Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DE ALIMENTOS Perfil da microbiota de um serviço de alimentação e análise da eficácia dos métodos empregados no controle higiênico- sanitário. Aline Gomes de Mello de Oliveira 2014 Perfil da microbiota de um serviço de alimentação e análise da eficácia dos métodos empregados no controle higiênico-sanitário. ALINE GOMES DE MELLO DE OLIVEIRA . Orientadores: Profa. Dra. Selma Gomes Ferreira Leite Prof. Dr. Marco Antônio Lemos Miguel Profa. Dra. Luciléia Granhen Tavares Colares Rio de Janeiro Março/2014 Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós- graduação em Ciência de Alimentos, Instituto de Química, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Ciência de Alimentos. Oliveira, Aline Gomes de Mello de Perfil da microbiota de um serviço e alimentação e análise da eficácia dos métodos empregados no controle higiênico-sanitário / Aline Gomes de Mello de Oliveira – Rio de Janeiro: UFRJ, 2014. 173fls. Orientadores: Selma Gomes Ferreira Leite Marco Antônio Lemos Miguel Luciléia Granhen Tavares Colares Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Química, 2014 1. Serviços de alimentação 2. Comunidade microbiana 3. Estudo de validação 4. Microbiologia molecular – Tese. I. Leite, Selma G. Ferreira. II. Miguel,Marco Antonio Lemos. III. Colares, Luciléia Granhen Tavares. IV. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto de Química. Programa de Pós-Graduação em Ciência de Alimentos. V. Título. Perfil da microbiota de um serviço de alimentação e análise da eficácia dos métodos empregados no controle higiênico-sanitário Aline Gomes de Mello de Oliveira Orientadores: Profa. Dra. Selma Gomes Ferreira Leite; Prof. Dr. Marco Antônio Lemos Miguel; Profa. Dra. Luciléia Granhen Tavares Colares Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Ciência de Alimentos, Instituto de Química, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Ciência de alimentos. Aprovada por: _______________________________ Presidente, Profa. Selma Gomes Ferreira Leite – IQ/UFRJ _______________________________ Profa. Cristina Tristão de Andrade – IQ/UFRJ _______________________________ Prof. Sérgio Eduardo Longo Fracalanzza – IMPPG/UFRJ _______________________________ Profa. Rinaldini Coraline Philippo Tancredi - UNIRIO _______________________________ Profa. Arlene Gaspar – UFRJ/Macaé Rio de Janeiro Março, 2014 Dedicatória À minha mãe Fátima, ao meu tio-pai Jorge e ao meu marido Carlos Henrique, companheiros incansáveis. Agradecimentos A caminhada foi longa e nem sempre fácil. Pedras apareceram ao longo do caminho, mas muitas pessoas especiais estiveram ao meu lado, todo o tempo, tornando a trajetória mais leve e doce. À essas pessoas, só posso agradecer e dizer que sempre serão lembradas com muito carinho. Agradeço à Deus por estar, sempre, ao meu lado, por ter colocado pessoas especiais na minha vida, por me dar força. Sem Ele não teria alcançado mais esta conquista. Ao meu marido, Carlos Henrique, companheiro incansável, que esteve ao meu lado todo este tempo, que entendeu minhas ausências, me consolou, foi meu amigo e, principalmente, meu alicerce. Muito obrigada por sua paciência e amor, te amo. À minha mãe Maria Fatima, exemplo de força e coragem. Obrigada por estar ao meu lado, por ter acreditado nas minhas escolhas e por me dar forças para seguir em frente. À minha irmã Alessandra Mello, pelo carinho, apoio e incentivo. Ao meu querido e amado tio-pai Jorge, obrigada por tudo, pelo colo, por financiar meus estudos, por acreditar nas minhas escolhas, por ter me escolhido como filha do coração e, principalmente, por caminhar ao meu lado. Aos meus queridos orientadores Luciléia Colares, Marco Miguel e Selma Leite. Gratidão eterna! Vocês foram essenciais na realização deste estudo, estiveram ao meu lado sempre e foram exemplos que pretendo reproduzir ao longo da minha vida acadêmica. Luciléia, minha querida amiga, mãe científica e orientadora, muito obrigada por tudo: pelos ensinamentos, por estar comigo há anos me auxiliando a alcançar degraus mais altos. Nunca vou me esquecer do seu carinho, das palavras de conforto e da sua dedicação. Muito obrigada de coração. Marco Miguel, a jornada não foi fácil. Aprendi muito ao seu lado. Obrigada pela sua paciência, pela sua amizade, pelo profissionalismo e por ter me mostrado outras formas de enxergar a vida. Muito obrigada pelas conversas enriquecedoras e pelo carinho. Selma Leite, muito obrigada por ter acreditado em mim, por ter estado ao meu lado nas horas que mais precisei e por me dar forças para seguir. Ao prof. Sérgio Fracalanzza muito obrigada por ter me recebido de abraços abertos em todos os momentos que precisei, por ter me oferecido seus conhecimentos, seu tempo, seu carinho e sua amizade. À profa. Raquel Bonelli, obrigada pelas conversas enriquecedoras, disponibilidade e orientações. Às minhas três “anjinhas” Ana Luiza Favilla, Daniela Gomes, Eduarda Mundy, obrigada por terem acreditado em mim, por terem sido amigas, companheiras e dedicadas. Sem vocês, essa trajetória teria sido bem mais árdua. Muito obrigada de coração. Aos Técnicos Antônio e Marley por me ajudarem e auxiliarem na execução desta pesquisa. Antônio, obrigada pela paciência e pelas conversas. Aos amigos do laboratório de microbiologia de alimentos: Analy, Juliana Furtado, Carolina Beres, Renata Rangel, Maria Leoniza, Bianca, Tayná obrigada pelas conversas e pelos momentos de diversão. Às queridas Larissa, Carol e Deborah por terem me auxiliado ao longo desta tese. Ao corpo docente do curso de nutrição UFRJ - campus Macaé por terem compreendido as minhas ausências e por me darem forças para continuar. À Mariana, Camila Eliza, Kelse, Beatriz e Arlene pelo apoio, conversas e conselhos. Às amigas Ellen e Luciana pelo convívio, pelas conversas animadas e por me darem força ao longo desta caminhada. Aos meus queridos amigos, Aline Barros, Juliana Kuhne, Fabio Machado, Artemis, Márcio, Isabel David e Fabiane Back pelo apoio, pelas conversas, pelo carinho e principalmente por entenderem as minhas ausências. À todos os docentes, servidores e funcionários do Programa de Pós Graduação em Ciência de Alimentos pela oportunidade de crescimento e pelo auxílio. Ao Governo do Estado do Rio de Janeiro pela concessão da realização da pesquisa. À todos os funcionários (nutricionistas e manipuladores de alimentos) do restaurante em que foi desenvolvimento este trabalho. E a todos que não fiz menção, porém que contribuíram também para a concretização deste trabalho, MUITO OBRIGADA!!! RESUMO PERFIL DA MICROBIOTA DE UM SERVIÇO DE ALIMENTAÇÃO E ANÁLISE DA EFICÁCIA DOS MÉTODOS EMPREGADOS NO CONTROLE HIGIÊNICO- SANITÁRIO Aline Gomes de Mello de Oliveira Orientadores: Profa. Dra. Selma Gomes Ferreira Leite; Prof. Dr. Marco Antônio Lemos Miguel; Profa. Dra. Luciléia Granhen Tavares Colares Resumo da Tesede Doutorado submetida ao Programa de Pós Graduação em Ciência de Alimentos - Instituto de Química, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Ciência de Alimentos. O objetivo deste estudo foi caracterizar a microbiota e avaliar a eficácia dos métodos de controle higiênico-sanitário em um serviço de alimentação da cidade do Rio de Janeiro. Foram pesquisados microrganismos patogênicos e indicadores em utensílios como: bandejas, pratos, talheres e nas mesas do refeitório. As amostras dos utensílios foram coletadas por lavagem de superfície com solução salina e as mesas por esfregaço com “swab”. As estirpes de bacilos Gram negativos e de estafilococos foram identificadas por espectrometria de massa. O perfil da comunidade microbiana foi verificado pelas técnicas moleculares de reação de cadeia de polimerase e eletroforese em gel com gradiente desnaturante (PCR-DGGE) e sequenciamento do gene RNAr 16S. Foi investigado o perfil de suscetibilidade das estirpes isoladas aos antimicrobianos pelo método de disco-difusão, assim como a eficácia do hipoclorito de sódio na diluição de uso sobre as estirpes prevalentes no estabelecimento. Validou-se o conteúdo do roteiro para avaliação das condições higiênico-sanitárias de serviços de alimentação (RACHS-SA) pela técnica Delphi e verificou-se a confiabilidade interavaliadores, após a aplicação do instrumento por 4 nutricionistas em um serviço de alimentação. Todas as superfícies estavam em condições higiênico-sanitárias inadequadas. O método dependente de cultivo evidenciou a predominância de enterobactérias (Enterobacter sp e Klebsiella sp), Acinetobacter sp. e Staphylococcus sp. As técnicas moleculares também revelaram a prevalência de Klebsiella sp e Acinetobacter sp em todas as superfícies analisadas. Nenhum isolado de estafilococos coagulase positiva e negativa apresentou perfil de resistência à meticilina e a vancomicina, porém, três estirpes de bacilos Gram negativos revelaram resistência ao imipenem. O hipoclorito de sódio à 200ppm foi capaz de inibir todas as estirpes testadas. O RACHS-SA teve seu conteúdo validado e apresentou confiabilidade interavaliadores. Os métodos dependentes e independentes de cultivo mostraram resultados equivalentes, o que reforça a aplicabilidade da associação das técnicas PCR-DGGE em serviços de alimentação, pois oferece resultados rápidos quando comparada com os métodos tradicionais. O RACHS-SA com o conteúdo validado apresentou resultados que corroboraram com os métodos experimentais, sendo identificados menores percentuais de adequação para os blocos que avaliaram equipamentos e utensílios, assim como aquele que tratou da higiene das instalações e utensílios. Trata-se de uma ferramenta útil que pode ser utilizada pelos gestores dos serviços de alimentação para auxiliar na adoção das boas práticas e minimizar o risco de contaminação. Os dados obtidos mostraram que as estirpes prevalentes no serviço de alimentação, embora sensíveis ao desinfetante utilizado na rotina do estabelecimento, apresentavam resistência a alguns importantes antimicrobianos. Este dado evidencia a necessidade de um monitoramento mais abrangente do perfil da microbiota de serviços de alimentação, incluindo a busca por marcadores de resistência, favorecendo alterações eficientes nos protocolos de higiene. Palavras chaves: Serviços de alimentação, Comunidade microbiana, Condições higiênico-sanitária, Estudo de validação, Biologia Molecular ABSTRACT MICROBIAL PROFILE IN A FOOD SERVICE AND ANALYSIS OF THE EFFECTIVENESS OF METHODS EMPLOYED IN CONTROL HYGIENE AND SANITARY Aline Gomes de Mello de Oliveira Orientadores: Profa. Dra. Selma Gomes Ferreira Leite; Prof. Dr. Marco Antônio Lemos Miguel; Profa. Dra. Luciléia Granhen Tavares Colares Abstract da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós Graduação em Ciência de Alimentos – Instituto de Química, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Ciência de Alimentos. The aim of this study was to characterize the microbial and to evaluate the effectiveness of methods of hygienic-sanitary control in a food service in the city of Rio de Janeiro. Pathogenic microorganism and indicators in trays, plates, cutlery and dining room tables were surveyed. The samples were collected by washing utensils surface with saline and the tables by smear “swab". Strains of Gram-negative bacteria and staphylococci were identified by mass spectrometry. The bacterial community structure was verified by polymerase chain electrophoresis in denaturing gradient gel (PCR-DGGE) and sequencing of the 16S rRNA gene. The profile of susceptibility of isolates to antimicrobial agents by the disk diffusion method was investigated as well as the effectiveness of sodium hypochlorite in the dilution of the use on the prevalent strains in the establishment. Validated the contents of the script to evaluate the sanitary conditions of food service (RACHS-SA) was conducted by Delphi technique and was verified the interrater reliability, after application of the instrument by 4 dietitians in a food service. All surfaces were in inadequate sanitary conditions. The culture-dependent method showed the predominance of Enterobacteriaceae (Enterobacter sp. and Klebsiella sp.), Acinetobacter spp . and Staphylococci. Molecular techniques have also revealed the prevalence of Acinetobacter sp., and Klebsiella sp. in all surfaces analyzed. No isolate of coagulase positive and negative staphylococci showed resistance to methicillin and vancomycin, however, three strains of Gram negative bacilli showed resistance to imipenem. Sodium hypochlorite at 200 ppm was able to inhibit all strains tested. The RACHS-SA validated content presented interrater reliability. The dependent- and independent-culture methods showed equivalent results, which reinforces the applicability of the association of PCR- DGGE techniques in food service, it offers fast results when compared with traditional methods. The RACHS-SA with validated content presented results that corroborated the experimental methods, smaller percentages of adequacy being identified for the blocks that evaluated equipment and utensils, as well as one that dealt with the cleanliness of the premises and utensils. This proved to be a useful tool that can be used by managers of food services to assist in the adoption of best practices and minimize the risk of contamination. The data showed that, although sensitive to the disinfectant used in the routine category, prevalent in the food service strains showed resistance to some important antimicrobials. This finding highlights the need for a more comprehensive monitoring of the profile of the microbioal of food services, including the search for markers of resistance, favoring efficient changes in hygiene protocols Keywords: Food service, Microbial community, sanitary conditions, Validation studies, Molecular Biology LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1. Diagrama explicativo das etapas realizadas na pesquisa. 52 Figura 2. Frequência das espécies de bacilos Gram negativos isoladas das superfícies das bandejas, talheres e mesas. 60 Figura 3. Perfil de bandas obtido por PCR-DGGE da região codificadora do RNAr 16S, das superfícies de mesas e utensílios. As setas indicam as bandas selecionadas para sequenciamento. 61 Figura 4. Ordenação multidimensional não métrica realizada a partir das matrizes obtidas do perfil de bandas da PCR-DGGE para as comunidades bacterianas presentes nos utensílios e mesas. 63 LISTA DE QUADROS Quadro 1. Principais agentes etiológicos envolvidos em surtosde doenças transmitidas por alimentos no período de 2000/2011. 22 Quadro 2. Principais classes de antimicrobianos e seus, respectivos, mecanismos de ação e de resistência bacteriana. 27 Quadro 3. Propriedades dos diferentes princípios ativos utilizados em desinfetantes comerciais. 33 Quadro 4. Ação dos princípios ativos frente aos principais microrganismos. 34 Quadro 5. Relação das vantagens e desvantagens de cada técnica de análise microbiológica de superfície. 42 Quadro 6. Padrões Microbiológicos para avaliação das condições higiênico-sanitárias de equipamentos e utensílios de preparação, segundo organizadores oficiais e autores. 43 Quadro 7. Padrões microbiológicos para utensílios de mesa, segundo organizadores oficiais e autores. 43 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Contagem microbiana das superfícies dos utensílios e mesas previamente higienizados no primeiro dia de coleta, em três horários diferentes. 57 Tabela 2. Contagem microbiana das superfícies dos utensílios e mesas previamente higienizadas no segundo dia de coleta, em três horários diferentes. 58 Tabela 3. Identificação das bandas obtidas por PCR-DGGE baseada no BLAST (GenBank) usando primers universais para bactérias totais. 62 Tabela 4. Total de bacilos Gram negativos e estafilococos isolados das superfícies higienizadas do talher, bandejas e mesa do refeitório. 68 Tabela 5. Perfil de resistência das estirpes de Acinetobacter sp, Enterobacter sp. e Klebsiella sp. isoladas das superfícies higienizadas de em um serviço de alimentação. 73 Tabela 6. Perfil de resistência das estirpes de Staphylococcus aureus e estafilococos coagulase negativa isoladas das superfícies higienizadas de um serviço de alimentação. 74 Tabela 7. Alterações e discordâncias entre os especialistas, por bloco, nas três rodadas de avaliação do instrumento, Rio de Janeiro, 2013. 85 Tabela 8. Classificação dos itens quanto ao risco oferecido para a manutenção da qualidade higiênico-sanitária das refeições, conforme julgamento dos especialistas, Rio de Janeiro 2013. 86 Tabela 9. Percentual de adequação das condições higiênico-sanitárias do serviço de alimentação a partir da avaliação dos quatro nutricionistas, Rio de Janeiro 2013. 87 Tabela 10. Coeficiente de correlação intraclasse obtidos das respostas dadas pelos quatro nutricionistas para cada bloco do RACHS-SA, Rio de Janeiro 2013. 88 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ABERC - Associação Brasileira de Refeições Coletivas ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária ANOVA – Análise de variância APHA – American Public Health Association ARDRA Análise de Restrição de DNA Ribossomal Amplificado ATCC - American Type Culture Colection ATP – Adenosina Trifosfato CCI - Coeficiente de Correlação Intraclasse CHCA - Ácido α-hidroxi-ciano-cinâmico CLSI - Clinical and Laboratory Standards Institute CONSEA - Conselho Nacional de Segurança Alimentar CVS - Centro de Vigilância Sanitária DGGE - Eletroforese em Gel com Gradiente Desnaturante DTA - Doença Transmitida por Alimentos ECN - Estafilococos Coagulase Negativo ECP - Estafilococos Coagulase Positivo ESBL - Beta-Lactamase de Espectro Estendido EUA - Estados Unidos da América FDA - Food and Drug Administration IRAs – Infecção relacionada à Assistência à Saúde MRPP - Procedimento de Permutação de Múltipla Resposta MRS - Staphylococcus metacilina resistente MRSA - Staphylococcus aureus metacilina resistente NMS - Escalonamento multidimensional não métrico OMS - Organização Mundial de Saúde ONG - Organizações Não Governamentais OPAS - Organização Pan-Americana da Saúde PACHS - Percentual de Adequação das Condições Higiênico-Sanitárias PAT - Programa de Alimentação do Trabalhador PCR - Reação em Cadeia da Polimerase PEAA - Programa Estadual de Acesso à Alimentação PNAE - Programa Nacional de Alimentação Escolar POF - Pesquisa de Orçamento Familiar RACHS-SA - Roteiro de Avaliação das Condições Higiênico-Sanitárias de Serviço de Alimentação RDC - Resolução da Diretoria Colegiada RODAC - Replicate Organism Direct Agar Contact RP - Restaurantes Populares RU – Restaurante universitário SAPS - Serviço de Alimentação da Previdência Social SEASDH - Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos UFC - Unidade Formadora de Colônia SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 16 2. REVISÃO DA LITERATURA 19 2.1 O setor de alimentação coletiva: aspectos históricos e evolução 19 2.2 Contaminantes microbianos em serviços de alimentação 21 2.2.1 Suscetibilidade dos microrganismos aos antimicrobianos 26 2.3 Monitoramento das condições higiênico-sanitárias em serviços de alimentação. 31 2.3.1 Roteiros de Avaliação das condições higiênico-sanitária de serviços de alimentação 36 2.3.2 Análises microbiológicas em serviços de alimentação 39 2.4 Estudo da comunidade microbiana por métodos dependentes e independentes de cultivos 44 3. JUSTIFICATIVA 48 4. OBJETIVOS 49 4.1 Objetivo geral 49 4.2 Objetivos específicos 49 5. ESTRATÉGIA EXPERIMENTAL 50 5.1 Local de estudo 50 5.2 Critérios para escolha dos pontos de coletas das amostras de superfícies. 50 5.3 Pontos de coleta das amostras. 51 6. CAPITULOS 53 6.1 Capitulo I: Caracterização da comunidade microbiana presente nas superfícies de serviços de alimentação 53 6.1.1 Material e métodos 53 6.1.1.1 Avaliação higiênico-sanitária das superfícies 53 6.1.1.2 Identificação das estirpes isoladas por espectrometria de massa do tipo MALDI-TOF 55 6.1.1.3 Caracterização da estrutura da comunidade microbiana presente na superfície 55 6.1.1.4 Análise estatística 56 6.1.2 Resultados 56 6.1.2.1 Características microbiológicas das superfícies do serviço de alimentação 56 6.1.3 Discussão 64 6.2 Capitulo II: Perfil de suscetibilidade aos antimicrobianos e desinfetantes a base de cloro em estirpes de Acinetobacter sp., Enterobacter sp., Klebsiella sp. e Staphylococcus sp. isoladas de serviço de alimentação 68 6.2.1 Materiais e métodos 68 6.2.1.1 Teste de susceptibilidade aos antimicrobianos 68 6.2.1.2 Detecção fenotípica da produção de enzima β-lactamases de espectro estendido (ESBL). 70 6.2.1.3 Eficácia do desinfetante a base de hipoclorito de sódio frente às estirpes isoladas. 70 6.2.2 Resultados 72 6.2.3 Discussão 76 6.3 Capitulo III: Validação de conteúdo e confiabilidade de instrumento de avaliação higiênico-sanitária 79 6.3.1 Materiais e métodos 79 6.3.1.1 Elaboração do RACHS-SA 79 6.3.1.2 Validação do conteúdo do RACHS-SA por comitê de especialistas 80 6.3.1.3 Análise da confiabilidade e reprodutibilidade do instrumento validado 82 6.3.2 Resultados 83 6.3.2.1 Elaboração do instrumento para avaliação das condições higiênico-sanitária 83 6.3.2.2 Validade do conteúdo do instrumento pela Técnica Delphi 83 6.3.2.3 Avaliação das condições higiênico-sanitárias do serviço de alimentação e análise da confiabilidade e reprodutibilidade interavaliadores 86 6.3.3 Discussão 89 7. CONCLUSÕES FINAIS 91 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 92 ANEXOS 109 APÊNDICES 113 Asdagfagfsdg 16 INTRODUÇÃO O setor de alimentação fora do lar tem crescido nas últimas décadas e sua dimensão e importância na economia nacional podem ser medidas a partir dos números gerados pelo segmento. No ano de 2013, o mercado de refeições coletivas como um todo forneceu cerca de 18 milhões de refeições/dia, ofereceu 195 mil empregos diretos e consumiu 11 mil toneladas de alimentos (ABERC, 2013). No Brasil, os dados da Pesquisa Brasileira de Orçamentos Familiares (POF) realizada entre 2008 e 2009 revelaram que naárea urbana 31% do total médio da despesa familiar é gasto com alimentação fora do lar (IBGE, 2010). Este crescimento tem ocasionado o aumento dos surtos de doenças transmitidas por alimentos (DTA) devido às falhas ocorridas durante o processo produtivo de refeições, incluindo a deficiente higienização das superfícies (OMS, 2006). As DTA podem gerar perdas econômicas para o estabelecimento, além da morbidade e mortalidade do indivíduo (BENEVIDES & LOVATII, 2004). Entre os anos de 2000 e 2011 foram notificados 8.663 surtos, que acometeram 163.425 pessoas e ocasionaram 112 óbitos (SVS, 2012), sendo Salmonella spp., Staphylococcus aureus, Bacillus cereus e Escherichia coli os principais microrganismos envolvidos nesses surtos. A manutenção da qualidade higiênico-sanitária dos alimentos, assim como das superfícies que entram em contato com os alimentos é necessária para prevenir a disseminação destes microrganismos, uma vez que se propagam com rapidez e alta patogenicidade. Nas últimas décadas os patógenos alimentares como Salmonella spp., Staphylococcus aureus, Escherichia coli, Listeria monocytogenes e Yersinia enterololitica têm desenvolvido resistência a antimicrobianos, o que pode comprometer o tratamento de infecções graves de origem alimentar (WHITE et al., 2002). O aumento da resistência das bactérias aos agentes antimicrobianos se tornou um problema de saúde publica (OLIVEIRA & SILVA, 2008). Este fato está associado ao uso extensivo dos antimicrobianos e às más condições de higiene (VON NUSSBAUM et al., 2006). 17 Embora a maioria dos estudos de resistência a antimicrobianos esteja relacionado com amostras provenientes de infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAs), também é importante analisar as amostras do ambiente a fim de verificar se estes isolados apresentam resistência aos antimicrobianos (DÍAZ et al., 2006). Considerando que a resistência aos antimicrobianos é um problema de saúde pública é necessário controlar a disseminação dos agentes patogênicos, através da adoção de métodos de controle higiênico-sanitário nos serviços de alimentação. O controle de microrganismos patogênicos e indicadores das condições higiênico-sanitárias pode ser realizado a partir da adoção de procedimentos de higienização, uma vez que, o contato dos alimentos com superfícies contaminadas é um dos principais fatores para a ocorrência de surtos (OMS, 2006). A existência de resíduos alimentares associados à umidade nas superfícies favorecem a multiplicação dos microrganismos e o aumento da contaminação (SILVA JR., 2007; ICMSF, 1997). Para que os procedimentos de higienização sejam eficazes é fundamental a escolha correta dos agentes de limpeza e desinfecção, sendo necessário analisar o tipo e o grau dos resíduos aderidos às superfícies, a qualidade da água, a natureza da superfície a ser higienizada, os métodos de higienização (físicos ou químicos) aplicados e o perfil microbiano da superfície (ANDRADE, 2008). A oferta de refeições dentro dos padrões higiênico-sanitários é uma condição essencial para promoção da saúde e prevenção de DTA, sendo o controle da qualidade nos serviços de alimentação importante e bastante abrangente. O controle da qualidade pode ser realizado por métodos não experimentais (aplicação de roteiros de avaliação das condições higiênico- sanitárias) e métodos experimentais (análises microbiológicas). Os roteiros de avaliação das condições higiênico-sanitárias apresentam baixo custo e podem ser aplicados tanto em instituições públicas como nas privadas. Estes instrumentos reúnem os principais tópicos exigidos pela legislação sanitária, permitindo observar se o serviço de alimentação se encontra em adequação. 18 Existem diversos roteiros disponíveis na literatura como: BRASIL, (2002); AKUTSU et al. (2005); SACCOL et al. (2009), porém não há informações sobre a validação de conteúdo dos mesmos. A validação de um instrumento é importante, pois permite verificar se os resultados de uma aferição se aproximam do estado verdadeiro dos fenômenos que estão sendo medidos (PASQUALI, 2009) De acordo com Pasquali (2009) a validação pode ser classificada como critério, constructo e conteúdo. Esta última reflete a capacidade do instrumento medir um conjunto de comportamentos relacionados entre si e que estão associados ao que está sendo medido (SOUSA & TURRINI, 2012). Desta forma, o uso de um roteiro de avaliação das condições higiênico- sanitárias de serviços de alimentação com o conteúdo validado, associado às análises microbiológicas complementa, comprova e assegura o nível higiênico- sanitário do estabelecimento (TEBBUTT, 2007). As análises microbiológicas do ambiente, superfície, manipuladores e alimentos auxiliam na detecção das fontes de contaminação e na eficiência do processo de higienização (ANDRADE, 2008). Estas análises podem ser realizadas por técnicas dependentes e independentes de cultivo. Os métodos dependentes de cultivo, embora confiáveis e eficientes requerem vários dias e até mesmo semanas para obtenção dos resultados. Além disso, as propriedades fenotípicas das bactérias podem não ser expressas ou podem ser de difícil interpretação e classificação (MARIN et al., 2006). Os métodos independentes de cultivo apresentam rapidez, maior seletividade, especificidade, potencial para automação e a possibilidade de analisar bactérias que não são cultiváveis em meios de cultura (BUSH & NITSCHKO, 1999). Sendo assim, quando os métodos dependentes de cultivo estão associados aos métodos independentes podem gerar resultados mais completos para estudos de caracterização da microbiota de um ambiente. 19 2. REVISÃO DA LITERATURA 2.1 O setor de alimentação coletiva: aspectos históricos e evolução. As alterações ocorridas na economia brasileira foram causadas pelas transformações dos modos de vida, principalmente a modificação da estrutura familiar e dos comportamentos alimentares; o desenvolvimento da atividade, no que diz respeito ao trabalho feminino e a transformação da ocupação espacial através da urbanização crescente e da industrialização, foram os fatores que contribuíram para o desenvolvimento do Setor de alimentação coletiva (PROENÇA, 1997). No final da década de 30 foi criado o Serviço de Alimentação da Previdência Social (SAPS), com o intuito de melhorar as condições de trabalho, que eram bastante precárias, devido às longas jornadas, aos baixos salários, a falta de segurança e ao ambiente insalubre, sendo instituída a obrigatoriedade das empresas com mais de 500 empregados instalarem refeitório. O SAPS possuía como objetivo o fornecimento de refeições equilibradas do ponto de vista higiênico-sanitário e nutricional, com intuito de melhorar a alimentação do trabalhador e, conseqüentemente, sua resistência orgânica e capacidade de trabalho (BRASIL, 1940). Este Serviço promoveu a administração de restaurantes para trabalhadores, assim como do refeitório localizado na União Nacional dos Estudantes, mas foi extinto em 1967 (BRASIL, 1940; BRASIL, 1967). Em 1941 a primeira cozinha industrial de grande porte foi instalada na Companhia Siderúrgica Nacional. Em 1947 foram inauguradas, na cidade de São Paulo, as primeiras cozinhas industriais do Serviço Social da Indústria (SESI) a fim de fornecer refeições transportadas para os trabalhadores industriais e do Serviço Social do Comércio (SESC) que tinham refeitório centralizado para atender aos comerciários. A partir de 1955 foram implementadas as Políticas de Alimentação e Nutrição como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que visava o fornecimento de refeições a todos os estudantes da pré-escola e do primeiro grau, matriculados na rede oficial de ensino e entidades filantrópicas, 20 um complemento nutricional diário,durante o período das atividades escolares, aos escolares frequentadores de estabelecimento oficiais e filantrópicos de ensino (BRASIL, 2014). Ainda na década de 50, surgiram os Restaurantes Universitários (RU), em escolas e faculdades, que eram mantidos pela Universidade do Brasil, para atendimento de funcionários e estudantes (BRASIL, 2008). A partir da Consolidação do processo de industrialização do país, foi instituído pelo Governo Federal o Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), pela Lei. 6.321, de 1976, regulamentada somente em 1991. O PAT é direcionado ao atendimento dos trabalhadores de baixa renda, ou seja, aqueles que ganham até cinco salários mínimos mensais, visando a melhoria das condições nutricionais, a promoção da saúde e prevenção de doenças profissionais (BRASIL, 2008). A alimentação fora do lar se transformou em prática cotidiana e sofreu mudanças visíveis, visto que a maioria das refeições, no Brasil, passou a ser realizada fora do lar (COLLAÇO, 2003). No final dos anos 80 surgiu no Brasil os restaurantes à peso, sendo o resultado da adaptação do sistema de buffet existente na Europa e nos Estados Unidos da América. Também foram adotados outros tipos de segmentos como o sistema de rodízios de carne, de comida oriental, italiana e o sistema à peso. Há ainda os restaurantes do tipo self service, churrascarias, lanchonetes, fast foods, restaurantes gastronômicos, restaurantes tradicionais, cantinas, bistrôs, pizzarias e as barracas de rua (COLLAÇO, 2007). A dimensão e a importância do Setor de alimentação coletiva na economia nacional podem ser ressaltadas a partir dos números gerados pelo segmento. No ano de 2013, o mercado de refeições coletivas como um todo forneceu 18 milhões de refeições/dia, 195 mil empregos diretos e consumiu cerca de 11 mil toneladas de alimentos (ABERC, 2013). No Brasil, os dados da Pesquisa Brasileira de Orçamentos Familiares (POF) (IBGE, 2010) revelaram que, o total médio da despesa familiar gasto com a alimentação fora do lar, na área urbana, foi de 31%. Os dados das pesquisas mostraram que os serviços de alimentação fora do lar assumiram um papel importante na alimentação da população e a 21 qualidade, passou a ser um atributo fundamental para o funcionamento destes estabelecimentos (SOUSA & CAMPOS, 2003). Com relação aos serviços de alimentação, a qualidade está associada aos aspectos intrínsecos do alimento (qualidade nutricional e sensorial), segurança (qualidade higiênico-sanitárias), atendimento (relação cliente- fornecedor), e preço (AKUTSU et al., 2005). O aspecto da qualidade que será tratado, ao longo desse estudo, está relacionado com as questões higiênico- sanitárias, pois a ocorrência de doenças transmitidas por alimentos (DTA) é um dos fatores que contribuem para morbidade, mortalidade e constituem-se em um problema de saúde pública. 2.2 Contaminantes microbianos em serviços de alimentação. A Organização Mundial de Saúde (OMS, 2006) define doença transmitida por alimentos como patologia de natureza infecciosa ou tóxica causada pelo consumo de alimentos ou água contaminados. Os agentes de contaminação podem ser físicos, químicos ou biológicos, sendo a causa mais comum dessas doenças a contaminação microbiana, principalmente por bactérias (SVS, 2012). As DTA têm sido abordadas como um problema de saúde pública, que podem causar a redução da produtividade, perdas econômicas e da credibilidade do estabelecimento. Além disso, dependendo da quantidade ingerida do alimento contaminado, do tipo de microrganismo ou toxina e do estado de saúde do indivíduo acometido, as DTA, podem levar a morte (BENEVIDES & LOVATTI, 2004). Entre os anos de 2000 e 2011 foram notificados 8.663 surtos, acometendo 163.425 pessoas e ocasionando 112 óbitos (SVS, 2012). Registros epidemiológicos mostraram que os serviços de alimentação são responsáveis pelos altos índices de surtos de doença transmitida por alimentos. Acredita-se que esses estabelecimentos sejam responsáveis por mais de 50% dos surtos (OMS, 2006). Diversas causas estão relacionadas aos surtos de DTA como: falhas durante a manipulação de alimentos, inadequação do planejamento físico- funcional, assim como na higienização dos equipamentos (OMS, 2006). No 22 Quadro 1 estão apresentados os principais agentes etiológicos e o percentual de surtos de DTA ocorridos no Brasil entre 2000 e 2011. Fonte: SVS, 2012. Quadro 1: Principais agentes etiológicos envolvidos em surtos de doenças transmitidas por alimentos no período ente 2000 e 2011. Staphylococcus aureus é um dos principais microrganismos patogênicos. Este microrganismo apresenta como reservatório os animais e o homem, e pode colonizar as vias nasais, cabelos e pele de indivíduos saudáveis. Há citação de 49 espécies e 26 subespécies incluídas no gênero Staphylococcus spp (EUZÉBY, 2014) e são tradicionalmente divididos em dois grupos: coagulase positiva e coagulase negativa de acordo com sua capacidade de coagular o plasma de coelho (FORSYTHE, 2002). Dentre os estafilococos coagulase positiva, Staphylococcus aureus é a principal espécie podendo causar diversos tipos de infecções, incluindo inflamações superficiais da pele, infecções sistêmicas e septicemia. Sua presença é indicativa de falhas nos procedimentos de higienização (JUNQUEIRA et al., 2009; MARTINS et al., 2009). Este microrganismo também pode causar intoxicação alimentar estafilocócica que está associada à ingestão de enterotoxinas produzidas pela espécie quando presentes nos alimentos (HENNEKINNE et al., 2012). A toxina estafilocócica é termoestável e, portanto, não pode ser inativada por métodos de cocção comumente utilizados. Alimentos que requerem muita Agente etiológico Surtos de DTA N % Salmonella spp. 1660 42,5 Staphylococcus aureus 799 20,5 Escherichia coli 411 10 Bacillus cereus 300 8 Clostridium perfringens 190 5 Outros 553 14 Total 3927 100 23 manipulação e são mantidos em temperaturas favoráveis à multiplicação deste pátogeno são aqueles frequentemente envolvidos em intoxicações estafilocócicas (FORSYTHE, 2002; JAY, 2005). Nos Estados Unidos da América, anualmente, em média 185.000 casos de surtos alimentares envolvem a enterotoxina estafilocócica (MUSTAFA et al., 2009). No Brasil, de acordo com a Secretaria de Vigilância Sanitária foram notificados 799 surtos no período entre 2000 e 2011 (SVS, 2012). Staphylococcus aureus estão frequentemente associados aos casos e surtos de intoxicação alimentar (OMOE et al., 2005), mas outras espécies também produzem enterotoxinas e estão envolvidas em surtos alimentares. Entre esta espécies destacam-se os estafilococos coagulase negativa (ECN): S. intermedius (KHAMBATY et al., 1994; BECKER et al., 2001) e S. hyicus (ADESIYUN et al., 1984; STAMFORD et al., 2006 ). Os ECN envolvem espécies do genêro que foram por muito tempo considerados como não-patogênicas, podendo estabelecer uma relação comensal com seres humanos e animais (FITZGERALD & PENADES, 2008; OTTO, 2010). No entanto, é crescente o envolvimento de espécies como Staphylococcus epidermidis, S. haemolyticus e S. saprophyticus em infecções hospitalares (OTTO, 2009; PIETTE & VERSCHRAEGEN, 2009; MAZZARIOL et al., 2012), bem como S.chromogenes, S. simulans, S. xylosus em infecções de origem animal (TAPONEN et al., 2006; UNAL & CINAR, 2012). Os ECN podem ocorrer tanto no ambiente clínico, como também nos alimentos (CUNHA et al., 2006; EVEN et al., 2010), por isso, também devem ser pesquisados e controlados. A pesquisa de patógenos envolvidos em surtos de DTA é difícil, trabalhosa e não garante a inexistência de outros agentes. Por este motivo, microrganismos indicadores (bactérias aeróbias mesófilas, bolores e leveduras, coliformes, enterococos, enterobactérias e Escherichiacoli) são utilizados para verificar as condições de higiene dos alimentos, manipuladores de alimentos, utensílios e ambientes dos serviços de alimentação. A presença destes microrganismos sugere falhas nas condições higiênico-sanitárias, assim como a probabilidade da existência de microrganismos patogênicos (SOUSA, 2008). 24 A contagem de bactérias aeróbias mesófilas em alimentos tem sido um dos indicadores de qualidade mais comumente utilizados. Apresentam crescimento ótimo próximo à temperatura corporal (aproximadamente 37 °C) (FERNANDES et al., 2000). A alta contagem destes microrganismos é indicativa da deficiência da qualidade higiênico-sanitária da matéria-prima e da produção ou conservação dos alimentos; assim como da inadequação do processo de limpeza e sanitização das superfícies e das condições de tempo/temperatura durante a produção ou conservação dos alimentos (FRANCO & LANDGRAF, 2003; FORTUNA & FORTUNA, 2008). Além disso, a presença desses microrganismos em altas contagens pode indicar também um perigo potencial da veiculação de patógenos, pois a grande maioria das bactérias patogênicas pertence a este grupo. Mesmo que os patógenos estejam ausentes e que não tenham ocorrido alterações nas condições sensoriais do alimento, um número elevado destes microrganismos indica que o alimento pode ser prejudicial à saúde (FRANCO & LANDGRAF, 2003; SILVA et al., 2007) Os bolores e as leveduras constituem um grande grupo de microrganismos, a maioria originária do solo ou ar. Sua temperatura de crescimento ótima encontra-se na faixa de 25 a 28 °C, não crescendo bem em temperaturas mesófilas (35 a 37 °C) e raramente em temperaturas acima de 45 °C. Os bolores e leveduras são bastante resistentes a condições adversas, como pH ácido e baixa atividade de água (SILVA et al., 2007). A detecção e quantificação de fungos é uma parte essencial da análise microbiológica na avaliação das práticas de higiene, estocagem, processamento e distribuição dos alimentos. A contagem de bolores e leveduras é aplicável principalmente na análise de alimentos ácidos, com pH inferior a 4,5 (HAJDENWURCEL, 1998). Embora a maioria das infecções fúngicas não esteja relacionada ao sistema digestório como sítio de infecção, em indivíduos imunocomprometidos pode ser importante causa de DTA. Segundo Rodrigues (2005) altas contagens de bolores e leveduras indicam má seleção da matéria-prima, deficiência no processamento do alimento e ou na sanitização. 25 Os coliformes são bactérias indicadoras de contaminação fecal e pertencem à família Enterobacteriaceae. As bactérias pertencentes ao grupo são bastonetes Gram-negativos, não produzem a enzima oxidase, não formam esporos, são anaeróbios facultativos, capazes de fermentar a lactose com produção de ácido e gás a 35-37ºC em 24/48 horas e apresentam atividade da enzima β-galactosidase (LE CLERC, 2001). Os principais gêneros são: Escherichia, Citrobacter, Enterobacter e Klebsiella. Na prática os coliformes são divididos em totais e termotolerantes. Cerca de 20 espécies fazem parte do grupo de coliformes totais, sendo elas encontradas em diversos ambientes como: trato gastrointestinal de humanos e outros animais de sangue quente, solos, vegetais e efluentes que contenham matéria orgânica. Os coliformes termotolerantes, anteriormente chamado coliformes fecais, formado por bactérias que podem ser diferenciadas pela capacidade de fermentar a lactose com produção de gás na temperatura de 45 ºC em 24 horas. Dentre as bactérias de habitat reconhecidamente fecal, do grupo dos coliformes termotolerantes, Escherichia coli é a mais conhecida e facilmente diferenciada. Embora também possa ser introduzida em alimentos a partir de fontes não fecais, é o melhor indicador de contaminação fecal conhecido até o momento (LE CLERC, 2001). Estudos têm sido realizados para verificar a presença desses microrganismos nos serviços de alimentação. Andrade et al. (2003) e Kochanski et al. (2009) analisaram o ar ambiente, as mãos dos manipuladores, os equipamentos e utensílios de uma unidade de alimentação e nutrição e Coelho et al. (2010) analisaram o ar ambiente e utensílios de um restaurante comercial e em ambos os estudos foi relatada a existência de bactérias mesófilas, bolores e leveduras e coliformes totais. Estes resultados mostram que estes microrganismos podem ser isolados nos serviços de alimentação, podendo contribuir com os surtos de DTA. Nas últimas décadas, patógenos alimentares como Salmonella, S. aureus, Campylobacter, Escherichia coli, Listeria monocytogenes e Yersinia enterocolitica têm apresentado resistência a antibióticos, o que pode comprometer ao tratamento das DTA graves (WHITE et al., 2002). A maioria das infecções bacterianas de origem alimentar causa processos de diarreia autolimitada e não necessita de tratamento com http://pt.wikipedia.org/wiki/Escherichia http://pt.wikipedia.org/wiki/Citrobacter http://pt.wikipedia.org/wiki/Enterobacter http://pt.wikipedia.org/wiki/Klebsiella 26 antibióticos. Infecções sistemáticas, incluindo bacteremia, ocorrem especialmente nos casos que envolvem pacientes idosos e imunocomprometidos (MENG & DOYLE, 2002). Embora a resistência bacteriana a antimicrobianos seja realizada, na maioria das vezes, em amostras provenientes de infecções relacionadas à assistência à saúde, faz-se necessário a análise de amostras isoladas do ambiente a fim de verificar a possibilidade dessas estirpes servirem como reservatórios de genes codificadores de resistência a antimicrobianos (DÍAZ et al., 2006). 2.2.1 Suscetibilidade dos microrganismos aos antimicrobianos. O aumento da resistência das bactérias aos agentes antimicrobianos se tornou um problema de Saúde Pública. Em várias partes do mundo foram isolados microrganismos que apresentam resistência à maioria dos antimicrobianos conhecidos (OLIVEIRA & SILVA, 2008). Este fato se deve ao uso extensivo e muitas vezes inapropriado dos antibióticos, más condições de higiene, ao fluxo contínuo de viajantes, aumento de pacientes imunocomprometidos, entre outros (VON NUSSBAUM et al., 2006). A administração de antimicrobianos em níveis sub terapêuticos para promover o crescimento mais rápido de animais pode ser outra razão encontrada para acelerar o surgimento de bactérias resistentes aos antimicrobianos. Esta resistência é posteriormente transferida a partir dos animais para seres humanos através da cadeia alimentar, se difundindo no ambiente (WHITE et al., 2002). Os mecanismos de resistência podem ser intrínsecos, adquiridos por mutação genética e aquisição de genes de outros microrganismos, ou uma associação de ambas (FORBES et al. 1998; DZIDIC & BEDEKOVIC, 2003). Os genes para o mecanismo de resistência podem estar localizados no cromossomo ou no plasmídeo. O DNA cromossômico é relativamente estável, enquanto que o plasmidial pode ser facilmente mobilizado de uma estirpe para outra, uma espécie para outra e até mesmo de um gene para outro (JAY, 2005). 27 A conjugação é o mecanismo mais comum pelo qual o gene de resistência é transferido para outro microrganismo. Recentemente, foi delineado um novo modelo conhecido como transposon, que conseguem transportar porções de plasmídeos (JAY, 2005). Os mecanismos de ação e de resistência de cada classe de antimicrobiano estão descritos no Quadro 2. Classe de antimicrobianos Mecanismo de ação Mecanismos de resistência Aminoglicosídeos: Amicacina; Canamicina; Estreptomicina Gentamicina; Netilmicina Tobramicina. Inibem a síntese proteica, fixando- se à subunidade ribossomal 30S Alterações enzimáticas; redução da captação da droga pela célula devido à perda de proteínas porinas; Alvos da célula bacteriana alterados por mutação. β-lactâmicos: Cefalotina; Cefotetan; Ceftazidima eCefepime. Inibem a síntese da parede celular, fixando-se às proteínas ligadoras de penicilina, impedindo a produção de peptideoglicanos. Destruição enzimática por β-lactamases; Alvos da célula bacteriana alterados por mutação; Redução da captação da droga pela célula devido à perda de proteínas porinas. Fenicóis: Cloranfenicol Inibe a síntese proteica, fixando- se à Subunidade ribosomal 50S. Alterações enzimáticas; Diminuição da captação da droga pela célula devido à perda de proteínas porinas. Fluoroquinolonas:Ciprofloxacina; Norfloxacina; Ofloxacin. Inibem a síntese de DNA, fixando- se às DNA- girases. Diminuição da captação da droga pela célula devido à perda de proteínas porinas; Fontes: FORBES et al 1998; KONEMAN et al. 2001. Quadro 2: Principais classes de antimicrobianos e seus, respectivos, mecanismos de ação e de resistência bacteriana. 28 Classe de antimicrobianos Mecanismo de ação Mecanismos de resistência Glicopeptídeos: Vancomicina Inibem a síntese da parede celular. Interagem com precursores e impedem sua incorporação à nova parede celular. Alvos da célula bacteriana alterados por mutação. Macrolídeos, Lincosamidas e Streptogramina (grupo MLS): Azitromicina; Claritromicina; Clindamicina e Eritromicina Inibem a síntese proteica, fixando- se à Subunidade ribossomal 50S. Alterações enzimáticas; Alvo ribossomal alterado; Sistema de efluxo da droga pela célula, reduzindo sua concentração intracelular. Sulfonamidas Interferem na via do ácido fólico. Alteração de alvos enzimáticos. Tetraciclinas Inibem a síntese proteica, fixando- se à subunidade ribossomal 30S Sistema de efluxo da droga pela célula, diminuindo sua concentração intracelular; Inativação enzimática; Alvo ribossomal alterado. Inibidores da via Folato: Trimetoprim Interferem na via do ácido fólico, fixando-se à enzima diidrofolato- redutase. Alteração de alvos enzimáticos. Fontes: FORBES et al 1998; KONEMAN et al. 2001. Continuação Quadro 2: Principais classes de antimicrobianos e seus, respectivos, mecanismos de ação e de resistência bacteriana. 29 Nas últimas décadas, a resistência a antimicrobianos β-lactâmicos tem sido cada vez mais relatada. Em patógenos Gram-negativos, as β-lactamases continuam sendo o fator mais importante que contribui para a resistência a β- lactâmicos, e a sua prevalência é crescente, bem como a sua evolução alarmante parece estar diretamente relacionada com a utilização clínica de novas sub-classes de β-lactâmicos (MEDEIROS, 1997; VON NUSSBAUM et al., 2006). As β-lactamases são enzimas bacterianas capazes de clivar o anel β- lactâmico, alterando a estrutura do antimicrobiano, que não consegue se ligar efetivamente às proteínas ligadoras de penicilina (PBP), o que permite que a síntese da parede celular bacteriana continue normalmente (FORBES et al., 1998). Algumas β-lactamases podem ser codificadas pelo cromossomo, de forma constitutiva ou induzível e outras por plasmídeos, sendo estes também portadores de genes para resistência a outros agentes antimicrobianos, tais como aminoglicosídeos, tetraciclinas, sulfonamidas e cloranfenicol (PATERSON, 2000; HARADA et al., 2008). As β-lactamases de Espectro Estendido (ESBL) são, por definição, enzimas da classe molecular A ou D (classificação de Ambler), ou das classes 2be ou 2d (classificação de Bush, Jacoby e Medeiros), possuem sítio de ação contendo o aminoácido serina como resíduo catalítico principal, e têm a capacidade de hidrolisar penicilinas, cefalosporinas de primeira, segunda e terceira gerações e monobactâmicos, mas não cefamicinas ou carbapenemas. Além disso, são inibidas por inibidores de β-lactamases, como o ácido clavulânico ou tazobactam (STÜRENBURG & MACK, 2003; PFALLER & SEGRETI, 2006). As ESBL e seus precursores têm localização plasmidial, porém podem ter sido originadas nos cromossomos. Os plasmídeos que carregam os genes codificadores das ESBL podem carrear também determinantes de resistência a outros microbianos (BRADFORD 2001; GNIADKOWSKI, 2001; COQUE et al., 2002; HERNÁNDEZ et al., 2003; SAMAHA-KFOURY & ARAJ, 2003). Mesa et al. (2006) relataram a presença de estirpes de enterobactérias (K. pneumoneae, E. coli, K. oxytoca) produtoras de ESBL nos animais, fezes 30 humanas, salada de cenoura com tomates e alimentos cozidos, sugerindo disseminação dessas resistência. A resistência aos antimicrobianos também foi verificada em estirpes de S. aureus. A resistência é muitas vezes adquirida por transferência horizontal, apesar da mutação cromossômica e da seleção de estirpes pela utilização de antimicrobianos também apresentarem um papel importante no aparecimento de estirpes resistentes (CHAMBERS & DELEO, 2009). Um importante mecanismo para resistência de estirpes de Staphylococcus aos antibióticos β-lactâmicos é uma alteração nas proteínas de ligação à penicilina, de modo que o antibiótico não tenha mais acesso ao seu alvo de ação, a cadeia de peptideoglicano em crescimento. Em S. aureus, esse mecanismo de resistência se dá pela produção de uma variante da proteína de ligação a penicilina 2 (PBP 2) que é designada PBP 2a, codificada pelo gene mecA, e que confere resistência à meticilina (KONEMAN et al., 2001). O gene mecA está localizado em um elemento genético móvel denominado de staphylococcal cassete chromosome mec (SCCmec) e é encontrado tanto em MRSA (methicillin resistant Staphylococcus aureus) como em MRS (methicillin resistant Staphylococcus). A resistência a meticilina é considerada o maior desafio atual, sendo MRSA altamente prevalente em vários países do mundo, com taxas que muitas vezes ultrapassam 40% dos isolados de S. aureus (ROSSOLINI et al., 2010). Os estafilococos coagulase negativa (ECN) são responsáveis por infecções, principalmente, em indivíduos imunocomprometidos. Além disso, tem sido observada uma grande proporção de estirpes hospitalares desses microrganismos resistentes à maioria dos antimicrobianos disponíveis. Esse fato faz com que as infecções por ECN sejam difíceis de ser tratadas (WIDERSTRÖM et al., 2012). Estudo realizado por Rogers et al. (2009) revelou que as estirpes nosocomiais de ECN geralmente possuem o gene mecA, que causa resistência à meticilina e a outros antibióticos β-lactâmicos, como também a uma variedade de outras classes de antimicrobianos. A presença de estirpes de Staphylococcus aureus e ECN resistentes à meticilina em sashimi foi verificado em estudo realizado por Hammada et al. (2012), no Japão. Os autores relataram que o sashimi pode ser um veículo de 31 transmissão de estirpes de Staphylococcus multirresistentes e ressaltaram a importância desse resultado, uma vez que trata-se de um alimento composto de peixe (salmão, atum ou haddock) e é consumido cru por grande parte da população japonesa. Segundo Kluytmans (2010), existem evidências de que estirpes de Staphylococcus aureus meticilina resistente (MRSA) estão atualmente presentes em alimentos, especialmente em carnes, e que isso representa um risco potencial para a saúde humana. Não resta dúvida de que o risco principal resultante da presença de Staphylococcus aureus em alimentos é o desenvolvimento de intoxicação alimentar. Entretanto, independente desse fato, fatores de risco relacionados à ingestão de alimentos contaminados por MRSA estão relacionados ao desenvolvimento de doença invasiva após essa ingestão e há possibilidade dos alimentos serem contaminados por estirpes de MRSA durante o processamento ou consumo. Considerando que a resistência bacteriana aos antimicrobianos é um problema de saúde pública, algumas estratégias deveriam ser adotadas a fim de evitar o desenvolvimento dessas resistênciascomo: o uso racional de antibióticos, desenvolvimento de novos antibióticos e o controle e prevenção da disseminação de microrganismos resistentes (DZIDIC et al., 2008). Dada a importância da disseminação de agentes patogênicos resistentes ou não a antimicrobianos, medidas efetivas para o controle higiênico-sanitário de serviços de alimentação devem ser adotadas, a fim de evitar danos à saúde pública. 2.3 Monitoramento das condições higiênico-sanitárias de serviços de alimentação. Os procedimentos de higienização visam o controle dos microrganismos patogênicos ou indicadores no ambiente e superfícies, garantindo a qualidade e inocuidade dos alimentos (ICMSF, 1997). O contato dos alimentos com superfícies contaminadas é um dos principais fatores que determinam a ocorrência de surtos de DTA (OMS, 2006). Resíduos alimentares que não forem removidos eficazmente das superfícies, associados à umidade ou presença de água sobre as mesmas representam fontes de nutrientes para os 32 microrganismos, propiciando a multiplicação destes e, consequentemente o aumento da contaminação (SILVA JR, 2007; ICMSF, 1997). A higienização divide-se em duas etapas: limpeza e desinfecção (BRASIL, 2004). A limpeza se refere à operação de remoção de resíduos orgânicos e minerais aderidos à superfície, constituídos principalmente por proteínas, gorduras e sais minerais. A desinfecção é a operação de redução, por método físico e/ou agente químico, do número de microrganismos a níveis seguros do ponto de vista higiênico-sanitário. Dentre os métodos físicos destaca-se o emprego do calor, nas formas de água quente, vapor e a radiação ultravioleta. No caso de utilização de métodos químicos, têm-se os produtos de limpeza e desinfecção como os - detergentes e desinfetantes, que são denominados saneantes domissanitários, produtos aplicados a ambientes domésticos e coletivos e que são regulamentados pelo Ministério da Saúde, através da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (BRASIL, 2001). Os desinfetantes são capazes de eliminar, em curto espaço de tempo, os microrganismos patogênicos presentes nos objetos e superfícies inanimadas, no entanto os desinfetantes não eliminam esporos bacterianos, que são mais resistentes (BRASIL, 2007). Para que procedimentos de higienização sejam eficazes é fundamental a escolha correta dos agentes de limpeza e desinfecção. Estes produtos devem ser escolhidos considerando os seguintes aspectos: uso autorizado pela legislação, grau de toxicidade, poder corrosivo e o efeito residual sobre os alimentos e meio ambiente (ROSSONI & GAYLARDE, 2000). Também deve ser considerado o tipo e grau dos resíduos aderidos às superfícies, a qualidade da água empregada, a natureza da superfície a ser higienizada, os métodos de higienização aplicados e os tipos e níveis de contaminação microbiológica (ANDRADE, 2008; QUARENTEI et al., 2008). Para que os agentes de limpeza e desinfecção atinjam a sua eficácia a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 216/2004, recomenda que a diluição dos produtos de limpeza, o tempo de contato com a superfície a ser higienizada, assim como o modo de uso e aplicação devem obedecer às instruções recomendadas pelo fabricante (BRASIL, 2004). 33 Há diferentes tipos de desinfetantes que podem ser utilizados em indústria alimentícia e afins, ou seja, produtos químicos destinados a locais que produzem, elaboram, fracionam ou manipulam alimentos (BRASIL, 2007). De acordo com a Portaria 15/1988, os princípios ativos autorizados são: quaternário de amônio, compostos inorgânicos liberadores de cloro ativo, iodo e derivados, álcoois e biguanidas (BRASIL, 1988). No Quadro 3, estão relacionadas as principais propriedades de cada desinfetante e no Quadro 4 estão relacionados os desinfetantes e ação contra os microrganismos. Propriedades Princípios ativos Cloro Iodóforos Surfactante catiônico Surfactante ácido Aniônico Corrosão Sim Levemente Não Levemente Irritabilidade a tecidos humanos Sim Sim, em algumas Não Sim Incompatibilidade Metais leves, fenóis e aminas Amido, prata Madeira, roupa de naylon Detergente alcalino e surfactante aniônico Estabilidade em soluções Volatilização rápida Volatilizaç ão lenta Estável Estável Estabilidade em soluções aquecidas acima de 66ºC Instável Estável acima de 45ºC Estável Estável Efetividade em pH neutro Sim Não Sim Não Concentração máxima permitida pelo USDA e FDA 200ppm 25ppm 200ppm _ Fonte: SHAPTON,1991 Quadro 3: Propriedades dos diferentes princípios ativos utilizados em desinfetantes comerciais. 34 Microrganismos Princípios ativos Cloro Iodóforos Surfactante catiônico Surfactante ácido Aniônico Bactérias Gram positivas (láticas, clostridios, Bacillus, Staphylococcus) Boa Boa Boa Boa Bactérias Gram negativas (E. coli, Salmonella, psicrotróficos) Boa Boa Pobre Boa Esporos Boa Pobre Regular Regular Bacteriófagos Boa Boa Pobre Pobre Adaptado de SHAPTON (1991) Quadro 4: Ação dos princípios ativos frente aos principais microrganismos. O cloro e suas várias formas (cloro líquido, hipocloritos, compostos clorados orgânicos e inorgânicos), provavelmente, são os compostos mais utilizados para a desinfecção em indústrias de alimentos e serviços de alimentação. Apresentam baixo custo e amplo espectro germicida, devido à sua ação sobre a membrana celular, inibição de enzimas envolvidas no metabolismo da glicose, danos no DNA e oxidação de proteínas celulares (SCHMIDT, 2003). A quantidade de cloro livre que estará presente na solução dependerá do pH. Em pH igual a 8,0, cerca de 22% do cloro está na forma ativa, enquanto que, em pH igual a 6,0, cerca de 96% do cloro estará na forma ativa (SOUZA & DANIEL, 2005). O Food and Drug Administration (FDA) recomenda a utilização de cloro líquido e hipoclorito de sódio nas concentrações entre 50 a 200ppm, com tempo de contato de 1 a 2 minutos para superfícies e equipamentos (FDA, 2001). Concentrações entre 100 e 200 ppm têm sido recomendadas para desinfecção de utensílios e equipamentos no Brasil (ANDRADE, 2008). Os álcoois como o etanol à 70% (vol/vol) apresentam atividade antimicrobiana devido à sua capacidade de desnaturar proteínas e por serem 35 solventes de lipídeos, provocando lesões na membrana citoplasmática. São agentes altamente desidratantes em concentrações muito elevadas, podendo retirar grandes quantidades de água das células microbianas, fato que vai impedir a entrada do álcool na célula e afetar sua atividade germicida. Nessas condições, as soluções alcoólicas apresentam apenas efeito bacteriostático. Por isso, recomenda-se o uso de soluções contendo no máximo 70% de álcool etílico, para minimizar seu efeito desidratante (ANDRADE, 2008). O álcool etílico apresenta maior utilização como agente sanificante nos serviços de alimentação, particularmente na desinfecção de mãos de manipuladores e de algumas superfícies. Pode ser usado individualmente ou em formulações, como por exemplo, com iodo. A concentração de 70% é mais usada, apresentando uma boa ação sobre formas vegetativas, mas não contra esporos bacterianos (ANDRADE, 2008). Os quaternários de amônio são surfactantes catiônicos ativos em uma ampla faixa de temperatura e apresentam melhor atividade em pH alcalino, não tendo efeito corrosivo sobre superfícies (SCHMIDT, 2003). São amplamente utilizados como antissépticos e desinfetantes (MCDONNEL & RUSSELL, 1999). Sua ação se dá pela atração por materiais carregados negativamente ou estruturas como as proteínas bacterianas (SCHMIDT, 2003). Estudos realizados por Coelho et al. (2010), Veiros et al. (2009); Aycicek et al. (2006); Kassa et al. (2001), relacionados à avaliação das condições higiênico-sanitáriasde serviços de alimentação evidenciaram a presença de microrganismos sobre as superfícies analisadas revelando inadequações com relação aos procedimentos de higienização, reforçando a importância da efetividade do procedimento empregado para a saúde do consumidor. Patógenos alimentares que sobrevivem aos processos de desinfecção empregados nos serviços de alimentação podem ocasionar graves problemas de saúde pública (MACHADO et al., 2009). Por isso, é necessário monitorar as condições higiênico-sanitárias dos serviços de alimentação, a fim de verificar se os procedimentos de higienização estão sendo eficazes. De acordo com o Conselho Nacional de Segurança Alimentar (CONSEA, 1994) segurança alimentar consiste na realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos com qualidade nutricional, higiênico-sanitária 36 e em quantidades adequadas para saudável reprodução do organismo humano e existência digna, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais. Para Oliveira et al. (2008) a oferta de refeições dentro dos padrões higiênicos-sanitários é uma das condições essenciais para promoção, manutenção da saúde e prevenção das DTA. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) estabelece normas e procedimentos de boas práticas que devem ser adotados pelos Serviços de Alimentação, a fim de reduzir o risco de contaminação e os surtos de DTA. O monitoramento da adoção dos procedimentos de boas práticas pode ser realizado por métodos não experimentais como: inspeções visuais, a partir da aplicação de roteiros de avaliação das condições higiênico-sanitárias e por métodos experimentais relacionados às análises microbiológicas. 2.3.1 Roteiros de Avaliação das condições higiênico-sanitária de serviços de alimentação. Para avaliação da adoção das boas práticas em serviços de alimentação é comum a utilização de roteiros de inspeção, também denominados check list ou lista de inspeção. O roteiro é um instrumento que pode ser utilizado para verificação, avaliação e monitoramento de serviços de alimentação com relação à legislação vigente (VEIROS et al., 2007). Os roteiros apresentam como vantagens o baixo custo e a facilidade de utilização. Além disso, reúnem os principais tópicos legalmente exigidos e podem ser aplicados de forma sistemática e concisa, permitindo identificar e assinalar os itens que estão ou não em conformidade com a legislação sanitária (VEIROS et al., 2007). Estes instrumentos propiciam a análise detalhada do processo produtivo de refeições e dos procedimentos higiênico-sanitários adotados (VEIROS et al., 2009). Na literatura há alguns roteiros disponíveis como os sugeridos pela Legislação sanitária: CVS 5/2013 e RDC 275/2002, e por alguns autores como Akutsu et al. (2005), Kassa et al. (2001), Mallon & Bortolozo (2004), Tomich et al. (2005), Tancredi et al. (2006) e Saccol (2009) que têm sido aplicados nos 37 serviços de alimentação a fim de fornecer diagnóstico higiênico-sanitário do estabelecimento avaliado. A partir da utilização de roteiro de inspeção sanitária em cinco creches Oliveira et al. (2008) relataram não conformidades com relação a higiene dos manipuladores, ao funcionamento e estrutura-física da cozinha. Poerner et al. (2009) também identificaram não conformidades nos serviços de alimentação localizados em Santa Rosa/RS, após a aplicação do check list. Machado et al. (2009) aplicaram o roteiro em Serviços de Alimentação de Organizações Não Governamentais (ONG) de Toledo/PR, sendo identificadas não conformidades na estrutura física e instalações, equipamentos, móveis e utensílios e na produção de refeições, o que facilitou a adoção de medidas corretivas. Conforme observado nos estudos supracitados, os roteiros de inspeção sanitária auxiliam na avaliação do serviço de alimentação, no entanto até o momento não foi observada a existência de estudos que tratassem da validação de conteúdo de instrumentos para avaliação das condições higiênico- sanitárias de serviços de alimentação. A validação do instrumento é realizada para verificar se os resultados de uma aferição se aproximam do estado verdadeiro dos fenômenos que estão sendo medidos (PASQUALI, 2009). Para Pasquali (2009) a validação pode ser classificada em: critério, constructo e conteúdo. A validação de critério é realizada pela comparação de um instrumento de medição com um critério externo, que representa o padrão (HAYNES et al., 1995). Também chamada de preditiva ou concorrente, refere- se ao grau de correlação entre os escores de um teste e outras medidas do desempenho (critério) obtidas independentemente ou simultaneamente ao teste. Quando o instrumento e o critério são aplicados simultaneamente, tem- se validade concorrente; quando o critério é avaliado no futuro, refere-se como validade preditiva (RAYMUNDO, 2009). A validação de construto examina a definição e operacionalização de variáveis que se encontram o mais próximo do significado teórico do conceito. Um construto é a percepção formada a partir da relação entre as cognições e variáveis observáveis. Refere-se à demonstração de que o instrumento realmente mede aquilo a que se propõe medir. As evidências necessárias para esse tipo de validação são obtidas a partir de uma série de estudos inter- 38 relacionados, através de testes estatísticos, das construções teóricas sobre a relação entre as variáveis a serem medidas (RAYMUNDO, 2009). A validação de conteúdo reflete a capacidade do instrumento em medir um conjunto de comportamentos relacionados entre si e que estão associados ao que está sendo medido (SOUSA & TURRINI, 2012). Esta também avalia o grau em que cada elemento de um instrumento de medida é relevante e representativo de um específico constructo com um propósito particular de avaliação (DINI & GUIARDELLO, 2013). Ainda, a avaliação resulta do julgamento de diferentes examinadores especialistas, que analisam a representatividade dos itens em relação às áreas de conteúdo e à relevância dos objetivos a medir (RAYMUNDO, 2009). Alguns instrumentos tiveram seu conteúdo validado conforme observado nos estudos realizados por Almeida et al. (2009) que validaram um instrumento para classificação do idoso quanto a capacidade de autocuidado; Sousa & Turrimi (2012) que validaram material educativo para pacientes submetidos à cirurgia ortognática e Dini & Guirardello (2013) que validaram um instrumento para avaliação de pacientes pediátricos. Alguns estudos da prática clínica utilizaram a Técnica Delphi para validação do conteúdo de seus instrumentos (ALMEIDA et al., 2009; DINI & GUIARDELLO, 2013) Essa técnica está baseada na reunião de especialistas para buscar o consenso sobre determinado assunto a partir de uma sequencia de rodadas com feedback controlado, sendo a única forma de comunicação entre os especialistas (LINSTONE & TUROFF, 1975). O anonimato dos especialistas é mantido, favorecendo a expressão de opinião precisa, sem interferência (ROWE et al., 1991). A necessidade de longo periodo de tempo para aplicação da técnica, pode desencorajar a participação dos especialistas (WILLIAMS & WEBB, 1994). No entanto a técnica Delphi, é uma estratégia apropriada para estabelecer a validade de conteúdo de instrumentos, pois permite analisar, de forma sistemática, as opiniões dos especialistas (FARO, 1997). Um instrumento, mesmo tendo seu conteúdo validado, deve ser reprodutível sendo o teste de confiabilidade um critério utilizado. Este teste se baseia na verificação do grau de correspondência entre avaliações independentes (GIOVANNETTI, 1979). A confiabilidade fornece fidedignidade 39 ao instrumento de medida, que apresenta resultados consistentes daquilo que pretende medir, sendo a condição necessária para a validade (RAYMUNDO, 2009). A confiabilidade interavaliadores(interrater reliability) pode ser estimada, possibilitando a verificação do grau de correspondência entre as avaliações independentes de dois ou mais profissionais que classificam e avaliam uma mesma situação, utilizando o mesmo instrumento de classificação (WHITNEY & KILLIEN,1978). A validação de instrumentos para o controle da qualidade higiênico- sanitária de serviços de alimentação é útil e importante para auxiliar tanto aos gestores dos serviços de alimentação com aos profissionais da área na implantação das boas praticas de manipulação conforme prevê a legislação vigente. O uso de roteiro quando associado às análises microbiológicas dos alimentos, superfícies, equipamentos e manipuladores complementam, comprovam e asseguram o nível higiênico-sanitário do serviço de alimentação avaliado (TEBBUTT, 2007). 2.3.2 Análises microbiológicas em serviços de alimentação No serviço de alimentação a avaliação microbiológica fornece informações importantes, que auxiliam na detecção de fontes de contaminação e na eficiência dos processos de higienização adotados (ANDRADE et al., 2003) Em serviços de alimentação, o crescimento de microrganismos patogênicos está associado à presença de umidade e material orgânico sobre as superfícies que entram contato com alimentos e ao processo de higienização inadequado (ZOTTOLA & SASAHARA, 1994; EVANCHO et al., 2001; MOORE & GRIFFITH, 2002; ANDRADE, 2008; DOMÉNECH-SÁNCHEZ et al., 2011). A higienização deficiente de equipamentos e utensílios tem sido relatada como responsável, isoladamente ou associada a outros fatores, por surtos de DTA (DOMÉNECH-SÁNCHEZ et al., 2011). 40 A análise microbiológica das superfícies pode auxiliar na avaliação do processo de higienização bem como na definição da frequência e na identificação das fontes de contaminação (EVANCHO et al., 2001). Diversos autores (KASSA et al., 2001; SAGGO et al., 2003; SOUZA et al., 2004; LELES et al., 2005; STASKEL et al., 2007) têm realizado análises microbiológicas das superfícies que entram em contato com alimentos em serviços de alimentação. De forma geral, foram analisadas as superfícies de equipamentos (mesa de preparo, moedor de carne, fatiador de carne, placa de corte); da estrutura-física (torneira da pia e da maçaneta de freezeres e refrigeradores) e dos utensílios (garfos, facas e pratos). Alguns identificaram a presença de microrganismos patogênicos como: Bacillus cereus, Staphylococcus aureus, Escherichia coli e outros sobre as superfícies analisadas, apontando a necessidade do controle do processo de higienização das superfícies (COELHO et al., 2010). Diferentes técnicas de amostragem das superfícies podem ser aplicadas como: a) remoção de microrganismos por contato direto; b) técnica de lavagem das superfícies; c) técnica do “swab”; d) métodos rápidos, que detectam resíduos de matéria orgânica e microrganismos oriundos de uma limpeza deficiente como adenosina trifosfato (ATP) bioluminêscencia. As placas de contato RODAC® (Replicate Organism Direct Agar Contact) são utilizadas na metodologia de contato direto, por ter sua superfície com meio de cultura em relevo, permitindo o contato (por pressão) com a superfície a ser testada. O método de aplicação é simples, rápido e tem boa precisão, porém são difíceis de ser utilizadas em superfícies úmidas, ásperas ou irregulares e com contagens de microrganismos muito altas (KORNACKI, 2010). A técnica de lavagem de superfícies consiste na lavagem, com líquido estéril, que é agitado mecanicamente ou manualmente sobre a superfície. O líquido coletado é então diluído e semeado nas superfícies de meios de cultura para determinar a carga microbiana presente. O método pode ser empregado em utensílios e equipamentos côncavos, mas não é adequado para superfícies de grandes equipamentos. O método de lavagem é mais preciso e exato que a técnica do “swab”, pois toda a superfície é amostrada (EVANCHO et al., 2001) 41 A técnica do “swab” consiste na remoção de microrganismos de uma área demarcada da superfície através de fricção com “swab” estéril umedecido em uma solução. Em seguida, o “swab” é colocado em solução de diluição e desta é feito o plaqueamento em meio de cultura para contagem de microrganismos. Essa técnica possui como vantagem a capacidade de ser empregada em superfícies com irregularidades, além de ser simples e rápida. Ainda hoje ela tem se mostrado uma importante ferramenta na validação de limpeza em diversas áreas, como na indústria de alimentos (KORNACKI, 2010). Entre as técnicas de detecção rápida, podemos encontrar o sistema de ATP-bioluminescência. Nessa técnica, as moléculas de ATP presentes na superfície reagem com o complexo enzimático luciferina-luciferase e a reação irá emitir uma intensidade de luz, que é expressa em URL (Unidade Relativa de Luz) (COSTA et al., 2004). A rapidez da leitura dos resultados do método de ATP-bioluminescência é uma das principais vantagens para sua aplicação (OLIVEIRA et al.,1998). Para escolher a técnica mais adequada alguns critérios devem ser considerados como: o objetivo do teste, a composição das superfícies a serem analisadas, assim como o nível e o tipo de contaminação que pode ser encontrada sobre a superfície (ANGELOTTI et al.,1964; FAVERO et al., 1968; FLISS et al., 1991). Além disso, as vantagens e desvantagens de cada técnica devem ser consideradas. O Quadro 5 apresenta as vantagens e desvantagens de cada técnica de análise microbiológica de superfície. 42 Técnica de análise de superfície Vantagens Desvantagens Lavagem superficial - Maior precisão que o swab e a placa de contato, pois toda a superfície pode ser imersa ou lavada na solução estéril. - Não pode ser utilizada em superfícies grandes e/ou fixas; - O contaminante pode não ser solúvel na solução de lavagem ou pode estar ocluído na superfície. Contato com esponjas de celulose - Tende a capturar mais microrganismos da superfície do que a técnica do swab. - Boa sensibilidade em superfície seca. - Em superfície úmida, tem limite de detecção mais baixo do que o swab teste e a placa de contato. Esfregaço em superfície com Swab - Facilidade de aplicação. - Baixo custo. - Pode ser utilizado em superfícies irregulares de difícil acesso para a higienização. - Muito subjetiva. - Dificuldade no controle do ângulo, do grau da pressão empregado e a umidade da cabeça do swab, podendo influenciar na determinação do resultado. Placas de contato em ágar do tipo “RODAC” - Simplicidade e facilidade na aplicação. - Maior precisão que o swab. - Não é possível realizar diluições. - Só deve ser utilizada em superfícies limpas, planas e lisas, caso contrário pode haver super crescimento de microrganismos, o que inviabilizará a contagem. - Não é recomendado o uso em superfícies rugosas, porosas e de difícil acesso. Fonte: FAVERO et al., 1968; EVANCHO et al., 2001; FORSYTHE, 2002; AYCICEK et al., 2006 e MOORE & GRIFFITH, 2007, GLASEL 2011. Quadro 5: Relação das vantagens e desvantagens de cada técnica de análise microbiológica de superfície. A legislação brasileira não estabelece critérios de padrão microbiológico para as superfícies em ambientes processadores de alimentos. Por esse motivo, os resultados obtidos com o monitoramento de superfícies são normalmente comparados às especificações propostas por órgãos oficiais ou entidades científicas, como a American Public Health Association (APHA) e à Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) (ANDRADE et al., 2003). Nos Quadros 6 e 7 estão descritos os padrões microbiológicos sugeridos por alguns 43 autores para avaliar as condições higiênico-sanitárias de equipamentos e utensílios. Microrganismos Critério (UFC/cm²)2 Referência Bactérias mesófilas ≤ 2 (satisfatório)
Compartilhar