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Topologia Diferencial: Caṕıtulo 2 - Ferramentas Prof. Alexander Arbieto 13 de fevereiro de 2008 1 Introdução Neste caṕıtulo iremos estudar três ferramentas que serão amplamente usadas no resto da teoria. A primeira é uma técnica de gerar funções globais a partir de colagem de diversas funções locais que não necessariamente coincidem nas interseções dos seus domı́nios de definição, a ferramenta a ser usada é conhecida como partição da unidade. A segunda é conhecida como técnica de regularização, começando com uma função não muito regular (cont́ınua por exemplo) veremos que é posśıvel obter uma outra função mais regular do que a inicial (C∞ por exemplo) que está tão próxima quanto queiramos da função original1. A terceira é conhecida como o teorema de Sard. Vimos que ao encontrar val- ores regulares de uma função a imagem inversa deste valor é uma subvariedade, uma pergunta natural é como conseguir de fato valores regulares, o teorema de Sard fará isto para nós. Em seguida veremos uma aplicação importante do teorema de Sard que é o teorema de Whitney. Este teorema diz que toda variedade diferenciável por mais que seja abstrata ela vive em algum espaço euclidiano (mesmo que a dimensão deste espaço seja suficientemente grande). Outra aplicação interessante destes argumentos, será uma demonstração do teorema fundamental da Álgebra. No decorrer de algumas provas, usaremos o conceito de norma de um vetor tangente, isto será posśıvel por que nas situações onde isto for usado, estaremos trabalhando com superf́ıcies do Rn. Para generalizar este conceito para var- iedades quaisquers, iremos estudar métricas Riemannianas, e mostrar que estas existem em qualqer variedade. Finalmente terminaremos o caṕıtulo com um contra-exemplo do teorema de Sard quando a hipótese de regularidade da aplicação não for satisfeita. Daqui pra frente, TODAS as variedades são Hausdorff e separáveis (a não ser que seja especificado no texto). 1Aqui a topologia na qual queremos a proximidade é importante, veremos isso mais adiante 1 2 Colando funções: Partições da Unidade Primeiramente vamos construir funções bump: Lema 2.1. Para todos b > a > 0 existe uma funçao λ : Rn → [0, 1] C∞ e radial2 dita função bump tal que: 1. λ(x) ≡ 1 se ‖x‖ ≤ a. 2. 0 < λ(x) < 1 se a < ‖x‖ < b. 3. λ(x) = 0 se ‖x‖ ≥ b. Demonstração. Seja α função na reta C∞ tal que α(x) = e− 1 y2 se y > 0 e α(y) = 0 se y ≤ 0. Considere a função β(y) = α(y − √a)α( √ b − y) e defina a funçao C∞ : γ(y) = ∫ y√ a β ∫√b√ a β . A função procurada é então λ(x) = γ(‖x‖2). O suporte de uma função cont́ınua é por definição o conjunto Supp(f) = {x; f(x) 6= 0}. A próxima definição é a mais importante desta seção: Definição 2.2. Seja M uma variedade Cr e U = {Ui}i∈Λ uma cobertura de M por abertos. Dizemos que a famlia {ξi : M → [0, 1]}i∈Λ de funções Cr é uma partição da unidade subordinada a cobertura U se: 1. Supp(ξi) ⊂ Ui, 2. {Supp(ξi)} é uma cobertura localmente finita3, 3. ∑ i ξ(x) = 1. 4 Obviamente queremos construir partições da unidade, começamos então com os seguintes lemmas: Lema 2.3. Seja r > 0 qualquer. Todo ponto de x ∈ M possui cartas locais em U = viz(x) e V = viz(x) tais que, ϕ : U → Rn é sobrejetiva e ψ : V → B(0, r) ⊂ Rn também é sobrejetiva. Demonstração. Seja ϕ̃ : Ũ → Rn uma carta qualquer onde y = ϕ̃(x). Então existe uma bola de raio ε U0 = B(y, ε) ⊂ ϕ̃(Ũ) vamos definir U := ϕ̃−1(U0). Seja então θ : B(y, ε) → Rn um difeomorfismo C∞ tal que θ(y) = 0. Então definimos ϕ = θ ◦ ϕ̃ : U → Rn sobrejetiva, V = ϕ−1(B(0, r)) e ψ = ϕ|V : V → B(0, r) também sobrejetiva 2Isto é, so depende de ‖x‖. 3Isto é para todo x existe uma vizinhança viz(x) tal que a cardinalidade dos i´s tal que ξi 6= 0 é finita 4Note que esta soma é sempre finita e que {int(Supp(ξi))} forma uma cobertura localmente finita 2 Lema 2.4. Seja V = {Vα}α∈A uma cobertura de M que refina U = {Ui}i∈Λ, isto é, para todo Vα existe Ui tal que Vα ⊂ Ui. Se V possui partição da unidade Cr então U também possui. Demonstração. Seja {ξα} partição da unidade de V e seja a função f : A → Λ definida por Vα ⊂ Uf(α). Considere as funções µi : M → [0, 1] dadas por: µi(x) = ∑ α∈f−1(i) ξα(x). Queremos mostrar que {µi} é a partição da unidade procurada. Note que se µi(x) 6= 0 então i = f(α) tal que ξα(x) 6= 0, e como {Supp(ξα) é localmente finita então {Supp(µi)} também é localmente finita. Observe também que se x /∈ Ui então x /∈ Vα tal que f(α) = i e portanto Supp(µi) ⊂ Ui. Finalmente, ∑ i µi(x) = ∑ α ξα = 1. Teorema 2.5. Seja M uma variedade Cr então toda cobertura U = {Ui}i∈Λ de M por abertos possui partição da unidade Cr. Lema 2.6. Existe um atlas (ϕα, Vα)α∈A tal que {Vα} é uma cobertura local- mente finita que refina U onde Vα são compactos de M e ϕα(Vα) é limitado. Demonstração. Note que M é localmente compacta, Hausdorff e separável. Logo por um teorema de topologia geral M possui uma exaustão por compactos Ki 5 Agora pelo lema mostrado anteriormente e a compacidade, K2 é coberto por um número finito de abertor Vα que possuem cartas locais ϕ : Vα → B(3) ⊂ Rn sobrejetivas, tais que W = ϕ−1(B(1)) ainda cobrem K2, Vα ⊂ K3 e para todo α existe i tal que Vα ⊂ Ui. Da mesma maneira, K3 − int(K2) é compacto e também é coberto por um número finito de (ϕ, Vα) tal que W = ϕ−1(B(1)) é cobertura de K3 − int(K2), Vα ⊂ K4 −K1 e exitem Ui´s contendo cada Vα. Repetindo por induçao para Kj+1 − int(Kj) obtemos uma cobertura enu- merável W obtida pelos W ’s que refina U , é localmente finita e satisfaz as outras propriedades do lemma. Prova do Teorema. Seja V = {Vα} a cobertura dada pelo lema anterior e W a cobertura mais fina que V dada pela prova do lema. Logo ϕα(Wα) ⊂ Rn é a bola de raio 1. Agora tome a função bump λ : Rn → [0, 1] tal que λ(x) > 0 se e somente se x ∈ int(B(1)). Constrúımos então µα : M → [0,∞) dada por µα(x) = λ◦ϕα(x) se x ∈ Vα e 0 se x ∈ M − Vα. Note que µα é Cr, positiva em Wα e Supp(µα) ⊂ Vα. Logo ξα := µαP α µα é partição da unidade Cr subordinada a cobertura V. Como esta refina U o teorema segue do lema 2.4. 5Isto é, Ki ⊂ int(Ki+1) e S Ki = M . 3 Como dissemos antes o principal uso das partições da unidade é colar mapas definidos localmente e criar um mapa global. Isto é, seja {Ui}i∈Λ uma cobertura aberta de M e gi : Ui → Rn mapas Cs. Considere {ξi} partiçao da unidade Cs subordinada a esta cobertura. Então a aplicação g : M → Rn dada por: g(x) = ∑ {i∈Λ;x∈Ui(x)} λi(x)gi(x) é um mapa Cs definido em todo M e coincide com os gi’s em certos abertos contidos estritamente no Ui correspondente, ou seja, no aberto onde ξi ≡ 1. Exemplo 2.7. Seja M é variedade Ck e F, G fechados de M disjuntos. Então {M − F,M − G} é cobertura aberta de M e seja {ξ1, ξ2} partição da unidade associada. Então observe que ξ1 é uma função Ck tal que ξ1|F ≡ 0 e ξ1|G ≡ 1. Proposição 2.8. Seja F ⊂ M um fechado de uma variedade Ck. Existe uma função Ck f : M → R tal que f−1(0) = F . Demonstração. Vamos supor primeiramente que F ⊂ Rm é compacto, depois fazemos o caso geral. Sejam Vi = {x ∈ Rn; d(x, F ) < 1i } abertos encaixados tais que F = ⋃ i Vi. Pelo exemplo anterior, existem funções fi : Rm → [0, 1] Ck tais que fi|K = 0 e fi|Rn−Vi = 1. Como fi é constante for do compacto Vi temos que Dj(fi) tem suporte compacto e portanto são limitadas, isto é, existem Mij tal que ‖Djfi(x)‖ ≤ Mij se j = 0, . . . k6. Considera constantes 0 < cij < 12iMij tais que ci,j+1 ≤ cij (construa os cij ’s!). Então para todo j temos que ∑ i cijD jfi é dominado pela série geométrica, portanto converge. Seja ci := cii então para todo i > j temos que ci ≤ cij . E portanto ∑ ciD jfi convergem uniformmente para todo j ≤ k. Então f = ∑ cifi é função Ck tal que se x ∈ K então f(x) = ∑ i cifi(x) =∑ i ci.0 = 0 e se x /∈ K então x ∈ Rm − Vi para algum i e portanto fi(x) 6= 0 e dáı f(x) 6= 0. Eisso termina o caso particular. No caso geral seja U uma cobertura localmente finita formada por cartas locais tal que Ui = ϕ−1i (B(3)), Vi = ϕ −1 i (B(2)) e Wi = ϕ −1 i (B(1)). Sejam então Ki = Wi ∩ F ⊂ Vi compactos tais que ⋃ i Ki = F . Compondo com cada carta local ϕi e usando o caso anterior temos fi : M → R função Ck tal que f(M − Vi) = 1 e f−1i (0) = Ki. Finalmente, considere a função f : M → R dada por f(x) = ∏i fi(x).7 Finalmente, f(p) = 0 se, e somente se, existe i tal que fi(p) = 0, ou seja que p ∈ Ki e portanto se, e só se, p ∈ F . 3 Regularizando funções: Convolução e Molli- fiers Definição 3.1. Se η : Rn → R tem suporte compacto, dizemos que σ é o raio de suporte de η se σ é o menor dos r’s tais que Supp(η) ⊂ B(0, r). 6Aqui D0fi(x) = fi(x) por definição e tome Mi0 = 1 7Observe que este produto é finito porque cada ponto de M tem vizinhança que intersecta um número finito de {Ui}’s onde as fi’s são iguais a 1. 4 Definição 3.2. Seja η : Rn → R uma função com raio de suporte σ e f : U ⊂ Rm → Rn. Defina Uσ = {x ∈ U ; B(x, σ) ⊂ U}, a convolução de f com η é a aplicação η ∗ f : Uσ → Rn definida por: η ∗ f(x) = ∫ B(0,σ) η(y)f(x− y)dy.8 Definição 3.3. Dizemos que uma função η : Rm → R é um mollifier (ou núcleo de convolução) se η ≥ 0, tem suporte compacto e ∫Rm η(x)dx = 1. Exerćıcio 1. Mostre que para todo σ > 0 existe um mollifier C∞ cujo raio de suporte é σ. Considere as normas ‖f‖r,K = sup{‖Dif(x)‖; x ∈ K e 0 ≤ i ≤ r}, onde K ⊂ U são compactos e f : U → Rn9. Teorema 3.4. Seja η : Rm → R com raio de suporte σ > 0 e U ⊂ Rm aberto e f : U → R função cont́ınua. Então: 1. Se η|int(Supp(η)) é Ck então η ∗ f é Ck e Dk(η ∗ f) = (Dkη) ∗ f . 2. Se f é Ck então Dk(η ∗ f) = η ∗Dkf . 3. Se f é Cr (0 ≤ r ≤ ω), K ⊂ U é compacto e ε > 0 existe σ > 0 tal que K ⊂ Uσ e se η é um Cs mollifier com raio σ e s ≤ r então η ∗ f é Cs e ‖η ∗ f − f‖r,K , ε. Demonstração. As duas primeiras afirmações seguem do teorema de derivação sob o sinal da integral. Para provar a terceira afirmação, como d(K,Rm−U) > 0 temos que existe σ tal que K ⊂ Uσ. Por continuidade uniforme, se σ é pequeno então x ∈ K e ‖x−y‖ ≤ σ implicam |f(x)−f(y)| < ε e ‖Djf(x)−Djf(y)‖ ≤ ε com j = 1, . . . , k. Agora como ∫ Rm η = 1 temos que: |η∗f−f | = | ∫ η(y)(f(x−y)−f(x)dy| ≤ ∫ B(0,σ) η(y)|f(x−y)−f(x)|dy ≤ ε ∫ η = ε. E da mesma forma temos que: ‖Dj(η ∗ f)−Dj(f)‖ ≤ ∫ η(y)‖Djf(x− y)−Djf(y)‖dy ≤ ε. Exerćıcio 2. Outra maneira equivalente de obter aproximação é a seguinte, se η : B(0, 1) ⊂ Rn → [0, 1] é função C∞ tal que ∫ η = 1, definindo ηε(x) = ε−nη(xε ) então se f é C k temos que ηε ∗ f é C∞ e ‖ηε ∗ f − f‖k,K → 0 quando ε → 0 e isso vale para qualquer K compacto. 8De fato como o integrando é 0 em ∂B(0, σ) podemos integrar em todo o Rm, obtendo o mesmo resultado e por mudança de variáveis vemos que η ∗ f(x) = RRm η(x− z)f(z)dz. 9Lembra que se S : Rm× · · · ×Rm → Rn é multilinear então ‖S‖ é definido como o menor número C tal que ‖S(y1, . . . , ym)‖ ≤ C‖y1‖ . . . ‖yn‖. 5 Como dissemos antes, este resultado permite usar funções diferenciáveis ao invés de funções cont́ınuas, desde que o que queremos seja invariante por pe- quenas perturbações. Veremos muitas aplicações deste fato quando estudarmos espaços de funções e teoria do grau. 4 Achando valores regulares: O teorema de Sard Definição 4.1. Um n-cubo C ⊂ Rn de lado λ é um subconjunto do Rn da forma C = n∏ i=1 Ii = n∏ i=1 [ai, ai +λ] onde ai ∈ R. Denotaremos a medida de Lebesgue do Rn por µ. Então a media de Lebesgue do n-cubo de lado λ é µ(C) = λn. Definição 4.2. Um subconjunto X ⊂ Rn tem medida nula se para todo ε > 0 existe uma cobertura de X por n-cubos cuja soma das medidas é menor que ε. Exerćıcio 3. Sejam {Xi}∞i=1 subconjuntos do Rn. Se µ(Xi) = 0 para todo i = 1, . . . ,∞ então µ( ∞⋃ i=1 Xi = 0. E µ(X) = 0 somente se para todo y ∈ X existe U uma vizinhança de y tal que µ(U ∩ X) = 0. (Dica: Na segunda afirmação use o teorema de Lindelöf) Lema 4.3. Seja U ⊂ Rn aberto e f : U → Rn aplicação C1. Se X ⊂ U tem medida nula então µ(f(X)) = 0. Demonstração. Seja y ∈ X e V = viz(y) ⊂ U tal que ‖Df(x)‖ ≤ K para todo x ∈ V . Seja C ⊂ V um n-cubo de lado λ então pelo teorema do valor médio f(C) está contido dentro de um n-cubo C ′ de lado menor que √ nKλ e portanto µ(C ′) < ( √ nK)nµ(C). Seja então X ⊂ ∞⋃ j=0 onde cada Xj está contido em uma das vizinhanças con- sideradas acima. Então para todo ε > 0 temos que Xj ⊂ ⋃∞ k=1 C k j e ∞∑ k=1 µ(Ckj ) < ε. Dáı pelo que vimos antes existem n-cubos Ckj ’ tais que f(Xj) ⊂ ∞⋃ k=1 Ckj ’ tais que ∞∑ k=1 µ(Ckj ’) < ( √ nKj)nε. Portanto µ(f(Xj)) = 0 e então µ(X) = 0. Exerćıcio 4. Se X ⊃ C onde C é um n-cubo então µ(X) 6= 0. Logo se µ(X) = 0 então int(X) = ∅. Em particular se X é σ-compacto10 e µ(X) = 0 temos que X é magro11 Agora estendemos a noção de medida nula para variedades através das car- tas. Definição 4.4. Seja Mn uma variedade e X ⊂ M dizemos que µ(X) = 0 se para toda carta local (ϕ,U) temos que µ(ϕ(U ∩ X)) = 0. As vezes iremos escrever µn(X) = 0 para enfatizar que a medida de Lebesgue nas cartas é n-dimensional. 10União enumerável de conjuntos compactos. 11União enumerável de conjuntos fechados com interior vazio. 6 Lema 4.5. Sejam Mm, Nn variedades Cr (r ≥ 1) onde m < n. Se f : M → N é C1 então f(M) tem medida de Lebesgue em N (i.e. n-dimensional) nula. Em particular tem interior vazio. Demonstração. Por definição basta ver o problema em cartas locais. Seja U ⊂ Rm e g : U → Rn uma aplicação C1 onde por hipótese m < n. Identificando U com U × 0 ⊂ U × Rn−m ⊂ Rn, seja h : U × Rn−m → Rn dada por h = g ◦ π1 (onde π1 é a projeção no primeiro fator). Temos que h é C1 e pelo lema 4.3 como µm(U × 0) = 0 temos que µn(g(U)) = 0. E portanto µ(f(M)) = 0. Vamos relembrar e estabelecer algumas notações: Definição 4.6. Seja f : M → N apliação C1 um ponto x ∈ M é cŕıtico se Dxf não for sobrejetora. Denotamos Σf = {x ∈ M ; x é ponto cŕıtico de f}. E portanto N − f(Σf ) é conjunto de valores regulares. Definição 4.7. Seja W ⊂ Rn um operador diferencial de ordem 1 é uma aplicação L : C∞(W,R) → C∞(W,R) dada por Lg(x) = ∂g∂xi para algum i ∈ {1, . . . , n}. Um operador diferencial de ordem k é uma composição de k operadores difer- enciais de ordem 1, neste caso denotamos ord(L) = k. Note que o conjunto de todos os operadores diferenciais (com esta definição) é um conjunto enumerável. Teorema 4.8 (Sard). Sejam Mm, Nn variedades Cr e f : M → N um mapa Cr. Se r > max{0,m− n} então µn(f(Σf )) = 0. Em particular o conjunto de valores regulares de f é denso. Vamos fazer a prova apenas no caso C∞, que será suficiente para nossos propósitos. Porém em seguida faremos um esboço de um exemplo que mostra que a hipótese de diferenciabilidade de f não pode ser melhorada. Demonstração. Sabemos que basta provar o teorema localmente, logo podemos trabalhar com a aplicação C∞ f : W ⊂ Rn → Rn e vamos denotarr f(x) = (f1(x), . . . , fn(x)). Se m < n então o lema 4.5 mostra que µ(f(W )) = 0 e com mais forte razão µ(f(Σf )) = 0. Logo iremos supor também m ≥ n. Vamos decompor o conjunto Σf em três conjuntos: Σ1 = {x ∈ Σf ; Lfi(x) = 0; ∀ op. dif’l L tal que ord(L) ≤ m n e i = 1, . . . , n} Σ2 = {x ∈ Σf ; Lfi(x) 6= 0; para algum op. dif’l L tal que ord(L) ≥ 2 e algum i} Σ3 = {x ∈ Σf ; ∂fi ∂xj (x) = 0; para alguns i, j em {1, . . . , n}} Afirmação 1. µ(f(Σ1) = 0. Demonstração. Seja j o menor inteiro maior que mn . Se x ∈ Σ1 então os primeiros termos do polinômio de Taylor se anulam e portanto, existe uma vizin- hança U = viz(x) tal que se p ∈ Σ1∩U e q ∈ U então ‖f(p)−f(q)‖ ≤ C‖p−q‖j . Logo tomando U como m-um cubo de lado λ basta provar que µ(f(U∩Σ1)) = 0. 7 Seja s ∈ N qualquer e vamos dividir U em sm cubos de lado λ/s, e chamemos {Ck}tkk=1 os cubos obtidos que intersectam Σ1 (logo tk ≤ sm). Então Ck está contida numabola de raio (λs ) √ m centrada em algum ponto de U ∩ Σ1 e pela estimativa acima f(Ck) está contido em algum n-cubo Ck’ cujo lado é pelo menos 2C(λs √ m)j . Portanto: σ(s) = ∑ k µ(C ′k) ≤ (sm)(2C( λ s √ m)j)n = sm−jn(2C(λ √ m)j)n → 0. Quando s →∞, pois m− jn < 0. E isto mostra que µ(f(U ∩ Σ1)) = 0. Note que a afirmação prova o teorema de Sard no caso m = 1 (pois estamos supondo sempre m ≥ n) e portanto Σ1 = Σf . Provaremos então o teorema de Sard usando indução em m. Logo vamos supor a tese válida para qualquer mapa C∞ g : P → Q onde dimP < m. Afirmação 2. µ(f(Σ2 − Σ3)) = 0. Demonstração. Para todo ponto x ∈ Σ2 − Σ3, por definição destes conjuntos, existe um operador diferencial L e i, j tais que Lfi(x) = 0 e ∂∂xj Lfi(x) 6= 0. E portanto Σ2 − Σ3 se decompõe em uma união enumerável de conjuntos Xi,j,L. Seja X um destes conjuntos. Então 0 é um valor regular para a aplicação Lfi : W → R e é uma aplicação C∞, e portanto X é uma hipersuperf́ıcie C∞ de Rm e como o espaço tangente de X coincide com o núcleo da derivada de Lfi temos que Σf ∩X = Σf |X . Mas pela hipótese de indução µ(f(Σf |X )) = 0 e portanto µ(X) = 0. Como a quantidade de tais conjuntos X é enumerável temos que µ(f(Σ2 − Σ3)) = 0. Afirmação 3. µ(f(Σ3)) = 0. Demonstração. Seja x ∈ Σ3 então existem U ⊂ W , i e j tais que ∂fi∂xj 6= 0, logo pela forma local das submersões podemos tomar U tal que existe um difeo- morfismo C∞ h : A × B ⊂ Rm−1 × R → U tal que fi ◦ h = π2, ou seja, fi(x1, . . . , xm−1, t) = t nestas coordenadas. Obviamente podemos reordenar os ı́ndices tal que i = n e portanto f |U (x, t) = (ut(x), t) onde x ∈ Rm−1 e ut : A → Rn−1 é C∞ (de fato, depende C∞ em t também). Novamente, (x, t) é cŕıtico de f se, e só se, x é cŕıtico de ut. Por- tanto Σf ∩ (A× B) = ⋃ t∈B Σut × {t}. Mas como dim(A) = m − 1, por indução µn−1(ut(Σut)) = 0. Finalmente pelo teorema de Fubini temos que: µn( ⋃ t∈B f(Σut × {t})) = ∫ B µn−1(f(ut(Σut)))dt = 0. E portanto µ(f(Σ3 ∩ U)) = 0. O que termina a prova da afirmação e também do teorema. 8 5 Aplicação: O teorema de Whitney Nesta seção mostraremos que toda variedade compacta de fato pode ser vista como uma subvariedade de algum espaço euclidiano. De fato iremos mostrar que ela é mergulhada em algum espaço euclidiano. Tal teorema ajuda a provar certos resultados que permitam usar a imagem do mergulho ao invés da variedade em si (por exemplo, o fibrado tangente de superf́ıcies no Rn tem uma descrição bem mais simples). Porém este teorema NÂO permite reduzir o estudo de variedades compactas ao estudo de subvariedades do Rn. A razão disto é que o mergulho que obtemos não é canônico12. Lema 5.1. Seja N uma variedade Cr (com r ≥ 1). Um subconjunto A ⊂ N é uma subvariedade Cr de N se, e só se, A é imagem de algum mergulho Cr. Demonstração. Se A é subvariedade, vimos que a inclusão é um mergulho, por definição. Por outro lado se A é imagem de algum mergulho f : M → N . Como a propriedade de ser subvariedade é local, podemos reduzir o problema a cartas locais. Logo, basta considerar o caso f : U ⊂ Rm → Rn em coordenadas dadas pela forma local das imersões. Segue que f(U) é subvariedade e finalmente como f é um homeomorfismo sobre sua imagem as estruturas diferenciáveis locais colam uma com as outras. O Lema diz que a propriedade de ser subvariedade, que é de natureza local, é equivalente a propriedade de ser imagem de algum mergulho, que é de natureza global. Teorema 5.2. Seja Mn uma variedade compacta de classe Cr (1 ≤ r ≤ ∞). Então existe q ∈ N e um mergulho f : M → Rq de classe Cr. Demonstração. Por compacidade e argumentos vistos anterioremente, existe um atlas finito (ϕi, Ui) i = 1, . . .m tal que ϕi(Ui) ⊃ B(2) e int(ϕ−1i (B(1))) ainda cobre M . Seja λ função bump que vale 1 em B(1) e 0 no complementar de B(2). Considere as funções Cr λi : M → [0, 1] dadas por λ ◦ ϕi em Ui e que se anulam em M − Ui. Por construção os conjuntos Ci = λ−1i (1) formam uma cobertura de M . Seja então fi : M → Rn aplicações Cr dadas por λi(x)ϕi(x) se x ∈ Ui e que se anulam em M − Ui. Tome gi = (fi, λi) : M → Rn+1 aplicação Cr e finalmente g = (g1, . . . , gm) : M → Rm(n+1) também aplicação Cr. Dado qualquer x ∈ M temos que x ∈ Ci para algum i e nesse caso fi é imersão em x, logo gi é imersão e por mais forte razão g é imersão em x. Além disso se y 6= x, ou y ∈ Ci, e nesse caso fi(x) 6= fi(y) o que implica g(x) 6= g(y) ou x /∈ Ci e portanto λi(y) 6= 1 = λi(x) e novamente g(x) 6= g(y). Logo g é uma imersão injetiva e como está definida num compacto é um mergulho. (prove!) 12Assim como ocorre por exemplo com espaços tangentes em pontos diferentes de uma variedade, como eles tem mesma dimensão ambos são isomorfos, mas tal isomorfismo não é canônico, depende da escolha das bases em cada espaço tangente, o que impede de trivializar globalmente o fibrado tangente em geral 9 Teorema 5.3 (Whitney). Seja Mn uma variedade compacta de classe Cr onde 2 ≤ r ≤ ∞. Então existe um mergulho f : M → R2n+1 de classe Cr. Demonstração. Sabemos que M mergulha em algum Rq. Se q ≤ 2n + 1 o teorema esta provado. Vamos supor então que q > 2n + 1 e vamos obter um mergulho de M em Rq−1. Isto claramente prova o teorema. Vamos identificar Rq−1 como o hiperplano {xq = 0} de Rq. Para todo v ∈ Rq − Rq−1 podemos definir a projeção sobre Rq−1 paralela a v da seguinte forma fixe uma base {e1, . . . , eq−1} de Rq−1 e portanto todo vetor w se escreve como av + a1e1 + · · · + aq−1eq−1 defina então fv : Rq → Rq−1 como f(w) = a1e1 + · · · + aq−1eq−1. Se encontrarmos v com ‖v‖ = 1 tal que fv é mergulho, acabou. Para isso, por compacidade de M basta mostrar achar v tal que fv é imersão injetiva. A injetividade seguirá se para todo x 6= y em M tivermos v 6= x−y‖x−y‖ (senão ambos x e y seriam projetados no mesmo ponto). Como fv é linear, sua derivada e ela própria e portanto para obter a propriedade de imersão queremos que TxM ∩ ker(fv) = {0}. E isto ocorre se para todo z ∈ TxM{0} e todo x ∈ M tivermos v 6= z‖z‖ 13. Seja ∆ = {(x, x); x ∈ M} ⊂ M ×M um conjunto fechado de M ×M . Logo M ×M −∆ é um aberto e portanto uma variedade de dimensão 2n. Considere o mapa Cr σ : M ×M −∆ → Sq−1 dado por σ(x, y) = x−y‖x−y‖ . Como 2n < q−1 o lema 4.5 diz que a imagem de σ tem medida nula, em particular tem interior vazio. Considere então o fibrado tangente unitário T1M = {(x, v) ∈ TM ; ‖v‖ = 1}, é um exerćıcio mostrar que este subconjunto é de fato uma subvariedade de classe Cr−1 de TM com dimensão 2n− 114. Além do mais ela é compacta caso M seja compacto. Considere então a aplicação τ : T1M ⊂ M × Sq−1 ⊂ M × Rq → Sq−1 dada por τ(x, v) = v uma aplicação Cr−1. Como dim(T1M) = 2n − 1 < dim(Sq−1) novamente pelo lema 4.5 temos que a imagem de τ também tem medida nula e portanto tem interior vazio. Mais ainda como T1M é compacto temos que W = Sq−1−τ(T1M) é um aberto denso de Sq−1. Portanto o conjunto W∩(Rq−Rq−1) também é aberto denso de Sq−1 e portanto contêm algum v que não está na imagem de σ. Encontramos nosso vetor e com isso o teorema está demonstrado. Observação 5.4. Note que a prova do teorema diz também que M é imersa em R2n. Pode-se provar de fato, porém com mais dificuldade, que toda variedade M paracompacta e Hausdorff mergulha em R2n e é imersa em R2n−1. Isto é o melhor que se obtem pois um teorema de Alexander, mostra que a garrafa 13Aqui estamos encarando M como subvariedade de Rq e neste caso TM é visto como subvariedade de TRq = R2q . 14Considere o mapa ν : TM → R dado por ν(v) = ‖v‖2 (no presente caso, a norma está bem definida porque podemos supor que são vetores de Rq no caso geral use uma métrica Riemanniana, a ser visto logo em seguida) note que esta aplicação é Cr−1 e que 1 é um valor regular. 10 de Klein (variedade compacta não orientável de dimensão 2) não pode ser mer- gulhada em R3, porém ela é imersa em R3 mas com auto-interseções. Este mergulhoé clássico e ocorre em diversas figuras em livros por áı afora. O teo- rema de Alexander pode ser encontrado em livros de topologia ou geometria. Vou procurar uma referência. Observação 5.5. O teorema ainda é válido no caso r = 1, note que para usar- mos o lema 4.5 precisamos pelo menos C1 e ao passar pro fibrado tangente já hav́ıamos perdido uma derivada, logo a prova é de fato C2 pelo menos. Mais ainda, com certas adaptações pode-se provar que uma versão do teorema de Whitney vale no caso r = 0 e mesmo para espaços métricos compactos. O teo- rema vale também no caso Cω a dificuldade aqui vem do fatode não podermos mais usar partições da unidade, que é uma técnica que so funciona até r = ∞ e não mais além. Lembre que uma função anaĺıtica que é constante sobre um aberto, deve ser globalmente constante na componente conexa que contêm este aberto. Exerćıcio 5. Sejam M uma variedade Cr com r ≥ 2 e g : M → Rk uma aplicação Cr onde k ≥ 2n + 1. Mostre que para todo ε > 0 existe f : M → Rk um mergulho de classe Cr tal que ‖f(x)− g(x)‖ < ε para todo x ∈ M . 6 Aplicação: O Teorema Fundamental da Álgebra Se f : Mn → Nn é uma aplicação C1 então para todo valor regular y ∈ N temos que f−1(y) é uma subvariedade de dimensão 0 de M , logo é um conjunto de pontos isolados. Se supusermos M compacta, este conjunto é então finito (pode ser vazio a prinćıpio). Mas uma propriedade fundamental é a seguinte: Lema 6.1. A função #f−1(y) é localmente constante quando y percorre os valores regulares de f . Demonstração. Sejam x1, . . . , xn os pontos de f−1(y0) pelo teorema da função inversa existem vizinhanças Ui de xi e Vi de y0 nas quais f é um difeomorfismo de Ui em Vi. Logo, considerando a vizinhança V = V1∩· · ·∩Vn−f(M−U1−· · ·−Un) temos que #f−1(y) = n para todo y ∈ V . Seja então S2 ⊂ R3 e considere h+ : S2 − (0, 0, 1) → C ≈ R2 × 0 ⊂ R3 a projeção estereográfica pelo pólo norte (0, 0, 1). Dado P (z) = a0zn+ · · ·+an um polinômio não constante (estamos supondo a0 6= 0), seja f seu levantamento na esfera, isto é f : S2 → S2 é definida por f(x) = h−1+ ◦P ◦h+(x) se x ∈ S2−(0, 0, 1) e f((0, 0, 1)) = (0, 0, 1). Claramente f é C∞ em pontos distintos do pólo norte, porem se tomarmos h− a projeção esterográfica pelo pólo sul (0, 0,−1), a expressão de f nesta carta local é: Q(z) = h− ◦ f ◦ h−1− (z) = zn a0 + · · ·+ anzn . (exerćıcio!) E portanto, Q é C∞ em uma vizinhança de 0 o que significa que f é C∞ no pólo norte. Mas os pontos cŕıticos de P são os zeros de sua derivada, que é 11 um polinômio. Logo, o número de pontos cŕıticos de f é finito, chame este conjunto de X e Y = f(X). Consequentemente o conjunto de valores regulares de f é formado pela esfera menos um número finito de pontos, o qual é um conjunto conexo. Pelo lema #f−1(y) é constante neste conjunto, em particular esta constante não pode ser nula, pois o polinômio é não constante. Então temos que f(S2 − X) ⊃ S2 − Y , como S2 é compacta temos que f(S2) = S2, logo f é sobre e portanto existe um z ∈ C tal que P (z) = 0. Este é o teorema fundamental da Álgebra. 7 Métricas Riemannianas Nas seções anteriores, usamos a noção de comprimento de um vetor dentro do fibrado tangente, porém naquela ocasião, por sorte, estávamos trabalhando com uma subvariedade do Rn e portanto pegamos emprestado a noção de compri- mento euclidiano de um vetor, uma vez que TM podia ser visto como subvar- iedade de TRq = R2q. Gostaŕıamos de ter esta noção à nossa disposição mesmo ao trabalhar com variedades abstratas, quem fará esse papel será a métrica Rie- manniana. De fato, ela não só permitirá medir comprimentos, como também medir ângulos. E em outros contextos, permite fazer geometria em variedades. A grosso modo, uma métrica Riemanniana é uma aplicação g tal que em cada ponto x ∈ M , g(x) é uma forma bilnear simétrica definida positiva em TxM . Tomando então v ∈ TxM , podemos definir ‖v‖x = √ gx(v, v) como o comprimento do vetor v e estamos feitos. Porém, como não temos identi- ficação canônica entre espaços tangentes em pontos distintos, esta noção de comprimento pode ser muito distinta quando passamos de um espaço tangente à outro. Além do mais, se a variedade é Cr podeŕıamos esperar que estas formas bilineares variem diferenciávelmente (Cr) com o ponto x. Uma maneira de dizer isso é considerar o fibrado cotangente T ∗M que assim como o fibrado tangente, existe uma projeção p : T ∗M → M tal que p−1({x}) = (TxM)∗ o dual de TxM15. E como fizemos com o fibrado tangente, mostrar que T ∗M também é uma variedade. Em seguida considerar o espaço de tensores do tipo (0,2) em TM , isto é aplicações bilineares de TM×TM em R (denotado por T ∗M ⊗T ∗M) que preservam as fibras, observar que este espaço também é uma variedade de classe Cr e pedir que g : M → T ∗M ⊗T ∗M seja uma aplicação de classe Cr (entre variedades). Porém uma caracterização mais simples é a seguinte. Fixada uma carta local ϕ consideramos o seguinte produto interno em Rn: se a, b ∈ Rn então << a, b >>ϕ(x):= gx(Dϕ−1(ϕ(x)(a), Dϕ−1(ϕ(x)b), como gx é um produto interno então << ., . >> também o é. Logo existe uma matriz A que representa este produto interno em relação a base canônica de Rn. De fato se {e1, . . . en} é a base canônica de Rn então os elementos da matriz A são da forma gij;ϕ(x) =<< ei, ej >>. E portanto temos n2 funções de U em R. Definição 7.1. Uma métrica Riemanniana de classe Cr sobre uma variedade 15Lembrando, o dual é o espaço vetorial contendo os funcionais lineares de TxM . 12 Mn é uma aplicação g tal que para cada x ∈ M gx é uma aplicação bilinear, simétrica definida positiva. Tal que para qualquer carta local (ϕ,U) de M as funções gij,vphi(x) são Cr. Estas funções são ditas as componentes da métrica g na carta (ϕ,U) e por simetria temos que gij,ϕ(x) = gji,ϕ(x). Vajamos alguns exemplos, se M = Rn e < ., . > é o produto interno euclid- iano, então id é uma carta global e definindo << a, b >>id(x)=< a, b > temos que o produto interno euclidiano é uma métrica riemanniana em Rn. Quando M ⊂ Rm é uma subvariedade de classe Cr. Seja < ., . > o pro- duto interno de Rn e seja uma parametrização ϕ0 : U0 ⊂ Rm → Rn defina então definindo gx(u, v) =< Dϕ(ϕ−1(x))u,Dϕ(ϕ−1(x))v > temos uma métrica Riemanniana de classe Cr−1. Finalmente se f ;M → N é uma imersão e h é uma métrica Riemanniana em N , podemos definir uma métrica Riemanniana em M induzida por f da seguinte forma: gx(u, v) = hf(x)(Df(x)u,Df(x)v). É um exerćıcio mostrar g de fato é uma métrica. Denotamos a métrica induzida g por f∗h. Exerćıcio 6. Sejam g uma métrica Riemanniana em M , (x,U) e (y, V ) cartas locais de M , q ∈ U ∩V e (∂xα∂yi ) a matriz jacobiana da mudança de base. Mostre que as expressões locais da métrica nestas cartas se relacionam por: gij,y(q) = ∑ α,β ∂xα ∂yi ∂xβ ∂yj gαβ,x(q). É natural agora tentar provar a existência de métricas Riemannianas para uma variedade arbitrária. Teorema 7.2. Seja Mn uma variedade Ck então existe g uma métrica Rie- manniana de classe Ck−1 em M . Demonstração. Seja {Uj , ϕj} uma cobertura localmente finita de M e sejam λj funçoes bump em M que se anulam em M−Uj . Em cada Uj defina gj a métrica Riemanniana induzida da métrica euclidiana pela imersão ϕj . Considere então g = ∑ j λj(x)gj(x) 16, como cada gj é simétrica temos que g também é simétrica, além do mais para todo x ∈ M pelo menos um gj(x)(v, v) é estritamente posi- tiva, logo g é definida positiva e é posśıvel ver que g é Ck−1. Definição 7.3. O par (M, g) composto por uma variedade M e uma métrica Riemanniana g sobre M é dita uma variedade Riemanniana. Em uma variedade Riemanniana podemos naturalmente calcular o compri- mento de curvas, lembrando que se v ∈ TxM então ‖v‖x = √ gx(v, v). Isto é, seja c : [a, b] → M uma curva C1 então o comprimento de c é l(c) =∫ b a ‖c′(t)‖c(t)dt.17E a partir dáı podemos definir uma distância entre pontos: d(p, q) = inf{l(c); c : [0, 1] → M é curva C1 por partes tal que c(0) = p e c(1) = q}. 16Aqui fica entendido que mesmo que gj(x) não esteja definida, como λj = 0 então o valor na soma é 0. 17De fato, basta C1 por partes 13 Em geometria Riemanniana se uma curva γ realiza este ı́nfimo então ela é dita uma geodésica e satisfaz uma equação diferencial que essencialmente diz que sua aceleração é zero. De fato, em Rn com a métrica euclidiana, temos que as geodésicas são retas. Exerćıcio 7. Mostre que (M,d) é um espaço métrico e que a topologia gerada por d coincide com a topologia original de M . Definição 7.4. Uma imersão f : (M, g) → (N, h) é dita uma imersão isométrica se g = f∗h. Vê-se nos cursos de geometria Riemanniana que se duas variedade são isométrica (quando f é um difeomorfismo) então suas geometrias intŕınsecas são equiva- lentes. Vamos denotar por can a métrica euclidiana de RN então um teorema d́ıficil de Nash mostra que: Teorema 7.5. Seja (Mn, g) uma variedade Riemanniana então existe um mergulho isométrico f : (M, g) → (RN , can). Mas neste caso o N é bem grande, com certeza maior que 2n + 1. 8 Contra-Exemplo ao teorema de Sard em baixa regularidade Nesta seção damos um roteiro para construir um contra-exemplo ao teorema de Sard quando a hipótese sobre a diferenciabilidade do mapa não é satisfeita. Seguiremos o artigo de Moreira-Ruas. Lembre que o conjunto de cantor ternário K1/3 é obtido tomando o intervalo [0, 1] e retirando o intervalo central de proporção 1/3, depois em cada um dos intervalos restantes retire os intervalos centrais de proporção 1/3 (que no caso teriam comprimento 1/9) e assim sucessivamente. O conjunto de Cantor homogêneo Kα com 0 < α < 1 é obtido da mesma forma, porém usando a proporção α ao invés de 1/3 na construção acima. Por- tanto, no primeiro passo retiramos o intervalo ( 1−α2 , 1+α 2 ), no segundo os inter- valos (( 1−α4 ) 2, 1−α 2 2 ) e ( 1+α 2 + ( 1−α 2 ) 2, 1+α2 + 1−α2 4 ) (verifique!). Assim como o conjunto de Cantor ternário pode ser visto como o conjunto de números do intervalo [0, 1] tais que na sua representação em base 3 o número 1 não aparece temos a seguinte representação de Kα (verifique!): Kα = { ∞∑ j=1 aj( 1− α 2 )n; aj ∈ {0, 1 + α1− α}. Exerćıcio 8. Mostre que µ1(Kα) = 0. Exerćıcio 9. Dados α, β mostre que existe um homemomorfismo fα,β : [0, 1] → [0, 1] tal que fα,β(Kα) = Kβ e se 1−β2 < ( 1−α 2 ) n então fα,β é Cn e Djfα,β(x) = 0 14 para todo j = 1, . . . k e x ∈ Kα.18 Fixe β = 1− 12n−1 . Note que Kβ = { ∞∑ j=1 aj 1 2nj ; aj ∈ {0, 2n − 1}}. Exerćıcio 10. Denotando A + cB = {a + cb; a ∈ A , b ∈ B}, para A,B ⊂ [0, 1] e c ∈ N. Mostre que Kβ + 2Kβ + · · ·+ 2n−1Kβ = [0, 2n − 1]. Fixe α tal que ( 1−α2 ) n−1 > 12n = ( 1−β 2 ) e considere fα,β , podemos estender esta função como 0 se x ≤ 0 e 1 se x ≥ 1 e ela continua de classe Cn−1. Seja então a aplicação Fα,β : Rn → R dada por: Fα,β(x1, . . . , xn) = n∑ j=1 2j−1fα,β(xj). Então Knα ⊂ Rn está contido no conjunto de pontos cŕıticos de Fα,β e tem medida µn(Knα) = 0. Mas pelo exerćıcio acima temos que Fα,β(K n α) = [0, 2 n−1], que não tem medida nula em R. Finalmente tomando G : Rn×Rp → R×Rp dada por G(x, y) = (Fα,β(x), y) temos que G é de classe Cn−1 e a imagem dos seus pontos cŕıticos contém [0, 2n−1]×Rp que não tem medida nula. Isso dá o contra-exemplo pro teorema de Sard. 18Sugestão: Fixe uma aplicação C∞ crescente (um homeomorfismo) ψ : [0, 1] → [0, 1], tais que todas suas derivadas nos pontos 0 e 1 se anulam. Se (a, b) e (c, d) são intervalos retirados correspondentes de cada conjunto de cantor defina fα,β = (d − c)ψ(x−ab−a ) + c e depois faça uma extensão por continuidade. 15
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