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Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Física Processos multieletrônicos em colisões de partículas carregadas e fótons com moléculas de interesse atmosférico. Anderson Herbert de Abreu Gomes Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Física, Instituto de Física, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Ciências (Física). Orientador: Antonio Carlos Fontes dos Santos. Rio de Janeiro Agosto de 2014 II III IV Resumo Processos Multieletrônicos em Moléculas de Interesse Atmosféricos Anderson Herbert de Abreu Gomes Orientador: Antonio Carlos Fontes dos Santos Resumo da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-graduação em Física, Instituto de Física, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Ciências (Física). A Terra é constantemente bombardeada por radiação proveniente do resto do Universo. Esta radiação é composta principalmente por fótons, elétrons, prótons, partículas alfa e elementos mais pesados, como oxigênio. Por outro lado, a industrialização tem gerado uma contaminação da atmosfera por diversos gases sintéticos que podem reagir com agentes ionizantes e gerar reações químicas na atmosfera. Entre estes gases os mais conhecidos são os clorofluorcarbonos (CFCs), que causaram grandes danos à camada de ozônio. De modo a estudar a interação da radiação ionizante com moléculas de interesse atmosférico, foram realizadas medidas das seções de choque absolutas para os processos de perda e captura eletrônica e rendimento iônico parcial para colisões entre feixes de O + e O 2+ com as moléculas CF2Cl2, CHClF2 e SF6. Foram realizadas também medidas de fragmentação molecular induzida por fótons de EUV e raios – X. Os modelos semi-clássicos de Bohr-Lindard e free-collision classical- impulse foram utilizados para descrever a dependência das seções de choque com a velocidade do projétil. Uma comparação entre os rendimentos iônicos parciais induzidos por fótons e por partículas carregadas foi realizada na perspectiva do modelo de momento transferido pelo projétil para a molécula durante a colisão. No caso da molécula de SF6, foi observada uma fragmentação molecular mais significativa numa transição opticamente proibida. A razão deste efeito foi verificada através que cálculos dos modos vibracionais da molécula, demonstrando que a fragmentação da molécula nesta energia se deve a ressonâncias vibracionais. Palavras chaves: colisões atômicas e moleculares, física atômica, física molecular, fotofragmentação, clorofluorcarbonos, camada de ozônio, efeito estufa, Freon. Rio de Janeiro Outubro de 2014 V Abstract Multielectronic Processes in Interesting Atmosphere Molecules. Anderson Herbert de Abreu Gomes Orientador: Antonio Carlos Fontes dos Santos Abstract da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-graduação em Física, Instituto de Física, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Ciências (Física). Earth is constantly bombarded by energetic particles coming from the outer space. This radiation is mainly composed by photons, electrons, protons, alpha particles and heavier elements, like oxygen. On the other hand, the industrialization has induced atmospheric contamination by several synthetic gases that can react with ionizing agents and generate chemical reactions on the atmosphere. Between these gases the chlorofluorocarbons (CFCs) are largely known, and have damaged the ozone layer. Aiming to study the interaction between ionizing radiation and molecules of atmospheric interest, absolute cross sections measurements for the projectile electron loss and electron capture channels have been perfomed. In addition, the partial ion yield of the recoil moieties for collisions of O + and O +2 beams with CF2Cl2, CHClF2 and SF6 molecules, and fragmentation inducted for EUV and x-rays photons were also studied. The semi-classical models of Bohr-Lindhar and free-collision classical impulse were used to describe the dependence of the cross section with the projectile speed. A comparison between the partial ionic yields induced by photons and by charged particles has been done using the momentum transfer picture. In the case of the SF6 molecule, it was observed a strong molecular fragmentation after an optically-forbidden transition in the deep core region. The reason of this effect was verified with calculations of molecular vibrational modes, suggesting that the molecular fragmentation takes place due to vibrational couplings. Key-words: atomic and molecular collisions, atomic physics, molecular physics, photo fragmentation, chlorofluorocarbons, ozone layer, global heating, Freon. Rio de Janeiro October 2014 VI Agradecimentos Aos meus pais, Terezinha de Abreu Gomes e Leonardo Herbert Gomes da Silva pela educação, apoio e carinho sem os quais não teria chegado até aqui; À minha irmã, Gabriela Maria de Abreu Gomes, pelo amor e carinho que tornam minha vida mais feliz. Ao meu orientador, Antonio Carlos Fontes dos Santos, pela pessoa maravilhosa que é, com toda paciência e dedicação para ensinar, que me fizeram crescer e aprender, e pela amizade que fez destes anos de trabalho tempos muito mais agradáveis. Expresso aqui minha eterna gratidão, admiração e respeito por esta pessoa incrível. Aos meus amigos de república, Thiago Moulin, Loloano C. Silva, Gustavo Oliveira e Agmar José, pela grande amizade e por todos bons momentos compartilhados nesses 4 anos de convivência. A todos os professores e alunos do LaCAM, em especial minha amiga Katianne Fernandes de Alcantara, pela amizade e companheirismo em todos esses anos. A todos os amigos da física, em especial aos grandes amigos Guilherme Bastos, Luiz Fernando Santos e Valdir Salustino, pela forte amizade e por todos os bons momentos. Aos meus companheiros de sala, em especial minhas amigas Bárbara Magnani e Camilla Codeço, pela grande amizade e por todas as boas risadas. A todos os professores que fizeram parte da minha formação desde a graduação até aqui, muito obrigado pelos seus ensinamentos. Ao professor Luiz Felipe Souza Coelho, pela ajuda nas correções ortográficas desta tese. A todos os meus amigos que fizeram parte desta jornada, com apoio, companheirismo, e muita diversão. A CAPES pelo apoio financeiro. VII Sumário. Lista de Figuras. ............................................................................................................... X Lista de Tablelas. ........................................................................................................... XV Capítulo 1: Introdução. ..................................................................................................... 1 1.1 Processos multieletrônicos na atmosfera terrestre. ................................................. 1 1.2 Bombardeamento de ventos solares e raios cósmicos na atmosfera terrestre. ........ 3 1.3 Moleculas de Freon ® e processo de degradação da camada de ozônio. ................. 4 1.4 A molécula de hexafluoreto de enxofre e o efeito estufa........................................ 9 Capítulo 2 - Revisão dos modelos teóricos. ................................................................... 13 2.1 Perda eletrônica .................................................................................................... 14 2.2 Ionização. ............................................................................................................. 19 2.3 Captura eletrônica .................................................................................................22 2.4 Fotoionização ....................................................................................................... 26 2.4.1 A força do oscilador ótico .............................................................................. 26 2.4.2 Ionização de camadas internas ....................................................................... 30 2.4.3 Explosão Coulombiana versus dissociação assimétrica. ................................ 32 2.5 Relação entre ionização por partículas carregadas e por fótons. .......................... 33 Capítulo 3: Aparato experimental................................................................................... 36 3.1 Linha experimental do LaCAM. ........................................................................... 36 3.1.1 Medidas de seção de choque absoluta ............................................................ 40 3.1.2 Medidas em coincidência. .............................................................................. 42 3.2 Linhas experimentais SXS e TGM do LNLS. ...................................................... 45 3.2.1 Medidas e tratamento de dados. ..................................................................... 47 3.2.2 Energia cinética de quebra. ............................................................................ 52 Capítulo 4: Seções de choque absolutas de perda e captura eletrônica da colisão de O + e O 2+ com as moléculas CF2Cl2, CHClF2 e SF6. ............................................................... 54 VIII 4.1 Captura Eletrônica de O + e O 2+ em CF2Cl2. ......................................................... 54 4.2 Captura Eletrônica de O + e O 2+ em SF6. ............................................................... 60 4.3 Captura Eletrônica de O + e O 2+ em CHClF2. ........................................................ 63 4.4 Perda Eletrônica de O + e O 2+ em CF2Cl2 . ........................................................... 64 4.5 Perda Eletrônica de O + e O 2+ em SF6 . ................................................................. 67 4.6 Perda Eletrônica de O + e O 2+ em CHClF2 . ......................................................... 69 Capítulo 5: Medidas em coincidência de fragmentação por fótons. .............................. 72 5.1 Fotofragmentação do diclorodifluormetano por fótons na região de valência. .... 72 5.2 Fotofragmentação do Diclorodifluormetano na Borda da Camada K do Cloro. .. 74 5.2.1 Espectro PEPICO: .......................................................................................... 76 5.2.2 Energia cinética de fragmentação (kinetic energy release – KER): ............... 80 5.2.3 Espectro PE2PICO: ........................................................................................ 81 5.2.4 Explosão coulombiana versus localização da partícula carregada. ................ 83 5.2.5 Estado de carga médio.................................................................................... 85 5.3 Fotofragmentação do hexafluoreto de enxofre. .................................................... 87 5.3.1 Abordagem teórica. ........................................................................................ 89 5.3.2 Espectro PEPICO. .......................................................................................... 90 5.3.3 Cálculo da energia do oscilador. .................................................................... 95 5.3.4 Energia cinética de fragmentação. ................................................................. 97 5.3.5 Espectro PE2PICO. ........................................................................................ 98 5.3.6 Explosão coulombiana versus localização da partícula carregada. .............. 100 Capítulo 6: Fragmentação da molécula CF2Cl2 induzida por feixes de oxigênio. ....... 104 6.1 Espectros de fragmentação. ................................................................................ 105 6.2 Fragmentação do CF2Cl2 em coincidência com a captura simples de O + e O 2+ . 107 6.3 Ionização direta de CF2Cl2 por de O + e O 2+ . ....................................................... 110 6.4 Fragmentação de CF2Cl2 em coincidência com a perda eletrônica de O + e O 2+ . 112 6.5 Cálculo da massa média ...................................................................................... 114 IX 6.6 Comparação entre fragmentação por fótons e por oxigênio em função do momento transferido. ................................................................................................ 119 Capítulo 7: Conclusões e perspectivas..........................................................................127 Referências bibliográficas.............................................................................................129 X Lista de Figuras. Figura 1.1: Energia geomagnética de corte em função da latitude (Pereira, 2005). As setas indicam as energias que permitem aos raios cósmicos acessar a estratosfera. A região escura indica o par energia-latitude para os quais os raios cósmicos não podem acessar a atmosfera. .......................................................................................................... 4 Figura 1.2: Estrutura molecular do diclorodifluormetano. ............................................... 5 Figura 2.1: Representação esquemática da interação de um projétil de carga efetiva Z1 com um alvo inicialmente neutro de número atômico efetivo Z2................................... 14 Figura 2.2: Processos de blindagem e antiblindagem no referencial do projétil. ........... 16 Figura 2.3: Geometria para o cálculo de classical impulse approximation.................... 21 Figura 2.4: Esquema ilustrativo do processo de captura eletrônica. .............................. 23 Figura 2.5: Tipos de processo Auger. ............................................................................. 31 Figura 2.6: Esquema simplificado dos níveis de energia em uma molécula diatômica. 32 Figura 2.7: Curvas de energia potencial para um dicátion diatômico YZ 2+ (Price, 2007). ........................................................................................................................................ 33 Figura 3.1: Esquema do ionizador do LaCAM (Santos, 2014). ..................................... 36 Figura 3.2: Imagem de um filtro de Wien e representação das forças atuantes sobre o feixe. ............................................................................................................................... 37 Figura 3.3: O sistema de carregamento Pelletron (Santos, 2014). ................................. 38 Figura 3.4: O acelerador propriamente dito. Na parte de baixa energia (LE) um feixe negativo é acelerado por uma d.d.p igual a VT. Dentro do trocador de carga (stripper) gasoso de N2, parte do feixe troca de carga, perdendo um ou mais elétrons. ................. 38 Figura 3.5: Linha experimental do LaCAM. .................................................................. 39 Figura 3.6: Medida da seção de choque absoluta da captura eletrônica de O + colidindo com CF2Cl2 a 100 keV. .................................................................................................. 42 Figura 3.7: Esquema do TOF do LaCAM. ..................................................................... 43 Figura 3.8: Espectro de fragmentação da colisão de CF2Cl2 com oxigênio duplamente carregado por ionização direta do alvo em energia de 1,5 MeV. ................................... 44 Figura 3.9: Esquema da eletrônica do sistema de coincidência do LaCAM. ................. 45 Figura 3.10: Esquema da linha experimental TGM do LNLS. ...................................... 46 Figura 3.11: Tempo de Voo da câmara usada nos experimentos no LNLS e espectro padrão de argônio. ..........................................................................................................48 XI Figura 3.12: Espectro de fragmentação PEPEPICO da molécula CH2Cl2 fragmentada por fótons de energia 215eV. Os eixos T1 e T2 correspondem à primeira e segunda coincidência, respectivamente. ....................................................................................... 49 Figura 3.13: Correção para coincidência de Cl + com Cl + . .............................................. 50 Figura 4.1: Imagem dos feixes de ionização e perda e captura eletrônica simples e dupla separados na microchanel plate do LaCAM da colisão de O 2+ de 1,5 MeV com CHClF2. ........................................................................................................................................ 55 Figura 4.2: Seções de choque totais de captura eletrônica simples em Mb (e Mb = 10 -18 cm 2 ) em função da velocidade do projétil para colisões de feixes de O + (superios) e O 2+ (inferior) com CF2Cl2. A seta vertical indica a velocidade média dos elétrons do orbital molecular 8b1 da molécula CF2Cl2. As curvas contínuas representam os cálculos da seção de choque no modelo de Bohr-Lindhard. ........................................................ 56 Figura 4.3: Seção de choque de dupla captura eletrônica para colisões de oxigênio simples e duplamente carregado com CF2Cl2. ............................................................... 59 Figura 4.4: Seção de choque total de Captura Eletrônica simples para colisão de oxigênio simples e duplamente carregado com SF6. ...................................................... 61 Figura 4.5: Seção de choque de dupla captura eletrônica da colisão de oxigênio duplamente carregado com SF6. ..................................................................................... 62 Figura 4.6: Medidas da seção de choque de captura eletrônica simples da colisão de oxigênio de carga simples com CHClF2. ........................................................................ 63 Figura 4.7: Seções de choque total de perda eletrônica simples (ionização do projétil) para colisões de oxigênio simples e duplamente carregado com CF2Cl2 em função da velocidade do projétil em unidades atômicas. ................................................................ 66 Figura 4.8: Seção de choque de dupla perda eletrônica para colisão de oxigênio de carga simples com CF2Cl2. ....................................................................................................... 67 Figura 4.9: Seção de choque total de Perda Eletrônica simples para colisão de oxigênio simples e duplamente carregado com SF6. ..................................................................... 68 Figura 4.10: Seção de choque de dupla perda eletrônica da colisão de oxigênio de carga simples com SF6. ............................................................................................................ 69 Figura 4.11: Seção de choque de perda eletrônica simples da colisão de oxigênio simples e duplamente carregado com CHClF2. .............................................................. 70 Figura 5.2: Espectro de massa de fragmentação por fótons para energias específicas. . 75 XII Figura 5.3: Rendimento iônico parcial para alguns fragmentos de CF2Cl2 como função da energia do fóton. Para comparação, o rendimento iônico total foi apresentado (linha cheia vermelha)............................................................................................................... 76 Figura 5.4: Rendimento parcial de alguns fragmentos de CF2Cl2 em função da energia dos fótons. ....................................................................................................................... 77 Figura 5.5: Energia cinética média de fragmentação como função da energia do fóton incidente para alguns foto-íons após a fotoexcitação da camada k do Cl da molécula de CF2Cl2. ............................................................................................................................ 81 Figura 5.6: Rendimento iônico parcial para espectro de fragmentação PE2PICO da molécula CF2Cl2 em função da energia. ......................................................................... 82 Figura 5.7: Comparação entre as contribuições dos caminhos de fragmentação molecular como função da energia do fóton. A linha em azul representa a fotoabsorção total para comparação. .................................................................................................... 85 Figura 5.8: Gráfico superior: Frações de fotoionização simples, dupla e tripla para a molécula de CF2Cl2 em função da energia do fóton. Gráfico inferior: Estado de carga médio para a molécula de CF2Cl2. .................................................................................. 87 Figura 5.9: Estrutura da molécula de SF6 e ressonâncias de excitação da camada K do enxofre (Ferrett, et al., 1986). ......................................................................................... 88 Figura 5.10: Espectro de fragmentação por fótons do SF6 em 2482eV. ........................ 91 Figura 5.11: Rendimento parcial dos principais fragmentos em função da energia do fóton para a fragmentação do SF6. ................................................................................. 93 Figura 5.12: Rendimento parcial (Yield) para alguns fragmentos de SF6 como função da energia. A linha vermelha representa a fotoabsorção total normalizada normalizadas. As linhas azuis representam as ressonâncias. ...................................................................... 94 Figura 5.13: Energia cinética média de fragmentação em função da energia do fóton incidente da fragmentação de SF6. ................................................................................. 97 Figura 5.14: Rendimento parcial (Yield) para dupla coincidência entre alguns fragmentos de SF6 como função da energia. A linha vermelha representa a fotoabsorção total normalizada. As linhas azuis representam as ressonâncias. ................................... 99 Figura 5.15: Comparação entre as contribuições dos caminhos de fragmentação molecular em função da energia para a molécula de SF6 duplamente ionizada. .......... 101 Figura 5.16: Comparação entre as contribuições dos caminhos de fragmentação molecular em função da energia para a molécula de SF6 triplamente ionizada. .......... 102 XIII Figura 5.17: Espectro de massa PE3PICO da fragmentação do SF6 por fótons na energia de 2482eV. .................................................................................................................... 103 Figura 6.1: Espectros de fragmentação por processos de ionização direta, perda e captura eletrônica, da molécula de CF2Cl2 em colisão com feixe O + com energia de 1,0 MeV. ............................................................................................................................. 106 Figura 6.2: Espectros de fragmentação por processos de ionização direta, perda e captura eletrônica, da molécula de CF2Cl2 em colisão com feixe de oxigênio de carga dupla com energia de 1,0 MeV. .................................................................................... 106 Figura 6.4: Rendimento de produção de diversos íons em função da velocidade para ionização na colisão com O + e O +2 em comparação com diversos projéteis de referências [pósitrons (J. Moxom, 2000), prótons (Afrosimov, L L., 2003), elétrons (Lindsay, et al., 2004)] ........................................................................................................................... 111 Figura 6.5: Rendimento de produção de diversos íons em função da velocidade para perda eletrônica na colisão com O+ e O+2 em comparação com diversos projéteis de referências [pósitrons (J. Moxom, 2000), prótons (Afrosimov, et al., 2003), elétrons (Lindsay, et al., 2004)]..................................................................................................113 Figura 6.6: Ionização múltipla em processo de ionização por perda eletrônica. .......... 114 Figura 6.7: Massa média dos fragmentos da molécula CF2Cl2 em função da velocidade do projétil em unidades atômicas. O símbolos cheios representam o projétil O + , enquanto os símbolos vazios representam o projétil O 2+ . Círculos fechados (ionização por O + ), círculos abertos (ionização por O 2+ ), quadrados fechados (captura por O + ), quadrados abertos (captura por O 2+ ), triângulos fechados (perda de O + ), triângulos abertos (perda por O 2+ ) . ............................................................................................... 115 Figura 6.8: Massa média de fragmentos produzidos por processo de ionização direta da colisão da molécula CF2Cl2 com oxigênio simples e duplamente carregado. .............. 117 Figura 6.9: Massa média de fragmentos produzidos por processo de captura eletrônica da colisão da molécula CF2Cl2 com oxigênio simples e duplamente carregado. ......... 118 Figura 6.10: Massa média de fragmentos produzidos por processo de perda eletrônica da colisão da molécula CF2Cl2 com oxigênio simples e duplamente carregado. As linhas pontilhas servem apenas para guiar os olhos. ............................................................... 119 Figura 6.12: Comparação entre momento transferido e rendimento (yield) para a colisão de CF2Cl2 com prótons, oxigênio (perda eletrônica) e fótons. Quadrados cheios pretos: yield da colisão com oxigênio de carga simples; quadrados cheios azuis: oxigênio de XIV carga dupla; linha vermelha: fótons sem filtro; linha amarela: fótons com filtro; linha preta: fótons Suzuki et al (Suzuki, et al., 1994). ........................................................... 123 XV Lista de Tablelas. Tabela 1.1: Níveis de energia da molécula CF2Cl2 (Kim, et al., 1997). ........................... 8 Tabela 1.2: Níveis de energia da molécula CHClF2 (Kim, et al., 1997). .......................... 9 Tabela 1.3: Níveis eletrônicos da molécula SF6 (Kim, et al., 1997). ............................. 11 Tabela 1.4: Unidades atômicas. ...................................................................................... 12 Tabela 5.1: Força do oscilador (Optical Oscilator Strength, OOS) calculada para as transições 1a1g→6a1g e 1a1g→6t1u. ................................................................................. 96 1 Capítulo 1: Introdução. Processos multieletrônicos são comuns em várias áreas da física, química e biologia. A correlação eletrônica é um processo multieletrônico. O termo correlação significa interdependente, ou seja, a correlação eletrônica surge porque há mais do que um elétron no sistema e os elétrons afetam uns aos outros. A correlação é rigorosamente definida como a diferença entre as quantidades exatas e as não correlacionadas. Uma quantidade é não correlacionada se é determinada pela soma de Hamiltonianos de um elétron. Nessa perspectiva, o estudo de processos multieletrônicos envolvendo colisões de moléculas com íons e fótons se torna bastante interessante, principalmente quando se tratam das conhecidas como moléculas de interesse atmosférico. Estas são moléculas artificiais regularmente lançadas na atmosfera terrestre pela indústria e influenciam drasticamente as condições climáticas do planeta. A compreensão da interação destes gases com a radiação cósmica e ventos solares se faz então fundamental para a compreensão do comportamento dessas moléculas na atmosfera. 1.1 Processos multieletrônicos na atmosfera terrestre. A atmosfera terrestre é constantemente bombardeada por fótons e íons provenientes de ventos solares e raios cósmicos. Estes agentes ionizantes interagem com a atmosfera causando a fragmentação de gases ali presentes e possíveis reações químicas, que podem influenciar na composição atmosférica quando reagem com certos gases. Ao longo do tempo, a industrialização tem gerado uma contaminação da atmosfera por diversos gases sintéticos que podem reagir com agentes ionizantes e gerar reações químicas na atmosfera. Entre estes gases os mais conhecidos são os clorofluorcarbonos (CFCs), que causaram grandes danos à camada de ozônio. Devido a sua grande compressibilidade, os CFCs foram amplamente usados como gases propelentes e refrigerantes. Lançados na atmosfera, tais moléculas alcançam a estratosfera e a camada de ozônio, estando expostas aos raios cósmicos e ventos solares. 2 Quando são fragmentadas por estas radiações, os CFCs liberam átomos de cloro que são altamente reativos e tem grande potencial de destruição da camada de ozônio. Outro gás amplamente utilizado na indústria é o hexafluoreto de enxofre (SF6). Este gás é um ótimo dielétrico, quimicamente inerte e com alta pressão de vapor a temperatura ambiente, o que o torna um ótimo isolante elétrico para transformadores, geradores e capacitores, além de ser usado em processos de gravação por plasma [ (1), (2)]. Quando lançado na atmosfera, o SF6 contribui fortemente para o efeito estufa, sendo cerca de 23000 vezes mais nocivo que o dióxido de carbono (3). Além disso, por ser altamente inerte, este gás permanece por um longo tempo na atmosfera, sendo bastante interessante estudar a influencia das radiações dos raios cósmicos e ventos solares na degradação deste. A fragmentação de moléculas por colisão com partículas carregadas ou fótons se dá por uma desestabilização da molécula após sua ionização ou excitação. A ionização da molécula, que vai definir sua forma de fragmentação, depende, como veremos ao longo desta Tese, do momento transferido pela partícula ionizante ou pelo fóton para o elétron excitado. Os processos de ionização por fótons e por partículas carregadas podem ser relacionados, uma vez que interagem com a matéria através da interação eletromagnética. No caso da fotoionização, o momento transferido para o elétron é o próprio momento do fóton. No caso da ionização por um átomo carregado, porém, o momento transferido vai depender da energia do projétil, da sua carga e do parâmetro de impacto. A fim de estudar todos estes processos de ionização, foram estudados neste trabalho a fragmentação de moléculas de interesse atmosférico por fótons e por feixes de oxigênio carregados. Na fragmentação por fótons, foram realizadas medidas em várias faixas de energia a fim de atingir diversas camadas eletrônicas da molécula. Já para feixes de oxigênio, foram realizadas medidas de fragmentação, variando a energia para se estudar a influencia da velocidade do projétil, variando a carga e fazendo medidas de captura eletrônica, perda eletrônica e ionização direta, a fim de variar as condições das colisões. 3 1.2 Bombardeamento de ventos solares e raios cósmicos na atmosfera terrestre. A radiação cósmica foi descoberta em 1911 pelo físico italiano Domenico Pacini. Ele introduziu um eletroscópio nas águas do Golfo de Gênova para medir a condutividade residual do ar contido no aparelho, verificando que seu instrumento descarregava mais devagar no solo do que na altitude. Em 1912, o físico austríaco Viktor Frans Hess constatou o mesmo fenômeno com o uso de um balão meteorológico (4). Era evidente que a fonte de radiação não estava na Terra. A nova radiação, que viria a ser chamada “radiação cósmica” cerca de uma década depois pelo físico norte-americano Robert Millikan, bombardeia a atmosfera da Terra constantemente em todas as direções, e possui na sua composição diversos tipos de partículas de alta energia e íons atômicos. Proveniente de fora do sistema solar, a radiação cósmica pode ser originada de diversos fenômenos, como a explosão de supernovas, que pode produzir a radiação com energias de até 10 15 eV, e atividades no núcleo das galáxias, que produzem raios cósmicos com energia até cerca de 10 21 eV.A maior parte dos raios cósmicos não consegue penetrar profundamente na atmosfera da Terra devido ao campo magnético desta, que faz com que as partículas carregadas dissipem sua energia numa trajetória em espiral antes de atingir camadas profundas na atmosfera. Porém, os raios cósmicos possuem diversas partículas com energia suficiente para penetrar na atmosfera da terra. Quando a energia da partícula é maior que 17 GeV, ela simplesmente vence a barreira do campo magnético e pode atingir uma profundidade o suficiente para interagir com gases na atmosfera, inclusive gases artificiais, como os clorofluorcarbonos, que ao serem fragmentados tem forte efeito no equilíbrio atmosférico, como será visto adiante. Entre os diversos íons presente nos ventos solares, encontra-se o oxigênio. J. A. M. Pereira (5) mostra cálculos da energia mínima necessária para a penetração na atmosfera de diversos íons, onde podemos observar que, para regiões próximas aos polos, a energia necessária para o oxigênio atingir a estratosfera, e, portanto, a camada de ozônio, é bastante baixa, como mostra a Figura 1.1. Um dos modelos mais aceitos para a depleção da camada de ozônio por CFCs sugere que o processo de dissociação destas moléculas que virá a liberar átomos de cloro e atacar a camada de ozônio, ocorre na região polar, por intermédio das “polar stratospheric clouds” (PSC) (5), o que 4 explicaria a presença do buraco na camada de ozônio na Antártida e justifica nosso trabalho com oxigênio, que tem alta penetração na região polar, mesmo em baixas energias. Figura 1.1: Energia geomagnética de corte em função da latitude (5). As setas indicam as energias que permitem aos raios cósmicos acessar a estratosfera. A região escura indica o par energia-latitude para os quais os raios cósmicos não podem acessar a atmosfera. Outra fonte de radiação que bombardeia nossa atmosfera, com intensidade bem maior que os raios cósmicos, são os ventos solares. Os ventos solares são compostos de fótons e partículas carregadas de baixa massa. Eles são provenientes da atividade solar, e entre os mais perigosos para a vida na Terra estão os raios ultravioleta. A radiação ultravioleta é uma radiação ionizante cuja intensidade é atenuada pela camada de ozônio existente na atmosfera da Terra, mas esta camada tem sido enfraquecida pela liberação das moléculas gasosas artificiais na atmosfera citadas anteriormente, os clorofluorcarbonos. Algumas atividades solares podem causar um grande aumento na intensidade dos ventos solares temporariamente, como os Solar Proton Events (SPE), que liberam prótons de alta energia, e as Coronal Mass Ejection (CME), que envolve prótons numa larga faixa de energia. 1.3 Moleculas de Freon ® e processo de degradação da camada de ozônio. Freon ® é o nome comercial, registrado pela DuPont ® , comumente usado para os compostos clorofluorcarbonos (CFCs) e os hidroclorofluorcarbonos (HCFCs). São 5 compostos com estrutura parecida à do metano, porem com átomos de flúor e cloro substituindo os de hidrogênio. Neste trabalho, serão estudados dois desses compostos, o diclorodifluormetano, CF2Cl2, comercialmente vendido como Freon12, o o clorodifluormetano, CHClF2, comercialmente vendido como Freon22. A estrutura molecular do CF2Cl2 é mostrada na Figura 1.2. Figura 1.2: Estrutura molecular do diclorodifluormetano. Os primeiros compostos CFC foram sintetizados na década de 1890 para substituir o tetracloreto de carbono nos extintores de incêndio, e a partir da década de 1930 seu uso atingiu vasta aplicação industrial como propelentes de aerossóis, solventes de limpeza para microeletrônicos e processamento de wafers de silício (6). Após a detecção de CCl3F, uma molécula sintética, na atmosfera, Molina e Rowland mostraram que a maioria dos compostos de CFCs usados na década de 30 ainda estavam presentes na estratosfera (7). A presença de um composto químico sintético por um período de tempo tão longo despertou preocupação, e as propriedades dos CFCs que os tornaram atraentes para aplicação industrial, como estabilidade química e baixa reatividade, agora eram um problema ambiental. Estas características permitem que esses compostos sobrevivam tempo bastante na atmosfera para poderem atingir grandes altitudes, onde podem interagir com fótons de UV provenientes do sol ou interagir com outras partículas carregadas provenientes de ventos solares e raios cósmicos, como os íons de oxigênio que são bastante abundantes nos raios cósmicos (5). A figura 1.3 apresenta a distribuição de CFC-12 ao nível do mar. 6 Fig. 1.3 – Distribuição na superfície marítima da concentração de CFC-12 em 1990 (8). Conhecendo-se então os potenciais danos que estas moléculas poderiam causar, começou a busca de novas moléculas capazes de substituir os CFCs de forma a serem menos poluentes. Foram então criados os hidroclorofluorcarbonos (HCFCs), substituindo-se um dos átomos de cloro do CFC por um átomo de hidrogênio, como o caso do CHClF2. Mas apesar de serem menos reativas, estas moléculas ainda tinham potencial de atingir grandes altitudes na atmosfera e chegar à camada de ozônio. O uso indiscriminado desses compostos e o impacto ambiental que estavam causando, levou então governos de todo mundo a se reunirem para desenvolver um plano de controle da emissão desses gases na atmosfera. A estrutura molecular do clorodifluormetano é mostrada na Figura 1.4. Figura 1.4: Estrutura molecular do clorodifluormetano. O processo de degradação da camada de ozônio pelos CFCs tem como principal mecanismo conhecido a ação do cloro contido nessas moléculas que é liberado pela fragmentação destas moléculas quando interagem com raios cósmicos e ventos solares 7 em grandes altitudes. O átomo de cloro é altamente reativo, e sozinho pode causar a quebra de inúmeras moléculas de ozônio. Quando um átomo de cloro é liberado, ele reage com o ozônio formando monóxido de cloro e oxigênio. O monóxido de cloro por sua vez, reage com o ozônio novamente, formando duas moléculas de O2 e liberando o cloro, que volta a reagir com o ozônio, numa reação cíclica que permite a um único átomo de cloro destruir inúmeras moléculas de ozônio (6). A reação é ilustrada a seguir: 1.1 Sendo assim, fica claro que a fragmentação de CFCs por raios cósmicos e ventos solares é o maior agente destruidor da camada de ozônio, o que torna extremamente importante seu estudo para entender melhor como ocorre este processo e quais as consequências futuras da presença desses gases na atmosfera. Pois apesar da grande diminuição na utilização desses compostos, a presença deles na atmosfera ainda se mostra bastante abundante atualmente (9). As Tabelas 1.1 e 1.2 apresentam os níveis de energia da molécula CF2Cl2 e do CHClF2. Orbitais Moleculares do CF2Cl2 Orbital molecular B (eV) U (eV) N Carater 1b1 2854.05 3731.11 2 Cl 1s 1a1 2854.05 3731.11 2 Cl 1s 1b2 717.75 1013.42 2 F 1s 2a1 717.75 1013.43 2 F 1s 3a1 314.78 436.58 2 C 1s 2b1 288.73 593.3 2 4a1 288.73 593.32 2 3b1 219.84 560.9 2 Cl 2p 5a1 219.84 560.9 2 Cl 2p 1a2 219.75 562.02 2 Cl 2p 2b2 219.75 562.02 2 Cl 2p 4b1 219.75 562.02 2 Cl 2p 8 Orbital molecular B (eV) U (eV) N Carater 6a1 219.75 562.03 2 Cl 2p 7a1 47.42 93.53 2 3b2 45.51 105.25 2 8a1 32.91 72.08 2 3s 5b1 31.07 77.79 2 3s 9a1 23.35 83.25 2 4b2 20.62 77.62 2 10a1 19.51 74.04 2 6b1 19.44 74.07 2 2a2 17.21 86.93 2 5b2 16.41 92.65 2 11a1 16.29 73.68 2 7b1 14.36 74.22 2 3p 12a1 13.5 61.48 2 3p 6b2 13.08 64.02 2 3p 3a2 12.54 66.03 2 3p 8b1 12.24 66.86 2 3p B: Energia de ligação U: Energia cinética média dos elétrons N: Número de ocupação Tabela 1.1: Níveis de energiada molécula CF2Cl2 (10). Orbitais moleculares do CHClF2 Orbital molecular B (eV) U (eV) N Carater 1a 2853.51 3731.1 2 Cl 1s 1a 717.11 1013.43 2 F 1s 2a 717.11 1013.44 2 F 1s 3a 312.9 436.5 2 4a 288.19 593.31 2 C 1s 5a 219.3 560.68 2 Cl 2p 2a 219.21 561.68 2 Cl 2p 9 Orbital molecular B (eV) U (eV) N Carater 6a 219.21 561.69 2 Cl 2p 7a 46.58 94.75 2 3a 44.79 105.27 2 8a 31.56 73.48 2 3s 9a 23.81 72.65 2 10a 20.33 60.07 2 4a 20.01 77.65 2 11a 18.9 74.24 2 5a 16.78 87.64 2 6a 16.03 92.07 2 12a 16.08 74.33 2 13a 13.91 69.02 2 7a 12.4 63.97 2 Cl 3p 14a 12.35 61.63 2 Cl 3p B: Energia de ligação U: Energia cinética média dos elétrons N: Número de ocupação Tabela 1.2: Níveis de energia da molécula CHClF2 (10). 1.4 A molécula de hexafluoreto de enxofre e o efeito estufa. O hexafluoreto de enxofre é uma molécula muito usada na indústria devido a suas propriedades como ótimo isolante elétrico. Além dessa propriedade, ele ainda é um gás altamente inerte, o que pode ser uma vantagem na aplicação industrial, mas que se torna um problema quando o gás é lançado na atmosfera. Enquanto a maioria das moléculas artificiais lançadas na atmosfera é degradada em poucos anos, reagindo com oxidantes presentes na atmosfera ou sendo fotoionizadas pela radiação solar, algumas moléculas altamente inertes, como o SF6, permanecem na atmosfera por um longo período de tempo. Todos os gases orgânicos fluorinados têm grande estabilidade e uma meia-vida muito longa na atmosfera. Estes gases também costumam ser muito eficientes em promover o aumento do efeito estufa. Sua influência é tão grande, que foi criado um 10 índice de potencial de aquecimento global (global warming potential – GWP) para medir a influência de diversos gases no efeito estufa, aonde o SF6 é classificado como 23000 vezes mais nocivo que o dióxido de carbono. A estrutura molecular do hexafluoreto de enxofre é mostrada na figura 1.5. Figura 1.5: Estrutura molecular do hexafluoreto de enxofre. Devido a esta alta estabilidade, essas moléculas são degradadas na atmosfera apenas por radiações de comprimento de onda específico, maior que 190nm (11). Portanto, se torna bastante interessante o estudo da fragmentação dessa molécula por partículas carregadas e fótons de energia na faixa de raios-x, que são objeto desse estudo. A tabela 1.3 apresenta os níveis eletrônicos da molécula SF6. A Figura 1.6 apresenta as concentrações de SF6 e CFC no hemisfério norte. Fig. 1.6 – Concentrações de CFC e SF6 no hemisfério norte (12). 11 Orbitais Moleculares do SF6 Orbital B (eV) U (eV) N Q 3a1g 256.18 510.35 2 1 2t1u 193.27 479.25 6 1 4a1g 50.93 85.62 2 1 3t1u 47.09 101.6 6 1 2eg 45.50 110.3 4 1 5a1g 30.32 98.55 2 1 4t1u 25.61 83.20 6 1 1t2g 23.03 75.55 6 1 3eg 20.35 86.84 4 1 1t2u 20.06 90.74 6 1 5t1u 19.69 91.23 6 1 1t1g 15.33 98.29 6 1 B: Energia de ligação U: Energia cinética média dos elétrons N: Número de ocupação Tabela 1.3: Níveis eletrônicos da molécula SF6 (13). 1.5 – Unidades atômicas As unidades atômicas são definidas de modo que o módulo da carga elementar, a massa do elétron e constante de Planck dividida por 2 possuem valores unitários, ou seja, e = ħ = m =1, que corresponde a comprimentos normalizados a 22 meao = 0,529×10 -8 cm, velocidades normalizadas a 1372 ccevo = 2,19×10 8 cm/s, energia normalizadas a 2 oo mvE = 2Ry = 27,2 eV, onde Ry é a energia de Rydberg. A permissividade elétrica do vácuo fica 4o = 1. A velocidade dos elétrons fica 6,13)(eVEvv o , enquanto as velocidades dos projéteis mais pesados ficam )()(35,6 uMMeVEvv o . A Tabela 1.4 apresenta as unidades atômicas (u.a). 12 Quantidade Unidade Significado físico Valor Massa m ou me Massa do elétron 9,10938×10 -31 kg Carga e Carga do elétron 1,602 18 × 10 -19 C Momento angular ħ Constante de Planck dividida por 2 1,05457×10 -34 J.s Comprimento ao Raio de Bohr 5,29177×10 -11 m Velocidade vo Módulo da velocidade do elétron na primeira órbita de Bohr 2,18769×10 6 m/s Momento mvo Módulo do momento do elétron na primeira órbita de Bohr 1,99285×10 -24 kg m/s Tempo ao/vo Tempo necessário para um elétron na primeira órbita de Bohr percorrer um raio de Bohr 2,41888×10 -17 s Frequência vo/2ao Frequência angular do elétron na primeira órbita de Bohr (vo/ao) dividida por 2 6,57969×10 15 s -1 Energia e 2 /4aoo= 2 mc 2 Dobro do potencial de ionização do átomo de hidrogênio (com massa nuclear infinita) 27,2114 eV Tabela 1.4: Unidades atômicas. 13 Capítulo 2 - Revisão dos modelos teóricos. Processos multieletrônicos, decorrentes de interações de íons carregados ou fótons com átomos e moléculas, têm sido amplamente estudados no ramo da física atômica e molecular. Discutiremos aqui apenas o caso dos alvos moleculares. Para a fotoionização, onde a energia absorvida pela molécula é exatamente a energia do fóton, o mais interessante é o estudo do rearranjo eletrônico da molécula após ser excitada ou ionizada, que vai determinar os caminhos de fragmentação, carga final, massa dos fragmentos e energia cinética da fragmentação. Para moléculas formadas por átomos de baixo número atômico, que é o nosso caso, o processo de desexcitação dominante é o processo não radiativo (efeito Auger), que leva a uma ionização múltipla da molécula. Além dos processos de rearranjo, outros processos importantes podem ocorrer durante o processo de fotoionização, causando também a ionização múltipla da molécula, como, por exemplo, os processos de shake up e shake off (14). Todos estes processos são importantes para compreender a fragmentação da molécula após sua interação com fótons. No caso da interação de moléculas com íons carregados, a energia transferida para o elétron do alvo não é a mesma que a energia cinética do projétil, e diversos processos eletrônicos podem ocorrer durante a interação. Para projéteis com uma velocidade bastante alta comparada à velocidade da órbita dos elétrons e que tenham baixa massa, a aproximação de Born de ondas planas (PWBA) seria um tratamento adequado. Porém, para projéteis de baixa velocidade e com grande massa, não é possível descrever o projétil por ondas planas, além de que o tempo de interação é longo demais para ser considerada uma perturbação. Neste caso, uma aproximação por ondas planas não se aplica e devemos procurar modelos não perturbativos para descrever o sistema. Quando temos projéteis com velocidades próximas à velocidade orbital dos elétrons do alvo, porém, estamos em um regime intermediário, no qual tanto modelos semiclassicos quanto perturbativos se fazem aplicáveis. Portanto, descreveremos modelos semiclassicos para a interpretação dos processos eletrônicos ocorridos durante a colisão e faremos uma interpretação perturbativa pelo método de Weizsacker- Williams (15) para uma posterior comparação entre os efeitos das colisões com oxigênio e com fótons. 14 Primeiramente, durante a interação do alvo com o projétil, pode haver uma troca de elétrons entre estes, e o projétil pode perder ou capturar, um ou mais elétrons do alvo. Estes processos são conhecidos como perda (ionização do projétil) e captura eletrônica. Para átomos multieletrônicos, uma solução analítica envolveria a interação de cada elétron e núcleo do alvo e do projétil, o que torna a solução impossível. Porém, existem aproximações que simplificam este problema, e funcionam para colisões entre átomos. Nesta tese abordaremos os modelos de Bohr-Lindhard, para a captura eletrônica, e o free-collision classical-impulse, para a perda eletrônica. Nosso objetivo no estudo da perda e captura eletrônica é testar esses modelos teóricos aplicados a moléculas altamente simétricas,que são objeto de nosso estudo. 2.1 Perda eletrônica O processo de perda eletrônica (ionização do projétil) ocorre quando um íon energético perde um elétron como resultado da interação com um alvo atômico ou molecular. A perda eletrônica é representada por: O q+ + M O (q+j)+ + M n+ + (n+j)e - 2.1 onde O q+ representa o projétil incidente, M o alvo, j o número de elétrons perdidos pelo projétil e n o estado de carga final do alvo. Suponhamos um projétil atômico de carga efetiva Z1, velocidade e parâmetro de impacto se aproximando de um alvo neutro de número atômico efetivo Z2, como é mostrado na Figura 2.1. Figura 2.1: Representação esquemática da interação de um projétil de carga efetiva Z1 com um alvo inicialmente neutro de número atômico efetivo Z2. 15 Dois mecanismos se destacam no processo de perda eletrônica. Primeiramente, o elétron do projétil pode interagir com o núcleo blindado do alvo, conforme ilustrado na Figura 2.2a. Neste caso, o alvo continua no seu estado fundamental eletrônico, e ocorre a transferência de momento do núcleo do alvo para o elétron do projétil. Este processo é conhecido na literatura como “screening”, ou “blindagem”, pois os elétrons do alvo estão blindando passivamente o núcleo e não interagem com os elétrons do projétil. Outro processo que pode ocorrer causando a perda eletrônica é a interação do elétron ativo do projétil com o(s) elétron(s) do alvo, conforme ilustrado na Figura 2.2b. Este processo é conhecido como “antiscreening” ou “antiblindagen”, pois agora os elétrons do alvo estão interagindo ativamente no processo. Neste caso, tanto o elétron do projétil quanto o do alvo serão excitados. Na ionização por antiscreening, pode-se se dizer que o alvo interage com a nuvem eletrônica do projétil como se esta fosse um feixe de elétrons. Em outras palavras, no referencial do alvo, o projétil pode ser visto como um feixe de elétrons incidente com a velocidade do projétil, modulada pelo perfil Compton de velocidades dos elétrons do projétil. Assim, deve haver uma energia mínima para que ocorra a ionização, que define então uma energia mínima para a ocorrência deste mecanismo. A energia para excitar, ou mesmo arrancar, tanto os elétrons do projétil quanto os do alvo, é proveniente da energia cinética dos elétrons do alvo, ou seja, 2.2 onde é a massa do elétron, é o módulo da velocidade do projétil e e são os potenciais de ionização do projétil e do alvo, respectivamente. Sendo assim, a energia mínima que o projétil deve ter para que este processo ocorra é: 2.3 onde é a massa do projétil. No caso das moléculas estudadas neste trabalho (Ia =12,24 eV para o CF2Cl2 e Ia = 15,33 eV para o SF6) e considerando o potencial de ionização do O + (Ip = 35,1 eV), esse valor mínimo está acima da faixa de energia usada nas colisões com oxigênio (E ~ 1,5MeV). Sendo assim, o processo de antiscreening não 16 deve fazer parte da ionização por perda eletrônica neste caso. O que ocorre então é um processo multieletrônico de segunda ordem, com uma ionização simultânea do alvo e do projétil pela dupla interação núcleo-elétron [ (16), (17)]. Figura 2.2: Processos de blindagem e antiblindagem no referencial do projétil. Em teorias de primeira ordem, a seção de choque de perda eletrônica de um íon em colisões com um alvo neutro é dada como um produto de fatores de forma dos parceiros de colisão integrado sobre o momento transferido K (18): nleF v I K KFKNZF K dK dN v v rKi nl nl o K nl nl nlperda o . 0 2 22 2 232 ,,,, 8 )( 2.4 onde v é a velocidade do projétil, Inl é a energia de ligação na camada do projétil, |nl e | são as funções de onda dos estados ligados e do contínuo do elétron ativo, 17 respectivamente, é o momento angular orbital do elétron ejetado, Fnl e F2 são os fatores de forma do projétil e do alvo, respectivamente. A soma sobre nl na expressão acima representa a contribuição de todas as camadas eletrônicas do projétil, e n e l são os números quânticos principal e orbital da camada eletrônica contendo Nnl elétrons equivalentes. Ko é o momento transferido mínimo. Em termos qualitativos, as quantidades a serem consideradas são as cargas efetivas do alvo vista pelo projétil, F2 (K), que dependem do momento transferido ao elétron do projétil na seguinte forma: 22 1 2 . 2 2 1 . 2 2 2 N j rKi N j rKi jejNjejZKF 2.5 onde | j representa as funções de onda radiais dos elétrons do alvo. A carga efetiva F- 2(K) exibe os seguintes comportamentos assintóticos: 2 2 2 2 2 2 220 2 2 )( )( NZKF NZKF K K 2.6 As equações acima refletem as influências dos efeitos de blindagem e antiblindagem dos elétrons do alvo sobre as seções de choque para velocidades baixas e altas, respectivamente. O valor representa o caso limite de velocidades muito altas do projétil, quando os núcleos e os elétrons do alvo podem ser tratados como em repouso. Assim, a seção de choque pode ser apresentada aproximadamente pela aproximação de Born como uma ionização por prótons p e por elétron e na forma: epperda NZ 2 2 2 2.7 Nesta Tese, para calcular a seção de choque de perda eletrônica foi usado o método desenvolvido por Sigaud (19), que faz uma extensão da aproximação de free- collision classical-impulse (20). Vamos assumir que o elétron do projétil é espalhado pelo alvo com a mesma seção de choque que tem um elétron livre com a mesma velocidade. O momento transferido para o elétron do projétil pode ser tal que este adquira energia suficiente para ser ionizado. Portanto, para uma reação cinemática, o 18 ângulo de espalhamento deve ser maior que um valor crítico, que depende da cinemática da colisão. Outra restrição feita é que os cálculos são limitados a valores de velocidade do projétil que são maiores que a raiz quadrada média da velocidade do elétron ativo no projétil (21). Podemos escrever a expressão para a seção de choque de perda eletrônica como uma função da velocidade do centro de massa do projétil no referencial do laboratório, , no modelo de free-collision, como: 2.8 onde é o ângulo de espalhamento para elétron livre, é o ângulo crítico que aparece para as condições cinemáticas mencionadas, é o ângulo entre as velocidades do projétil no referencial do laboratório e o elétron ativo no referencial do projétil, e é o ângulo entre o plano formado por e a velocidade inicial do elétron, , todas no referencial do laboratório. é a seção de choque diferencial do espalhamento do elétron por um processo j em um ângulo para um elétron com velocidade incidindo em um dado alvo. A equação anterior pode ser simplificada usando uma expressão introduzida por Riesselmann et al para , onde é a raiz quadrada da média da distribuição da velocidade dos elétrons, tal que a seção de choque de perda eletrônica por screening pode ser escrita como: 2.9 onde e é a seção de choque diferencial para o espalhamento elástico de um elétron livre com velocidade . Esta é a equação básica para o cálculo da seção de choque de perda eletrônica em colisões com oxigênio. Para maiores detalhes, veja referência: (19). 19 2.2 Ionização. A ionização direta ocorre quando um átomo ou molécula é ionizado pela colisão com uma partícula carregada semque esta mude seu estado de carga, representada por: O q+ + M O q+ + M n+ + ne - 2.10 A dinâmica da colisão é muito diferente dependendo se a velocidade do projétil v é menor ou maior que a velocidade orbital do elétron do alvo, vnl. De modo geral, podemos classificar as colisões em duas categorias: colisões rápidas e colisões lentas. Consideramos como colisões rápidas aquelas nas quais a velocidade do projétil é muito maior que a velocidade orbital do elétron do alvo (v >> vnl ) (22). No caso de colisões rápidas, a interação entre o elétron do alvo e o projétil ocorre num intervalo de tempo muito curto e a interação diminui com o aumento da velocidade. Em modelos perturbativos de primeira ordem, a seção de choque depende do quadrado da carga do projétil (q2 ln(v/v)), onde v é a velocidade do projétil. Porém, no regime de colisões estudado no presente trabalho, os modelos de primeira ordem não são válidos. Por outro lado, quando (v << vnl ), o período de circulação do elétron ao redor do núcleo do alvo é muito menor do que o tempo de interação e o momento transferido do projétil ao elétron assume um valor médio no tempo. Assim, a seção de choque aumenta com o aumento da velocidade do projétil. Isto porque a seção de choque tipicamente assume um valor máximo em torno de 2 1 max 2 Z Z vv nl 2.11 As descrições das seções de choque, nos limites de velocidades do projétil, muito altas ou muito baixas, podem ser significativamente simplificadas. O parâmetro de impacto típico para o processo de ionização é nl oo Bohr ioniz vv Zva b 1 22 2.12 20 O tempo de interação do projétil com o elétron do alvo é da ordem de bionz/v. O tempo de circulação do elétron é tnl anl/vnl, onde é o valor do raio orbital . Vamos adotar uma abordagem em função do momento transferido para os elétrons do alvo no processo de colisão. Podemos então considerar o espalhamento do elétron do alvo pelo núcleo do projétil como uma colisão simples entre duas partículas carregadas com parâmetro de impacto . Este modelo é conhecido como simple classical impulse approximation (23). Consideramos que a velocidade do projétil é alta o suficiente para que o íon de recuo não se mova durante a colisão. A geometria do problema é mostrada na Figura 2.3. O momento transversal e longitudinal transferido para o alvo pode ser obtido pela integração das forças eletrostáticas ao longo da trajetória do projétil considerando que ele se move de a , como mostrado a seguir: 2.13 2.14 onde é a velocidade do projétil e e são as cargas do elétron ionizado e do projétil, respectivamente. Resolvendo as integrais temos: 2.15 Temos então que o momento transferido para o alvo é inteiramente perpendicular ao feixe, e depende das cargas dos íons de recuo e do projétil, da velocidade do projétil e da seção de choque. São exatamente estas grandezas que variamos ao longo dos experimentos de colisão com íons. Foram usados diferentes estados de carga do projétil para variar o termo , variando a energia se varia a velocidade do projétil, e a seção de choque varia de acordo com os processos de perda, captura eletrônica e ionização direta. 21 Figura 2.3: Geometria para o cálculo de classical impulse approximation. Partindo de uma análise perturbativa do problema, podemos analisá-lo pela perspectiva da energia transferida para o elétron do alvo durante a colisão. Em um quadro semiclássico, é possível correlacionar eventos de ionização envolvendo partículas carregadas com a teoria da radiação, escrevendo o campo criado por uma partícula perturbativa em componentes de Fourier e comparando os efeitos desses componentes com o campo produzido por uma radiação homogênea de mesma frequência e intensidade. Esta relação entre partícula e radiação, estabelecida pelo método de Weizacker-Williams (WW) (15), é justificável pelo fato de que a mecânica quântica não pode distinguir o efeito causado sobre um campo por uma partícula carregada ou por um campo de radiação. O método dos fótons virtuais consiste em substituir a partícula incidente em um alvo por um pulso de um fóton virtual equivalente. Isto permite determinar o espectro de radiação equivalente e calcular efeitos de interação causados no alvo pelo fóton virtual. Os cálculos para a obtenção da energia transferida na colisão por este modelo são mostrados detalhadamente na referência (24). Sendo assim, a expressão final para a energia transferida fica: 2.16 onde é a carga do projétil, e são sua massa e velocidade, é o parâmetro de impacto, são funções de Bessel, e o termo é dado por: 2.17 22 onde está relacionada com a energia de ligação do elétron-alvo (Eb =ħ) e é o fator de Lorentz. Colisões acompanhadas de ionização do alvo podem ser classificadas de acordo com a energia transferida para o elétron do alvo durante a colisão. Colisões onde a energia média transferida para o elétron é alta, , onde é o potencial de ionização, são definidas como colisões duras, enquanto colisões com são definidas como colisões suaves. Um projétil como oxigênio carregado pode transferir uma grande quantidade de energia para um elétron ligante. Entretanto, na maioria dos casos, a energia transferida é uma pequena fração da energia incidente. A energia máxima que pode ser transferida para o elétron alvo, devido à conservação de momento e energia, é dada por (15): 2.18 onde e são a energia e velocidade do projétil, e e são as massas do elétron e do projétil, respectivamente. A energia máxima transferida corresponde a um parâmetro de impacto mínimo, 2.19 Estas condições de baixo parâmetro de impacto acontecem no processo de perda eletrônica, descrito anteriormente, onde a energia necessária para ionizar o projétil e o alvo simultaneamente é alta. 2.3 Captura eletrônica A captura eletrônica é quando um projétil captura um elétron como resultado da interação com um alvo atômico ou molecular, representada por: O q+ + M O (q-j)+ + M n+ + (n-j)e - (j >0) 2.20 23 O processo de captura eletrônica pode ser descrito pelo modelo de Bohr- Lindhard (25). Este é um modelo clássico baseado na relação entre força e energia do sistema de colisão. Quando o projétil carregado se aproxima do alvo, cria um potencial Coulombiano atrativo que, quando igual à energia de ligação do elétron do alvo, permite a captura deste elétron. Um esquema que ilustra o processo de captura é mostrado na figura 6. Figura 2.4: Esquema ilustrativo do processo de captura eletrônica. Duas distancias críticas são introduzidas para um íon se aproximando de um alvo neutro. Para uma primeira distância R1, a força de Coulomb para a carga q do projétil atraindo o elétron é igual a força de ligação no alvo neutro: 2.21 onde e é a velocidade orbital, bI a energia de ligação e a o raio da órbita do elétron do alvo. O elétron pode ser capturado pelo projétil quando do referencial do elétron, sua energia potencial é maior que a energia cinética do elétron projétil. Isso ocorre quando elétron e projétil estão a uma segunda distância crítica R2 : 2.22 Quando , os elétrons serão imediatamente capturados com uma seção de choque de captura igual a: 24 2.23 Para velocidades maiores, , o elétron é liberado antes queseja capturado pelo projétil. Se esse processo ocorre instantaneamente, a captura eletrônica é impossível e a secção de choque vai a zero. Entretanto, a liberação leva certo tempo e ocorre com a probabilidade de por unidade de tempo. A probabilidade de liberar o elétron com uma distância R2 é dada pelo produto da probabilidade de liberação por unidade de tempo e a duração da colisão. Então, para a seção de choque fica: 2.24 Agora, devemos fazer uma integração sobre a distribuição eletrônica de velocidades do átomo-alvo. Usando o modelo de Bohr, a distribuição dos elétrons como função da velocidade é dada por: 2.25 Sendo zero para velocidades menores que e maiores que , onde é a velocidade de Bohr e é dada por: 2.26 onde 2.27 O parâmetro , que pode ter valores entre 0 e 1, é introduzido para levar em conta a existência de elétrons com velocidades menores que . O parâmetro é dada por: 2.28 25 Neste modelo, a maior velocidade de um elétron é para alvos pesados . De acordo com o modelo de Bohr, o raio orbital e a velocidade dos elétrons são relacionados por: 2.29 Esta equação é usada para obter as seções de choque nas equações 2.23 e 2.24. Primeiramente, escrevemos a equação 2.23 na forma: 2.30 e a equação 2.24 na forma: 2.31 O parâmetro divisório entre as regiões de validade das equações 2.30 e 2.31 é a velocidade , sendo que nesta velocidade a seção de choque de ambos são iguais. Define-se o parâmetro: 2.32 onde é a energia do íon (em keV/u). Finalmente, integramos sobre a distribuição de velocidades dos elétrons, o que da (25): 2.33 para 2.34 26 para 2.35 para Temos, finalmente, três equações para seção de choque de captura eletrônica, para três faixas de velocidades diferentes. Estas serão as equações usadas para fazer o ajuste teórico dos resultados experimentais desta tese. 2.4 Fotoionização No processo de fotoaniquilação, um fóton atinge os orbitais eletrônicos de uma molécula, sua energia é totalmente transferida causando a excitação destes elétrons, que podem ser promovidos para outros orbitais ou ejetados dependendo da energia do fóton. Estes estados excitados são geralmente metaestáveis e têm tempo de relaxação bem curto, da ordem de 10 -15 s. Quando relaxam, estes sistemas seguem regras de transição bem específicas, que dependem da estrutura molecular do alvo excitado e da energia do fóton. Para energias iguais ou superiores ao potencial de ionização do alvo e para momentos transferidos pequenos em comparação aos momentos típicos dos elétrons do alvo, o processo dominante é o efeito fotoelétrico. Neste efeito, após absorver um fóton, a molécula emite um elétron primário e eventualmente decai, ou não, por uma das transições possíveis. 2.4.1 A força do oscilador ótico Há pelo menos dois tipos de fotoabsorção: (1) transições para o contínuo (fotoionização) e (2) transições para estados discretos, normalmente, mas nem sempre, abaixo do limite de ionização. Inicialmente vamos considerar a nomenclatura que descreve a absorção de radiação eletromagnética pela matéria. 27 A absorção de radiação está diretamente relacionada com a parte imaginária da função dielétrica, 21 i 2.36 É conveniente escrevê-la em termos da condutividade : 4 2 2.37 Em termos da condutividade, a taxa média de energia transferida por volume é dada por: 2 2 E dt dW 2.38 onde é o campo elétrico. Assumimos por simplicidade uma onda eletromagnética polarizada na direção y na forma ti yeEyE 0ˆ 2.39 A taxa de energia transferida pode ser escrita em termos da taxa de transição entre os estados inicial i e final j, ji ijij WEE dt dW , 2.40 A taxa de transição é dada pela regra de ouro: ijij EEiHjW 2 ' 2 2.41 Combinando as equações anteriores, podemos escrever que a parte imaginária da função dielétrica pode ser escrita como: 28 ji ijij y WEE E , 2 0 2 8 2.42 Pela escolha de um calibre conveniente, a perturbação H’ pode ser escrita em termos do potencial vetor, Este potencial vetor está relacionado com a amplitude do campo, de modo a cancelar o fator no denominador. O resultado é (26): ji ijij EEM m e , 2 22 22 2 4 2.43 onde o elemento de matriz irjiipejM A rki ij ˆ.ˆ . 2.44 O vetor ̂ é o vetor unitário na direção de propagação da luz e p̂ é o operador momento. A segunda igualdade da equação acima foi obtida pela aproximação de dipolo. Para frequências baixas, a aproximação de dipolo é válida, ou seja, 1.....1. rkie rki 2.45 e é a componente do vetor posição na direção de ̂ . O coeficiente de absorção esta relacionado com pela expressão nc 2 2.46 onde é o índice de refração do meio. Combinando as equações acima, obtemos uma expressão para uma quantidade mensurável, o coeficiente de absorção. O resultado é ji ijij EEM c e n , 2 22 ' 4 2.47 onde definimos o elemento de matriz de dipolo 29 irjM Aij ' 2.48 Em geral, o coeficiente de absorção de uma amostra de gás é o produto da seção de choque atômica, e o número de átomos por unidade de volume. Na sua formulação usual, os elementos de matriz são calculados pela integração sobre toda a configuração eletrônica e somando sobre o número de elétrons no átomo (ou molécula). Este resultado é expresso na forma nN n inNjij dVrrrrrrrM ,...,,,...,,' 2121 * 2.49 onde i e j são, respectivamente, as funções de onda inicial e final do átomo, escritas como produtos antissimetrizados das funções de onda de um elétron. Definimos agora a força do oscilador ótico (foo), uma quantidade adimensional como: 2 2 ' 2 ijij M m f 2.50 No caso de transições atômicas discretas abaixo do potencial de ionização, a força do oscilador é uma medida da intensidade das linhas individuais numa série de Rydberg. Um átomo em um dado estado inicial obedece à regra de soma: j ij Nf 2.51 onde N é o número total de elétrons no átomo. Por outro lado, boa parte da força do oscilador está concentrada no contínuo acima do potencial de ionização, especialmente para transições do caroço. É então apropriado trocar pela densidade espectral no contínuo e somá-lo na equação anterior: j E ij I dE dE df f 2.52 30 onde é a energia de ionização. A densidade espectral e o coeficiente de absorção estão relacionados como dE df N mc he a 2 2.53 onde é o número de elétrons por unidade de volume. 2.4.2 Ionização de camadas internas Quando um elétron é excitado de um orbital de camada interna ele pode ocupar qualquer um dos orbitais mais energéticos vazios, desde que obedeça às regras de seleção. A vacância formadano caroço é preenchida por elétrons de camadas eletrônicas mais externas e o excesso de energia da transição pode promover a ejeção de um ou mais elétrons. Este processo é chamado de processo Auger, e é o principal processo causador de excitações múltiplas em interações de moléculas com fótons (27). Entre eles podemos destacar o Auger normal e ressonante, sendo que o ressonante ainda se divide em ressonante espectador e ressonante participador. Para espécies constituídas com baixo número atômico, o processo Auger predomina sobre os decaimentos radiativos. Auger ressonante (autoionização), assim como o Auger normal, são processos secundários. Estes acontecem após a absorção ressonante de um fóton, implicando em um estado excitado inicial no qual um ou mais elétrons são promovidos, dando origem a uma molécula excitada. Se a energia transferia é maior que a energia necessária para ejetar um ou mais elétrons presentes, a molécula excitada em questão pode adquirir energia suficiente para ser ionizada. O decaimento Auger normal difere do Auger ressonante (autoionização) porque, no primeiro caso, a etapa inicial é a ionização de um elétron de camada interna, enquanto no segundo, o que acontece é a excitação para um nível de energia mais alto. Além disso, o estado final do decaimento Auger normal é uma carga dupla (ou múltipla), enquanto na autoionização o estado final é uma espécie de carga simples. A Figura 2.5 ilustra os diversos tipos de processo Auger. No Auger normal, um elétron de camada externa decai para ocupar a vacância da camada mais interna, transferindo sua energia para outro elétron de camada externa que é ejetado. No Auger 31 ressonante, o elétron não é inicialmente ionizado, mas sim promovido para uma camada de valência. No caso do Auger participador, o mesmo elétron depois decai novamente para a camada externa ejetando um elétron de uma camada mais externa. Já no caso do Auger espectador, outro elétron de uma camada externa decai para a camada interna ejetando outro elétron. Figura 2.5: Tipos de processo Auger. Para moléculas formadas por elementos de número atômico baixo, o processo Auger é o efeito dominante na desexcitação de moléculas em camadas internas. Como veremos nos resultados, a excitação da camada interna proporciona uma maior fragmentação da molécula e a produção de fragmentos mais carregados. Os íons produzidos depois da fotoionização vão depender do processo de fragmentação, que por sua vez depende basicamente da energia do fóton e da estrutura eletrônica do alvo. No caso da estrutura eletrônica, esta é composta de orbitais compartilhados entre os átomos, os quais chamamos de orbitais moleculares. Para elétrons de camada interna, porém, estes se encontram tão ligados aos núcleos que acabam praticamente com a mesma energia dos orbitais atômicos, como mostra a Figura 2.6. Esses orbitais moleculares possuem um caráter efetivamente atômico. Neste trabalho, foram estudados os processos de fragmentação tanto para fotoionização de orbitais de valência moleculares como para fotoionização de camada interna. 32 Figura 2.6: Esquema simplificado dos níveis de energia em uma molécula diatômica. 2.4.3 Explosão Coulombiana versus dissociação assimétrica. Após a fotoionização e o rearranjo eletrônico pelos caminhos já descritos, tem-se uma molécula excitada, com uma carga que pode variar de acordo com o processo ocorrido. No caso mais simples, teremos uma molécula excitada com carga +1. Esta molécula pode ser estável ou não, dependendo da sua estrutura eletrônica e do orbital ionizado. Sendo assim, podemos ter uma molécula carregada ou esta pode se fragmentar, dando origem a um elemento neutro e um monocátion. Outra possibilidade é a formação de um dicátion. Neste caso, a molécula pode se dissociar em um fragmento de carga dupla mais um neutro, ou dois monocátions. Os caminhos possíveis para a fragmentação nesse caso são ilustrados na Figura 2.7. Como mostrado na Figura 2.7, alguns estados eletrônicos do dicátion são puramente dissociativos (estado B, Figura 2.6), e estes estados resultam na produção de dois monocátions. Em compensação, alguns dicátions possuem estados metaestáveis se possuem uma energia potencial mínima (estados X e A, Figura 2.6). A origem desses estados eletrônicos metaestáveis tem sido amplamente estudados, e a ocorrência de estados termodinamicamente estáveis ou metaestáveis deve ser considerada (29). Para dicátions moleculares compostos de elementos leves, o limite termodinâmico de dissociação do cátion YZ + em Y + e Z + geralmente está abaixo do limite de dissociação em Y 2+ e Z e da energia potencial mínima do dicátion. A configuração YZ 2+ é então, na mínima energia potencial, termodinamicamente instável. 33 Figura 2.7: Curvas de energia potencial para um dicátion diatômico YZ 2+ (28). 2.5 Relação entre ionização por partículas carregadas e por fótons. Amplitudes quânticas podem ser formuladas tanto na representação de ondas usando a amplitude de espalhamento, f, ou na representação de partículas usando a amplitude de probabilidade, a. As amplitudes f e a estão relacionadas pela transformada de Fourier (30): )(2 )( . baebd v Qf bQi 2.54 onde Q é o momento transferido, a massa reduzida, v a velocidade do projétil e b o parâmetro de impacto do projétil. Em alguns experimentos (não os tratados nesta Tese), o comprimento de onda de de Broglie do projétil é muito maior do que o tamanho do alvo. Nestas condições é sempre possível determinar o ângulo de espalhamento, mas não é sempre possível determinar o parâmetro de impacto de forma acurada. As condições nas quais há uma relação bem definida entre o parâmetro de impacto e o ângulo de espalhamento (2v/Z1Z2 < 1), foram estabelecidas por Bohr em 1948. A principal diferença entre a fotoionização e a ionização por partículas carregadas é que, quando o seu momento é pequeno em relação ao momento do elétron 34 do alvo, fótons transferem toda a sua energia para o elétron ionizado (efeito fotoelétrico), enquanto na maioria dos processos, as partículas carregadas transferem apenas uma pequena fração de sua energia cinética. Considerando a interação de um projétil de carga nuclear Z1 com N elétrons com um alvo com carga nuclear Z2 com um único elétron, dentro da primeira aproximação de Born, a amplitude de espalhamento para uma transição inelástica do estado inicial do alvo para um estado final é dada por (30): tipitottfpf rQi VerdQf .)( 2.55 onde jtt N j j tot rrRrR Z rR Z R ZZ V 11 1 221 2.56 Devido à ortogonalidade dos estados, os dois primeiros termos do potencial são nulos. O termo seguinte é a soma das interações elétron-elétron entre os N elétrons do projétil e o elétron do alvo. Utilizando a transformada de Fourier para os termos do potencial, ou seja, usando: 2 .. 4 Q e Rd rR e rQiRQi 2.57 A amplitude de espalhamento fica: ti rQi tfpi N j rQi pf tj eeZ Q Qf . 1 . 12 4 )( 2.58 Da equação acima, sem os termos inelásticos do elétron do projétil, a amplitude de espalhamento pode ser expressa a altas velocidades como: titfti rQi tf rQ Q Z Q e Q Z Qf t . 4 0 4 )( 2 1. 2 1 2.59 35 A amplitude para impacto de fótons pode ser expressa como: titfti rKi tf r K pef . 0 ~ .. 2.60 onde K é o momento do fóton, é o vetor polarização e ip . Para energias do fóton abaixo de 1keV, é pequeno o suficiente para usar a aproximação de dipolo. As seções de choque de ionização por partículas carregadas e fotoionização estão relacionadas parapequenos momentos transferidos como E EZ d d Z ln 2 2 1 2.61 onde é a energia do elétron ejetado e E é a energia da partícula carregada incidente. Para partícula carregadas, há uma distribuição , dos elétrons ejetados, enquanto que para o impacto de fótons . Recentemente, Alcantara e colaboradores (31) realizaram medidas de fragmentação da molécula de CH2Cl2 por fótons de UV (12 eV – 90 eV) e prótons rápidos (200 keV – 2,0 MeV). Foi observado que, a medida que a energia do feixe de prótons aumentava, o padrão de fragmentação se assemelhava ao espectro de fótons de baixas energias. Os resultados mostram que o padrão de fragmentação da molécula de CH2Cl2 por prótons rápidos é dominado por colisões distantes (grandes parâmetros de impacto) e que a contribuição das colisões distantes são definidas pelo comportamento da fotoionização perto do limiar de fotoionização. Foi mostrado pela primeira vez que o padrão de fragmentação por prótons poderia ser comparado diretamente com o padrão de fragmentação por fótons através do momento transferido . 36 Capítulo 3: Aparato experimental. 3.1 Linha experimental do LaCAM. Os experimentos de colisão de feixe de oxigênio foram realizados no Laboratório de Colisões Atômicas e Moleculares (LaCAM) da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O LaCAM dispõe de um acelerador Tandem de 1,7 MV. Para gerar o feixe de íons, é usada uma fonte do tipo SNICS (Source of Negative Ions by Cesium Sputtering) que produz um feixe de O - que é inicialmente acelerado por uma força resultante da ação de um potencial que pode chegar até 30 kV. Neste tipo de fonte, um forno cria uma atmosfera de césio ao redor de um ionizador, conforme ilustrado na Figura 3.1. A superfície do ionizador é aquecida e o césio é parcialmente ionizado quando entra em contato com esta. Uma diferença de potencial da ordem de 5 kV entre o ionizador e o catodo gera uma aceleração do césio ionizado na direção de um catodo, que contém o material com o qual se deseja produzir o feixe. Ao atingir o catodo, o césio arranca íons por sputtering, processo pelo qual átomos podem ser arrancados de um alvo sólido pelo bombardeamento de partículas com alta energia cinética. Estas partículas saem em diversos estados de carga após passar por uma fina camada de césio que se deposita sobre o catodo. Os íons negativos arrancados no processo são então acelerados no mesmo potencial do ionizador, gerando um feixe de 5 keV (Figura 3.1). Figura 3.1: Esquema do ionizador do LaCAM (32). 37 Diversos tipos de catodo podem ser usados para se produzir uma extensa variedade de feixes. Portanto, o feixe que sai do ionizador possui diversos íons além do que nos interessa, e este precisa ser selecionado. Isto é feito por um seletor de massa do tipo filtro de Wien (Figura 3.2), onde o feixe é selecionado pela sua velocidade. Neste filtro, um campo elétrico e um magnético, perpendiculares entre si, são aplicados sobre o feixe. Este feixe sofre então uma deflexão devido à força de Lorentz exercida pelo campo magnético e uma força elétrica. Controlando estes campos, podemos então selecionar o feixe que poderá passar pelo filtro escolhendo os campos de forma que as forças se anulem, e assim selecionando o feixe pela sua massa e estado de carga. Os átomos neutros são removidos do feixe por um pequeno ângulo existente entre o filtro de Wien e o acelerador, que impede que projéteis não carregados sigam a trajetória que leva ao acelerador. Figura 3.2: Imagem de um filtro de Wien e representação das forças atuantes sobre o feixe. Depois de selecionado pelo filtro de Wien, o feixe segue para o acelerador propriamente dito. O acelerador usado é o tipo pelletron. Este tipo de acelerador se assemelha a um gerador de Van de Graaff, porém mais sofisticado. Neste caso, as correias são compostas por pequenas esferas metálicas, os pellets, isoladas por uma base de nylon e que são carregadas por indução (Figura 3.3). Este sistema permite gerar grandes diferenças de potencial com excepcional estabilidade, que não seria possível com um gerador de Van de Graaff comum. O acelerador possui duas regiões, de baixa e alta energia, separadas por um trocador de carga de alvo gasoso (stripper), como mostrado na Figura 3.4. Lançado no acelerador, o feixe é primeiramente submetido a uma diferença de potencial de até 1,7 MV na região de baixa energia, sendo acelerado em direção ao stripper. Este é 38 constituído de uma região contendo gás N2 que é mantida a uma pressão mais alta que a do acelerador (cerca de uma ordem de grandeza maior) por bombeamento diferencial. Figura 3.3: O sistema de carregamento Pelletron (32). Quando o feixe atinge o alvo de N2, troca de carga e uma fração do feixe incidente sai positivamente carregada, sendo então lançada na região de alta energia. Nessa região, um potencial de mesma intensidade, mas gradiente oposto, acelera novamente o feixe fazendo com que ele saia do acelerador com um ganho (q+1) vezes a energia do potencial aplicado. A energia final do feixe, , é então dada por: 3.1 Onde é o estado de carga final do feixe e é o potencial aplicado nos terminais do acelerador. Figura 3.4: O acelerador propriamente dito. Na parte de baixa energia (LE) um feixe negativo é acelerado por uma d.d.p igual a VT. Dentro do trocador de carga (stripper) gasoso de N2, parte do feixe troca de carga, perdendo um ou mais elétrons. 39 Ao sair do acelerador o feixe passa por um imã seletor de momento (Switching magnet) onde se seleciona o momento do feixe. Quando passa pelo stripper, o feixe pode sair com diversos estados de carga diferentes e, portanto, precisa ser selecionado. Para isso, o imã seletor gera um campo magnético sobre o feixe que vai direcionar para a linha experimental apenas o estado de carga desejado. O feixe sofrerá uma força de Lorentz, e todos os feixes com a mesma razão sofrerão a mesma deflexão, selecionando o estado de carga específico que se deseja. Figura 3.5: Linha experimental do LaCAM. Saindo do acelerador com carga e energia definidas, o feixe segue para a linha experimental (Figura 3.5). Primeiramente, o feixe é colimado por dois conjuntos de colimadores. O feixe atravessa então dois pares de placas defletoras, que geram campos elétricos, vertical e horizontal, alinhando o feixe com a próxima parte da linha de modo a eliminar possíveis feixes espúrios. Há duas câmaras situadas ao longo da linha conforme o experimento que se deseja realizar. A primeira é usada para medidas das seções de choque absolutas, e a segunda para medidas dos íons de recuo em coincidência com os estados de carga emergentes do projétil. No caso das medidas absolutas, o feixe então é direcionado para a primeira câmara de colisão. Nesta câmara, o gás de estudo é inserido por uma válvula “agulha” e mantido a uma determinada pressão por bombeamento diferencial. Para que se tenha uma medida da pressão absoluta na câmara, usa-se um medidor do tipo capacitivo. Este tipo de medidor é composto de uma película próxima a outra placa, as quais formam um capacitor de placas paralelas. Quando exposta à baixa pressão, a película se deforma alterando a capacitância de forma proporcional à pressão aplicada. Este tipo de medidor é essencial para as medidas de seções de choque absolutas, pois mede a pressão absoluta 40 na câmara. O sensor de pressão via célula capacitiva funciona a partir da comparação entre duas pressões, isto é, de forma diferencial. Assim a pressão de referência é a pressão atmosférica, e a pressão exercida na célula possui um diafragma fixo que serve como referência para as variações entre as placas paralelas da capacitância (33). Para medidasem coincidência, a linha conta com uma segunda câmara de colisões. A câmara dispõe de um espectrômetro de massas de tempo de voo para as medidas de coincidência. Nesta câmara, o gás é introduzido por uma agulha móvel de forma que possa ser posicionado o mais próximo possível do feixe, a fim de aumentar a probabilidade de colisão. A pressão do gás é controlada por uma válvula agulha, semelhante à usada na câmara de seção de choque. 3.1.1 Medidas de seção de choque absoluta As medidas de seção de choque absoluta foram realizadas numa câmara, mantida a pressão constante por bombeamento diferencial e com um medidor de pressão absoluta do tipo capacitivo, como já descrito anteriormente. Neste tipo de medidor, não há nenhuma forma de interação entre o gás e o medidor a não ser uma interação mecânica, que corresponde à transferência de energia das moléculas ao se colidirem com uma película capacitiva, causando sua deformação e permitindo a medida da pressão através da variação da capacitância. Desta forma, o valor da pressão medida não depende da composição química das moléculas do gás, mas apenas da sua energia cinética e número de centros espalhadores. Sendo assim, sabendo a pressão absoluta do gás na câmara, podemos ter uma estimativa do número de centros espalhadores e, variando a pressão, podemos medir a seção de choque absoluta. Para um processo de troca de carga onde i e j estão relacionados aos estados inicial e final do projétil, a seção de choque pode ser expressa como (34): 3.2 com 41 3.3 onde é a fração do feixe com o estado de carga j, é o número de centros espalhadores por unidade de área e é a seção de choque total de troca de carga somada a todos os estados de carga do alvo, ou seja, 3.4 O número de centros espalhadores por unidade de área π, pode ser calculado por: 3.5 onde é o número de Loschmit ( átomos (moléculas) por cm3), é o número de átomos por molécula do gás, é a pressão do gás em Torr, é o comprimento efetivo do alvo gasoso em cm, é a temperatura do alvo em graus Celsius. No nosso caso, como medimos a pressão absoluta, independente da composição da molécula, devemos considerar cada centro espalhador como um alvo molecular, portanto neste caso . Da equação 3.5, encontramos então uma constante de proporcionalidade que, multiplicada pela pressão, nos dá o valor de , esta constante é igual a 2408. Como o gás alvo pode escapar pelos orificos da câmara, o comprimento efetivo do alvo é definido como = x+(D1+D2)/2, onde x = 12 cm representa o comprimento do alvo, D1 = 2,5 mm e D2 = 3,0 mm representam os diâmetros de entrada e saída da câmara, resultando em = 12,275 cm. Para pressões suficientemente baixas ( << 1), onde não há colisões múltiplas, as seções de choque podem ser determinadas a partir da parte linear do crescimento das frações do feixe. Assim, para a perda eletrônica por um feixe de O + temos: 3.6 Fazendo a medida do rendimento para diferentes pressões na faixa linear, podemos tirar um valor proporcional a seção de choque absoluta pela inclinação da reta resultante (Figura 3.6). Obtendo este valor e conhecendo a constante de 42 proporcionalidade que o relaciona com a seção de choque, no caso a constante 2408, podemos obter a seção de choque multiplicando a inclinação da reta por essa constante. 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 -0,02 0,00 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10 0,12 0,14 0,16 0,18 0,20 R e n d im e n to Pressão (mTorr) Figura 3.6: Medida da seção de choque absoluta da captura eletrônica de O + colidindo com CF2Cl2 a 100 keV. 3.1.2 Medidas em coincidência. A espectrometria por tempo de voo (TOF – Time of Flight) é uma técnica muito usada no estudo da fragmentação de moléculas por fótons ou partículas carregadas. Neste método, o alvo após interagir com o projétil é ionizado, produzindo elétrons e íons de recuo. Estes são submetidos a um campo elétrico que separa os elétrons dos fragmentos iônicos positivos, na região do sistema chamada de “extração”. Logo após a extração, os elétrons passam por uma lente magnética, a “lente de elétrons”, a fim de focaliza-los e melhorar a detecção. Depois de separados e focalizados, os elétrons são acelerados em direção a um detector channeltron, que gera um sinal de “start” num sistema eletrônico de contagem, disparando um cronômetro (time-to-amplitude converter- TAC). O fragmento positivo é extraído em direção oposta aos elétrons por um campo elétrico estático de 700V em direção ao tubo do tempo de voo. Logo depois da extração e antes do tempo de voo, mais uma lente magnética é posicionada a fim de focalizar os íons e otimizar sua detecção, a “lente de íons”. No tubo o fragmento 43 percorre seu comprimento sem ser submetido a nenhuma outra força elétrica, e finalmente atinge um detector microchannel plate no fim do tubo. Este detector gera um sinal de “stop” no TAC disparado pelo elétron. O que medimos então, é o tempo que o fragmento, depois de acelerado pelo campo elétrico, leva para percorrer o tubo. Uma representação esquemática de um tempo de voo é mostrada na Figura 3.7. Figura 3.7 – Esquema do TOF do LaCAM. Assim, quando os sinais de start e o stop estão situados dentro de uma janela de tempo determinada, medimos o tempo de voo (o intervalo de tempo entre os dois sinais) e temos um espectro de saída com o número de contagens pelo tempo de voo, como mostrado na Figura 3.8, neste caso para a molécula de CF2Cl2. Este método é chamado, no caso de fotoionização, PEPICO (Photon-Electron-Photon-Ion Coincidence). Sabendo que o fragmento foi acelerado em um campo elétrico constante e aproximadamente uniforme, podemos inferir a razão massa-carga dos fragmentos correspondentes a cada pico. Isso porque o fragmento vai ser acelerado até uma velocidade que é proporcional a raiz da razão massa-carga, ou seja, 3.7 Onde é uma constante relacionada ao comprimento do tempo de voo e ao potencial elétrico aplicado e é uma constante relacionada ao atraso do processamento de sinal eletrônico. 44 Podemos então, conhecendo alguns picos característicos da molécula, fazer uma calibração para determinar a massa e a carga de todos os outros picos. Este método permite determinar as proporções de produção de cada fragmento, além de tirar várias informações sobre a fragmentação da molécula, como a energia cinética de quebra e o mecanismo de quebra. 600 1200 1800 0 60 120 180 C o n ta g e n s Tempo de voo (unid. arb.) C 2+ C + F + CF + Cl + CCl + CF + 2 CFCl + CF 2 Cl + CFCl + 2 Figura 3.8: Espectro de fragmentação da colisão de CF2Cl2 com oxigênio duplamente carregado por ionização direta do alvo em energia de 1,5 MeV. Outro método de coincidência também usado é o PEPIPICO (Photon-Electron- Photon-Ion-Photon-Ion Coincidence). Este sistema de multi-coincidência é semelhante ao anterior, porém permite a coincidência entre mais de um fragmento produzido. Enquanto no PEPICO apenas um fragmento dá o stop, no PEPIPICO dois fragmentos dão o stop em tempos diferentes, permitindo identificar dois fragmentos provenientes da mesma molécula fragmentada. Esta técnica de multicoincidência, porém, não foi utilizada nos experimentos realizados no LaCAM, e portanto, será tratada com maiores detalhes na próxima seção dedicada ao LNLS, aonde a técnica foi empregada. Um esquema da eletrônica do sistema de coincidência do LaCAM é mostrado na Figura 3.9. 45 Figura 3.9: Esquema da eletrônica do sistema de coincidência do LaCAM. 3.2 Linhas experimentais SXS e TGM do LNLS. Para obter os espectros de fragmentação por fótons apresentadosneste trabalho, foram usadas as linhas dedicadas ao estudo de fotofragmentação por luz EUV (extreme ultraviolet), (TGM), e raios-X (SXS e TGM) do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS). O LNLS, localizado na cidade de Campinas, SP, Brasil, é uma instituição aberta, multidisciplinar e de multiusuários, ligado ao Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) e operado pela Associação Brasileira de Tecnologia de Luz Síncrotron (ABTLuS). O LNLS possui um anel de 92,2m de comprimento no qual um feixe de elétrons é confinado em uma energia de 1,37GeV. Os elétrons são gerados em um canhão de elétrons e entram em um acelerador linear onde atingem uma energia de 500 MeV. Depois são lançados em um anel injetor e novamente acelerados ate atingirem a energia máxima para serem lançados no anel principal. O anel é composto de seções retas seguidas de dipolos magnéticos curvos, de forma periódica, gerando 12 linhas experimentais. O feixe é disposto na forma de pacotes de elétrons gerando uma corrente de 250 mA. Quando o feixe passa pelos dipolos sofre uma mudança brusca na trajetória emitindo radiação num amplo espectro que vai da região visível ate ultravioleta de 46 vácuo. Cada linha possui um monocromador para selecionar uma determinada faixa de espectro para a radiação gerada. A radiação de luz branca que emerge do anel contém um largo espectro de comprimentos de onda e esta deve passar por um monocromador para ser selecionada. Cada uma das 12 linhas no LNLS possui um diferente monocromador, que permitem selecionar diferentes faixas de comprimento de onda. Para estudar fragmentação de moléculas, usamos as linhas TGM (Thoroidal Grating Monochromator), SGM (Spherical Grating Monochromator) e SXS. A linha TGM é projetada para espectrometria na região do ultravioleta de vácuo. Cobrindo uma faixa de espectro de 12 a 310 eV, a grade toroidal permite um bom fluxo, 10 13 fótons por segundo (1,3 GeV – 100 mA), e moderado poder de resolução próximo a 0,1 Å (40-120 Å), próximo a 0,3 Å (120-360 Å), e próximo a 1,1 Å (360-1.000 Å), para as três grades, e E/∆E próximo a 500 (35). A linha consiste em dispositivos de segurança, um espelho condensador, o monocromador de grade toroidal, e um espelho refocalizador. O monocromador possui três grades que podem ser selecionadas de acordo com a energia desejada. O sistema de detecção é composto por um analisador de energia de elétrons, um detector de fluorescência, e o espectrômetro por tempo de voo. Um esquema da linha é mostrado na Figura 3.10. Figura 3.10: Esquema da linha experimental TGM do LNLS. Um problema comum em linhas de luz na região de UVV é a presença de harmônicos superiores. Estes consistem em múltiplos inteiros de maior ordem de comprimento de onda que o selecionado no monocromador, que podem ter intensidade significativa para interferir no espectro. Para eliminar este efeito, existe um filtro de absorção de luz por gases nobres. Este consiste em uma coluna de neônio de 1,0 m de comprimento submetida a uma pressão de 0,1 mbar. O gás neônio é utilizado, pois, sua 47 absorção da luz é em torno de 21,5 eV, o que corta os harmônicos superiores a 12 eV, que é o limite inferior do monocromador. A coluna de neônio é mantida sob bombeamento diferencial, a fim de não contaminar a linha ou o anel, que trabalham em pressões entre 10 -9 e 10 -11 mbar. Já a câmara de amostras trabalha a pressões entre 10 -5 e 10 -6 mbar, que também é mantida por bombeamento diferencial. As linhas SGM e SXS tem configuração similar à linha TGM. A diferença mais importante é a faixa de energia e o monocromador. Portanto, outras características similares à linha TGM não serão novamente tratadas. A linha SGM (Spherical Grating Monochromator – Monocromador de grade esférica) é utilizada para espectroscopia nas regiões de ultravioleta de vácuo e raios-x moles (250 – 1000 eV). Esta é usada para pesquisas sobre propriedades de materiais e magnetismo, tendo aplicações na fotoabsorção na camada K do carbono, nitrogênio e oxigênio, espectroscopia de fotoelétrons e foto-dissociação. Esta linha tem resolução espectral (E/∆E) em torno de 2000. A linha SXS (Soft X-ray Spectroscopy – Espectroscopia de raios-x moles) é projetada para espectroscopia de raios-x moles (790 – 4000 eV). É usada para estudos de estrutura eletrônica e geométrica de materiais através de técnicas de foto absorção e foto emissão de elétrons. Esta linha possui aplicações no estudo de metais de transição, terras raras, cristais e semicondutores, estudo de superfícies, interfaces e múltiplas camadas, física atômica e molecular. Possui dois monocromadores com cristal duplo, totalizando quatro cristais com as energias: berílio, 790 - 1.550 eV; quartzo, 1.480 - 1.800 eV; InSb, 1.680 - 4.000 eV; Si, 2.050 - 4.000 eV. Esta linha possui resolução espectral (E/∆E) em torno de 2000. 3.2.1 Medidas e tratamento de dados. A mesma câmara experimental foi usada para experimentos em ambas as linhas, SXS e TGM. Em ambos os casos foi usado o sistema de multicoincidência PEnPICO já descrito. O fragmento iônico produzido pela interação com o feixe de luz linearmente polarizado é acelerado por um campo elétrico de dois estágios (750 V/cm no campo de extração). O TOF é desenhado para ter máxima eficiência para íons com energias maiores que 30 eV. Uma alta voltagem aplicada no detector (2800 V) microchannel plate (MCP) assegura que a detecção dos íons seja independente da eficiência do 48 detector. O espectrômetro inclui lentes de íons e elétrons para permitir o uso de uma área comparativamente pequena de máxima eficiência do MCP Figura 3.11. Figura 3.11: Tempo de Voo da câmara usada nos experimentos no LNLS e espectro padrão de argônio. Para detalhes sobre as características e performance de espectrômetros por tempo de voo, é indicada a referência (36). A câmara experimental é rotativa, permitindo o alinhamento do eixo do espectrômetro com o vetor de polarização do feixe incidente em diversos ângulos diferentes. Os experimentos de coincidência foram realizados com o eixo do TOF orientado linearmente em relação ao plano de polarização da luz sincrotron. O sistema de aquisição permite uma múltipla detecção com poder de resolução de 1ns. Medidas de coincidência podem ser feita em moléculas contendo um ou mais átomos de mesma massa. Para um dado evento de fotoinização, o sistema pode detectar, com uma janela de tempo de 5 µs (um tempo muito maior que o tempo de voo do fragmento mais pesado), os cátions em função de sua razão massa- carga. O sistema de aquisição combinado com um programa de análise multidimensional gera simultaneamente três espectros [ (37), (38)]: O espectro de TOF unidimensional da coincidência simples entre um íon e um elétron (PEPICO), como mostrado na Figura 3.11, um espectro bidimensional para duplas coincidências entre um elétron e dois íons (PE2PICO), que é mostrado na Figura 3.12, e um espectro tridimensional para coincidência tripla entre um elétron e três íons (PE3PICO). No caso do gráfico bidimensional de dupla coincidência (PE2PICO), a coincidência representada é entre os tempos de voo de dois fragmentos diferentes, representados separadamente nos eixos do gráfico. Assim, cada ilha de coincidência, ou ponto de intercessão entre os 49 tempos de voo, representa a coincidência entre dois fragmentos de massa diferente porém provenientes do mesmo processo de fragmentação. Figura 3.12: Espectro de fragmentação PEPEPICO da molécula CH2Cl2 fragmentada por fótons de energia 215eV. Os eixos T1 e T2 correspondem ao tempo de voo do primeiro e segundo fragmento, respectivamente. Devido à eficiência de detecção dos fragmentos iônicos e a resolução limitada do tempo de aquisição, dois fragmentos provenientes de um mesmo processo de fragmentação podemvir a ser detectados como um processo de ionização simples (PEPICO), no caso em que um dos íons não é detectado (39). Como a dupla ionização produz dois elétrons, o efeito é um crescimento na eficiência da detecção dos elétrons provenientes deste processo. No espectro PE2PICO, devido a resolução de detecção limitada do time-to-digital converter (TDC), não podemos detectar todas as coincidências entre dois íons, como H + + H + , com uma diferença de tempo de voo menor que 20 ns. Para moléculas contendo mais de um átomo de hidrogênio, o pico de H + é o mais afetado. Em alguns casos, cerca de 60% das contagens no espectro PEPICO para os fragmentos de H + podem vir de eventos de dupla ionização abortados. Esta perda é principalmente devido à resolução temporal do TDC. Para eventos em que dois íons chegam com diferença de tempo menor que a resolução de 20 ns, apenas um fragmento é coletado pelo detector, sendo registrado como um evento de ionização simples. Para fragmentos mais pesados a contribuição de eventos de dupla ionização não detectados é menos significativa. Em fótons de baixa energia, eventos de dupla 50 ionização são raros e, consequentemente, a contribuição de eventos perdidos se torna menor. No caso dos eventos entre dois fragmentos de mesma razão massa-carga, como F + +F + e F +2 +F +2 , dois íons podem viajar com uma diferença de velocidade menor que a resolução do espectro. Uma correção, portanto, deve ser aplicada a fim de corrigir este problema. Esta correção assume que uma parte da informação contida no espectro PEPICO pode ser proveniente de uma coincidência dupla abortada, que foi detectada como simples devido à baixa diferença de velocidade entre os projéteis. Adotamos o seguinte procedimento (40) com o objetivo de estimar a contribuição das coincidências entre fragmentos com a mesma razão massa-carga. Em casos onde a maior parte das informações gravadas no espectro PEPICO vem da chegada de íons resultantes de duplas ionizações abortadas, é razoável usar a forma do espectro PEPICO para corrigir os espectros de dupla coincidência associados a íons com razão massa-carga muito próximas. Fazemos então uma projeção da coincidência desses íons para os eixos t1 (tempo de voo do primeiro íon) e t2 (tempo de voo do segundo íon), somamos ambos, dividimos o valor da área correspondente por dois e corrigimos a forma do pico usando o espectro de PEPICO, como mostrado na Figura 3.13. A forma do pico projetado é ajustada para coincidir com as extremidades dos picos da soma dos picos projetados. A contagem normalizada do PEPICO é adotada como o valor numérico real da correspondente coincidência. 2220 2240 2260 2280 2300 0 50 100 150 200 250 300 C o n ta g e n s Tempo de voo (ns) Do espectro PEPICO Soma das coincidências projetadas Cl + +Cl + Figura 3.13: Correção para coincidência de Cl + com Cl + . 51 Com o objetivo de obter a eficiência da detecção de íons, foram feitas medidas do espectro de fotofragmentação de argônio e por comparação direta da intensidade relativa dessas medidas com outras medidas realizadas por Holand et al (41), podemos obter a eficiência de detecção de íons no nosso experimento. No caso das medidas deste trabalho, foi usada sempre a mesma câmara experimental para as medidas com fótons realizadas no LNLS. Esta já teve sua eficiência de detecção de elétrons calculada anteriormente, sendo este valor (36). Com o objetivo de estimar o número de eventos de dupla coincidência que caem no espectro de coincidência simples, o procedimento a seguir foi adotado. Seja um fragmento iônico, sua abundância num espectro de ionização simples, , é dada por: 3.8 Onde é o número dos íons produzidos após um evento de ionização simples, é o número dos produzidos depois de um evento de dupla ionização, é a eficiência de detecção de um íon, e e são as eficiências do detector para elétrons em eventos de ionização simples e dupla, respectivamente. O segundo termo na equação é devido aos eventos de dupla coincidência perdidos, onde um dos íons não foi detectado. A abundância correspondente no espectro de dupla ionização, , é dada por: 3.9 Combinando ambas as equações anteriores, o número de íons no espectro de coincidência simples, , devido somente à ionização simples, é dado por: 3.10 Usando então o valor já conhecido da eficiência de detecção de elétrons, podemos calcular a eficiência de detecção de íons para cada molécula. 52 3.2.2 Energia cinética de quebra. A possibilidade de avaliar a energia é a principal preocupação no estudo da dinâmica de fragmentação molecular. Uma medida experimental muito comum em fragmentação molecular é a energia cinética com a qual os íons são liberados na fragmentação (KER – kinetic energy release). Quando cátions são produzidos a partir da fragmentação de uma molécula, parte do excesso da energia interna do par de íons é liberada na forma de energia cinética transferida para os fragmentos. A medida da KER carrega diversas informações associadas à natureza dos estados eletrônicos e a dinâmica de fragmentação. Na fragmentação que produz um íon carregado mais íons neutros, a energia cinética de fragmentação total é a energia transferida entre fragmento iônico e os fragmentos neutros. No caso da fragmentação em duas etapas, a KER total pode ser calculada da energia cinética do fragmento iônico através da aplicação simples da conservação de momento e energia. O espectrômetro de tempo de voo utilizado foi um TOF de Wiley-McLaren (42). Nessas condições, a largura do pico é predominantemente devido à energia de liberação dos fragmentos. A distribuição da KER inicial depende das curvas de energia potencial para determinados estados e contém valiosas informações sobre o processo de ionização. O tempo de voo dos íons formados com energia cinética desprezível depende apenas da sua razão massa-carga. A variação na energia cinética inicial de fragmentos carregados resulta em um alargamento dos picos. O tempo de voo de um íon com energia cinética pode ser escrito como: 3.11 Onde é o tempo de voo para íons sem energia cinética inicial. O sinal mais ou menos é devido à direção inicial das velocidades, na direção oposta ou igual à do detector, respectivamente. A partir da distribuição do pico de tempo de voo é possível calcular tanto a distribuição da energia cinética de liberação (KER) para os fragmentos quanto seu valor médio [ (43), (44)]. Assumindo que os fragmentos são perfeitamente focados e que o campo elétrico na região de interação é uniforme, a KER no processo de fragmentação, , pode ser determinada pela largura do pico através da expressão [ (43), (44)] 53 3.12 onde é o estado de carga do fragmento, é o campo elétrico na região de interação, é a largura a meia altura do pico (Full Width at Half Maximum – FWHM), e é a massa do fragmento. Vale a pena mencionar que determinados valores são justamente no limite superior, já que o alargamento no pico é influenciado pela eletrônica, energia térmica e a energia cinética de liberação. A largura observada do pico para um dado fragmento ( ) inclui contribuições da resolução eletrônica intrínseca ( ), o espalhamento devido à distribuição espacial dos íons ( ) e a energia cinética inicial do íon ( ) relacionadas por: 3.13 Onde é independente da razão massa-carga, é proporcional a esta [ (43), (44)], e esta diretamente relacionada com a KER pela Equação3.12. 54 Capítulo 4: Seções de choque absolutas de perda e captura eletrônica da colisão de O+ e O2+ com as moléculas CF2Cl2, CHClF2 e SF6. A Terra é constantemente bombardeada por radiação do resto do Universo. Ela vem em uma grande variedade de intensidades, composição, e incide sobre todas as direções do planeta. Radiação cósmica clássica consiste em núcleos ionizados que atingem a Terra a uma taxa de cerca de 1000 eventos/cm 2 .s, e foram descobertos por Hess em 1912. Raios cósmicos clássicos consistem em cerca de 98% de núcleos e 2% elétrons. Os núcleos são divididos em prótons (87%), partículas alfa (~ 12%) e elementos mais pesados (~ 1%) como oxigênio. A composição de elementos dos raios cósmicos tem sido determinada experimentalmente na região de alguns MeV até alguns TeV. Na maioria das vezes a biosfera é protegida pela atmosfera da Terra e por um campo magnético, que absorvem e canalizam a maior parte da radiação potencialmente prejudicial. Neste capítulo apresentamos os resultados experimentais para as seções de choque absolutas de troca de carga do projétil (perda e captura eletrônica) em colisões de íons de O + (7 elétrons) e O 2+ (6 elétrons) com moléculas de CF2Cl2 (58 elétrons), CHClF2 (42 elétrons) e SF6 (70 elétrons). Unidades atômicas (u.a) são utilizadas em algumas partes do presente capítulo. A Figura 4.1 mostra a imagem obtida no detector microchannel plate sensível à posição, posicionado no final da linha de colisões, para a colisão de O 2+ de 1,5 MeV com CHClF2. Na figura, podemos ver todos os estados de carga do oxigênio, após a colisão, perfeitamente separados. Podemos detectar, além do estado de carga incidente (O 2+ ), a perda (O 3+ ) e a captura eletrônica (O + ), além da dupla perda (O 4+ ) e dupla captura (O 0 ). 4.1 Captura Eletrônica de O + e O 2+ em CF2Cl2. Nesta seção apresentamos os resultados experimentais para as seções de choque totais de captura eletrônica simples e dupla (qq’ com q’ < q) de feixes de O + e O 2+ em colisões com a molécula CF2Cl2. Estes processos podem ser representados como: 55 O q+ + CF2Cl2 O (q-j)+ + (CF2Cl2) 4.1 onde q é o estado de carga inicial do projétil (q = 1 ou 2) e j é o número de elétrons capturados pelo projétil na colisão ( j = 1 ou 2). A soma (CF2Cl2) significa que não estamos olhando para o estado final do alvo. Assim o estado final do alvo não é medido nesse experimento. No Capítulo 7 apresentaremos as medidas em coincidência com o estado final do alvo. O processo 4.1 é de fato uma reação com parceiros diferentes antes e depois da colisão. Usualmente, a captura simples é o processo dominante; no entanto, no caso de projéteis altamente carregados (q>>1), a captura múltipla torna-se um processo muito importante devido à grande influência do campo Coulombiano de longo alcance criado pelo projétil. Figura 4.1: Imagem dos feixes de ionização e perda e captura eletrônica simples e dupla separados na microchanel plate do LaCAM da colisão de O 2+ de 1,5 MeV com CHClF2. Na Figura 4.2 são apresentados os valores medidos e a curva do modelo de Bohr-Lindhard para a seção de choque total de captura eletrônica da colisão de O + e O 2+ com a molécula de CF2Cl2. No modelo de Bohr-Lindhard foi usado um valor de α igual a 0,8 e Z igual a 58 (soma do número atômico de cada átomo da molécula). Os valores das seções de choque de captura simples de O + e O 2+ em CF2Cl2 são relativamente O 4+ O 2+ O + + O 0 + O 3+ 56 0,5 1 1,5 2 10 2 10 3 O+ + CF 2 Cl 2 ( M b ) V/V 0 Modelo Bohr-Lindhard 8b 1 1 1,5 2 2,5 10 2 10 3 ( M b ) V/V 0 O 2+ + CF 2 Cl 2 8b 1 Figura 4.2: Seções de choque totais de captura eletrônica simples em Mb (e Mb = 10 -18 cm 2 ) em função da velocidade do projétil para colisões de feixes de O + (superios) e O 2+ (inferior) com CF2Cl2. A seta vertical indica a velocidade média dos elétrons do orbital molecular 8b1 da molécula CF2Cl2. As curvas contínuas representam os cálculos da seção de choque no modelo de Bohr-Lindhard. grandes (acima de um Gb, 1Gb = 10 -15 cm 2 ), de tal forma que esses processos desempenham um papel significativo nas camadas superiores de atmosfera. Nessa seção tratamos apenas com os processos de captura não-radiativa, ou seja, os processos de captura os quais não estão relacionados com a emissão ou absorção de um fóton. Os processos de captura radiativa, processo oposto à fotoionização, são muito importantes em colisões de altíssimas energias de projéteis altamente carregados (q >>1). 57 Observamos uma boa concordância dos dados experimentais com os valores teóricos, estando a maioria dos pontos dentro da margem de incertezas. Como descrito anteriormente, o modelo de Borhr-Lindhard é um modelo clássico desenvolvido para colisões de alvos e projéteis atômicos. Neste caso, estamos aplicando este modelo a um alvo molecular, e obtemos bons resultados. Isto possivelmente se deve ao fato da molécula de CF2Cl2 ser altamente simétrica (grupo C2v), possuindo portanto uma nuvem eletrônica suficientemente simétrica para a aplicação efetiva desse modelo. O íon O + possui três elétrons em seu nível mais externo (2s 2 2p 3 ) tendo um potencial de ionização Ip=35,1 eV. O seu estado fundamental é o 4 S3/2. Como outros átomos e íons de camada aberta, o O + tem dois estados excitados metaestáveis (com energias próximas à do estado fundamental) com a mesma configuração eletrônica (2s 2 2p 3 ) 2 D5/2,3/2 e (2s 2 2p 3 ) 2 P3/2,1/2, com meia vida de aproximadamente 3,6 h e 5s, respectivamente [ (45), (46)]. No presente trabalho, a condição é sempre satisfeita, onde é a meia-vida do estado excitado, é a velocidade do projétil e é a distância percorrida pelo projétil do ponto onde ele é formado até a região de colisão. Portanto, não separamos estes estados metaestáveis em nossas medidas. Os presentes resultados indicam, porém, que as diferenças entre a seção de choque de captura eletrônica para projéteis no estado fundamental ou no estado excitado é muito pequena, ou pode indicar que muitos poucos metaestados são formados, pois a seção de choque de captura simples não difere do comportamento geral esperado para projéteis de carga simples, como mostram as Figura 4.2, Figura 4.4 e Figura 4.6. Por outro lado, a produção de projéteis metaestáveis é dependente da energia e decresce com o aumento da velocidade do projétil e pode ser desprezada na faixa de velocidades estudada no presente trabalho. Nas medidas de mais alta energia, o modelo de Bohr-Lindhard não corresponde aos valores medidos de forma tão precisa quanto nos pontos de energia mais baixa. Devemos lembrar que estes pontos, em nossas medidas, equivalem aos valores de velocidade na faixa , pela definição do nosso modelo. Nesta faixa, a probabilidade de perda eletrônica do projétil é da mesma ordem ou maior que a probabilidade de captura eletrônica. Nesta situação, o acoplamento entre os canais deve ser levado em conta para uma descrição correta do problema (47). Outra razão é a falha da descrição da distribuição dos elétrons do alvo no modelo de Knudsen. As setas verticais em vermelho indicam a velocidade orbital média do elétron menos energético 58 do alvo. Como podemos observar, a maior velocidade do projétil em nossas medidas ainda é menor que a velocidade média do elétron menos energético do alvo, o que caracteriza a faixa em que trabalhamos como de baixa velocidade. Por outro lado, os dados experimentais tem a mesma dependência com a velocidade do projétil (v -7 ) como previsto pela simples estimativa dada pelo modelo de Bohr-Lindhard. Não temos conhecimento de nenhum dado de captura eletrônica dessas moléculas na literatura. A Figura 4.3 apresentam os valores experimentaispara as seções de choque de dupla captura eletrônica da colisão de O + e O 2+ com CF2Cl2. Observamos um comportamento semelhante ao apresentado pelas medidas de seção de choque de captura eletrônica simples, porem com valores aproximadamente uma ordem de grandeza menor. Supondo captura de elétrons independentes, ou seja, uma distribuição binomial para a captura de um ou dois elétrons: nNnn bPbP nNn N bP )(1)( )!(! ! )( 4.2 onde N é o número de elétrons numa camada em particular do alvo, n é o número de elétrons capturados pelo projétil. As seções de choque totais para captura simples (cs) e dupla captura (dc) podem ser escritas como bdbbPbP N N bdbbPbP N N N dc N cs 22 1 )(1)( )!2(!2 ! 2 )(1)( )!1(!1 ! 2 4.3 Por questões de simplicidade, podemos supor que a dependência da probabilidade de captura com o parâmetro de impacto pode ser expressa na forma exponencial como: R b ePbP )0()( 4.4 Onde R é o parâmetro de impacto onde P(b) é máximo. Tipicamente, para os sistemas sob estudo nessa tese, R é da ordem de algumas unidades atômicas para grandes velocidades do projétil. Como P(b) é < 1, a probabilidade de dupla captura é menor que a probabilidade de captura simples, o que faz com que a seção de choque de dupla 59 captura seja bem menor que a de captura simples. Além disso, outros fatores devem ser levados em conta, como a probabilidade de ionização do alvo simultaneamente com a captura eletrônica, o que deixa o projétil com mesmo estado de carga. Estes fatores tornam extremamente complexa e inviável a comparação dos resultados de dupla perda com um modelo teórico, como foi feito para a perda eletrônica simples. 0,5 1 1,5 10 100 ( M b ) v/v 0 O + +CF 2 Cl 2 0,5 1 1,5 2 10 100 O 2+ + CF 2 Cl 2 ( M b ) v/v 0 Figura 4.3: Seção de choque de dupla captura eletrônica para colisões de oxigênio simples e duplamente carregado com CF2Cl2. 60 No regime de energias intermediárias (presente caso), a ionização simultânea em ambos os parceiros de colisão ocorre com certa probabilidade. Por essa razão, esses processos de colisão tornam-se bastante complexos. 4.2 Captura Eletrônica de O + e O 2+ em SF6. Nesta seção apresentamos os resultados experimentais para as seções de choque totais de captura eletrônica (qq’ com q’ < q) de feixes de O + e O 2+ em colisões com a molécula SF6. Estes processos podem ser representados como: O q+ + SF6 O (q-j)+ + (SF6) 4.5 Assim como anteriormente, o estado final do alvo não é medido nesse experimento. No caso do SF6, a velocidade média dos elétrons menos ligados (2,7 u.a.) é bem maior que a faixa de velocidades do projétil estudada, tornou-se inconveniente sua apresentação no gráfico. O número atômico total usado foi . Não foi possível, porém, ajustar as curvas para as duas faixas de velocidades utilizadas, e , usando o mesmo valor de . Para o oxigênio de carga simples, foram usados valores de e , para as velocidades mais baixas e intermediárias, respectivamente. Para o oxigênio de carga dupla foram usados os valores de e . Como explicado no Capitulo 2, o parâmetro é introduzido para levar em consideração a existência de elétrons com velocidades menores que , sendo . Em ambos os casos, na colisão com O + e O 2+ , o valor de é maior para velocidades mais baixas. Isto estende os valores da região de velocidade mais baixa ao domínio das velocidades intermediárias, causando uma descontinuidade no modelo. Esta falha pode ser devido ao fato do SF6 permitir a ionização através de ressonâncias vibracionais. Este fator não é considerado no modelo, e pode ter influência sobre os processos eletrônicos desta molécula em colisões com íons, já que tem forte papel na fragmentação da molécula por interação com fótons, como veremos mais a frente. Apesar dos valores de diferentes, o comportamento da curva teórica segue bem os dados experimentais, principalmente na colisão com O + . Neste caso, temos uma boa concordância com os pontos de baixa velocidade, e uma pequena discrepância em 61 0,5 1 1,5 2 10 2 10 3 O+ + SF 6 ( M b ) v/v 0 ( u.a.) 0,5 1 1,5 2 10 3 2x10 3 ( M b ) v/v 0 (u.a.) O2+ + SF 6 Figura 4.4: Seção de choque total de Captura Eletrônica simples para colisão de oxigênio simples e duplamente carregado com SF6. velocidades mais altas, semelhante ao CF2Cl2. Da mesma forma, a não utilização de canais acoplados e a falha da descrição da distribuição dos elétrons do alvo no modelo de Knudsen levam o modelo a começar a falhar em velocidades mais altas. Para o O 2+ , a falha do modelo é ainda mais evidente, sendo que apresenta valores bem acima dos medidos para baixas velocidades, e abaixo para altas velocidades. Isto mostra uma ineficiência do modelo no que consiste na dependência da variação da seção de choque 62 em função do estado de carga do projétil, o que é aceitável para um modelo que só leva em consideração apenas a interação núcleo-eletron aplicado a um sistema complexo de vários elétrons. Observamos também que o modelo funciona melhor para o CF2Cl2, que tem do que para o SF6, com . Isto é razoável dado que o aumento de elétrons no sistema torna o modelo mais distante de uma descrição real, já que é um modelo que não leva em conta a interação múltipla entre elétrons. A Figura 4.5 apresenta os valores experimentais para as seções de choque de dupla captura eletrônica da colisão de oxigênio duplamente carregado com SF6. As medidas de seção de choque da colisão com oxigênio de carga simples com a molécula não apresentaram valores mensuráveis para dupla captura eletrônica. As medidas de seção de choque de dupla captura eletrônica apresentam comportamento semelhante e valores de até uma ordem de grandeza menores que a seção de choque de captura simples para o projétil de mesmo estado de carga, com a diferença variando de acordo com a velocidade do projétil. Em uma análise qualitativa a variação da seção de choque é bem razoável, caindo com o aumento da velocidade e menor que os valores para captura simples. Uma análise quantitativa, porém, seria impraticável devido à complexidade do problema, pelas mesmas razões que para o CF2Cl2. 0,5 1 1,5 2 10 100 1000 ( M b ) v/v 0 (u.a.) O 2+ +SF 6 Figura 4.5: Seção de choque de dupla captura eletrônica da colisão de oxigênio duplamente carregado com SF6. 63 4.3 Captura Eletrônica de O+ e O2+ em CHClF2. Nesta seção apresentamos os resultados experimentais para as seções de choque totais de captura eletrônica (qq’ com q’ < q) de feixes de O + e O 2+ em colisões com a molécula CHClF2. Estes processos podem ser representados como: O q+ + CHClF2 O (q-j)+ + (CHClF2) 4.6 1 1,5 10 2 10 3 ( M b ) v/v 0 O + +CHClF 2 1 2 10 2 10 3 O 2+ +CHClF 2 ( M b ) v/v 0 14a' Figura 4.6: Medidas da seção de choque de captura eletrônica simples da colisão de oxigênio de carga simples com CHClF2. 64 A Figura 4.6 mostra os resultados para as medidas da seção de choque de captura eletrônica da colisão de oxigênio de carga simples e dupla com a molécula CHClF2. A seta vermelha indica a velocidade média do elétron menos energético do alvo. Foram ajustadas as curvas do modelo de Bohr-Lindhard usando os parâmetros , para o oxigênio de carga simples e para o oxigênio de carga dupla, foi necessário novamente usarem-se dois valores diferentes de , sendo para a primeira faixa de energia ( ) e para a segunda faixa ( ). Devemos ressaltar que no caso do O + , foi usada apenas uma faixa de energia no ajuste da curva,. Observamos que no caso da colisão com O + , o modelo funciona razoavelmente bem em energias mais baixas, começando a falhar nos últimos pontos de energia mais alta. Devemos lembrar que nesta faixa de energia o acoplamento entre os canais deve ser levado em conta para uma descrição correta do problema, o que leva o modelo a falhar em energias mais altas. Além disso, o CHFCl2 é a molécula menos simétrica entre as estudadas nesta tese. Isto faz com que a sua nuvem eletrônica se afaste da simetria do nosso modelo. Sendo assim, é esperado que esta molécula seja a menos compatível com o modelo de Bohr-Lindhard dentre as estudadas. De fato, observamos nas medidas de seção de choque com oxigênio duplamente carregado, que o modelo funciona apenas na região de baixas energias, ( ), onde a seção de choque é geométrica. Para energias mais altas, o modelo falha. Além de todos os problemas já citados para a aplicação do modelo na faixa de velocidades mais altas ( ), ainda devemos levar a assimetria da molécula em consideração, o que explica uma menor concordância dos dados experimentais com o modelo teórico do que nas outras moléculas estudadas, que são altamente simétricas. 4.4 Perda Eletrônica de O + e O 2+ em CF2Cl2 . Em colisões íon-átomo e íon-molécula, o principal processo competidor com a captura eletrônica é a perda eletrônica, ou ionização do projétil pelo alvo. Ambos os processos possuem distintas dependências com a velocidade do projétil, com a carga do projétil, e com a carga efetiva do alvo. Assim, a contribuição de cada processo depende fortemente da faixa de energia e estrutura atômica/molecular tanto do projétil, quanto do alvo. Nesta seção apresentamos os resultados experimentais para as seções de choque 65 totais de perda eletrônica (qq’ com q’ > q) de feixes de O + e O 2+ em colisões com a molécula CF2Cl2. Estes processos podem ser representados como: O q+ + CF2Cl2 O (q+j)+ +je - + (CF2Cl2) 4.7 onde q é o estado de carga inicial do projétil (q = 1 ou 2) e j é o número de elétrons perdidos pelo projétil na colisão ( j = 1 ou 2). A soma (CF2Cl2) significa, como antes, que não estamos detectando os estados finais do alvo. Assim como no caso da captura, o estado final do alvo não é medido nesse experimento. Na Figura 4.7 são mostrados os resultados experimentais e teóricos para as seções de choque absolutas de perda eletrônica simples de feixes de O + e O 2+ em colisões com a molécula de CF2Cl2. Na faixa de velocidade do projétil em que foram realizadas as medidas, o processo de perda eletrônica é dominado pelo modo de screening ou blindagem (48) (vide capítulo 2). Como visto no capítulo 2, nesse mecanismo o(s) elétron(s) do projétil é(são) ionizado(s) pelos núcleos do alvo. Usando o modelo free-collision model já descrito no Capítulo 2, foram calculadas as sessões de choque de perda eletrônica no modo screening pelo Professor Sigaud da PUC-Rio de acordo com seu método descrito no Capítulo 2 e na referência (19). Os valores calculados são apresentados em vermelho. Não foi possível calcular valores teóricos através do modelo para toda faixa de velocidades dos dados experimentais porque o cálculo teórico depende de um banco de dados de valores conhecidos para a velocidade orbital dos elétrons do alvo, que não possui todos os valores necessários para esses cálculos. Observamos uma ótima concordância entre os valores medidos e os valores calculados, que apresentam variações menores que 10% na região medida, tanto para o projétil O + quanto para o O 2+ . Embora não tenhamos medidas para velocidades altas, os dados indicam que o máximo das seções de choque acontecem para valores v1 ve, onde v1 é a velocidade do projétil e ve é a velocidade média do elétron do alvo. Na Figura 4.8, são mostrados os resultados para a seção de choque de dupla perda eletrônica da colisão do CF2Cl2 com O + . Essas seções de choque são cerca de três vezes menores do que as seções de choque correspondentes de perda simples. Os experimentos de colisão com oxigênio de carga dupla não apresentaram valores mensuráveis para dupla perda com o CF2Cl2, provavelmente porque o oxigênio de carga dupla tem mais alta probabilidade de capturar um elétron ionizado do projétil após 66 sofrer uma perda eletrônica. As medidas seguem a tendência de aumento da seção de choque com a velocidade esperada pelo modelo, porém não foram feitos cálculos teóricos destes valores, já que o modelo utilizado não abrange processos de dupla troca de carga. Devemos lembrar que a análise teórica é bastante complicada devido ao fato da perda eletrônica, captura e ionização serem comparáveis e altamente acopladas umas as outras. 1 1,5 2 2,5 10 100 1000 Medido Calculado ( M b ) v/v0 O + +CF 2 Cl 2 1 1,5 2 10 100 Medido Calculado ( M b ) v/v 0 O +2 +CF 2 Cl 2 Figura 4.7: Seções de choque total de perda eletrônica simples (ionização do projétil) para colisões de oxigênio simples e duplamente carregado com CF2Cl2 em função da velocidade do projétil em unidades atômicas. 67 1 1,5 10 100 O + +CF 2 Cl 2 ( M b ) v/v 0 Figura 4.8: Seção de choque de dupla perda eletrônica para colisão de oxigênio de carga simples com CF2Cl2. 4.5 Perda Eletrônica de O + e O 2+ em SF6 . Nesta seção apresentamos os resultados experimentais para as seções de choque totais de perda eletrônica (qq’ com q’ > q) de feixes de O + e O 2+ em colisões com a molécula SF6. Estes processos podem ser representados como: O q+ + SF6 O (q+j)+ +je - + (SF6) 4.8 Na Figura 4.9 apresentamos os resultados de seção de choque absoluta de perda eletrônica de O + e O 2+ em colisões com a molécula de SF6. Devemos notar que a aplicação do free-collision model é restringida aos projéteis com velocidade maior que a velocidade orbital dos elétrons ativos do projétil. Isto limita os cálculos no caso do SF6, permitindo que sejam calculadas apenas as seções de choque do O + , não sendo possíveis os cálculos para o projétil O 2+ . Observamos mais uma vez uma boa concordância entre os valores medidos e os calculados na faixa de velocidades onde foram possíveis os cálculos, com uma discordância menor que 10% para as colisões com O + . As medidas de colisão com O 2+ , apesar de não terem valores para comparação, seguem a tendência 68 de crescimento esperada pelo modelo, com valores aproximadamente duas vezes maiores do que os medidos para colisão com O + . 1 2 10 100 Medido Calculado ( M b ) v/v 0 O + +SF 6 1 2 100 ( M b ) v/v 0 O 2+ +SF 6 Figura 4.9: Seção de choque total de Perda Eletrônica simples para colisão de oxigênio simples e duplamente carregado com SF6. 69 1,2 1,4 1,6 100 200 300 O + + SF6 ( M b ) v/v o Figura 4.10: Seção de choque de dupla perda eletrônica da colisão de oxigênio de carga simples com SF6. Também foram realizadas medidas de dupla perda para a colisão de O + com SF6, apresentadas na Figura 4.10. As medidas não apresentaram valores mensuráveis de seção de choque de dupla perda para colisão com o projétil O +2 . Poucos pontos puderam ser medidos, devido à queda muito rápida da seção de choque em baixas velocidades, tornando os valores imensuráveis. Apesar disso, os pontos obtidos já podem mostrar uma tendência da variação da seção de choque com a velocidade. As medidas seguem a tendência de aumento da seção de choque com a velocidade esperada pelo modelo, com valores bem abaixo da perda simples, como era de se esperar. Não foram feitos cálculos teóricos destes valores, pois o modelo não abrange processos de dupla troca de carga. 4.6 Perda Eletrônica de O + e O 2+ em CHClF2 . Nesta seção apresentamos os resultados experimentais para as seções de choque totaisde perda eletrônica (qq’ com q’ > q) de feixes de O + e O 2+ em colisões com a molécula CHClF2. Estes processos podem ser representados como: O q+ + CHClF2 O (q+j)+ +je - + (CHClF2) 4.9 70 1 1,5 100 O + +CHClF 2 ( M b ) v/v 0 1 1,5 2 1 10 100 (M b ) O 2+ +CHClF 2 v/v 0 Figura 4.11: Seção de choque de perda eletrônica simples da colisão de oxigênio simples e duplamente carregado com CHClF2. A Figura 4.11 apresenta os resultados das medidas de seção de choque de perda eletrônica da colisão de oxigênio simples e duplamente carregado com CHClF2. Por questões de falecimento do professor Sigaud, não foi possível se fazer os cálculos como para as outras moléculas, mas podemos observar que as medidas seguem claramente o comportamento do modelo, com aumento da seção de choque com uma posterior tendência a continuidade. Os valores da seção de choque com oxigênio duplamente carregado apresentam valores aproximadamente duas vezes maiores que os valores para 71 colisão com oxigênio de carga simples, obedecendo esta tendência já observada nas medidas de seção de choque de outras moléculas apresentadas anteriormente. Para velocidades do projétil menores do que 1,5 u.a., o processo de troca de carga dominante é a captura eletrônica, enquanto que acima desse valor, a perda eletrônica é o principal mecanismo para a troca de carga do projétil. O limite preciso de velocidade na qual um ou outro mecanismo passa a dominar depende das estruturas do projétil e do alvo. No caso de velocidades intermediárias (presente caso), onde 0,2 v < 1 (em unidades atômicas), os elétrons mais externos do alvo são capturados pelo projétil com grande probabilidade, e devido à contribuição da captura para o grande número de estados excitados do íon O (q-1)+ , a seção de choque de captura exibe um caráter quase constante, ou seja, sua magnitude é aproximadamente independente da energia de colisão. Ainda no caso de velocidades intermediárias, a captura eletrônica leva à população preferencial dos estados com número atômico principal n dado pela equação (válida, a principio para q 5) n q 3/4 (It/Ry) -1/2 , onde It representa a energia de ionização do alvo (18). Para altas energias de colisão E (v 2 >> Ip), onde Ip é o potencial de ionização do projétil, em unidades atômicas) , a seção de choque de captura, cap e a seção de choque de perda perda exibem os seguintes comportamentos assintóticos para um alvo com número atômico efetivo Zef (18): 5,52 2 5,5 55 ~ ~ Eq Z E Zq ef perda ef cap 4.10 Então, a seção de choque de captura eletrônica cai muito mais rapidamente com a energia do projétil em comparação com a perda, mas depende mais fortemente da carga do projétil e do número atômico efetivo do alvo. 72 Capítulo 5: Medidas em coincidência de fragmentação por fótons. A principal fonte de radiação extraterrestre é claramente o sol, com cerca de 1380 W/m 2 . A atenuação pela atmosfera reduz para cerca de 1000 W/m 2 em uma superfície horizontal, quando o sol está diretamente para cima e num dia claro. Obviamente as nuvens, a umidade relativa do ar, poeira e outras partículas, podem reduzir ainda mais essa intensidade, além de que a incidência em geral não é normal. A maior parte desta radiação vem sob a forma de luz visível. No entanto, o Sol também produz radiação ionizante, na forma de raios cósmicos de energia baixas e moderadas, luz ultravioleta e raios-X. Estas podem aumentar significativamente durante tempos curtos, por exemplo, durante explosões solares. Nesse capítulo apresentamos os resultados para a fragmentação de algumas moléculas de interesse atmosférico por fótons de UV e raios-X. Os experimentos foram realizados nas linhas SXS e TGM do LNLS. Foram feitas medidas de fotofragmentação de CF2Cl2 na valência e na borda da camada K do cloro, e para SF6 na borda da camada K do enxofre. Para ambos foram feitas medidas de coincidência simples e duplas (PEPICO e PEPIPICO), com uma ampla análise que permitiu tirar grande quantidade de informações sobre a fragmentação. 5.1 Fotofragmentação do diclorodifluormetano por fótons na região de valência. Os experimentos de fragmentação por fótons de baixa energia foram realizados na linha TGM do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, em Campinas, SP. Foram realizadas medidas do rendimento (yield) dos íons produzidos pela fragmentação do diclorofluormetano por fótons na faixa de 12 eV a 215 eV. Os resultados foram comparados a dados existentes na literatura. Em regiões de baixa energia (até 90 eV), a influência de harmônicos superiores pode ser bastante significativa no processo de fragmentação, como já foi dito no Capítulo 3. Para evitar este efeito, a montagem da linha TGM do LNLS possui um 73 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 0 2 4 6 8 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 0 20 40 60 80 100 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 0 5 10 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 0 2 4 6 8 10 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 0 10 20 30 40 50 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240 0 5 10 15 20 C + CF2Cl + R e n d im e n to ( % ) CF + (Suzuki, et al., 1994) (Zhang, et al., 1991) (Zavilopulo, et al., 2010) Medidas com filtro Medidas sem filtro F + Cl+ Energia (eV) Energia (eV) CFCl 2 + Figura 5.1: Rendimento (yield) dos principais fragmentos produzidos na fotofragmantação do CF2Cl2 por fótons de baixa energia em comparação com algumas referências [ (52), (50) e (53)]. aparato para a inserção de uma atmosfera de neônio antes do feixe chegar à câmara experimental, a fim de absorver qualquer harmônico superior à absorção do neônio. O uso do filtro de neônio nesta faixa de energia e qual o seu efeito sobre as medidas é um tema bastante discutido entre usuários da linha TGM, pois é necessário saber em qual faixa de energia o filtro é realmente eficiente e necessário, e se existe uma onde possa influenciar no valor real da medida. Por isso, foram realizadas as medidas tanto com quanto sem o filtro de neônio, a fim de comparar os resultados com referências já existentes. Ambos os resultados são mostrados na Figura 5.1, juntamente com alguns valores da literatura para comparação. Os resultados de (49) foram medidos de forma semelhante aos nossos. É relatado na referência o uso de filtro de harmônicos, porém diferente dos usados neste trabalho. O filtro apresentado pela referência se compõe por filmes finos de Be, Al e In, para absorver os harmônicos superiores. Os resultados de (50) também foram feitos por espectroscopia de tempo de voo, o aparato experimental é 74 melhor descrito em (51). Não há relato do uso de filtros nas medidas. Observamos que os resultados das medidas sem o uso do filtro de neônio estão em concordância muito maior que os resultados obtidos com o uso do filtro para energias acima de 22,5 eV, que é o valor de corte do neônio. Nas energias abaixo de 22,5 eV porém, vemos que a concordância dos valores medidos com o uso do filtro é bem maior que das medidas sem o filtro. Podemos concluir então que o uso do filtro de neônio é de fundamental importância para energias abaixo de 22,5 eV, porém deve se ter o cuidado de não usar o filtro em energias superiores a absorção do neônio, pois este pode causar a absorção indesejada das frequências em estudo e podemos ver que influencia claramente no espectro. Os resultados de fragmentação do CF2Cl2 por fótons de baixa energia será tratado novamente no Capítulo 6, quando será feita uma comparação entre os perfis de fragmentação através do momento transferido por fótons e por íons 5.2 Fotofragmentação do Diclorodifluormetano na Borda da Camada K do Cloro. Os experimentos de fotofragmentaçãonas vizinhanças da camada Cl 1s do diclorodifluormetano foram realizados na linha SXS do LNLS, usando espectrometria por tempo de voo e técnicas de multi-coincidência. Assim, foi possível obter espectros de coincidências simples (PEPICO) e dupla (PE2PICO), das quais pudemos tirar informações dos processos de fragmentação como rendimento iônico parcial para cada fragmento, energia cinética de translação dos íons e contribuição de diferentes caminhos de fragmentação. Espectros típicos da fragmentação da molécula para duas diferentes energias são mostrados abaixo (Figura 5.2). Com o objetivo de estudar o processo de fragmentação resultante da excitação de camada interna, foram feitas medidas de espectrometria de tempo de voo em energias na faixa de 2819 eV e 2825 eV, que é a região em torno da camada 1s do Cl. 75 1000 1500 2000 2500 3000 C Cl Cl F F CF + N + CCl 2+ CF 2 + C + F 2 + 37 Cl + 35 Cl +Cl 2+ F + F 2+ C o n ta g e n s C 2+ h = 2825 eV CF + CCl 2+ F 2+ C 2+ C + Cl 2+ F + CF 2 + 35 Cl + F 2 + h = 2819 eV Tempo de voo (ns) Figura 5.2: Espectro de massa de fragmentação por fótons para energias específicas. A produção parcial dos íons provenientes da fotofragmentação do CF2Cl2 são mostrados na Figura 5.3. O espectro de produção total de íons (linha em vermelho), que é obtido pela contagem total de íons pela microchannel plate e que apresenta a mesma forma que o espectro de fotoabsorção, apresenta uma ressonância nas proximidades da camada 1s do Cl. Podemos claramente ver um máximo de absorção em 2823 eV (ponto A), indicando uma transição dipolar de um elétron da camada 1s do Cl para o orbital molecular antiligante desocupado 13a1 e 10b2. O ponto B corresponde a uma transição tipo dipolo (Cl 1s → 14a1 + 6b1). O ponto C (2827,2 eV) corresponde à transição Cl 1s → 4p enquanto o ponto IP ( 2829,6 eV) corresponde ao potencial de ionização, Cl 1s → ∞. 76 2818 2820 2822 2824 2826 2828 2830 2832 2834 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2818 2820 2822 2824 2826 2828 2830 2832 2834 0 1 2 3 4 5 6 2818 2820 2822 2824 2826 2828 2830 2832 2834 0 2 4 6 8 10 12 2818 2820 2822 2824 2826 2828 2830 2832 2834 0 1 2 3 4 5 2818 2820 2822 2824 2826 2828 2830 2832 2834 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 2818 2820 2822 2824 2826 2828 2830 2832 2834 0,0 0,3 0,6 0,9 1,2 1,5 CB Cl 2+ A IP C + IP F + R e n d im e n to ( u n id a d e s a rb it rá ri a s ) Cl + C 2+ F 2+ Energia (eV) Figura 5.3: Rendimento iônico parcial para alguns fragmentos de CF2Cl2 como função da energia do fóton. Para comparação, o rendimento iônico total foi apresentado (linha cheia vermelha). 5.2.1 Espectro PEPICO: Podemos ver claramente pela Figura 5.4, pelo fato de haver alta produção de fragmentos atômicos e de carga dupla, que a molécula perde elétrons externos de valência responsáveis pelas ligações químicas durante o processo de excitação do núcleo, levando a uma eficiente fragmentação. Diversos elétrons responsáveis pelas ligações químicas são ejetados, resultando numa completa fragmentação da molécula. Exceções são as pequenas contribuições do fragmento triatômico CF2 + , dos diatômicos CF + e dos dications moleculares CF2 2+ +CCl 2+ . Estes dications moleculares podem estar associados a estados excitados com dois elétrons de valência. Um cátion molecular com duas lacunas na sua camada de valência tem grande chance de sofrer um alto grau de fragmentação, comparado a um com apenas uma lacuna (52). Em outras palavras, num 77 decaimento Auger participador, a lacuna é produzida na camada de valência. Sempre que a lacuna é criada em um orbital externo de valência, esse processo de decaimento dá origem a um íon molecular mais um neutro (54). Então novamente, sempre que a lacuna é criada em um orbital interno de valência, um íon atômico ou um par de íons é produzido (55). A intensidade relativa varia com a energia do fóton na faixa de energia estudada. Picos de fragmentos atômicos duplamente carregados C 2+ , F 2+ , Cl 2+ foram observados nos espectros de massa com intensidade relativamente alta. Todos os espectros são dominados pelos fragmentos simplesmente carregados Cl + , F + e C + . Alguns picos observados contém a mistura de diferentes isótopos de Cl ( 35 Cl com 75% e 37 Cl com 25%). A contribuição de fragmentos triplamente carregados não pode ser descartada. A princípio, o fragmento observado em torno de m/q = 12 (t~1000ns) é provavelmente uma mistura de C + (m/q = 12) e Cl 3+ (m/q = 11,6 e m/q = 12,3). 2820 2824 2828 2832 1,5 2,0 2,5 3,0 2820 2824 2828 2832 10 15 20 2820 2824 2828 2832 16 18 20 22 2820 2824 2828 2832 0 20 40 2820 2824 2828 2832 1 2 3 4 5 2820 2824 2828 2832 6 9 12 C2+ IP C+ DCA Cl+ R e n d im e n to ( % ) B F+ F 2 + (X3) F2+ Cl2+ Energia (eV) Figura 5.4: Rendimento parcial de alguns fragmentos de CF2Cl2 em função da energia dos fótons. O espectro de rendimento total de íons foi medido fazendo uma varredura com o monocromador nas energias próximas a ressonância do Cl 1s. O número total de fótons contados foi registrado em função da energia, resultando num espectro de fotoabsorção. Processos de relaxação através de fluorescência não foram levados em conta. A taxa de 78 eventos que ocorrem por meios radiativos corresponde a cerca de 10% dos processos de decaimento possíveis para excitação da camada 1s do Cl (56). Os mais baixos orbitais moleculares de valência desocupados para a molécula de CF2Cl2 são 13a1, 10b2, 14a1 e 6b1 (57). O espectro de rendimento parcial de íons atômicos para a molécula de CF2Cl2 é mostrado na Figura 5.3. O rendimento total é normalizado pelo máximo para cada fragmento para fins de comparação. O rendimento parcial observado para cada fragmento é bastante parecido com o rendimento total, mas exibe algumas diferenças dos espectros de fotoabsorção apresentados por (57). Isso é devido à baixa fluorescência do átomo de cloro (~10%). Após a excitação de um elétron da camada K do Cl para um orbital molecular desocupado, o processo Auger domina o decaimento radiativo e a molécula com núcleo excitado torna-se um íon molecular com uma lacuna de valência (quando ocorre o processo Auger participador) ou com duas ou mais lacunas de valência (quando ocorre o processo Auger espectador). O processo Auger é ocasionalmente acompanhado da emissão de um segundo elétron, isto é, Auger shake-off ou sucessivas transições Auger, deixando a molécula dupla ou triplamente carregada (27). Para moléculas constituídas por átomos de baixo número atômico, o processo Auger predomina nos decaimentos radiativos. O Auger ressoante (autoionização), como o Auger normal, é um processo secundário. Este acontece depois da absorção ressonante de um fóton que causa um nível de excitação inicial no qual um, ou mais elétrons são promovidos resultando numa molécula excitada. Se a energia transferida pelo fóton é maior que a energia necessária para ejetar um de qualquer um dos elétrons presentes, a molécula excitada em questão pode adquirir energia suficiente para ser ionizada. O decaimento por Auger normal difere do ressonante porque, no primeiro caso, o primeiro passo é a ionização de um elétron de camada interna, enquanto no segundo, acontece uma excitação para um nível de energia maior. Além disso, o estado final do decaimento Auger normal, depois da emissão do elétron Auger, é de íons de carga dupla ou maior. Em outras palavras, na autoionização o resultado final são espécies de carga simples. Em geral, após a relaxação eletrônica devido à excitação ou ionização de um elétron pertencente ao orbital interno de uma molécula, sucede uma fragmentação. Sugerimos que as ressonâncias simples ou duplas e o Auger normalcontribuem fortemente na região do Cl 1s. Após a excitação ou ionização da camada interna, a molécula normamente se torna dupla ou triplamente carregada, e isto resulta num alto 79 grau de fragmentação. Esta afirmação é baseada nos trabalhos pioneiros de Carlson e White [ (58), (59)], atestando que, após a produção de uma vacância na camada K de um átomo pertencente à segunda ou maior série da Tabela Periódica, ocorrem processos Auger em cascata que produzem íons moleculares de alto estado de carga. O rendimento iônico parcial, corrigido pela eficiência da detecção de elétrons, é apresentado na Figura 5.4. Um fato interessante na Figura 5.4 é a queda na produção do íon Cl + na ressonância 1s→13a1+10b2, que pode ser atribuída ao aumento da produção de átomos de cloro neutros. O mesmo efeito é observado no caso da molécula de HCl após a excitação da camada K do cloro por espectrometria de massa por tempo de voo (60). O fragmento F + domina o espectro de massa em todas as energias medidas neste trabalho, sendo que este atinge um máximo na ressonância A (Figura 5.4). Antes da camada 1s do Cl (2823 eV), o fragmento Cl + é o segundo mais abundante (~20%) e sua contribuição decresce na região de excitação do Cl 1s e região de ionização, ficando praticamente constante após a borda (~19%). Este é seguido pelo fragmento C + (~11%) em concordância com os resultados de Suzuki et al (52) na camada 1s do flúor (~800 eV). Um comportamento diferente pode ser visto na Figura 5.4 para o fragmento duplamente carregado Cl 2+ , o qual cresce de 7% em 2819 eV para 11% em 2823 eV (Cl 1s→13a1+10b2), exibindo um ressalto em torno do limiar de ionização da camada 1s do Cl, provavelmente devido ao processo Auger normal. Isso sugere que íons Cl + são levados à fragmentação por um decaimento diferente do que para os íons Cl 2+ , F + e Cl + , os quais variam de forma semelhante com a energia. Uma possível explicação para essa diferença é que, enquanto a produção do íon Cl + é devido principalmente à fotoionização da camada K do F, os fragmentos Cl 2+ , F + e C + são predominantemente produzidos devido à relaxação de uma lacuna na camada 1s do Cl, aumentando drasticamente na ressonância devido a processos multistep, como Auger ressonante em cascata, que podem ionizar elétrons das camadas F 1s, C 1s e Cl 2p após a formação da lacuna no Cl 1s. Outro fato notável é a presença de F2 + , que é proveniente do rearranjo de dois fragmentos atômicos. Isso ocorre provavelmente devido a variação no comprimento da ligação e ângulos que seguem a ejeção de um elétron de núcleo. A excitação do núcleo induz canais de ionização simples dissociativos com aumento do processo Auger ressonante. Por exemplo, os fragmentos simplesmente carregados F + e C + . O último corresponde a uma total atomização da molécula, e apresenta o mesmo comportamento em função da energia do fóton quando esta cresce 80 para o limiar de ionização do Cl 1s. Essa discussão está de acordo com os estudos da fragmentação das moléculas CCl4 (61), CCl3SCl (62) e da fotoionização da molécula de clorometano (63). Acima do potencial de ionização o fragmento C + apresenta um pequeno crescimento enquanto o F + cai. A formação de C 2+ exibe um máximo em torno da ressonância em 2823 eV, caracterizando a importância do efeito Auger ressonante. Um mínimo local é observado no rendimento do íon F 2+ em 2827 eV e um mínimo mais largo para o íon C 2+ em torno de 2827 eV. Em comparação dos resultados apresentados para Cl 1s com os de Suzuki et al. (52) no F 1s (~800 eV) e Cl 2p (~200 eV), uma mudança no padrão de fragmentação é observada, o que indica que existe algum tipo de seletividade nesse processo. 5.2.2 Energia cinética de fragmentação (kinetic energy release – KER): A energia cinética de fragmentação pode fornecer informações adicionais sobre o mecanismo de fragmentação. A Figura 5.5 apresenta a energia cinética média de fragmentação para determinados fotoions para a molécula de CF2Cl2 em função da energia do fóton. A dependência da energia do fóton incidente para a KER das moléculas duplamente ionizadas C 2+ e Cl 2+ segue a tendência da fotoabsorção, exibindo um máximo em torno de 2823 eV na ressonância Cl 1s→13a1+10b2. Podemos tentar explicar este comportamento pelo caráter repulsivo do orbital 13a1+10b2. E um comportamento oposto é observado no fragmento Cl + , que apresenta uma depressão na ressonância Cl 1s→13a1+10b2. Observamos que a produção de Cl + também apresenta uma depressão na ressonância, como mostrado na Figura 5.4. Os fragmentos F + e F 2+ têm, comparando a grosso modo, a mesma dependência com a energia, tornando-se constante abaixo da ressonância Cl 1s→14a1+6b1 em 2826 eV, e apresentando um crescimento constante acima deste valor. A distribuição da KER para o fragmento de C + apresenta um máximo largo em torno da ressonância Cl 1s→13a1+10b2. 81 2818 2820 2822 2824 2826 2828 2830 0 5 10 15 20 25 2818 2820 2822 2824 2826 2828 2830 0 2 4 6 8 10 2818 2820 2822 2824 2826 2828 2830 0 15 30 45 60 2818 2820 2822 2824 2826 2828 2830 0 4 8 12 16 20 2818 2820 2822 2824 2826 2828 2830 0 4 8 12 16 20 2818 2820 2822 2824 2826 2828 2830 0 15 30 45 60 C 2+ 35 Cl + U (e V ) Cl 2+ C + Energia (eV) F + F 2+ Figura 5.5: Energia cinética média de fragmentação como função da energia do fóton incidente para alguns foto-íons após a fotoexcitação da camada k do Cl da molécula de CF2Cl2. A linha tracejada representa o espectro de fotoabsorção normalizado para comparação. 5.2.3 Espectro PE2PICO: A produção de fragmentos de carga dupla ou tripla seja atômico ou molecular após a absorção de um fóton por uma molécula é um processo rigorosamente proibido por um modelo de elétron independente (64). Portando, a formação de fragmentos multiplamente carregados por impacto de fótons é possível unicamente pela correlação entre elétrons (65). Nesta seção, vamos discutir resultados de vários processos de múltipla fragmentação da molécula de CF2Cl2 por excitação de elétron de núcleo. Após sofrer uma dupla ou tripla ionização, a molécula sofre uma fragmentação sequencial, representada por: 82 5.1 É bem conhecido o fato de que fótons de alta energia podem levar a produção de fragmentos multiplamente ionizados [ (66), (67)], que pode ser seguido de uma fragmentação em cascata caindo num espectro PE3PICO. Entretanto, neste trabalho o espectro PE3PICO foi negligenciado. 2818 2820 2822 2824 2826 2828 2830 0 5 10 15 20 25 2818 2820 2822 2824 2826 2828 2830 15 20 25 30 2818 2820 2822 2824 2826 2828 2830 2 4 6 8 2818 2820 2822 2824 2826 2828 2830 12 15 18 2818 2820 2822 2824 2826 2828 2830 9 12 15 18 2818 2820 2822 2824 2826 2828 2830 20 30 40 50 60 70 C + + Cl + CB C + + Cl 2+ IP A CBA F + + F + IP F + + Cl 2+ R e n d im e n to ( % ) C + + F + CBA F + + Cl + IP CBA Cl + + Cl + Energia (eV) IP Figura 5.6: Rendimento iônico parcial para espectro de fragmentação PE2PICO da molécula CF2Cl2 em função da energia. As letras A, B e C representam as ressonâncias do Cl 1s, enquanto IP corresponde à ionização da camada K. A ionização múltipla após a relaxação eletrônica de uma lacuna em camada interna atua como um fator majoritário na fragmentação da molécula. Entretanto, oposto a moléculas simplesmente carregadas, os estados moleculares duplamente carregados 83 tem um grande número de configurações eletrônicas permitidas. Como mostrado na Figura 5.6, as seguintes coincidências podem ser observadas no espectro PE2PICO, todos associados à quebra de múltiplas ligações:Cl + +Cl + , F + +F + , C + +F + , F + +Cl + para dupla ionização, e C + +Cl 2+ e F + +Cl 2+ para tripla ionização. A coincidência Cl + +Cl + domina o espectro PE2PICO (~68% em 2819 eV), caindo intensamente na região da ressonância Cl 1s→13a1+10b2 (~26%). Na região equivalente à parte contínua do espectro de absorção, podemos observar um crescimento nos íons F + +Cl 2+ e F + +Cl + que pode ser atribuído ao processo Auger direto. Também podemos observar na Figura 5.6, que de certa forma, um máximo local é observado para alguns pares de íons (F + +F + , C + +Cl + , C + +F + ) para fótons com energias em torno das ressonâncias A, B e C. Por outro lado, um mínimo local é observado para alguns fragmentos contendo átomos de cloro (Cl + +Cl + , F + +Cl + , F + +Cl 2+ , C + +Cl 2+ ) nas ressonâncias indicadas. 5.2.4 Explosão coulombiana versus localização da partícula carregada. A produção de dications moleculares tem a característica distinta de que as transições de Franck-Condon para moléculas neutras produzem espécies com configuração nuclear longe do equilíbrio (68). Portanto, cátions poliatômicos duplamente carregados produzidos por dupla ionização são geralmente instáveis com relação à separação de carga, sendo frequentemente puramente dissociativo, fragmentando-se para gerar um par de monocátions ou um dicátion e um fragmento neutro (29), vide Figura 2.7 (Capítulo 2). A contribuição das forças coulombianas em uma molécula multiplamente ionizada para produzir fragmentos ionizados com energia cinética tem sido objeto de estudo por décadas (69). No caso da excitação da camada interna de uma molécula que relaxa formando um íon molecular de carga dupla que pode se dissociar simetricamente com cargas iguais, o fragmento atômico ionizado é produzido associado com a explosão coulombiana. Entretanto, a força de Coulomb não é a única componente participante da fragmentação molecular. Processos de fragmentação também tem a participação de forças químicas originadas dos elétrons de valência. O processo de dupla ionização dissociativa, que é muito comum em moléculas pequenas, cai de intensidade em moléculas poliatômicas assim como o caráter de repulsão coulombiana torna-se mais fraco para grandes distâncias entre 84 cargas positivas (70). Entretanto, polarização ou forças químicas podem privilegiar a geração de poços de potenciais que estabilizam o dication ou à fragmentação através de canais “covalentes” como m 2+ →m1 2+ +m2. Com o objetivo de estimar a contribuição relativa das forças químicas e de Coulomb na fragmentação de íons duplamente carregados da molécula de CF2Cl2, seguimos o método de análise descrito previamente para estimar a produção de íons através dos diferentes caminhos de fragmentação [ (71), (72)]. Em resumo, o temo D20 corresponde ao número de íons duplamente carregados (no espectro PEPICO) representado pela soma de todas as dissociações assimétricas m 2+ →m 2+ +m, e D11 é o número de duplas ionizações dissociativas (no espectro PE2PICO) representado pela soma de todos os processos de separação m 2+ →m + +m + . O número total de eventos de dupla ionização pode ser representado por: 5.2 Onde é a eficiência de detecção do íon, independente do estado de carga do íon de recuo, e é a eficiência de detecção de pelo menos um elétron proveniente de um processo de dupla ionização. As grandezas medidas são então: 5.3 E 5.4 As taxas de quebra para ambos os canais de fragmentação podem ser escritas respectivamente como: 5.5 E 85 5.6 Onde adotamos (73). A Figura 5.7 mostra que, abaixo do máximo de absorção em 2823 eV (ponto A) (Cl 1s→13a1+10b2), existe uma pequena dominância do canal de dupla ionização simétrico (A + +B + ) para as coincidências apresentadas na Figura 5.7. Em torno dessa ressonância, podemos observar uma forte dominância da fragmentação assimétrica (A 2+ +B) devido ao crescimento na contribuição dos dicátions C 2+ , F 2+ e Cl 2+ . Observamos então que a ionização da camada interna favorece o caminho de fragmentação assimétrico, e favorece a produção de íons duplamente carregados. 2818 2820 2822 2824 2826 2828 2830 2832 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 F ra ç ã o (% ) Energia (eV) D 11 D 20 IP A B C Figura 5.7: Comparação entre as contribuições dos caminhos de fragmentação molecular como função da energia do fóton. A linha em azul representa a fotoabsorção total para comparação. 5.2.5 Estado de carga médio A ejeção de múltiplos elétrons é um importante processo para compreender a correlação eletrônica. A Figura 5.8 mostra a carga média dos íons de recuo, , para a molécula de CF2Cl2 em torno da camada K do Cl, obtida pela ponderação dos íons parciais com carga até 3 para o espectro PEnPICO como mostra a equação a seguir 86 5.6 Onde é a eficiência de detecção de pelo menos um elétron proveniente do q-ésimo processo de fragmentação, e representa a área do pico no espectro PEnPICO, considerando todos os processo de múltipla coincidência para esta molécula, já que a maior carga observada do processo de ionização foi igual a 3. Podemos observar que a coincidência m1 + +m2 + , é registrada pela detecção de um íon com estado de carga q=2. O fato mais interessante na Figura 5.8 é a queda no estado de carga médio devido a relativa queda dos eventos de dupla ionização. Consequentemente, a excitação ressonante da camada K do Cl privilegia primeiramente a ocorrência de processos que resultam em ionização simples. Quando um elétron do núcleo sofre uma excitação ressonante por um fóton de raio X, a molécula é elevada a uma energia superficial bastante instável. Como consequência, uma lacuna é criada na região mais superficial do núcleo depois da relaxação do sistema, geralmente numa escala de tempo bem pequena (da ordem de femtosegundos), podendo emitir um ou mais elétrons. Consequentemente, uma ou mais ligações químicas são quebradas no processo. Como podemos ver na Figura 5.8, antes da ressonância do Cl 1s, os mecanismos de relaxação eletrônica são na maioria de íons de carga simples, devido aos processos Auger participador e espectador. O processo de decaimento Auger ressonante é um processo de relaxação de primeira ordem (autoionização) onde o elétron excitado da camada Cl 1s pode participar como espectador ou participador no processo de transição. Em primeira ordem, na maioria dos casos isso da origem a espécies simplesmente carregadas. Abaixo da ressonância A (Figura 5.8), os fragmentos provem preferencialmente da ionização da camada F 1s. Neste caso, o estado intermediário é simplesmente carregado e decai geralmente via Auger normal, levando a um aumento da produção de espécies duplamente carregadas. Por outro lado, a produção de dicátions é um processo de segunda ordem como shake- off e two-step ionization [ (64), (69)]. Em moléculas [(72), (71)], como os processos de relaxação eletrônica estão intimamente relacionados com a dissociação (69), a dupla ionização molecular é geralmente seguida pela produção de um par de íons (A + +B + ) ou um dicátion mais um íon neutro (A 2+ +B). Quando o potencial de ionização é alcançado, 87 podemos esperar um aumento na produção de íons altamente carregados, devido ao processo de decaimento por Auger normal. Atualmente, desde a camada Cl 1s até o continuum, podemos observar um pequeno crescimento na produção de fragmentos triplamente carregados, com ou sem separação de carga(m 3+ ou m1 2+ +m2 + ). 0 10 20 30 40 50 60 70 80 2818 2820 2822 2824 2826 2828 2830 1,0 1,2 1,4 n to t (% ) 1+ 2+ 3+X 10 q m é d ia Energia (eV) IP A B C Figura 5.8: Gráfico superior: Frações de fotoionização simples, dupla e tripla para a molécula de CF2Cl2 em função da energia do fóton. Gráfico inferior: Estado de carga médio para a molécula de CF2Cl2. 5.3 Fotofragmentação do hexafluoreto de enxofre. A fotoexcitação e fotoionização do hexafluoreto de enxofre, SF6, foi estudada para fótons com energia em torno da camada K do enxofre (2486 eV) usando a técnica de espectroscopia por tempo de voo com coincidências simples (PEPICO), duplas (PEPEPICO) e triplas (PE3PICO). Os espectros de massa foram tratados e corrigidos 88 adotando as técnicas de análise descritas anteriormente. Os experimentos foram realizados na linha SXS do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, em Campinas, SP. Foram medidos os rendimentos (yield) dos produtos da fragmentação em função da energia do fóton e calculada a energia cinética de fragmentação através dos espectros obtidos. Foram realizadas também medidas de fotoabsorção total da molécula em função da energia. Esta foi realizada usando o modo total íon yield da microchannel plate, onde é medida a intensidade de fragmentos detectados, sem distinção entre os íons. Também foi feito um estudo do estado de carga dos fragmentos em função da energia. Figura 5.9: Estrutura da molécula de SF6 e ressonâncias de excitação da camada K do enxofre (74). O SF6 é uma molécula altamente simétrica, do grupo Oh, o que lhe confere grande estabilidade e vasta aplicação industrial, como já foi melhor explicado no Capítulo 1. A molécula apresenta uma estrutura eletrônica formada na hibridização d 2 sp 3 do enxofre, como é mostrado na Figura 5.9. Observamos que existem duas ressonâncias principais para a fotoexcitação da camada K do enxofre, uma em 2506 eV e outra em 2486eV, ambas referentes à transição 1s→6t1u (74). Porém, há outra ressonância nessa região que na qual não é dada muita importância na literatura quando se trata de fotoabsorção e fotofragmentação, que é a ressonância 1s(1a1g)→6 a1g, em 2482eV. Essa ressonância possui baixíssima influência em espectros de fotoabsorção e 89 por isso costuma ser tratada como uma transição simetricamente proibida [ (74), (75)], não tendo grande abordagem na literatura. Porem, foram observados em nossos resultados perfis de fragmentação que se mostravam muito mais sensíveis à transição 1s(1a1g)→6 a1g em 2482eV do que em 2486eV, havendo uma grande mudança no perfil de fragmentação da transição que é considerada simetricamente proibida. Para entender melhor este fenômeno, foram feitas simulações dos modos vibracionais da molécula, a fim de explicar a mudança do perfil de fragmentação nessa energias. 5.3.1 Abordagem teórica. As primeiras transições na camada K do enxofre são as do tipo 1s(1a1g)→6 a1g e 1s(1a1g)→6 t1u. Para o segundo tipo, a transição é permitida por regras de seleção em dipolo, mas no caso da 1s(1a1g)→6 a1g, a transição é proibida. Isto não significa que a intensidade destra transição é estritamente zero, desde que esta pode ser aumentada pelo então chamado intensity borrowing mechanism. Uma simples análise baseada em teoria de grupos mostra que esta transição pode se tornar permitida através de mecanismos de acoplamento vibracionais promovidos por modos normais de vibração pertencentes a t1u e tu2, representações irredutíveis do grupo Oh. Portanto, o momento de transição e, consequentemente, oscilador forçado podem ser calculados pelo método de acoplamento vibracional direto [ (76), (77), (78)]. O procedimento teórico usado nos cálculos foi discutido no Capítulo 2, e para maiores detalhes, também na referência (76). Na discussão das intensidades das transições atômicas ou moleculares é costume introduzir uma quantidade adimensional, a força do oscilador ótico (optical oscillator strenght) OOS: 5.7 Onde representa o estado eletrônico fundamental e é a ésima função vibracional do ésimo estado eletrônico. e representam, respectivamente, a energia de transição e degenerescência do estado final. Na equação 5.7, assumimos taticamente que apenas o menor nível vibracional do estado 90 eletrônico fundamental é ocupado no momento em que a transição eletrônica acontece, o que equivale a assumir que o experimento é realizado em baixa temperatura. é o momento de transição envolvendo os estados eletrônicos fundamental e excitado. 5.8 Somando a equação de sobre todos os estados vibracionais dos estados eletrônicos excitados e expandindo o quadrado do momento da transição de dipolo em série de potência para as coordenadas normais do movimento vibracional temos que 5.9 Com 5.10 Para calcular a expressão anterior, os momentos de transição são diretamente calculados ao longo de cada um dos modos normais , seguido pelo ajuste de uma função polinomial de ordem em , onde são os coeficientes de ajuste. 5.3.2 Espectro PEPICO. O espectro de fragmentação do SF6 em 2482eV é mostrado na Figura 5.10. Observamos uma fragmentação completa da molécula, com a presença de fragmentos até de carga tripla, o que caracteriza uma alta ionização da molécula. Um primeiro fato interessante que podemos observar é a presença dos íons SF +2 e SF2 +2 enquanto a ausência dos íons SF + or SF2 + , parecendo haver uma preferência por estados de carga par. Algumas observações gerais podem ser feitas sobre o espectro de massa do SF6 em torno da camada K do enxofre. Primeiramente, o espectro de massa é dominado por fragmentos atômicos, sendo que em todos os casos o íon F + mostra uma grande participação no espectro de fragmentação, sendo dominante nos espectros. Observamos também que o F + é formado com uma energia cinética muito alta, o que reflete numa grande largura do pico (~37ns). O fragmento duplamente carregado F +2 também pode 91 ser observado em todas as energias, e também apresenta uma larga distribuição (~37ns) que é a assinatura para alta energia cinética. O fragmento mais pesado SFn + foi ausente em todas energias de fótons medidas neste trabalho. A falta de fragmentos moleculares mais pesados pode ser entendida pelo mecanismo em que, depois que diversos elétrons são rapidamente removidos da molécula, segue uma explosão Coulombiana produzindo íons com alta energia cinética. O fragmento mais massivo observado é o íon duplamente carregado SF2 2+ . A presença deste fragmento duplamente carregado pode ser atribuída ao fato de que o íon S 2+ exibe uma preferência para se combinar com dois átomos de flúor na ausência da hibridização sp (79). 20 40 600 1200 1800 2482eV C o n ta g e n s m/q SF+ F 2+ S 3+ S 2+ F + SF 2+ S + SF 2+ 2 N + Figura 5.10: Espectro de fragmentação por fótons do SF6 em 2482eV. Podemos ver claramente na Figura 5.10 que depois que a molécula de SF6 perde seu elétron externo de valência através da excitação do núcleo, ela é inteiramente instabilizada, levando a molécula a uma eficiente fragmentação. Diversos elétrons responsáveis pelas ligações químicas são ejetados, levando a uma quase completa quebra do sistema. São exceções as pequenas contribuições do fragmento triatômico SF2 2+ e dos dicátions SF + e SF 2+ . Estes dicátions moleculares podem ser associados a estados excitados com dois elétrons de valência (80). Um dicátion molecular com dois buracos em sua camada de valência tem uma grande chance de sofrer um alto grau de fragmentação comparado com um com apenas uma vacânciasimples na camada de valência (52). Por outro lado, em um decaimento do tipo Auger participador, uma 92 vacância é produzida na camada de valência. Quando este buraco é criado em um orbital de valência externo, este decaimento dá origem a um íon molécular mais fragmentos neutros. Agora, quando o buraco é criado em um orbital de valência interno, um íon atômico ou um par de íons são produzidos (55). A intensidade relativa dos picos varia com a energia dos fótons na faixa de energia observada. Picos dos fragmentos atômicos dupla e triplamente carregados S 2+ , F 2+ , S 3+ foram observados nos espectros de massa com alta intensidade relativa. Todos os espectros de massa são dominados pelo fragmento de carga simples F + . O rendimento parcial dos íons produzidos na fragmentação do SF6 é mostrado na Figura 5.11. São representados na figura também as transições em discussão e a fotoabsorção total normalizada para fins de comparação. A calibração da energia do fóton incidente foi realizada por uma varredura do monocromador nas energias em torno da camada 1s do enxofre e monitorando a produção total de íons. Como a produção total de íons é praticamente proporcional ao espectro de fotoabsorção, comparando a estrutura de picos da produção total de íons com resultados já existentes de fotoabsorção da molécula [ (81), (82)], podemos determinar com precisão a energia do fóton. Na Figura 5.11, vemos uma discreta absorção em 2482eV, que é uma assinatura da transição de dipolo proibida do elétron da camada 1s do enxofre para o orbital molecular de valência antiligante desocupado 6a1g e a ressonância 1a1g→6t1u em 2486eV. (74). A energia de ionização da molécula, 1s→∞, corresponde a 2490eV. O rendimento parcial dos fragmentos atômicos mostrados na Figura 5.11 são similares ao total íon yield, mas exibem algumas diferenças do espectro de fotoabsorção de Perera et al (57). Isto é devido à fluorescência muito baixa do átomo de enxofre (~10%). O fragmento SF2 +2 apresenta um comportamento fora do padrão, com uma contribuição muito maior abaixo da ressonância. Isto porque este foi o fragmento mais pesado produzido em quantidades significativas, portanto é o mais abundante antes da ressonância, onde há menor fotoabsorção e menor fragmentação das moléculas, tendendo a se produzir predominantemente fragmentos mais pesados. Seguindo a transição do elétron 1s do enxofre para um orbital molecular desocupado, o decaimento Auger domina sobre o decaimento radiativo e a molécula de núcleo excitado se torna um íon molecular com uma lacuna na valência (seguindo o decaimento Auger participador) ou duas ou mais lacunas na valência (seguindo o decaimento Auger espectador). A transição Auger é ocasionalmente acompanhada pela emissão de um 93 segundo elétron, isto é, Auger shake-off ou sucessivas transições Auger, tornando a molécula dupla ou triplamente carregada. 2460 2465 2470 2475 2480 2485 2490 2495 0 5 10 15 2460 2465 2470 2475 2480 2485 2490 2495 0 1 2 3 4 5 2460 2465 2470 2475 2480 2485 2490 2495 0,0 0,5 1,0 1,5 2460 2465 2470 2475 2480 2485 2490 2495 0 3 6 9 2460 2465 2470 2475 2480 2485 2490 2495 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 2460 2465 2470 2475 2480 2485 2490 2495 0 1 2 3 4 5 F + S 2+ R e n d im e n to ( u n id a d e s a rb it rá ri a s ) SF2+ S+ SF 2 2+ Energia (eV) F2+ Figura 5.11: Rendimento parcial dos principais fragmentos em função da energia do fóton para a fragmentação do SF6. Em geral, a relaxação eletrônica precede a fragmentação seguindo a excitação ou ionização de um elétron pertencente ao orbital interno da molécula. Sugerimos que ressonâncias simples e duplas e processo Auger normal são provavelmente fortes contribuintes na região do flúor 1s. Seguindo a excitação ou ionização de camada interna, a molécula é geralmente dupla ou triplamente carregada e isto resulta em um alto grau de fragmentação. Esta afirmação é baseada no trabalho pioneiro de Carlson e White [ (59), (58)] que atestaram que, depois da produção de uma vacância na camada K em átomos da segunda série da tabela periódica ou posterior, processos Auger em cascata ocorrem produzindo íons moleculares altamente carregados. 94 0 1 2 3 4 5 6 7 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,8 2,0 2,2 2,4 2,6 2,8 3,0 3,2 0 1 2 3 4 5 2470 2475 2480 2485 2490 68 70 72 74 76 78 80 82 84 2470 2475 2480 2485 2490 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 S + 1s 6t1u 1s 6a 1g 1s 6a 1g SF 2 2+ 1s 6t 1u R e n d im e n to ( % ) F 2+ SF 2+ Energia (eV) F + S 2+ Figura 5.12: Rendimento parcial (Yield) para alguns fragmentos de SF6 como função da energia. A linha vermelha representa a fotoabsorção total normalizada. As linhas azuis representam as ressonâncias. Os rendimentos iônicos percentuais do espectro PEPICO de diversos fragmentos produzidos da quebra do SF6, corrigidos pela eficiência de detecção de elétrons, são mostrados na Figura 5.12. O fragmento F + domina o espectro de massa em todas as energias estudadas. Sua contribuição é máxima em torno da ressonância 1a1g→6t1u. De uma forma geral, observamos que a alteração mais significativa na produção iônica ocorre na ressonância proibida 1s→6a1g. Uma notável característica na Figura 5.12 é uma queda brusca na fração de F +2 produzido na ressonância 1s→6a1g, enquanto há um grande aumento da produção dos íons S + e S +2 nessa ressonância. Antes da borda 1s (2482 eV) o íon SF +2 é o segundo mais abundante, sofrendo uma queda brusca na região de ressonância e um posterior aumento próximo ao potencial de ionização. Este é seguido pelo fragmento S + , quem tem um expressivo aumento na sua produção na ressonância 1s→6a1g (2482 eV). De forma oposta, os fragmentos mais pesados, SF +2 e 95 SF2 +2 apresentam uma queda na produção quando se aproxima da região de ressonância, o que pode ser atribuído a uma tendência de maior fragmentação da molécula na região de ressonância, dando preferência a produção de fragmentos de menor massa. Os fragmentos de carga dupla F 2+ , SF2 2+ e SF 2+ apresentam um comportamento distinto dos íons de carga simples, com um decréscimo na produção quando passa pela região de ressonância. Isto pode ser explicado pelo fato de que estes fragmentos são originados principalmente pela fotoionização da camada K do flúor, sendo que quando atingimos a região de ressonância, produzimos principalmente os fragmentos de carga simples S + e F + através da relaxação da camada 1s do enxofre. A produção destes íons de carga simples então cresce drasticamente devido aos processos de multi-etapas como Auger ressonante em cascata. Observamos também que o comportamento do íons duplamente carregado S +2 é similar aos outros íons de carga simples, com um grande aumento da produção na região de ressonância. Isso se deve ao fato de que o único caminho que permite uma fragmentação completa da molécula a ponto de permitir a existência do enxofre atômico é através da excitação da camada 1s do enxofre, fazendo com que a produção desse fragmento tenda a ter comportamento semelhante à dos fragmentos de carga simples decorrente dos processos multi-etapas como efeito Auger ressonante em cascata. 5.3.3 Cálculo da energia do oscilador. Tomando como base a introdução teórica feita na seção 5.2.1, o primeiro termo do lado direito da equação 5.10 representa o momento de transição dipolar calculado em equilíbrio geométrico. Vamos nos referir a esta como uma transição vertical. Se a transição é permitida em dipolo, esta é a contribuição principal (a1g→t1u). Por outro lado, se esta é proibida em dipolo (a1g→ a1g), a intensidade é inteiramente devida aos termos no somatório duplo. O somatório é feito sobre todos os modos normais adequados pela simetria. Os momentos de transiçãoforam calculados pela média dos estados da camada interna pelo campo auto consistente multiconfiguracional (multiconfigurational self consistent field – MCSCF) (83). As configurações nos cálculos MCSCF incluem configurações Hartree-Fock para o estado fundamental, sendo necessárias muitas configurações para a descrição do estado excitado núcleo-buraco. Neste caso uma para 96 1a1g→6a1g e três para 1a1g→6t1u. Este método pode ser considerado como uma média dos estados Hartree-Fock. Correções relativísticas, as quais são muito importantes na camada K do enxofre, são parcialmente levadas em conta no método Douglas-Kroll de correção em terceira ordem. Com o objetivo de confirmar esta assinatura dos dois primeiros picos, foram realizados cálculos teóricos no nivel IS-MCSCF na camada K do enxofre para o SF6. A transição 1a1g→6a1g é formalmente proibida, mas pode se tornar permitida através de mecanismos de acoplamento vibracionais. Isto quer dizer que em primeira ordem o primeiro termo do lado direito da equação 5.10 se anula e a contribuição para a intensidade da transição é dada apenas pelos termos no somatório duplo. Os modos vibracionais induzidos correspondem às representações irredutíveis t1u e t2u do grupo Oh. A segunda transição, 1a1g→6t1u é permitida, o que significa que o primeiro termo no lado direito da equação 5.10 é dominante na contribuição para a intensidade. Na Tabela 5.1, apresentamos a contribuição de cada modo para a intensidade da transição 1a1g→6a1g. O modo t1u com frequência vibracional de 955cm -1 apresenta uma grande contribuição para a força do oscilador. A força do oscilador para a transição 1a1g→6t1u também é mostrada. Como podemos ver, a transição proibida em dipolo tem um OOS que é em torno de uma ordem de grandeza menor que a transição proibida. Isto esta de acordo com o observado experimentalmente, como mostrado na Figura 5.12. Vale a pena enfatizar que a intensidade da transição proibida em dipolo apesar de pequena não é zero, e contribui para o perfil de fragmentação, como mostrado na Figura 5.12. Este ponto será melhor discutido na próxima seção. Tabela 5.1: Força do oscilador (Optical Oscilator Strength, OOS) calculada para as transições 1a1g→6a1g e 1a1g→6t1u. S 1s (1a1g 6a1g) Symmetry Freq.(cm -1 ) OOS T2u 335 6,4010 -9 T1u 602 2,3810 -4 T1u 955 7,8010 -4 Total OOS 1,0210 -3 S 1s (1a1g 6t1u) Total OOS 4.2710 -2 97 As energias de transição calculadas são 2495,9eV e 2499,9 eV para 1a1g→6a1g e 1a1g→6t1u respectivamente. A concordância com os resultados experimentais não é perfeita, mas esta em torno de 0,6%. A principal razão para a discrepância é a ausência de outras correções relativísticas e correções de correlação de energia. A diferença de energia entre estas transições foi calculada como 4eV, o que está em bom acordo com espectros experimentais, como mostrado na Figura 5.12 e por Ferret et al. (74) 5.3.4 Energia cinética de fragmentação. A energia cinética de fragmentação do SF6 foi calculada pelos métodos já descritos anteriormente. Os resultados são mostrados na Figura 5.13. Observamos uma alta energia cinética para a maioria dos fragmentos, principalmente para o F 2+ , com 0,6 0,9 0,6 0,8 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 0 20 40 2460 2465 2470 2475 2480 2485 2490 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 2460 2465 2470 2475 2480 2485 2490 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 7,5 8,0 < U > ( e V ) S 2+ S + SF 2 2+ F 2+ 6t 1u 6a 1g Energia (keV) SF 2+ 6a 1g 6t 1u F + Figura 5.13: Energia cinética média de fragmentação em função da energia do fóton incidente da fragmentação de SF6. 98 energia que chega a mais de 40 eV próximo às ressonâncias, e o F + que chega a 8eV na ressonância 1s→6a1g. Estes resultados caracterizam uma forte explosão Coulombiana na fragmentação da molécula decorrente da ionização da camada interna do enxofre. Esta alta energia cinética está associada à grande força do oscilador (OSS) calculada nessa ressonância vibracional. O fragmento F +2 apresenta a maior energia cinética devido ao seu estado de carga maior, comparado ao F + . Os fragmentos S + e S 2+ apresentam menores energias cinéticas de fragmentação, já que são produtos de uma fragmentação completa da molécula, que devido a sua simetria, é de se esperar que a soma do momento da ejeção de todos os átomos de flúor que compões a molécula se anulem, resultando num baixo momento total do átomo de enxofre. 5.3.5 Espectro PE2PICO. Foram realizadas nas faixas de energia estudadas medidas dos espectros de dupla coincidência, PE2PICO, conforme as técnicas já descritas. Os espectros em questão possuem pares de fragmentos de mesma razão massa-carga, o que pode fazer com que parte desses eventos não seja observada devido a uma diferença de tempo menor que a resolução do espectro. Para corrigir essas coincidências abortadas, foi usado o espectro PEPICO para correção dos espectros de dupla coincidência, conforme técnica já explicada mais detalhadamente no Capítulo 3. Os resultados para rendimento de dupla coincidência da fragmentação do SF6 em função da energia dos fótons são apresentados na Figura 5.14. Devemos lembrar que produção de fragmentos dupla ou triplamente carregados, sejam atômicos ou moleculares, após a absorção de um único fóton por uma molécula isolada é um processo rigorosamente proibido em um modelo de elétron independente. (64). A formação de fragmentos com carga múltipla por colisão com fótons é possível então apenas devido a correlação eletrônica (62). Nesta seção, vamos discutir os resultados para vários processos de múltipla fragmentação na molécula de SF6 após excitação de camada interna, levando ao colapso da molécula em diversos fragmentos devido a eventos de dupla ou tripla ionização seguidos por uma cascata de fragmentações sequenciais, representadas por: 99 SF6 2+ m1 + + m2 + + neutros SF6 3+ m1 + + m2 2+ + neutros 5.11 SF6 +4 m1 + + m2 +3 + neutros -2 0 2 4 6 8 10 12 14 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 2470 2475 2480 2485 2490 72 74 76 78 80 82 84 2470 2475 2480 2485 2490 5 10 15 20 25 30 R e n d im e n to ( % ) F + +S 2+ 1s 6t 1u F + +S 3+ 1s 6t1u F + +F + 1s 6a 1g Energia (eV) F + +F 2+ 1s 6a 1g Figura 5.14: Rendimento parcial (Yield) para dupla coincidência entre alguns fragmentos de SF6 como função da energia. A linha vermelha representa a fotoabsorção total normalizada. As linhas azuis representam as ressonâncias. O primeiro fato notável ao observamos os resultados da Figura 5.14 é a presença de fragmentos originados de uma ionização quádrupla, que é o caso da dupla coincidência F + +S 3+ . Estes fragmentos têm um aumento muito grande na produção em torno da ressonância 1s→a1g, o que caracteriza mais uma vez a alta ionização da molécula nessa região. A coincidência originária de ionização tripla, F + +S 2+ e a de ionização dupla F + +F + também apresentam um grande aumento na produção na região de ressonância, mais uma vez representando o aumento na ionização da molécula nesta 100 região. Os fragmentos de F + +F + dominam o espectro, chegando a mais de 80% do total na região de ressonância. A coincidência F + +F 2+ porém tem um comportamento distinto, com uma alta taxa de produção antes da frequência de ressonância e uma queda brusca da produção na ressonância. Isso pode ser atribuído à queda na produção de F 2+ na região de ressonância, como já foi visto no espectro PEPICO. A ionização múltipla da molécula de SF6 causa a quebra da hibridização da molécula, de forma que os fragmentos com estado de carga dupla são mais estáveis, como já explicados anteriormente. Sendo assim, fragmentosde carga simples ou tripla tendem a se fragmentar liberando íons F + , enquanto fragmentos de carga dupla são estáveis, o que resulta numa baixa produção de F 2+ . Observamos, porém, uma grande produção dos fragmentos F + +F 2+ em energias abaixo da ressonância, o que pode ser atribuído à excitação da camada interna do flúor, levando a produção de íons de flúor multiplamente carregados. 5.3.6 Explosão coulombiana versus localização da partícula carregada. Com o objetivo de estimar a contribuição relativa das forças químicas e Coulombianas na fragmentação da molécula de SF6 dupla e triplamente carregada, usamos o método já descrito anteriormente e usado para a análise do CF2Cl2 duplamente carregado [ (71), (72)]. Assim como para o caso do CF2Cl2 analisado no Capítulo 5, para o SF6 duplamente ionizado teremos dois possíveis caminhos de fragmentação: SF6 +2 m1 + + m2 + + neutros 5.12 SF6 +2 m1 +2 + neutros Agora, porém, temos também a possibilidade de ionização tripla, o que nos resulta em três diferentes caminhos de ionização para a molécula triplamente ionizada: SF6 +3 m1 + + m2 +2 + neutros SF6 +3 m1 + 3 + neutros 5.13 SF6 +3 m1 + + m2 + + m3 + + neutros 101 Os resultados da comparação entre as contribuições dos caminhos de fragmentação da molécula são mostrados nas Figura 5.15 e Figura 5.16. Os caminhos D11 e D20 na molécula duplamente ionizada correspondem à produção de dois íons de carga simples mais fragmentos neutros e um íon de carga dupla mais fragmentos neutros, respectivamente. No caso da molécula triplamente carregada, os caminhos T21 e T30 representam a produção de um íon de carga dupla mais um íon de carga simples mais fragmentos neutros, ou a produção de um íon de carga tripla mais fragmentos neutros, respectivamente. O caminho de fragmentação que corresponderia à produção de três íons de carga simples não é representado no gráfico por ter sido detectada unicamente na frequência da ressonância (2482eV) e ainda assim com uma taxa muito baixa, que torna sua contribuição desprezível perante as outras, embora ela ainda ocorra. O espectro de massa de tripla coincidência apresentando este caminho de fragmentação é mostrado na Figura 5.17. Observamos que este caminho permite a produção dos fragmentos F + + F + + F + e S + + F + + F + . Observamos também um pico do fragmento S +2 , o que corresponde a produção de íons provenientes de um molécula com ionização quádrupla. 2470 2472 2480 2485 2490 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 F ra ç ã o Energia (eV) D 11 D 20 1s 6t 1u1s 6a1g Figura 5.15: Comparação entre as contribuições dos caminhos de fragmentação molecular em função da energia para a molécula de SF6 duplamente ionizada. A linha verde representa o espectro de fotoabsorção normalizado. 102 2470 2472 2480 2485 2490 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 F ra ç ã o Energia (eV) T 21 T 30 1s 6a 1g 1s 6t 1u Figura 5.16: Comparação entre as contribuições dos caminhos de fragmentação molecular em função da energia para a molécula de SF6 triplamente ionizada. Analisando os caminhos de fragmentação da molécula duplamente ionizada, Figura 5.15, observamos um predomínio do caminho D20 antes da frequência de ressonância, o que pode ser atribuído à alta produção do fragmento F 2+ nesta região, devido a ionização da camada interna do flúor. Na frequência da ressonância 1s→6a1g, o caminho D11 passa a dominar quase completamente, devido à alta fragmentação da molécula e consequentemente a grande produção de íons de carga simples, principalmente F + . Na Figura 5.16, temos em todas as energias o domínio do caminho de fragmentação T21. Isto porque o único fragmento que contribui para o caminho T30 é o S +3 , que é proveniente de uma molécula completamente fragmentada. Outras espécies não atômicas de carga tripla são instáveis demais para não se fragmentarem em espécies de menor carga. Observamos um singelo aumento na contribuição do caminho T30 nas regiões de ressonância. Isso pode ser atribuído a uma maior ionização da molécula, favorecendo a produção do íon S +3 . Concluímos com os resultados deste capítulo que a molécula de SF6 quando fotoionizada ou fotoexcitada por fótons de alta energia, correspondente a camada K do enxofre, sofre maior fragmentação devido a uma ressonância vibracional do que às ressonâncias eletrônicas. Isto demonstra que em moléculas de alta simetria, como o caso 103 do SF6, ressonâncias vibracionais são de extrema importância no estudo da interação destas moléculas com fótons de alta energia, sendo que, no caso do SF6, apresentou um papel muito mais importante na fragmentação do que a excitação ou ionização da molécula via ressonância eletrônica. Figura 5.17: Espectro de massa PE3PICO da fragmentação do SF6 por fótons na energia de 2482eV. 104 Capítulo 6: Fragmentação da molécula CF2Cl2 induzida por feixes de oxigênio. A atmosfera superior da Terra é um sistema extremamente dinâmico e depende da influência do Sol sobre a Terra, bem como da componente anômala dos raios cósmicos (íons de H, He, C, N, O, Ne e Ar). Esta influência resulta em processos físicos e químicos complexos, os quais, com a ajuda de modelos matemáticos podem ser analisados. A transferência de energia e o padrão de fragmentação associados com as colisões de projéteis pesados de velocidades intermediárias em colisões com moléculas é controlada pela dinâmica complexa envolvendo excitação, ionização, captura e perda eletrônica. Quando uma partícula carregada interage com a matéria, pode ocorrer ionização dos átomos e moléculas do meio através da deposição de uma dose de energia ao longo do seu caminho. Assim, o projétil perde energia ao atravessar a matéria. O “stopping power” (dE/dx, energia perdida pelo projétil por unidade de comprimento) descreve a perda de energia no caso de projéteis carregados. O dE/dx depende do tipo e da energia da radiação, bem como das propriedades do meio e aumenta no final da trajetória do projétil atingindo um máximo, o pico de Bragg, pouco antes de a energia chegar a zero. A curva que descreve o dE/dx em função da profundidade x do material é chamada de curva de Bragg. Nas proximidades do pico de Bragg, devido ao domínio do processo de captura eletrônica, o feixe de oxigênio consiste predominantemente das componentes de valores baixos de estado de carga. Durante o seu percurso, o íon perde energia até que nenhum processo inelástico seja energeticamente possível e todos os íons se neutralizam. A energia restante é depositada no meio como calor. A taxa de perda de energia com a distância atravessada no meio, para um determinado canal (ionização direta, perda ou captura eletrônica), pode ser escrita como (dE/dx)= nE . onde n é a densidade do meio, E é a energia perdida no processo, e a seção de choque. A forma geral para a perda de energia do projétil pode ser escrita como: 12 21 2 E M m IIE IIE IE e bcap eperda eion 6.1 105 Onde I1 e I2 são os potenciais de ionização do projétil e do alvo, respectivamente, e é a energia cinética dos elétrons ejetados, Ib é a energia final do elétron capturado, me e M, são as massas do elétron e do projétil, respectivamente, e E1 é a energia cinética do projétil. Quando energia é depositada em moléculas, a fragmentação leva à produção de partículas neutras e carregadas. Interações subsequentes envolvendo estas partículas podem gerar mudanças químicas no meio. A despeito do agente externo por íons pesados, elétrons ou fótons, a informação obtida é geralmente interpretada em termos de transições tipo Franck-Condon aos estados excitados das moléculas isoladas. O papel do projétil determina quais dos vários estados sãopopulados e qual intensidade. A fim de estudar o processo de fragmentação das moléculas em estudo por feixes de oxigênio, foram realizados medidas de espectrometria por tempo de voo para as moléculas de CF2Cl2 em colisões com feixes de oxigênio simples e duplamente carregados. As medidas foram realizadas por coincidência simples fragmento-projétil (Projectile fragment-ion coincidence PFICO), de forma que foram realizadas medidas separadas para coincidências com os processos de perda e captura eletrônica do projétil, e ionização do alvo sem troca de carga do projétil. 6.1 Espectros de fragmentação. As Figura 6.1 e Figura 6.2 apresentam os espectros de fragmentação, para colisão do CF2Cl2 com oxigênio de carga simples e dupla, ambos com energia de 1,0 MeV, respectivamente. Em cada figura, são mostrados os espectros de ionização direta, perda e captura eletrônica, para comparação. Observamos uma semelhança razoável entre os espectros de ionização direta e de captura eletrônica, enquanto os espectros de perda apresentam uma tendência à produção de fragmentos de menor massa. Isso pode ser explicado pelo fato da perda ser um processo de baixo parâmetro de impacto, comparada a ionização direta e a captura, o que faz com que seja maior o momento transferido na colisão (q/vb), como já foi visto pelo modelo apresentado no Capítulo 2. Portanto, um menor parâmetro de impacto resulta em colisões mais duras, resultando em uma maior fragmentação. Em todos os casos, é esperado que sejam ionizados do alvo os elétrons de valência, que são os que possuem menor energia de ligação. Sendo assim, nenhum 106 600 1200 1800 500 1000 1500 2000 600 1200 1800 C o n ta g e n s C + F + CF + Cl + CFCl + CF 2 Cl + Ionizaçao CF + 2 CFCl + 2 CFCl + 2 CF 2 Cl + CFCl + CF + 2 Cl + CF + F + C + Captura C 2+ CF 2 Cl + CF + 2 Cl + CF + F + C + C o n ta g e n s Tempo de voo (unid. arb.) Perda Figura 6.1: Espectros de fragmentação por processos de ionização direta, perda e captura eletrônica, da molécula de CF2Cl2 em colisão com feixe O + com energia de 1,0 MeV. 500 1000 1500 2000 500 1000 1500 2000 500 1000 1500 2000 C o n ta g e n s C +2 F +2 C + F + CF + Cl + CF + 2 CFCl + CF 2 Cl + CFCl + 2 Ionizaçao CFCl + 2 CF 2 Cl + CF + 2 Cl + F + C + F +2 C +2 C o n ta g e n s Tempo de voo (unid. arb.) Perda CFCl + 2 CF 2 Cl + CFCl + CF + 2 Cl + CF + F + C + F +2 C +2 Captura Figura 6.2: Espectros de fragmentação por processos de ionização direta, perda e captura eletrônica, da molécula de CF2Cl2 em colisão com feixe de oxigênio de carga dupla com energia de 1,0 MeV. 107 desses modelos considera a ionização de camada interna e, portanto, não leva em conta processos de rearranjo eletrônico como Auger ou shake-off. 6.2 Fragmentação do CF2Cl2 em coincidência com a captura simples de O + e O 2+ A Figura 6.3 mostra a produção de diversos fragmentos (yield) em função da velocidade do projétil para colisões de O + e O 2+ com a molécula CF2Cl2 por processo de captura eletrônica. A título de comparação, foram colocados outros resultados com diversos projéteis retirados de referências, e resultados de ionização direta por prótons rápidos, ainda inéditos, realizados no LaCAM. Todos os resultados comparativos são apenas de ionização, já que o processo de captura eletrônica é muito pouco provável na colisão com prótons e inexistente para os outros projéteis apresentados. Não foram encontrados dados de fragmentação dessa molécula por projéteis que apresentem processo de captura eletrônica na literatura. A interação entre um projétil carregado com um alvo neutro pode ser caracterizado pelo parâmetro de Bohr, que é definido como: v qvo2 6.2 Onde, como antes, vo é a velocidade de Bohr (Capítulo 1) e v é a velocidade do projétil. Para velocidades suficientemente altas < 1, a interação é breve, suave e pode ser descrita por métodos perturbativos. Por outro lado, se > 1, tratamentos perturbativos não são válidos. Nesta tese 1< < 2 para o O + e 2 < < 4 para o O 2+ , ou seja, estamos numa região intermediária, onde métodos perturbativos não se aplicam. Para altas velocidades (v > 3vo), os resultados para a fragmentação por impacto de prótons (não publicados) estão em bom acordo com os resultados correspondentes por impacto de elétrons, conforme esperado, uma vez que, para altas velocidades, a seção de choque de ionização varia como q 2 lnv/v, ou seja, com o quadrado da carga do projétil. Então prótons e elétrons com a mesma velocidade são igualmente eficientes para ionização de átomos e moléculas. Observamos uma boa concordância qualitativa dos resultados para colisão com prótons e para colisão com oxigênio, tanto de carga 108 1 10 0,1 1 10 100 1 10 0,01 1 100 1 10 0,1 1 10 1 10 0,1 1 10 100 1 10 1 10 100 1 10 0,01 0,1 1 10 1 10 1 10 1 10 0,1 1 10 R e n d im e n to ( % ) R e n d im e n to ( % ) R e n d im e n to ( % ) R e n d im e n to ( % ) O+2 O+ proton positron eletron proton_ref Cl + CCl 2 F + CClF + F + CClF + 2 CF + 2 V/V 0 C + V/V 0 CF + Figura 6.3: Rendimento de produção de diversos íons em função da velocidade para captura eletrônica da colisão com O + e O 2+ em comparação com diversos projéteis de referências [pósitrons (84), prótons (85), elétrons (86)]. 109 simples quanto de carga dupla. Apesar do processo de captura eletrônica não ter sido medido por prótons, já que sua probabilidade de ocorrência é muito pequena, os valores seguem bem a tendência dos pontos de fragmentação por oxigênio. Atribuímos essas similaridades ao papel das colisões distantes que dominam tanto no processo de captura a baixas velocidades quanto na ionização direta a altas velocidades. Tanto no caso da captura por O + quanto por O 2+ , os espectros de massa são dominados pelo íon Cl + (~30 % em ambos os casos), seguindo pelo fragmento CClF2 + , que corresponde à perda de um átomo de cloro neutro (~20 % em ambos os casos). Como vimos nas Figura 6.1 e Figura 6.2, os perfis de fragmentação por processo de captura eletrônica e perda eletrônica são bem parecidos, devendo ter, portanto, parâmetros de impacto da mesma ordem. Sendo assim, as semelhanças entre os processos de captura eletrônica e ionização direta por oxigênio justificam a concordância do perfil de fragmentação por estes projéteis por captura eletrônica com os de fragmentação por prótons sem separação de estado de carga final do projétil. No caso da fragmentação por elétrons, a concordância é boa em velocidades mais altas, da mesma ordem que as velocidades usadas na colisão com prótons. Para velocidades baixas, não há concordância entre a fragmentação por elétrons e a fragmentação por oxigênio por processo de captura eletrônica. Além dos processos eletrônicos estudados não existirem na colisão com elétrons, estas partículas não são massivas, sendo que não tem capacidade de transferir momento para o alvo em baixas velocidades. Observamos, portanto, uma queda acentuada da produção de fragmentos de menor massa na fragmentação da molécula por elétrons quando vamos para energias mais baixas. Em velocidades da ordem da energia dos prótons, a fragmentação por elétrons tende a concordar bem com a fragmentação por prótons. Nestas velocidades, uma interpretação perturbativa pode ser aplicada, e a passagem do elétron é vista como um pulso de potencial pelo alvo, como já foi explicado no Capitulo 2, e isso justifica a concordância dos perfis de fragmentação. A fragmentação por pósitrons apresenta valores bem abaixo dos outros projéteis em todos os fragmentos analisados. Isto deve estar ligado a processos de aniquilação e interações que não estão no domíniodos objetivos desta tese. É interessante observar, porém, que para velocidades muito baixas, o yield da fragmentação por pósitrons cai na mesma tendência que na fragmentação por elétrons. 110 Quanto ao estado de carga inicial do oxigênio, observamos que para o oxigênio de carga dupla a produção de fragmentos de menor massa, principalmente os atômicos, é maior do que para a colisão com oxigênio de carga simples. Isso está de acordo com nossos modelos teóricos já que o momento transferido na colisão é proporcional à carga do projétil. Alem disso, o processo de captura para ocorrer, como já vimos na seção 2.3, deve haver uma interação entre as nuvens eletrônicas, para que seja possível a transferência de um elétron do alvo para o projétil. Mais especificamente, deve haver uma interação mínima para que o potencial Coulombiano do projétil possa atrair e capturar o elétron do alvo para sua órbita. Sendo assim, é de se esperar que um projétil com maior carga tenha maior capacidade de captura eletrônica, podendo ter uma maior eficiência na ionização do alvo por esse projétil e, o mais importante, podendo atingir elétrons de maior energia, criando um perfil de fragmentação diferente dos projéteis de menor carga. 6.3 Ionização direta de CF2Cl2 por de O + e O 2+ . A Figura 6.4 mostra a produção de diversos íons (yield) em função da velocidade do projétil para colisões de O + e O 2+ com a molécula CF2Cl2 por processo de ionização direta do alvo. A título de comparação, foram colocados outros resultados com diversos projéteis retirados de referências, e resultados de colisões com prótons realizadas no LaCAM. Todos os resultados comparativos são também de processo de ionização direta. Mais uma vez, observamos uma boa concordância nos perfis de fragmentação por oxigênio e por prótons, assim como no caso da fragmentação por captura eletrônica. Também para a fragmentação por elétrons, a concordância é boa para altas velocidades e não existe em velocidades mais baixas. Todas estas semelhanças comprovam que os processos de ionização direta do alvo e captura eletrônica acontecem com parâmetros de impacto muito próximos. A captura eletrônica na verdade, ocorre após um processo de ionização do alvo, e portanto todas as justificativas apresentadas para esses comportamentos para a fragmentação por captura eletrônica são validas também para o processo de ionização direta do alvo. 111 1 10 1 10 100 1 10 0,1 1 10 100 1 10 0,01 1 100 1 10 0,1 1 1 10 0,1 1 10 100 1 10 0,01 0,1 1 10 1 10 0 3 6 9 1 10 1 10 R e n d im e n to ( % .) R e n d im e n to ( % .) R e n d im e n to ( % .) R e n d im e n to ( % .) O2+ O+ proton positron eletron proton_ref CClF + 2 F + CCl 2 F + CClF + Cl + CF + 2 V/V 0 CF + V/V 0 C + Figura 6.4: Rendimento de produção de diversos íons em função da velocidade para ionização na colisão com O + e O +2 em comparação com diversos projéteis de referências [pósitrons (84), prótons (85), elétrons (86)] 112 Em relação ao estado de carga inicial do projétil, porém, os resultados para colisão com O + e O +2 são bastante próximos, diferente dos resultados apresentados para fragmentação por captura eletrônica. Isso sugere que em ambos os casos, oxigênio de carga simples ou dupla, o fenômeno de blindagem deve estar prevalecendo, havendo pouca interação da nuvem eletrônica do projétil com os elétrons ionizados do alvo, sendo estes ionizados pela interação com o núcleo do alvo. Portanto, a fragmentação tem pouca dependência da carga do projétil. 6.4 Fragmentação de CF2Cl2 em coincidência com a perda eletrônica de O + e O 2+ . A Figura 6.5 mostra a produção de diversos íons (yield) em função da velocidade do projétil para colisões de O + e O 2+ com a molécula CF2Cl2 por processo de perda eletrônica. A título de comparação, foram colocados outros resultados com diversos projéteis retirados de referências, e resultados de colisões com prótons realizadas no LaCAM. Todos os resultados comparativos são apenas de ionização, já que o processo de perda eletrônica não é possível para os projéteis apresentados como referência. Não foram encontrados dados de fragmentação dessa molécula por projéteis que apresentem processo de perda eletrônica na literatura. Assim como para os outros processos já apresentados, a fragmentação por perda eletrônica apresenta boa concordância entre a fragmentação por oxigênio e a fragmentação por prótons. Neste caso, o próton obviamente não pode sofrer processo de perda eletrônica. Essa coincidência é justificável pela predominância no processo de blindagem neste tipo de colisão. Assim, quando temos uma ionização do alvo por perda eletrônica do projétil, o que ocorre é a ionização do alvo pelo núcleo do projétil simultaneamente a uma ionização do projétil pelo núcleo do alvo. Esta dupla ionização está associada a um processo de segunda ordem [ (87), (17)], e está ilustrado na Figura 6.6. Uma característica peculiar da fragmentação por oxigênio por processo de perda eletrônica é a presença de fragmentos atômicos de carga dupla, que não haviam aparecido em nenhum dos outros processos. Isso é devido ao baixo parâmetro de impacto do processo de fragmentação por perda eletrônica, sendo necessário para que ocorra a ionização múltipla. Portanto, com baixo parâmetro de impacto, temos maior 113 1 10 1 10 100 1 10 0,1 1 10 100 1 10 0,1 1 10 100 1 1,5 2 2 4 6 1 2 1 2 3 4 5 6 7 8 1 10 0,1 1 10 1 10 0,1 1 1 10 1 10 O2+ O+ proton positron eletron proton_ref CClF + 2 F + Cl + C +2 F +2 R e n d im e n to ( % ) R e n d im e n to ( % ) R e n d im e n to ( % ) R e n d im e n to ( % ) V/V 0 CFCl + 2 V/V 0 V/V 0 CFCl + C + Figura 6.5: Rendimento de produção de diversos íons em função da velocidade para perda eletrônica na colisão com O+ e O+2 em comparação com diversos projéteis de referências [pósitrons (84), prótons (85), elétrons (86)] 114 energia transferida na colisão, e consequentemente a possibilidade da produção de fragmentos multiplamente carregados. Assim como no processo de ionização direta, a produção dos fragmentos por oxigênio de carga simples e carga dupla é bastante próxima e se confunde. Isto também esta relacionado à predominância do processo de blindagem. Figura 6.6: Ionização múltipla em processo de ionização por perda eletrônica. 6.5 Cálculo da massa média Como a maioria dos fragmentos detectados são simplesmente carregados, uma maneira de se obter uma medida da intensidade ou dureza da colisão é através da massa dos fragmentos moleculares. Assim, definimos a massa média dos fragmentos para cada energia e canal estudado como: i iiPMM 6.3 Onde é a massa de cada fragmento e é a porcentagem de produção de cada fragmento (íon yield) em uma dada energia. O resultado é mostrado na Figura 6.7. A ideia por trás dessa definição é que para colisões mais suaves, pouco dano é provocado ao alvo, e, consequentemente, fragmentos de massa maiores são produzidos. Para colisões mais violentas, um maior dano é produzido ao alvo e fragmentos menores são produzidos. A Figura 6.7 apresenta os valores para a massa média da molécula CF2Cl2 para os projéteis O + e O 2+ separados de acordo com o processo inelástico (ionização,perda ou captura eletrônica). 115 1,2 1,6 2,0 10 20 30 40 50 O + (cap.) O 2+ (ioniz.) O + (ioniz.) O 2+ (cap.) O 2+ (perda) < M > V/V 0 (u.a.) O + (perda) Figura 6.7: Massa média dos fragmentos da molécula CF2Cl2 em função da velocidade do projétil em unidades atômicas. O símbolos cheios representam o projétil O + , enquanto os símbolos vazios representam o projétil O 2+ . Círculos fechados (ionizaçãopor O + ), círculos abertos (ionização por O 2+ ), quadrados fechados (captura por O + ), quadrados abertos (captura por O 2+ ), triângulos fechados (perda de O + ), triângulos abertos (perda por O 2+ ) . Vamos analisar estes resultados com base no modelo de momento transferido descrito no Capítulo 2. Relembrando a equação da componente perpendicular do momento transferido pelo projétil ao alvo é dado por 6.4 Ou seja, , onde qp= q é a carga do projétil e qr = e é a carga do elétron. Observando os resultados dos experimentos apresentados para colisões com oxigênio, vemos claramente que são exatamente os parâmetros desta equação que são variados nos experimentos. Variamos q realizando colisões com projéteis de cargas diferentes (O + e O 2+ ), variamos o parâmetro de impacto medindo o estado de carga final do projétil (perda e captura eletrônica e ionização) e variamos a velocidade do projétil variando sua energia. Pensando agora na relação da massa média com o momento transferido, podemos concluir que quanto maior o momento transferido na colisão, causando maior 116 dano ao alvo e um padrão de fragmentação mais eficiente. Sendo assim, devemos esperar que quanto maior o momento transferido, menos a massa média, ou seja, 6.5 Portanto, a relação da massa média com os parâmetros em questão fica: 6.6 Pela Figura 6.7, vemos que os processos de perda eletrônica resultam numa menor massa média dos fragmentos, indicando grandes transferência de momento ao alvo. Isto se deve ao fato da perda eletrônica acontecer preferencialmente em regiões de pequenos parâmetros de impacto (vide Eq. 6.6). Os processos de ionização direta do alvo pelo projétil e captura eletrônica, produzem fragmentos de maior massa média, indicando processos mais suaves em comparação com a perda eletrônica. Sob este ponto de vista, vamos analisar primeiramente o processo de ionização (Figura 6.8) que acontece preferencialmente em regiões de grandes parâmetros de impacto a altas velocidades do projétil. Observando a curva de ionização do O + percebemos um crescimento da massa média com o aumento de energia. Como com o aumento da energia temos o aumento da velocidade, este é exatamente o comportamento esperado pelo nosso modelo. Para o O 2+ , porém, praticamente não há variação da massa média com a energia. Sabemos que, a alta velocidade, a ionização é um processo de baixo parâmetro de impacto (88). Quando aumentamos a velocidade, o tempo de interação se torna menor, e para que o projétil seja ionizado a colisão deve ser mais próxima. Sendo assim, quando aumentamos a velocidade, também diminuímos o parâmetro de impacto. De acordo com o nosso modelo, aumentar tanto a velocidade quanto o parâmetro de impacto, devem ambos aumentar a massa média. É o que acontece no O + . No O 2+ , que tem o último elétron mais ligado que no O + , a colisão deve ter um parâmetro de impacto mínimo para que seja ionizado, menor que o O + . Sendo assim, a ionização do O 2+ ocorre com um parâmetro de impacto menor, o que compensa a variação da velocidade e torna seu efeito imperceptível nas velocidades medidas. Além disso, como o O +2 tem um potencial Coulombiano mais forte, o efeito da variação do parâmetro de impacto é maior, compensando a variação da velocidade. 117 1,2 1,5 1,8 35 42 49 O + O 2+ < M > V/V 0 (u.a.) Figura 6.8: Massa média de fragmentos produzidos por processo de ionização direta da colisão da molécula CF2Cl2 com oxigênio simples e duplamente carregado. As linhas pontilhas são apenas guias para os olhos. Vamos analisar agora o processo de captura eletrônica sob a mesma perspectiva. Observamos pela Figura 6.9 que há uma pequena diminuição da massa média em função da velocidade para a captura de O + em CF2Cl2. Podemos entender esse fenômeno pelo fato do parâmetro de impacto para a captura diminuir com o aumento da velocidade do projétil. Como a seção de choque de captura pode ser escrita como bo 2 , onde bo é o parâmetro de impacto mais provável para a captura. Conforme vimos no capítulo 4, a seção de choque de captura diminui com o aumento da velocidade do projétil, logo bo deve diminuir, tornando a colisão gradativamente mais violenta. O mesmo pode ser observado para a captura simples de O 2+ (exceto o ponto de mais alta energia, onde a massa média é praticamente igual à massa média da captura de O + . Não podemos afirmar com certeza se este ponto representa um artefato experimental, ou se de fato a massa média é alta). Sabemos que o processo de captura é de baixo parâmetro de impacto em altas velocidades (88). Sendo assim, quando aumentamos a velocidade do projétil, devemos ter um menor parâmetro de impacto para que seja possível a captura. Por isso também, como já observamos em resultados anteriores, a seção de choque de captura cai rapidamente com o aumento da energia. Neste caso, de acordo com nosso modelo, tanto o parâmetro de impacto quanto a velocidade são diretamente 118 proporcionais à massa média. Sendo assim, um aumento da velocidade simultaneamente a uma diminuição do parâmetro de impacto tende a ter refletir uma variação nula na massa média. É o que observamos no caso do O + . Observamos também que em quase todos os pontos a massa média do O + está acima da do O 2+ , o que era de se esperar de acordo com nosso modelo, maior carga resulta em maior momento transferido que finalmente causa maior fragmentação (menor massa média). Apenas no último ponto de maior velocidade do O 2+ , a massa média cresce se igualando à do O + . 1,2 1,5 1,8 35 40 45 50 O + O +2 < M > V/V 0 (u.a.) Figura 6.9: Massa média de fragmentos produzidos por processo de captura eletrônica da colisão da molécula CF2Cl2 com oxigênio simples e duplamente carregado. As linhas pontilhas são apenas guias para os olhos. No caso da perda eletrônica, o que observamos primeiramente é que tanto no caso do O + quanto do O 2+ a massa média da perda é bem menor que a de todos os outros processos. Isso se deve ao fato de que a perda eletrônica é o processo com menor parâmetro de impacto entre todos citados. Sendo assim, de acordo com nosso modelo, um maior parâmetro de impacto resulta num maior momento transferido e numa maior fragmentação da molécula, reduzindo a massa média. Comparando os projéteis de cargas diferentes, observamos que o projétil de maior carga, O 2+ , tem menor massa média que o de menor carga, O + , o que esta de acordo com nosso modelo. Observamos também que a massa média do O + tende a crescer discretamente com a velocidade, 119 como era de se esperar pelo modelo. Enquanto isso, a massa média da fragmentação por O 2+ tende a ficar estável. Isto provavelmente porque a massa média da fragmentação por O 2+ já é bastante pequena, não havendo na faixa de velocidade medida variação suficientemente grande no momento transferido para que houvesse uma variação na massa média perceptível. 1,2 1,5 1,8 16 24 32 O + O +2 < M > V/V 0 Figura 6.10: Massa média de fragmentos produzidos por processo de perda eletrônica da colisão da molécula CF2Cl2 com oxigênio simples e duplamente carregado. As linhas pontilhas são apenas guias para os olhos. 6.6 Comparação entre fragmentação por fótons e por oxigênio em função do momento transferido. Usando o modelo da descrição do momento transferido por fótons e por partículas apresentados no Capítulo 2, fizemos uma comparação entre o momento transferido por fótons, prótons e oxigênio, dos dados apresentados até agora nesta tese para colisão da molécula de CF2Cl2 com estes projéties. De acordo com a equação 6.4, se tivermoseventos com projéteis de mesma carga e ocorrendo em mesmo parâmetro de impacto, o termo se torna uma constante, e 120 o momento transferido fica como função apenas da velocidade do projétil. Sendo assim, podemos definir o momento transferido pela colisão com partículas pela fórmula: 6.7 Onde é a constante de proporcionalidade a qual ajustamos manualmente, encontrando um valor de , para prótons e oxigênio de carga simples, e , para oxigênio de carga dupla, já que de acordo com nosso modelo do momento transferido, dobrando- se a carga do projétil, o valor do momento transferido também deve dobrar. Descrevemos também no Capítulo 2 como pode ser calculada a energia transferida na colisão através de um modelo perturbativo. Neste modelo, vimos que o pulso de potencial gerado pelo projétil quando atinge o alvo pode ser interpretado como uma onda de potencial equivalente. Esta interpretação nos permite ver a colisão como um fenômeno corpuscular ou ondulatório, e portanto podemos comparar o momento transferido pelo fóton com o momento transferido pelo íon neste quadro perturbativo. O momento transferido pelo fóton é simplesmente proporcional à energia do fóton incidente: 6.8 Onde é a velocidade da luz no vácuo, e é a energia do fóton que é totalmente absorvida pelo alvo, conforme descrito no Capítulo 2. Podemos assim encontrar um valor equivalente para o momento transferido na colisão com fótons e com íons. Estes valores foram calculados e plotados juntos para comparação na Figura 6.11. Esta interpretação porem não é válida para todos os processos eletrônicos estudados nesta tese. Como já vimos, o espalhamento atômico pode ser categorizado em grupos de acordo com os estados finais, a dizer, espalhamento elástico, excitação, ionização, captura eletrônica e perda eletrônica. Estes estados não são totalmente distintos (por exemplo, altos estados de Rydberg se misturam com estados do contínuo na presença de campos eletromagnéticos externos). Os dados apresentados na Figura 6.11 para oxigênio são para ionização direta, enquanto os de prótons não houve 121 separação entre os processos durante as medidas, já que a perda eletrônica é inexistente e a captura muito pouco provável devido à baixa carga elétrica. Para excitação e ionização o momento transferido mínimo é dado por Qmin =E/v que se torna pequeno para altas velocidades. A captura eletrônica inclui um fator de translação do elétron, ou seja Qmin= v/2 +E/2v. Como o espalhamento ocorre em regiões onde Qb ~1, em altas velocidades a captura tende a ocorrer em parâmetros de impacto pequenos (em altos parâmetros de impacto para velocidades baixas), enquanto a excitação e ionização ocorrem em grandes parâmetros de impacto a altas velocidades. Na Figura 6.11, mostramos uma comparação entre o rendimento de produção de diversos fragmentos (yield) da fragmentação da molécula de CF2Cl2 por fótons, prótons e oxigênio de carga simples e dupla, em função momento transferido calculado pelos modelos apresentados. Os dados para oxigênio e prótons são pertencentes a este trabalho, já apresentados e discutidos individualmente nos capítulos anteriores, enquanto os dados de fótons são em parte os já apresentados neste trabalho, e outros foram retirados da referência (49). Podemos observar na Figura 6.11, primeiramente, que o perfil de fragmentação segue a mesma tendência para os dados de prótons e de oxigênio em todos os fragmentos. Isso nos mostra a aplicabilidade do modelo de momento transferido tanto para projéteis de baixa massa, como o próton, quanto para projéteis mais massivos, que é o caso do O + , sendo que para projéteis de mesma carga e que estão interagindo pelo mesmo processo eletrônico (ionização direta do alvo, no caso), o momento transferido na colisão é função apenas da velocidade do projétil. Podemos também comprovar a dependência do momento transferido com a carga, já que o oxigênio de carga dupla segue muito bem a tendência do oxigênio de carga simples, sendo que para o oxigênio de carga dupla foi usado um valor de duas vezes maior que o valor para o de carga simples, já que de acordo com nosso modelo o momento transferido é diretamente proporcional à carga do projétil. 122 0 5 10 15 4 8 12 0 5 10 15 0 6 12 18 0 136 272 408 0 5 10 15 0 7 14 0 5 10 15 20 0 30 60 90 0 5 10 15 0 4 8 12 0 5 10 15 0 20 40 0 5 10 15 0 10 20 0 5 10 15 3 6 Protons Fotons Suzuki et al Fotons sem filtro O + O +2 Fotons com filtro CF + 2 Photon Energy (eV) C + CFCl + 2 R e n d im e n to ( % ) R e n d im e n to ( % ) R e n d im e n to ( % ) R e n d im e n to ( % ) CF 2 Cl + CF + Cl + Q (u.a) F + Q (u.a) CFCl + Figura 6.11: Comparação entre momento transferido e rendimento (yield) para a colisão de CF2Cl2 com prótons, oxigênio (ionização direta) e fótons. Quadrados cheios pretos: yield da colisão com oxigênio de carga simples; quadrados cheios azuis: oxigênio de carga dupla; linha vermelha: fótons sem filtro; linha amarela: fótons com filtro; linha preta: fótons Suzuki et al (49). 123 0 5 10 15 0 2 4 6 0 5 10 15 0 10 20 30 0 136 272 408 0 4 8 0 7 14 0 5 10 15 0 20 40 60 80 0 3 6 9 0 2 4 6 8 10 0 5 10 15 0 20 40 60 0 5 10 15 0 10 20 30 40 0 3 6 9 0 1 2 3 4 5 6 7 8 CCl + e CF + 2 Fotons Suzuki Protons Fotons sem filtro O + O +2 Fotons sem filtro Photon Energy (eV) C + Q (au) CFCl + 2 R e n d im e n to ( % ) R e n d im e n to ( % ) CF 2 Cl + R e n d im e n to ( % ) CF + Q (u.a) Q (u.a) Cl + R e n d im e n to ( % ) F + CFCl + Figura 6.12: Comparação entre momento transferido e rendimento (yield) para a colisão de CF2Cl2 com prótons, oxigênio (perda eletrônica) e fótons. Quadrados cheios pretos: yield da colisão com oxigênio de carga simples; quadrados cheios azuis: oxigênio de carga dupla; linha vermelha: fótons sem filtro; linha amarela: fótons com filtro; linha preta: fótons Suzuki et al (49). 124 0 5 10 15 6 9 12 0 5 10 15 0 5 10 15 0 136 272 408 0 5 10 15 0 6 12 18 0 5 10 15 0 30 60 90 0 5 10 15 0 4 8 5 10 15 0 20 40 0 5 10 15 0 7 14 21 0 5 10 15 3 6 9 CF + 2 Fotons Suzuki Protons Fotons com filtro O + O 2+ Fotons sem filtro Photon Energy (eV) C + Q (au) CFCl + 2 R e n d im e n to ( % ) R e n d im e n to ( % ) CF 2 Cl + R e n d im e n to ( % ) CF + Cl + R e n d im e n to ( % ) Q (au) F + Q (au) CFCl + Figura 6.13: Comparação entre momento transferido e rendimento (yield) para a colisão de CF2Cl2 com prótons, oxigênio (captura eletrônica) e fótons. Quadrados cheios pretos: yield da colisão com oxigênio de carga simples; quadrados cheios azuis: oxigênio de carga dupla; linha vermelha: fótons sem filtro; linha amarela: fótons com filtro; linha preta: fótons Suzuki et al (49). 125 De acordo com o modelo, o momento transferido na colisão com íons é inversamente proporcional à velocidade. Sendo assim, valores de velocidade mais alta para íons tem yield similar a valores de fragmentação por fótons de baixa energia, enquanto íons mais lentos são comparáveis a fótons mais energéticos. Este comportamento pode ser claramente observado na Figura 6.11, onde o yield dos fragmentos provenientes da colisão com prótons, que tem velocidades mais altas são comparáveis aos valores para fótons de baixa energia, enquanto o yield dos fragmentos resultantes da fragmentação por colisão com oxigênio, em velocidades mais baixas que o próton, está em acordo com os valores da fragmentação por fótons de energia mais alta. Podemos dizer que as colisões com oxigênio são mais duras, havendo maiormomento transferido, enquanto as colisões com prótons são colisões suaves, com baixo momento transferido. Na Figura 6.12 mostramos uma comparação entre o rendimento de produção de diversos fragmentos (yield) da fragmentação da molécula de CF2Cl2 por fótons, prótons e oxigênio de carga simples e dupla, em função momento transferido calculado pelos modelos apresentados. Neste gráfico, os dados apresentados para oxigênio são referentes à fragmentação via processo de perda eletrônica do projétil. Novamente, dados já apresentados e de referência são exibidos para comparação. Observamos novamente uma tendência comum na variação do yield em função do momento transferido para a fragmentação por prótons, oxigênio de carga simples e oxigênio duplamente carregado. Isso mostra que para colisões mais duras, que é o caso da perda eletrônica, o modelo de momento transferido continua sendo válido, tanto para partículas de alta velocidade, como prótons, como para partículas de velocidades mais baixas, como oxigênio. Em comparação a fragmentação por fótons, observamos que os resultados para íons seguem razoavelmente a tendência de comportamento dos fótons. Na Figura 6.13 mostramos uma comparação entre o rendimento de produção de diversos fragmentos (yield) da fragmentação da molécula de CF2Cl2 por fótons, prótons e oxigênio de carga simples e dupla, em função momento transferido calculado pelos modelos apresentados. Neste gráfico, os dados apresentados para oxigênio são referentes à fragmentação via processo de captura eletrônica do projétil. Novamente, dados já apresentados e de referência são exibidos para comparação. Novamente, observamos uma boa concordância na tendência dos dados para prótons e oxigênio de cargas simples e dupla. A captura eletrônica é um processo de 126 maior parâmetro de impacto, e, portanto deve ter menor momento transferido. Porém, podemos ver que o comportamento segue muito bem o nosso modelo em relação à carga e velocidade do projétil. Isto sugere que não deve haver muita dependência entre o momento transferido do projétil para os elétrons do alvo com o momento transferido do alvo para os elétrons do projétil, sendo um processo multieletrônico de segunda ordem. 127 Capítulo 7: Conclusões e perspectivas Processos multieletrônicos decorrentes da colisão de fótons e partículas carregadas com moléculas são extremamente complexos devido à grande quantidade de parâmetros correlacionados que fazem parte da descrição da estrutura eletrônica das espécies envolvidas. Nesta tese, estudamos processos de fragmentação de moléculas de interesse atmosférica tanto por fótons quanto por íons de oxigênio, analisando os efeitos das colisões separadamente, e posteriormente a relação entre a colisão com fótons e com íons. Na fragmentação por fótons do CF2Cl2 na borda da camada K do cloro, observamos uma grande variação no perfil de fragmentação na energia de ressonância, tanto na fragmentação quanto na energia cinética. Analisamos a carga total decorrente da fotoionização em função da energia, e observamos um aumento da produção de cargas simples na região de ressonância, decorrente da predominância do processo Auger ressonante nessa região. Estes resultados foram publicados em (89). Na fragmentação do SF6 por fótons de alta energia, na borda da camada K do enxofre, obtivemos um espectro de fotoabsorção com uma fraca absorção na região de ressonância 1a1g → 6a1g, que é considerada oticamente proibida, e uma forte absorção na ressonância eletrônica 1a1g → 6t1u, como era de se esperar. Os perfis de fragmentação porem demonstraram que ocorre uma grande mudança na produção dos fragmentos na ressonância proibida, o que indica que esta tem grande influência na fragmentação da molécula. Cálculos da força do oscilador ótico nesta energia mostraram que há uma forte ressonância vibracional, o que explica a grande influência dessa ressonância nos espectros de fragmentação. Seções de choque totais absolutas de perda e captura eletrônica de feixes de O + e O 2+ em CF2Cl2, CHFCl2 e SF6 foram medidas para energias dos projéteis entre 100 keV e 2,0 MeV. As seções de choque experimentais de captura simples são bem descritas pelo modelo de Bohr-Lindhardt. As seções de choque experimentais de perda eletrônica simples são bem descritas pelo modelo de elétrons livres (free electron collision model). Knudsen, Haugen, e Hvelplund propuseram que a seção de choque de captura seguia uma lei de escala do tipo /q e E/q4/7 em um dado alvo, e baseados no modelo atômico de Lenz-Jensen, as seções de choque poderiam ser descritas de acordo com as 128 coordenadas reduzidas Z2 2/3 /q e E/q 4/7 Z2 16/21 , onde q é a carga do projétil, Z2 é o número atômico do alvo e E a energia do projétil. No entanto, os nossos dados apontam para uma lei de escala do tipo /Z2q n , onde n <1. Ou seja, a seção de choque de captura simples de O + e O 2+ em colisões com as moléculas estudadas na presente tese, aumentam linearmente com o número atômico do alvo, mas não tão fortemente com a carga do projétil (a seção choque de captura simples de O 2+ é menor que o dobro da seção de choque de captura simples por O + ). A fragmentação da molécula de CF2Cl2 por oxigênio de carga dupla e simples foi estudada separadamente para os processos eletrônicos de perda e captura eletrônica, e ionização direta do alvo. Observamos que a fragmentação por processo de perda eletrônica gera uma maior fragmentação da molécula, com uma produção muito maior de fragmentos de menor massa. Isso era esperado pelo modelo de momento transferido, já que colisão com perda eletrônica é a que ocorre com menor parâmetro de impacto, tendo, portanto, o maior momento transferido, e maior ionização da molécula. As relações de velocidade e carga com o momento transferido também são obedecidas em nossos resultados. Finalmente, foi feita uma comparação entre o momento transferido na colisão por fótons e por oxigênio de carga dupla e simples para a molécula de CF2Cl2 nos processos de perda e captura eletrônica e ionização direta do alvo. Os resultados foram comparados com referências para prótons, pósitrons, elétrons e fótons. Os resultados tiveram ótima concordância, sendo que as curvas de produção dos fragmentos em função do momento transferido seguem a mesma tendência, mostrando que a fragmentação por fótons ou por íons, sejam eles massivos ou não, pode ser comparada em função do momento transferido na colisão. Isto nos dá uma relação entre os processos de fragmentação por fótons e fragmentação por íons bastante interessante. Como perspectiva, podemos deixar a elaboração de um modelo teórico mais complexo do processo de captura eletrônico, que permita uma descrição mais precisa do processo em velocidades mais altas e para moléculas assimétricas. Também podemos acrescentar medidas de fragmentação do SF6 por fótons de baixa energia e por oxigênio, para comparação da fragmentação através do momento transferido, e todas as medidas de fragmentação do CHClF2 necessárias para fazer esta mesma análise com esta molécula. 129 Referências 1. 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