Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
21 De acordo com Martins (2019), a escola precisa repensar suas práticas, métodos, currículos e avaliações para que contemplem as especificidades dos discentes surdos, além de incentivar o uso da Libras em seus espaços e entre seus atores. Assim, um espaço que oferece possibilidades linguísticas para os surdos pode proporcionar um melhor aprendizado e gerar um sentimento de pertencimento. 5 A PRÁTICA DE LIBRAS Neste capítulo, você refletirá acerca de como as experiências visuais são fundamentais para a pessoa com surdez e como auxiliam na comunicação e na aprendizagem. Ouvintes são tão acostumados a viver no mundo barulhento que nem percebem a importância que isso tem em seu dia a dia. Por exemplo, ouvir música e ao mesmo tempo realizar outra tarefa é algo muito comum. Já para o surdo, ir ao teatro ou ao cinema e conseguir acompanhar a fala e as ações que acontecem ao mesmo tempo é muito difícil. É preciso fazer escolhas, ou olhar para o intérprete, quando tiver, ou tentar apenas acompanhar os movimentos e, assim, buscar a compreensão do que está acontecendo. Em alguns dias não estamos bem, de saúde ou porque algo aconteceu, e, ao chegar ao trabalho ou à escola, por exemplo, optamos por ficar mais quietos e esperar que ninguém perceba. Entretanto, quando tem uma pessoa com surdez por perto, isso se torna praticamente impossível, pois a primeira pergunta que surge é: o que você tem? Está tão triste hoje. Para as pessoas com surdez, nossas expressões faciais e corporais, na maioria das vezes, dizem mais do que qualquer palavra ou sinal. Por 22 isso, quando passamos a conviver mais com surdos, precisamos nos atentar a esses simples detalhes, que, na verdade, fazem muita diferença. Para o surdo, no entanto, isso também precisa ser aprendido, assim como para os ouvintes que ingressam na comunidade surda. Por isso, quanto mais cedo a criança surda estiver em contato com a língua de sinais, conhecer e vivenciar experiências com surdos, tanto na escola quanto na sociedade no geral, maiores serão as possibilidades de desenvolver sua identidade surda. 5.1 Experiências Visuais: Formas de Interagir e Se Constituir Com o Outro A diferença é algo positivo, pois somos todos diferentes e, ao mesmo tempo, nos constituímos por meio dessas diferenças. Olhar a surdez por esse viés favorece a compreensão de que os sujeitos surdos se diferenciam dos ouvintes, sim, talvez pela comunicação, pelo modo de agir ou simplesmente pelo modo de ver o mundo, mas eles não deixam de ser seres humanos como qualquer outro. “Entender a surdez e os surdos a partir da diferença significa uma inversão do olhar da exclusão pelo isolamento no mundo do silêncio, passando a entender a surdez como uma experiência e uma representação visual [...]” (GIORDANI, 2012, p. 66). A comunidade ouvinte tem seus costumes e hábitos permeados por experiências auditivas, já a comunidade surda, por meio de experiências visuais. Ambas se compõem de artefatos culturais muito parecidos, diferenciados, em sua maioria, pela forma de expressão e recepção das informações. Por exemplo, para o ouvinte, o sentido da música está na melodia que acompanha a letra, e, sem isso, torna-se difícil compreendê-la. Já para o surdo o que passará essa “melodia” será a forma de sinalizar, o movimento corporal e a composição de sinais do intérprete é que possibilitarão que a emoção seja ou não sentida pelo surdo. Cada ritmo precisa ser sinalizado com um movimento corporal diferenciado, por exemplo, quando for pagode, o corpo precisa se movimentar da forma como a melodia é percebida pelo ouvinte. Assim acontece com cada estilo musical, por isso nem todo profissional se dispõe a traduzir uma música, pois precisa mergulhar e se apropriar daquele ritmo para conseguir repassar. Quando isso não acontece, se torna apenas uma simples sinalização, e não uma música em Libras. 23 No caso das histórias, quando narradas oralmente, a fala das personagens, a mudança de uma para outra, a organização da história e o gênero são percebidos pela entonação de quem lê ou conta. O ouvinte percebe quando não há um preparo prévio ou quando a pessoa que narra a história não o faz com destreza. Quando elas são narradas ou contadas por meio da língua de sinais, esses aspectos são passados por meio do corpo. Inicialmente, é feita a organização da história no espaço, ou seja, os elementos que a compõe vão sendo distribuídos no espaço, à frente de quem sinaliza. A partir disso, toda a história vai se construindo, e, para demonstrar quando um ou outro personagem está falando, o posicionamento é usado, o que se dá por um leve movimento de corpo; em relação à entonação, ela ocorre por meio da intensidade dos sinais e do uso das expressões faciais e corporais (FALKOSKI, 2019). Outro exemplo são os jogos, para os quais existem diferentes modalidades: Olímpiada, Copa do Mundo, competições em cada modalidade esportiva, entre outros, pensando nos ouvintes. A comunidade surda normalmente organiza uma olímpiada escolar ou olímpiada de surdos, a primeira organizada entre escolas e instituições de ensino que atendam surdos, já a segunda conhecida como Surdolimpíadas. Elas ocorrem a cada 3 anos em um país diferente, sendo importante destacar que são diferentes modalidades disputadas e que o Brasil vem se destacando ano após ano; agora também têm sido organizadas no Brasil, entre os estados. Muito se discute o motivo de fazer separado de outras pessoas com deficiência, porém, quando se pensa na principal diferença do surdo para os ouvintes, aí começa a fazer sentido: a língua. Principalmente se pensar na organização das regras e instruções que são feitas por meio da língua de sinais: não seria justo e fácil que, em um jogo entre surdos e ouvintes, o primeiro grupo recebesse dicas e orientações auditivas durante todo o jogo, e o segundo grupo, não. Ao falar desse tópico, torna-se necessário fazer uma ressalva quanto à divulgação esportiva, visto que dificilmente os noticiários trazem notícias ou a cobertura desses encontros de pessoas surdas, pois ainda se dá pouca importância para esses eventos, mesmo sendo de conhecimento da sociedade a existência de uma comunidade surda. 24 Observar esses aspectos consiste em olhar para a diferença, perceber que não são músicas, histórias ou jogos diferentes, mas sim a forma como acontecem e são organizados. Em algumas situações, é possível contar com a tradução e a interpretação sem grandes prejuízos, já em outras, não. Esse fator precisa ser levado em consideração, pois nem sempre a diferença se resolve apenas com a presença de um intérprete. É diferente um surdo assistir a uma peça de teatro com personagens sinalizando e assistir a mesma peça com intérprete. No primeiro caso, se olhar para a fala-sinalização, perderá a ação, e vice-versa. Além dessas diferenças, outra que se destaca muito é a língua utilizada pela comunidade. De acordo com Giordani (2012, p. 71), “A comunidade de surdos se identifica essencialmente pela língua que usa [...]”, essa língua é que auxiliará, juntamente com outros aspectos culturais, na construção da identidade surda. No caso do Brasil, usa-se a Língua Brasileira de Sinais, também conhecida como Libras. Todavia, deve-se deixar claro que cada país tem a sua língua, porém todas seguem basicamente os mesmos princípios quanto à sua composição de fonologia, morfologia e sintaxe. O ser humano não nasce sabendo e dominando os conhecimentos necessários para viver em sociedade, esses conhecimentos precisam ser ensinados e aprendidos. As possibilidades de aprendizagem e de ensino estão disponíveis para todas as pessoas? Sim, a possibilidade de aprender sempre está disponível. No entanto, elas nem sempre são proporcionadas, principalmente, para a criança com deficiência. Muitas vezes, julga-se que algumas pessoas nãopodem ou não conseguem aprender. Segundo Mazzotta e D’antino (2011, p. 379): Situações de segregação, marginalização ou exclusão, de quem quer que seja, concretizam atitudes que se configuram como violência simbólica. [...] Historicamente, as pessoas que apresentam diferenças muito acentuadas em relação à maioria das pessoas constituem-se alvo das mais diversas 25 estratégias de violência simbólica. Um dos segmentos populacionais reiteradamente colocados nessa posição tem sido o composto de pessoas com deficiências físicas, mentais, sensoriais ou múltiplas, além daquelas que apresentam outros transtornos de desenvolvimento. As pessoas com surdez já passaram por diferentes momentos ao longo dos tempos, e aos poucos estão construindo e conquistando o seu espaço na sociedade, porém essa não é uma tarefa fácil, pois exige dedicação, paciência e muita compreensão. Entretanto, também exige que as pessoas em geral se coloquem no lugar do surdo, desenvolvam a empatia, o respeito ao próximo. Toda pessoa tem direito a aprender, mas é fundamental ter alguém que ensine, e esse papel precisa ser desempenhado pela sociedade. Segundo Kraemer (2012, p. 84), São as diversas condições sociais, econômicas, culturais, tecnológicas que interferem na constituição de cada indivíduo. A partir de suas interações e das condições que possibilitam essas interações, cada sujeito internaliza formas específicas de se relacionar com os outros, com o meio e com ele próprio [...]. No entanto, para que isso aconteça, a sociedade precisa estar disposta a se tornar mais acessível e mais inclusiva verdadeiramente, não apenas dizendo que existem escolas inclusivas ou que existe acessibilidade para algumas situações e pessoas. Precisamos construir, ou melhor, tornar, a sociedade de todos, para todos. Quantas vezes se encontra alguém que saiba a língua de sinais ou um intérprete em qualquer lugar? Todos os serviços estão disponíveis à comunidade em geral? Uma consulta médica, uma sessão de cinema, uma instituição bancária, entre outras, tem meios para atender à comunidade surda? Independentemente de ser uma pessoa que não precise de adequações ou uma que precise, aqui, nesse caso, esse preparo seria por meio do uso da língua de sinais. Até mesmo em escolas e instituições que oferecem cursos na área e que se dizem preparadas para atender à diferença, na verdade, não estão. Poderiam ser relatadas diversas histórias de surdos em relação a esses espaços, mas penso ser importante apenas destacar que, ao mesmo tempo que estamos evoluindo, com novas descobertas, novas tecnologias, estamos deixando de lado o mais importante: o ser humano que precisa da proximidade, do contato visual, do olho no olho para receber e expressar informações, sentimentos, emoções ou desejos. Foram criados diversos aplicativos que visam ao desenvolvimento tecnológico da comunicação, mas 26 as pessoas esquecem que a comunicação precisa ser feita entre pessoas, não por meio de aparelhos, mas sim pessoalmente. Um aplicativo, por exemplo, não usa expressão facial ou corporal ao dar um sinal. Pensando na prática, o sinal de “triste” não é composto apenas por uma configuração de mão, articulação ou ponto de contato. Ele necessariamente precisa da expressão fácil de tristeza e da expressão corporal de encolhimento, ou seja, o sinal, para ter seu sentido compreendido, necessita de todos esses parâmetros. 5.2 Língua de Sinais: Artefato Cultural e Social O uso da língua de sinais parte do pressuposto da interação visual, ou seja, os sinais são produzidos e recebidos de forma visual ou tátil, no caso de quem, além de não ouvir, também não enxerga, conhecidos como pessoas com surdocegueira. Por vezes, o ouvinte não se dá conta de aspectos simples na comunicação, mas que fazem toda a diferença para a pessoa surda, como a forma de sinalizar, a composição da frase e dos personagens no espaço, a vestimenta e os acessórios utilizados durante a fala. Faz-se necessário mencionar um grupo que tem começado a aparecer mais na sociedade e que, de certa maneira, muitas vezes faz parte da comunidade surda: as pessoas com surdocegueira — principalmente quando nascem surdas e vão perdendo a visão com o passar dos anos (FALKOSKI, 2019). Existem dois movimentos distintos, aqueles que se consideram pessoas com surdocegueira e aqueles que se consideram surdos com baixa visão. Dessa forma, é preciso compreender que a forma de comunicação se aproxima muito da comunidade surda, porém, nesses dois casos, ou a pessoa fará uso da língua de sinais tátil, ou da 27 língua de sinais em campo reduzido. Contudo, da mesma forma, os parâmetros da língua devem ser respeitados e seguidos para que haja sua correta compreensão. De acordo com Paixão e Alves (2018, p. 48), “A visão de que a comunidade surda é uma minoria linguística é muito importante porque interfere no modo de lidar com a surdez, sobretudo, na educação e no modo de interagir com o surdo. Por outro lado, demonstra um modo de constituir-se surdo [...]”. Hoje, no Brasil, pode-se dizer que ainda são poucos os ouvintes usuários da Libras, embora tenham sido criados cursos envolvendo o aprendizado da língua. Todavia, as dificuldades persistem, pois, situações como ir a um médico ou a uma loja acabam tornando difícil a vida da pessoa com surdez, devido ao fato de esta depender sempre de um intérprete ou familiar que saiba a língua e possa fazer a mediação, o que faz haver sempre a dependência de alguém. Com o reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais como forma de comunicação da comunidade surda, muitos foram os avanços conquistados. A inserção da disciplina nos cursos de formação de professores e de fonoaudiologia, a oferta e o aumento de procura por cursos na área também são indícios de uma preocupação. Paixão e Alves (2018) ainda abordam o aspecto positivo da difusão da língua de sinais e, consequentemente, os espaços ocupados por surdos que antes eram destinados apenas a ouvintes. Hoje, por exemplo, se ouve falar de surdos na faculdade, no mestrado e no doutorado, inclusive ocupando cargos de mais destaque, não só de empacotador de mercado ou na produção de empresas, como somente acontecia. A sociedade tem muito a evoluir ainda, pois, em espaços básicos de saúde e educação, na maioria das vezes, não há a garantia de comunicação ou, então, recursos visuais que possibilitem a compreensão por parte da pessoa surda. Pense no momento da consulta médica, aquela em que você já se sente constrangido só de precisar falar com alguém sobre o seu problema, e ainda precisa ter uma segunda pessoa que possa sinalizar ou explicar o que você está sentindo ou o que está acontecendo, de modo que se tornam momentos desconfortáveis para todos os envolvidos, não só para o surdo (FALKOSKI, 2019). Além da sinalização, a Libras possui uma forma de ser escrita, o sistema SignWriting. Esse sistema é pouco utilizado dentro da comunidade surda, devido à sua complexidade, pois faz-se necessário desenhar o sinal com toda a sua 28 composição: configuração de mão, ponto de articulação e movimento, deixando de lado as expressões facial e corporal apenas. No entanto, segundo Paixão e Alves (2018, p. 48), esse sistema poderia ser utilizado “[...] para o letramento do surdo, uma vez que, é um sistema de fácil aprendizagem pelo surdo e que o letramento amplia o desenvolvimento do pensamento [...]”. Entretanto, ele se torna mais demorado do que a escrita por meio do português, o que faz a maioria dos surdos optar por não utilizá- lo. Nessa linha é que as escolas bilíngues surgem: para garantir o aprendizado da língua de sinais como primeira língua e do português escrito como segunda. No entanto, não é bem assim que tem acontecido, uma vez que, mesmo tendo uma proposta bilíngue, a maioria das instituições acaba não a colocando na prática,e, quando o surdo chega em locais que precisa também dominar o português escrito, acaba não dando conta. Existem muitas discussões a respeito do local mais adequado para os surdos estudarem: escola inclusiva ou escola especial bilíngue. A partir de vários estudos, tem-se apontado os benefícios de a criança estudar na escola onde sua língua esteja em evidência em todos os espaços e momentos enquanto estiver formando seu desenvolvimento inicial. Pensar na escola inclusiva é, além de garantir a presença de um intérprete ou professor bilíngue em sala de aula durante todos os momentos, favorecer o aprendizado da língua de sinais pelos alunos da turma, professores, funcionários e, quando possível, estendê-la a todos os alunos da escola. Professores que reclamam da não participação de seus alunos surdos nas aulas, professores que dizem que surdo só se interessa pelo que quer e não aceita o que ouvintes dizem não compreendem que a falta de comunicação, a falta de fluência em Libras por todos os envolvidos possa ocasionar, sim, a falta de interesse. O aluno surdo não consegue participar de todos os momentos da escola “sozinho”, pois, para interagir com seus colegas ou outros alunos e com seu professor, ele precisa de alguém que conheça a língua e possa fazer a mediação sempre. Segundo Thoma (2012, p. 97): As escolas têm sido apontadas como o lugar onde as comunidades emergem, e muitos as defendem como sendo de crucial importância para uma educação bilíngue que reconheça a surdez como diferença linguística e cultural, pois é no encontro com outros surdos que as crianças surdas se percebem como diferentes e não como deficientes e inferiores. Quando isoladas e convivendo apenas com ouvintes, essas crianças tendem a se olhar e a se narrar de modo negativo, como sujeitos incompletos, deficitários, inferiores. 29 Conviver com seus pares, com aqueles que compartilham da mesma forma de pensar, que usam a mesma língua, que têm costumes muito parecidos é o que empodera o surdo e lhe dá status de integrante e participante de uma comunidade, da sociedade, e não de apenas ser mais um, de alguém que compartilha de um mesmo espaço e que segue todas as regras e convenções de pessoas que não compreendem seu jeito de ser e agir. O surdo acaba desenvolvendo e aprendendo diferentes formas de interagir com o outro: usando mímica, gestos, desenhos e escrita conseguem entender e se fazer entender. Quando o aluno surdo quer permanecer em escola e espaços de ouvintes, ele se esforça, porém quando quer permanecer com os seus, acaba por frequentar apenas escolas especiais de surdos, clubes ou associações onde a sua língua é respeitada e tem o status de língua materna (FALKOSKI, 2019). 5.3 Influências Da Linguagem Visual Para o Desenvolvimento Cognitivo Da Criança Com Surdez A aquisição da linguagem e, consequentemente, o desenvolvimento da língua de sinais serão possíveis para a criança que for exposta a situações e ambientes onde esses aspectos estejam em evidência. A linguagem visual exerce uma forte influência no desenvolvimento cognitivo da criança. Inicialmente, isso se dá por meio do desenho: [...] a atividade do desenho nos primeiros anos da infância não deveria ser apenas mero passatempo. É importante que, em um determinado momento, os primeiros traços da criança comecem a fazer sentido e trazer algum significado, e é aí que entra o papel do adulto, da fala e da mediação. O desenho infantil passa a ser significativo pelo ato de nomear (ZERBATO; LACERDA, 2015, p. 429) Enquanto desenha, o mediador vai estabelecendo uma comunicação com a criança com surdez. Normalmente, após uma história infantil, brincadeira ou jogo pedagógico, esse momento, que é tido como lazer e divertimento, pode proporcionar situações ricas de aprendizagens, e não somente da língua. Paixão e Alves (2018) apontam que a língua de sinais se torna um importante instrumento de interação para o desenvolvimento humano, sendo necessário dispor de diferentes espaços nos quais ela possa ser adquirida e aperfeiçoada pelo sujeito, principalmente a criança. O primeiro lugar para esse desenvolvimento seria a família, 30 porém sabe-se que a maioria das crianças surdas nasce em famílias de pais ouvintes que não dominam a Libras, o que pode vir a prejudicar muito essas crianças. Em famílias de ouvintes com filhos surdos, um aspecto que pode favorecer muito a comunicação e a interação é o uso das expressões faciais e corporais, pois, mesmo sem dominar a língua, elas estão disponíveis. Algumas vezes associadas a gestos ou mímicas, essas expressões vão construindo o que chamamos de sinais caseiros. Muitas crianças chegam à escola com essa forma de comunicação inicial, que será aperfeiçoada e transformada em uma comunicação formal, possivelmente realizada por meio da língua de sinais. Todavia, destaca-se a importância de já ter vivenciado essas primeiras experiências, que são a base para uma comunicação futura, da mesma forma como acontece com a criança ouvinte, que tem seus primeiros contatos com a língua em casa. Quando a criança entra na escola, essa língua será melhor desenvolvida e aprendida. Segundo Paixão e Alves (2018, p. 51), “A instituição educacional é um espaço de formação humana e sociocultural para os indivíduos que dela participam quando propicia espaços de respeito e promoção de identidade e cultura dos grupos aos quais atende [...]”. Escolas onde se tenha um currículo bilíngue são fundamentais para essas crianças. Contudo, se esse ensino for proporcionado aos outros alunos e funcionários da escola, também favorecerá as relações sociais dessa pessoa com o ambiente no qual está inserida. Pensar no trabalho pedagógico do professor em sala de aula, tendo ou não a presença de intérprete ou professor bilíngue, torna necessário buscar diferentes recursos e materiais que possam facilitar o processo de aprendizagem. Focar em aspectos visuais e concretos proporciona aulas interessantes, mas não somente para os surdos, e sim para todos os alunos. O uso de vídeos para a explicação de conteúdos, imagens reais e desenhos, maquetes, enfim, diferentes formas de representação. De acordo com vários estudos, esses recursos e metodologias diferenciados favorecem a aprendizagem não apenas dos alunos surdos, mas de todos que terão acesso. Pode-se pensar no uso de método de experiência de diferentes situações: receitas culinárias, brincadeiras, passeios ou situações, sempre com registro. O uso de histórias também é um importante facilitador desse processo. É necessário propiciar ao aluno que ele seja o protagonista da sua aprendizagem, que ele possa 31 ajudar a conduzir as aprendizagens necessárias para cada momento. O profissional da educação precisa estar atento a tudo o que acontece em sala de aula, observar, anotar e refletir são ações básicas de qualquer professor, mas, quando se trabalha com crianças que necessitam de mais recursos, isso se torna fundamental. A partir dos erros e acertos é possível planejar e pensar quais seriam os passos necessários para um maior avanço e desenvolvimento do sujeito. Uma turma que tenha um aluno surdo com certeza terá momentos de aprendizagens mais significativas do que as outras turmas, pois a necessidade de buscar recursos visuais não favorece apenas o ensino de quem não escuta, mas sim de todo e qualquer aluno. Um exemplo que poderia ser pensado para o ensino do sistema solar: o professor utiliza, além da sua explicação falada, vídeos, imagens e até mesmo uma representação por meio de maquete desse sistema solar, com sua composição espacial, suas especificidades, o que faz todos os seus alunos abstraírem e compreenderem o conceito de forma mais rápida e concreta. Por vezes, esquecemos da importância do concreto e do visual. 5.4 Algumas Considerações Refletir sobre tudo o que acabou de ser apresentado podefavorecer ao professor uma mudança de visão, de postura, não apenas como profissional, mas como ser humano. Trocar conhecimentos e aprendizagens na diferença é isso, é aprender com o que o outro tem a oferecer, é usar outra língua, diferentes recursos e ir cada vez mais se aperfeiçoando. A língua de sinais exerce um papel crucial para a pessoa com surdez e a comunidade surda, não apenas por ser o principal meio de comunicação, mas também por dar conta de diferentes aspectos que não são possíveis de outra maneira (FALKOSKI, 2019). As experiências visuais são fundamentais para as pessoas com surdez, pois possibilitam a interação com a comunidade ouvinte e seus pares. Quantas vezes já nos comunicamos por meio de mímica, gestos ou desenhos, quando não sabíamos a língua de sinais e precisávamos nos comunicar com um surdo? Quantas vezes essa também não foi a única opção encontrada por falantes de línguas orais? Contudo, costumamos não dar importância, não dar bola, pois pensa-se que a Libras seja uma
Compartilhar