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73 No Brasil, essas denominações mudaram, dependendo do local de origem, entretanto guardam semelhanças entre si. Lutas por posse e manutenção das terras, seja por comunidades tradicionais indígenas ou comunidades remanescentes de quilombos, refletem a disputa pelo acesso à terra no Brasil, que ficou restrito a pequenos grupos com capital necessário e que herdaram a posse da terra dos antigos senhores da região. Todas essas questões evidenciam a luta pela sobrevivência de negros e indígenas no Brasil de hoje. Assim, a resistência de índios e negros não terminou; ela não ficou restrita ao passado, mas continua viva, existindo no Brasil contemporâneo. Enquanto houver uma sociedade racista, que busca eliminar os indivíduos que agem de modo diferente da classe dominante, a luta antirracista é necessária. 14 DIVERSIDADE CULTURAL NO BRASIL O Brasil é um país extremamente marcado por diversidades culturais. Tais diversidades são observadas não apenas na população como um todo, mas também nas várias regiões do território nacional. Ao lado das diversidades culturais, há situações de desigualdade social, também muito evidentes no país. Neste capítulo, você vai aprender um pouco mais sobre esses e outros conceitos. 14.1 Diversidade cultural A diversidade cultural tem sido considerada uma marca da sociedade brasileira. Desde os tempos mais remotos até hoje, estudiosos se deparam com questões como esta: é possível ser igual em uma sociedade em que as pessoas são tão diferentes? A definição de diversidade está associada aos conceitos de pluralidade e heterogeneidade. Em síntese, a diversidade remete à multiplicidade de fatores. A diversidade tem sua origem na colonização do Brasil, com a chegada dos portugueses, associada à presença do índio e do negro nas terras brasileiras. 74 Holanda (1995, p. 43) aponta que os portugueses foram os pioneiros na missão de colonizar o Brasil, sendo os “[...] portadores naturais dessa missão”. Os portugueses que aqui vieram tentaram impor aos habitantes desta terra seus costumes, sua religião e suas tradições. No entanto, o autor aponta ainda que “pouca coisa se conservou entre nós que não tivesse sido modificada ou relaxada pelas condições adversas do meio”. Contudo, manteve-se “[...] a obrigação de irem os ofícios embandeirados, com suas insígnias, às procissões reais, o que se explica simplesmente pelo gosto do aparato e dos espetáculos coloridos, tão peculiar à sociedade colonial” (HOLANDA, 1995, p. 43). Destaca-se, portanto, o fato de que não apenas os portugueses, como também os holandeses e outros povos deixaram suas marcas no País, fornecendo elementos constituintes da cultura brasileira. Ainda é necessário considerar que também permaneceram características próprias, religiões, festividades e costumes específicos de cada povo. Portanto, essa mistura de raças, etnias e todos os valores e tradições deram origem à diversidade cultural da sociedade brasileira, que o passar do tempo só fez intensificar. Agora que você já está mais familiarizado com a noção de desigualdade, considere a noção de cultura. A Declaração Universal da Diversidade Cultural, de 2001, em seu art. 1º, aponta que a cultura “[...] adquire formas diversas através do tempo e do espaço. Essa diversidade se manifesta na originalidade e na pluralidade de identidades que caracterizam os grupos e as sociedades que compõem a humanidade” (UNESCO, 2002, p. 2). A referida Declaração foi aprovada por 185 Estados-membros e é o primeiro documento que busca promover a diversidade cultural dos povos e a comunicação entre eles. A elaboração do documento deve- se principalmente à necessidade de se preservarem riquezas culturais, ainda que no contexto da globalização, que, dadas as suas características, acaba distanciando as culturas ao aproximar os povos exageradamente. Alves (2010) aponta que o crescimento dos mercados mundiais trouxe a ampla sensação de que o mundo estaria vivendo um processo de homogeneização cultural. Nessa perspectiva, foram feitos apelos no sentido de promover a diversidade e as identidades locais, marcadas por grande variedade de línguas, 75 crenças, costumes, tradições. Segundo o autor, na América Latina, o receio de uma unificação de culturas fez com que profissionais se organizassem, juntamente a movimentos sociais, a fim de pressionar os governos locais para a defesa e a promoção da identidade regional. Ortiz (1999, p. 83) aponta que “[...] afirmar o sentido histórico da diversidade cultural é submergi-la na materialidade dos interesses e conflitos sociais (capitalismo, socialismo, colonialismo, globalização). A diversidade cultural se manifesta em situações concretas”. Assim, você pode considerar que a diversidade cultural são os diferentes aspectos que compõem uma cultura: tradições, costumes, linguagens, formas de organização familiar, política, religião, culinária, entre outras características próprias de determinado grupo em determinada época. No entanto, de acordo com Ortiz (1999, p. 82), é preciso ir além das diferenças: [...] a diversidade cultural não pode ser vista apenas como uma diferença, isto é, algo que se define em relação a, que remete a alguma outra coisa. Toda “diferença” é produzida socialmente, ela é portadora de sentido simbólico e de sentido histórico. Uma análise tipo hermenêutica que considere unicamente o sentido corre o risco de isolar-se num relativismo pouco consequente. Ortiz (1999) aponta ainda que, em alguns casos, a diversidade esconde também relações de poder. É importante reconhecer os momentos em que ela oculta questões como a desigualdade. Para o autor, “[...] se as diferenças são produzidas socialmente isso significa que à revelia de seus sentidos simbólicos elas serão marcadas pelos interesses e pelos conflitos definidos fora do âmbito do seu círculo interno” (ORTIZ, 1999, p. 85). Nesse sentido, complementa que a diversidade cultural é ao mesmo tempo desigual e diferente, pois ela é permeada por relações de poder e legitimidade países fortes versus fracos; governo nacional versus internacional, entre outros. Dessa forma, não é possível falar em “unidade na diversidade”, especialmente quando se tratar de problemas para os quais ainda não há respostas. A expressão “diversidade cultural” busca compreender as diferenças entre as várias culturas existentes, que fazem parte do que se chama “identidade cultural”. 76 Nesse aspecto, o Brasil é extremamente rico. É um país marcado, desde suas origens, por diversidade em vários aspectos. Cada civilização que aqui chegou trouxe um pouco de sua cultura, suas formas de viver, se organizar e ver o mundo, o que contribui para a heterogeneidade presente na atualidade. Entretanto, Ortiz (1999) aponta que a diversidade presente no mundo antes do século XV era maior do que a existente hoje. Muitas culturas, línguas, economias e costumes foram desaparecendo com a expansão do colonialismo, do imperialismo e da industrialização. Não se pode deixar de mencionar que a diversidade cultural no Brasil é bastante evidente também entre as diferentes regiões do País. Norte, Nordeste, Sul, Sudeste, Centro-Oeste: cada Estado tem características próprias, que envolvem valores, costumes, linguagens, diferenças climáticas e nível de desenvolvimento. Machado (2011, p. 149) afirma que a diversidade deve ser vista “[...] como um fenômeno dinâmico e multidimensional. O que deve ser preservado, portanto, não é um dado estado dessa diversidade, mas a possibilidade de direito a ela”. O autor aponta também que a diversidade deve ser fonte de criatividade e base para transformações cabíveis. Ainda menciona que não se devem “relativizar direitos humanos sobre o pretexto do respeito à diversidade”. O autor cita como exemplo que não se devem “[...] violar direitos das mulheres sob o pretexto de convicções religiosasou práticas enraizadas culturalmente”. Todos esses apontamentos direcionam para um conceito equilibrado de diversidade, que a define como algo positivo, desde que as atitudes colaborem com o desenvolvimento de competências e habilidades abertas às diferenças. Para Machado (2011), não é o caso de reconhecer as pessoas apenas em suas diferenças, mas de valorizar trocas, reconhecimento, curiosidade e interesse em conhecer o outro.
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