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1 APOSTILA SEXUALIDADE E SOCIEDADE 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................... 3 2 SOCIEDADE E SEXUALIDADE ........................................................ 4 3 O QUE É CULTURA? ........................................................................ 7 4 AS DIVERSIDADES CULTURAIS E SOCIAIS ................................ 15 5 A CONTINUIDADE E A MUDANÇA DA SOCIEDADE: HÁBITOS E COSTUMES ..........................................................................................................19 6 FATORES QUE INFLUENCIAM AS MUDANÇAS SOCIAIS ........... 23 7 SOCIALIZAÇÃO: UMA APRENDIZAGEM PERMANENTE ............. 28 8 O PAPEL SOCIALIZADOR DA FAMÍLIA ......................................... 29 9 PARCERIA ENTRE FAMÍLIA E ESCOLA ........................................ 31 10 O PAPEL SOCIALIZADOR DA ESCOLA ......................................... 35 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................. 38 12 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ................................................. 38 3 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 2 SOCIEDADE E SEXUALIDADE Fonte: www.marceloquirino.com Todos nós adquirimos nossas características humanas em um contexto socio- cultural. Essa condição básica da vida humana levou o filósofo espanhol Ortega e Gasset a dizer: “Eu sou eu e a minha circunstância”. Isso significa que cada um de nós constrói sua identidade a partir do seu ambiente. “Quem sou eu?” é a pergunta que mais cedo ou mais tarde todos nós fazemos. De maneira mais ou menos consci- ente nos interrogamos sobre nossa identidade pessoal e percebemos quanto os valo- res e os comportamentos das pessoas que nos rodeiam e que conhecemos mais de perto influenciam nossas ações e ideias. Aprendemos muito do que nos torna seres humanos em um ambiente cultural, aquele em que nascemos e nos desenvolvemos. Poucas pessoas percebem como a vida, e mesmo a personalidade de cada um de nós, é influenciada pela sociedade da qual somos parte. Nascer no Brasil e crescer 5 como membro da sociedade brasileira constitui uma experiência de vida muito dife- rente da de crescer e ser educado na França, no Japão ou na Índia, por exemplo. E isso tem consequências fundamentais e diversas para o resto de nossas vidas. O estudo das sociedades humanas é importante não só para melhor conhecer- mos a nós mesmos, mas, também, para melhor compreendermos as pessoas que vivem em outros contextos socioculturais. Nunca como hoje, tantos aspectos da vida humana mudam tão rapidamente e para tantas pessoas ao redor do planeta. E isso tem ocorrido em todas as áreas: nas artes, nas ciências, na religião, na moralidade, na educação, na política, na família e na economia. Todas são afetadas. Nessas cir- cunstâncias, não é surpresa que tenha aumentado de maneira significativa o interesse pelo estudo das sociedades humanas, embora constituam um fenômeno dos mais complexos e as ciências sociais integrem um campo de pesquisa jovem em que pre- domina o debate e a controvérsia. A sociedade é uma forma de organização que se desenvolveu aos poucos, em correntes animais distintas e, em inúmeras vezes, independentemente uma das ou- tras. A forma societal é encontrada não apenas entre os humanos, mas, também, entre muitas espécies de mamíferos, pássaros, peixes e mesmo entre insetos, facili- tando, através da adaptação, a sobrevivência e a multiplicação. Estudos comparativos de sociedades animais desenvolvidos pela Biologia Evo- lutiva mostram que a individualidade tende a ser suprimida em sociedades de insetos, por exemplo, em que os mecanismos genéticos são responsáveis por regular a vida social do grupo (pense nas sociedades de abelhas e de formigas). O sociólogo Ge- rhard Lenski, em seu livro As Sociedades Humanas (em inglês, Human Societies) desenvolve uma análise que muito nos ajuda a compreender a importância da dimen- são cultural para a nossa vida individual e a sobrevivência da espécie humana. 6 Fonte: www.buscape.com.br Na perspectiva do processo de evolução das espécies animais, Lenski assinala que de forma contrastante com outras espécies, “a individualidade é marcante nas sociedades dos mamíferos o que, por sua vez, significa que a unidade social, tão im- portante para a sobrevivência das espécies, depende em grande parte de comporta- mentos a serem aprendidos”. Dessa forma, quanto mais a individualidade ganha re- alce em uma espécie, maior é a importância dos processos de aprendizagem para a realização e desenvolvimento de cada membro assim como da espécie como um todo. O fato de que todas as espécies de macacos e primatas vivem em grupos sociais sugeriu uma questão aos pesquisadores da área: por que isso ocorre? Os estudos sobre comportamento de primatas permitiram concluir que a razão principal reside no aumento de oportunidades de aprendizagem que a organização em sociedade ofe- rece. Foi observado que “o grupo é o lugar de conhecimento e experiência que ultra- 7 passa em muito o do membro como indivíduo”. É no grupo que as experiências tor- nam-se mais vantajosas e com benefício mútuo, recíproco. Entretanto, todos nós per- cebemos o quanto os humanos são diferentes na sua capacidade de aprendizagem. Sobre isto Lenski escreveu: “se comparamos os humanos, do ponto de vista físico, com outros antropoides, as diferenças são menores do que as que separam esses antropoides dos outros animais. Do ponto de vista comportamental, entretanto, ocorre o oposto. (...) O ser humano ultrapassou um ponto crítico no processo de evo- lução com apenas pequena mudança genética, abrindo o caminho para um extraordi- nário avanço comportamental. Esse curioso desenvolvimento está ligado à imensa capacidade para aprender que os humanos possuem. Isto tornou possível um modo original e próprio de adaptação ao ambiente que os cientistas sociais chamam de cul- tural. Essa é uma característica crucial da vida humana.” Fonte: sociedadeestranha.blogspot.com.br 3 O QUE É CULTURA? 8 Uma pergunta retorna sempre e tem se mostrado de difícil resposta: o que constitui, então, a natureza humana? Gradualmente, observa Lenski, começamos a perceber de forma um pouco mais clara isso que chamamos de “natureza humana”. Com as descobertas relativamente recentes do DNA, RNA, do código genético e de todas as pesquisas biológicas atuais, é possível entender um pouco melhor o que influencia nossa maneira de ser e de agir. Dessa forma, “muitos cientistas sociais con- sideram que o termo natureza humana não se refere ao que é mais específico do comportamento humano – como as pessoas se vestem, como casam, o que comem, como enterram seus mortos, como praticam suas crenças. Esses são costumes soci-almente determinados e que variam intensamente.” Consequentemente, o termo na- tureza humana tende a ser utilizado mais em relação a tendências básicas enraizadas em nossa herança genética comum e que, portanto, independem do que é específico de cada sociedade e dos comportamentos que as pessoas aprendem no ambiente social em que vivem. Nessa perspectiva, o termo “natureza humana” estaria referenciado às “neces- sidades biológicas básicas do ser humano, à sua motivação geneticamente progra- mada para satisfazê-las, à sua dependência, geneticamente baseada, de sistemas socioculturais e, também, ao seu potencial, geneticamente estabelecido para a cons- trução cultural”. Fonte: sociologiacta.blogspot.com.br 9 Para acentuar a diferença que distingue os humanos do resto do mundo animal, os antropólogos buscaram vincular o termo cultura ao conceito de “símbolos”. Pode- mos garantir tudo que é fundamental em uma definição de cultura se a consideramos como “os sistemas de símbolos da humanidade e todos os aspectos da vida humana que deles dependem”. De um modo geral esse é o aspecto que mais nos distingue de todos os outros seres vivos. Mas o que são “símbolos” e “sistemas de símbolos”? Lenski esclarece que todos os mamíferos são capazes de comunicar com ou- tros de sua espécie e o fazem através de “sinais”. Só os humanos, no entanto, usam “símbolos” tanto quanto “sinais”. Símbolos e sinais são veículos de transmissão de informação. Mas há uma fundamental diferença: o significado de um sinal é ampla- mente determinado de forma genética, é uma resposta geneticamente determinada por um estímulo específico. Um exemplo clássico de um sinal é o grito de dor emitido por um animal ferido. Outro membro do grupo responde instintivamente a esse som ou pode aprender através da observação e experiência a associá-lo com os humores e ações dos demais membros de seu grupo. E, com isso, ele pode ajustar o seu com- portamento. Os sinais são extremamente úteis para ordenar as relações sociais entre os membros de um grupo. Fonte: pt.slideshare.net 10 Os animais aprendem a associar experiências e por meio de sinais comunicam aos outros de sua espécie, informações essenciais – como uma ameaça de perigo – através de movimentos do corpo, secreções glandulares ou outros métodos e suas combinações. Em geral, no entanto, os sinais são muito limitados em seu poder de comunicação. Os símbolos, em contraste, como não são condicionados genetica- mente, são flexíveis e podem ser modificados facilmente. Pense na história de qual- quer linguagem. Símbolos linguísticos foram modificados ao longo dos tempos en- quanto seus significados permaneceram os mesmos e vice-versa. Isso ocorre porque os significados dos símbolos são atribuídos pelos grupos sociais de maneira arbitrária, adotados pelos seus membros e, portanto, não estão submetidos a regras previa- mente definidas e podem modificar-se com o tempo e as circunstâncias. A invenção da escrita, por exemplo, significou uma revolução na história da humanidade porque possibilitou aos seres humanos acumular informação muito além das suas capacidades biológicas. E isso só foi possível através de um sistema de símbolos – as letras do alfabeto. Pela combinação e recombinação das letras somos capazes, indefinidamente, de formar palavras e frases, transmitindo informações de todos os tipos às gerações que se sucedem. E fazemos isso ultrapassando em muito nossa capacidade de memória individual e independentemente do contato pessoal. Considere, também, a grande transformação cultural que ocorre nos nossos dias com o uso ampliado da Internet. 11 Fonte: mixbee.com.br São criações humanas que ampliam e atribuem novas formas e características ao mundo em que vivemos. Podemos dizer, portanto, que os símbolos são veículos culturalmente determinados para a transmissão de informações de qualquer natureza. O antropólogo Clifford Geertz, em seu livro A Interpretação das Culturas, ao analisar a relação entre o desenvolvimento da cultura e a evolução da mente humana consi- dera que foi no período pré-histórico da Era Glacial que foram forjadas quase todas as características da existência do ser humano que são mais impressivamente huma- nas. Em uma mesma época da história evolutiva desenvolveram-se de forma combi- nada e interativa a totalidade do sistema nervoso do cérebro humano, a estrutura so- cial baseada no tabu do incesto e a capacidade de criar e usar símbolos. “O fato de que essas características distintivas de humanidade”, escreveu Geertz, “emergiram juntas e em interação complexa uma com a outra (...) é de excepcional importância na interpretação da mentalidade humana, porque sugere que o sistema nervoso hu- mano não apenas torna o homem capaz de adquirir cultura mas demanda positiva- mente que ele assim o faça para que possa funcionar.” 12 Fonte: www.livrariacultura.com.br Hoje, as pesquisas da neurociência tem comprovado a importância das ativida- des de natureza cultural que, associadas às atividades físicas, são a melhor maneira de avançar em idade de forma saudável e com lucidez. Nas sociedades tecnologica- mente avançadas dos nossos dias, o volume de informação transmitido de geração para geração tornou-se tão grande que nenhum membro individual consegue dominá- lo. Assim, diz Lenski, “se os indivíduos são os portadores da cultura, a cultura em sua totalidade é a propriedade de uma sociedade. Nesse sentido podemos dizer que os sistemas de símbolos tem uma função do ponto de vista cultural, semelhante ao do sistema genético. Ambos são mecanismos que facilitam a adaptação de populações ao seu ambiente, através da aquisição, de acúmulo, da transmissão e uso de informa- ções relevantes”. Através da criação de sistemas de símbolos os seres humanos foram capazes de modificar seus comportamentos de maneira significativa, tornando sua adaptação 13 ao ambiente cada vez mais eficiente e isso sem qualquer transformação orgânica im- portante. O antropólogo Clifford Geertz, sob a influência do grande cientista social Max Weber, acredita que “o ser humano é um animal envolvido em teias de significados que ele próprio teceu”. Cultura, para Geertz, são essas redes e sua análise deve ser um estudo interpretativo de seus significados. Para analisar e conhecer uma cultura é preciso interpretar os sinais e símbolos que são utilizados nos processos de comuni- cação de um grupo social, de um povo ou de uma nação. O conceito de cultura está entre os mais usados na Sociologia e refere-se às formas de vida dos membros de uma sociedade ou de grupos dentro da sociedade, incluindo todas as formas de arte, com suas linguagens próprias (a literatura, a mú- sica, as artes plásticas, etc.), as várias formas de expressão que se manifestam no modo de vestir das pessoas, em seus costumes, em seus padrões de comportamento, os seus rituais religiosos, as suas ideias, crenças e princípios orientadores da vida (como as teorias científicas, as doutrinas religiosas e as ideologias). Fonte: psicologiaescolarcritica.wordpress.com O mundo da cultura é constituído de uma trama complexa dos elementos que contribuem para a organização da vida cotidiana, como os estilos de vida familiar e as 14 atividades de lazer que caracterizam nosso ambiente de convivência, e dos mecanis- mos sociais desenvolvidos para a resolução dos problemas da vida coletiva, como as formas de organização da vida escolar, da política ou da produção da vida material. A cultura é um vasto campo que abrange tanto as ideias abstratas que traduzem a vida da imaginação e do pensamento, com suas linguagens próprias, quanto os arranjos sociais e os instrumentos que permitem e favorecem a cooperação entre as pessoas nas formas das organizações sociais, possibilitando melhorar nossa habilidade em alcançar o queprecisamos e desejamos para nós mesmos. Dessa forma a noção de cultura envolve tanto aspectos “intangíveis” - como valores, crenças, ideias, teorias e normas sociais- quanto aspectos “tangíveis” – como objetos, produtos do trabalho, das artes, da ciência e da tecnologia. Os valores e as normas sociais definem o que é considerado fundamental e desejável para a orientação da vida das pessoas em suas interações sociais. Os valores informam nossas crenças morais dando sentido e direção às nossas vidas, enquanto as normas são regras comportamentais que defi- nem o que é esperado das ações individuais no contexto da convivência social. As normas dizem o que devemos fazer ou é proibido fazer em situações espe- cíficas. Em alguma medida as normas sociais, escritas ou não na forma de leis, refle- tem os valores predominantes de uma cultura em uma determinada sociedade. Todos esses elementos, tangíveis e intangíveis, são constitutivos da cultura e são comparti- lhados pelos membros da sociedade, formando um contexto comum para os seus integrantes e dando sentido às suas vidas, ações e atividades. 15 Fonte: www.tandemmadrid.com/br 4 AS DIVERSIDADES CULTURAIS E SOCIAIS Fonte: www.abrhbrasil.org.br 16 É fácil percebermos, quando entramos em contato com aspectos da vida de outras sociedades, como seus ambientes culturais e os comportamentos de seus membros são diferentes dos nossos e, às vezes, de forma acentuada. Quando temos a oportunidade de conhecer e comparar diversas culturas, por leituras e estudos ou em viagens, adquirimos consciência da importância da dimensão cultural para as nos- sas vidas e para a vida coletiva em geral. Isso também ajuda a esclarecermos o con- ceito sociológico de cultura. Sociedades de tempos históricos diversos ou em espaços geográficos diferentes, desenvolveram modos de vida, valores e crenças que em mui- tos aspectos e, às vezes, de maneira bastante radical, diferem e divergem dos nossos. Ao comparar e comentar diferentes culturas deve-se prestar atenção para eventuais manifestações de “etnocentrismo”, a tendência que desenvolvemos em jul- gar elementos de outras culturas com base nos padrões da nossa cultura, o que torna difícil simpatizar com as ideias ou aceitar os comportamentos das pessoas de uma cultura diferente. Os problemas envolvidos nas comparações e avaliações culturais levantam uma questão que tem se tornado fonte de grande debate, transformando-se em foco de tensão no mundo da política global, especialmente para os que lidam na esfera internacional dos direitos humanos. Trata-se do significado e abrangência do relativismo cultural no mundo contemporâneo. A questão é a seguinte: é possível avaliarmos os valores e normas de outra cultura? Baseados em que critérios podemos julgar outra forma de vida cultural como melhor ou inferior à nossa? Essa é uma questão polêmica que provoca grandes de- bates nas ciências sociais. O sociólogo Anthony Giddens pergunta: no Afeganistão, “as políticas do Talibã para as mulheres são aceitáveis no início do século XXI?” O relativismo cultural – “ou seja, suspender suas próprias crenças culturais profunda- mente sustentadas e examinar uma situação de acordo com os padrões de outra cul- tura – pode ser repleto de incerteza e desafio”. (...) “Questões preocupantes são le- vantadas. O relativismo cultural significa que todos os costumes e comportamentos são igualmente legítimos? Haveria padrões universais aos quais todos os humanos deveriam aderir?” Giddens acrescenta, “não há soluções simples para esse dilema e para dúzias de outros casos nos quais normas e valores culturais não coincidem.” ...E ensina uma lição básica para todo o estudante de Sociologia: “O papel do sociólogo é evitar “respostas automáticas” e examinar questões complexas cuidadosamente a partir de tantos ângulos diferentes quanto possível.” 17 Fonte: www.isehf.edu.pt Essas inúmeras questões são um alerta e devem intensificar nossa disposição para conhecer os diversos sistemas socioculturais para melhor compreender os me- canismos que facilitam assim como os que dificultam a convivência humana, neces- sariamente, de cunho social. De um lado a cooperação, a convivência mais equili- brada e harmoniosa, de outro, os antagonismos, os conflitos e as guerras. Os processos da globalização econômica, da revolução na informática, da mí- dia, da superação das barreiras geográficas vem transformando o mundo em uma grande “aldeia global”. Em que medida esses fenômenos estão produzindo uma cul- tura universal, válida para todos os povos? Em que sentido podemos afirmar isso? Quais os possíveis danos para a vida das pessoas e para os diferentes grupos sociais com raízes histórico-culturais distintas? Como fenômeno humano as culturas dos po- vos são dinâmicas e sofrem mudanças. Os indivíduos agem e reagem às influências do ambiente em que vivem e às transformações de seu tempo. Os grupos sociais se mobilizam e movimentam-se no sentido de alterar as suas condições de vida. Conti- nuidade e mudança são dimensões inerentes à vida das sociedades e das culturas. As mudanças podem ocorrer de forma mais lenta, como nos tempos mais antigos, como podem tornar-se rápidas e permanentes como tem ocorrido desde os tempos modernos. 18 Fonte: cliquetando.xpg.uol.com.br É importante observar que “as culturas ultrapassam seus criadores”, como diz Lenski. Cada um de nós nasce em uma sociedade com uma cultura estabelecida e é somente através do domínio dessa cultura que somos capazes de satisfazer nossas necessidades e aspirações. Mas, no processo de dominar a cultura, a cultura tende a nos controlar e fazer de nós suas criaturas. Em um sentido, ela define mesmo nossos objetivos na vida e dá forma aos padrões de nossos pensamentos. Por isso encontra- mos dificuldade em desaprender o que aprendemos no passado. E isso é especial- mente marcante nas pessoas mais velhas. Por outro lado, é sempre possível uma adaptação consciente e deliberada a um novo ambiente ou a uma mudança cultural. Isso implica que processos de mudança cultural ocorrem e podem até ser controlados e mesmo planejados. Esse tema, o da mudança cultural, é especialmente importante na medida em que envolve o debate em torno das questões que dizem respeito às transformações da sociedade. Em geral, novos elementos culturais são acrescentados em uma base de con- tinuidade. Em certos momentos ocorre o abandono de componentes culturais que são substituídos por outros novos. Se nós pensarmos nos vários instrumentos de comuni- cação utilizados através dos séculos nós teremos uma boa amostra das significativas mudanças culturais e das consequências dessas mudanças para a vida das pessoas. Mas muitas mudanças envolvem, ao mesmo tempo, continuidade, como é o caso do 19 alfabeto que usamos há mais de três mil séculos, assim como o conceito de justiça que perdura desde tempos ainda mais antigos. Fonte: gdeufal.blogspot.com.br 5 A CONTINUIDADE E A MUDANÇA DA SOCIEDADE: HÁBITOS E COSTUMES Os aspectos relacionados à continuidade cultural manifestam-se em dois níveis na sociedade. No nível do comportamento individual, através dos hábitos e no nível do comportamento grupal, através dos costumes. Entretanto, em grande parte, os costumes dependem dos hábitos. Os hábitos são padrões contínuos de ação na vida dos indivíduos como respostas condicionadas para questões recorrentes em nossas vidas. A maior parte de nossos hábitos aprendemos dos outros – como no treinamento da criança - e resultam de esforços deliberados para construir padrões de comporta- mento almejados. Os hábitos podem se resultantes de imitação consciente ou incons- ciente. Como aprendemos a nos adaptarmos ao nosso ambiente social Pesquisas em Psicologia, desenvolvidas nos últimos anos, conseguiram mos- trar como o ambiente em que vivemospode dirigir comportamentos que praticamos de forma não-consciente através de um processo de dois estágios: (1) percebemos 20 algo no ambiente de maneira espontânea, não-intencional e então (2), automatica- mente, desenvolvemos tendências comportamentais através do vínculo que se esta- belece entre percepção e comportamento. O que essas pesquisas indicam é que há uma sequência automática entre o que se percebe no ambiente e o comportamento que se segue a essa percepção. E isso ocorre sem que uma escolha consciente de- sempenhe qualquer papel na produção de tal comportamento. Alguns psicólogos pesquisadores afirmaram que esse mecanismo está por trás dos efeitos da mídia sobre o comportamento e sobre os efeitos modeladores, de uma maneira mais geral (como atitudes, expressões de vários tipos e estilos que viram “moda”). O vínculo entre percepção e comportamento tem importantes consequências para as interações sociais. Esse mecanismo automático gera o que chamamos de estereótipos, comportamentos que se reproduzem de maneira fixa, inalterável. Sob um aspecto mais negativo, na vida real da convivência social, os estereótipos são acionados por elementos aparentes como a cor da pele das pessoas, as característi- cas de gênero (feminino, masculino), e outros aspectos facilmente observáveis em membros do grupo, em outras palavras, pela presença real da pessoa sendo estere- otipada. Os estereótipos, em seu lado negativo, são traduzidos em rótulos que costu- mamos aplicar às pessoas e que muito dificultam a convivência e os relacionamentos sociais. Fonte: www.oficinadanet.com.br 21 As análises e as conclusões dessas pesquisas apontam para o papel crucial das categorias mentais. Essas categorias, instrumentos de nossa mente para classi- ficar e entender a realidade, desempenham um papel essencial para simplificar e com- preender o ambiente rico de informação auxiliando-nos na tarefa de selecionar os da- dos relevantes para lidarmos com o mundo que nos cerca. Entretanto, os estereótipos são formas mal adaptadas de categorias porque seus conteúdos não correspondem ao que está realmente presente ou acontecendo no ambiente. Assim uma pessoa não pode ser categorizada pela cor da sua pele ou pelos seus gestos, uma vez que esses aspectos nada ou muito pouco dizem sobre o seu caráter ou a sua personalidade. Em conclusão podemos dizer que, embora os efeitos dos estereótipos automáticos sobre o comportamento podem causar problemas na interação social, o efeito mais natural da percepção sobre o comportamento seria mais positivo quando a atividade percep- tual está baseada sobre o que de fato está acontecendo naquele momento. O claro vínculo entre nossa percepção e nosso comportamento existe, prova- velmente, por uma boa razão, uma razão adaptativa, pois nos torna prontamente ap- tos a agir diante de situações recorrentes da vida cotidiana. Tais ações são apropria- das na ausência de orientações conscientes. As pesquisas também mostram que, ao mesmo tempo em que agimos sob o efeito da percepção sem a necessidade de uma escolha consciente, somos, também, participantes ativos no mundo e nossas ações são realizadas, com frequência, orien- tadas por propósitos e objetivos que desejamos atingir. Muitas, talvez a maioria, de nossas respostas ao ambiente são julgamentos, decisões e comportamentos determi- nados não somente pela informação disponível em nosso ambientem mas, especial- mente, pela consideração como tais informações se relacionam com o objetivo que estamos perseguindo naquela situação específica. As contribuições das pesquisas em Psicologia e na Neurociência tem ajudado os cientistas sociais à melhor compreender os mecanismos que contribuem para o desenvolvimento de certas características culturais dos grupos e de algumas impor- tantes questões relacionadas com a interação e o funcionamento da vida social. Os costumes, hábitos compartilhados por um grupo social e por um povo, cos- tumam durar ao longo do tempo. Mas não apenas hábitos compartilhados fazem os costumes. Outros padrões de ação duráveis e que funcionam de forma consciente 22 para os membros de uma comunidade ou sociedade, também fazem parte dos costu- mes. Por exemplo: a resolução de problemas básicos que afetam o transito nas ruas e nas estradas (como o lado em que devemos transitar com os veículos), criou alguns costumes resultantes da necessidade de organização e segurança no tráfico e aca- baram virando lei, tornando obrigatório para todos os motoristas agir da mesma ma- neira. Trata-se de normas que definem o comportamento correto em situações espe- cíficas no ambiente coletivo. Para Lenski, as práticas costumeiras dos grupos sociais permitem satisfazer necessidades básicas de uma maneira econômica – economia de tempo e de energia. Escreve ele: “Essa talvez seja a principal razão de nos apegarmos às práticas tradici- onais de agir. Mudamos nossa maneira de agir, em geral, quando não temos nada a perder ou quando alguma coisa que valorizamos não está envolvida. Isso explicaria, talvez, a dificuldade de mudança de costumes para as gerações mais velhas.” A continuidade cultural também está relacionada à incapacidade das crianças de cuidarem de si próprias. Durante vários anos a criança é incapaz de satisfazer por si mesma as suas necessidades básicas. Para chegar à vida adulta ela precisa ser incorporada à cultura da sociedade em que nasceu para dominar os recursos neces- sários para dar conta dos problemas da existência humana. Até que a criança domine, por exemplo, os símbolos linguísticos de sua sociedade, aprenda as palavras com seus significados e possa se comunicar na linguagem comum, ela é amplamente de- pendente dos outros. Ao dominar a linguagem ela adquiriu um recurso extraordinário para a sua sobrevivência. E isso é válido para todos os elementos básicos da cultura de seu grupo social. É bastante evidente que a continuidade sociocultural possibilita um grande be- nefício sem o que a vida humana seria impossível. O desenvolvimento de hábitos aumenta enormemente a eficiência das pessoas, na medida em que evita que preci- semos repetidamente buscar soluções para os problemas mais simples e corriqueiros. Da mesma forma, as crianças não sobreviveriam se não encontrassem soluções pron- tas e ao seu alcance para os problemas da vida. Mais ainda, os homens não podem viver sozinhos, eles dependem da sociedade. Nenhum sistema social pode funcionar se as ações de seus membros não forem previsíveis. E a continuidade sócio- cultural é um requisito de previsibilidade dos padrões de comportamento no ambiente da vida coletiva. 23 Fonte: comunicabrogui.blogspot.com.br 6 FATORES QUE INFLUENCIAM AS MUDANÇAS SOCIAIS Por outro lado, a continuidade cultural tem seus custos. No campo da tecnolo- gia, por exemplo, a inovação leva, em geral, a uma maior eficiência no uso da energia e do tempo humano, a uma melhoria no padrão de vida e amplia as possibilidades em diversas áreas. Da mesma forma podem ser grandes os benefícios com as mudanças no campo das organizações sociais. Nenhuma sociedade é perfeita ou adquiriu uma forma acabada e definitiva para a vida em comum. Especialmente no mundo moderno e contemporâneo, após a Revolução Industrial e o desenvolvimento da ciência mo- derna, a mudança sociocultural tornou-se permanente e intensa. Nos dias de hoje, as sociedades que incluem um mais amplo componente de mudança, tendem a favorecer uma melhor qualidade de vida para uma parcela cada vez maior da sua população. 24 Fonte: www.ovelhasvoadoras.com.br São vários os fatores que contribuem para a mudança e inovação em uma so- ciedade: fatores internos à própria sociedade ou fatores externos do ambiente que a cerca. Em nossos dias, tornou-se muito clara a extrema importância da relação entre a sociedade e o seu ambiente. O meioambiente não é somente uma fonte crucial para o sustento da sociedade com suas características climáticas e geográficas em geral, suas riquezas naturais, suas fontes de energia, sua flora e fauna, tudo isso funcio- nando como um conjunto de condições em relação ao qual a sociedade deve se adap- tar. Nesse processo, a sociedade pode interagir com o seu ambiente em diferentes formas e direções: seja contribuindo para melhorar ou para piorar e prejudicar suas condições de vida. As mudanças no ambiente acabam por forçar mudanças na soci- edade. As sociedades, ao longo da história, tiveram necessidade de ajustar-se às mu- danças no ambiente. Esse é um processo de adaptação inquestionável. O ambiente a que uma sociedade deve adaptar-se inclui, também, outras soci- edades com as quais ela mantém contato. Uma mudança maior em uma costuma desencadear um processo em cadeia gerando consequências para as outras e obri- gando a ajustamentos e inovações. Mas há outras fontes de mudanças. A dinâmica das forças no interior das sociedades, que fazem parte da própria condição do ser humano, impede que a sociedade permaneça estável permanentemente. Em primeiro lugar, na transmissão da herança cultural de uma geração para outra ocorrem altera- ções de vários tipos. 25 Como vimos anteriormente, os indivíduos não são passivos na formação dos hábitos, na aprendizagem dos costumes e na recepção das informações ao longo de seu crescimento e desenvolvimento. Os seres humanos aparentemente, por sua pró- pria natureza, são motivados a tentar novos padrões de ação. Muitas vezes, a moti- vação é a simples curiosidade que pode ser intensificada pelo mundo cultural. Ou, então, a motivação pode ser o simples auto- interesse material. Os homens buscam maximizar suas recompensas, isto é, ganhar mais e melhor como resultado de suas ações. Dessa forma, a experimentação e as inovações são inevitáveis. Fonte: rsurgente.wordpress.com O acaso ou as “chances” desempenham uma parte importante no processo da inovação e das descobertas, mas o conhecimento, a inteligência e a ação com propó- sito, que movem a disposição maior para a pesquisa, são essenciais. As novas des- cobertas e as inovações resultam da combinação de “chance”, conhecimento e per- sistência em uma ação com propósito. A quantidade de informação acumulada por um grupo social é, talvez, o fator mais importante para a capacidade de inovação e mudança positiva para a vida de seus membros. As invenções que constituem um dos processos básicos de inovação são essencialmente recombinações de elementos existentes da cultura. Outro fator dos mais importantes no mundo atual é o contato com outras sociedades. Quanto maior for o relacionamento com outros povos e culturas maiores são as oportunidades 26 para incorporar suas descobertas e inovações. É sempre possível incorporar a he- rança cultural de outras sociedades. É importante assinalar que esses fatores mencionados, que estimulam e pro- movem as mudanças e a inovação nas sociedades, são mutuamente interdependen- tes. Há outro aspecto na relação entre diferentes sociedades e culturas que devemos considerar. É um engano pensar que a paz entre nações seja um estado normal e que a hostilidade, o conflito e a guerra são condições anormais. Gostaríamos que fosse verdade, mas os registros históricos e a realidade de nosso tempo indicam que é di- ferente. São várias as razões para explicar porque as guerras e outros confrontos são tão comuns. A causa básica parece ser a mesma que motiva a competição no mundo biológico de maneira geral, isto é, a escassez de recursos. Tanto Malthus quanto Dar- win reconheceram que uma oferta finita de recursos, independentemente de seu ta- manho, nunca seria suficiente para uma população com uma infinita capacidade para o crescimento. Fonte: revistaepoca.globo.com A não ser que uma população, animal ou humana, controle seu crescimento, em algum momento ela esgotaria seus recursos. Isso ajuda a explicar as ações de invasão de territórios e apropriação de recursos de outros grupos sociais, ou povos ou nações. Na medida em que esses recursos são essenciais, a sociedade atingida reage. O conflito, assim, torna-se inevitável. 27 No caso dos humanos o problema tornou-se especialmente complicado pela existência da cultura. O problema da escassez torna-se mais agudo nas sociedades humanas porque a cultura multiplica enormemente nossos desejos e necessidades. Os desejos dos animais são limitados enquanto os dos seres humanos quanto mais os realizam mais, de um modo geral, desejam. O cientista social americano Thorstein Veblen viu isso com clareza. Em um livro publicado no final do século IXX ele desen- volveu a tese de que uma vez que uma sociedade é capaz de produzir mais do que o necessário para viver, seus membros lutam para adquirir bens e serviços não essen- ciais por causa de seu valor de prestigio. Um pouco antes, na metade do mesmo século, Karl Marx havia diagnosticado esse mesmo problema ao descrever as sempre novas necessidades criadas artificialmente pelo processo de desenvolvimento da so- ciedade moderna. Considerando que o prestígio é sempre, para as diferentes pessoas das diversas classes sociais, uma questão relativa (é uma medida da posição social de alguém em relação aos demais), é impossível satisfazer a demanda por bens e serviços gerada pela permanente busca de sempre mais prestígio. A escassez seria, portanto, inevitável não importando o quanto de tecnologia se desenvolva e em quanto se aumente a produção. Guerras podem destruir culturas e civilizações. E, com isso, acabam gerando grandes transformações sociais e culturais. Formas não militares de poder também acarretam destruição de culturas através de um processo de incorporação de socie- dades culturalmente mais vulneráveis porque tecnologicamente menos desenvolvi- das. É o caso de muitas sociedades, tribos e etnias antigas, que acabam abando- nando sua cultura tradicional, minando sua autonomia como grupo social. Isso acon- tece especialmente com a cultura de sociedades menores e economicamente menos desenvolvidas quando entram em contato com sociedades maiores e economica- mente mais fortes. Considerem como exemplo o que ocorreu, e continua ocorrendo, com as culturas indígenas e as de etnias africanas, tanto no Brasil como em outros países. 28 7 SOCIALIZAÇÃO: UMA APRENDIZAGEM PERMANENTE Fonte: colegiodotremembe.com.br O processo através do qual aprendemos a cultura da sociedade em que vive- mos é o que chamamos de socialização. De um modo geral, os seres humanos são dotados de uma grande capacidade para aprender a agir de maneira socialmente res- ponsável. A socialização é um processo sócio- psicológico bastante complexo que se inicia no momento do nascimento. O objetivo principal de tal processo é adaptar o indivíduo aos costumes, comportamentos e modos da cultura do seu ambiente social para que possa aprender a sobreviver por si mesmo e ser capaz de, gradativamente, controlar seu comportamento de acordo com as exigências da vida em sociedade. Ao aprender o significado que a Sociologia atribui ao processo de socialização e as maneiras como este processo se desenvolve, podemos ampliar nossa visão e 29 conhecimento sobre os mecanismos que operam nas sociedades e que dizem res- peito à vida cultural. Isso possibilita uma melhor compreensão do modo e estilos de vida da sociedade em que nascemos e no qual nossas identidades, pessoal e de grupo, se desenvolvem. Através do processo de socialização nos tornamos, gradualmente, pessoas au- toconscientes e capazes de lidar de forma competente com o mundo a nossa volta. O estudo dos processos de socialização pode contribuir para uma melhor compreensão de fatores que influenciam na construção das identidades pessoais (auto- identidade) e das identidadesdos grupos sociais a que pertencemos como a família, o gênero, o grupo religioso, o grupo de convivência social, o profissional e outros. O processo de socialização é o principal mecanismo que uma sociedade possui para a transmissão da cultura através do tempo e das gerações. A socialização, além de estar diretamente relacionada com as identidades sociais, deve ser vista como um processo que dura a vida toda na medida em que as nossas ideias e o nosso compor- tamento são continuamente influenciados pelos relacionamentos sociais e pelo ambi- ente em que vivemos. É através da socialização que aprendemos e incorporamos os hábitos, os costumes, valores e normas da vida cultural de nossa sociedade. Desde o nascimento, através da infância e da adolescência e mesmo na vida adulta, estamos continuamente a aprender comportamentos e formas de interagir em diversos e novos ambientes a que somos expostos em nossa trajetória de vida. Nossa identidade se modifica ao atingirmos diferentes estágios de desenvolvimento e ao assumirmos pa- péis sociais diversos que se alternam e multiplicam ao longo da vida. 8 O PAPEL SOCIALIZADOR DA FAMÍLIA 30 Fonte: todahelohim.com É importante reconhecer como desde o nascimento somos socializados na cul- tura de nossa família e como a infância é um período de intensa aprendizagem cultu- ral. Aprendemos a falar com aqueles que cuidam de nós na primeira infância. Nesse primeiro período da vida é quando as crianças aprendem a língua e os padrões bási- cos de comportamento que formam a base para toda a socialização posterior. É de destaque a importância da família nessa fase primária da socialização. Os relatos dos estudos de casos de crianças que vivenciaram o isolamento social evidenciam o quanto essas crianças foram incapazes de adquirir as habilidades humanas básicas e tenderam a se parecer mais com os animais. É o caso de um menino encontrado em um bosque no sul da França, em 1800. “Ele estava sujo, nu, era incapaz de falar e não aprendera a usar o sanitário. (...) Nenhum pai ou mãe jamais o procurou. Tornou-se conhecido como o menino selvagem de Aveyron. Um exame médico completo não encontrou quaisquer anormalidades físicas ou mentais impor- tantes. Por que, então, o menino parecia mais animal que humano?” (Caso citado no livro, de vários autores, Sociologia – sua Bússola para um Novo Mundo, p. 106). São vários os casos semelhantes relatados na literatura de ciências sociais. O filme ale- mão O enigma de Kaspar Hause apresenta outro caso de isolamento social na infân- cia e que acarretou sérios danos para o desenvolvimento pessoal de um ser humano, aparentemente, com capacidades normais. Devemos, aqui, mencionar Freud como um dos principais estudiosos da forma- ção da identidade pessoal (o self) que, há mais de cem anos, reconheceu na família 31 o agente mais importante da socialização primária. Em nossos dias, questões impor- tantes têm sido levantadas em relação à transformação das famílias nas últimas dé- cadas e ao crescimento das taxas de divórcio. Tais transformações podem estar afe- tando o cuidado com as crianças e, portanto, a forma de sua socialização, sem ainda termos clareza sobre as suas consequências. 9 PARCERIA ENTRE FAMÍLIA E ESCOLA Fonte: www.rccarqumariana.com.br A parceria família e escola deu certo e sempre dará, desde que haja realmente a parceria. A família é a base principal na formação e desenvolvimento da criança e do adolescente. A partir do nascimento, começam a receber a educação básica para viver em sociedade e exercer a sua cidadania, como: pedir licença, pedir desculpas, agradecer, obedecer, pedir por favor, dividir, compartilhar, respeitar-se, respeitar os pais, os colegas os mais velhos, aprende a se comportar adequadamente nos lugares, a esperar a sua vez. A escola por sua vez, dará continuidade a esse processo educativo vindo da família (a chamada educação de berço) e introduzirá a formação acadêmica indispen- sável para a formação intelectual e profissional, além de caminhar lado a lado com a família, favorecendo e fortalecendo a formação de valores. 32 O que vem acontecendo ultimamente é que as famílias muitas vezes, estão perdendo a noção da sua importância e estão deixando toda a responsabilidade de educar para a escola, sendo que a verdadeira educação se dá no seio da família, principalmente através dos exemplos vivenciados pelos pais e familiares próximos, exemplos estes responsáveis pela conduta das crianças, como por exemplo: De nada adiantaria falar para o filho não fumar, não falar palavrões, não falar da vida dos outros se eles próprios o fazem. Ao efetuar um pagamento e receber o troco errado para mais a seu favor e não devolver, burlar as leis de trânsito avançando sinais, enfim, serão esses exemplos que ficarão como verdades na cabecinha de nossos filhos, serão os que eles reproduzirão. A educação familiar é à base de todo cidadão, a escola sozinha não faz mila- gres, até porque ele permanece na escola apenas por quatro horas e as outras vinte horas do dia, são com a família. O que vemos hoje, por conta da correria atual, é que os pais estão delegando a outros essa tarefa tão importante que é EDUCAR, sendo esta tarefa de responsabi- lidade exclusiva dos pais e não de babás, tias, avós, sendo estas pessoas muito im- portantes, como apoio desse processo educativo quando seguem a mesma linha de educação. Os pais precisam entender que o filho será amanhã o que eles ‘pais’, fizerem hoje por seus filhos. Muitas vezes a escola é responsabilizada mas, não depende apenas dela a tarefa de educar. Para haver realmente parceria entre a família e a escola, é preciso que cada um saiba exatamente quais as suas atribuições, ou seja o que é responsabilidade da escola e o que é responsabilidade da família. Nesta parceria é importantíssimo que a família “vista a camisa” da escola es- colhida para colocar seu filho e a partir daí caminhar juntos sem ter atitudes adversá- rias, como por exemplo: Quando o filho comenta em casa que o professor chamou sua atenção por causa de comportamento inadequado, a mãe precipitadamente diz que o professor que é enjoado, chato, não tem o que fazer.... com essa atitude estará motivando o filho a desrespeitar o professor, sendo que o ideal é se interar melhor sobre o acontecimento e fazer a intervenção correta, da mesma forma quando o filho não realiza uma atividade de casa por que esqueceu, ou preferiu ficar na Internet, orkut, ou saiu com o colega, e ao ser cobrado pelo professor, a mãe ou o pai escreve 33 um bilhete a pedido do filho, dando uma desculpa convincente como: ele (a) não es- tava passando bem, ou precisou sair com ele de última hora, enfim, abonando erra- damente a falta, ou melhor, a irresponsabilidade do filho perdendo assim, a oportuni- dade de ensinar a responsabilidade, o compromisso, à verdade, valores fundamentais para a formação do seu caráter. Nessa parceria, ambos tem o mesmo objetivo que é EDUCAR a criança e ao adolescente num todo. Muitas vezes na escola, ouvimos os pais preocupados e recla- mando: “Eu não sei mais realizar essas tarefas, não me lembro mais desses conteú- dos que estudei há tantos anos, como vou fazer para ensinar meu filho em casa? Como é que eu vou acompanhá-lo nos estudos?”. Fonte: familiaescolapedagogia.blogspot.com.br A escola não quer que a família ensine conteúdos, pois isso é pertinente à es- cola fazê-lo, o que ela precisa é que os pais acompanhem seus filhos no sentido de organizá-los quanto aos horários de estudo, descanso e lazer, sendo o hábito de es- tudo diário, fundamental para que ele possa realizar suas tarefas com responsabili- dade e autonomia. Cabe a família, apenas cobrá-lo as responsabilidades e orientá-lo, 34 no caso de dúvidas tirá-las com o professor na escola e também orientá-lo quanto à importância da escolae dos estudos para sua vida no futuro. Outro aspecto muito importante é a vigilância dos materiais levados para a es- cola e trazidos para casa. Atualmente é grande o número de “sumiços” na escola, porque não há controle dos pais no sentido de verificar e investigar o que seus filhos carregam em suas mochilas, levando a escola a utilizar o recurso de câmeras para fiscalizar os alunos, sendo esta uma instituição de ensino. Fonte: felipevieira.com.br É muito importante também, que a família valorize os trabalhos e os compro- missos de seus filhos, sendo estes pertinentes a sua faixa etária e o seu nível de escolaridade, pois são nesses momentos que eles estarão desenvolvendo seus con- ceitos de responsabilidade, assiduidade, respeito, pontualidade. Se for banalizado seu compromisso, o que ficará registrado para ele é que não precisa ter importância e atenção com os mesmos. Como é que esse aluno se transformará num cidadão cons- ciente e responsável com suas atribuições pessoais e profissionais? 35 É preciso que a família ajude seu filho a se programar, tendo como prioridade sua responsabilidade com seus estudos, pois essa é a sua ocupação atual enquanto criança e adolescente que é ser “estudante”, e precisa ser valorizada e motivada para que seja uma atividade prazerosa e com motivos de orgulho para seus pais e familia- res. 10 O PAPEL SOCIALIZADOR DA ESCOLA Outro agente fundamental na socialização é o sistema escolar. O papel socia- lizador da educação escolar está relacionado com a formação intelectual e cultural das novas gerações no sentido de prepará-las para a vida social, seu desenvolvimento pessoal mais amplo e para o mundo do trabalho. A educação escolar tem sido analisada criticamente por alguns estudiosos que identificam no sistema escolar uma organização devotada principalmente a reproduzir o sistema de valores e padrões de vida estabelecidos. Entretanto, podemos observar como são frequentes as situações de tensão e conflito no ambiente escolar, do nível fundamental até o nível superior, quando questionamentos e atividades críticas são desenvolvidas, tanto por estudantes como por professores, visando a superação das limitações identificadas no processo de socialização. A aprendizagem de hábitos, cos- tumes e valores culturais é um processo de natureza complexa, como já foi mencio- nado anteriormente, na medida em que as influências culturais que recebemos e a que estamos submetidos em nosso ambiente são confrontadas com reações e orien- tações de caráter propriamente individual ou grupal e que podem ser mais ou menos conscientes. Não podemos desconsiderar que é através do processo de socialização que as sociedades se tornam um sistema viável, isto é, capaz de existir de forma previsível e de durar no tempo, e que as características de vida que são distintamente humanas só aparecem como resultado de nossa vida em comum, em associação com outros seres humanos. Podemos então dizer, como afirma o sociólogo Gerhard Lenski, que “o potencial genético que cada indivíduo possui só é realizado quando compartilhamos com os outros indivíduos na vida da sociedade”. 36 Fonte: iderval.blogspot.com.br Ao sistema escolar é atribuída, pela sociedade, a tarefa de ensinar as novas gerações a aprender com os meios disponíveis o que as culturas acumularam de fun- damental através dos tempos – nas artes, nas ciências, desenvolvendo habilidades e proporcionando atividades que contribuam para a formação nos modos do bem viver com os outros. Esses são conteúdos, valores e costumes culturais que expressam as formas civilizadas da vida. Ao comentar agressões violentas e assassinatos descabidos ocorridos em prin- cipais cidades de nosso país, o sociólogo José de Souza Martins, em artigo publicado em jornal, escreveu que tais fatos “confirmam a deterioração dos valores sociais que, de algum modo, têm assegurado a ordem nesta nossa sociedade minada. Ordem su- perficial constantemente ameaçada, não só em relação à vida, mas também em rela- ção a tudo que possa ser violado quando não há princípios sólidos regulando a con- duta de cada um.” Esses assassinatos praticados por pessoas aparentemente “nor- mais”, “dão bem as indicações de quanto todos nós estamos ameaçados”. E indica que talvez não se trate de casos que possam ser resolvidos com mais segurança, dizendo - “o que se precisa é de mais educação”. (publicado no jornal O Estado de São Paulo; 15/08/2010). Pesquisas em Psicologia e na Neurociência têm mostrado que a criança recém nascida carrega necessidades imperiosas e a determinação de satisfazê-las sem 37 muita preocupação com as outras pessoas. Mas mostram, também, a existência da dependência de base genética de um sistema sociocultural, isto é, os seres humanos possuem um potencial genético para a construção de ambientes culturais o que os faz, ao mesmo tempo, seres individuais auto- interessados e seres sociais preocupa- dos e identificados com os outros. Essa talvez seja a principal razão Porque a vida das sociedades humanas seja feita de cooperação, solidariedade e harmonia, por um lado, e de conflitos, violência e guerras, por outro. Fonte: www.rogeriocorreia.com.br 38 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GIDDENS, Anthony; Sociologia, Artmed,2005. BOMENY, H.; FREIRE-MEDEIROS, B.; EMERIQUE. R.B.; O´Donnell, J; Tempos Mo- dernos, Tempos de Sociologia; Editora do Brasil, Fundação G. Vargas, 2010. 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Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, ... a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e 39 Indígena”. Brasília: SEPPIR/SECAD/INEP, 2005. Disponível em: < http://www.ite- ral.al.gov.br/legislacao/http___www.iteral.al.gov.br_legsilacao_Lei-2011.465_-20de- 202008.pdf/view>. Acesso em: 18 abr. 2011. CARVALHO, J. M. de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. 14. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011. CASTRO, Celso (org.). Franz BOAS - Antropologia Cultural, Jorge Zahar, 2ª Ed, 2005. CHAUÍ, M. Convite à filosofia. 14. ed. São Paulo: Ática, 2011. COLEÇÃO. Os Pensadores. 5. ed. São Paulo: Nova Cultura, 1991. DaMATTA, ROBERTO A. RELATIVIZANDO - Uma Introdução à Antropologia So- cial, Rio de Janeiro: ROCCO, 1987. DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E PARA O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASI- LEIRA E AFRICANA. Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. MEC, Brasília: 2004. GIDDENS, Anthony. Modernidade e identidade. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2002. GOMES, Mércio Pereira. Antropologia – ciência do homem, filosofia da cultura. São Paulo: Contexto. 2009. GUIMARÃES, César, VAZ, Paulo B., SILVA, Regina H. e FRANÇA, Vera (org.). Ima- gens do Brasil. Modos de ver, modos de conviver. Belo Horizonte, Autêntica, 2002. LARAIA, R. de B. Cultura: umconceito antropológico. 24. ed. Rio de Janeiro: Rio de Janeiro, 2009. LARAIA, Roque de Barros. Cultura - Um Conceito Antropológico, Rio de Janeiro: JORGE ZAHAR, 21ª Ed, 2007. MASI, D. D. A sociedade pós-industrial. São Paulo: Senac, 2003. 40 RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. ROCHA, Everardo. O Que é Etnocentrismo, SP: Brasiliense, 19ª ed., 2004. SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência uni- versal. 7. ed. São Paulo: Record, 2001. VALLS, A. L. O que é ética. 9. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. 41 ARTIGO PARA REFLEXÃO AUTOR: Fernanda Mosseline Josende Coan DISPONÍVEL EM: http://sinop.unemat.br/projetos/revista/index.php/educacao/arti- cle/view/652/440 ACESSO: 12 de agosto de 2016 REFLEXÕES SOBRE A CULTURA E SUAS POSSÍVEIS INFLUÊNCIAS NA SOCIEDADE Fernanda Mosseline Josende Coan Mestre em Ciências Sociais (UNISINOS) Professora do Departamento de Ciências Contábeis, UNEMAT/Sinop fernanda@unemat-net.br RESUMO Este artigo é um intento de evidenciar a importância da cultura no cotidiano da vida das pes- soas. Para argumentar sobre o tema, utilizar-se-á especialmente o pensamento de Daniel Bell (1992), em sua obra Las contradicciones culturales del capitalismo, por considerar a esfera cultural ligada às questões existenciais. Contudo, outros autores que legitimam formas de pensar diferentes e, não raro, contrastantes serão evidenciados, sendo que as divergências e os conflitos entre os teóricos serão úteis para engrandecer as discussões e possibilitar uma maior compreensão da realidade. No decorrer do processo investigativo, por meio da análise de alguns fatos ocorridos, foi possível verificar como a cultura influenciou e influencia a vida das pessoas, como proposto inicialmente. Palavras-chave: Cul- tura. Sociedade. Cotidiano. 42 INTRODUÇÃO A sociedade contemporânea tem buscado investigar sobre os modos de vida dos indivíduos na atualidade, sobre o grande “leque” de interesses e escolhas que estão à sua disposição. Ainda, sobre a imposição de regras de conduta que sofrem, que encorajam os indivíduos a se unirem em grupos, divididos entre os que querem expressar suas ideias, pelo desejo de se afirmar ou romper com algo já consagrado e aqueles que preferem não se manifestar. No entanto, não se tem, com a mesma intensidade, pesquisas sobre o que poderia ter levado a sociedade a se comportar dessa maneira. Dado o exposto, este artigo pretende trazer uma reflexão sobre a cultura e suas possíveis influências na sociedade. Primeiramente, serão apresentadas explanações sobre a sociedade, como meio onde as relações sociais acontecem. Ela será também estudada como influen- ciável pela cultura, a sociedade plural e a descrição dos sistemas que a compõem: o sistema econômico, político e o cultural (BELL, 1992). Em seguida, será pensada a cultura, sua significação e o que representa ela ser parte da sociedade. Por fim, a transformação cultural da sociedade, quando serão trazidos à tona os fatos que oca- sionaram mudanças radicais nos hábitos das pessoas e, por consequência, mudanças de sua própria cultura. SOCIEDADE SOCIEDADE “CAMPO DE INTER-RELAÇÕES” A sociedade é estudada por vários autores, porém sob aspectos diferentes. Durkheim (1914) por exemplo, a interpreta como um sistema formado. Para ele, viver em sociedade seria estar constantemente dominado por sua lógica. Entretanto Sim- mel (1896), um grande estudioso da vida social nas cidades, a vê como local onde vários indivíduos entram em ação recíproca. Portanto, para esse autor, a sociedade é o resultado da interação psíquica entre os indivíduos. É assim que vemos a sociedade ser estudada, sempre em meio à tensão que já se apresenta antiga dentro das ciências sociais. Contudo, Bell (1992) ao expor sua opinião, aproxima-se bem mais da de Simmel do que de Durhheim, pois eles procuram 43 ver a sociedade não somente como algo formado, mas sim a estudam com ênfase nas escolhas dos indivíduos, os quais moldam as instituições. Assim, consideramos a sociedade um campo de múltiplas relações. Nela, o sujeito busca transformar-se em indivíduo e este em quantas mais coletividades esti- ver inserido mais individual ele será, o que permite afirmar que o indivíduo se torna cada vez mais único culturalmente, na medida em que ele se individualiza. SOCIEDADE PLURAL Na visão marxista, a sociedade era identificada por classes bem distintas: a classe dominante e a dominada. Os indivíduos eram reconhecidos por sua base de trabalho, ou seja, esse reconhecimento dependia do papel que cada um exercia no processo de produção. Com a dissolução da estrutura tradicional de classes sociais, os indivíduos passaram a ser identificados por seus gostos culturais e estilo de vida. O teórico Bell (1992) demonstrou essa mudança cultural. Nos dias correntes, conforme a Agência Brasil, apresentam-se no Brasil as chamadas classes socioeconômicas. Enquadram-se nelas as classes baixa, média e alta, as quais são facilmente questionadas, pois, entre outras falhas, excluem os de- sempregados e, não obstante, sofrem distorções devido à grande desigualdade social, característica marcante da sociedade brasileira. Nos Estados Unidos, há, na atualidade, uma estrutura social composta por pelo menos cinco classes socioeconômicas, porém se pode verificar dezenas delas, as quais são selecionadas não só pela renda domiciliar, mas também pelos níveis de educação e ocupação. Todavia, as classes mais seguidamente destacadas são as classes baixa, trabalhadora, média, média-alta e alta. Nota-se, assim, a convergência entre Brasil e Estados Unidos, quando ambos possuem classes socioeconômicas. Apesar dessa convergência, nos dois países, essa forma de divisão de classes não marca a divisão dos indivíduos, afinal, há múl- tiplas formas de divisão para os grupos sociais. Pois, até mesmo as regras de conduta impostas pela sociedade, estariam estimulando a união de pessoas em grupos, seja pelo fato de querer fortalecê-las ou ir para o confronto a elas. Dessas diversas rela- ções sociais possíveis, enumeram-se, como exemplos, as diferentes formas de movi- mentos sociais; os mobilizadores sociais, como os góticos, os pichadores, entre outros 44 grupos, cujas identidades são próprias e passam a ser notados por suas diferenças, entre outros. Estabelece-se, desse modo, uma sociedade plural, a qual consiste numa di- visão por grupos, conforme regras próprias por eles estabelecidas e estas indepen- dem, muitas vezes, da classe socioeconômica que o indivíduo ocupa. SETORES DA SOCIEDADE Bell (1992), ao analisar a sociedade norte-americana, apresenta-a composta por três setores ou esferas: a econômica, a política e a cultural. Salienta ele que hoje estas esferas não caminham em paralelo, ou seja, possuem andamentos diferentes, com regras também diferentes, mas que legitimam suas condutas. Por se apresenta- rem distintas, tem seus próprios métodos e propósitos e, por serem assim favorece a existência de uma sociedade estável, pois se uma das esferas se apresenta faltosa, ainda assim a sociedade estará amparada pelas duas outras, mas, no caso de as três esferas apresentarem falhas, ter-se-á grande instabilidade na vida em sociedade. Para melhor apresentar essas esferas (BELL, 1992), cada uma delas será esmiuçada, de modo a destacar as suas principais características, as quais permitirão diferenciá-las. Na esfera econômica, ou técno-econômica, Bell (1992), refere-se à organiza- ção da produção e à repartição dos bens e serviços. Nesta esfera, o foco está direci- onado ao grau de desenvolvimento técnicoe econômico, e não ao desenvolvimento ético do ser humano. Dessa forma, sua estrutura de poder está fincada na tecnologia e na burocracia e sua estrutura social não é uma estrutura de pessoas, e sim de pa- péis, por isso a autoridade não depende do indivíduo, mas do cargo que ele ocupa. Seria necessário pensar que o capital humano faz parte deste crescimento econômico esperado pela esfera econômica, ou seja, neste processo em que se acu- mula capital, os indivíduos são essenciais, principalmente por sua moral e seu inte- lecto. Para Bell (1992), essa esfera está isolada e é linear, pois os princípios de utilidade e de eficácia fornecem as regras precisas e esclarecedoras no que se refere à inovação e à substituição. Contudo, nem sempre foi assim. Essa esfera no passado era unida à cultural, o que proporcionava certo equilíbrio, pois era possível se ver, 45 como no caso do ascetismo protestante, a regulação da produção e da moral do quo- tidiano unidas. Hoje, porém, percebe-se que o sistema econômico abandona a sua moral e se agarra à ideia de livre mercado. Além disso, os empresários pós-modernos pos- suem como ideal a riqueza, consequência do fato de o capitalismo ter perdido sua legitimidade tradicional, a qual era fundada sobre um sistema moral de remuneração na santificação protestante do trabalho, substituído por um hedonismo que permite o bemestar material e o luxo, mas que quer ignorar todas as consequências históricas (BELL, 1992). Na esfera política, tem-se o poder político e a justiça social, cujo intento é buscar a legitimidade dos governantes e a igualdade dos indivíduos perante a lei. A sociedade é representada pelos políticos que devem zelar por ela, e em contrapartida os sujeitos que a compõem são atuantes na política, principalmente após a politização radical e a grande pluralização do sujeito e dos discursos. Conclui-se que a política tem como estrutura fundamental a representação e a participação, a primeira pelos políticos e a última se refere aos indivíduos que compõem a sociedade. Também referente a essa esfera, Laclau e Mouffe (1987) afirmam que a polí- tica está fora das instituições pelo fato de estarem dentro do sujeito, nas sociedades, nas relações de subordinação. Nesse sentido, as instituições somente administram a política através da sua capacidade de atender as demandas oriundas das manifesta- ções feitas pelos sujeitos. Ou seja, o Estado é somente um administrador da demanda e o governo terá sucesso se tiver a capacidade de identificar e absorver esta de- manda, normalmente trazida pelos movimentos sociais. A política hoje está tão diferente que Aronowitz (1992) discute sobre seu fim, mas não como extinção de suas práticas políticas, e sim da política formal. O autor faz algo similar ao que Touraine (data) faz ao afirmar o fim do social, ambos somente querem afirmar mudanças radicais ocorridas. Na esfera cultural, tem-se a dominação do simbólico. Bell (1992) aponta que esta esfera está ligada as questões existenciais dos seres humanos. Nela o indivíduo aparece independente e procurando afirmar sua identidade, ou seja, buscando a afir- mação do “eu”. O princípio de mudança não consegue ser linear, pois as respostas podem sofrer mudanças por ser influenciadas pelas demais esferas da sociedade, ou por estarem em épocas diferentes. 46 Nesta procura do “eu” é que o sujeito se perde, pois ele fica desprovido de qualquer convenção e livre da igreja, ele não tem temor e, além disso, procura se libertar das máscaras que a sociedade lhe impõe, determina. CULTURA A CULTURA E SEUS ATRIBUTOS A cultura tem como forte característica a liberdade, o que faz com que ela possa conviver com todos os estilos. Junto a esta diversidade de estilos, é possível identificar a persistente busca do indivíduo independente pela afirmação do “eu”, ou seja, pela busca da afirmação de sua identidade. Indo ao encontro novamente do pensamento de Bell (1992), que afirma estar a esfera cultural ligada à busca pela independência. Porém, nem sempre foi assim, este comportamento considerado hedonista surgiu na década de 1950, anteriormente havia o ascetismo, visto como ideal para muitos autores, por encontrarem nele uma grande atuação da moral e da ética. A cultura asceta ainda era fortemente influenciada pela ética protestante que regulava o capitalismo de forma constante e firme. TRANSFORMAÇÃO CULTURAL DA SOCIEDADE O sujeito sofre mudança cultural e, em consequência, sua realidade é mudada e, por fazer parte, de uma sociedade, ela também sofre alterações culturais. Para Bell (1992), esta transformação cultural da sociedade se deve, sobretudo, ao consumo de massa, cujo início se deu ainda na década de 1920, momento em que o consumo passou a não mais ser relacionado a classes, pois o acesso a ele se tornou mais livre e permissivo, o que deu início a uma cultura comum. Esta grande mudança cultural presentifica-se no novo modo de enxergar as coisas, pois aquilo que era anteriormente um luxo de uma dada classe social mais alta, hoje é visto como essencial, no que seriam todas as classes juntas. Contudo, esse processo de mudança foi regido pela revolução da tecnologia e pelas revoluções sociológicas. A revolução tecnológica foi marcada pela criação do carro, do cinema e do rádio, já a sociológica levada pela invenção da propaganda que estimula de forma sutil as “novas” necessidades, e do crédito. 47 Todas estas novidades, sejam tecnológicas ou sociológicas, estimulam a mu- dança de hábitos e o que se viu foi a sociedade constantemente aceitar e se adaptar às transformações. Pois, conforme Heller (1998), no pós-modernismo surgiu a diver- sidade de gostos e a pluralização das necessidades. Além disso, Heller (1998) afirma que mesmo com esta diversidade, cada gosto encontra o que o satisfaça, ou seja, existem multiplicidade de opções à disposição do indivíduo, resta saber se o indivíduo está culturalmente estruturado para discernir o bem do mal, o bom do ruim, o verda- deiro do falso e assim por diante. Anteriormente a estas modificações, ao invés da prática do crédito, tinha-se a prática da poupança, considerada o núcleo da ética protestante. Teoria esta que foi corrompida pela ideia de que a melhor forma de poupar era por meio de investimentos, pois estes dariam maior retorno. Além disso, ainda nos anos de 1960, os bancos co- meçaram a liberar crédito mais facilmente e os mais pobres, de certa forma, conquis- taram maior poder aquisitivo, o que lhes deu passaporte ao consumo livre e desenfre- ado, considerado “consumo de massa”. Na época da criação do cinematográfico, predominavam os filmes e era atra- vés deles que, especialmente, os jovens se espelhavam para agir em sociedade. Con- tudo, havia, em paralelo, a censura, o que, de certa forma, inibia transformações drás- ticas, mas não suficientes para impedir quaisquer mudanças. Com o passar do tempo, surgiram mais canais de televisão, e aconteceu o “abaixo a censura”, o que deixou o campo livre e desenfreado para as mudanças. Um exemplo são os programas de te- levisão, até há pouco tempo, no Brasil, víamos uma “massa” sendo influenciada e, por que não dizer, educada por apenas uma emissora de televisão, conhecida como Rede Globo. Contudo, hoje vemos uma maior diversidade de emissoras, que trouxeram com elas novas ideias, novos assuntos e novos ideais, fazendo surgir, assim, maior diver- sidade de pensamentos, exaurindo daí, maiores necessidades, maior movimento de informações. Como resultado, tem-se ainda mais opções de escolhas de modos e maneiras de se viver e de se comportar. Também as propagandas veiculadas pelas rádio, televisão, e mais recente- mente pela internet, a partir do momento que viraram prática, despertou a sociedade para novas necessidades, os atores da sociedade passaram a interagir com informa-ções, tornando-se mais flexíveis e se inseriram na globalização, o que ampliou o rol de escolhas. 48 Contudo, diante de tantas mudanças, alguns indivíduos encontraram algumas resistências para garantir seus direitos à igualdade, o que ocasionou o surgimento de diversas lutas sociais, as quais, segundo Axel (2003, p.) seriam: Aquela luta em que seus objetivos se deixam generalizar para além do hori- zonte das intenções individuais, chegando a um ponto em que eles podem se tornar a base de um movimento coletivo.(...) trata-se do processo prático no qual experiências individuais de desrespeito são interpretadas como experi- ências cruciais típicas de um grupo inteiro, de forma que elas podem influir, como motivos diretores da ação, na exigência coletiva por relações ampliadas de reconhecimento. Ou seja, as lutas sociais estão fortemente relacionadas com a busca de reco- nhecimento, quando se utiliza de uma experiência de injustiça individual para buscar benefícios para uma coletividade. Esta busca se dá especialmente através dos movi- mentos sociais e a instituição que com maior frequência exerce esta injustiça contra os indivíduos é o Estado que, para Foucault (2003) é uma estrutura detentora de po- der, que coage o sujeito. Contudo, apesar de se saber que o poder está na relação social, só se toma consciência desta relação de poder quando há resistência, ou seja, quando há luta. E é diante desta luta que o sujeito se forma. Afirma Touraine (2006, p.): O sujeito se forma na vontade de escapar às forças, às regras, aos poderes que nos impedem de sermos nós mesmos, que procuram reduzir-nos ao es- tado de componente de seu sistema e de seu controle sobre a atividade, as intenções e as interações de todos. Estas lutas contra o que nos rouba o sen- tido de nossa existência são sempre lutas desiguais contra o poder, contra uma ordem. Não há sujeito senão rebelde, dividido entre raiva e esperança. O que há de mais moderno são as redes de relacionamento, chamadas, mais recentemente, de redes sociais. Assim, o indivíduo entra nestas redes em busca de afirmar sua opinião, ou para o fortalecimento de uma luta ou, ainda, simplesmente, em busca de uma companhia, de uma palavra que console. De qualquer forma, ao se relacionar com outro grupo, esse indivíduo assimilará novos conhecimentos, o que pode fazer com que sua cultura também seja alterada. Enfim, o indivíduo possui diferentes formas de liberdade: de expressão, de ação e de escolha. Aqui, no entanto, encontra-se um grande dilema: as pessoas já não sabem o que fazer ou até mesmo como agir diante de tanta liberdade, por esta razão acabam se perdendo na caminhada, seja através da busca às drogas, seja pela 49 busca da religião, por exemplo. O que se pode afirmar é que ambas as atitudes ex- pressam para este indivíduo um pedido de socorro diante de tantas dúvidas e conflitos interiores. Conforme o caminho escolhido pelo indivíduo, ele poderá encontrar-se em uma vida digna, ele poderá achar a tranquilidade que almeja, ou, ainda, poderá estar frente a uma situação que o levará ao abismo. Enfatiza-se que tal escolha dependerá de sua cultura, pois, de acordo com o nível cultural, será o nível de acesso a esses caminhos. É mais provável que um indivíduo criado em uma família religiosa, em pre- cisando de apoio, ele tenderá a buscar na religião a ajuda necessária. Um sujeito com histórico familiar de violência poderá tender a ser também violento. Diante destas intermináveis mudanças trazidas para e pela sociedade, o su- jeito se vê, muitas vezes, desnudo, sem ação, impotente, pois até mesmo a igreja, vista como instituição detentora do poder de minimizar as aflições e os problemas humanos, hoje se mostra mais omissa. A sociedade evoluiu e nesse cenário a igreja ainda, apesar das mudanças, tem um papel importantíssimo. Todavia, se ela se apre- sentar de forma tradicional acabará por afastar muitos fiéis e se parecer paternalista deixará de ter a sua importância como formadora de indivíduos. Por isso, até mesmo a igreja deve considerar as mudanças culturais ocorridas. A necessidade de enfrentar a chamada multiculturação, ou inculturação, forma como as mudanças são tratadas pela igreja católica que tem, inclusive, buscado novas linguagens e modelagens mais compreensíveis para chamar de volta o sujeito à religião, tarefa importantíssima em um mundo onde os jovens vivem o cristianismo como forma de deísmo, pois há uma grande fragmentação do social e o permissi- vismo, gera o constante relaxo dos valores cristãos. Além disso, família e a escola hoje pedem socorro, como lidar com tamanha diversidade cultural? CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo nasceu da necessidade de apresentar à sociedade atual a impor- tância da cultura no cotidiano das pessoas e como ela influencia os sujeitos sociais e, ao mesmo tempo, é por eles influenciada. Atualmente, percebe-se uma vida sem limi- tes, especialmente a vivida pela juventude, na qual o respeito à religião, por exemplo, decaiu muito e o “medo de nada” está em ascensão. 50 Com a liberdade excessiva e o consumo desenfreado é frequente as pessoas perderem o referencial para agir. Apesar de a sociedade ter sua estrutura voltada aos indivíduos que a compõe, ela paga um preço muito alto por seus atos que ocorrem, muitas, vezes, de forma desmedida. A moral puritana de outrora quando os gastos pessoais eram limitados, foi substituída pelo impulso consumista desenfreado, isso porque o prazer é o estilo de vida desejado. Pode-se afirmar que os valores que sustentavam a sociedade, como os princípios morais e culturais, modificaram-se, o que fez com que ela passasse por fases bem específicas e marcadas por mudanças na cultura. O que já se vê é a perda da legitimidade da ética protestante do trabalho. Este passou a ser a fonte geradora de possibilidades para sanar a sede de riquezas mate- riais e de luxo. Não se tem mais a certeza de que através do trabalho existam normas e valores que inibam os atores na sociedade. Além disso, não há mais vanguarda, porque ninguém está do lado da ordem ou da tradição. Na cultura contemporânea, somente há o desejo para o novo e o tédio ao antigo. Isso faz com que se assista a uma grande desordem, pois anteriormente, o indivíduo exercia papéis distintos na sociedade, além disso, esta lhe dava o suporte necessário, como a religião, a família, a escola. Isto é, o papel dessas instituições era vital para manter a moral na sociedade. Ainda que existissem alterações culturais ta- manhas, se houvesse mantido o respeito a essas instituições, possivelmente a socie- dade não se apresentaria tão alienada. Com tudo a manutenção dessas instituições e dos bens culturais não são as principais preocupações atualmente, pois existem ou- tras mais pontuais como a fome, por exemplo. Partindo desse princípio, esta análise buscou evidenciar que a cultura é de suma importância para o cotidiano dos indivíduos e influencia diretamente as mudan- ças sociais. Por isso, alguns acontecimentos que influenciaram essas mudanças re- gidas pela revolução da tecnologia e pelas revoluções sociológicas como a criação do carro, do cinema, do rádio, da televisão, e a invenção da propaganda e do crédito foram aqui mencionadas. REFLECTIONS ON THE CULTURE AND ITS POSSIBLE INFLUENCES IN THE SO- CIETY 51 ABSTRACT This article aims an attempt to highlight the importance of culture in everyday people’s life. To argue on the subject, thoughts of Daniel Bell (1992) will be especially used, in his work Las contradicciones cul- turales del capitalism, considering the cultural sphere linked to existential questions. However, other authors who legitimize different forms of thinking and often contrasting ,will be highlighted; differences and conflicts among theorists will be useful to enhance the
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