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LINGUA BRASILEIRA DE SINAIS LIBRAS-A PRÁTICA DE LIBRAS

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21 
 
De acordo com Martins (2019), a escola precisa repensar suas práticas, 
métodos, currículos e avaliações para que contemplem as especificidades dos 
discentes surdos, além de incentivar o uso da Libras em seus espaços e entre seus 
atores. Assim, um espaço que oferece possibilidades linguísticas para os surdos pode 
proporcionar um melhor aprendizado e gerar um sentimento de pertencimento. 
 
 
 
 
5 A PRÁTICA DE LIBRAS 
Neste capítulo, você refletirá acerca de como as experiências visuais são 
fundamentais para a pessoa com surdez e como auxiliam na comunicação e na 
aprendizagem. Ouvintes são tão acostumados a viver no mundo barulhento que nem 
percebem a importância que isso tem em seu dia a dia. Por exemplo, ouvir música e 
ao mesmo tempo realizar outra tarefa é algo muito comum. Já para o surdo, ir ao 
teatro ou ao cinema e conseguir acompanhar a fala e as ações que acontecem ao 
mesmo tempo é muito difícil. É preciso fazer escolhas, ou olhar para o intérprete, 
quando tiver, ou tentar apenas acompanhar os movimentos e, assim, buscar a 
compreensão do que está acontecendo. 
Em alguns dias não estamos bem, de saúde ou porque algo aconteceu, e, ao 
chegar ao trabalho ou à escola, por exemplo, optamos por ficar mais quietos e esperar 
que ninguém perceba. Entretanto, quando tem uma pessoa com surdez por perto, isso 
se torna praticamente impossível, pois a primeira pergunta que surge é: o que você 
tem? Está tão triste hoje. Para as pessoas com surdez, nossas expressões faciais e 
corporais, na maioria das vezes, dizem mais do que qualquer palavra ou sinal. Por 
 
22 
 
isso, quando passamos a conviver mais com surdos, precisamos nos atentar a esses 
simples detalhes, que, na verdade, fazem muita diferença. 
Para o surdo, no entanto, isso também precisa ser aprendido, assim como para 
os ouvintes que ingressam na comunidade surda. Por isso, quanto mais cedo a 
criança surda estiver em contato com a língua de sinais, conhecer e vivenciar 
experiências com surdos, tanto na escola quanto na sociedade no geral, maiores 
serão as possibilidades de desenvolver sua identidade surda. 
5.1 Experiências Visuais: Formas de Interagir e Se Constituir Com o Outro 
A diferença é algo positivo, pois somos todos diferentes e, ao mesmo tempo, 
nos constituímos por meio dessas diferenças. Olhar a surdez por esse viés favorece 
a compreensão de que os sujeitos surdos se diferenciam dos ouvintes, sim, talvez 
pela comunicação, pelo modo de agir ou simplesmente pelo modo de ver o mundo, 
mas eles não deixam de ser seres humanos como qualquer outro. “Entender a surdez 
e os surdos a partir da diferença significa uma inversão do olhar da exclusão pelo 
isolamento no mundo do silêncio, passando a entender a surdez como uma 
experiência e uma representação visual [...]” (GIORDANI, 2012, p. 66). 
A comunidade ouvinte tem seus costumes e hábitos permeados por 
experiências auditivas, já a comunidade surda, por meio de experiências visuais. 
Ambas se compõem de artefatos culturais muito parecidos, diferenciados, em sua 
maioria, pela forma de expressão e recepção das informações. 
Por exemplo, para o ouvinte, o sentido da música está na melodia que 
acompanha a letra, e, sem isso, torna-se difícil compreendê-la. Já para o surdo o que 
passará essa “melodia” será a forma de sinalizar, o movimento corporal e a 
composição de sinais do intérprete é que possibilitarão que a emoção seja ou não 
sentida pelo surdo. Cada ritmo precisa ser sinalizado com um movimento corporal 
diferenciado, por exemplo, quando for pagode, o corpo precisa se movimentar da 
forma como a melodia é percebida pelo ouvinte. Assim acontece com cada estilo 
musical, por isso nem todo profissional se dispõe a traduzir uma música, pois precisa 
mergulhar e se apropriar daquele ritmo para conseguir repassar. Quando isso não 
acontece, se torna apenas uma simples sinalização, e não uma música em Libras. 
 
23 
 
No caso das histórias, quando narradas oralmente, a fala das personagens, a 
mudança de uma para outra, a organização da história e o gênero são percebidos 
pela entonação de quem lê ou conta. O ouvinte percebe quando não há um preparo 
prévio ou quando a pessoa que narra a história não o faz com destreza. Quando elas 
são narradas ou contadas por meio da língua de sinais, esses aspectos são passados 
por meio do corpo. Inicialmente, é feita a organização da história no espaço, ou seja, 
os elementos que a compõe vão sendo distribuídos no espaço, à frente de quem 
sinaliza. A partir disso, toda a história vai se construindo, e, para demonstrar quando 
um ou outro personagem está falando, o posicionamento é usado, o que se dá por um 
leve movimento de corpo; em relação à entonação, ela ocorre por meio da intensidade 
dos sinais e do uso das expressões faciais e corporais (FALKOSKI, 2019). 
Outro exemplo são os jogos, para os quais existem diferentes modalidades: 
Olímpiada, Copa do Mundo, competições em cada modalidade esportiva, entre outros, 
pensando nos ouvintes. A comunidade surda normalmente organiza uma olímpiada 
escolar ou olímpiada de surdos, a primeira organizada entre escolas e instituições de 
ensino que atendam surdos, já a segunda conhecida como Surdolimpíadas. Elas 
ocorrem a cada 3 anos em um país diferente, sendo importante destacar que são 
diferentes modalidades disputadas e que o Brasil vem se destacando ano após ano; 
agora também têm sido organizadas no Brasil, entre os estados. Muito se discute o 
motivo de fazer separado de outras pessoas com deficiência, porém, quando se pensa 
na principal diferença do surdo para os ouvintes, aí começa a fazer sentido: a língua. 
Principalmente se pensar na organização das regras e instruções que são feitas por 
meio da língua de sinais: não seria justo e fácil que, em um jogo entre surdos e 
ouvintes, o primeiro grupo recebesse dicas e orientações auditivas durante todo o 
jogo, e o segundo grupo, não. Ao falar desse tópico, torna-se necessário fazer uma 
ressalva quanto à divulgação esportiva, visto que dificilmente os noticiários trazem 
notícias ou a cobertura desses encontros de pessoas surdas, pois ainda se dá pouca 
importância para esses eventos, mesmo sendo de conhecimento da sociedade a 
existência de uma comunidade surda. 
 
 
24 
 
 
 
Observar esses aspectos consiste em olhar para a diferença, perceber que não 
são músicas, histórias ou jogos diferentes, mas sim a forma como acontecem e são 
organizados. Em algumas situações, é possível contar com a tradução e a 
interpretação sem grandes prejuízos, já em outras, não. Esse fator precisa ser levado 
em consideração, pois nem sempre a diferença se resolve apenas com a presença de 
um intérprete. É diferente um surdo assistir a uma peça de teatro com personagens 
sinalizando e assistir a mesma peça com intérprete. No primeiro caso, se olhar para a 
fala-sinalização, perderá a ação, e vice-versa. 
Além dessas diferenças, outra que se destaca muito é a língua utilizada pela 
comunidade. De acordo com Giordani (2012, p. 71), “A comunidade de surdos se 
identifica essencialmente pela língua que usa [...]”, essa língua é que auxiliará, 
juntamente com outros aspectos culturais, na construção da identidade surda. No 
caso do Brasil, usa-se a Língua Brasileira de Sinais, também conhecida como Libras. 
Todavia, deve-se deixar claro que cada país tem a sua língua, porém todas seguem 
basicamente os mesmos princípios quanto à sua composição de fonologia, morfologia 
e sintaxe. 
O ser humano não nasce sabendo e dominando os conhecimentos necessários 
para viver em sociedade, esses conhecimentos precisam ser ensinados e aprendidos. 
As possibilidades de aprendizagem e de ensino estão disponíveis para todas as 
pessoas? Sim, a possibilidade de aprender sempre está disponível. No entanto, elas 
nem sempre são proporcionadas, principalmente, para a criança com deficiência. 
Muitas vezes, julga-se que algumas pessoas nãopodem ou não conseguem aprender. 
Segundo Mazzotta e D’antino (2011, p. 379): 
Situações de segregação, marginalização ou exclusão, de quem quer que 
seja, concretizam atitudes que se configuram como violência simbólica. [...] 
Historicamente, as pessoas que apresentam diferenças muito acentuadas em 
relação à maioria das pessoas constituem-se alvo das mais diversas 
 
25 
 
estratégias de violência simbólica. Um dos segmentos populacionais 
reiteradamente colocados nessa posição tem sido o composto de pessoas 
com deficiências físicas, mentais, sensoriais ou múltiplas, além daquelas que 
apresentam outros transtornos de desenvolvimento. 
As pessoas com surdez já passaram por diferentes momentos ao longo dos 
tempos, e aos poucos estão construindo e conquistando o seu espaço na sociedade, 
porém essa não é uma tarefa fácil, pois exige dedicação, paciência e muita 
compreensão. Entretanto, também exige que as pessoas em geral se coloquem no 
lugar do surdo, desenvolvam a empatia, o respeito ao próximo. Toda pessoa tem 
direito a aprender, mas é fundamental ter alguém que ensine, e esse papel precisa 
ser desempenhado pela sociedade. 
Segundo Kraemer (2012, p. 84), 
São as diversas condições sociais, econômicas, culturais, tecnológicas que 
interferem na constituição de cada indivíduo. A partir de suas interações e 
das condições que possibilitam essas interações, cada sujeito internaliza 
formas específicas de se relacionar com os outros, com o meio e com ele 
próprio [...]. 
No entanto, para que isso aconteça, a sociedade precisa estar disposta a se 
tornar mais acessível e mais inclusiva verdadeiramente, não apenas dizendo que 
existem escolas inclusivas ou que existe acessibilidade para algumas situações e 
pessoas. Precisamos construir, ou melhor, tornar, a sociedade de todos, para todos. 
Quantas vezes se encontra alguém que saiba a língua de sinais ou um intérprete em 
qualquer lugar? Todos os serviços estão disponíveis à comunidade em geral? Uma 
consulta médica, uma sessão de cinema, uma instituição bancária, entre outras, tem 
meios para atender à comunidade surda? Independentemente de ser uma pessoa que 
não precise de adequações ou uma que precise, aqui, nesse caso, esse preparo seria 
por meio do uso da língua de sinais. 
Até mesmo em escolas e instituições que oferecem cursos na área e que se 
dizem preparadas para atender à diferença, na verdade, não estão. Poderiam ser 
relatadas diversas histórias de surdos em relação a esses espaços, mas penso ser 
importante apenas destacar que, ao mesmo tempo que estamos evoluindo, com 
novas descobertas, novas tecnologias, estamos deixando de lado o mais importante: 
o ser humano que precisa da proximidade, do contato visual, do olho no olho para 
receber e expressar informações, sentimentos, emoções ou desejos. Foram criados 
diversos aplicativos que visam ao desenvolvimento tecnológico da comunicação, mas 
 
26 
 
as pessoas esquecem que a comunicação precisa ser feita entre pessoas, não por 
meio de aparelhos, mas sim pessoalmente. 
Um aplicativo, por exemplo, não usa expressão facial ou corporal ao dar um 
sinal. Pensando na prática, o sinal de “triste” não é composto apenas por uma 
configuração de mão, articulação ou ponto de contato. Ele necessariamente precisa 
da expressão fácil de tristeza e da expressão corporal de encolhimento, ou seja, o 
sinal, para ter seu sentido compreendido, necessita de todos esses parâmetros. 
5.2 Língua de Sinais: Artefato Cultural e Social 
O uso da língua de sinais parte do pressuposto da interação visual, ou seja, os 
sinais são produzidos e recebidos de forma visual ou tátil, no caso de quem, além de 
não ouvir, também não enxerga, conhecidos como pessoas com surdocegueira. Por 
vezes, o ouvinte não se dá conta de aspectos simples na comunicação, mas que 
fazem toda a diferença para a pessoa surda, como a forma de sinalizar, a composição 
da frase e dos personagens no espaço, a vestimenta e os acessórios utilizados 
durante a fala. 
 
 
 
Faz-se necessário mencionar um grupo que tem começado a aparecer mais na 
sociedade e que, de certa maneira, muitas vezes faz parte da comunidade surda: as 
pessoas com surdocegueira — principalmente quando nascem surdas e vão perdendo 
a visão com o passar dos anos (FALKOSKI, 2019). 
Existem dois movimentos distintos, aqueles que se consideram pessoas com 
surdocegueira e aqueles que se consideram surdos com baixa visão. Dessa forma, é 
preciso compreender que a forma de comunicação se aproxima muito da comunidade 
surda, porém, nesses dois casos, ou a pessoa fará uso da língua de sinais tátil, ou da 
 
27 
 
língua de sinais em campo reduzido. Contudo, da mesma forma, os parâmetros da 
língua devem ser respeitados e seguidos para que haja sua correta compreensão. 
De acordo com Paixão e Alves (2018, p. 48), “A visão de que a comunidade 
surda é uma minoria linguística é muito importante porque interfere no modo de lidar 
com a surdez, sobretudo, na educação e no modo de interagir com o surdo. Por outro 
lado, demonstra um modo de constituir-se surdo [...]”. Hoje, no Brasil, pode-se dizer 
que ainda são poucos os ouvintes usuários da Libras, embora tenham sido criados 
cursos envolvendo o aprendizado da língua. Todavia, as dificuldades persistem, pois, 
situações como ir a um médico ou a uma loja acabam tornando difícil a vida da pessoa 
com surdez, devido ao fato de esta depender sempre de um intérprete ou familiar que 
saiba a língua e possa fazer a mediação, o que faz haver sempre a dependência de 
alguém. 
Com o reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais como forma de 
comunicação da comunidade surda, muitos foram os avanços conquistados. A 
inserção da disciplina nos cursos de formação de professores e de fonoaudiologia, a 
oferta e o aumento de procura por cursos na área também são indícios de uma 
preocupação. Paixão e Alves (2018) ainda abordam o aspecto positivo da difusão da 
língua de sinais e, consequentemente, os espaços ocupados por surdos que antes 
eram destinados apenas a ouvintes. Hoje, por exemplo, se ouve falar de surdos na 
faculdade, no mestrado e no doutorado, inclusive ocupando cargos de mais destaque, 
não só de empacotador de mercado ou na produção de empresas, como somente 
acontecia. 
A sociedade tem muito a evoluir ainda, pois, em espaços básicos de saúde e 
educação, na maioria das vezes, não há a garantia de comunicação ou, então, 
recursos visuais que possibilitem a compreensão por parte da pessoa surda. Pense 
no momento da consulta médica, aquela em que você já se sente constrangido só de 
precisar falar com alguém sobre o seu problema, e ainda precisa ter uma segunda 
pessoa que possa sinalizar ou explicar o que você está sentindo ou o que está 
acontecendo, de modo que se tornam momentos desconfortáveis para todos os 
envolvidos, não só para o surdo (FALKOSKI, 2019). 
Além da sinalização, a Libras possui uma forma de ser escrita, o sistema 
SignWriting. Esse sistema é pouco utilizado dentro da comunidade surda, devido à 
sua complexidade, pois faz-se necessário desenhar o sinal com toda a sua 
 
28 
 
composição: configuração de mão, ponto de articulação e movimento, deixando de 
lado as expressões facial e corporal apenas. No entanto, segundo Paixão e Alves 
(2018, p. 48), esse sistema poderia ser utilizado “[...] para o letramento do surdo, uma 
vez que, é um sistema de fácil aprendizagem pelo surdo e que o letramento amplia o 
desenvolvimento do pensamento [...]”. Entretanto, ele se torna mais demorado do que 
a escrita por meio do português, o que faz a maioria dos surdos optar por não utilizá-
lo. 
Nessa linha é que as escolas bilíngues surgem: para garantir o aprendizado da 
língua de sinais como primeira língua e do português escrito como segunda. No 
entanto, não é bem assim que tem acontecido, uma vez que, mesmo tendo uma 
proposta bilíngue, a maioria das instituições acaba não a colocando na prática,e, 
quando o surdo chega em locais que precisa também dominar o português escrito, 
acaba não dando conta. 
Existem muitas discussões a respeito do local mais adequado para os surdos 
estudarem: escola inclusiva ou escola especial bilíngue. A partir de vários estudos, 
tem-se apontado os benefícios de a criança estudar na escola onde sua língua esteja 
em evidência em todos os espaços e momentos enquanto estiver formando seu 
desenvolvimento inicial. 
Pensar na escola inclusiva é, além de garantir a presença de um intérprete ou 
professor bilíngue em sala de aula durante todos os momentos, favorecer o 
aprendizado da língua de sinais pelos alunos da turma, professores, funcionários e, 
quando possível, estendê-la a todos os alunos da escola. Professores que reclamam 
da não participação de seus alunos surdos nas aulas, professores que dizem que 
surdo só se interessa pelo que quer e não aceita o que ouvintes dizem não 
compreendem que a falta de comunicação, a falta de fluência em Libras por todos os 
envolvidos possa ocasionar, sim, a falta de interesse. O aluno surdo não consegue 
participar de todos os momentos da escola “sozinho”, pois, para interagir com seus 
colegas ou outros alunos e com seu professor, ele precisa de alguém que conheça a 
língua e possa fazer a mediação sempre. Segundo Thoma (2012, p. 97): 
As escolas têm sido apontadas como o lugar onde as comunidades emergem, 
e muitos as defendem como sendo de crucial importância para uma educação 
bilíngue que reconheça a surdez como diferença linguística e cultural, pois é 
no encontro com outros surdos que as crianças surdas se percebem como 
diferentes e não como deficientes e inferiores. Quando isoladas e convivendo 
apenas com ouvintes, essas crianças tendem a se olhar e a se narrar de 
modo negativo, como sujeitos incompletos, deficitários, inferiores. 
 
29 
 
Conviver com seus pares, com aqueles que compartilham da mesma forma de 
pensar, que usam a mesma língua, que têm costumes muito parecidos é o que 
empodera o surdo e lhe dá status de integrante e participante de uma comunidade, 
da sociedade, e não de apenas ser mais um, de alguém que compartilha de um 
mesmo espaço e que segue todas as regras e convenções de pessoas que não 
compreendem seu jeito de ser e agir. 
O surdo acaba desenvolvendo e aprendendo diferentes formas de interagir com 
o outro: usando mímica, gestos, desenhos e escrita conseguem entender e se fazer 
entender. Quando o aluno surdo quer permanecer em escola e espaços de ouvintes, 
ele se esforça, porém quando quer permanecer com os seus, acaba por frequentar 
apenas escolas especiais de surdos, clubes ou associações onde a sua língua é 
respeitada e tem o status de língua materna (FALKOSKI, 2019). 
5.3 Influências Da Linguagem Visual Para o Desenvolvimento Cognitivo Da 
Criança Com Surdez 
A aquisição da linguagem e, consequentemente, o desenvolvimento da língua 
de sinais serão possíveis para a criança que for exposta a situações e ambientes onde 
esses aspectos estejam em evidência. A linguagem visual exerce uma forte influência 
no desenvolvimento cognitivo da criança. Inicialmente, isso se dá por meio do 
desenho: 
[...] a atividade do desenho nos primeiros anos da infância não deveria ser 
apenas mero passatempo. É importante que, em um determinado momento, 
os primeiros traços da criança comecem a fazer sentido e trazer algum 
significado, e é aí que entra o papel do adulto, da fala e da mediação. O 
desenho infantil passa a ser significativo pelo ato de nomear (ZERBATO; 
LACERDA, 2015, p. 429) 
Enquanto desenha, o mediador vai estabelecendo uma comunicação com a 
criança com surdez. Normalmente, após uma história infantil, brincadeira ou jogo 
pedagógico, esse momento, que é tido como lazer e divertimento, pode proporcionar 
situações ricas de aprendizagens, e não somente da língua. 
Paixão e Alves (2018) apontam que a língua de sinais se torna um importante 
instrumento de interação para o desenvolvimento humano, sendo necessário dispor 
de diferentes espaços nos quais ela possa ser adquirida e aperfeiçoada pelo sujeito, 
principalmente a criança. O primeiro lugar para esse desenvolvimento seria a família, 
 
30 
 
porém sabe-se que a maioria das crianças surdas nasce em famílias de pais ouvintes 
que não dominam a Libras, o que pode vir a prejudicar muito essas crianças. 
Em famílias de ouvintes com filhos surdos, um aspecto que pode favorecer 
muito a comunicação e a interação é o uso das expressões faciais e corporais, pois, 
mesmo sem dominar a língua, elas estão disponíveis. Algumas vezes associadas a 
gestos ou mímicas, essas expressões vão construindo o que chamamos de sinais 
caseiros. Muitas crianças chegam à escola com essa forma de comunicação inicial, 
que será aperfeiçoada e transformada em uma comunicação formal, possivelmente 
realizada por meio da língua de sinais. Todavia, destaca-se a importância de já ter 
vivenciado essas primeiras experiências, que são a base para uma comunicação 
futura, da mesma forma como acontece com a criança ouvinte, que tem seus primeiros 
contatos com a língua em casa. Quando a criança entra na escola, essa língua será 
melhor desenvolvida e aprendida. 
Segundo Paixão e Alves (2018, p. 51), “A instituição educacional é um espaço 
de formação humana e sociocultural para os indivíduos que dela participam quando 
propicia espaços de respeito e promoção de identidade e cultura dos grupos aos quais 
atende [...]”. Escolas onde se tenha um currículo bilíngue são fundamentais para 
essas crianças. Contudo, se esse ensino for proporcionado aos outros alunos e 
funcionários da escola, também favorecerá as relações sociais dessa pessoa com o 
ambiente no qual está inserida. 
Pensar no trabalho pedagógico do professor em sala de aula, tendo ou não a 
presença de intérprete ou professor bilíngue, torna necessário buscar diferentes 
recursos e materiais que possam facilitar o processo de aprendizagem. Focar em 
aspectos visuais e concretos proporciona aulas interessantes, mas não somente para 
os surdos, e sim para todos os alunos. O uso de vídeos para a explicação de 
conteúdos, imagens reais e desenhos, maquetes, enfim, diferentes formas de 
representação. De acordo com vários estudos, esses recursos e metodologias 
diferenciados favorecem a aprendizagem não apenas dos alunos surdos, mas de 
todos que terão acesso. 
Pode-se pensar no uso de método de experiência de diferentes situações: 
receitas culinárias, brincadeiras, passeios ou situações, sempre com registro. O uso 
de histórias também é um importante facilitador desse processo. É necessário 
propiciar ao aluno que ele seja o protagonista da sua aprendizagem, que ele possa 
 
31 
 
ajudar a conduzir as aprendizagens necessárias para cada momento. O profissional 
da educação precisa estar atento a tudo o que acontece em sala de aula, observar, 
anotar e refletir são ações básicas de qualquer professor, mas, quando se trabalha 
com crianças que necessitam de mais recursos, isso se torna fundamental. A partir 
dos erros e acertos é possível planejar e pensar quais seriam os passos necessários 
para um maior avanço e desenvolvimento do sujeito. 
Uma turma que tenha um aluno surdo com certeza terá momentos de 
aprendizagens mais significativas do que as outras turmas, pois a necessidade de 
buscar recursos visuais não favorece apenas o ensino de quem não escuta, mas sim 
de todo e qualquer aluno. 
Um exemplo que poderia ser pensado para o ensino do sistema solar: o 
professor utiliza, além da sua explicação falada, vídeos, imagens e até mesmo uma 
representação por meio de maquete desse sistema solar, com sua composição 
espacial, suas especificidades, o que faz todos os seus alunos abstraírem e 
compreenderem o conceito de forma mais rápida e concreta. Por vezes, esquecemos 
da importância do concreto e do visual. 
5.4 Algumas Considerações 
Refletir sobre tudo o que acabou de ser apresentado podefavorecer ao 
professor uma mudança de visão, de postura, não apenas como profissional, mas 
como ser humano. Trocar conhecimentos e aprendizagens na diferença é isso, é 
aprender com o que o outro tem a oferecer, é usar outra língua, diferentes recursos e 
ir cada vez mais se aperfeiçoando. A língua de sinais exerce um papel crucial para a 
pessoa com surdez e a comunidade surda, não apenas por ser o principal meio de 
comunicação, mas também por dar conta de diferentes aspectos que não são 
possíveis de outra maneira (FALKOSKI, 2019). 
As experiências visuais são fundamentais para as pessoas com surdez, pois 
possibilitam a interação com a comunidade ouvinte e seus pares. Quantas vezes já 
nos comunicamos por meio de mímica, gestos ou desenhos, quando não sabíamos a 
língua de sinais e precisávamos nos comunicar com um surdo? Quantas vezes essa 
também não foi a única opção encontrada por falantes de línguas orais? Contudo, 
costumamos não dar importância, não dar bola, pois pensa-se que a Libras seja uma

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