes embalagens, foi feita uma avaliação estatística entre os valores de pH sob as diferentes temperaturas de exposição. Foi encontrado p = 0,06 e dessa forma não há alteração significativa para os valores de pH encontrados quando há alteração de temperatura de exposição das formulações, independente do material de embalagem utilizado. 104 Tabela 22. Análise estatística dos valores de pH avaliando cada formulação nas diferentes embalagens Não se observou diferença significativa nos valores de pH nas Formulações 6 e 7 para nenhuma das avaliações de tempo de armazenamento, temperatura de armazenamento e tipo de material de embalagem. Não houve alteração significativa após os 45 dias de exposição, entre as temperaturas e entre as embalagens testadas. Mas observou-se diferença significativa na solução controle quando avaliada em relação ao tempo com p < 0,05, indicando uma alteração de pH significativa ao longo dos 45 dias. O resultado encontrado no teste de teor pode ser observado no quadro 03. Todas as análises foram feitas em triplicatas (n = 3) Formulação Embalagem Condição 0 15 30 45 Análise P (dias) Análise P (Temp.) Formulação 6 VD 5°C 5,01 5,01 5,02 5,01 0,09 0,06 25°C 5,01 5,02 5,03 5,02 40°C 5,01 5,02 5,02 5,02 PET 5°C 5,01 5,01 5,01 5,00 25°C 5,01 5,03 5,02 5,03 40°C 5,01 5,02 5,04 5,03 Formulação 7 VD 5°C 5,01 5,00 5,01 5,01 0,06 0,12 25°C 5,01 5,01 5,02 5,02 40°C 5,01 5,01 5,01 5,02 PET 5°C 5,01 5,00 5,00 5,00 25°C 5,01 5,01 5,02 5,04 40°C 5,01 5,01 5,02 5,05 Controle VD 5°C 5,91 6,00 5,92 6,03 0,003 0,28 25°C 5,91 6,07 6,14 6,31 40°C 5,91 6,11 6,23 6,58 PET 5°C 5,91 6,00 6,01 6,15 25°C 5,91 6,07 6,18 6,15 40°C 5,91 6,11 6,44 6,76 105 Quadro 03. Resultado das análises de teor no estudo de estabilidade completo das formulações a 20% (p/v) Embalagem Composição Condição Análise inicial 15 dias 30 dias 45 dias Análise P (dias) Análise P (Temp.) Vidro Formulação 6 Benzoato 0,4% Ácido cítrico 2% 5°C 25°C 40°C 99,12% 99,32% 99,01% 98,75% 99,00% 99,89% 98,42% 99,96% 101,51% 99,77% 0,16 0,27 Formulação 7 Ácido Cítrico 2% 5°C 25°C 40°C 97,61% 96,82% 96,56% 97,82% 98,48% 96,63% 95,94% 97,28% 97,70% 96,67% 0,94 0,44 Controle Sem conservante 5°C 25°C 40°C 98,01% 98,48% 96,92% 98,58% 97,98% 98,42% 99,00% 99,31% 98,64% 98,57% 0,47 0,44 Embalagem Composição Condição Análise inicial 15 dias 30 dias 45 dias Análise P (dias) Análise P (Temp.) PET Formulação 6 Benzoato 0,4% Ácido cítrico 2% 5°C 25°C 40°C 99,12% 100,52% 98,77% 101,02% 101,16% 101,18% 99,37% 99,72% 99,36% 100,99% 0,68 0,72 Formulação 7 Ácido Cítrico 2% 5°C 25°C 40°C 97,61% 98,30% 97,72% 96,96% 99,81% 98,55% 99,71% 99,49% 97,92% 98,45% 0,10 0,64 Controle Sem conservante 5°C 25°C 40°C 98,01% 97,93% 98,34% 98,97% 96,16% 97,88% 98,44% 98,64% 98,67% 98,01% 0,46 0,40 106 Para verificar se houve alteração significativa dos resultados de teor, foram utilizadas as mesmas análises estatísticas aplicadas na avaliação do pH. Avaliou-se a existência de variação significativa ao longo do tempo de exposição (avaliação estatística entre os resultados expostos em colunas) e encontrou-se valor de p maior que 0,05 (p = 0,49), não havendo alteração significativa entre os resultados encontrados ao longo do tempo de 15, 30 e 45 dias. O mesmo foi realizado em relação às diferentes temperaturas de armazenamento (avaliação entre linhas) e em relação aos dois tipos de embalagens utilizados (entre tabelas, por formulação). Não se observou diferença significativa (p > 0,05) quanto aos valores de teor para as formulações analisadas (formulação 6, 7 e controle) em nenhuma das avaliações: ao longo dos 45 dias de exposição, entre as temperaturas de armazenamento e entre as embalagens de vidro e de plástico (Tabela 23). Tabela 23. Resultado da análise estatística do teste de teor realizado em comparação com as embalagens para cada formulação As formulações em branco (sem o ativo) também foram mantidas nas mesmas condições de exposição das formulações e também foram analisadas por CLAE. O preparo das soluções para injeção foi realizado no mesmo dia em que as soluções amostras eram preparadas. Não foi observado nenhuma alteração nos Formulação Embalagem Condição 0 15 30 45 Análise P (dias) Análise P (Temp.) Formulação 6 VD 5°C 99,32% 99,01% 98,75% 99,00% 99,89% 98,42% 99,96% 101,51% 99,77% 0,49 0,38 25°C 99,12% 40°C PET 5°C 100,52% 98,77% 101,02% 101,16% 101,18% 99,37% 99,72% 99,36% 100,99% 25°C 99,12% 40°C Formulação 7 VD 5°C 96,82% 96,56% 97,82% 98,48% 96,63% 95,94% 97,28% 97,70% 96,67% 0,62 0,07 25°C 97,61% 40°C PET 5°C 98,30% 97,72% 96,96% 99,81% 98,55% 99,71% 99,49% 97,92% 98,45% 25°C 97,61% 40°C Controle VD 5°C 98,01% 97,93% 96,16% 98,64% 0,43 0,48 25°C 98,34% 97,88% 98,67% 40°C 98,97% 98,44% 98,01% PET 5°C 98,01% 98,48% 97,98% 99,31% 25°C 96,92% 98,42% 98,64% 40°C 98,58% 99,00% 98,57% 107 cromatogramas e, dessa maneira, os excipientes utilizados não apresentaram influência na estabilidade do produto. Os estudos de estabilidade microbiológicos estão apresentados nos quadros 04 (Formulação 6), 05 (Formulação 7) e 06 (Formulação Controle). Pode-se observar que as formulações 6 e 7 apresentaram-se estáveis durante todo o estudo de estabilidade, independente da temperatura de armazenamento,do tempo de exposição às condições e do tipo de material utilizado na embalagem primária, mesmo após utilização subsequente das formulações. Além de apresentar boa estabilidade quando mantida sob refrigeração, as formulações também apresentaram boa estabilidade quando mantidas em temperatura ambiente, dessa forma, a recomendação de acondicionamento pode ser manutenção em temperatura na faixa de 15 a 30°C (temperatura ambiente). Essa premissa é assegurada pelo estudo realizado em temperatura elevada que visa potencializar o estresse da formulação e acelerar possível contaminação. E, mesmo em temperatura elevada, as formulações não apresentaram contaminação ao longo dos 45 dias de estudo. Esse resultado foi observado independente do material utilizado como embalagem primária. No preparo das amostras, planejou-se a manipulação de quantidade suficiente para a realização das análises e para mais três amostras extras, para o caso de perdas durante o estudo de estabilidade. Como o resultado microbiológico não demonstrou crescimento microbiano em nenhuma das condições de exposição, estendeu-se o estudo de estabilidade das formulações 6 e 7 por mais 15 dias nas mesmas condições de temperatura, de embalagem e de retirada de alíquota diária. As amostras extras de cada formulação foram encaminhadas ao LACMAC para análise do tempo de 60 dias após a manipulação. Nenhuma das duas formulações apresentou crescimento microbiano fora da especificação vigente, indicando boa estabilidade microbiológica por 60 dias, inclusive na temperatura de 40°C. 108 Quadro 04. Resultados encontrados durante o estudo de estabilidade microbiológico da formulação 6 acondicionada em vidro e em plástico. Embalagem Composição Condição Teste Análise inicial 15 dias 30 dias 45 dias Especificação Vidro Formulação 6 Benzoato 0,4% Ácido cítrico 2% 5°C Bactérias Fungos E.coli Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme < 10¹ UFC/mL < 10² UFC/mL Ausente 25°C Bactérias Fungos E.coli Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme < 10¹ UFC/mL < 10² UFC/mL Ausente 40°C Bactérias Fungos E.coli Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme < 10¹ UFC/mL < 10² UFC/mL Ausente Embalagem Composição Condição Teste Análise inicial 15 dias 30 dias 45 dias Especificação PET Formulação 6 Benzoato 0,4% Ácido cítrico 2% 5°C Bactérias Fungos E.coli Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme < 10¹ UFC/mL < 10² UFC/mL Ausente 25°C Bactérias Fungos E.coli Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme < 10¹ UFC/mL < 10² UFC/mL Ausente 40°C Bactérias Fungos E.coli Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme < 10¹ UFC/mL < 10² UFC/mL Ausente 109 Quadro 05. Resultados encontrados durante o estudo de estabilidade microbiológico da formulação 7 acondicionada em vidro e em plástico. Embalagem Composição Condição Teste Análise inicial 15 dias 30 dias 45 dias Especificação Vidro Formulação 7 Ácido cítrico 2% 5°C Bactérias Fungos E.coli Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme < 10¹ UFC/mL < 10² UFC/mL Ausente 25°C Bactérias Fungos E.coli Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme < 10¹ UFC/mL < 10² UFC/mL Ausente 40°C Bactérias Fungos E.coli Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme < 10¹ UFC/mL < 10² UFC/mL Ausente Embalagem Composição Condição Teste Análise inicial 15 dias 30 dias 45 dias Especificação PET Formulação 7 Ácido cítrico 2% 5°C Bactérias Fungos E.coli Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme < 10¹ UFC/mL < 10² UFC/mL Ausente 25°C Bactérias Fungos E.coli Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme < 10¹ UFC/mL < 10² UFC/mL Ausente 40°C Bactérias Fungos E.coli Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme < 10¹ UFC/mL < 10² UFC/mL Ausente 110 Quadro 06. Resultados encontrados durante o estudo de estabilidade microbiológico da Formulação Controle acondicionada em vidro e em plástico. Embalagem Composição Condição Teste Análise inicial 15 dias 30 dias 45 dias Especificação Vidro Controle 5°C Bactérias Fungos E.coli Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme > 10 UFC/mL Conforme Conforme > 10 UFC/mL > 10 UFC/mL Conforme < 10¹ UFC/mL < 10² UFC/mL Ausente 25°C Bactérias Fungos E.coli Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme > 10 UFC/mL > 10 UFC/mL Conforme > 10 UFC/mL > 10 UFC/mL Conforme < 10¹ UFC/mL < 10² UFC/mL Ausente 40°C Bactérias Fungos E.coli Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme > 10 UFC/mL > 10 UFC/mL Conforme > 10 UFC/mL > 10 UFC/mL Conforme < 10¹ UFC/mL < 10² UFC/mL Ausente Embalagem Composição Condição Teste Análise inicial 15 dias 30 dias 45 dias Especificação PET Controle 5°C Bactérias Fungos E.coli Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme > 10 UFC/mL Conforme Conforme > 10 UFC/mL > 10 UFC/mL Conforme < 10¹ UFC/mL < 10² UFC/mL Ausente 25°C Bactérias Fungos E.coli Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme Conforme > 10 UFC/mL > 10 UFC/mL Conforme > 10 UFC/mL > 10 UFC/mL Conforme < 10¹ UFC/mL < 10² UFC/mL Ausente 40°C Bactérias Fungos E.coli Conforme Conforme Conforme > 10 UFC/mL Conforme Conforme > 10 UFC/mL > 10 UFC/mL Conforme > 10 UFC/mL > 10 UFC/mL Conforme < 10¹ UFC/mL < 10² UFC/mL Ausente Legenda: Conforme – Conforme especificação, não houve crescimento; > 10 UFC/mL – Crescimento bacteriano não atendendo às especificações. 111 Já a formulação controle (sem conservante) apresentou crescimento microbiano fora da especificação nas duas embalagens testadas. Durante 15 dias a estabilidade microbiológica foi mantida, independente do material de embalagem escolhido e independente da temperatura de armazenamento testada (ambiente ou sob refrigeração), porém as análises após 30 e 45 dias de estudo apresentaram grande contaminação, fora do permitido em especificação vigente. Observou-se, no entanto, uma diferença quanto aos resultados do estudo de estabilidade acelerado, onde a formulação mantida em temperatura elevada e acondicionada em embalagem plástica apresentou crescimento microbiano com 15 dias de estudo, enquanto que a formulação acondicionada em frasco de vidro só apresentou contaminação após 30 dias. Os valores encontrados nos testes de pH são coerentes com esses resultados, a formulação controle quando envasada em embalagem plástica, apresenta um leve aumento do pH (p < 0,05), o que pode ser relacionado a uma intensa contaminação microbiana. E pode-se observar que as formulações ajustadas em pH 5,0 apresentaram-se estáveis, não havendo nenhum crescimento microbianodurante os 45 dias de estudo, mesmo quando foi realizada abertura e descarte diário de alíquotas para mimetizar as condições de uso. Além disso, ambas as formulações apresentaram boa estabilidade físico-química durante todo o estudo de estabilidade, apresentando resultados de teor do ativo dentro dos limites especificados, sem variações significativas. Dessa forma, as formulações 6 e 7 foram consideradas estáveis por 45 dias nos estudos de estabilidade físico-químico e microbiológico. A Formulação 7, apesar de apresentar em sua composição apenas o ácido cítrico como conservante, apresentou bons resultados para o estudo de estabilidade microbiológico, inclusive quando mimetizadas as condições de uso e potencializadas com altas temperaturas. Com o intuito de obter informações acerca de possíveis produtos de degradação, a Formulação 7 foi exposta às condições de estresse conforme Informe Técnico N° 01/2008 (IT 01/08). A formulação foi exposta à hidrólise ácida (HCl 0,1N), básica (NaOH 0,1N) e ao aquecimento constante a temperatura de 60°C.Os resultados podem ser observados na tabela 24. 112 Tabela 24. Teor de L-carnitina da Formulação 6 sob soluções degradantes dez vezes menos concentrada Condição de estresse 24h HCl 0,1N 91,45% ± 0,49 NaOH 0,1N 90,81% ± 0,25 Aquecimento (60°C) 105,01%± 0,25 Padrão 99,99% ± 0,31 Legenda: HCl: ácido clorídrico, NaOH: hidróxido de sódio Como informado na RDC 53 de 2005, é indicado degradar mais que 10% do ativo, o que não foi observado no estudo. Observou-se também que a formulação submetida a aquecimento apresentou teor um pouco elevado, podendo indicar uma falha no sistema de vedação do refluxo, tendo sofrido evaporação e concentração do ativo. Visando submeter a formulação à condições degradantes para avaliação dos produtos formados, um novo estudo foi realizado com base na degradação forçada de L-carnitina descrita por Khoshkam e Afshar (2014). A formulação foi exposta a uma solução ácida, básica, solução oxidante e ao aquecimento extremo por 12 e 24 horas em sistema de vidraria vedado para evitar possível evaporação. O resultado para o teste pode ser observado na tabela 25. Tabela 25.Resumo do estudo de degradação forçada sob diferentes condições. Condição de estresse Temperatura 4h 12h 24h Impureza detectada Aquecimento 70°C - 99,00%± 0,82 98,36%± 0,93 0 HCl 1N 70°C - 48,92%± 0,49 22,01%± 0,57 1 NaOH 1N 70°C - 51,29%± 0,25 25,33%± 1,11 1 H2O2 (abrigo da luz) 25°C 89,19%± 0,25 - - 0 Padrão (sob agitação) 25°C - - 99,32% ± 0,29 - Assim como demonstrado por Khoshkam e Afshar (2014), a L-carnitina apresentou drástica degradação em meios ácidos e básicos aquecidos 113 permanecendo apenas 22,01%e 25,33% respectivamente após 24 horas de exposição. Foi observado pico adicional na análise ácida e básica e ambos apresentaram o mesmo tempo de retenção relativo conforme apresentado na tabela 26. Tabela 26.Tempo de retenção dos picos encontrados no estudo de estabilidade. Condição de estresse 4 horas 12 horas 24 horas Substância equivalente Aquecimento - 2,161 ± 0,29 3,193 ± 0,52 2,179 ± 0,32 3,196 ± 0,70 Ácido Cítrico Carnitina HCl 1N - - 2,178 ± 0,28 3,193 ± 0,16 2,013 ± 0,75 2,182 ± 0,18 3,202 ± 0,28 Impureza Ácido Cítrico Carnitina NaOH 1N - 1,898 ± 0,37 2,199 ± 0,62 3,081 ± 0,37 1,985 ± 0,20 2,209 ± 0,52 3,143 ± 0,81 Impureza Ácido Cítrico Carnitina H2O2(abrigo da luz) 2,161 ± 0,78 3,133 ± 0,41 - - Ácido Cítrico Carnitina As áreas encontradas para as amostras com impureza detectada estão apresentadas na tabela 27. Tabela 27. Áreas dos picos encontrados no estudo de degradação. Condição de estresse 4 horas 12 horas 24 horas Substância equivalente Aquecimento - 21092701 20956535 Carnitina HCl 1N - - 10437730 1922109 4712386 Impureza Carnitina NaOH 1N - 872551 10941969 1459959 5418745 Impureza Carnitina H2O2 (abrigo da luz) 19005535 - - Carnitina Padrão - - 21160783 Carnitina 114 A formulação magistral é produzida de forma individualizada, sob prescrição médica e preparada para uso em até 48h após sua manipulação, sendo considerada uma preparação extemporânea (BRASIL, 2012c). Dessa forma, ele não possui um prazo de validade, mas sim uma data limite para uso denominada de “Prazo de Uso” e cabe ao farmacêutico a responsabilidade de definir esse prazo, de acordo com material científico e referência disponíveis. No entanto, fatores externos não podem ser controlados, mas a realização do estudo de degradação forçada visa mostrar indícios do que pode ocorrer com a substância frente às condições extremas de armazenamento. Uma vez que a degradação encontrada possa ocorrer pela reação de um excipiente, ou por impurezas presentes em sua embalagem primária, ou até mesmo pela natureza da embalagem utilizada (como é o caso de vidro tipo I, II e III), é necessário observar o perfil de degradação e tomar as medidas cabíveis para evitar a perda da estabilidade ao longo do prazo de uso. Com esses testes, é mais fácil a proteção do fármaco, realizando apenas ajustes. O farmacêutico ganha maior controle e pode ser mais assertivo sobre o desenvolvimento da formulação e a determinação do prazo de uso da formulação de forma segura. O estudo de estabilidade completo realizado sob temperaturas elevadas (estudo de estabilidade acelerado), corroborado com o estudo de degradação forçada por aquecimento, indicam que a L-carnitina não apresenta problemas quanto à sua estabilidade térmica e não necessita de acondicionamento da formulação sob refrigeração. Foram realizados testes t de Student comparando resultados encontrados para 5°C e para 25°C nos estudos de estabildiade apresentados e não foi encontrada diferença significativa, reforçando a assertiva apresentada. Por mais que a degradação em meio ácido e básico tenha ocorrido em concentrações altas das soluções degradantes, a intensa degradação percebida aponta a necessidade de cuidados para a manutenção do valor de pH. Como observado no estudo de estabilidade completo realizado, a formulação controle apresentou contaminação microbiana que foi acompanhada por aumento nos valores de pH da formulação. Mas os sistemas conservantes avaliados nas duas formulações mantiveram a estabilidade microbiana ao longo dos 60 dias de estudo, mesmo quando condicionados a temperatura de 40°C, que visa acelerar os processos degradantes. Vale lembrar que o estudo realizado foi feito com a abertura 115 subsequente da embalagem primária na tentativa de mimetizar as condições reais de uso. Dessa forma, as formulações 6 e 7 apresentaram boa estabilidade físico- química e microbiológica, podendo ser acondicionadas sob temperatura ambiente (sem a necessidade de refrigerador) durante o período de 45 dias. Além disso, o seu envase pode ser realizado tanto em frasco de vidro quanto em frasco plástico leitoso de PET dependendo apenas do volume final necessário pelo paciente. A Formulação 7 apresentar menor quantidade de excipientes e, como o perfil do público alvo possui diversas restrições por conta das alterações metabólicas, indica-se a formulação com a menor quantidade de excipientes possíveis visando evitar o aparecimento de efeitos indesejáveis atrelados ao uso do benzoato de sódio (PIFFERI; RESTANI, 2003; SENA et al., 2014). Entretanto, o estudo de estabilidade foi realizado em ambiente que possui boas práticas de fabricação e, dessa forma, apresenta rigor quanto à limpeza, e é provável que o ambiente onde o paciente realizará o manuseio do frasco e a administração da formulação apresente alguma propensão maior à realizada quanto a contaminação microbiana. Dessa forma, para assegurar a manutenção da estabilidade microbiana após dispensação, indica-se utilizar a formulação 6que apresenta em sua composição o benzoato de sódio, podendo assegurar ainda mais a ação contra leveduras e bactérias e garantia da segurança da formulação. 116 7 CONCLUSÃO A Formulação 6 (com benzoato de sódio e ácido cítrico) e a Formulação 7 (apenas com ácido cítrico) apresentaram estabilidade físico-química e microbiológica satisfatória durante os 45 dias de estudo de estabilidade propostos, mesmo quando armazenadas em temperatura ambiente (15 a 30°C). A estabilidade também foi mantida nos dois materiais de embalagem testados e, dessa forma, a formulação pode ser envasada e dispensada em frasco de vidro âmbar ou em frasco plástico PET leitoso, sem alteração da estabilidade e com garantia de segurança para o paciente. Apesar de ambas as formulações apresentarem boa estabilidade, a Formulação 6 pode garantir uma maior segurança após a dispensação ao paciente. Dessa forma, a Formulação 6 será incluída no Memento Terapêutico da Farmácia Universitária da UFRJ e será disponibilizada para venda e atendimento aos pacientes. Ela estará disponível nas concentrações de 10 e 20%, com prazo de uso seguro de 45 dias, podendo ser armazenada sob temperatura ambiente (15 a 30°C) e envasada tanto em frasco de vidro âmbar como em frasco plástico PET leitoso. 117 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALENCAR, T.O.S. A reforma sanitária brasileira e questão medicamentos/assitência farmacêutica.2016. 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