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Morfologia Bacteriana As bactérias são seres unicelulares e apresentam formas simples, apesar dos 4 bilhões de anos de evolução. Com o microscópio ótico, a forma, tamanho e arranjo (agrupamento) das bactérias são facilmente observados. Invisíveis ao olho humano, as bactérias só podem ser visualizadas com auxílio do microscópio, normalmente em aumentos de 1000 vezes, pois seu tamanho é tão pequeno que sua medida é dada em micrômetros (mm), que são equivalentes a 1/1000mm (10-3mm). A maioria das bactérias varia de 0,2 a 2,0 (mm de diâmetro e de 2 a 8mm de comprimento). Cálculos mostram que aproximadamente 1 trilhão (1.000.000.000.000) de células bacterianas pesariam somente um grama. Nem todas as bactérias são iguais.Bactérias de interesse médico podem apresentar diferentes formas básicas (esféricas ou cocóides, cilíndricas ou bastonetes e espirais) e diferentes tamanhos. Algumas bactérias, ainda, se organizam formando arranjos. Formas Básicas das Bactérias As bactérias esféricas (cocóides) são denominadas cocos; redondos, alongados ou achatados em uma das extremidades. Quando os cocos se dividem para se reproduzir, as células podem permanecer unidas umas às outras, surgindo em decorrência os arranjos. Os bastonetes também são conhecidos como bacilos e correspondem a células cilíndricas pequenas ou longas, grossas ou delgadas, pontudos ou com extremidades curvadas. Alguns bacilos são ovais e parecidos com cocos, por isso recebem a denominação de cocobacilos. As bactérias em espirais possuem uma ou mais curvaturas. As que lembram uma vírgula recebem o nome de vibrião e outras, denominadas espirilos, apresentam forma helicoidal, lembrando um saca-rolhas e uma estrutura bastante rígida. Outro grupo de bactérias em espirais apresenta forma espiral e flexível e são denominados espiroquetas. Ao contrário dos espirilos que utilizam flagelos para locomoção as espiroquetas se movem por meio de filamentos axiais, que lembram flagelos, mas estão contidos por uma bainha externa flexível. Figura 01 - Formas Básicas das Bactérias Divisão Bacteriana e Formação de Arranjos A maioria das espécies bacterianas se reproduz através de um processo conhecido como fissão binária. Algumas bactérias podem se reproduzir por brotamento, formando uma pequena região que inicia um crescimento (broto), que ao atingir o tamanho aproximado da célula parental, separa-se. Observando esse processo, nota-se que algumas espécies de bactérias não se separam completamente após a divisão celular, permanecendo unidas umas às outras, formando agrupamentos denominados arranjos bacterianos. Enquanto as bactérias espiraladas normalmente aparecem como células individualizadas, outras espécies bacterianas podem se reproduzir e formar arranjos ou padrões característicos. Quando um coco se divide em um plano e permanece unido (aos pares) forma-se um arranjo denominado diplococo. Isso caracteriza algumas espécies deNeisseria, incluindo o agente etiológico da gonorréia (Neisseria gonorrhoeae) e meningite (Neisseria meningitidis). Quando cocos unem-se formando uma cadeia, permanecendo unidos após várias divisões, recebem a denominação de estreptococos. Espécies de estreptococos como aquelas responsáveis por infecções de garganta e pneumonia (Streptococcus pneumoniae) apresentam este padrão. Se o coco se divide em mais de um plano ou dimensão durante o crescimento, os arranjos tornam-se mais complexos. Quando um coco tal como o Pediococcus se divide no ângulo direito no primeiro plano de divisão, há formação de tétrades, ou grupos em forma de um quadrado. Uma divisão adicional no terceiro plano pode resultar em um arranjo em forma de cubo com oito bactérias, conhecido como sarcina. Se houver divisão em diversos planos, formando arranjo semelhante a cachos, estes recebem denominação de estafilococos. Esse é o arranjo apresentado pelo Staphylaococcus aureus. Os bacilos se dividem ao longo de seu eixo curto; assim, existem menos arranjos de bacilos do que de cocos. Os bacilos normalmente se apresentam isolados, mas quando ocorrem aos pares após a divisão recebem o nome de diplobacilos, e em cadeias, estreptobacilos. Figura 02 - Divisão Bacteriana e Formação de Arranjos A identificação da forma e arranjo bacteriano aliado ao processo de coloração de Gram é de grande importância no diagnóstico laboratorial de uma infecção, auxiliando o tratamento, uma vez que doenças infecciosas são causadas por bactérias diferentes e apresentam uma variedade de cursos e conseqüências. As figuras abaixo correspondem a fotomicrografias eletrônicas e de microscopia óptica, apresentando exemplos de formas e arranjos de interesse médico. Veja abaixo imagem do arranjo dos cocos, os bacilos e as bactérias espirais. Figura 03 - arranjo dos cocos Fonte - Tortora et al (2003: 78-9) Figura 04 - Bacilos Fonte - Tortora et al (2003: 78-9) Figura 05 - Bactérias espirais Fonte - Tortora et al (2003: 78-9) Citologia bacteriana Figura 01 - Estrutura da Célula Procarionte A célula procarionte é mais simples que a eucarionte em todos os níveis, à exceção da parede celular, que é mais complexa. Observando a estrutura celular de uma bactéria, podemos encontrar as seguintes estruturas: Cápsula e Glicocálice Muitas bactérias sintetizam grandes quantidades de polissacarídeo extracelulares, que podem ser encontrados por fora da parede celular. Quando o polissacarídeo forma uma camada condensada e bem organizada, circundando estreitamente a célula, é denominado cápsula; quando forma uma rede frouxa de fibrilas que se estendem para fora da célula, é conhecido por glicocálice (ou camada limosa). A cápsula contribui para a capacidade de invasão das bactérias patogênicas, ficando as bactérias encapsuladas protegidas da fagocitose. Desempenha ainda um importante papel na aderência bacteriana às superfícies em seu meio ambiente, incluindo células de hospedeiros animais e vegetais. O Streptococcus mutans, por exemplo, é uma bactéria encontrada na região oral e deve a seu glicocálice a capacidade de aderir firmemente ao esmalte dos dentes, formando a camada conhecida como placa bacteriana na superfície dentária e os produtos ácidos liberados por estas bactérias provocam as cáries. Flagelos São apêndices filamentoso longos, delgados e relativamente rígidos, compostos por agregados de subunidades de uma proteína denominada flagelina, entrelaçadas como uma corda e que estão relacionados com a locomoção das bactérias que os possuem. Os flagelos movimentam-se em velocidades muito elevadas, conferindo às bactérias um movimento rotacional e permitindo o seu deslocamento ao longo de distâncias muito superiores ao seu comprimento. O comprimento de um flagelo é geralmente maior do que o da célula, mas seu diâmetro é uma pequena fração do diâmetro celular. Bactérias flageladas são chamadas móveis, enquanto bactérias que não apresentam flagelos são imóveis. De acordo com a disposição e o número de flagelos, são conhecidos quatro tipos bacterianos: Monotríquios (apresentando único flagelo polar), Lofotríquios (apresentando um tufo de flagelos polares múltiplos), Anfitríquios (presença de flagelos em ambas extremidades da célula) e Peritríquios (flagelos distribuídos por toda a superfície da célula). As flagelinas de diferentes espécies bacterianas diferem presumivelmente uma das outras na sua estrutura primária, sendo altamente antigênicas (antígenos H) e algumas das respostas imunológicas à infecção são dirigidas a essas proteínas. Figura 02 - Bactérias monotríquias: apresentando um único flagelo (indicado pela seta) em uma das extremidades da célula. Fonte: Extraída de Tortora, Microbiology, 1998. Figura 03 - Bactérias anfitríqueas: apresentando flagelos (indicados pelas setas) em ambas extremidades da célula. Fonte: Extraída de Tortora, Microbiology, 1998. Figura 04 - Bactérias lofotríqueas: apresentando vários flagelos (indicados pela seta) na mesma extremidades dacélula. Fonte: Extraída de Tortora, Microbiology, 1998. Figura 05 - Bactérias peritríquias: apresentando flagelos (indicados pela seta) em toda a superfície da célula. Fonte: Extraída de Tortora, Microbiology, 1998. Pili (Fímbrias) Presentes em algumas bactérias, correspondem a apêndices finos e rígidos, mais finos e mais curtos do que os flagelos e compostos por subunidades protéicas estruturais denominadas pilinas, distribuídas de modo helicoidal em torno de um eixo central. A capacidade de causar doença de certas bactérias depende da produção das pilis que conferem às células bacterianas propriedades de aderência, não desempenhando nenhum papel relativo à motilidade, pois são encontradas tanto em espécies móveis quanto em espécies imóveis. Um tipo de pili conhecida como pili F ou fímbria sexual participa de um importante processo denominadoconjugação bacteriana, funcionando como uma ponte para a transferência de material genético entre as bactérias. Figura 06 - Pili (Fímbrias) Fonte: http://escience.ws/b572/ Parede Celular A rígida camada celular externa, situada entre a cápsula e a membrana celular, denomina-se parede celular. Esta estrutura corresponde a uma camada de constituição complexa, responsável por manter a forma da célula bacteriana, além de sua composição química variar de acordo com a espécie de bactéria, permitindo-nos classificar as bacté-rias em dois grupos: Gram positivas e Gram negativas. O principal constituinte da maioria das paredes celulares bacterianas é um complexo polímero macromolecular conhecido como peptidioglicano (ou mureína), que consiste em muitas cadeias polissacarídicas unidas por pequenas cadeias peptídicas. A parede celular também apresenta importante papel no controle da pressão osmótica do interior das bactérias, já que esta muitas vezes é superior à do meio externo, impedindo a ruptura das células bacterianas. Membrana Celular Envolvendo o citoplasma encontramos a membrana celular (membrana plasmática bacteriana). Trata-se de uma membrana típica, composta de fosfolipídios e proteínas, mas diferencia-se da membrana celular eucarionte pela ausência de esteróis. A membrana celular funciona como uma barreira, impedindo o extravasamento passivo dos constituintes citoplasmáticos. São encontradas invaginações múltiplas na membrana plasmática formando estruturas especializadas denominadas mesossomos, que são de dois tipos: os septais, que desempenham importante papel na divisão bacteriana, contribuindo para a formação de paredes transversais durante a divisão celular; e os laterais, encontrados em algumas bactérias tendo como função a concentração de enzimas envolvidas no transporte de elétrons. As principais funções da membrana plasmática incluem: ● Permeabilidade Seletiva e Transporte de Solutos através de vários mecanismos para transportar nutrientes para o interior da célula e produtos de degradação para o exterior. ● Transporte de elétrons e fosforilação oxidativa em espécies aeróbicas (respiração celular): Citocromos e outras enzimas e componentes da cadeia respiratória localizam-se na membrana celular. Dessa maneira a membrana celular bacteriana funciona de maneira semelhante às mitocôndrias das cé-lulas eucariontes. Essa relação tem sido utilizada por muitos pesquisadores para confirmar a teoria de que as mitocôndrias evoluíram a partir de bactérias simbióticas. ● Localização das Enzimas e Moléculas Transportadoras que atuam na biossíntese de DNA, dos polímeros da parede celular e lipídios da membrana celular. ● Secreção de enzimas que rompem as macromoléculas presentes no ambiente de maneira a fornecer subunidades que servirão como nutrientes. Estruturas Citoplasmáticas O citoplasma corresponde a uma solução semifluida limitada pela membrana celular. As células procariontes não apresentam organelas membranosas como mitocôndrias e cloroplastos. Dessa maneira, as enzimas de transporte de elétrons localizam-se na membrana celular. Os pigmentos fotossintéticos das bactérias que efetuam a fotossíntese localizam-se em vesículas encontradas também na membrana celular. As estruturas microtubulares típicas de células eucariontes também estão ausentes nos procariontes. No citoplasma da célula eucarionte, encontramos muitas partículas insolúveis relacionadas com o armazenamento de substâncias de reserva e subunidades de macromoléculas para compor outras estruturas celulares, denominadas inclusões. As células podem acumular nutrientes quando estes são abundantes e usa-los à medida que se tornam escassos no ambiente. Os únicos representantes de organelas presentes nas bactérias correspondem aos ribossomos, pequenas partículas responsáveis pela síntese de proteínas, composta por RNAr (RNA ribossômico) e proteínas. As células procariontes apresentam ribossomos menores e menos densos do que os das células eucariontes com coeficiente de sedimentação 70S compostos de duas subunidades, 30S e 50S. Esporos (Endósporos) Bacterianos Algumas bactérias pertencentes ao gênero Clostridium e Bacillus, quando em condições ambientais desfavoráveis, formam estruturas de repouso termorresistentes denominadas endósporos (esporos) bacterianos. O endósporo corresponde a um tipo de diferenciação celular que ocorre em resposta a uma situação desfavorável do meio ambiente. O processo de formação do endósporo dentro de uma célula vegetativa é denominado esporulação ouesporogênese. Ocorrem profundas mudanças estruturais durante a diferenciação da bactéria em endósporo. Um cromossomo duplicado e o citoplasma são isolados por um crescimento da membrana plasmática, constituindo-se assim um pré-esporo composto por uma dupla membrana que circunda o cromossomo e o citoplasma. Camadas de peptidioglicano, são depositadas entre as duas lâminas da membrana e forma-se uma espessa camada composta de proteínas ao redor da membrana externa. A célula sofre desidratação (elimina a água) ao final da esporogênese; dessa maneira, o metabolismo bacteriano torna-se praticamente imperceptível. Após a esporogênese, a parede celular vegetita se rompe e o endósporo é eliminado no ambiente, podendo permanecer “dormente” por muitos anos sob condições desfavoráveis. Um endósporo retorna ao seu estado de célula vegetativa por um processo denominado germinação. Enzimas do endósporo rompem as camadas extras que o circundam, permitindo a entrada de água e a retomada do metabolismo bacteriano. Figura 07 - Endósporo bacteriano ainda no interior da célula bacteriana Fonte: www.unb.br/ib/cel/microbiologia Estudo da parede celular bacteriana Para suportar a alta pressão osmótica da célula, devido a presença de grande concentração de soluto interno, bactérias apresentam uma parede ceular complexa e semirigida que circunda a membrana celular adjacente, também responsável pela forma da bactéria. A parede celular apresenta uma composição química complexa, composta por uma rede de macromoléculas denominada peptidioglicano (mureína ou mucopeptídeo), que está presente isoladamente ou em combinação com outras substâncias. http://www.unb.br/ib/cel/microbiologia O peptidioglicano corresponde a um dissacarídeo repetitivo único e por pelipeptídios que formam um “esqueleto” que circunda e protege toda a célula. A estrutura básica do peptidioglicano pode ser definida como um arcabouço onde as cadeias glicanas ligamse por ligações peptídicas cruzadas, formadas pelos aminoácidos. A porção dissacarídica é composta por dois derivados de monossacarídeos denominados N-acetilglicosamina (NAG) e ácido N-acetilmurâmico (NAM), unidos alternadamente e ligados à glicose. Filas adjacentes estão ligadas por polipeptídeos. Embora a estrutura da ligação polipeptídica varie, ela sempre inclui cadeias laterais de tetrapetídeos, que consistem em quatro amino-ácidos unidos aos NAMs do esqueleto. Os aminoácidos ocorrem em um padrão alternado de formas L e D e consistem em L-alanina, D-alanina, ácido D-glutâmico e lisina (ouácido diaminopimélico – DAP). Esse padrão é único, pois os aminoácidos encontrados em outras proteínas são formas L; desta maneira, os aminoácidos D-glutâmico, D-alanina e DAP não são encontrados em qualquer outra proteína conhecida. As cadeias laterais paralelas de tetrapeptídeo ligam-se diretamente umas às outras por uma ponte cruzada peptídica, consistindo de uma cadeia curta de aminoácidos. Assim, devido a esta complexa estrutura, o peptidioglicano confere rigidez à parede, embora também apresente elasticidade e porosidade, permitindo a passagem de substâncias. Dependendo da organização da parede celular, as bactérias podem ser classificadas em dois grandes grupos distintos, de acordo com sua resposta ao método de colora- ção pelo método de Gram: Gram positivas1 e Gram negativas2. Embora esta distinção tenha sido originalmente baseada em um procedimento especial de coloração – processo de coloração de Gram – as diferenças estruturais entre os dois grupos residem, essencialmente, na estrutura e composição química da parede celular. Parede Celular de Bactérias Gram positivas Na maioria das bactérias Gram positivas, a parede celular consiste de muitas camadas de peptidioglicano, formando uma estrutura espessa e rígida. Também contém substâncias denominadas ácidos teicóicos, que consistem principalmente em polímeros álcoois (glicerol ou ribitol), associados a açúcares ou aminoácidos e conectados entre si por fosfato. Existem duas classes de ácidos teicóicos: o ácido lipoteicóico, que atravessa a camada de peptidioglicano e está ligado covalentemente aos lipídios da membrana plasmática, e o ácido teicóico de parede, que apresenta ligação covalente com o peptidioglicano. Devido à carga negativa, os ácidos teicóicos são parcialmente responsáveis pela carga negativa da superfície celular e podem permitir a passagem de cátions através da parede celular, para dentro e para fora da célula. Também assumem um papel no crescimento da célula, impedindo a ruptura da parede e lise celular. Ainda, constituem importantes antígenos de superfície; portanto, tornam possível identificar bactérias através de certos testes laboratoriais. Figura 01 - Parede Celular de Bactérias Gram positivas Fonte: Adaptado de Microbiologia de Brock, 10ª ed., 2003 ? figura extraída do site: http://www.unb.br/ib/cel/microbiologia/morfologia1/morfologia1.html Parede Celular de Bactérias Gram negativas As paredes celulares de bactérias Gram negativas consistem de uma estrutura bastante complexa, com poucas camadas de peptidioglicano, ausência de ácidos teicóicos e uma camada adicional de parede, composta por lipopolissacarídeo (LPS), denominada membrana externa. Essa camada corresponde a uma segunda camada lipídica, diferente da membrana celular. O peptidioglicano está ligado a lipoproteínas na membrana externa e está em um espaço cheio de fluido entre a membrana celular e a membrana externa, denominado espaço periplasmático (periplasma). O espaço periplasmático contém uma alta concentração de enzimas de degradação (enzimas hidrolíticas que promovem a degradação inicial dos nutrientes), proteínas de transporte (que iniciam os processos de transporte de substratos) e quimiorreceptores. A membrana externa consiste de LPS, lipoproteínas e fosfolipídios. Apresenta várias funções específicas e sua forte carga negativa é um fator importante na evasão da fagocitose e de ações do sistema imunológico do hospedeiro. A membrana externa também fornece uma barreira para alguns antibióticos, enzimas digestivas como a lisozima, detergentes, metais pesados, sais biliares e certos corantes. Entretanto, não fornece uma barreira para substâncias ambientais, pois nutrientes devem atravessá-la para manter o metabolismo bacteriano. Parte da permeabilidade da membrana externa é devida a proteínas denominadas porinas, que formam canais permitindo a passagem de pequenas substâncias como nucleotídeos, dissacarídeos, peptídeos, aminoácidos, vitaminas e ferro. Existem vários tipos de porinas que podem ser classificadas como específicas, quando possuem sítio de ligação específica para um grupo de substâncias estruturalmente relacionadas, ou não específicas, quando formam canais preenchidos por água, pelos quais pequenas substâncias podem passar. O componente LPS da membrana externa consiste em duas porções: um polissacarídeo interno e o polissacarídeo O (antígeno O), que atuam como antígenos e são úteis para diferenciar as espécies de bactérias Gram negativas e a porção lipídica do lipopolissacarídeo, denominada lipídio A, que é referida como endotoxina, sendo tóxica quando presente no organismo do hospedeiro. Um complexo lipoprotéico é encontrado na camada interna da membrana externa. Essas lipoproteínas contêm pequenas proteínas que atuam ancorando a membrana externa ao peptidioglicano. Os fosfolipídios são encontrados na camada interna da membrana, enquanto na camada externa são substituídos pelo LPS. Figura 02 - Parede Celular de Bactérias Gram Negativas Fonte - Adaptado de Microbiologia de Brock, 10ª ed., 2003 ? figura extraída do site: http://www.unb.br/ib/cel/microbiologia/morfologia1/morfologia1.html Bactérias desprovidas de Parede Celular Algumas bactérias não apresentam parede celular ou apresentam muito pouco material de parede. Essas são representadas por membros do gênero Mycoplasma, as menores bactérias de vida livre conhecidas que podem crescer e se reproduzir fora de células vivas de hospedeiros. Sua membrana celular destaca-se das outras bactérias por possuírem lipídios denominados esteróis; acredita-se que estes ajudem a protegê-las da lise. A falta da parede celular parece facilitar a fusão da membrana celular com a célula hospedeira. Destruição da Parede Celular por Antibióticos Substâncias químicas que destroem a parede celular bacteriana, ou que interferem com sua biossíntese frequentemente não causam dano as células animais, pois a parede celular bacteriana é composta de substâncias diferentes daquelas presentes nas células eucariontes. Alguns antibióticos, portanto, atuam inibindo a síntese da parede celular bacteriana, como a penicilina, um antibiótico que deriva de bolores Penicillium obtidas por extração de culturas em meios especiais, descoberto por Fleming em 1928. Estrutura da Parede Celular e Coloração de Gram As células podem ser submetidas a procedimentos de coloração que aumentam o seu contraste e facilitam sua observação ao microscópio óptico de campo claro. Os corantes utilizados para corar bactérias são compostos químicos que se combinam fortemente aos constituintes celulares. Em 1884 um bacteriologista dinamarquês chamado Hans Christian Gram (1853-1938) desenvolveu um método de coloração bacteriana diferencial para distinguir entre duas classes de bactérias. O método de coloração que recebeu seu nome é um dos procedimentos de coloração fundamentais em microbiologia, visto que está correlacionado com muitas outras propriedades morfológicas em formas filogeneticamente correlatas, sendo considerado essencial na identificação de uma bactéria desconhecida, pois classifica as bactérias em dois grupos: Gram positivo ou Gram negativo. Christian Gram observou que, após o processo de coloração com dois corantes distintos as bactérias apresentavam reações diferentes em relação aos dois corantes utilizados. As bactérias Gram positivas coram-se em roxo, enquanto as bactérias Gram negativas coram-se em vermelho. Um esfregaço bacteriano fixado pelo calor é recoberto inicialmente com um corante básico roxo (cristal violeta), com o objetivo de corar todas as células em roxo (coloração primária), e posteriormente o esfregaço é tratado com uma solução de iodo (lugol), um mordente que forma um complexo insolúvel de cristal violeta-iodo, que permanece dentro da célula, permitindo a coloração de bactérias Gram positivas e Gram negativas em roxo. Posteriormente, realiza-se o tratamento do esfregaço com álcool, sendo essecomplexo extraído de bactériasGram negativas devido à capacidade do álcool em penetrar a membrana externa, rica em lipídios, removendo o complexo cristal violeta-iodo, mas incapaz de descolorir bactérias Gram positivas. Como as bactérias Gram negativas tornam-se incolores após o tratamento com álcool, aplica-se sobre o esfregaço o corante safranina, um corante básico vermelho, que cora as bactérias Gram negativas em uma tonalidade avermelhada. Tal reação à coloração de Gram se deve às diferenças na espessura e composição química da parede celular de bactérias Gram positivas e Gram negativas, que permite que o álcool descore as células Gram negativas, mas não asGram positivas. Algumas bactérias, como os membros do gênero Mycobacterium são mais frequentemente identificadas utilizando outro tipo de coloração, conhecida como álcool-ácido-resistente, já que após o processo de coloração de Gram não assumem a cor roxa ou vermelha, sendo referidas como bactérias Gram-variáveis. Dessa maneira, em relação à composição química da parede celular, temos: Figura 03 - Gram Positivo e Gram Negativo Fonte - Adaptada a partir da figura encontrada em http://www.vet-yon.fr/ens/expa/images/micimm/TPE/gramstn.jpg Figura 04 - Gram Positivas e Gram Negativas Fonte - Adaptação a partir das figuras encontradas nos sites: http://virus.usal.es http://upload.wikimedia.org Fisiologia e Metabolismo Bacteriano Para se desenvolver, um microrganismo necessita de todos os elementos que compõem sua matéria orgânica e fonte de energia disponível para permitir a síntese de macromoléculas. Microrganismos possuem capacidade de realizar reações químicas e de organizar as moléculas em macromoléculas específicas. Os precursores dessas macromoléculas podem ser retirados do meio ambiente ou ser sintetizados pelas bactérias a partir de compostos ainda mais simples, através de reações químicas. Bactérias heterótrofas são aquelas que utilizam compostos orgânicos diversos como fonte de carbono e energia necessária para o seu crescimento, devendo esse carbono estar numa forma passível de ser assimilada. Essas bactérias podem ser cultivadas em laboratório. Algumas bactérias são autótrofas, ou seja, capazes de sintetizar moléculas orgânicas a partir do dióxido de carbono (CO2), obtendo sua energia a partir da luz, através da fotossíntese; quimiolitótrofa, quando utilizam compostos inorgânicos como redutor e CO2 como fonte de carbono. Nutrição Bacteriana A célula necessita de nutrientes para o seu desenvolvimento, utilizados para construir novos componentes celulares ou para obter energia. Quando supridas com os nutrientes necessários, as bactérias são capazes de sintetizar todas as unidades formadoras de macromoléculas. Diferentes espécies bacterianas requerem nutrientes distintos, sendo geralmente necessários sob uma ou outra forma específica. Nem todos os nutrientes são necessários nas mesmas quantidades, embora todos sejam imprescindíveis; alguns denominados macronutrientes são necessários em quantidades maiores por serem os principais constituintes dos compostos orgânicos celulares, enquanto outros, os micronutrientes, são requeridos em menores quantidades. Macronutrientes As bactérias necessitam de fatores de crescimento, ou seja, compostos orgânicos que a célula utiliza para o seu crescimento (reprodução), mas que é incapaz de sintetizar quando as bactérias são supridas. As bactérias podem assimilar vários compostos orgânicos de carbono, sendo este um macronutriente essencial, uma vez que se encontra presente na maioria das substâncias que compõem as células. Aminoácidos, ácidos graxos, ácidos orgânicos, açúcares, bases nitrogenadas e outros compostos orgânicos por ser utilizados pelas bactérias como fonte de carbono. Após o carbono, o elemento mais abundante na célula corresponde ao nitrogênio, um importante componente de proteínas, ácidos nucléicos e outros compostos celulares. O nitrogênio pode ser fornecido sob as formas orgânica ou inorgânica. No entanto, a maior fonte de nitrogênio encontra-se na forma de nitrogênio gasoso (N2) ou na forma de compostos inorgânicos combinados, como amônia (NH3), nitrato (NO3-) e nitrito (NO2-). A maioria das bactérias é capaz de utilizar a amônia como única fonte de nitrogê-nio, enquanto outras podem utilizar também o nitrato. Por outro lado, o nitrogênio gasoso pode ser utilizado apenas por algumas bactérias, denominadas bactérias fixadoras de nitrogênio. O fósforo é encontrado na natureza na forma de fosfato orgânico ou inorgânico e também é um macronutriente essencial para a síntese de ácidos nucléicos, fosfolipídios e componentes da parede celular (ácido teicóico). Algumas espécies bacterianas podem armazenar grânulos de fosfato inorgânico, chamados grânulos metacromáticos ou de volutina. A exemplo do nitrogênio, o enxofre é necessário devido ao seu papel estrutural nos aminoácidos (cisteína e metionina) e também por estar presente em diversas vitaminas e em proteínas importantes para o processo de respiração celular. O oxigênio é requerido na forma molecular como aceptor final da cadeia de transporte de elétrons aeróbica. E o hidrogênio, um componente muito frequente da matéria orgânica e inorgânica, também constitui elemento comum de todo material celular. Micronutrientes Necessários em pequena quantidade, mas extremamente importantes para o funcionamento celular. Correspondem a minerais e muitos deles desempenham papel estrutural em várias enzimas. Alguns são requeridos em uma quantidade relativamente alta, quando comparados a outros, dentre estes, potássio, magnésio, fósforo e ferro. As bactérias requerem fontes de potássio, pois este está envolvido na atividade de uma variedade de enzimas. O magnésio tem um importante papel na estabilização de ribossomos, membranas celulares e ácidos nucléicos, também sendo necessário à atividade de muitas enzimas. O cálcio que auxilia na estabilização da parede celular e termoestabilidade dos endósporos. O sódio é necessário a alguns microrganismos cujo ambiente natural é rico em sais. O ferro é um elemento de extrema importância para a respiração celular, além de ser componente de proteínas enzimáticas. Outros micronutrientes (cobalto, níquel, molibdênio, selênio, zinco, dentre outros) são necessários em quantidades muito pequenas. Influência dos Fatores Ambientais O metabolismo bacteriano é influenciado por fatores físicos e químicos do meio ambiente. Para ser apropriado o meio de crescimento de uma bactéria deve conter, além dos nutrientes essenciais ao desenvolvimento bacteriano, condições físicas ideais, como pH, temperatura e aeração. Temperatura A faixa de temperatura ótima de crescimento para cada espécie de bactéria varia amplamente. Em torno desta temperatura ótima, observa-se um intervalo dentro qual o crescimento também ocorre, sem, no entanto, atingir o seu máximo. Quando o limite superior de temperatura ótima é ultrapassado, rapidamente ocorre desnaturação do material celular e morte bacteriana. As temperaturas inferiores à ótima levam a uma diminuição das reações metabólicas, com conseqüente diminuição na reprodução bacteriana. Por esta razão, utilizam-se baixas temperaturas para a preservação de culturas bacterianas. Quanto ao requerimento térmico, as bactérias apresentam variações, podendo ser divididas em três grupos principais, segundo a temperatura ótima para seu crescimento: psicrófilas (bactérias que se desenvolvem melhor em temperaturas baixas, em torno de 10ºC), mesófilas (bactérias que se desenvolvem desde uma temperatura ambiental até a temperatura do organismo humano, entre 26ºC e 37ºC) e termófilas (bactérias que vivem em temperaturas elevadas, em torno de 60ºC a 80ºC). A maioria das bactérias são mesofílicas, sendo a temperatura ambiental favorável para o desenvolvimento de formas livres e a temperatura do organismo humano ideal para o desenvolvimento de bactérias patogênicas. pH Os valoresde pH mais adequados para o desenvolvimento bacteriano são aqueles em torno da neutralidade. A maioria dos microrganismos crescem mais adequadamente em pH de 6,0 a 8,0, sendo conhecidas por neutrófilas. Existem, entretanto, grupos adaptados para sobreviver em ambientes ácidos e alcalinos. As bactérias que se desenvolvem em pH ácido (em torno de 3,0) são conhecidas como acidófilas e são capazes de regular seu pH interno dentro de uma ampla faixa de valores do pH externo e outras (alcalófilos) possuem um pH ótimo em torno de 10. Oxigênio O oxigênio pode ser indispensável, letal ou inócuo para as bactérias, o que permite classificá-las em: aeróbicas estritas (exigem a presença de oxigênio como aceptor final de elétrons para sobreviver), microaeróbilas (necessitam de baixos teores de oxigênio), aerotolerantes (suportam a presença do oxigênio, embora não o utilizem), anaeróbicas facultativas (utilizam oxigênio quando disponível, mas também se desenvolvem em sua ausência, tendo a capacidade de viver de forma aeróbica ou anaeróbica) e anaeróbicas estritas (não toleram oxigênio e exigem uma substância diferente do oxigênio como aceptor de hidrogênio). Pressão Osmótica Refere-se à concentração de sais em um meio. Para a maioria dos microrganismos as propriedades dos meios comuns são satisfatórias, entretanto, quando se deseja cultivar bactérias provenientes de ambientes com altas concentrações salinas, conhecidas como halófitas (halofílicas) deve-se elevar a concentração de sais em um meio de cultivo. Metabolismo Bacteriano Uma vez atendidas todas as necessidades nutricionais e condições físicas para o desenvolvimento bacteriano, as bactérias utilizarão os nutrientes como fonte de energia e síntese de estruturas celulares. O conjunto de reações químicas realizadas pelos microrganismos para obtenção, armazenamento e utilização de energia é denominado metabolismo. As reações metabólicas envolvem tanto a liberação de energia, denominadas reações catabólicas, como consumo de energia, denominadas reações anabólicas. Todos os tipos de células, incluindo as bactérias, são constituídos de cerca de 70% de água, indicando que as reações meatabólicas ocorrem em meio aquoso. Substâncias com alto valor energético são aquelas com elevado grau de redução, e grande parte das bactérias vai obter toda energia de que necessita por oxidação desses substratos. A energia produzida é utilizada para transporte de nutrientes, movimento de flagelos e biossíntese de moléculas celulares. Respiração Aeróbica O carboidrato mais abundante na natureza é a glicose, uma vez que faz parte de vários dissacarídeos e polissacarídeos. A maioria das células é capaz de oxidar completamente a molécula de glicose a CO2 e H2O, armazenando a energia liberada em moléculas de ATP. O oxigênio gasoso (O2) é frequentemente empregado como oxidante. O evento que leva à oxidação total da glicose ocorre em três etapas: glicólise (quebra gradativa de glicose em piruvato na ausência total de oxigênio), conversão de piruvato a acetil-CoA e oxidação de actil-CoA pelo ciclo de Krebs (fases aeróbicas onde o oxigênio é utilizado como aceptor final do hidrogênio após uma longa série de reações moleculares controladas por enzimas específicas). Em situações em que os carboidratos não estão disponíveis, as bactérias podem utilizar proteínas, peptídios e aminoácidos como fonte de energia, ou ainda converter proteínas e peptídios em aminoácidos que podem ser utilizados diretamente pela célula como unidades para a síntese de suas proteínas. Assim, a degradação de lipídios se restringe a certas bactérias como o Staphylococcus presentes na pele humana, capazes de secretar lípases e hidrolisar lipídios liberando ácidos graxos que podem ser assimilados e incorporados aos lipídios bacterianos ou ser oxidados até acetil-CoA, sofrendo posterior oxidação no ciclo de Krebs. Fermentação Em outras situações, bactérias podem utilizar lipídios, que apesar de altamente energéticos são pouco utilizados devido ao seu caráter hidrofóbico que os torna pouco disponíveis em meio aquoso. Muitas bactérias anaeróbicas sobrevivem apenas em baixas concentrações ou ausência total de oxigênio, realizando processo de respiração anaeróbica ou fermentação, para obtenção de energia. Tais microrganismos realizam a oxidação do substrato acompanhada da redução de coenzimas. A falta de aceptor final de hidrogênio impede a completa oxidação do substrato inicial e os produtos finais da fermentação são moléculas orgânicas específicas à espécie bacteriana que são excretadas para o meio. A produção de ATP não está acoplada à transferência de elétrons e fica restrita às reações de fosforilação ao nível do substrato, garantindo um rendimento energético menor do que o obtido pela respiração aeróbica. Meios de Cultura - Semeadura e Crescimento Bacteriano Meios de Cultura - Semeadura e Crescimento Bacteriano Meios de Cultura (cultivo) são materiais nutritivos preparados em laboratório que permitem o crescimento (aumento em quantidade) de microrganismos. Consistem da associação qualitativa e quantitativa de substâncias que fornecem os nutrientes necessários ao desenvolvimento (cultivo) de microrganismos, procurando imitar o seu ambiente natural. Algumas bactérias podem crescer normalmente em qualquer meio de cultura, outras necessitam de meios especiais e existem aquelas que não são capazes de crescer nos meios de cultura desenvolvidos. Quando microrganismos são colocados em um meio de cultura para iniciar seu crescimento, são chamados de inóculo. E, ao crescer, formam colônias (agrupamentos bacterianos) visíveis. Para o crescimento dos microrganismos, alguns critérios devem ser observados. O meio de culturadeverá conter todos os nutrientes necessários ao desenvolvimento do microrganismo de interesse, além de quantidade de água adequada, pH ajustado e quantidade específica de oxigênio, ou mesmo sua ausência, além de ser mantido em temperatura apropriada. O meio deverá ser estéril, ou seja, não deverá conter microrganismos vivos, no momento da inoculação da amostra desejada; dessa forma, conterá somente os microrganismo adicionados ao meios e sua geração. Existem diversos meios de cultura utilizados em laboratório. A maioria destes meios está disponível em forma comercial e contém todos os componentes desejados, sendo necessária somente a adição de água e posterior esterilização. Meios Sólidos, Semi-Sólidos e Líquidos Até cerca de 1880 os microrganismos eram mantidos em laboratório em extratos (caldos nutritivos), até que Robert Koch e colaboradores introduziram os meios de cultura sólidos, os quais permitiram o estudo de espécies isoladas (culturas puras) de bactérias, separando-as de espécies contaminantes. Quando se deseja o crescimento de bactérias em um meio sólido, um agente solidificante denominado agar (polissacarídeo extraído de algas marinhas) é adicionado ao meio que será posteriormente distribuído em tubos de ensaio ou placas de Petri, e após a solidificação apresentará um aspecto semelhante a uma gelatina. Os meios de cultura são classificados então, quanto ao seu estado físico, em: sólidos, quando contêm agentes solidificantes como o agar, sendo utilizados para visualização de colônias; semi-sólidos, quando a quantidade de agar é pequena, dando uma consistência intermediária de modo a permitir o crescimento de microrganismos em concentrações variadas de oxigênio ou para verificação da motilidade (presença de flagelos); e líquidos ou caldos, quando não possuem agente solidificantes, apresentando-se de forma líquida, utilizados para ativação (enriquecimento) das culturas, repiques de microrganismos, entre outros. Meio Quimicamente Definido Os meios devem conter uma fonte de energia, bem como fontes de carbono, nitrogênio, enxofre, fósforo e demais fatores orgânicos de crescimento que a bactéria não é capaz de sintetizar. Um meio quimicamente definido é aquele em que a procedênciados constituintes é conhecida e a composição química exata é conhecida. Como o exemplo a seguir. Meio Complexo Muitas bactérias desenvolvem-se em meios complexos, cuja composição química não é definida, compostos de nutrientes como extratos de levedura, de carne, de vegetais, produtos de digestão protéica, sangue e outros. A composição química exata pode conter pequenas variações em diferentes culturas do produto. Meio de Cultivo Seletivo e Diferencial Na microbiologia clínica ou na saúde pública é freqüentemente necessária a determinação da presença de um microrganismo específico associado com doenças ou com baixas condições de saneamento. Para atingir esse objetivo, é necessária a utilização de meios de cultura seletivos e diferenciais. Os meios seletivos contêm substâncias que inibem o desenvolvimento de determinados grupos de microrganismos, permitindo o crescimento de outros. São elaborados com o objetivo de favorecer o crescimento da bactéria de interesse e impedir o crescimento das outras bactérias; enquanto o meio diferencial é aquele que contém substâncias que permitem estabelecer diferenças entre bactérias parecidas, sendo utilizado para a fácil identificação da colônia da bactéria de interesse quando existem outras bactérias crescendo na mesma placa de meio de cultura. Os microrganismos em cultura pura apresentam reações características (como coloração da colônia) quando cultivados em tubos ou placas contendo meio diferencial. Fissão Binária e Crescimento Bacteriano Oferecendo-se as condições de cultivo (nutrientes e fatores físicos) adequadas, as bactérias poderão crescer, ou seja, aumentar em quantidade, pois o crescimento bacteriano é considerado como aumento do número de indivíduos e não o aumento em tamanho. Algumas bactérias se reproduzem por brotamento, formando uma pequena região que inicia um crescimento (broto) que ao atingir determinado tamanho, separa-se da célula parental. Entretanto, a maioria das bactérias se reproduz por fissão binária, ocorrendo a formação de duas células individuais a partir de uma célula parental. Durante esse processo, há aumento no número dos constituintes celulares, de maneira que uma bactéria se divida em duas bactérias filhas idênticas que receberão um cromossomo completo e cópias suficientes de todas as outras moléculas, garantindo assim sua existência como célula independente. Em bactérias, o intervalo de tempo requerido para que uma bactéria se divida é variável de acordo com a espécie bacteriana, fatores ambientais e nutrientes disponíveis, sendo denominado tempo de geração. A maioria das bactérias apresenta um tempo de geração entre 1 e 3 horas, mas algumas bactérias podem necessitar apenas de 15 minutos e outras de 24 horas para cada geração. O número de bactérias presentes em um meio de cultura dobra a cada tempo de geração, e um grande número de bactérias será produzido quando o processo de fissão binária ocorrer descontroladamente, portanto são utilizadas escalas logarítmicas para representar graficamente o crescimento bacteriano. Dessa maneira, se uma única bactéria sofrer fissão binária, o aumento da população na cultura será: Fases do Crescimento Bacteriano O crescimento bacteriano em um meio fechado (com nutrientes controlados), como um meio de cultura, durante um período de tempo pode ser representado através de uma curva de crescimento bacteriano, obtida quando se realiza a contagem da população bacteriana em intervalos de tempo após o inóculo de um número pequeno de bactérias no meio. Existem basicamente quatro fases de crescimento que seguem uma curva de crescimento definida e característica. A curva de crescimento pode ser arbitrariamente dividida em quatro fases. ● Fase Lag: Período inicial da curva de crescimento bacteriano relacionado com pequenas variações, pois as bactérias não se reproduzem imediatamente quando são colocadas em um novo meio de cultura. Esta fase é considerada um período de adaptação bacteriana, e pode durar um tempo variável. Neste período ocorre pouca ou nenhuma divisão celular. As bactérias encontram-se em um estado de latência, mas metabolicamente muito ativas. ● Fase Log (Logarítmica ou Exponencial): A partir de um determinado momento, as bactérias iniciam o processo de fissão binária, entrando no período de crescimento logarítmico (dobrando em quantidade a cada tempo de geração), em que a reprodução celular encontra-se extremamente ativa e o tempo de geração atinge um valor máximo e constante. Esta fase termina quando as condições do meio de cultura se alteram pela atividade metabólica bacteriana, não provendo mais condições adequadas para manter o crescimento constante. ● Fase Estacionária: Após a formação de um grande número de bactérias na fase Log, a falta de nutrientes e o acúmulo de substâncias tóxicas no meio podem cessar o crescimento de uma cultura. A velocidade de crescimento diminui, a atividade da bactéria decresce, e o número de morte bacteriana torna-se equivalente ao número de bactérias novas que surgem; assim, o número de bactérias presentes por unidade de volume permanece constante por um tempo determinado; a população torna-se estável. ● Fase de Morte Bacteriana (Declínio): Ocorre um decréscimo da população e o número de bactérias mortas passa a exceder o número de bactérias novas. Esta fase continua até que a população diminua gradativamente, até que o número de bactérias da fase anterior tenha desaparecido totalmente. A morte das bactérias depois de um período de crescimento pode estar relacionada com a concentração dos fatores limitantes de crescimento (falta de nutrientes e acúmulo de substâncias tóxicas).