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Mercados de Produtos Coloniais na Região Oeste de SC

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DORIGON, CLOVIS 
Mercados de Produtos Coloniais da Região 
Oeste de Santa Catarina: em Construção 
[Rio de Janeiro] 2008 
XVII, 437 p. 21 x 29,7 cm (COPPE/UFRJ, 
D.Sc., Engenharia de Produção, 2008) 
Tese – Universidade Federal do Rio de 
Janeiro, COPPE 
1. Mercados de produtos coloniais 
I. COPPE/UFRJ II. Título (série) 
 
 
 
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DEDICATÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
À minha mãe Adelinda M. Bearzi Dorigon e ao 
meu pai Honorino Dorigon. Pelos seus exemplos 
de luta e coragem e pelos valores a mim passados 
os quais me orientam, inspiram e iluminam os 
caminhos que escolhi trilhar. 
 iv
AGRADECIMENTOS 
 
 
 A elaboração de uma tese, embora tenha muito de trabalho solitário, só se torna 
realizável devido à ajuda de inúmeras pessoas e instituições, dentre as quais quero 
agradecer: 
 Ao meu orientador, professor Michel Thiollent, pela confiança em mim depositada 
ao aceitar me orientar, pela sua dedicação, disponibilidade, críticas e sugestões, por 
oportunizar os seminários de orientação e, sobretudo, pela autonomia e liberdade para 
pesquisar e criar. 
 Ao professor John Wilkinson pela contribuição inestimável à minha formação, 
desde meu mestrado realizado no CPDA entre os anos de 1994-1997 sob sua orientação e, 
posteriormente, em diversos eventos e projetos e, especialmente, durante meu doutorado, 
nas disciplinas e orientações. Pela sua generosidade, rigor teórico e analítico, pela 
oportunidade de aprendizado e convívio e por ter aceitado compartilhar a orientação de 
minha pesquisa com o prof. Thiollent. 
À Dra. Marie-France Garcia-Parpet, por ter me aceito como orientando no 
doutorado sanduíche desenvolvido na École des Hautes Études en Sciences Sociales 
(EHESS) e no Institut National de la Recherche Agronomique (INRA), de forma tão 
generosa e gentil, pela ajuda e apoio na resolução de problemas típicos de estrangeiro 
recém-chegado em Paris e, sobretudo, pela sua imensa contribuição acadêmica ao meu 
trabalho. Por tudo isso, minha eterna gratidão. Obrigado também pela pronta disposição e 
empenho em aceitar o convite para compor a banca examinadora de minha tese. 
 Ao professor Afrânio Garcia, por ter me recebido como aluno de doutorado 
sanduíche na EHESS e pela oportunidade de poder olhar para os problemas do Brasil a 
partir do exterior. As muitas atividades acadêmicas - aulas, seminários, reuniões de 
orientação, conversas individuais e as atividades promovidas pelo Centre de Recherches 
Sur le Brésil Contemporain (CRBC), sob sua coordenação, muito contribuíram para a 
minha formação de pesquisador. 
Aos demais professores e funcionários do CRBC e à EHESS pela acolhida. 
 Ao INRA, pelo valioso apoio, imprescindível para a realização de meu trabalho. 
Agradeço especialmente ao Dr. Pierre-Benoît Joly, diretor da Unité de Recherche 
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Transformations Sociales et Politiques Liées au Vivant (TSV) e aos demais pesquisadores 
e funcionários daquela unidade de pesquisa pelo convívio e pela oportunidade de 
aprendizado. 
 Aos colegas e amigos do grupo de orientação do professor Thiollent: Jacqueline, 
Felipe, Susana, Cristina, Cíntia, Celso, Hugo e Vicente, pelas discussões e sugestões ao 
meu trabalho; 
 À Coppe pela oportunidade de realizar o doutorado e aos seus funcionários e 
professores que, direta ou indiretamente, contribuíram com a realização do meu curso; 
 Ao CPDA, no qual cursei várias disciplinas e participei de diversos eventos, 
acadêmicos e festivos. A contribuição que este Centro deu à minha formação é 
inestimável. 
 À Bibi e ao Johnny, pela hospitalidade, amizade, apoio e pelos almoços e jantares 
feitos a muitas mãos, junto a amigos tão queridos. 
 Ao Núcleo de Estudos de Ciência & Tecnologia e Sociedade (NECSO) pela 
oportunidade de participar dos inesquecíveis “Ato-Redes”. Pela troca de idéias e convívio 
fraternal e prazeroso. 
Ao professor Ivan da Costa Marques, pelas sugestões na ocasião de qualificação do 
projeto e por ter prontamente aceito o convite para compor a banca defesa da tese. 
Aos professores Roberto dos Santos Bartholo Junior, Fábio Luiz Zamberlan e José 
Manoel Carvalho de Mello por terem aceitado fazer parte da banca examinadora de minha 
tese. 
 Ao CNPq por ter me concedido bolsa de pesquisa para a realização do doutorado. 
 À Epagri, por ter me liberado das responsabilidades profissionais para que eu 
pudesse me dedicar em tempo integral aos meus estudos, bem como ao apoio dispensado 
ao longo da execução da pesquisa. Aos colegas de Empresa, pelas informações e apoio. 
 À Apaco por atender sempre de forma tão solícita e generosa as minhas demandas 
por informações e entrevistas. Agradeço em especial ao colega Gelso Marchioro e ao 
Gilson Giombelli, pela confiança, apoio e amizade. 
 Agradeço especialmente a todos os agricultores que deixaram seus afazeres para me 
receber de forma sempre tão hospitaleira e gentil. Seu trabalho e luta por uma vida digna 
serviu de inspiração para a minha tese. 
 À Dunia, pelas conversas durante as caminhadas e jantares, durante os quais 
dividimos nossas angústias e alegrias proporcionadas pelas nossas teses. 
 vi
Ao meu querido amigo Raul, com quem muito venho aprendendo desde que o 
conheci e que tem me incentivado e apoiado ainda antes de ingressar para o doutorado, 
inclusive com suas preciosas aulas de francês. Agradeço em especial sua inestimável ajuda 
na correção gramatical e suas sugestões ao meu texto. Gracie par tuto, amico mio! 
Aos meus irmãos Cosme, Claci e Claudete, pelo incentivo e apoio. 
À Irme, minha companheira, presença sempre tão forte e doce, fonte de energia e 
inspiração, pela leitura, pelas sugestões e pelo incentivo ao meu trabalho; 
Ao meu filho Caio, por seu carinho e apoio, por ter compartilhado conosco esta 
caminhada e pela forma corajosa com que enfrentou os desafios pelos quais passamos 
juntos nas idas ao Rio e a Paris. 
 
 vii
Resumo da Tese apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários para a 
obtenção do grau de Doutor em Ciências (D.Sc) 
 
MERCADOS DE PRODUTOS COLONIAIS DA REGIÃO OESTE DE SANTA 
CATARINA: EM CONSTRUÇÃO 
 
Clovis Dorigon 
 
Julho/2008 
 
Orientadores: Michel Jean-Marie Thiollent 
John Wilkinson 
 
Programa: Engenharia de Produção 
 
Esta tese se propôs o objetivo de analisar os mercados de produtos coloniais da 
Região Oeste do Estado de Santa Catarina, os quais se encontram na fase inicial de 
construção. Por “produtos coloniais”, entende-se um conjunto de produtos 
tradicionalmente processados no estabelecimento agrícola pelos agricultores - os “colonos” 
- para o auto-consumo familiar, tais como salames, queijos, doces e geléias, conservas de 
hortaliças, massas, biscoitos e açúcar mascavo, dentre outros. A partir do final da década 
de 1990, perante uma situação de crise nas atividades tradicionais, sobretudo frente à 
exclusão na suinocultura, agricultores organizados em grupos, ou mesmo individualmente, 
passaram a construir suas “agroindústrias familiares rurais” para produzir e vender estes 
produtos no mercado formal. Entretanto, em face da imagem positiva do colonial, médias e 
até grandes indústrias agroalimentares e, sobretudo, aquelas de profissionais do setor 
agroalimentar, oriundos das agroindústrias tradicionais, de cooperativas e do próprio 
Estado, passaram a se apropriar também dessa imagem e de sua fatia de mercado. Analisa-
se o processo de mobilização em torno desta problemática à luz das noções teóricas dos 
Sítios Simbólicos de Pertencimento, da Teoria das Convenções, da Teoria do Ator-Rede, 
da Construção Social de Mercados e da Economia de Singularidades. 
 viii
Abstract of Thesis presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements 
for the degree of Doctor of Science (D. Sc) 
 
MARKETS OF TRADITIONAL PRODUCTS FROM THE WESTERN REGION OF 
SANTA CATARINA,BRASIL: UNDER CONSTRUCTION 
 
Clovis Dorigon 
 
July, 2008 
 
Advisors: Michel Jean-Marie Thiollent 
 John Wilkinson 
 
Department: Production Engineering 
 
This thesis intends to analyze the markets of traditional products, which are in their 
initial phase, from the western region of Santa Catarina. Traditional products are usually 
called “colonial products”, meaning a range of traditionally processed products made by 
farmers in their lands for family consumption, such as sausages, cheese, jam and jelly, 
vegetable tinning, pastas, biscuits and raw sugar, among others. Since the end of the 1990’s 
decade, facing a situation of crisis of traditional activities, because of their exclusion of the 
process of pork production, individual and organized groups of farmers started to create 
their own “rural familiar agro-industries” to produce and sell their products in the formal 
market. Meanwhile, medium and even big agro-food industries and mainly those belonging 
to the professionals of the agro-food sector, coming from the traditional agro-industries, 
from cooperatives and from the State, also started to appropriate that image and market 
niche, due to the positive image of traditional products. Therefore, by choosing the 
“colonial products” as an artifact of research, the process of mobilization around this issue 
was analyzed, based on the theoretical notions of Symbolic Sites of Belonging, Theory of 
Conventions, Theory of Actor-Network, Social Construction of Markets and Economy of 
Singularities. 
 
 
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LISTA DE SIGLAS 
 
 
ACARESC - Associação de Crédito e Assistência Rural de Santa Catarina 
AFNOR - Association Française de Normalisation 
AMAUC - Associação dos Municípios do Alto Uruguai 
AOC - Appellation d’Origine Contrôlée 
APACO - Associação dos Pequenos Agricultores do Oeste Catarinense 
APAM - A Associação dos Produtores de Açúcar Mascavo 
AS-PTA - Assessoria a Projetos em Agricultura Alternativa 
BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social 
CAPINA - Cooperação e Apoio a Projetos de Inspiração Alternativa 
CEBs - Comunidades Eclesiais de Base 
CECAF: Central das Cooperativas da Agricultura Familiar 
CEPAGRI - Centro de Promoção ao Pequeno Agricultor 
CEPAGRO - Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo 
CIDASC - Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina 
CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico 
CNPSA - Centro Nacional de Pesquisa de Suínos e Aves 
CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento 
COOPERHAF - Cooperativa de Habitação dos Agricultores Familiares dos Três Estados 
do Sul 
COPERDIA - Cooperativa de Produção e Consumo de Concórdia 
CPPP - Centro de Pesquisas Para Pequenas Propriedades 
CPT - Comissão Pastoral da Terra 
DESER - Departamento Sindical de Estudos Rurais 
DGER - Direction Générale de l’Enseignement et de la Recherche 
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária 
EPAGRI - Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado de Santa Catarina 
FAO - Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação 
FATMA - Fundação de Amparo a Tecnologia e Meio Ambiente 
FETRAF- SUL - Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar do Sul do Brasil 
FUNCITEC - Fundação de Ciência e Tecnologia de Santa Catarina 
 x
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
INRA - Institut National de la Recherche Agronomique 
IRPPs - Indústrias Rurais de Pequeno Porte 
MAB - Movimento dos Atingidos pelas Barragens 
MAPA - O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento 
MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário 
MMA - Movimento das Mulheres Agricultoras 
MMC - Movimento das Mulheres Camponesas 
MPA – Movimento dos Pequenos Agricultores 
MST – Movimento dos Sem Terra 
OGM - Organismos Geneticamente Modificados 
OMC - Organização Mundial do Comércio 
ORPCs - Organizações Regionais de Padronização e Comercialização 
PLANAF - Plano Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar 
PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento 
PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar 
SDR – Secretaria de Desenvolvimento Regional 
SDT – Secretaria do Desenvolvimento Territorial 
SEBRAE - Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas 
SENAC - Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial 
SENAR - Serviço Nacional de Aprendizagem Rural 
SIE - Serviço de Inspeção Estadual 
SIF - Serviço de Inspeção Federal 
SIM - Serviço de Inspeção Municipal 
SISBI - Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal 
SUASA - Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária 
UCAG - Unidade Central de Apoio Gerencial 
UEPs - Unidades Espaciais de Planejamento 
UPRs - Unidades de Planejamento Regional 
VIANEI - Centro Vianei de Educação Popular 
 
 
 xi
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
 
Figura 1: Representação parcial da América do Sul, com destaque para a região 
Oeste de Santa Catarina..........................................................................................................6 
Figura 2. Imagem da paisagem típica do meio rural do Oeste Catarinense, 
representando o mosaico formado pelas pequenas propriedades rurais. ................................7 
Quadro 1. Música Mérica, Mérica ......................................................................................54 
Figura 3. Stand de um feirante próximo ao dos M. ...........................................................126 
Quadro 2. Comparação entre as diferentes propriedades sociais dos componentes dos 
M.........................................................................................................................................140 
Figura 4. Fôrma tradicional de produção de queijo colonial feito na cozinha pelas 
agricultoras. ........................................................................................................................148 
Figura 5. Fôrmas do queijo prato e mussarela em uma pequena queijaria da região........148 
Figura 6. Prensa de queijo “prato colonial” e mussarela de uma pequena queijaria da 
região. .................................................................................................................................149 
Figura 7. Estratificação do mercado das agroindústrias familiares rurais.........................184 
Figura 8. Mapa de Santa Catarina, destacando as Centrais de Apoio de Chapecó e de 
Concórdia e os respectivos municípios participantes. ........................................................185 
Figura 9. Estrutura Organizacional do Sistema Agroindustrial - UCAG / CHAPECÓ ....187 
Quadro 3. Funções da Central de Apoio. ..........................................................................188 
Figura 10. Estrutura Organizacional do Sistema Agroindustrial - UCAG / Concórdia ....192 
Figura 11. Ilustração do bambu e seu crescimento rizomático. ........................................207 
Figura 12. Rótulo de embalagem de produto de agroindústria associada à UCAF...........211 
Figura 13. Foto da casa de AD, financiada pelo PSH. ......................................................220 
Figura 14. Foto da placa próxima à casa de AD, mostrando os vários órgãos 
envolvidos no financiamento..............................................................................................221 
Figura 15. Abatedouro de aves da família G.....................................................................225 
Figura 16. Frango colonial da família G. em gôndola de supermercado de Concórdia. ...227 
Figura 17. Prêmios de 1° Lugar de Queijo Tipo Colonial e Parmesão. ............................236 
Figura 18. Queijo colonial com selo de premiação do 2° Sabor de Sabores/2° 
Suileite. ...............................................................................................................................237 
Figura 19. Janta Colonial, Linha São Paulo, Seara, 03/03/07. ..........................................239xii
Figura 20. Alguns pratos servidos na Janta Colonial. .......................................................239 
Figura 21. Mapa de Santa Catarina com destaque à AMAUC..........................................244 
Figura 22. Esquema de uma cooperativa municipal (Ipira). .............................................251 
Figura 23. Rede de cooperativas do Território da AMAUC. ............................................252 
Figura 24. Casa Colonial de Ipira......................................................................................261 
Figura 25. Casa Colonial de Piratuba. ...............................................................................263 
Figura 26. Foto de produção de doce de casca de laranja. ................................................273 
Figura 27. Unidade de beneficiamento de cana de açúcar da APAM. ..............................277 
Figura 28. Casal de agricultores junto à fôrma do queijo colonial....................................310 
Figura 29. Queijo colonial na geladeira para a cura..........................................................311 
Figura 30. “Queijo colonial” da indústria Tirol.................................................................322 
Figura 31. “Queijo colonial” da indústria Cedrense..........................................................322 
Figura 32. Frango caipira e frango colonial em gôndola de supermercado de 
Concórdia ...........................................................................................................................323 
Figura 32. Vista geral da agroindústria dos ex-diretores da Sadia. ...................................330 
Box 1. Confraternizando com produtos coloniais em São Paulo. ......................................347 
Figura 33. Vista geral dos stands de Santa Catarina na IV Feira da Agricultura 
Familiar...............................................................................................................................358 
Figura 34. Consumidores experimentando produtos coloniais no stand da Cooper 
Familiar (Chapecó -SC)......................................................................................................359 
Box 2. A casa de um colono de origem italiana .................................................................382 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 xiii
LISTA DE TABELAS 
 
Tabela 1. Evolução da população do Oeste de Santa Catarina em comparação a do 
Estado - Número de habitantes...............................................................................................8 
Tabela 2. Estrutura fundiária da Região Oeste catarinense ................................................ 11 
Tabela 3. Alcance social da produção e das vendas das principais atividades 
agropecuárias no Oeste Catarinense. ................................................................................... 13 
Tabela 4. Produtos transformados ou beneficiados nos estabelecimentos 
agropecuários de Santa Catarina (1995).............................................................................. 15 
Tabela 5. Evolução do processamento de leite (queijo, requeijão), carne suína 
(salames e lingüiças) e cana-de-açúcar (melado) nos estabelecimentos rurais de Santa 
Catarina................................................................................................................................ 17 
Tabela 6 - Forma de organização dos empreendimentos: número de unidades por tipo 
de regime jurídico, por UEP e total em SC. ........................................................................ 19 
Tabela 7. Relação das matérias primas transformadas e número de unidades em que 
elas aparecem, por UEP e total de SC. ................................................................................ 20 
Tabela 8. Produtos industrializados no meio rural: percentagem de consumidores por 
hábito de compra em cidades de Santa Catarina ................................................................. 22 
Tabela 9. Produtos da pequena agroindústria mais consumidos, por município (% 
sobre o total de entrevistados). ............................................................................................ 23 
Tabela 10. Local de compra de produtos da pequena agroindústria, por município. ......... 24 
Tabela 11. Como deveriam ser chamados os produtos das pequenas agroindústrias 
(% sobre o total de entrevistados)........................................................................................ 26 
Tabela 12. Agroindústrias por produtos processados em 31 municípios do Oeste de 
Santa Catarina...................................................................................................................... 31 
 
 xiv
SUMÁRIO 
 
CAPÍTULO 1 ....................................................................................................................... 1 
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 1 
1.1 A PROBLEMÁTICA DA PESQUISA ........................................................................... 1 
1.2 BREVE CARACTERIZAÇÃO DA REGIÃO DE ESTUDO......................................... 5 
1.3 AS OPÇÕES DE INSERÇÃO DOS AGRICULTORES FAMILIARES AO 
MERCADO ......................................................................................................................... 12 
1.4 PRODUTOS COLONIAIS: ALGUNS NÚMEROS..................................................... 14 
1.5 ALGUNS NÚMEROS SOBRE “AGROINDÚSTRIAS”............................................. 18 
1.6 O MERCADO DOS PRODUTOS DAS IRPPS ........................................................... 22 
1.7 A DINÂMICA DE CRESCIMENTO DAS AGROINDÚSTRIAS FAMILIARES 
RURAIS .............................................................................................................................. 29 
1.8 O REFERENCIAL TEÓRICO...................................................................................... 31 
1.9 ESTRATÉGIAS E TÉCNICAS DE PESQUISA.......................................................... 33 
1.10 O TRABALHO DE CAMPO...................................................................................... 36 
1.11 A ESTRUTURA DA TESE ........................................................................................ 39 
CAPÍTULO 2 ..................................................................................................................... 44 
2 REFERENCIAL TEÓRICO E ANALÍTICO ............................................................. 44 
2.1 OS SÍTIOS SIMBÓLICOS DE PERTENCIMENTO................................................... 45 
2.1.1 A Teoria dos Sítios .................................................................................................... 45 
2.1.2 Mérica, a terra da Cucagna...................................................................................... 48 
2.2 A TEORIA DO ATOR-REDE (TAR) .......................................................................... 55 
2.3 A TEORIA DAS CONVENÇÕES................................................................................ 67 
2.3.1 Os principais conceitos da Teoria das Convenções ............................................... 67 
2.3.2 A Teoria das Convenções e a economia da qualidade aplicada aos estudos do 
sistema agroalimentar ....................................................................................................... 78 
2.4 A CONSTRUÇÃO SOCIAL DE MERCADOS ........................................................... 92 
CAPÍTULO 3 ................................................................................................................... 112 
3 ENTRE O COLONIAL E O INDUSTRIAL: A TRAJETÓRIA DE UM GRUPO DE 
AGRICULTORES DO MUNICÍPIO DE CHAPECÓ ................................................ 112 
3.1 A FORMAÇÃO DO GRUPO ..................................................................................... 112 
 xv
3.2 VÁRIOS SÓCIOS,DIVERSOS MUNDOS ............................................................... 124 
3.2.1 OM e o colonial ....................................................................................................... 124 
3.2.2 AM, o gerente de produção.................................................................................... 128 
3.2.3 LM e o mundo mercantil ....................................................................................... 136 
3.3 O INGRESSO NO MUNDO INDUSTRIAL: “O MERCADO EMPURROU A 
GENTE” ............................................................................................................................ 141 
3.4 A CONSTRUÇÃO DE PARCERIAS COM NOVOS ATORES ............................... 150 
3.5 MANTENDO A IMAGEM DO COLONIAL ............................................................ 153 
CAPÍTULO 4 ................................................................................................................... 165 
4 PROJETO PILOTO PRONAF AGROINDÚSTRIA: A CONSTRUCÃO DE UMA 
REDE SOCIOTÉCNICA EM TORNO DO COLONIAL ........................................... 165 
4.1 O ENFOQUE TEÓRICO DAS POLICY NETWORKS ............................................... 165 
4.2 MOBILIZAÇÃO E CONSTRUÇÃO DE AGENDAS EM TORNO DA “CRISE 
REGIONAL”..................................................................................................................... 168 
4.3 O “PRONAF AGROINDÚSTRIA” ............................................................................ 176 
4.3.1 A concepção do Pronaf Agroindústria.................................................................. 176 
4.3.2 As Centrais de Apoio como Centrais de Cálculo ................................................. 179 
4.3.3 A construção do Projeto Piloto PRONAF Agroindústria no Oeste Catarinense
........................................................................................................................................... 183 
4.3.3.1 As Centrais de Apoio............................................................................................. 184 
4.3.3.1.1 A Central de Apoio de Chapecó ......................................................................... 186 
4.3.3.1.2 A Central de Apoio de Concórdia ...................................................................... 190 
4.3.3.2 Alguns conflitos..................................................................................................... 193 
4.3.3.3 A rede sob risco ..................................................................................................... 194 
CAPÍTULO 5 .................................................................................................................... 199 
5 A CONSTRUÇÃO DE REDES EM TORNO DO COLONIAL .............................. 199 
5.1 A REDE DA APACO ................................................................................................. 199 
5.1.1 Constituição, evolução e composição social da Apaco ........................................ 200 
5.1.2 Apaco e suas articulações....................................................................................... 203 
5.1.3 Evolução recente e situação atual da Apaco ........................................................ 205 
5.1.4 A Unidade Central das Agroindústrias Familiares do Oeste Catarinense - UCAF
........................................................................................................................................... 208 
5.1.5 A marca “Sabor Colonial”..................................................................................... 209 
 xvi
5.1.6 A Copafas: uma das nove cooperativas da rede Apaco ...................................... 211 
5.1.7 Descrição de três grupos típicos filiados à COPAFAS........................................ 218 
5.1.7.1 O Grupo da Linha São Paulo................................................................................. 218 
5.1.7.2 O frango Colonial da família de AG ..................................................................... 222 
5.1.7.3 A queijaria da família BL ...................................................................................... 230 
5.1.8 A janta colonial ....................................................................................................... 237 
5.2 A EPAGRI E SUAS REDES ...................................................................................... 240 
5.2.1 A rede de cooperativas da região de Concórdia .................................................. 241 
5.2.2 A descentralização do Estado mobilizada para fortalecer a rede de cooperativas
........................................................................................................................................... 245 
5.2.3 O colonial e os Territórios ..................................................................................... 247 
5.2.4 Programa de Aquisição de Alimentos ampliando o mercado dos produtos 
coloniais ............................................................................................................................ 252 
5.2.5 O crescimento do mercado de produtos coloniais ............................................... 256 
5.2.6 A Cooperativa dos Pequenos Produtores do Município de Ipira - Cepami...... 259 
5.2.6.1 A criação do serviço de inspeção e processo de formalização dos produtos ........ 264 
5.2.6.2 O presidente da Cepami e CECAF........................................................................ 268 
5.2.6.3 O Grupo das Geléias.............................................................................................. 271 
5.2.6.3.1 A formação do grupo.......................................................................................... 272 
5.2.6.3.2 A unidade de beneficiamento como um espaço de socialização ........................ 274 
5.2.6.3.3 De Ipira para São Paulo ...................................................................................... 274 
5.2.6.4 O grupo dos produtores de açúcar mascavo .......................................................... 276 
5.3 DO COLONIAL À REGULAÇÃO DO MERCADO DO LEITE.............................. 281 
CAPÍTULO 6 .................................................................................................................... 287 
6 A EXCLUSÃO DO COLONO E A APROPRIACAO DO MERCADO DOS 
PRODUTOS COLONIAIS PELOS NÃO COLONOS..................................................... 287 
6.1 O MERCADO INFORMAL ....................................................................................... 288 
6.1.2 O setor informal e a agroindústria familiar rural ............................................... 291 
6.1.3 A Casa do Produtor ................................................................................................ 295 
6.1.4 Os queijos coloniais dos MZ .................................................................................. 301 
6.1.5 O queijo colonial de RA e JC................................................................................. 308 
6.1.6 Um “presente de grego”: o caso de pasteurizador doado pelo Projeto 
Agroindústrias da Mesorregião Grande Fronteira do Mercosul ................................ 315 
 xvii
6.2 OS VALORES DO COLONIAL APROPRIADOS PELO MUNDO INDUSTRIAL 321 
6.2.1 A apropriação do mercado dos produtos coloniais pela indústria..................... 321 
6.2.2 A Apropriação do mercado colonial pelos técnicos............................................. 323 
6.2.3 Dos colonos para os diretores da Sadia ................................................................ 325 
CAPÍTULO 7 ................................................................................................................... 332 
7 O COLONIAL E O MERCADO EXTRA-REGIONAL .......................................... 332 
7.1 DE ANCHIETA PARA CUIABÁ .............................................................................. 332 
7.1.1 Origemdo grupo..................................................................................................... 333 
7.1.2 A Construção do mercado ..................................................................................... 335 
7.2 OS CAMINHONEIROS E OS PRODUTOS COLONIAIS ....................................... 341 
7.3 DONOS DE RESTAURANTES E CHURRASCARIAS........................................... 343 
7.4 AS FEIRAS LIVRES E A DIVULGAÇÃO DOS PRODUTOS COLONIAIS NOS 
GRANDES CENTROS ..................................................................................................... 345 
7.5 O ÊXODO DOS JOVENS ESTENDENDO A REDE DO COLONIAL ................... 348 
7.6 O SLOW FOOD E O COLONIAL.............................................................................. 349 
7.7 OS PRODUTOS COLONAIS E A VALORIZAÇÃO DA CULINÁRIA REGIONAL 
BRASILEIRA.................................................................................................................... 354 
7.8 A FEIRA DA AGRICULTURA FAMILIAR............................................................. 357 
7.9 OS PRODUTOS COLONIAIS E A ECONOMIA DE SINGULARIDADES ........... 360 
7.9.1 A noção teórica da Economia de Singularidades................................................. 360 
7.9.2 As publicações especializadas ................................................................................ 365 
7.9.3 Os Chefs de cozinha ................................................................................................ 368 
7.9.3.1 O chef do Hotel Sofittel: bons produtos como fonte de inspiração....................... 368 
7.9.3.2 O Slow Food como rede de acesso a “bons” produtos para a produção da 
gastronomia singular ......................................................................................................... 369 
7.9.3.3 Produtos coloniais e a culinária italiana em Belém do Pará.................................. 375 
7.9.3.4 De filho de colono a chef de cozinha .................................................................... 383 
7.10 A UNIFICAÇÃO DOS SERVIÇOS DE INSPEÇÃO: O SUASA ........................... 388 
CONCLUSÕES................................................................................................................ 392 
REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 406 
ANEXOS .......................................................................................................................... 418 
 
utra sessão 
 1
CAPÍTULO 1 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
1.1 A PROBLEMÁTICA DA PESQUISA 
 
No Oeste Catarinense, região de origem dos maiores grupos agroindustriais de 
carnes de aves e suínos do Brasil, a partir de meados da década de 1990 intensificou-se de 
maneira expressiva a comercialização de “produtos coloniais”. Por “produtos coloniais”, 
entende-se um conjunto de produtos tradicionalmente processados no estabelecimento 
agrícola pelos agricultores - os “colonos” - para o auto-consumo familiar, tais como 
salames, queijos, doces e geléias, conservas de hortaliças, massas e biscoitos, açúcar 
mascavo, dentre outros. 
Embora a própria noção de produto colonial ainda esteja em construção, sua 
imagem está relacionada aos imigrantes europeus e aos seus descendentes, sobretudo os de 
origem italiana e alemã, que inicialmente se instalaram na Serra Gaúcha em fins do século 
XIX e que, no início do século XX, migraram para a região Oeste de Santa Catarina, 
constituindo as “colônias”. O próprio IBGE inicialmente denominava as microrregiões 
homogêneas que compunham a mesorregião Oeste como “Colonial do Oeste Catarinense” 
e “Colonial Vale do Rio do Peixe”. Na região, “colono” é também sinônimo de agricultor. 
Assim, “colonial” faz “referência” a certa cultura e tradição, ligada ao saber-fazer dos 
imigrantes da Europa não ibérica, ao seu modo de vida, a suas formas especificas de 
ocupar o território e fazer agricultura, atributos valorizados pelos consumidores1. 
 
1 Apesar da falta de dados empíricos que permitam traçar o perfil destes consumidores de produtos coloniais, 
as informações de que se dispõe até o momento apontam para consumidores de classe média, formada por 
profissionais liberais como médicos, advogados e engenheiros, assim como empresários, funcionários 
públicos e empregados com melhores salários. Estes consumidores adquirem seus produtos diretamente 
junto aos agricultores (vão até a propriedade do agricultor ou, o que é mais freqüente, este último faz a 
entrega em sua casa), em pequenos super-mercados, mercearias e padarias ou nas feiras livres existentes em 
algumas cidades da região. Geralmente, estes consumidores têm suas origens relacionadas ao meio rural 
(são ex-agricultores ou filhos de agricultores), ou então buscam produtos de qualidade diferenciada, 
qualidade esta garantida por relações de confiança. 
 2
Duas pesquisas de mercado (Oliveira et al., 1999 e DOGMA/EPAGRI,1998), 
foram importantes para captar a valorização da imagem dos produtos coloniais junto aos 
consumidores, ambas abrangendo os principais centros urbanos do estado de Santa 
Catarina. A primeira, “Avaliação do Potencial da Indústria Rural de Pequeno Porte” 
inquiriu consumidores e distribuidores (decisores de compra, como gerentes de 
supermercados, minimercados, mercearias, padarias e lojas especializadas), buscando 
determinar a imagem dos produtos da Indústria Rural de Pequeno Porte (IRPP)2; a segunda 
entrevistou responsáveis por estabelecimentos comerciais varejistas e referiu-se à avaliação 
do mercado de produtos coloniais. 
A primeira pesquisa foi realizada na Grande Florianópolis e nas cidades de 
Joinville, Lages, Chapecó e Criciúma, visando conhecer os hábitos de compra dos 
consumidores quanto ao produto das agroindústrias de pequeno porte. Foram feitas 
perguntas em relação aos seguintes critérios: saúde, nutrição, honestidade, tradição, 
natureza, higiene, carinho, lembrança, disponibilidade e qualidade. A imagem mostrou-se 
positiva junto aos consumidores em todos esses critérios, principalmente nos de nutrição 
(96,5%), lembrança (94,5%), saúde (92,3%) e honestidade (86%). Sobre as vantagens dos 
produtos coloniais, a mais citada, de longe foi a de serem produtos saudáveis/naturais, 
vindo a seguir, bem abaixo, as questões de preço e sabor. Quanto à denominação que estes 
produtos processados no meio rural em unidades de pequeno porte deveriam receber para a 
caracterização de sua identidade, 65% dos consumidores e 57% dos decisores de compra 
citaram “produtos coloniais” (OLIVEIRA et al., 1999). 
A pesquisa seguinte foi realizada nas cidades de São Miguel do Oeste, Chapecó, 
Concórdia, Xanxerê, Florianópolis e Joinville junto aos decisores de compra - proprietários 
e gerentes de supermercados, mini-mercados e padarias. A pesquisa foi relatada em 
Dogma/Epagri (1999), relatório não publicado, no qual constam prognósticos altamente 
positivos sobre o potencial de mercado dos produtos coloniais: 
Pelos resultados obtidos, fica patente que os produtos coloniais têm um excelente 
posicionamento junto aos distribuidores de alimentos. [...] A questão social 
relativa ao colono deve ser realçada com o intuito de se reforçar a imagem 
“colonial” dos produtos. [...] o potencial de crescimento real para os produtos 
coloniais é ilimitado, uma vez que eles podem concorrer diretamente com os 
produtos similares industrializados, ocupando fatias de mercado deste. [...] Há 
demanda positiva e expectativa de aumento de consumo de produtos coloniais. 
[...] Além da análise dos números projetados de mercado, cabe ainda uma 
 
2 Note-se que os autores desta pesquisa não adotaram o termo “Agroindústria Familiar Rural”, denominação 
que passou a predominar somente a partir da implantação do Pronaf Agroindústria, discutido no capítulo 4.3
observação sobre a conjuntura favorável para estes produtos, como a busca da 
“Natureza”, “do Campo”, de “Produtos Mais Saudáveis”, enfim, de Qualidade de 
Vida. Esta conjuntura por si só já é uma excelente oportunidade de negócios 
(DOGMA/EPAGRI, 1998). 
Entretanto, os autores alertaram sobre a possibilidade de ocorrer a 
descaracterização dos produtos coloniais junto aos consumidores. 
As pesquisas citadas subsidiaram a discussão e a elaboração do “Pronaf 
Agroindústria” e a criação da marca registrada “Sabor Colonial”, de uso coletivo dos 
agricultores organizados em cooperativas e associações ligadas à Associação dos Pequenos 
Agricultores do Oeste Catarinense (Apaco), um dos principais atores que busca ocupar o 
mercado de produtos coloniais na Região. 
A partir de meados da década de 1990 tem-se observado um aumento na oferta de 
produtos coloniais, sobretudo nas feiras livres e em vendas diretas aos consumidores. Tem 
também aumentado o número de agricultores voltados ao mercado de produtos coloniais, 
que passaram a representar uma das melhores opções para compor a renda familiar, 
ameaçada pelo movimento de exclusão em atividades tradicionais, sobretudo na 
suinocultura. 
Desde então, em torno da imagem positiva do “colonial”, uma série de iniciativas 
tiveram início na Região, mobilizando um importante número de agentes, tais como, 
Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado de Santa Catarina (Epagri), associações de 
municípios e prefeituras, Organizações Não-Governamentais - (ONGs), sindicatos e 
federações de trabalhadores rurais, dentre outros, buscando apoiar as iniciativas dos 
agricultores familiares para a produção de produtos coloniais. Entretanto, outros agentes, 
tais como agroindústrias tradicionais, ex-funcionários destas e profissionais liberais, - 
agrônomos, veterinários, dentre outros - também passaram a utilizar a imagem positiva dos 
produtos coloniais para se apropriarem deste mercado. 
Assim, no interior do maior pólo agroindustrial de carnes de suínos e aves do País 
tem-se presenciado, em paralelo, o surgimento de um mercado de produtos diferenciados, 
o “mercado de produtos coloniais”, o qual suscita uma série de questões: Quais são os 
atores sociais que estão se apropriando deste mercado e quais tendem a ser excluídos? 
Como os diversos atores se posicionam frente à noção de produto “colonial” e como 
utilizam sua imagem para ocupar os mercados local e regional? Como os agricultores se 
organizam para produzir para o mercado produtos até então destinados ao consumo 
familiar? Quais as estratégias adotadas pelos agentes que buscam apoiar as iniciativas 
 4
destes agricultores (repasse de tecnologias, treinamentos, assessorias, promoção da 
organização de grupos e pequenas cooperativas) e quais são as implicações deste apoio 
junto à imagem dos produtos coloniais? Que transformações estes produtos coloniais têm 
que sofrer para poder sair da cozinha destes agricultores e chegar até o mercado formal? 
Até que ponto estas transformações comprometem a imagem e os valores do colonial junto 
aos consumidores? 
As questões acima compõem a problemática da pesquisa, que pode ser assim 
sintetizada: como se processa a construção social do mercado de produtos coloniais em 
curso na região Oeste de Santa Catarina? 
A hipótese principal da pesquisa é que em torno da imagem positiva e dos valores 
dos produtos coloniais está em construção um mercado de produtos com atributos de 
qualidade específica diferenciando-se, portanto, daqueles produzidos pelas agroindústrias 
tradicionais presentes na região Oeste Catarinense. Porém, ao mesmo tempo em que este 
mercado encontra-se em construção, está sob risco de descaracterização. Esta 
descaracterização pode se dar basicamente por duas vias. A primeira, pelas exigências da 
legislação dos serviços de inspeção sanitária, que obrigam os agricultores a incorporarem 
processos, técnicas, equipamentos e insumos desenvolvidos para a produção industrial, 
gerando transformações em seus produtos que, no limite, não seriam mais reconhecidos 
pelos consumidores como “coloniais”. A segunda, pela apropriação do mercado de 
produtos coloniais pelas empresas tradicionais e por técnicos do setor agroalimentar. Estes 
dois movimentos podem levar à banalização do uso da imagem dos produtos coloniais, 
cujo mercado estaria assim submetido a um processo de construção e de descaracterização 
ao mesmo tempo. 
A partir das noções teóricas adotadas, apresentadas no capítulo 2, concebe-se o 
“colonial” como um artefato híbrido, misto de ciência e cultura, que mobiliza e articula 
diversas redes para a construção deste mercado. Adota-se como método de pesquisa 
“seguir o colonial” para ver como os vários atores usam, transformam, moldam e dão 
diferentes interpretações e significados a este artefato para construir seu mercado. 
Este processo de mobilização e de diferentes traduções do artefato colonial é um 
movimento repleto de tensões e negociações, gerado pela mercantilização de valores 
tradicionais. Porém, entende-se que a mercantilização destes valores é parte constituinte de 
um processo maior, qual seja, a construção social deste mercado. Isto porque a construção 
social do mercado dos produtos coloniais implica não apenas na mobilização de atores 
 5
sociais, mas também, de diferentes saberes e conhecimentos e de um variado conjunto de 
processos de produção e de tecnologias que causam efeitos junto ao mercado. Dito de outra 
forma: conforme a Teoria das Convenções, a negociação dos valores dos distintos mundos 
-doméstico, industrial, mercantil, cívico, inspirado, de opinião e ecológico -, é parte 
constitutiva do mercado de produtos coloniais. 
A decisão de “seguir o colonial” enquanto um artefato que sofre transformações ao 
passar de mão em mão dos diferentes atores que o mobiliza, conduz à necessidade de 
mapear e descrever esta diversidade de atores, conhecimentos, tecnologias e valores 
mobilizados para a construção deste mercado. Portanto, a realização da pesquisa implica na 
descrição e análise das principais iniciativas em torno do colonial, procurando 
compreender os diferentes usos do colonial, bem como os efeitos daí resultantes sobre um 
mercado que se encontra em fase inicial de construção. 
Para melhor expor a problemática que compõe esta tese, a seguir apresenta-se 
brevemente a região onde se realizou esta pesquisa. 
 
1.2 BREVE CARACTERIZAÇÃO DA REGIÃO DE ESTUDO 
 
A região Oeste de Santa Catarina3, com 1,06 milhão de habitantes, dos quais meio 
milhão habitam no meio rural (37% da população rural do Estado de Santa Catarina), 
abrange 118 municípios (40% dos municípios do Estado) e ocupa um território de 25.300 
km², representado 26% da área de Santa Catarina. Contribui com mais de 50% da produção 
agrícola do Estado e as atividades primárias ocupam mais de 51% de sua população 
economicamente ativa. (TESTA et al., 2003). 
 
3 Esta regionalização é definida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com base em um 
conjunto de critérios edafo-climáticos e socioeconômicos. Assim, estas regiões possuem uma relativa 
homogeneidade no que se refere a estes critérios. 
 6
 
Figura 1: Representação parcial da América do Sul, com destaque para a região Oeste de Santa Catarina. 
Fonte: Testa et al. (1996). 
 
Colonizada4 a partir do inicio do século passado, sobretudo por imigrantes de 
origem italiana e alemã5, esta região tem sua economia baseada na agropecuária, da qual 
dependem os demais setores. Caracteriza-se pelo predomínio, segundo o termo cunhado 
por Testa et al. (1996), pela agricultura familiar diversificada voltada ao mercado e 
integrada à agroindústria. Este modelo constituiu a base histórica do crescimento 
 
4 O termo “colonizada” aqui se refere ao processo de migração e ocupação das terraspelos “colonos”, 
constituindo as “colônias”, ou seja, as comunidades rurais de agricultores. “Colônia” refere-se também ao 
lote que cada agricultor adquiria das empresas corretoras que organizavam a comercialização das terras a 
serem ocupadas pelos imigrantes. Uma “colônia” corresponde a um lote de 24,2 hectares de área. 
5 Estes imigrantes começaram por colonizar, no final do século XIX, a Serra Gaúcha, atualmente uma das 
regiões de maior dinamismo econômico e de melhor qualidade de vida e eqüidade social do Brasil. A partir 
do início do século XX, seus descendentes, em busca de novas terras, passaram a ocupar o Oeste de Santa 
Catarina e posteriormente o Sudoeste do Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, e estados da 
Amazônia, Sudoeste da Bahia e o cerrado brasileiro, originando uma das correntes migratórias mais 
características e emblemáticas do Brasil. Atualmente, estes descendentes de imigrantes estão entre os 
principais responsáveis pela grande produção de grãos nestas regiões. 
 7
econômico regional, propiciando a construção do maior parque agroindustrial de suínos e 
aves da América Latina6 em apenas cinco décadas. Embora existam outras indústrias - 
metal-mecânica, moveleira e outras -, a economia regional depende principalmente das 
indústrias agroalimentares e de atividades comerciais e de serviços direta ou indiretamente 
ligadas à agropecuária, que constitui o núcleo dinâmico da economia. 
 
 
Figura 2. Imagem da paisagem típica do meio rural do Oeste Catarinense, representando o mosaico formado 
pelas pequenas propriedades rurais. 
Fonte: Foto do autor 
 
 
6 Segundo o jornal Diário Catarinense de 09/10/2005, 11 empresas de Santa Catarina faturaram juntas, 
naquele ano, R$ 44 bilhões, empregando 140 mil pessoas e integrando o “Clube do Bilhão” - conjunto de 
empresas com faturamento igual ou superior a um bilhão de reais por ano -, liderado, no Estado pelas 
agroindústrias. A Sadia e a Perdigão, os dois maiores grupos agroindustriais de suínos e aves do País, 
ambos fundados na Região Oeste Catarinense, atualmente, são empresas multinacionais, que juntas 
empregam 70 mil pessoas. O faturamento da Sadia em 2004 foi de R$ 7,3 bilhões, com um crescimento de 
25%. Os investimentos da empresa em 2005 chegaram a R$ 500 milhões. A Perdigão emprega 31,4 mil 
funcionários, mantém parceria com cerca de 5.700 produtores integrados e exporta seus produtos para mais 
de 100 países. Sua receita líquida em 2004 foi de R$ 4,9 bilhões. A Coopercentral Aurora (cooperativa de 
segundo grau), com receita na ordem de R$ 1,5 bilhão em 2004, cresceu 18,14% em relação ao ano 
anterior. Além destas, estão sediadas na região a Seara e outras de menor porte. 
 8
Embora a agricultura apresente alto grau de diversificação, em grande parte 
direcionada para as necessidades alimentares da família, são poucos os produtos que 
representam oportunidades de mercado para os agricultores. Dentre eles, destacam-se o 
trinômio milho/suínos/aves, o feijão, a soja e, mais recentemente, o leite, os quais 
respondem por mais de 90% do Valor da Produção Primária. 
Para Testa et al., (1996), a Região estaria passando por uma crise, tendo como um 
de seus principais componentes o êxodo rural para as cidades da própria região, 
especialmente as de maior porte e o êxodo regional, sobretudo para as cidades do litoral 
catarinense e para capitais de outros estados, como Porto Alegre, Curitiba, São Paulo e Rio 
de Janeiro. No período 1991-2000 a população total da região cresceu a apenas 0,59% ao 
ano e a rural decresceu a -2,49% ao ano. Nesse mesmo período, o Estado de Santa Catarina 
apresentou uma taxa de crescimento demográfico de 1,83% ao ano, conforme se pode 
observar na Tabela 1. 
 
Tabela 1. Evolução da população do Oeste de Santa Catarina em comparação a do Estado - Número de 
habitantes 
Domicílio 1970 1980 1991 2000 Taxa de Crescimento (% a.a) 
Oeste 
Catarinense: 1970/80 1980/91 1991/00 
Urbano 167.465 327.137 506.977 663.663 6,93 4,04 3,04 
Rural 543.993 576.051 501.658 399.866 0,57 -1,25 -2,49 
Total 711.458 903.188 1.008.635 1.063.529 2,41 1,01 0,59 
Santa 
Catarina 
(Total) 
 
2.901.734 
 
3.627.933 
 
4.541.994 
 
5.349.580 
 
2,26 
 
2,06 
 
1,83 
Fonte: Ferrari (2003), a partir dos Censos Demográficos 1970, 1980, 1991 e 2000. IBGE 
 
Além do esvaziamento demográfico e o conseqüente enfraquecimento econômico e 
político regional, a população que está migrando para outras regiões é majoritariamente 
composta por jovens e, dentre estes, os que possuem um nível de escolaridade maior, 
conforme constatado em pesquisa realizada por Silvestro et al. (2001). Este fenômeno 
migratório acelera ainda mais o empobrecimento e limita a construção de opções de 
desenvolvimento regional, devido à perda de sua mão-de-obra mais qualificada. 
Quanto às causas da crise, Testa et al. (1996)7 destacam: 
 
7 No capítulo 4 desenvolvem-se estas análises buscando problematizar o estabelecimento de consenso 
regional em torno do diagnóstico apresentado por Testa et al. (1996). Outras percepções da crise poderiam 
ser apresentadas, como, por exemplo, a do ponto de vista dos colonos e dos movimentos sociais, conforme 
analisado por Renk (2000): “Não obstante o mesmo significado, há diferentes conotações significativas 
para a crise. Estas são retraduções das evidências empíricas que, por sua vez, não permitem leituras 
 9
a) A concentração e conseqüente exclusão na suinocultura: esta atividade 
representava importante fonte de renda para 67 mil estabelecimentos rurais em 1980. Já em 
1995/96 este número caiu para 32 mil e destes, apenas 8,5 mil concentravam 83% da 
produção (IBGE, 1998). Este processo de concentração da produção tem gerado problemas 
sociais, pela exclusão massiva de agricultores, e problemas ambientais, pela excessiva 
concentração dos dejetos, dificultando seu tratamento e sua distribuição como fertilizante; 
b) A diminuição do volume de recursos de crédito agrícola8 e o aumento das taxas 
de juros no final dos anos 1980, requerendo mais capital próprio e implicando em maiores 
custos aos agricultores; 
c) O esgotamento crescente dos solos, explorados acima de sua capacidade, 
impondo maiores custos com fertilizantes e práticas conservacionistas; 
d) A redução da rentabilidade dos principais produtos tradicionais, especialmente 
milho, suínos, leite e feijão, causada pela queda dos preços em proporções maiores do que 
o aumento da produtividade e não compensada pela relação de troca produtos/insumos; 
e) A escassez de terras aptas para culturas anuais, que somam apenas um terço da 
área total da região e que se encontram em proporções ainda menores nos estabelecimentos 
de menor área. Essas áreas compostas por solos declivosos e pedregosos limitam o tipo de 
atividades e de tecnologias a serem utilizadas e, conseqüentemente, a renda gerada com 
estas atividades, além de aumentar a penosidade das atividades agrícolas; 
f) O esgotamento da fronteira agrícola regional, verificado ainda na década de 
1970; 
g) A estrutura fundiária concentrada e, ao mesmo tempo, com um grande número 
de minifúndios, conforme se observa na tabela 29. Embora, quando comparado ao restante 
do Brasil, o Oeste Catarinense seja considerado uma das regiões de estrutura fundiária 
menos concentrada, observa-se que 70% dos estabelecimentos possuem menos de 20 
hectares, mas ocupam apenas 28,48 % do total da área. Estabelecimentos com menos de 20 
 
reducionistas. Não há possibilidade de apresentar uma oposião binária entre a expressão de cunho mais 
acadêmico, elaborado pelos técnicos do Estado, e as formulações do mundo rural. No primeiro caso, há 
uma preocupação técnica que parte da economia rural, da administraçãorural e da agronomia. No segundo 
conjunto, aqueles elementos retraduzem-se em linguajar menos elaborado, um entreglosar num universo de 
despossessão lingüística. No entanto, são falas coloridas com os sentimentos da ‘dificuldade de existir’. E 
estas, sem dúvida, não obstante calcadas nas condições de existência, têm matizes diversos”. (RENK, 2000, 
p. 66). 
8 O livro foi escrito antes da existência do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar 
(PRONAF). 
9 Até a conclusão desta pesquisa os dados do IBGE relativos ao Censo Agropecuário realizado em 2006 
ainda não estavam disponíveis para consulta. 
 10
hectares não possuem área suficiente para a sua viabilização apenas com as culturas anuais 
tradicionais, necessitando de atividades de maior valor agregado. Ressalte-se que nestes 
pequenos estabelecimentos estão concentradas as terras mais declivosas e pedregosas; 
h) A grande distância dos principais mercados consumidores - 1.000 km de São 
Paulo e 1.500 km do Rio de Janeiro. Ressalta-se que não há ferrovias e o transporte de 
mercadorias é feito todo por caminhões; 
i) O risco de exclusão em massa da produção de leite, motivada principalmente 
pelas exigências impostas pela nova legislação sanitária (Portaria 56, atual Instrução 
Normativa 51), pela prática de bonificação no preço em função do volume comercializado 
e pelo acesso seletivo ao crédito e à assistência técnica10. 
A ação conjunta desses fatores gerou um quadro de descapitalização, refletindo-se 
na dificuldade de criar oportunidades de trabalho e renda. Silvestro et al. (2001), 
consideraram como “capitalizados” apenas 13% dos estabelecimentos agrícolas do Oeste 
Catarinense. Entre os demais, 29% foram classificados como “em transição”, 42% como 
“descapitalizados”, 1,5% como “patronais” e 14,5% como “não dependentes da 
agricultura”. O critério para definir o grau de capitalização foi o Valor Agregado (VA)11 
em salários mínimos por unidade de Mão-de-Obra ocupada (SM/MO): com 3 SM/MO ou 
mais, foram considerados estabelecimentos capitalizados; entre 1 e 3 SM/MO, em 
transição e com menos de 1 SM/MO, descapitalizados. 
 
10 Para uma discussão mais detalhada a respeito desta problemática, ver Testa et al. (2003). 
11 O valor agregado (VA) de cada propriedade rural foi definido como a diferença entre o valor bruto da 
produção (VBP) e os custos variáveis da produção (despesas). Assim, o valor agregado representa a 
margem bruta mais o consumo interno da propriedade, o que significa que o valor agregado por pessoa 
ocupada é um saldo disponível para remunerar a mão-de-obra familiar (SILVESTRO et al., 2001). 
 11
 
Tabela 2. Estrutura fundiária da Região Oeste catarinense 
1985 1995-96 
Estabelecimentos Área Estabelecimentos Área 
 
Estrato de área 
(ha) 
Número % acum. ha % acum. Número 
% 
acum. ha % acum. 
Menos de 5 17.640 17,43 50.615 2,26 11.578 13,12 33.468 1,55 
5 a menos de 10 22.460 39,63 161.764 9,48 18.051 33,56 133.080 7,70 
10 a menos de 20 32.822 72,07 452.393 29,68 32.229 70,07 449.646 28,48 
20 a menos de 50 23.001 94,80 672.272 59,70 20.977 93,83 612.030 56,73 
50 a menos de 100 3.516 98,27 233.247 70,12 3.482 97,78 230.966 67,43 
100 a menos de 1000 1.590 99,85 381.615 87,16 1.828 99,85 446.265 88,06 
1000 e mais 121 99,97 287.654 100,00 120 99,98 258.426 100,00 
Sem declaração 35 100 - - 14 100 - - 
Soma 
101.185 
- 2.239.560 - 88.279 - 2.163.881 - 
Fonte: Ferrari (2003), a partir dos dados dos Censos Agropecuários do IBGE, anos 1985 e 1995-96. 
 
Um outro problema colocado para a região é o que se pode chamar de “questão 
sucessória”. Silvestro et al. (2001, p. 20), constataram que 12% dos estabelecimentos 
familiares do Oeste de Santa Catarina eram habitados por casais com mais de 41 anos de 
idade e sem presença de filhos. Isto significa dizer que 9,2 mil estabelecimentos familiares 
rurais não possuíam sucessores. Esta mesma pesquisa apontou em outros 17% dos 
estabelecimentos, a presença de apenas um filho (rapaz ou moça), indicando que a 
proporção de estabelecimento sem sucessores certamente era superior a 12%. 
Tentando responder quais as aspirações profissionais dos jovens agricultores do 
Oeste de SC, Silvestro et al. (2001) constataram que, embora 69% dos rapazes 
pretendessem permanecer na agricultura, apenas 32% das moças desejavam fazê-lo, 
mostrando que a absoluta maioria delas não se dispunha a desempenhar o mesmo papel 
exercido por suas mães. Ou seja, há também um forte viés de gênero relacionado ao 
desempenho da profissão de agricultor, que não se explica apenas por questões 
econômicas. São várias as causas desse desinteresse das moças em permanecer na 
agricultura, tais como: as poucas possibilidades de herdar a propriedade, pois estas são 
transferidas aos homens; o baixo espaço para as mulheres na participação na gestão dos 
empreendimentos e a pouquíssima participação na vida sindical, em cooperativas ou outras 
atividades extra-propriedade que, regra geral, são de acesso quase que exclusivo dos 
homens. Ou seja, se o exercício da cidadania já é baixo para os homens, para as mulheres é 
ainda mais restrito. 
 12
Conforme aponta Silvestro et al. (2001), 16% das moças, (variando entre 14% nas 
propriedades “em transição” e 20% nas consideradas “em exclusão”) responderam que não 
costumavam participar das decisões que dizem respeito à propriedade: 
A sua não participação nas discussões sobre o futuro da propriedade demonstra a 
pouca atração, que, em geral, as moças têm pelo trabalho na agricultura. Este 
comportamento é resultante de, pelo menos, duas razões (sem levar em conta seu 
maior preparo educacional para enfrentar o mercado de trabalho urbano): a 
ausência de espaço de participação na propriedade e o desinteresse das moças 
pela agropecuária em função da penosidade do trabalho associada a esta 
atividade. Talvez esta última razão explique a preferência de algumas moças 
entrevistadas casarem com rapazes de fora do meio rural. (SILVESTRO et al., p. 
74) 
Quanto à questão educacional dos jovens do meio rural, os dados analisados por 
Silvestro et al. (2001) apontam para um quadro de baixo nível de educação formal: a partir 
de uma amostra de 9.190 propriedades de 10 municípios representativos da Região12, 1.940 
jovens entre 25 e 29 anos – e que são os potenciais sucessores de seus pais - 1.163 (60% 
deles) estudaram apenas os primeiros quatro anos do ensino fundamental. Nesta faixa 
etária está também o maior índice de analfabetos (4% do total). Estes dados indicam 
também que os jovens que optam em ficar na propriedade paterna são os que possuem 
menos anos de escolaridade quando comparado aos que decidem migrar para o meio 
urbano. 
 
1.3 AS OPÇÕES DE INSERÇÃO DOS AGRICULTORES FAMILIARES AO 
MERCADO 
 
A agricultura familiar da região caracteriza-se historicamente por sua forte relação 
com o mercado. Embora a produção para o auto-consumo sempre estivesse presente, a 
produção para o mercado é a atividade principal destes estabelecimentos. Atualmente, esta 
relação com o mercado passa por três principais vertentes: a) produção de matérias primas 
para a indústria agroalimentar; b) produção de produtos diferenciados e c) criação de novas 
opções econômicas agrícolas e não-agrícolas. Quanto à permanência nas cadeias 
tradicionais de produção - a suinocultura, avicultura, grãos e, sobretudo o leite, estas 
 
12 Os dados trabalhados pelos autores referem-se aos levantados por um Censo Agropecuário Municipal, 
concebido e realizado pela Empresa de Pesquisa e Extensão Rural do Estado de Santa Catarina (Epagri) e 
Instituto de Economia e Planejamento Agrícola do Estado de Santa Catarina (Icepa). 
 13
continuam sendo fundamentais para inserção de forma massiva destes agricultores ao 
mercado, como se pode observar na Tabela 3. 
 
Tabela 3. Alcance social da produção e das vendasdas principais atividades agropecuárias no Oeste 
Catarinense. 
Agricultores Leite Milho Suínos Feijão Fumo Aves 
Produtores 70.000 80.000 56.000 60.000 18.000 9.000 
Vendedores 40.000 - 32.000 - 18.000 9.000 
Fonte: Testa et al. (2003) a partir do Censo Agropecuário de 1998 (IBGE). 
 
Quanto à suinocultura, o forte processo de concentração da produção discutido 
anteriormente, continua se ampliando e nem tão pouco há perspectivas da expansão no 
número de avicultores e fumicultores13. A produção de grãos, por sua vez, não gera uma 
renda suficiente para atender às necessidades básicas da maioria das famílias dos 
agricultores, sobretudo devido à pouca área de terras disponíveis na absoluta maioria dos 
estabelecimentos, mesmo sendo o milho ainda a principal fonte de renda para o conjunto 
de pequenos agricultores. 
Neste limitado leque de opções, a bovinocultura leiteira surge como a mais recente 
opção econômica para uma ampla maioria de agricultores. Isto porque a produção de leite 
já fazia parte das atividades de subsistência da absoluta maioria das propriedades rurais e 
possui barreiras à entrada menores quando comparada à suinocultura ou a avicultura e 
possibilita a expansão gradual da escala da produção na propriedade rural. É também 
adequada ao trabalho familiar e à sua tradição histórico-cultural e possibilita o uso 
econômico e conservacionista dos recursos naturais. A produção leiteira é também de 
grande importância econômica e social devido à sua capacidade de absorver mão-de-obra e 
de agregar valor na propriedade, ao uso de terras não-nobres e à ocupação da mão-de-obra 
inclusive nos períodos nos quais ela estaria ociosa não fosse a bovinocultura de leite. 
Por essas razões, a atividade leiteira apresenta-se como a principal opção à 
substituição da suinocultura, com potencial para a viabilização da maioria das propriedades 
familiares, bem como para a dinamização da economia regional, sobretudo dos pequenos 
municípios. Segundo Testa et al., (2003), em 1999, a região produzia, por ano, 450 
milhões de litros de leite, em 40 mil estabelecimentos agrícolas. 
 
13 A fumicultura é considerada uma atividade de baixo status, desenvolvida pelos agricultores mais pobres e 
que foram excluídos das demais atividades. 
 14
Porém, está em curso no Brasil a implantação de uma nova legislação que redefine 
os padrões higiênicos e sanitários na produção primaria, no armazenamento e no transporte 
do leite, impondo aos produtores investimentos em equipamentos como ordenhadeiras, 
resfriadores de expansão, tanques isotérmicos e instalações. Como estes investimentos não 
aumentam a produção e, consequentemente, nem a renda, os produtores, em sua grande 
maioria, não terão condições de se adequar a esta nova legislação e estão na iminência de 
também serem excluídos desta atividade. Testa et al. (2003), avaliam que se os prazos para 
a implantação desta portaria não forem estendidos e políticas públicas não forem 
implantadas para que a internalização destes investimentos sejam viáveis, haverá uma 
exclusão em massa também desta atividade permanecendo, dos atuais 40 mil produtores 
que comercializam leite, não mais que 3.00014. 
Se, como visto acima, a permanência nas cadeias tradicionais de produção - 
suinocultura, avicultura, grãos e, sobretudo, leite, continua sendo fundamental para a 
inserção de forma massiva destes agricultores ao mercado, a obtenção de um patamar 
adequado de renda para muitas famílias rurais passa pela implantação de novas opções 
agrícolas de alta densidade econômica e por opções não agrícolas, como o turismo rural, a 
constituição de indústrias, a prestação de serviços no meio rural e a “agregação de valor”15 
– que no caso ocorre via a produção de produtos coloniais. 
Na seção seguinte apresentam-se alguns dados a respeito deste mercado de 
produtos coloniais. 
 
1.4 PRODUTOS COLONIAIS: ALGUNS NÚMEROS 
 
Apesar da pouca disponibilidade de informações a respeito, Mior (2005), a partir 
dos dados do IBGE, levantou alguns números que ilustram a importância da atividade de 
transformação realizada no meio rural de Santa Catarina. Segundo estes dados, os 
estabelecimentos com menos de 50 hectares são responsáveis por mais de 80% do valor 
dos produtos transformados ou beneficiados no meio rural, o que mostra a importância 
 
14 Segundo o IBGE (1998) o Brasil possui 1.489.135 produtores de leite que produzem aproximadamente 22 
bilhões de litros/ano. Estima-se que, num prazo estimado em cinco anos, a exclusão devido a esta portaria 
pode atingir de 900 mil a um milhão de famílias da atividade, o que na maioria dos casos, dada à 
importância desta atividade em seus sistemas produtivos, representará a exclusão da própria agricultura. 
15 No decorrrer da tese, problematiza-se o termo “agregação de valor”, mostrando a imprecisão deste conceito 
no que diz respeito à produção de produtos colonais. 
 15
desta atividade para a agricultura familiar. No caso do processamento de leite, dos 59 mil 
produtores de queijo e requeijão, havia, em 1995, mais de 21 mil que comercializavam 
estes derivados, representando 8.918 toneladas e um valor de produção de 
aproximadamente 33 milhões de reais. Neste mesmo ano de 1995, a produção de queijo e 
requeijão nas propriedades rurais do estado alcançou 13 mil toneladas, o que, segundo 
Wilkinson e Mior (1999) equivalem ao total de queijo produzido pela agroindústria 
convencional. 
Embora os dados do IBGE não sejam disponibilizados de forma desagregada por 
região, o que impede uma análise em separado das informações da Região Oeste, pode-se 
afirmar, segundo Mior (2005), que a participação da transformação destes produtos feitos 
pelos agricultores familiares desta região é bastante expressiva. 
 
Tabela 4. Produtos transformados ou beneficiados nos estabelecimentos agropecuários de Santa Catarina 
(1995). 
Produto 
transformado ou 
beneficiado 
Número de 
Produtores 
 
Quantidades 
produzidas 
(t) 
Número de 
Produtores 
que vendem 
 
Quantidade 
vendida 
(t) 
Valor da 
produção 
(mil R$) 
Participação 
no VBP (%) 
Carne verde de 
bovinos 80.802 21.743 2.579 4.412 32.037 27,5 
Carne de suínos 108.451 22.233 1.815 3.204 26.175 22,5 
Embutidos 
(Salames/lingüiças) 20.398 2.002 483 659 5.996 5,1 
Banha 94.760 9.119 2176 578 6.144 5,3 
Queijo/requeijão 59.741 13.837 21.376 8.918 33.021 28,4 
Manteiga 15.864 557 2.049 201 1.040 0,9 
Farinha de 
mandioca 3.918 11.115 786 8.978 3.660 3,1 
Melado 12.172 4.074 891 2.714 2.745 2,4 
Arroz em grão 32.946 9.046 170 1.334 3.095 2,7 
Fumo (em rolo ou 
em corda) 821 718 585 588 1.507 1,3 
Fubá de milho 17.058 3.183 81 228 1.034 0,9 
Vinho de uva 2.672 2.591 220 1.291 1.535 1,3 
Total - 100.220 33.211 33.105 116.454 100,0 
Fonte: Mior (2005), a partir dos dados do Censo Agropecuário do IBGE 1995/96. 
 
Por meio dos dados dos censos agropecuários é possível também analisar a 
evolução da produção artesanal - sinônimo de colonial -, agora por região e compará-la ao 
restante do Estado, tomando-se três importantes produtos: queijo/requeijão, embutidos de 
carne suína e melado, conforme se pode verificar na tabela 5. Uma primeira constatação 
feita por Mior são as distintas dinâmicas na evolução por produto entre derivados de leite 
(queijo e requeijão), embutidos de suínos (salame e lingüiça) e de cana-de-açúcar 
 16
(melado). Nos três casos, o número de produtores cresceu entre os censos de 1975 e de 
1985 e decresceu entre 1985 e 1995. Porém embora haja semelhança na evolução do 
número de produtores, o processamento do leite diferencia-se pela grande importância da 
produção de queijo e requeijão nas propriedades agrícolas. Em relação ao total do Estado 
de Santa Catarina, a região Oeste possuía, em 1995, mais de 56% dos produtores de queijo 
e requeijão, mais de 84% dos produtores de embutidos e,no melado, mais de 93%. 
Já o processamento de carne suína (produção de embutidos) nas propriedades era 
muito pequeno em relação à produção industrial. Para Mior (2005), a evolução da 
produção de derivados de suínos reflete o impacto crescente da industrialização 
convencional sobre a região: em 1975 havia 35 mil agricultores que produziam embutidos, 
em 1985 eram 41 mil e em 1995 este número caiu para 17 mil. 
No caso do leite, a redução do número de produtores de queijo e requeijão da 
década de 80 para a de 90 foi pequena – de 41 mil para 33 mil e o volume da produção 
diminuiu pouco - de sete mil para seis mil toneladas. Ainda segundo dados do Censo 
Agropecuário, em 95/96 (IBGE, 1998), a transformação do leite em queijo colonial 
envolveu 33,73 mil produtores rurais no Oeste Catarinense. 
Ao analisar o processamento de cana-de-açúcar, Mior (2005) chamou a atenção 
para a concentração espacial, com mais de 90% dos produtores de melado localizados na 
Região Oeste, especialmente nas microrregiões de Chapecó e São Miguel do Oeste. De 
12.172 produtores deste produto no Estado, 11.431 concentravam-se no Oeste, sendo que 
13 municípios habitados predominantemente por pessoas de origem alemã reuniam 7.738 
produtores, ou seja, dois terços dos produtores da região. Somente em Itapiranga e 
Palmitos existiam em 1995, 900 produtores de melado. Este dado evidencia, segundo Mior 
(2005), além das condições edafoclimáticas favoráveis para a cultura da cana-de-açúcar, 
uma identidade cultural e étnica associada à produção do melado, produto muito apreciado 
pelos imigrantes de origem germânica, especialmente o melado batido16. 
 
16 Embora não se disponha de números para se fazer uma comparação mais precisa, observou-se, durante a 
pesquisa de campo, certa preferência para a produção de alguns produtos, de acordo com cada etnia. 
Assim, conforme visto acima, enquanto agricultores de origem germânica têm preferência pela produção 
de produtos coloniais derivados da cana-de-açucar e de doces (melado, açúcar mascavo, doces de frutas e 
geléias), os de origem italiana concentram-se nas atividades relacionadas à transformação do leite e 
derivados da carne suína. Mesmo não constituindo isso uma regra, há certos produtos que são 
especialidades de uma ou outra etnia, como, por exemplo, o melado batido, produzido quase que 
exclusivamente pelos agricultores de origem alemã. Já o açúcar mascavo, os doces de frutas e as geléias, 
são produzidos por ambas as etnias, mas com um certo predomínio da de origem alemã. Quanto aos 
embutidos de suínos, os agricultores de origem germânica, além dos produtos tradicionais, como salme 
colonial, elaboram também produtos específicos direcionados aos consumidores desta origem (por 
 17
 
Tabela 5. Evolução do processamento de leite (queijo, requeijão), carne suína (salames e lingüiças) e cana-
de-açúcar (melado) nos estabelecimentos rurais de Santa Catarina. 
1975 1985 1995/96 
Região Oeste SC Região Oeste SC Região Oeste SC 
Anos 
 
Produto 
Produt. 
N. 
Qtde. 
(t) 
Produt. 
N. 
Qtde. 
(t) 
Produt.
N. 
Qtde. 
(t) 
Produt.
N. 
Qtde. 
(t) 
Produt. 
N. 
Qtde. 
(t) 
Produt.
N. 
Qtde. 
(t) 
Queijo/ 
requeijão 
26.439 4.171 36.615 5.804 41.404 7.381 63.428 11.674 33.730 6.149 59.741 13.837
Embutidos 
(Salame, 
lingüiça) 
35.012 2.472 46.624 3.023 41.339 2.439 53.816 2.985 17.298 1.433 20.398 2.002 
Melado 9.414 1.544 10.332 5.714 18.727 5.101 20.004 8.632 11.431 1.719 12.172 4.076 
Fonte: Mior (2005), a partir dos dados dos censos agropecuários do IBGE. 
 
Ainda de acordo com Mior: “São estas experiências de transformação de produtos, 
envolvendo milhares de agricultores familiares, que se constituem na raiz das chamadas 
agroindústrias rurais da região e no estado, a partir dos anos 90”. (MIOR, 2005, p. 196). 
Há também uma forte vinculação entre as matérias-primas processadas e as 
atividades agropecuárias desenvolvidas pelas famílias pluriativas da região, conforme 
ressaltado por Ferrari (2003). Embora haja aquelas de importância fundamental para a 
sustentação econômica dos empreendimentos, sobretudo a bovinocultura de leite, a 
suinocultura e a produção de grãos, como já visto anteriormente, há a cana-de-açúcar, 
trigo, frutas, hortaliças, arroz, mel, dentre outras que, embora participem marginalmente 
para a formação da renda destas unidades familiares de produção, contribuem para 
otimizar o uso da terra e do trabalho ao longo do ano e, sobretudo, servem de matéria 
prima para o processamento de produtos coloniais. 
Entretanto, é importante salientar que os dados discutidos acima se referem aos do 
Censo Agropecuário de 1995/96, época em que o movimento para a construção de 
agroindústrias familiares rurais estava apenas no seu início. Para captar o impacto destes 
empreendimentos seria necessário comparar com os dados do Censo Agropecuário de 
2006, os quais ainda não haviam sido disponibilizados pelo IBGE até a conclusão desta 
pesquisa. 
 
exemplo, alguns tipos de embutidos que devem ser cozidos em água antes de serem servidos) diferindo dos 
agricultores de origem italiana. Isto demonstra que a tradição está ainda fortemente relacionada às origens 
étnicas. 
 18
Quando os produtos coloniais começaram a ser processados em escala maior para o 
mercado, os agricultores, para se adequarem às normas dos serviços de inspeção sanitária, 
iniciaram a construção de suas agroindústrias familiares rurais, quer individualmente ou 
organizados em grupos. Na seção seguinte, busca-se quantificar este processo de 
construção de “agroindústrias” familiares rurais17, bem como a sua evolução nos últimos 
anos. 
 
1.5 ALGUNS NÚMEROS SOBRE “AGROINDÚSTRIAS” 
 
O primeiro trabalho que buscou obter informações básicas sobre as Indústrias 
Rurais de Pequeno Porte (IRPPs)18 em Santa Catarina, como eram então denominadas 
estas unidades de transformação, foi o realizado por Oliveira et al. (1999). Além do censo 
das IRPPs existentes no Estado, nesta mesma pesquisa os autores realizaram também uma 
avaliação do potencial de mercado dos produtos processados por estas unidades. O referido 
censo identificou 1.116 IRPPs19 em todo o Estado, das quais 345 localizadas na Região 
Oeste, levantando desde iniciativas muito pequenas, “caseiras” e informais, até aquelas já 
consolidadas e inseridas no mercado formal de produtos alimentares. 
Uma primeira constatação relevante mostra que a grande maioria destes 
empreendimentos (79%) estava organizada informalmente, por pessoa física. Na tabela 6 
constam as distintas formas de organização então existentes, nas diferentes regiões do 
Estado. 
 
17 Embora se considere o uso do termo “agroindústria” no contexto artesanal uma impropriedade semântica, o 
mesmo é de uso corrente na Região e mesmo no Brasil, razão pela qual será adotado nesta pesquisa. 
18 Por ocasião da realização da referida pesquisa, ainda não havia uma predominância de um termo para 
denominar estas unidades de processamento de produtos alimentares realizado por agricultores familiares e 
localizadas no meio rural. A partir da implantação do Projeto Piloto Pronaf Agroindústria é que o termo 
“agroindústria familiar rural” passou a predominar, como se discute no capítulo 4. 
19 Oliveira et al. ressaltam que este número é maior que o levantado, já que em algumas regiões o retorno dos 
questionários, aplicados pelos técnicos dos escritórios municipais da Epagri, ficou aquém do esperado. 
Mesmo assim, os atores julgaram que os dados obtidos foram suficientes, em quantidade e qualidade, para 
traçar um perfil bastante preciso destas unidades. Apesar de se definir a regão Oeste como área de pesquisa 
para a tese, mesmo assim optou-se por apresentar

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