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31 universidades estaduais para pretos e pardos (Maggie; Fry, 2004). A partir de 2002, o debate e a implementação de políticas de ação afirmativa com viés racial, com foco no sistema de cotas, estenderam-se por diversas universidades públicas, tanto estaduais como federais. Em sua ampla maioria, com regras variadas, foram definidos mecanismos centrados na auto declaração dos candidatos. Já a UnB, além de ser a primeira universidade federal a adotar o programa, estabeleceu critérios adicionais à auto declaração para definir os beneficiários, ou seja, quem seriam os "negros". A implantação das cotas não se deu sem polêmicas, e desde então são produzidas avaliações sobre o programa em inúmeros estados. As principais críticas à política de cotas destacadas por Guarnieri e Melo-Silva (2017, p. 185) desde a sua implantação em 2012 apontam: [...] inexistência biológica das raças; caráter ilegítimo das ações de “reparação” aos danos causados pela escravidão em tempo presente; risco de acirrar o racismo no Brasil; possibilidade de manipulação estatística da categoria “parda”; inviabilidade de identificação racial em um país mestiço; a questão da pobreza como determinante da exclusão social. Por outro ladro, também é preciso evidenciar pontos que foram vantajosos e que conseguiram provocar uma nova configuração da população no acesso à educação superior. Logo, a mesma pesquisa destacou: Os argumentos favoráveis concentraram-se na discussão sobre a constitucionalidade das cotas e relevância para o país. A intervenção do Estado foi colocada como fundamental diante dos quadros de desigualdade raciais remanescentes de fenômenos sociais que precisam ser enfrentados; destacando-se que as “ações afirmativas” atuariam como alternativa para a busca de igualdade através da promoção de condições equânimes entre brancos e negros (GUARNIERI; MELO-SILVA, 2017, p. 185). 8 RACISMO E FORMAÇÃO DAS IDENTIDADES ÉTNICAS A formação da identidade pessoal ocorre desde o nascimento, a partir das experiências e vivências nos campos sociais. Nesses campos, as pessoas aprendem a respeito da cultura de cada grupo étnico. Nesse contexto, cada etnia tem uma cultura própria, forjada a partir das experiências históricas que vivenciou, 32 das ideias e normas sociais que produziu com o passar dos tempos e que procurou transmitir de geração em geração. A vida em sociedade, algumas vezes, faz com que determinadas etnias tenham mais poder e dominem as demais. Isso afeta a produção das identidades e pode abalar a construção da autoimagem dos sujeitos dominados e inferiorizados. Quando a cultura de um grupo étnico é vista como superior e procura servir como padrão para todas as demais, pode haver efeitos indesejáveis, como o racismo e a discriminação étnico-racial. 8.1 Formação da identidade e da autoimagem Para analisar o processo de formação das identidades, é preciso compreender bem o conceito de cultura, pois esse conceito é decisivo para que as identidades sejam produzidas nos sujeitos. O termo “cultura”, nesse caso, pode ser utilizado “[...] para se referir a tudo o que seja característico sobre o ‘modo de vida’ de um povo, de uma comunidade, de uma nação ou de um grupo social [...]” (HALL, 2016, p. 19). Essa definição é interessante pois remete aos vários aspectos antropológicos e sociológicos presentes na cultura. Dessa forma, não a restringe a “[...] um conjunto de coisas romances e pinturas ou programas de TV e histórias em quadrinhos, mas sim [a define como] um conjunto de práticas [...]” (HALL, 2016, p. 20). Logo, os indivíduos que partilham da mesma cultura tendem a apresentar uma interpretação de mundo semelhante, uma atribuição de sentido similar sobre as coisas. Afinal, eles aprendem no interior das práticas cotidianas de seu grupo étnico a respeito desses conceitos e seus significados. Considere, por exemplo, uma criança pequena. Ela desenvolve traços de comportamento similares aos dos pais ou irmãos, na maioria das vezes. Na escola também ocorre esse processo. É a partir da conduta do professor ou dos colegas na educação infantil ou anos iniciais do ensino fundamental que os alunos aprendem formas de agir que farão parte da sua identidade. Para compreender melhor como ocorre o processo de formação das 33 identidades, veja algumas características inerentes a ela: negação; diferença; relação. Os sujeitos constituem a sua identidade a partir da negação daquilo que não são. Ou seja, sou “branco” porque não sou “negro” ou “amarelo”; sou um sujeito “calmo” pois não sou “nervoso” ou “agressivo”. Esse mesmo mecanismo que faz alguém definir quem é (ou pretende ser) exclui as demais possibilidades, normalmente inserindo o sujeito em um sistema de classificação social que possui representações simbólicas sobre as diferentes categorias. Ou seja, quando alguém se posiciona como “branco”, por exemplo, assume todos os significados que essa classificação proporciona. Isso inclui os privilégios históricos, bem como uma posição que simbolicamente denota maior confiança, ou que é associada à competência profissional, etc. O segundo elemento que você deve considerar é que a identidade é produzida também a partir da marcação da diferença. Assim, um sujeito é da forma como é porque é diferente dos demais com os quais não se identifica. É importante você notar que “[...] a diferença é um elemento central dos sistemas classificatórios por meio dos quais os significados são produzidos [...]” (WOODWARD, 2012, p. 68). O problema com a questão da diferença ocorre quando ela é utilizada dentro desse sistema classificatório para realizar juízo de valor e construir representações ruins, negativas e que inferiorizam algumas identidades. Isso foi muito recorrente, por exemplo, durante os processos colonizadores no Brasil. Nesse contexto, assumiu-se a identidade europeia (dos colonizadores) como a central, mais importante e poderosa do que todas as demais. Nesse processo, indígenas e negros foram representados como subalternos, inferiores, selvagens e sem cultura. Convém reforçar ainda que “[...] temos o direito a ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito a ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza. Daí a necessidade de uma igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades [...]” (SANTOS, 2003, p. 56). 34 As diferenças são marcadores que constituem as pessoas, as tornam seres singulares e especiais. Dessa forma, devem ser reconhecidas e valorizadas socialmente. O terceiro aspecto talvez seja o mais importante de todos: o caráter relacional da identidade. A identidade é produzida a partir das relações nos grupos sociais e nas instituições que fazem parte das experiências dos sujeitos: “Nós participamos dessas instituições ou ‘campos sociais’, exercendo graus variados de escolha e autonomia, mas cada um deles tem um contexto material e, na verdade, um espaço e um lugar, bem como um conjunto de recursos simbólicos [...]” (WOODWARD, 2012, p. 29). Os campos sociais são importantes e decisivos para que as relações e interações sociais ocorram e, assim, contribuam para que os sujeitos produzam suas identidades. Nesse contexto, a escola é uma importante instituição, que as crianças frequentam de forma obrigatória a partir dos 4 anos de idade no Brasil e que acolhe aos mais diversos grupos étnicos e culturais. As escolas também possuem seus contextos particulares e seus simbolismos. Por exemplo, uma escola pública pode ser muito diferente de uma escola privada nas questões estruturais, curriculares e, até mesmo, em relação ao público que atende O processo de formação da identidade também envolve aspectos psíquicos. O indivíduo produz tanto selfs sobre si mesmo quanto sobre todos os demais com quem convive, formando o seu autoconceito.Segundo Goñi e Fernández (2009, p. 25), “[...] o conceito que uma pessoa tem de seu self surge das interações com os outros e reflete as características, expectativas e avaliações dos demais [...]”. O autoconceito se relaciona estreitamente com a autoimagem e com a autoestima que os sujeitos possuem. Por sua vez, segundo mendes et al. (2012, p. 7), A autoimagem é uma descrição que a pessoa faz de si, a forma como ela se vê, estando esta percepção também relacionada ao modo como os outros a percebem. Por seu turno, a autoestima é uma avaliação que o sujeito faz de si, estando esta valoração relacionada também com o modo como os outros o avaliam [...] 35 Como você pode perceber, durante o processo de formação das identidades, existe uma estreita relação entre o autoconceito, a autoimagem e a autoestima, o que tem importância significativa. Caso o sujeito, ao conviver em seus campos sociais, perceba que simbolicamente sua identidade é representada como inferior ou excluída em relação às demais, pode ter sérios problemas de autoestima e autoimagem. Nesse caso, ele assume para si as representações distorcidas que o desvalorizam. É o que acontece, por exemplo, com identidades culturais minoritárias que sofrem estigmatizações, preconceitos, racismo e violências diversas. Bee e Boyd (2011, p. 284), ao analisarem o autoconceito e o ambiente escolar, comentam que “A criança em idade escolar também começa a ver suas próprias características (e as de outras pessoas) como relativamente estáveis e, pela primeira vez, desenvolve um sentido global de seu próprio valor [...]”. É possível inferir que, na escola, os mecanismos de produção das identidades encontram terreno fértil para que as mais variadas relações e interações necessárias se estabeleçam. Cabe ao docente estar atento, percebendo e intervindo sempre que esse processo possa ser prejudicado por práticas racistas ou preconceituosas durante suas aulas. 8.2 Identidade étnica: desafios dos grupos minoritários Você já viu que a formação das identidades individuais ocorre a partir das relações estabelecidas entre os grupos e instituições sociais às quais os sujeitos pertencem. Essa formação também envolve os aspectos internos, ligados ao desenvolvimento psicológico. É aí que são estabelecidos o autoconceito, a autoimagem e a autoestima. Da mesma forma, a cultura tem importância fundamental. Por meio dela, os indivíduos aprendem as práticas sociais discursivas (o que se diz) e não discursivas (o que se faz) do seu grupo étnico. A cultura, dessa forma, envolve todos os simbolismos e representações que foram estabelecidos com o passar das experiências históricas do grupo. Ela costuma servir como balizador, como norte a guiar as ações futuras daqueles que fazem parte de 36 determinada etnia. Assim, as características étnicas contribuem significativamente para a formação das identidades. Como exemplo, considere algumas alusões a traços ou comportamentos culturais de determinadas etnias: “o povo alemão sabe melhor como poupar”, “os italianos são mais acolhedores e hospitaleiros”, “os indígenas são mais espiritualizados e desapegados dos bens materiais”, etc. Essas afirmações procuram essencializar os traços de uma identidade étnica, o que pode ou não ser verdadeiro para todos os que compõem a etnia (OLIVEIRA; CANDAU, 2010, p. 16). A formação das identidades culturais e étnicas é um processo histórico e social produzido nos embates de poder e força entre as etnias existentes. No decorrer da história brasileira, houve, acompanhando as tendências internacionais, o favorecimento de algumas etnias. Além disso, ocorreu a construção de representações simbólicas que favorecem tais etnias e, ao mesmo tempo, desqualificam e inferiorizam todas as demais, produzindo grandes desigualdades sociais e raciais. Dessa forma, os mecanismos de colonização no Brasil estabeleceram uma relação entre cor e raça que serviu para classificar as populações, bem como para executar a “[...] inferiorização de grupos humanos não europeus, do ponto de vista da produção da divisão racial do trabalho, do salário, da produção cultural e dos conhecimentos [...]” (OLIVEIRA; CANDAU, 2010, p. 16). A colonização não se deu somente no território físico, na materialidade dos recursos e na exploração da mão de obra do colonizado, mas também colonizou os saberes, impôs novas formas de pensar e agir socialmente. As sociedades ocidentais e, mais particularmente, a sociedade brasileira desenvolveram um processo de racialização em que foram cristalizadas algumas características essenciais ao sujeito moderno, que serve de referência a todos os demais. Louro (2011, p. 65) reforça essa ideia ao argumentar que “[...] no contexto da sociedade brasileira, ao longo de sua história, foi sendo produzida uma norma a partir do homem branco, heterossexual, de classe média urbana e cristão [...]”. Dessa forma, as minorias sociais são compostas por todos aqueles que por quaisquer motivos não se encaixem na norma: as mulheres, os negros, os 37 indígenas, os homossexuais, aqueles que possuem outras religiões (como as de matriz africana), as pessoas com deficiência, os pobres, etc. Embora, em grande parte dos casos, esses grupos apresentem-se quantitativamente maiores do que os que servem de referência, são considerados minoritários devido à sua falta de força e de poder nas relações sociais. O professor, ao desenvolver suas atividades na escola, deve estar atento para que as suas aulas não reforcem uma estratificação social que se vale dos aspectos étnico-raciais dos sujeitos. Ele não deve ceder espaço a uma pedagogia que “[...] educou o olhar deste sujeito branco que julga; ela educou seu modo de compreensão sobre a pertença racial. Ela o educou para pensar que ele, branco, não tem raça nem cor e, portanto, pode, do alto de seu estatuto de incolor, julgar quem são, afinal, os ‘de cor’ [...]” (KAERCHER, 2010, p. 87). Ou seja, o docente, seja ele branco, negro ou de qualquer outra cor de pele, deve ter consciência de que as características étnicas influenciam e são importantes para a formação da identidade e, consequentemente, da autoimagem e da autoestima de seus alunos, coibindo práticas racistas e preconceituosas. Ao analisar a produção histórica relativa ao conceito de racismo e suas modificações com o passar das décadas no Brasil, Guimarães (2004, p. 33) comenta que [...] o nosso desafio atual, ao formar as novas gerações, é teorizar a simultaneidade desses dois fatos aparentemente contraditórios, apontados por todos os que nos precederam: a reprodução ampliada das desigualdades raciais no Brasil coexiste com a suavização crescente das atitudes e dos comportamentos racistas [...]. O autor faz uma crítica e um alerta ao fato de que no Brasil entende-se que não há racismo devido ao mito da democracia racial. O fato de haver miscigenação na formação do povo brasileiro não faz com que, naturalmente, as relações sociais sejam harmônicas e justas. O mito da democracia racial mascara o grande abismo que é produzido desde a época colonial e reproduzido em instituições como a escola, colocando alguns grupos étnicos em condição desigual, marginalizada e empobrecida. 38 Você deve entender que “[...] a identidade étnico-cultural, mesmo quando aparece como marginalizada, excluída, não é uma realidade muda, simples objeto de interpretação. Ela é fonte de sentido e de construção do real. Os processos culturais são processos conflitivos [...]” (KREUTZ, 1999, p. 83). Os conflitos normalmente surgem a partir dos movimentos sociais de algumas etnias em busca de sua igualdade de direitos políticos, econômicos e sociais, procurando quebrar a hegemonia de poder que se instituiu historicamente. Como exemplo, considere o movimento negro brasileiro, que, com suas lutas, conseguiu incluir nos currículosescolares a obrigatoriedade do ensino da história e da cultura afro-brasileiras por meio da Lei nº. 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Além disso, esse movimento teve participação decisiva na implantação do sistema de cotas raciais e sociais nas universidades públicas e na criação do Estatuto da Igualdade Racial, entre outras conquistas que visam a reparar danos históricos causados às etnias afrodescendentes. A escola, como instituição social que se estende a todos, independentemente de sua identidade étnico-cultural, deveria promover cursos que “[...] alargassem a compreensão que os/as estudantes possam ter de si mesmos/as e de outras pessoas, ao examinar eventos que enfoquem um senso de responsabilidade social e moral [...]” (GIROUX, 1995, p. 91). Dessa forma, cabe à escola, ao professor, conduzir seus alunos a: [...] examinarem criticamente sua própria localização histórica em meio a relações de poder, privilégio ou subordinação. [A escola] Pode, também, ajudá-los a perceberem as especificidades étnico-culturais próprias, distinguindo e reconhecendo as especificidades dos grupos étnicos, incentivando-os a um diálogo intercultural (KREUTZ, 1999, p. 93). A escola e os professores dispõem de uma gama de possibilidades para trabalhar as questões que tanto contribuem para que a formação e a afirmação das identidades étnicas ocorram em simetria e equidade. Assim, podem ajudar a produzir uma sociedade melhor e mais justa para todos. 39 8.3 O posicionamento do professor frente ao racismo e à injúria racial O professor deve ser um bom observador. Além disso, deve conhecer as características pessoais e culturais de seus alunos. A ideia é que ele atue como um mediador entre os mais diversos grupos étnico-culturais que se encontram sob sua docência. Dessa forma, ele deve conhecer muito bem os conceitos listados no Quadro 1 para que possa tomar as atitudes adequadas. Conhecer os conceitos apresentados no Quadro 1 é fundamental. Você deve considerar que, na formação de sua identidade étnica e cultural, as pessoas podem se apropriar de preconceitos, ideias distorcidas e/ou crenças equivocadas a respeito de outras etnias e suas características. Isso pode levar a comportamentos discriminatórios e, inclusive, culminar em crimes de racismo e injúria racial. Essas situações não são admissíveis em nenhum segmento da sociedade e especialmente na escola, por ser um espaço privilegiado de formação das identidades étnicas e culturais. Como as crianças entram precocemente na escola, a partir dos 4 anos de idade, já na educação infantil o professor pode observar e desconstruir tais preconceitos. A ideia é que ele ajude os alunos a desenvolver uma conduta intercultural que reconheça e respeite a todos sem distinção (BES, 2019). 40 Como exemplo, considere o caso de um professor que atua com uma turma de alunos do 5º ano do ensino fundamental de uma escola de periferia. Tal escola recebe crianças e jovens em condições de vulnerabilidade social. Na turma em que o professor trabalha, existem dois grupos étnicos com uma rivalidade muito grande, que se manifesta tanto entre os meninos quanto entre as meninas. Um grupo é de alunos afrodescendentes e o outro é de alunos que se consideram “brancos”. O professor decide analisar o contexto dos alunos, conhecer sua vida social, as particularidades de sua rotina diária. Assim, ele percebe muitas semelhanças entre eles. Com base nisso, resolve confrontar ambos os grupos e provocá-los a pensar sobre a sua condição social. Para iniciar a discussão, o tema escolhido é a situação de pobreza em que se inserem, as perspectivas e planos que têm para o futuro, suas angústias e desafios cotidianos, seus problemas familiares, entre outras situações. No decorrer das aulas, o professor realiza algumas dinâmicas de grupo e abre o canal de comunicação para que todos se manifestem sempre que acharem oportuno. As trocas de experiências entre os estudantes negros, brancos e todos os demais que não se identificam com esses dois grupos são muito produtivas e significativas. Muitos percebem semelhanças em suas relações na sociedade, nas mazelas que lhes afligem socialmente, na carência dos bens materiais, nos sofrimentos sentidos durante a infância, nas frustrações, decepções e mágoas familiares, nos planos para o futuro e nas perspectivas que possuem. Essa vivência faz com que os grupos de alunos se aproximem muito e une a todos já no primeiro bimestre. Resolvidas as questões que provocaram o choque cultural entre os jovens alunos, não há mais problemas de ofensas raciais ou estereótipos de qualquer natureza. O diálogo torna os estudantes mais tolerantes, respeitosos e acolhedores das diferenças. Oliveira e Candau (2010) refletem sobre a importância do reconhecimento de todos os grupos étnicos nos debates interculturais realizados nas escolas visando a uma educação antirracista. Eles afirmam que: [...] o termo reconhecimento implica: desconstruir o mito da democracia racial; adotar estratégias pedagógicas de valorização da diferença; reforçar a luta antirracista e questionar as relações étnico-raciais baseadas 41 em preconceitos e comportamentos discriminatórios [...] (OLIVEIRA; CANDAU, 2010, p. 32). Para que isso possa ser realizado pelo docente, é necessário que haja conhecimento, interesse e posicionamento sobre essas questões tão importantes e presentes na sociedade. A proposta é que os alunos entendam que a diferença torna os sujeitos ricos e não os deprecia ou inferioriza. Cabe aos professores e professoras, no decorrer de suas práticas docentes, independentemente do nível educacional em que atuam, da educação infantil ao ensino superior, “[...] promover processos de desconstrução e de desnaturalização de preconceitos e discriminações que impregnam, muitas vezes com caráter difuso, fluido e sutil, as relações sociais e educacionais que configuram os contextos em que vivemos [...]” (CANDAU, 2012, p. 8). Para que possa superar esse desafio, você deve estar atento às questões apresentadas de: • naturalização; • igualdade e diferença; • currículo escolar; • culturas; • interações. A naturalização de características que se relacionam com alguma etnia específica deve ser observada pelo professor. Assim, pode ser contestada e desconstruída junto aos seus alunos. Dessa forma, conforme explica Hall (2016), a naturalização muitas vezes opera para fixar as possíveis “diferenças” que são produzidas dentro de uma lógica etnocêntrica e monocultural. Partindo desse princípio, é comum que os alunos utilizem expressões e noções naturalizadas sobre determinadas etnias. É o caso da associação dos afrodescendentes com esportes de luta e corrida. Nesse caso, se propõe que essa seja uma “verdade” recorrente a todos os negros, o que os exclui de outras realizações, ao mesmo tempo em que interfere outras etnias de ter sucesso nessas modalidades. A igualdade e a diferença devem sempre ser colocadas em discussão. Elas são importantes para a formação das identidades étnicas e culturais de todos os alunos, marcando que as diferenças existem e constituem os sujeitos. Por sua vez, 42 a igualdade remete aos direitos que todos possuem. Da mesma forma, o currículo escolar deve ser observado com atenção pelos professores, em cada detalhe, na seleção de conteúdo, textos, livros didáticos e técnicas a serem utilizadas. Deve-se reconhecer que todo saber carrega consigo o poder de produzir um entendimento sobre o mundo. Ao trabalhar junto aos alunos os processos de formação de suas identidades culturais, os professores podem valer-se do importante recurso das histórias de vida desses sujeitos. Ao narrar a sua trajetória, os alunos exercitam o processo de escolha de suas memórias e percebem os aspectos que lhes são mais caros e pertinentes. Da mesma forma, É importante que seopere com um conceito dinâmico e histórico de cultura, capaz de integrar as raízes históricas e as novas configurações, evitando-se uma visão das culturas como universos fechados e em busca do “puro”, do “autêntico” e do “genuíno”, como uma essência preestabelecida e um dado que não está em contínuo movimento (CANDAU, 2012, p. 8). 9 DISCRIMINAÇÃO A discriminação é composta por um jogo de forças cujo objetivo é a manutenção de poder por estratos sociais que se julgam possuidores de valor social mais elevado, o que resulta na produção de desigualdades como resultado estrutural da vida em sociedade. 9.1 Sobre a origem da discriminação O inatismo, princípio segundo o qual nascemos todos providos com alguma ideia que independe do meio onde vivemos, é controverso na filosofia. Alguns filósofos intuem que sim, outros que não; por isso, iniciaremos esta discussão investigando a possibilidade de a discriminação ser uma ideia que nasce com todos
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