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DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL DE GÊNERO - CULTURA, MONOCULTURA, POLICULTURA E MULTICULTURALISMO NO BRASIL

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15 CULTURA, MONOCULTURA, POLICULTURA E MULTICULTURALISMO NO 
BRASIL 
A cultura ocupa lugar de destaque na atualidade, embora não se possa 
deixar de considerar também sua relevância em outros momentos históricos. Entre 
suas múltiplas conceituações, a cultura pode ser pensada a partir de um 
conhecimento complexo que envolve arte, moral, crenças, costumes e leis 
adquiridas pelo ser humano ao longo do tempo. Miguez (2011, p. 18) aponta que: 
Esta afirmação ganha sentido, contudo, quando voltamos o olhar para a 
constituição da sociedade moderna, tendo em conta o papel que a cultura 
desempenhou nesse processo. Ou seja, se à modernidade correspondeu, 
como uma de suas mais importantes características, a emergência de um 
campo da cultura (relativamente) autônomo em relação a outros campos, 
como o da religião, na circunstância contemporânea, a cultura transbordou 
seu campo específico, alcançando outros campos da vida social, a 
exemplo dos campos político e econômico. 
O autor reforça essa análise afirmando que a cultura “invadiu” outros 
setores da vida em sociedade, o que não representa o fim da cultura como uma 
área específica, mas sua definição como uma área transversal, que atravessa 
muitos outros campos. Miguez (2011) aponta que a cultura deixou de ser algo 
específico de ciências como a sociologia ou a antropologia e passou a fazer parte 
de pesquisas de várias áreas do conhecimento. Também comenta que a cultura 
passou a servir como um recurso a ser utilizado no desenvolvimento de programas 
assistenciais que têm como focos a inclusão social, a transferência de renda, a 
geração de empregos, etc. 
Dessa forma, você pode inferir que “cultura” é um termo que pode assumir 
várias definições, sendo a mais conhecida àquela ligada à antropologia e à 
sociologia, que envolve conhecimentos, crenças, costumes e hábitos adquiridos ao 
longo do tempo. Contudo, esse termo pode assumir significados diversos conforme 
a área de interesse. Assim, as palavras “monocultura”, “policultura” e 
“multiculturalismo” também assumem significados diversos dependendo da área à 
qual estão vinculados. 
 
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O termo monocultura, por exemplo, está associado à produção de um 
único produto. Assim, uma monocultura pode ser considerada como uma unicultura. 
Transpondo essa noção para a área das ciências sociais, não se pode afirmar que 
no Brasil exista a monocultura, uma vez que o País é bastante rico em diversidade 
cultural. Nele, há grande variedade de costumes, hábitos, crenças, enfim, 
características que apontam para a existência da diversidade. Países como Japão 
e China, por exemplo, adotam o monoculturalismo como forma de preservar a sua 
cultura, excluindo influências externas. A adoção dessa estratégia se torna um 
pouco mais fácil em sociedades mais homogêneas e com tendências nacionalistas, 
o que não é o caso do Brasil (DORETO, 2019). 
O termo policultura, por sua vez, relaciona-se ao cultivo de vários tipos de 
produtos em um mesmo terreno, técnica muito aceita entre os povos indígenas, que 
a utilizavam para diversificar a sua produção. Além dos indígenas, há registros de 
que os quilombolas utilizavam essa técnica. Outro conceito que se destaca nesse 
contexto é o de multiculturalismo, contrário ao monoculturalismo. Ele pode ser 
entendido como a existência de várias culturas em determinada região ou país, no 
entanto com uma cultura predominante entre elas. Países como Canadá e Austrália 
adotam o multiculturalismo. A crítica é que o multiculturalismo pode provocar 
desprezo e indiferença por pessoas que não possuem as mesmas características e 
cultura e que porventura residam em países que adotam esse sistema. Isso ocorre 
porque a diversidade cultural passa a ser considerada uma ameaça para a 
identidade nacional. 
Nas palavras de Santos e Nunes (2003, p. 26), o multiculturalismo 
representa a “[...] coexistência de formas culturais ou de grupos caracterizados por 
culturas diferentes no seio de sociedades modernas” e está associado a processos 
emancipatórios e lutas pela afirmação das diferenças. Taylor (1997), por sua vez, 
aponta que as sociedades estão se tornando cada vez mais multiculturais e 
permeáveis, o que conduz à imposição de uma cultura sobre as outras. Falar em 
multiculturalismo e no predomínio de uma cultura sobre outras implica pensar 
também no papel do Estado perante essa questão. Ainda é preciso considerar que 
o multiculturalismo exige tolerância, no que se refere a aceitar as diferenças e a 
 
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aceitar o outro de forma empática e com respeito. Caso contrário, podem ser 
favorecidas situações de conflito, desentendimento e violência. Com relação ao 
papel do Estado, ele deve contribuir para que a legislação seja de fato efetivada. 
Além disso, deve criar medidas para evitar que determinadas situações ocorram em 
razão das desigualdades existentes na sociedade. 
Cada conceito possui suas especificidades, mas, de forma geral, deve 
prevalecer o reconhecimento das diferenças. Assim, grupos que são considerados 
minorias podem assumir o seu valor e lutar pela sua representatividade, 
favorecendo a sua construção identitária. 
Nessa perspectiva, o multiculturalismo deveria prevalecer sobre o 
monoculturalismo, uma vez que todas as culturas e cada uma em especial devem 
ser reconhecidas a partir de suas diferenças, de forma que nenhuma imponha seus 
preceitos, valores e crenças às outras, para que nenhuma seja oprimida ou extinta. 
Quanto ao Estado, ele deve considerar a diversidade cultural existente e lidar com 
ela a partir dos direitos humanos, do reconhecimento da dignidade dos indivíduos e 
do respeito às diferenças. 
 
16 O ALARGAMENTO DAS DESIGUALDADES SOCIAIS NO BRASIL 
Como vimos até aqui, o Brasil é um país de grande diversidade cultural. E 
o mesmo vale para as desigualdades sociais. Há uma relação entre ambas, 
conforme destaca Machado (2011, p. 147): 
No Brasil, onde muito do que se identifica como riqueza da diversidade 
cultural são tradições e saberes das populações mais pobres e, em grande 
parte, apartadas do processo de crescimento econômico, tal realidade 
produz uma dúvida incômoda. O preço da preservação desses bens 
imateriais seria perpetuar os desníveis entre ricos e pobres, mantendo as 
populações tradicionais protegidas da contaminação da informação ou do 
acesso ao mercado de bens e serviços culturais? Além dessa, outra 
indagação permanece como alerta para aqueles que formulam políticas de 
reconhecimento ou de promoção da diversidade: se, no limite, a menor 
unidade da diversidade é o próprio indivíduo, não estariam, assim, sendo 
colocadas em risco conquistas históricas, objeto das lutas sociais que 
serviram para consolidar o respeito ao interesse comum e ao espaço

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