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TRATAMENTO-DAS-DISFUNÇÕES-SEXUAIS-MASCULINA-E-FEMININA

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1 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3 
2 DISFUNÇÃO ERÉTIL-TRATAMENTO MÉDICO-CIRÚRGICO ................... 4 
2.1 Tratamento de 1ª linha – Segundo o Manual de Medicina Sexual 
(2006)........... ........................................................................................................... 5 
2.2 Tratamentos de 2ª linha - Segundo o Manual de Medicina Sexual 
(2006)........... ........................................................................................................... 8 
2.3 Tratamento de 3ª linha - Segundo o Manual de Medicina Sexual 
(2006)........... ........................................................................................................... 9 
2.4 Próteses Penianas ............................................................................. 10 
2.5 Cirurgia Vascular ................................................................................ 11 
3 TERAPÊUTICA PSICOSSEXUAL (ACONSELHAMENTO SEXUAL E 
TERAPÊUTICA COMPORTAMENTAL) .................................................................... 12 
4 FARMACOTERAPIA ................................................................................. 15 
4.1 Fármacos de ação local/tópica ........................................................... 15 
4.2 Fármacos sistémicos de ação central- inibidores da recaptação da 
serotonina.... ................................................................................................. .........16 
4.3 Antidepressivos tricíclicos .................................................................. 16 
4.4 Inibidores seletivos da recaptação da serotonina- SSRI´s ................. 17 
4.5 Tratamentos Farmacológicos “on demand” com SSRI’s Clássicos .... 17 
4.6 Dapoxetina – Tratamento Farmacológico “on demand” ..................... 18 
4.7 OUTROS FÁRMACOS ....................................................................... 18 
4.8 Tratamento por meios físicos: neuromodelação por radiofrequência 
(PRF)............ ......................................................................................................... 20 
4.9 Tratamentos cirúrgicos ....................................................................... 21 
4.10 Tratamentos multimodais ................................................................ 21 
5 PROLAPSO DE ORGÃOS PÉLVICOS E INCONTINÊNCIA URINÁRIA .. 21 
5.1 Impacto na sexualidade...................................................................... 22 
 
2 
5.2 Os tratamentos da I.U. dependem do seu tipo ................................... 24 
6 MUTILAÇÃO GENITAL FEMININA ........................................................... 25 
6.1 Classificação ...................................................................................... 26 
6.2 Epidemiologia ..................................................................................... 28 
6.3 Implicações médico-legais ................................................................. 30 
6.4 Complicações médicas ....................................................................... 31 
7 HÍMEN IMPERFURADO ........................................................................... 34 
7.1 Sintomas e sinais ............................................................................... 34 
7.2 Disfunção sexual ................................................................................ 35 
7.3 Exames complementares de diagnóstico ........................................... 35 
7.4 Tratamento ......................................................................................... 36 
7.5 Prognóstico ........................................................................................ 37 
8 IATROGENIA SEXUAL ............................................................................. 37 
8.1 Sexualidade e atitude do profissional de saúde ................................. 40 
8.2 Iatrogenia sexual relacionada com a relação médico-doente ............. 42 
8.3 Iatrogenia sexual secundária a causas médicas (terapêutica 
farmacológica e patologia médica) ........................................................................ 46 
8.4 Iatrogenia sexual cirúrgica .................................................................. 52 
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 56 
 
 
 
3 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora 
que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
4 
2 DISFUNÇÃO ERÉTIL-TRATAMENTO MÉDICO-CIRÚRGICO 
 
 Fonte: Repositorio.hff.min.saude.pt 
 
O tratamento da disfunção erétil assenta na determinação da sua etiologia e na 
realização de uma terapêutica dirigida quando possível, podendo estar associada a 
fatores de risco modificáveis ou reversíveis, nomeadamente hipertensão arterial, 
diabetes mellitus, dislipidémia, tabagismo, estilo de vida sedentário, obesidade e 
medicação crónica hipotensora. Independentemente da etiologia que poderá 
condicionar uma abordagem específica (ex: psicoterapia na causa psicogênica e 
substituição hormonal no hipogonadismo), o tratamento médico cirúrgico da disfunção 
erétil é baseado em tratamentos de 1ª, 2ª e 3ª linha reservados essencialmente à 
causa orgânica (arterial, venosa, neurológica e medicamentosa). Apesar de 
habitualmente existir sucesso terapêutico, o tratamento da disfunção erétil não leva à 
sua cura, tornando-se crónico (BARROS, FIGUEIREDO, 2006). 
 
 
5 
 
Fonte: pt.no-erection.com 
2.1 Tratamento de 1ª linha – Segundo o Manual de Medicina Sexual (2006) 
É constituído pela toma oral de inibidores da fosfodiesterase tipo 5 (i-PDE5), 
testosterona e aplicação de dispositivo de vácuo. O sildenafil (Viagra®), primeiro 
inibidor a ser utilizado com essa indicação desde Março de 1998, vai inibir a 
fosfodiesterase tipo 5 presente no tecido miocavernoso do pénis e impedir a 
degradação do GMPc intracelular levando ao relaxamento muscular liso e 
vasodilatação arterial. O sildenafil existe nas dosagens comerciais de 25, 50 e 100 mg 
devendo ser utilizado na ausência de refeições copiosas ou com alto teor de gordura, 
pois alteram a sua absorção. 
A principal contraindicação absoluta é a toma conjunta com nitratos em doentes 
medicados para cardiopatia isquêmica, pela possibilidade de ocorrência de 
hipotensão grave e síncope. Esta contraindicação contribuiu fortemente para o 
estigma popular de “fazer mal ao coração” e provocar morte súbita. No entanto, o 
doente que necessita da toma de inibidores da fosfodiesterase tipo 5 poderá ser alvo 
de uma avaliação cardiológica prévia, consoante a sua condição cardíaca avaliada 
em consulta pelos critérios de Princeton. 
Após 30 a 60 minutos da toma, o seu tempo de ação útil dura cerca de 6 horas, 
período durante o qual o doente poderá melhorar a sua função erétil com capacidade 
para penetração, sempre após estimulação sexual. Desde o início de 2014 está 
disponível o sildenafil genérico com valorescomerciais mais baixos, permitindo 
diminuir um dos principais obstáculos à sua utilização: o preço. 
 
6 
Em Fevereiro e Março de 2003 foram lançados o tadalafil, (Cialis®), e o 
vardenafil, (Levitra®), respectivamente. O tadalafil apresenta-se com as dosagens de 
10 e 20 mg em comprimidos. Após 30 minutos da toma, independentemente das 
refeições, o seu tempo de ação útil dura cerca de 36 horas, constituindo assim uma 
vantagem temporal relativamente aos restantes inibidores. 
O vardenafil apresenta-se com as dosagens de 5, 10 e 20 mg em comprimidos. 
Após 30 minutos da toma, devendo evitar-se refeições copiosas e com alto teor de 
gordura, o seu tempo de ação útil é de 8 horas. Mais recentemente, em 2011, com a 
formulação orodispersível na dosagem de 10 mg, o vardenafil inova com uma 
absorção oral mais rápida não dependente das refeições (Tabela 1). 
A partir de 2007 com a formulação diária de tadalafil 5mg, o Cialis® passou a 
estar indicado para o tratamento contínuo da disfunção erétil, tendo também obtido a 
indicação para tratamento conjunto da disfunção erétil e hiperplasia benigna da 
próstata desde 2011, dados os resultados positivos demonstrados no alívio dos 
sintomas do aparelho urinário baixo. 
 
PARÂMETRO SILDENAFIL 
100MG 
TADALAFIL 20 
MG 
VARDENAFIL 
20MG 
Cmax 560 ug/L 378 ug/L 18,7 ug/L 
tmax 0,8-1 h 2 h 0,9 h 
t1/2 2,6-3,7 h 17,5 h 3,9 h 
Ligação proteica 96% 94% 94% 
Biodisponibilidade 41% -- 15% 
Tabela 1: Farmacocinética dos inibidores da fosfodiesterase tipo 5. Extraído dos Guidelines on Male 
Sexual Dysfunction da Associação Europeia de Urologia 
O doente deve experimentar mais do que uma vez se houver insucesso na 
primeira toma, de modo a potenciar uma resposta. Poderá também trocar de inibidor 
e obter res postas diferentes em termos qualitativos (dureza e tempo de ereção). Os 
inibidores da fosfodiesterase tipo 5 têm a vantagem de permitir a obtenção de uma 
ereção fisiológica, sem necessidade de interromper a estimulação sexual, ao contrário 
 
7 
de outros tratamentos disponíveis. Não existe preferência óbvia por qualquer iPDE5 
porque a taxa de resposta à primeira toma de todos eles anda a volta de 60-70%. 
Têm como principais efeitos secundários cefaleias, rubor facial, dispepsia e 
congestão nasal. 
EFEITOS 
SECUNDÁRIOS 
SILDENAFIL TADALAFIL VARDENAFIL 
Cefaleias 12.8% 14.5% 16.0% 
Rubor 10.4% 4.1% 12.0% 
Dispepsia 4.6% 12.3% 4.0 % 
Congestão nasal 1.1% 4.3% 10.0 % 
tonturas 1.2% 2.3% 2.0 % 
Alterações visuais 1.9% <2 % 
Lombalgia 6.5 % 
Mialgia 5.7 % 
Tabela 2: Efeitos secundários dos inibidores da fosfodiesterase tipo 5. Extraído dos Guidelines on 
Male Sexual Dysfunction da Associação Europeia de Urologia 
Prevê-se a introdução no mercado ainda este ano, do 4º inibidor da 
fosfodiesterase tipo 5 com maior seletividade e menos efeitos secundários: avanafil 
Testosterona. 
A testosterona está indicada no tratamento do hipogonadismo como terapêutica 
de substituição. Sabendo-se que a ereção constitui um fenómeno neurovascular que 
ocorre em ambiente psicológico e hormonal favorável, a testosterona torna-se assim 
parte integrante no tratamento da disfunção erétil de causa hipogonádica. Existe nas 
formulações de gel (50 mg) para aplicação transdérmica e injetável (250 e 1000 mg) 
para administração intramuscular a cada 2 ou 4 semanas dependendo do depot. 
O dispositivo de vácuo permite a obtenção de uma ereção após colocação do 
pénis num cilindro que irá sofrer uma pressão negativa, levando ao seu ingurgitamento 
passivo. É depois aplicado um anel constritor na base peniana para impedir a saída 
do sangue “aprisionado” nos corpos cavernosos. Tem como principal desvantagem a 
dificuldade do doente em utilizar regularmente o dispositivo assim como fenómenos 
 
8 
de dor local na área do anel constritor, a disfunção ejaculatória, equimoses e 
alterações da sensibilidade. Não deverá ser utilizado por períodos superiores a 30 
minutos dada a isquemia peniana inerente ao procedimento. Tem inconveniente de 
provocar uma ereção com pénis frio e arroxeado. A eficácia descrita na literatura 
aproxima-se dos 80% e a taxa de abandono dos 40%. Ainda é utilizada para outros 
fins como, alongamento peniano, reabilitação da ereção e como preparação para 
reimplante de prótese peniana. 
 
2.2 Tratamentos de 2ª linha - Segundo o Manual de Medicina Sexual (2006). 
São constituídos pela injeção intra-cavernosa de alprostadilo, (Caverject®), a 
aplicação de lápis uretral de alprostadilo, (Muse®). O alprostadilo vai promover o 
aumento do AMPc presente no tecido miocavernoso do pénis levando ao relaxamento 
muscular liso e vasodilatação arterial. O Caverject® existe nas dosagens de 10 e 20 
µg e administra-se após punção do corpo cavernoso lateralmente. (Imagem 2). 
 
Imagem 2: Injeção intracavernosa de alprostadilo 
Este tratamento exige do doente ou parceira a aprendizagem correta da 
preparação e punção. A sua capacidade cognitiva e destreza manual não poderão 
estar diminuídas sob pena de menor adesão a médio e longo prazo. A ereção é obtida 
após 5 a 15 min da administração, com tempo útil aproximado de 20-40 minutos e é 
dose-dependente. Tem como principal desvantagem alguma dor no local da punção, 
a necessidade de preparação do produto e sua administração, fibrose peniana e 
fenómenos raros de priapismo farmacológico. 
 
9 
Não deve ser administrado em indivíduos com deformidades do pénis ou com 
patologias susceptíveis de potenciar ereções prolongadas (p.ex drepanocitose e 
leucemia). Não é aconselhável a sua utilização mais que uma vez dia (num máximo 
de três vezes/semana). Tem uma eficácia boa que ronda os 85% e uma taxa de 
abandono de 35%. 
A aplicação de lápis uretral de alprostadilo existe nas dosagens de 250, 500 e 
1000 µg e tem como principais desvantagens a possibilidade de ocorrência de dor 
local, tonturas, ardor vaginal, falta de comparticipação e a recomendação de micção 
prévia para “umidificar” a uretra. 
 
Após a aplicação, requer uma massagem do pénis em movimentos circulares 
durante pelo menos 50 segundos para assegurar uma boa distribuição do produto 
pelas paredes uretrais. Está contraindicado sem uso de preservativo no primeiro 
trimestre da gravidez (risco de aborto). Não é aconselhável exceder a dose diária de 
1000 µg. A sua eficácia anda pelos 40%, segundo alguns autores. 
2.3 Tratamento de 3ª linha - Segundo o Manual de Medicina Sexual (2006). 
Está reservado para os doentes que não obtiveram resposta com os 
tratamentos anteriores ou para quem prefere uma solução definitiva. 
 
 Fonte: Repositorio.hff.min.saude.pt 
 
10 
2.4 Próteses Penianas 
 
 Fonte: Repositorio.hff.min.saude.pt 
 
Os tipos disponíveis dividem-se em maleáveis e hidráulicas de 2 ou 3 
componentes. As maleáveis mantêm o pénis em ereção contínua pelo que têm maior 
simplicidade na sua utilização. As próteses hidráulicas permitem ter o pénis em 
flacidez e apenas obter a ereção após utilização da bomba localizada no escroto, pelo 
que necessita da destreza manual do doente. (Imagem 4). 
 
 
Imagem 4: Prótese peniana hidráulica de 3 componentes (cilindros, reservatório e bomba) Saúde 
Sexual 
 
11 
A infecção pós cirúrgica está limitada a 2-3% se houver assepsia cuidada com 
profilaxia antibiótica, para gram-negativos e positivos. A taxa de infecção pode ser 
reduzida em 50% se forem utilizadas próteses com cobertura antibiótica (ex: AMS 
Inhibizone® ou Coloplast Titan®). A falência mecânica ocorre nos modelos atuais em 
menos de 5% aos 5 anos levando à necessidade de revisão cirúrgica com substituição 
da prótese ou de algum dos seus componentes. Também estão descritos outras 
complicações com as próteses hidráulicas, como perfurações dos corpos cavernosos, 
aneurismas cavernosos, crossover e deformidades da glande. 
 
TEMPO 
PRÓTESE 
SOBREVIDA 
MECÂNICA 
SOBREVIDA 
INFECCIOSA 
SOBREVIDA 
LIVRE REVISÃO 
SATISFAÇÃO1 ano 97.6% 96.3% 90.0% 99.0 
% 
5 anos 88.9% 94.8% 79.1% 98.5 
% 
10 anos 79.4% 93.0% 68.5% 98.1 
% 
15 anos 71.2% 91.2% 59.7% 98.1 
% 
Tabela 3 – Taxas de “sobrevida” anual protésica por complicação segundo Steven Wilson 
As próteses penianas têm uma das maiores taxas de satisfação no tratamento 
da disfunção erétil de 92-100% nos doentes e de 91-95% nas parceiras, sendo as 
maiores desvantagens a sensação de pénis frio e a erosão com exposição protésica 
a médio e longo prazo em especial nas próteses maleáveis e em doentes com 
traumatismo vértebro-medular. 
2.5 Cirurgia Vascular 
De acordo com Oliveira et al. (2012) a cirurgia vascular do pénis pode-se dividir 
na cirurgia arterial (revascularização) e venosa (laqueação). A cirurgia arterial entrou 
em desuso nas últimas décadas dados os resultados obtidos e o advento das 
 
12 
terapêuticas alternativas existentes. Esta cirurgia pode ser oferecida a doentes com 
menos de 55 anos, não fumadores, não diabéticos e com estenose arterial isolada na 
ausência de doença vascular generalizada. Poderá também ser realizada por exemplo 
em casos raros de malformação congénita ou traumatismo peniano com criação de 
fístula arteriovenosa. 
A cirurgia de laqueação venosa do pénis tem ainda menor evidência científica 
e é considerada investigacional de acordo com os consensos do International 
Consultation on Sexual Medicine de 2009 realizado em Paris. É raramente utilizada 
no tratamento da disfunção erétil, estando reservada para casos de fuga venosa 
comprovada em exame complementar de diagnóstico (cavernosometria dinâmica), 
sendo que o doente habitual é um jovem adulto que nunca obteve ereções com rigidez 
esquelética (OLIVEIRA, et al. 2012). 
O tratamento da disfunção erétil é assim multidisciplinar e deverá envolver 
desde o médico de família, especialista em medicina geral e familiar, que poderá 
iniciar a avaliação inicial e tratamento de primeira linha, até ao urologista, andrologista, 
psiquiatra, psicólogo, sexólogo, endocrinologista e enfermeiro que serão necessários 
para os tratamentos mais diferenciados. A atual panóplia terapêutica permite uma 
solução satisfatória na grande maioria dos doentes, que cada vez mais procuram o 
médico para o tratamento da disfunção erétil (OLIVEIRA, et al. 2012). 
 
3 TERAPÊUTICA PSICOSSEXUAL (ACONSELHAMENTO SEXUAL E 
TERAPÊUTICA COMPORTAMENTAL) 
Segundo Costa (2010), a disfunção eréctil (DE) constitui atualmente uma 
doença bastante prevalente com várias causas etiológicas. Várias evidências 
demonstraram que fatores psicológicos encontram-se envolvidos num número 
substancial de casos de disfunção eréctil, isoladamente ou em combinação com 
causas orgânicas. A contrastar com o avanço notável da terapêutica medicamentosa 
oral, a literatura científica sobre psicoterapia sexual no tratamento da disfunção eréctil 
é bastante limitada. 
 
13 
Logo, seu tratamento baseou-se, durante muito tempo, em estratégias 
terapêuticas de comportamento e aconselhamento sexual (SEMANS J, 1956; 
MASTERS W ET JOHNSON V, 1970). Embora muito usadas em todo o mundo 
durante várias décadas os seus resultados nunca foram alvo de uma avaliação 
baseada em princípios de evidência bem fundamentada. Alguns estudos, sobre a 
eficácia destas terapêuticas, apresentam resultados, a longo prazo, muito 
contraditórios. 
Investigações mais recentes, revelaram que, na grande maioria dos casos, os 
resultados da terapêutica farmacológica são nitidamente superiores aos da 
terapêutica psico-comportamental (STEGGALI M el al, 2008) na EP adquirida mas, 
em especial, na EP primária comprovou-se a ineficácia da terapêutica psico-
comportamental como forma isolada de tratamento. 
Por outro lado, os estudos a longo prazo da terapêutica psico-comportamental 
em monoterapia para a EP mostram uma elevada taxa, entre 60 a 75%, de recorrência 
da EP (Hawton K et al, 1986). Portanto os resultados terapêuticos das técnicas de 
tratamento psicossexual aplicadas em monoterapia, salvo casos excepcionais, são 
muito limitados. 
Muitos investigadores na área da EP aceitam que a associação de tratamentos 
farmacológicos com técnicas de psicoterapia podem dar resultados melhores e mais 
estáveis que qualquer das terapêuticas isoladamente (ALTHOF S et al., 2010). A 
estratégia da terapêutica sexual moderna da EP preconiza uma abordagem 
multimodal associando as técnicas de terapêutica sexual (técnicas comportamentais: 
stop-start e compressão da glande) e técnicas de psicoterapia focadas no controlo 
cognitivo da ejaculação. 
Como a maior parte dos homens com EP se apercebem do seu nível de 
ansiedade e as causas dessa ansiedade são muitas vezes superficiais estes 
procedimentos têm um certo sucesso a curto prazo mas a longo prazo os resultados 
são pouco satisfatórios (MCCARTHY B,1988; De AMICIS L et al 1985; HAWTON K et 
al 1986). 
O procedimento mais vulgar no tratamento comportamental da EP tem sido a 
técnica de “pára-arranca” /stop-start / pausa do coito (Semans J, 1956) e a 
 
14 
compressão da glande (Masters W et Johnson V, 1970) fundamentadas no conceito 
de que o homem não prestaria atenção suficiente aos níveis de tensão sexual pré 
orgástico. 
A operacionalização destas técnicas passa pelo ensino do casal que é 
aconselhado a parar a estimulação do pénis no “ponto de inevitabilidade”, considerado 
como o período imediatamente antes da ejaculação e em que a suspensão da 
estimulação permite adiar o orgasmo. Estes procedimentos, numa fase inicial, são 
realizados por estimulação manual do pénis, são repetidos 4 vezes, em cada sessão, 
até ser permitida a ejaculação. 
Devem ser repetidos pelo menos 3 vezes por semana. Quando o homem sente 
um melhor controlo do tempo de ejaculação aplicará a técnica com coito vaginal, 
controlando a frequência e intensidade dos movimentos gerindo a estimulação sem 
atingir o ponto de não retorno. O objetivo será de permitir treinar o indivíduo a 
reconhecer as sensações premonitórias que precedem imediatamente a ejaculação e 
dessa forma permitem um melhor controlo da EP. 
A esta técnica pode acrescentar-se um outro procedimento que consiste em 
comprimir fortemente a glande entre o polegar (aplicado na região do freio) e o dedo 
indicador e médio (aplicados na região dorsal da glande e sulco coronal), por 
momentos, antes de atingir o ponto de não retorno, continuando depois com a 
atividade sexual. Em alguns casos esta técnica tem efeitos contraproducentes 
acelerando o orgasmo. 
A colaboração da companheira é fundamental e torna-se indispensável o 
desenvolvimento de uma comunicação cúmplice entre o casal. Os estudos de 
avaliação dos resultados destas técnicas são pouco fiáveis e não obedecem aos 
critérios de evidência modernos. Os resultados satisfatórios, a curto prazo, podem ser 
elevados de 60% a quase 100% (Masters, W et Johnson, V 1970; Clarke, M. et al 
1973) mas os resultados a longo prazo são muito insatisfatórios (DE AMICIS, L. et al 
1985). 
 
15 
4 FARMACOTERAPIA 
 
Fonte: Mundopositivo.com.br 
4.1 Fármacos de ação local/tópica 
Segundo Neves e colaboradores (2004) A utilização de medicamentos 
anestésicos tópicos para tratamento da EP remonta a 1944. É a forma mais antiga de 
tratamento farmacológico da EP. Reconhece-se um importante mercado “paralelo” de 
produtos para aplicação tópica no pénis para o “tratamento” da ejaculação prematura, 
produtos que são fornecidos via “mail” ou comercializados em “sex-shops” mas cuja 
composição e resultados não são conhecidos. 
A maior parte dos produtos de utilização clínica são anestésicos que contêm 
lidocaína ou são uma associação de lidocaína com prilocaína (EMLA), sob a forma de 
creme, gel ou spray. Em estudos de pequena dimensão os resultados obtidos por auto 
avaliação apontam para taxas de sucesso da associação de lidocaína com prilocaína 
na ordem dos 80% (ATAN A et al, 2006; HENRY R et al, 2003). 
Recentementefoi comercializado em spray com uma mistura eutética de 
lidocaína e prilocaína com resultados muito satisfatórios em cerca de 88% dos casos 
e com uma baixa incidência de efeitos laterais em 15% dos casos e que se relacionam 
com a perda de sensibilidade (“numbness”) e perturbação da ereção (DINSMORE W 
et al, 2007). 
 
16 
A aplicação destes produtos deve ser realizada ser entre 10 a 20 minutos antes 
da relação sexual e podem surgir alguns problemas relacionados com a dose: se 
forem aplicados em doses elevadas podem causar perturbações importantes da 
sensibilidade com sensação de adormecimento da glande e da pele do pénis 
(hipostesia / anestesia), e podem ainda causar dificuldades na ereção; se a dose for 
insuficiente são ineficazes (ALTHOF S et al, 2010). 
Uma outra limitação deste tipo de tratamento resulta da possibilidade de haver 
absorção transvaginal do anestésico o que acarreta a perda de sensibilidade vaginal 
com a consequente dificuldade da mulher em atingir o orgasmo e portanto a impõe-
se necessidade de utilização de preservativo (BUSATO, W et al, 2004). 
Embora nunca tenha sido realizado um estudo randomizado, fundamentado em 
critérios objetivos, para avaliar os resultados reais deste tipo de tratamentos 
considera-se que, em termos gerais a terapêutica tópica com anestésicos locais para 
a EP é eficaz, tem poucos efeitos laterais e é relativamente barata. 
4.2 Fármacos sistémicos de ação central- inibidores da recaptação da 
serotonina 
A introdução de terapêuticas com neurofármacos eficazes na modelação do 
limiar de tempo para a ejaculação representa a rotura com os velhos modelos de 
tratamento psicossexual que foram o pilar do tratamento desta disfunção durante 
muitos anos (BARROS; FIGUEIREDO,2006). 
4.3 Antidepressivos tricíclicos 
Clomipramina é um antidepressivo tricíclico inibidor da recaptação da 
serotonina com atividade importante sobre os receptores muscarínicos da acetilcolina 
e receptores adrenérgicos alfa-1.Em estudos randomizados e bem desenhados os 
resultados da sua utilização na EP são relativamente bons. A clomipramina pode ser 
usada em doses diárias de 12,5 a 50 mg com aumento do IELT até 6 vezes o valor 
basal. Os resultados mais modestos com a utilização” on-demand” com as mesmas 
doses tomadas entre 4 a 6 horas antes da relação podem proporcionar um aumento 
do IELT até 4 vezes o valor inicial (MONTAGUE D, el al. 2004; ALTHOF S, et al. 2010). 
 
17 
Entre os efeitos laterais salientam-se: sonolência; nauseas; tonturas; secura de 
boca e disfunção erétil bem como alguns efeitos cardiovasculares. 
4.4 Inibidores seletivos da recaptação da serotonina- SSRI´s 
Cabe aos SSRI´s) (citalopram / fluoxetina / fluvoxamina / paroxetina / sertralina) 
o papel principal na estratégia moderna do tratamento da EP primária (WALDINGER, 
M 2003; MAMAHON, C.1998). A utilização destes fármacos no tratamento da 
ejaculação prematura é “off label”. 
A dapoxetina é o primeiro inibidor seletivo da recaptação da serotonina com 
características específicas (rápido início de ação e semivida curta) que tem aprovação 
das entidades europeias para utilização no tratamento da ejaculação precoce. 
Os efeitos adversos são geralmente minor, manifestam-se habitualmente ao 
fim de 1 semana do início da toma e têm tendência para desaparecer com a 
manutenção do tratamento ao fim de 2 a 3 semanas de tratamento contínuo. Os 
principais efeitos indesejáveis são: anejaculação / anorexia / dispepsia / náuseas / 
fezes amolecidas / aumento da transpiração / redução da libido / fadiga / bocejar / 
disfunção erétil ligeira / agitação.Estes fármacos devem ser evitados em doentes com 
história depressão ou doença bipolar. 
4.5 Tratamentos Farmacológicos “on demand” com SSRI’s Clássicos 
Podem obter-se resultados satisfatórios com a toma “on demand” 4 a 6 horas 
antes da relação sexual com a clomipramina (antidepressivo tricíclico) ou com SSRI´s 
clássicos (paroxetina / sertralina / fluoxetina). Esta estratégia melhora a tolerância aos 
fármacos e é eficaz embora o efeito de prolongamento do IELT seja mais limitado. A 
administração “on demand” dos SSRI´s não permite obter um reforço da 
neurotransmissão de 5-HT tão intensa como a que é desenvolvida pela administração 
diária. 
Podem usar-se vários esquemas terapêuticos combinando uma fase inicial de 
tratamento contínuo seguida de tratamento “on demand” ou fazendo tratamento 
contínuo de baixa dose que é suplementada com uma dose maior “on demand” 
(MaMahon C el al, 1999; Kim J et al 1999). 
 
18 
4.6 Dapoxetina – Tratamento Farmacológico “on demand” 
A administração da dapoxetina em doses de 30 e 60 mg, com toma 1 a 2 horas 
antes da relação é em geral bem tolerada e eficaz (IELT basal aumenta 2 a 3 x). Os 
efeitos obtidos são dose-dependentes: IELT basal de 0,91 min passou para 2,78 min 
com a dose de 30 mg e para 3,32 minutos com a dose de 60 mg (Hellstrom et al, 2004; 
Pryor et al, 2005). 
A sensação de controlo da ejaculação foi classificada pelos doentes 
classificada como razoável, boa ou muito boa partindo de um valor basal de 3,1% para 
51,8% e 58,4% no fim do estudo com dapoxetina com doses de 30 e 60 mg 
respectivamente. 
Os efeitos adversos (náuseas, diarreia, cefaleias e tonturas) são raros e dose 
dependentes tendo implicado a suspensão do tratamento em 4% dos doente s no 
grupo de 30 mg e 10% no grupo de 60 mg. 
4.7 OUTROS FÁRMACOS 
 
Fonte: Repositorio.hff.min.saude.pt 
 
 
 
 
19 
Inibidores da 5-fosfodiesterase (i-PDE5) 
 
A utilização dos i-PDE5 tomados isoladamente ou em conjunto com SSRI´s 
para o tratamento da EP foi estudada por vários autores (Salonia et al 2002; Chen et 
al 2003; Mattos et al, 2005). Está bem documentada a importância dos i-PDE5 no 
metabolismo do óxido nítrico (NO) e reconhece-se que o óxido nítrico (NO) é um dos 
mais importantes mensageiros intracelulares a nível cerebral (Dawson et al 1994). 
Em estudos experimentais comprovou-se que a elevação do (NO) extracelular 
na área preoptica medial (MPOA) acelera a libertação de dopamina e facilita o 
comportamento sexual enquanto a sua diminuição reduz a atividade sexual (Sato et 
al, 1998). Porém os estudos clínicos realizados com i-PDE5 para tratamento da EP 
são pouco fiáveis e apresentam resultados confusos e contraditórios. 
Considera-se atualmente pouco provável que os I-5PD tenham um papel 
importante no tratamento da EP com excepção dos casos de EP adquirida secundária 
a disfunção erétil. 
 
 
Fonte: skyuro.com 
ALPROSTADIL INTRACAVERNOSA 
A utilização da injeção intracavernosa de fármacos vasoativos tem a sua 
indicação major no tratamento de alguns tipos de disfunção erétil. Alguns autores 
usam a autoinfeção intracavernosa com alprostadil para que a ereção se mantenha 
com rigidez suficiente para prolongar o coito para além da ejaculação. Os resultados 
não são muito satisfatórios e esta estratégia é pouco aplicada na prática. 
 
20 
 
TRAMADOL 
 
O tramadol é um analgésico de ação central agonista dos receptores opioides, 
tem um mecanismo de acção especial que envolve os receptores μ-opioides e a 
inibição da recaptação da norepinefrina e serotonina. Vários estudos realizados 
confirmam o aumento significativo do IELT, da capacidade de controlo da ejaculação 
e da satisfação sexual (Wu T, et al 2012; Yang L, et al 2013). 
Apresenta uma incidência significativa de efeitos laterais que na maior parte 
dos casos são ligeiros ou moderados e transitórios, o efeito lateral mais preocupante 
relaciona-se com a possível indução de fármaco-dependência. Embora o tramadol 
possa ser eficaz no tratamento da EP, deve ser reservado para casos especiais por 
falência de outros tratamentos dado o risco significativo de adição. 
 
FITOTERAPIA 
 
Há variados produtos de venda livre no mercado com “indicação” para 
tratamento da EP com composições muito variadas: Ginseng Redix Alba, Angelicae 
Gigantic Radix, CistancisHerba, Zanthoxylli Fructs, Torlidis Semen; Asiari Radix; 
Caryophylli Flos; Cinnamon Cortex; Bufonis Veneum. A real composição química dos 
produtos ativos é desconhecida. 
Alguns estudos confirmaram que têm alguma atividade aumentando o limiar do 
tempo de latência ejaculatória despertada pela vibração e diminuindo a amplitude dos 
potenciais evocados somato-sensoriais.A utilização em cremes de alguns destes 
produtos permitiu obter respostas favoráveis. 
4.8 Tratamento por meios físicos: neuromodelação por radiofrequência (PRF) 
Foi recentemente descrita a técnica de neuromodelação pulsátil por 
radiofrequência. Os resultados publicados são muito promissores (BASEL S, et al. 
2010), mas não há ainda uma base de evidência bem fundamentada que permita a 
sua indicação clínica generalizada. 
 
21 
4.9 Tratamentos cirúrgicos 
São técnicas que visam induzir hipostesia do pénis e fundamentam-se na 
hipótese de em alguns casos de EP haver uma hipersensibilidade peniana. Os efeitos 
destas técnicas são pouco claros o que aliados à sua irreversibilidade e com 
resultados que não estão devidamente validados fazem com que a sua aplicação 
clínica seja vista com muita reserva. 
 
Fonte: skyuro.com 
4.10 Tratamentos multimodais 
Estratégia de tratamento que se traduz na aplicação simultânea de várias 
técnicas de tratamento da EP com utilização das metodologias psico-
comportamentais e dos meios farmacológicos. Procura-se maximizar e prolongar no 
tempo os efeitos benéficos obtidos sobre o controlo do IELT, sobre a satisfação sexual 
individual e do casal e sobre o respectivo relacionamento. 
5 PROLAPSO DE ORGÃOS PÉLVICOS E INCONTINÊNCIA URINÁRIA 
O Prolapso de Órgãos Pélvicos (POP) define-se como uma saída ou herniação 
de um ou mais órgãos pélvicos (ex. útero, cúpula vaginal após histerectomia, bexiga 
e reto) através das paredes da vagina. Ocorre quando as estruturas de suporte do 
pavimento pélvico (músculos, ligamentos e fáscias) ficam disfuncionais. A prevalência 
estimada de qualquer tipo de POP em mulheres com filhos é de 33%. No entanto, é 
importante destacar que apenas 10% destes prolapsos são sintomáticos e requerem 
cura cirúrgica (BARROS; FIGUEIREDO, 2006). 
 
22 
 
A Incontinência Urinária (I.U.) define-se como uma perda involuntária de urina, 
pelo meato uretral, com repercussão negativa na vida pessoal e social do doente. As 
causas dependem do tipo de I.U. A I.U. de esforço (IUE) resulta de um aumento da 
pressão intra-abdominal (como por exemplo a que é provocada pela tosse ou a que 
ocorre durante a atividade sexual), que implica um aumento brusco da pressão 
intravesical. Normalmente esta situação está associada a uma disfunção do 
pavimento pélvico ou a uma deficiência do esfíncter intrínseco (ISD) e traduz-se numa 
perda involuntária de urina. A I.U. por imperiosidade (IUI) é caracterizada pelo 
aumento da pressão intravesical que resulta da contração do músculo da bexiga, o 
que causa uma sensação imperiosa e inadiável para urinar, seguido de incontinência 
urinária. Esta situação pode ser despoletada pelo simples contato com a água ou 
durante a atividade sexual, particularmente durante o orgasmo (BARROS; 
FIGUEIREDO,2006). 
A prevalência da I.U. estima-se em 5%. As mulheres multíparas e após a 
menopausa são as mais afetadas. As duas patologias estão frequentemente 
associadas e os fatores de risco são comuns: a gravidez e os partos; o envelhecimento 
e a menopausa; a obesidade, a obstipação crónica, as doenças pulmonares crónicas 
obstrutivas (D.P.C.O.) e o trabalho relacionado com a elevação/ transporte de objetos 
pesados; e por fim, algumas doenças hereditárias que determinam uma maior laxidão 
do tecido conjuntivo (ex. Síndrome de Marfan e de Ehlers-Danlos). 
5.1 Impacto na sexualidade 
O P.O.P e a I.U. obviamente interferem com a vida sexual das mulheres. A 
prevalência da disfunção sexual feminina associada a POP é estimada entre 25% a 
63%. 43% das mulheres que sofrem de problemas urinários referem que estes 
problemas influenciam a sua função sexual. O grau de impacto varia com o tipo de 
incontinência. 29% das mulheres com SUI queixam-se de disfunção sexual 
comparado com 71% daquelas com UUI. As formas mistas de incontinência têm um 
impacto superior na sexualidade. 
As razões incluem não só problemas físicos mas também, e principalmente, 
psicológicos. Os tratamentos utilizados melhoram muitos aspectos, devolvendo a 
 
23 
sexualidade, mas podem ser também responsáveis por alguns distúrbios da função 
sexual. 
 
Problemas psicológicos 
 Menor autoestima 
 Sofrimento com autoimagem, principalmente nos grandes prolapsos 
 Isolamento e depressão 
 Desejo sexual Hipo ativo 
 Perturbações do orgasmo 
 Diminuição da procura do parceiro 
 Redução da espontaneidade e o receio do odor e das perdas de urina 
durante a penetração/orgasmo. 
 Problemas físicos 
 Envelhecimento e menopausa 
 Impossibilidade de penetração no caso do grande POP 
 Dor e desconforto pela dermatite de contato provocado pela urina e 
pensos para IU 
 Dispareunia por vezes associada as cirurgias prévias de correcção de 
POP e IU. 
 Incontinência urinária durante o coito (CUI) 
 
As perdas involuntárias de urina podem acontecer durante a penetração, na 
altura do orgasmo, ou em ambos os casos. No geral, a prevalência estimada da IU 
durante o coito é de 24 a 34%. 
A CUI durante a penetração está mais associada a I.U.E, em especial se houver 
ISD. Na penetração há uma mudança da posição do colo vesical, provocando 
vulnerabilidade no mecanismo da continência. Este fato associado ao aumento da 
pressão intra-abdominal e a falência do pavimento pélvico ou ISD, determina a I.U.E. 
Já a I.U. que só acontece durante o orgasmo está mais associada a I.U.I. Nas 
mulheres com bexiga hiperativa, nas quais existe uma maior sensibilidade vesical, o 
orgasmo parece desencadear contrações não inibidas do detrusor (musculo da 
bexiga), com a consequente perda involuntária de urina. 
 
24 
Tratamentos Cirúrgicos 
 
O tratamento do P.O.P. sintomático, com interferência negativa na atividade 
sexual, é cirúrgico. O tratamento cirúrgico mais apropriado depende de vários fatores, 
nomeadamente: a idade da doente, a localização e o grau do prolapso, a história de 
cirurgia prévia, as comorbilidades médicas associadas, a experiência do cirurgião e a 
preferência da doente. As opções habituais para a cirurgia pélvica reconstrutiva cujo 
objetivo é restaurar a posição natural dos órgãos pélvicos, preservando a função 
sexual, incluem: a abordagem vaginal (clássica ou com prótese) e a abordagem 
abdominal (aberta, laparoscópica ou robótica). Existe ainda a opção de encerramento 
do canal vaginal, designado por colpocleisis para mulheres muito idosas com grandes 
prolapsos e sem vida sexual ativa. 
A cirurgia protésica do grande prolapso, quer efetuada por via vaginal quer 
realizada por via abdominal (habitualmente laparoscópica), pode provocar disfunções 
sexuais. As próteses colocadas (redes sintéticas de polipropileno) substituem as 
fáscias incompetentes que suportam a bexiga e o reto, e suspendem o útero ou a 
cúpula vaginal, com o objetivo de dar uma maior eficácia e longevidade à cirurgia. Os 
riscos da sua utilização são a infecção, a extrusão e a dispareunia. A diminuição 
destes riscos é cumprida pela experiência do cirurgião e o rigor da técnica cirúrgica, 
com a colocação das próteses afastadas da superfície da mucosa vaginal, sem tensão 
no contato com o órgão pélvico a suportar, e a ocupar, bem aberta, todo o espaço 
ocupado antes pela fáscia doente. 
5.2 Os tratamentos da I.U. dependem do seu tipo 
O tratamento da I.U.I. é, na sua grande maioria, médico e não corre qualquer 
risco de iatrogenia de foro sexual. Engloba a informação e o aconselhamento para a 
alteração de hábitos de vida e a prescrição de medicamentos, como os tradicionais 
anticolinérgicos e maisrecentemente o mirabegron. Só na ausência de resposta, ou 
em caso de contraindicação ou intolerância destas terapêuticas, se dá a indicação 
cirúrgica com a aplicação de Toxina Botulinica tipo A nas paredes da bexiga ou a 
neuromodelação das raízes sagradas, igualmente sem qualquer potencial iatrogénico 
na atividade sexual (BARROS; FIGUEIREDO,2006). 
 
25 
Contrariamente ao anterior, o tratamento da I.U.E. moderada a grave é, 
habitualmente, cirúrgico utilizando técnicas minimamente invasivas e muito eficazes 
como o TOT/TVT-O ou Mini-Slings. A cirurgia é efetuada por via vaginal e consiste na 
colocação de uma prótese (fita sintética de polipropileno) sub-uretral para suporte do 
terço médio da uretra. A morbilidade é muito baixa com riscos de infecção, extrusão e 
dispareunia quase desprezíveis. Também aqui é necessária uma correta técnica 
cirúrgica com a prótese colocada afastada da mucosa vaginal, sem tensão na uretra 
e a respeitar a anatomia da vagina (ângulos laterais), para evitar riscos de dispareunia 
(BARROS; FIGUEIREDO,2006). 
 
 
Fonte: catracalivre.com.br 
6 MUTILAÇÃO GENITAL FEMININA 
A mutilação genital feminina (MGF) (também chamada “corte dos genitais 
femininos”, “mutilação genital feminina/corte”, “excisão genital feminina”, “circuncisão 
feminina”) refere-se a todos os procedimentos que envolvam a remoção parcial ou 
total dos órgãos genitais externos ou quaisquer danos infligidos aos órgãos genitais 
femininos por motivos não médicos. O termo “mutilação” estabelece uma distinção 
linguística clara da circuncisão masculina e enfatiza a gravidade e o dano causado 
pelo ato. Esta expressão ganhou força no final da década de 1970 e é aconselhada 
pela OMS desde 1990 (BARROS; FIGUEIREDO,2006). 
 
26 
6.1 Classificação 
Houve várias tentativas de hierarquização dos danos resultantes da MGF. Uma 
classificação formalmente reconhecida é útil para: investigação, estudos 
epidemiológicos, avaliação médica e questões legais. Uma tipologia comum assegura 
a possibilidade de comparação de dados. A colheita de dados baseada em inquéritos 
e a observação clínica podem ser limitadas levando a discrepâncias. A primeira 
tentativa de classificação remonta a 1847, por Daniell. Worsley, em 1930 classificou a 
MGF em: 
 Incisão 
 Circuncisão e 
 Infibulação. 
Shandall que em 1967 agrupou em: 
 Circuncisão propriamente dita 
 Excisão 
 Iinfibulação (“circuncisão faraónica”) e 
 Introcisão. 
A classificação atualmente adoptada, foi proposta em 2007 pela OMS e 
aprovada por todos organismos das Nações Unidas, nomeadamente a UNICEF e a 
UNFPA, e divide a MGF em 4 categorias: 
 Tipo I: remoção parcial ou total do clitóris e/ou do prepúcio 
(“clitoridectomia”) 
 Tipo Ia: Remoção apenas do prepúcio 
 Tipo Ib: remoção do clitóris com prepúcio 
 Tipo II: Remoção parcial ou total do clitóris e dos pequenos lábios, com 
ou sem excisão dos grandes lábios (“excisão”) 
 Tipo IIa: remoção só dos pequenos lábios 
 Tipo IIb: remoção parcial ou total do clitóris e dos pequenos lábios 
 Tipo IIc: remoção parcial ou total do clitóris, dos pequenos e grandes 
lábios 
 
27 
 Tipo III: estreitamento do orifício vaginal através da criação de uma 
membrana selante, pelo corte e aposição dos pequenos lábios e/ou dos 
grandes lábios, com ou sem excisão do clítoris (“Infibulação”). A 
“reinfibulação” está incluída nesta definição e consiste numa intervenção 
que procura refazer uma infibulação, geralmente após o parto em que 
foi necessária a desinfibulação. 
 Tipo IIIa: remoção e aposição de pequenos lábios 
 Tipo IIIb: remoção e aposição dos grandes lábios 
 Tipo IV: Todas as outras intervenções nefastas sobre os genitais 
femininos não classificadas atrás, como: punção/picar, perfuração, 
incisão/corte, estiramento/alongamento, escarificação e cauterização. 
 
O Tipo IV tem levantado algumas questões que permanecem por responder. 
Ele inclui práticas diversas e heterogéneas, com explicações etiopatogénicas 
variadas. Certos investigadores são da opinião de que o ato de punção/picar deveria 
ser retirado da classificação, uma vez que é difícil comprovar se não existirem 
alterações anatómicas e porque é considerada significativamente menos nociva que 
as outras formas. O estiramento/alongamento do clitóris e/ou dos pequenos lábios é 
prática em certas comunidades matriarcais da África Austral e por meninas instruídas, 
utilizando óleos e ervas, com o pressuposto de que os lábios alongados são formas 
de contenção/ proteção para a vagina e de intensificar o prazer sexual tanto feminino 
como masculino (BARROS; FIGUEIREDO,2006). 
A cauterização é definida como a destruição de tecido por queimadura com 
ferro quente. Acredita-se que se trata de remédio para hemorragias, úlceras, feridas 
e de medida de “contra inflamação”, ou seja para causar dor ou irritação numa parte 
do corpo para aliviar uma inflamação ou dor noutra parte. A prática de Corte/incisão, 
na sua forma original, era conhecida como “cortes gishiri” e “cortes angurya”. Os 
primeiros são rituais tradicionais ligados ao parto, excluindo as meninas, daí serem 
diferentes das outras formas de MGF. Os cortes são geralmente feitos no interior da 
vagina em casos de partos difíceis. Os cortes angurya são uma forma de cirurgia 
tradicional ou de raspagem, para remover o hímen e outros tecidos envolventes do 
introito vaginal (BARROS; FIGUEIREDO,2006). 
A introdução de substâncias nocivas na vagina é geralmente auto-admnistrada 
por mulheres adultas, com o objetivo de limpar e purificar a vagina antes ou depois 
 
28 
das relações sexuais, para estreitar, tonificar e fortalecer a vagina, de modo a 
aumentar o prazer da mulher e do parceiro. Só é classificada como forma de MGF 
quando se associa a risco de saúde e pressão social. 
6.2 Epidemiologia 
A MGF é quase sempre realizada em meninas com idades inferiores a 15 anos. 
Mulheres adultas e casadas também são sujeitas. A idade varia de acordo com as 
tradições, grupo étnico e circunstâncias locais (recém-nascido, infância, adolescência, 
na altura do casamento ou durante a primeira gravidez). 
A taxa de prevalência é variável e tem como fator determinante o 
enquadramento étnico. Os primeiros estudos credíveis são posteriores aos anos 
cinquenta. O primeiro artigo epidemiológico foi publicado em 1978 por Hosken. A OMS 
estima que, em todo o mundo, entre 100 e 140 milhões de meninas e mulheres tenham 
sido sujeitas a um dos 3 primeiros tipos de MGF. Estimativas mais recentes indicam 
que, em África, 91.5 milhões de meninas e mulheres com mais de 9 anos, sofrem 
atualmente as consequências. 
Calcula-se que 3 milhões de meninas estejam expostas a este risco, por ano, 
em África. 90% dos casos de MGF são dos tipos I, II e IV e 10% são do tipo III. Estes 
atos predominam nas regiões do Oeste, Este e Nordeste de África, em alguns países 
na Ásia e Médio Oriente e entre certas comunidades emigrantes na América do Norte 
e Europa. Portugal e o resto da Europa são atualmente países de risco, com a prática 
a instalar-se lentamente, devido aos fluxos migratórios. 
 
 
Fonte: www.drdelroy.com.br 
 
29 
Foram registados casos de MGF em 28 países africanos, sendo sete com taxas 
de prevalência acima de 85%, quatro entre 60 e 85%, sete entre 30 e 40% e os 
restantes países entre 0.6 e 28.2 %. O único país dos PALOP referido neste estudo, 
é a Guiné-Bissau com uma taxa de prevalência estimada em 44.5%. (YODER; KHAN, 
2007). 
A MGF é feita geralmente pelas mulheres tradicionais, as “fanatecas”, “village 
barbers” de alto estatuto na comunidade e pelas “traditional birth attendant”, em 
ambientes impróprios e com instrumentos diversos não esterilizados (pedaços de 
vidro, canivetes, lâminas de barbear, tesouras ou navalhas, etc.) e sem cuidados 
mínimos de assepsia e anestesia. 
Em certos países é praticada por profissionais de saúde em Instituiçõespúblicas ou privadas (“MGF medicamente assistida”) (UNICEF, 2005). Estudos 
revelam que, em alguns países, um terço ou mais das mulheres submeteram as suas 
filhas a atos conduzidos por profissionais de saúde qualificados. 
A reinfibulação está documentada em alguns países como procedimento de 
rotina após o parto. Há relatos de que este mesmo ato é praticado ocasionalmente 
onde é proibido por lei, em grupos imigrados na Europa e América do Norte. A MGF 
medicamente assistida é defendida por certos profissionais de saúde, ONG´s e 
representantes governamentais, com o argumento de que pode reduzir os danos e 
levar ao abandono da prática, com o risco de poder legitimar e institucionalizar o ato. 
Diversos fatores podem estar por trás desta motivação, tais como ganhos financeiros, 
pressão e sentido de dever para com a vontade da comunidade. 
Os profissionais de saúde que procedam a MGF violam o direito das mulheres 
e das meninas a vida, à integridade física e psíquica e à saúde, assim como o princípio 
fundamental da ética médica de “primum non nocere” e a Declaração de Helsínquia 
que é de salvaguarda da saúde da população. As autoridades reguladoras da 
atividade médica e associações profissionais juntaram-se às Nações Unidas na 
condenação deste ato. A FIGO (International Federation of Gynaecology and 
Obstetrics) aprovou em 1994, uma resolução na sua Assembleia Geral que condena 
esta prática e recomenda o seu combate. 
A MGF é uma manifestação de desigualdade de género que está 
profundamente enraizada em estruturas de ordem social, económica e política, 
representando uma forma de controlo social sobre a mulher, assim como o são as 
 
30 
práticas do dote, do casamento de crianças e do enfaixamento do pé na China 
(UNICEF, 2005). 
Muitos fatores e pressupostos concorrem para a sua persistência (UNICEF, 
2005;Dellenborg,2004; Johnson, 2007; Talle, 2007; Gruenbaum, 2006;OMS e 
UNFPA,2006;): convenção social acompanhada de recompensas e punições; ganhos 
sociais são superiores aos danos; forma de educação feminina e de preparação para 
a idade adulta e o casamento; rituais de passagem para a vida adulta; medo de 
estigmatização e rejeição pela comunidade; forma de identidade cultural e de 
integração na comunidade; fator de conquista do homem; competência casadoira; 
salvaguarda da virgindade; repressão do desejo sexual garantindo fidelidade conjugal 
e prevenindo comportamentos sexuais desviantes e imorais; manutenção da “pureza 
e a beleza”; eliminação da masculinidade com a eliminação de partes “masculinas” do 
corpo como o clitóris; aumento do prazer sexual masculino; crenças religiosas 
(recorde-se que nenhum dos textos sagrados prescreve a MGF; ela precede o 
cristianismo e o islamismo); influência de processos de deslocamento e migração e 
de cruzamento de famílias. 
6.3 Implicações médico-legais 
A MGF é uma prática nefasta que viola uma série de princípios, normas e 
padrões de direitos humanos- civis, culturais, económicos, políticos e sociais das 
meninas e mulheres, bem estabelecidos, que incluem os princípios da igualdade de 
género, do direito à vida, de estar livre de tortura, punição ou tratamento cruel, 
desumano ou degradante. 
É uma descriminação com base no sexo porque se fundamenta em 
desigualdades de género e desequilíbrios de poder entre homens e mulheres e inibe 
as mulheres de exercício completo e igual usufruto dos direitos humanos. É uma forma 
de violência sobre meninas e mulheres, com consequências físicas e psicológicas. Há 
uma privação do consentimento livre e informado sobre uma intervenção que tem 
efeito prolongado nos seus corpos e que afeta a autonomia e o autocontrole. Interfere 
com alguns aspectos da Constituição, dos Códigos Penal, Civil e de Família. 
 
31 
6.4 Complicações médicas 
A MGF está associada a múltiplos riscos e complicações para a saúde física e 
psicológica. O próprio ato é traumático, uma vez que existe coação física (p. ex, após 
a infibulação as pernas são atadas durante vários dias ou semanas). As complicações 
médicas imediatas são documentadas apenas quando há recurso a meios 
hospitalares mas a verdadeira extensão é desconhecida. 
De um modo geral a morbilidade aumenta com a severidade dos atos. A maior 
parte das complicações reportadas nos vários estudos refere-se geralmente a MGF 
dos tipos I, II e III, uma vez que os dados referentes ao tipo IV são limitados. 
Complicações imediatas: 
 Hemorragia 
 Dor intensa (surge em quase todos os casos; raramente são usadas 
anestesias) 
 Choque hipovolémico ou séptico 
 Choque psicológico (“experiência traumática”) 
 Lesão de órgãos vizinhos (uretra, períneo e reto, com ocorrência de 
fístulas) 
 Retenção urinária aguda e obstipação (por dor e edema) 
 Infecções (tétano, gangrena, VIH etc.) 
 Morte (pode resultar de choque hemorrágico, neurogénico ou séptico) 
 Complicações tardias 
 Repetição do ato 
 Aderências dos tecidos (“pseudoinfibulação”), quelóides, neurinomas, 
abcessos 
 Dor crónica 
 Infecções (herpes, SIDA e outras IST´s) 
 Alterações urológicas (Incontinência urinária, infecções urinárias 
recorrentes, fístulas vesicovaginais, aperto da uretra e cálculos vesicais) 
 Complicações psicológicas (ansiedade, depressão, agressividade, 
ambivalência de sentimentos, sentimento de impotência, perda de 
autoestima e de autoimagem, síndrome de stress pós-traumático); 
 Complicações sexuais e obstétricas 
 
32 
 Impacto na Sexualidade 
A remoção ou lesão dos genitais pode afetar seriamente a sexualidade nas 
suas várias vertentes. Assim podemos ter, na mulher: 
 Desejo sexual hipoativo (perda da autoestima e autoimagem etc.) 
 Diminuição da excitação 
 Anorgasmia (acontece em 80% no tipo III e 10% no tipo I- segundo 
Shandall, 1967) 
 Dispareunia (por dor, cicatrizes e memórias traumáticas) 
 Dismenorreia (por congestão pélvica) 
 Hematocolpos 
 Infecções sexualmente transmissíveis 
 Infertilidade (por Doença pélvica inflamatória) 
 Complicações obstétricas (aumento da incidência de cesariana, 
hemorragia pós-parto, recurso a episiotomia, rotura do períneo, fistulas 
vesicovaginais e vesicorrectais, aumento do sofrimento fetal e da 
mortalidade neonatal) 
 Efeitos sexuais no homem (parceiro) 
 Sinal de virilidade e de masculinidade quando conseguem penetrar uma 
mulher infibulada 
 Dor peniana 
 Mutilação Genital Feminina 
 Sofrimento moral com desinteresse sexual e impotência sexual 
situacional 
 Problemas matrimoniais e adultério 
 Atitude Médica Perante MgF 
 Oferecer uma abordagem respeitosa, sem juízo de valores, com 
informação clara sobre as eventuais consequências na saúde 
 Aconselhar psicoterapia e aconselhamento sexual individual e de grupo 
 Indicar cirurgia plástica e reconstrutiva se necessário 
 Envolver parceiro, família e comunidade 
 Clarificar a responsabilidade ética e legal do médico 
 
33 
 Tratar qualquer disfunção sexual 
 
Não são conhecidos quaisquer vantagens da MGF para a saúde. Pelo 
contrário, é do conhecimento comum que prejudica das mais diversas formas as 
meninas e a s mulheres, com realce para o impacto negativo na sexualidade. Constitui 
um exemplo claro de violação dos mais elementares direitos humanos e reflete uma 
desigualdade de género profundamente enraizada e suportada por pressupostos de 
índole social e religioso. 
Apesar de alguns sucessos, a redução da taxa global da MGF tem sido lenta, 
à custa de trabalho preventivo árduo e de longa data levado a cabo por comunidades 
locais, governos e organizações nacionais e internacionais. A erradicação da 
mutilação genital feminina é imperativa e fundamental para a concretização de muitos 
dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio. 
 As soluções são morosas e difíceis. As ações e intervenções a tomar devem 
ser multissectoriais (tribunais, governo, parlamentares, profissionais de saúde, 
excisadoras, ONG´s,igrejas, organismos internacionais, etc.) transfronteiriças, 
sustentadas e preferencialmente conduzidas pela comunidade, com medidas como 
mudança social positiva, educação enaltecedora das mulheres, diálogo público, 
intercultural e intergeracional, entre outras. 
 
 
Fonte: 2kvs9z2bdnj126e1qq1q78tm.wpengine.netdna-cdn.com 
 
 
34 
7 HÍMEN IMPERFURADO 
Segundo Pinto e col. (2011) O lúmen da vagina está separado do seio 
urogenital pelo hímen - uma membrana de tecido conjuntivo que está ligada à parede 
vaginal. Em circunstâncias normais, esta membrana rompe ainda antes do 
nascimento devido à degeneração das células epiteliais que compõem a sua porção 
central. No entanto, uma fina membrana mucosa persiste adjacente ao introito vaginal. 
De acordo com o referido autor existem alguns tipos de anomalias cuja causa 
é a degenerescência incompleta da porção central do hímen. O hímen imperfurado é 
uma das patologias obstrutivas mais comuns do aparelho reprodutor feminino. No 
entanto apesar de haver diversas variantes no desenvolvimento do hímen, o bloqueio 
completo é raro (0.05% a 0,1% dos recém nascidos do sexo feminino). 
7.1 Sintomas e sinais 
Hoje em dia já é possível o diagnóstico pré-natal de hímen imperfurado, ou pelo 
menos, a sua suspeita ecográfica. Nestes casos, na ecografia fetal é por vezes 
possível verificar a presença de uma massa retrovesical afunilada com fundo de saco 
na porção distal da vagina, correspondente a um hidrocolpos, resultante da 
acumulação de secreções na vagina fetal. Estas secreções são estimuladas pela 
produção materna de estradiol. Por vezes pode atingir dimensões capazes de 
provocar sintomas compressivos causando mesmo hidronefrose. À nascença é 
possível verificar um abaulamento do introito vaginal do recém-nascido, causado pelo 
hidrocolpos (PINTO, et al. 2011). 
Caso o hidrocolpos seja reabsorvido espontaneamente na infância e seja 
subdiagnosticado ou não tratado, as crianças mantém-se assintomáticas até à idade 
pubertária. Nesta altura, a adolescente apresenta-se com um quadro cíclico de dor 
pélvica associado a amenorreia primária. Estes sintomas são causados pela 
acumulação de sangue na vagina (hematocolpos) e no útero (hematometra). À 
observação pode ser visível uma coloração azulada do hímen (Figura 1), resultante 
desta acumulação de sangue. Existem ainda outros sintomas que podem estar 
associados, como a presença de uma massa pélvica que pode resultar em retenção 
urinária pelo seu efeito compressivo (PINTO, et al. 2011). 
 
35 
7.2 Disfunção sexual 
A disfunção sexual manifesta-se desde o início da vida sexual. A atividade 
sexual é dolorosa, desenvolvem um quadro de dispareunia inicial ou mesmo 
impossibilidade de iniciar a relação sexual. Este pode mesmo ser o primeiro sintoma 
da doença. Em casos extremos pode manifestar-se por um quadro de hemorragia, 
caso a artéria pudenda externa seja lacerada juntamente com o hímen durante a 
tentativa forçada de iniciar a relação sexual. 
Em relação a disfunções sexuais feminina, podemos considerar que medida 
que o conhecimento da sexualidade humana avança, melhor se identificam as 
diferenças entre as características especificamente femininas e as masculinas da 
resposta aos estímulos sexuais. (ABDO, 2005, apud ABDO, FLEURY, 2006). 
Em decorrência desse contexto, a mulher tende à sensualidade e à sedução, 
enquanto o homem busca a conquista e a posse no exercício da sexualidade. Esse 
quadro é dinâmico e pode se modificar conforme se associam os fatores envolvidos, 
próprios da vida de cada indivíduo. 
Tais fatores são também os responsáveis pelo desenvolvimento e pela 
manutenção das disfunções sexuais, sejam elas masculinas ou femininas. Também 
se associam e se superpõem num mesmo caso de disfunção. Ou seja, um quadro 
disfuncional pode eclodir por causa orgânica, mas será agravado, em boa parte das 
vezes, por repercussão emocional. Caso a origem seja psíquica, as doenças próprias 
da idade acentuarão os sintomas da dificuldade sexual, respondendo por sua 
cronificação. Especialmente no caso das disfunções sexuais femininas, a tentativa de 
estabelecimento dos fatores etiológicos resulta na evidência da sua multiplicidade 
(ABDO, FLEURY, 2006). 
7.3 Exames complementares de diagnóstico 
Idealmente o diagnóstico deveria ser feito no recém-nascido. O exame dos 
genitais deveria ser incorporado na prática clínica de modo a prevenir a morbilidade 
associada ao hímen imperfurado. Apesar do diagnóstico ser clínico, a ecografia tem 
um papel importante no diagnóstico diferencial nos casos duvidosos, para exclusão 
de outras anomalias congénitas mais complicadas como por exemplo o septo vaginal 
obstrutivo ou agenésia mulleriana (Síndrome Rokitansky). 
 
36 
A ecografia pode ser realizada por via abdominal ou transperineal e pode 
mostrar a presença de hematocolpos, hematometra ou mesmo hematossalpinge 
quando o diagnóstico é realizado após a menarca. 
7.4 Tratamento 
Segundo Pinto (2010), o tratamento do hímen imperfurado é cirúrgico e passa 
pela realização de himenectomia. A decisão de intervir cirurgicamente depende dos 
sintomas. Os recém-nascidos com mucocelo sintomático devem ser tratados nessa 
altura. Nos casos assintomáticos as doentes devem ser tratadas após o início da 
puberdade uma vez que a estimulação estrogénica facilita o processo de cicatrização 
e regeneração da mucosa. Idealmente deve ser realizado de forma eletiva antes de 
se tornar sintomático, e não em regime de urgência quando estas complicações 
surgem. 
Nas adolescentes após a menarca que estão a aguardar o tratamento cirúrgico, 
a terapêutica médica com contraceptivos orais combinados de forma contínua é uma 
opção para evitar a acumulação de sangue e formação de um novo 
hematometrocolpos. 
A correção cirúrgica, realizada sob anestesia, tem como objetivo a excisão da 
membrana na sua totalidade para que se proceda a abertura do hímen sem lesão 
traumática e com o objetivo de manter o introito patente. Na presença de mucocelo 
ou hematocolpos, o hímen deve ser seccionado mas não removido de imediato. Assim 
procede-se à aspiração e lavagem do conteúdo obstruído, restabelecendo-se a 
anatomia funcional antes de se iniciar a reconstrução. Importante lembrar que durante 
a cirurgia poderá haver o risco de lesão da artéria lateral do pudendo com risco 
hemorrágico. 
A técnica preconizada consiste na incisão estrelada (preferencialmente às 2, 4, 
8 e 10h) do hímen, sendo a restante membrana removida. O objetivo da intervenção 
cirúrgica é criar um orifício vaginal de tamanho normal que não volte a encerrar após 
a cicatrização. 
Para tal, após a criação do orifício, a mucosa vaginal é suturada com um fio de 
reabsorção lenta, ao anel himenal. Se estiver presente um grande hematometrocolpos 
(Figura 1) o cirurgião deve estar preparado para evacuar o fluxo de sangue (Figura 2) 
 
37 
normalmente hemolisado, cor de chocolate, usando uma ou mais cânulas de 
aspiração. 
Alguns artigos recentes visam abordar algumas preocupações culturais 
relacionadas com a cirurgia clássica de himenectomia e a sua implicação na 
preservação da virgindade. 
Outra técnica, descrita como menos invasiva, é a realização de uma pequena 
incisão central, com a colocação de um cateter de Foley, que é então deixado durante 
duas semanas, acompanhado da aplicação de estrogénio tópico. No entanto, não foi 
descrita a perspectiva das doentes e a sua satisfação com este método. Esta técnica 
tem o risco de, ao ser criada uma pequena abertura com tecido himenal persistente, 
poder levar a estenose com formação de novo hematocolpus e/ou laceração no 
momento da primeira relação sexual, devido à rigidez dos tecidos após a cicatrização. 
Este é uma abordagem controversa, no entanto, as visões culturais e decisões 
pessoais devem ser abordadas e consideradas na escolha do método de tratamento. 
7.5 Prognóstico 
O prognóstico e a evoluçãoclínica em geral são bons, não estando descritos 
défices tanto em termos de função sexual como de fertilidade. Na grande maioria dos 
casos existe uma melhoria significativa no bem-estar global e na sexualidade após a 
correção cirúrgica do hímen imperfurado. 
8 IATROGENIA SEXUAL 
A palavra iatrogenia deriva da língua grega, sendo uma composição de 2 
termos – Iatros (que provém de Médico ou Curandeiro) e de Genia (que provém de 
Causa ou Origem). Assim sendo, a iatrogenia refere-se aos efeitos causados pelo ato 
de tentar curar ou tratar. Na realidade, sendo puristas, a iatrogenia não estará apenas 
relacionada com os efeitos adversos ou negativos da atitude em saúde, já que por 
definição pura linguística pode ser aplicada quer aos efeitos negativos como também 
aos positivos, sendo que ambos têm origem (genia) no ato de curar (iatros) (BARROS; 
FIGUEIREDO,2006). 
 
38 
No entanto, na sociedade atual, a iatrogenia aplica-se habitualmente ao ato 
médico que induz dano ou lesão como efeito colateral ou direto, embora a sua 
definição a torne aplicável a qualquer atitude profissional não médica dentro da vasta 
área da saúde (enfermagem, psicologia, técnicos auxiliares de ação médica, 
terapeutas, dentistas, técnicos de diagnóstico ou nutricionistas, entre outros). Neste 
capítulo, o termo iatrogenia será sempre aplicado aos aspetos negativos de 
determinada intervenção em saúde (BARROS; FIGUEIREDO,2006). 
As causas para a iatrogenia são inúmeras, desde o erro médico (no diagnóstico 
ou na terapêutica, p. ex.), passando pela negligência profissional, pela má 
interpretação da escrita duma prescrição médica, pelos efeitos cruzados entre 
diferentes medicamentos (expectáveis ou não), até aos danos colaterais 
condicionados por tratamentos cirúrgicos ou farmacológicos (como as 
hormonoterapias ou quimioterapias oncológicas, p. ex.). 
A iatrogenia é algo indissociável do ato de tratar. Todos os profissionais de 
saúde estão constantemente a avaliar a possibilidade de causarem algum dano ao 
seu doente enquanto se dedicam ao processo de tratar. Qualquer médico que 
prescreve um fármaco, como o caso dum antibiótico, sabe que poderá estar a medicar 
o seu doente com um fármaco que poderá não ser o mais indicado para o agente 
infecioso em causa pois pode não ter tempo para ter acesso ao diagnóstico 
microbiológico (que lhe permitiria escolher o antibiótico mais eficaz para aquele 
agente). 
Esta atitude, chamada de terapêutica empírica, é frequentemente aplicada, por 
exemplo, em situações limite de “life saving” ou em situações simples como as 
infeções urinárias baixas na mulher. Nestas situações, o clínico reconhece que poderá 
estar a contribuir para o desenvolvimento de resistências aos antibióticos por parte do 
agente infecioso mas decide apostar pelo melhor para o seu doente. 
Se tudo correr mal, o agente infecioso pode ser resistente à terapêutica 
prescrita e o seu doente vai agravar o seu estado de doença, pode também alterar a 
sua flora intestinal (contribuindo para o aparecimento de quadro de diarreia, com 
consequente desidratação) e pode acabar por elevar o grau de resistência do agente 
infecioso àquele antibiótico – em último grau, podemos afirmar que o profissional 
conduziu a iatrogenia no doente e a iatrogenia em termos de saúde pública. Quando 
tudo corre bem, este ato médico teve um desfecho positivo e, socialmente ninguém 
vai falar de iatrogenia, mas ela esteve sempre potencialmente presente. 
 
39 
Na decisão cirúrgica e no próprio ato cirúrgico, a iatrogenia é sempre algo 
incontornável. Um cirurgião que tenta decidir qual a melhor opção cirúrgica para o seu 
doente, não está mais do que a pesar o equilíbrio frágil entre a sua intenção de curar 
versus a possibilidade de causar danos durante a persecução dos seus objetivos. 
 
 
Fonte: Repositorio.hff.min.saude.pt 
 
Pode afirmar-se que todo o ato ou tentativa de tratar alguém, seja com simples 
apoio verbal, apoiado em expressão facial ou corporal, com fármacos ou com atos 
invasivos, assenta num constante balançar entre o bem que se pretende fazer e o mal 
que se pode desencadear. Este mal é a iatrogenia e o profissional de saúde deve 
estar bem atento à sua omnipresença. 
Por razões evidentes, relacionadas quer com o espectro de objetivos do autor 
deste capítulo, quer com aspetos pedagógicos, não se pretende realizar uma 
exaustiva explanação sobre a infindável temática da iatrogenia médico-cirúrgica. O 
intuito será a abordagem, de forma sucinta e clara, de alguns aspetos mais comuns e 
outros menos pensados da iatrogenia sexual, de forma que o leitor esteja ativamente 
mais atento e positivamente mais capaz de lidar com a situação. 
 
40 
Como o leitor irá verificar, grande parte da iatrogenia sexual foi anteriormente 
abordada em outros capítulos desta obra, sob a forma de diferentes entidades. 
Nesses capítulos, os seus autores foram explicando a fisiopatologia, a semiologia e 
as abordagens disponíveis para as diferentes patologias do foro da medicina sexual. 
Felizmente, este facto acabou por proporcionar ao autor a facilidade de poder agrupar 
grande parte dessas patologias no grande grupo da iatrogenia sexual, sem ter que 
correr o risco de ser redundante. 
8.1 Sexualidade e atitude do profissional de saúde 
 
Fonte: Sexualidade.com.br 
 
A sexualidade e tudo o que roda em torno desta têm sido alvos de má 
informação e intromissão por vários setores sociais. A sexualidade é explorada pelo 
marketing, pelos Media, pelas religiões ou pelo aparelho estatal de muitas nações 
como algo associado a violência, ao Poder, a demonstração sexista ou simplesmente 
ao lado sujo de sermos humanos. A carência de educação sexual escolar, a 
dificuldade de abordagem por parte dos pais, o fácil acesso a fontes de informação 
não fidedignas como o caso da Internet e a impreparação dos vários profissionais da 
saúde, dentre outros fatores, têm contribuído de forma violenta para a incapacidade 
de olhar para a sexualidade como algo simples, bonito, associado ao ato de viver e 
de ser-se feliz e, acima de tudo, como parte integrante da definição de saúde como 
um todo (ORGANIZAÇÃO MUNIDAL DA SAÚDE,2015). 
Felizmente, ao longo das últimas décadas, a sexualidade tem vindo a ganhar 
terreno face à ignorância e preconceitos sociais e profissionais. Historicamente, o 
 
41 
advento do Sildenafil (Viagra®- Pfizer) em 1998 veio recentemente dar um sério 
incremento quer à investigação científica básica e médica na área da sexualidade, 
quer à facilitação da discussão desta temática na sociedade em geral e na 
comunidade médica em particular. Juntamente com os avanços científicos nesta área, 
surgiram várias ferramentas úteis na avaliação da disfunção erétil (DE), algumas das 
quais são ainda utilizadas na prática clínica (p. ex. os questionários de 
autopreenchimento como o IIEF ou o SHIM). 
Cada vez mais, os profissionais de saúde estão atentos à temática da 
sexualidade humana. De tal forma que a valência da Medicina Sexual se tem tornado 
numa área em franca expansão mundial, abrangendo médicos, psicólogos, fisiatras, 
enfermeiros, farmacêuticos e outros profissionais de saúde. Da mesma forma, a 
comunidade científica em geral tem beneficiado com este positivo interesse na 
sexualidade, ao identificar fatores de risco modificáveis para a disfunção sexual, ao 
permitir que diferentes áreas médicas (como a cardiologia, a oncologia ou a 
diabetologia, entre outras) possam auxiliar o doente para lá do nicho profissional 
específico, contribuindo de forma conjunta e simbiótica para o bem-estar da esfera 
sexual dos doentes. 
Todavia ainda persiste alguma resistência por parte dos profissionais de saúde 
em abordar a temática sexual ou em ponderar que algumas das atitudes de 
intervenção clínica podem condicionar, per se, o surgimento de disfunções sexuais. 
Dentre as várias possíveis iatrogenias sexuais,iremos abordar: 
 
1) As iatrogenias sexuais secundárias à não intervenção/reconhecimento por 
parte dos clínicos nos fatores de risco pré-existentes para disfunção sexual 
(relacionadas com relação médico-doente); 
 
2) As iatrogenias sexuais secundárias a causas médicas (terapêutica 
farmacológica e patologia médica); 
 
3) As iatrogenias sexuais cirúrgicas (decorrentes de complicações do ato 
cirúrgico/invasivo). 
 
42 
8.2 Iatrogenia sexual relacionada com a relação médico-doente 
 
Fonte: Repositorio.hff.min.saude.pt 
 
A sexualidade do ser humano é algo muito complexo e multifatorial. A essência 
do comportamento sexual assenta em aspetos relacionados com a fisiologia, a 
psicologia e com fatores sócio culturais, que incluem as experiências sexuais 
adquiridas ao longo do desenvolvimento individual, a religião, a educação, a etnia e 
contextos geográficos, entre outros. Por outro lado, é essencial não esquecer que 
estamos a tratar duma interação entre seres humanos, dependente de todas as 
reconhecidas variáveis que afetam as relações interpessoais e a auto estima 
individual. Assim, é fácil compreender que a rede criada por todos estes fatores tende 
a dificultar a avaliação simplicista da sexualidade. 
Dentro dos aspetos bio-fisiológicos temos que compreender a importância da 
interação entre os sistemas vascular, endócrino, nervoso (e psíquico) e imunitário. 
Mas, para além destes fatores orgânicos, existe a importância da atitude do prestador 
de cuidados de saúde e da relação que este consegue estabelecer com quem 
necessita do seu apoio. 
Sempre que um profissional de saúde falha em diagnosticar ou reconhecer um 
aspeto específico da saúde do seu (ou sua) doente, o qual possa contribuir para 
precipitar, agravar ou desencadear uma disfunção sexual, este profissional está a ser 
 
43 
um fator de iatrogenia sexual. Em termos gerais, o que dizemos é que toda a atitude 
em saúde sexual tem potencial sério para provocar iatrogenia. Ao evitar ou 
negligenciar a colheita de dados para a elaboração duma anamnese sexual (desde a 
infância), estaremos a colocar de parte uma série de vivências sexuais que poderão 
ser de extrema relevância na avaliação do problema sexual de quem nos procura para 
auxílio (p.ex. seria importante reconhecer uma história de abuso sexual na infância, 
para poder gerir uma situação de aversão ao ato sexual ou de vaginismo; reconhecer 
as adolescentes que se recusam a utilizar um tampão vaginal por intolerância pode 
auxiliar ao diagnóstico de disfunções por hiperatividade do pavimento pélvico, as quais 
poderão evoluir posteriormente para vulvodinia e/ou dispareunia). 
Sabendo que existem uma série de fatores de risco em saúde que contribuem 
para o aparecimento de disfunção sexual (p. ex. para a DE), será estranho que não 
se intervenha nestes reconhecidos fatores de risco para compensar futuros 
desequilíbrios na esfera sexual. A esta atitude podemos associar a noção de 
iatrogenia sexual por omissão de cuidados de saúde. 
 
 
Fonte: Repositorio.hff.min.saude.pt 
 
 
44 
A simples intervenção em fatores de risco tão simples como os estilos de vida, 
com redução do stress, a realização de atividade física regular, a redução de peso e 
evicção de tabaco, tem um enorme e reconhecido impacto positivo na abordagem da 
DE e em outras disfunções sexuais. 
A relação médico-doente é basilar para que a correta avaliação da vida sexual 
seja realizada. É nesta relação que recai toda a capacidade de empatia com o doente 
e vice-versa, sendo que a colheita de dados da vida sexual tornar-se-á numa tarefa 
particularmente difícil, até impossível, caso esta relação esteja comprometida. 
Qualquer decisão em saúde, que se espere poder acarretar consequências 
colaterais negativas (optar por determinada cirurgia, optar por um tratamento de 
radioterapia ou quimioterapia, ou simplesmente optar por vigiar determinada situação) 
terá um melhor desfecho quando assente numa boa relação médico-doente. 
Simplesmente porque há confiança e respeito mútuos e porque estes aspetos 
possibilitaram a total e honesta explanação das possíveis complicações, para além 
dos objetivos pretendidos. 
Quem busca auxílio na área da medicina sexual, não pretende seguramente 
encontrar um profissional de saúde que não demonstre abertura para escutar as 
queixas, interesse em querer saber mais ou que que emita juízos de valor face aos 
dados expostos. Por outro lado, o desconhecimento de temas de Medicina sexual, ou 
a simples sensação de não estar à vontade em discutir estes assuntos por parte do 
profissional, conduzem frequentemente a situação de evicção/ distanciamento 
propositado por parte deste e/ou à falsa (e perigosa) noção por parte do doente, de 
que o profissional não tem nada a oferecer para seu auxílio ou apresenta um caso 
sem solução (“beco sem saída”). 
Até o comportamento físico (expressão facial, cruzamento de braços ou o evitar 
de olhar diretamente nos olhos do doente, p.ex.) pode condicionar percepções 
negativas por parte de quem busca ajuda. Se tivermos em ideia que apenas 30% dos 
indivíduos com DE procuram auxílio médico e que estes demoram, em média, cerca 
de 3-5 anos até terem coragem para enfrentar a sua situação e expô-la a um 
profissional de saúde, estes aspetos aparentemente menores do nosso 
comportamento em consulta/avaliação adquirem uma nova dimensão de importância. 
 
 
45 
 
Fonte: Repositorio.hff.min.saude.pt 
 
Alguns dos requisitos básicos para uma boa relação médico doente em 
contexto de Medicina sexual são expostos no seguinte listagem. 
Lista 1. Requisitos básicos na relação do profissional de saúde com o/a doente 
em contexto de Medicina Sexual: 
 Espírito aberto, atitude de escuta ativa 
 Foco em maximizar auxilio ao/à doente 
 Tratar a sexualidade como trataria qualquer outro assunto de saúde 
(sem exagerar na importância nem subvalorizando a mesma) 
 Profundo conhecimento/domínio de temas da medicina sexual 
 Reconhecimento dos próprios receios e/ou limitações (éticas, religiosas, 
etc) por parte do profissional 
 Ambiente descontraído e espaço físico que respeite dignidade humana 
e confidencialidade dos dados 
 Isenção de juízos de valor / neutralidade 
 Evicção de personalizar ou elaborar comparações com a sua própria 
esfera sexual 
 
46 
 Utilização de terminologia adequada ao contexto sócio profissional do/a 
doente 
 Não deixar espaço para ideias/conceitos vagos que possam induzir 
percepção errónea – clareza e objetividade no discurso 
 Colheita de história sexual o mais completa possível 
 Não demonstração de pressão temporal na avaliação (os temas da 
sexualidade requerem tempo e disponibilidade sem cronómetros) 
8.3 Iatrogenia sexual secundária a causas médicas (terapêutica farmacológica 
e patologia médica) 
Existem múltiplas vias pelas quais a atitude de tratar um problema de saúde 
pode complicar, conduzindo a nova situação de patologia ou agravando patologia pré 
existente. Nas linhas acima, falou-se da relação médico-doente (entendendo-se o 
termo médico como aplicável a qualquer profissional prestador de cuidados de saúde) 
e da importância desta na iatrogenia sexual. Agora iremos abordar uma via 
particularmente comum de origem de iatrogenia sexual – as várias patologias de cariz 
não cirúrgico (médicas) e a terapêutica farmacológica. 
A iatrogenia secundária a terapêutica farmacológica será discutida um pouco 
mais adiante. As patologias médicas têm interesse nesta área, não como iatrogenia 
sexual direta mas pela importância que estas apresentam na génese das múltiplas 
disfunções sexuais e pelo impacto negativo que a falha no seu reconhecimento e 
diagnóstico acarreta. Esta falha é considerada como iatrogenia sexual. 
Não pretendendo a descrição exaustiva das várias patologias médicas que 
podem conduzir a disfunção sexual, opta-se pelo elencar das mais

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