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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Centro de Filosofia e Ciências Humanas Programa de Pós-Graduação em Psicologia HUDELSON DOS PASSOS FUNÇÕES EXECUTIVAS EM PRÉ-ESCOLARES COM TRANSTORNO DO ESPECTRO DO AUTISMO FLORIANÓPOLIS, SC 2020 2 HUDELSON DOS PASSOS FUNÇÕES EXECUTIVAS EM PRÉ-ESCOLARES COM TRANSTORNO DO ESPECTRO DO AUTISMO Dissertação submetida ao Programa de Pós- Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina para a obtenção do título de Mestre em Psicologia. Orientadora: Profª Drª Fernanda Machado Lopes Coorientadora: Drª Fernanda Rasch Czermainski FLORIANÓPOLIS, SC 2020 3 4 Hudelson dos Passos Funções Executivas em pré-escolares com Transtorno do Espectro do Autismo O presente trabalho em nível de mestrado foi avaliado e aprovado por banca examinadora composta pelos seguintes membros: Prof.(a) Mariana Menezes, Dr.(a) Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Prof.(a) Tatiana Pontrelli Mecca, Dr.(a) Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSC SP) Prof.(a) Natalia Martins Dias, Dr.(a) Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Prof. João Rodrigo Maciel Portes, Dr. Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) Certificamos que esta é a versão original e final do trabalho de conclusão que foi julgado adequado para obtenção do título em Mestre em Psicologia, Programa de Pós-Graduação em Psicologia. ____________________________ Prof. Andréa Barbará. S. Bousfield, Dr.(a) Coordenação do Programa de Pós-Graduação ____________________________ Prof.(a) Fernanda Machado Lopes, Dr.(a) Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Orientadora 5 Prof.(a) Fernanda Rasch Czermainski, Dr.(a) Departamento de Psicologia, Centro Universitário Estácio Coorientadora Florianópolis, 2020. 6 Dedico este trabalho às pessoas com autismo e suas famílias. 7 AGRADECIMENTOS Muitas pessoas foram fundamentais para a idealização, desenvolvimento e execução deste trabalho. Inicialmente gostaria de agradecer ao meu pai, Vivien, mãe, irmão e Karyne que sempre me incentivaram a buscar pelo conhecimento. E Kamila, minha companheira de vida que, além de ser apego seguro e fonte de inspiração, foi incrivelmente parceira em mais este desafio. Obrigado, amo vocês! Aos meus amigos que compartilham comigo das alegrias e mazelas da vida: Ana Carolina, Bruna, Elaine, Ian, Izabel, Leandro, Mayara, Nikolas... Muito obrigado por tantos - 9momentos de acolhimento e boas risadas durante o processo de realização do mestrado. - Também amo vocês! Agradeço também aos professores do PPGP/UFSC que enriqueceram minha trajetória acadêmica e profissional e direta ou indiretamente contribuíram com a elaboração do projeto desta pesquisa. Às professoras Marina e Tatiana, que compuseram a mesa examinadora na qualificação do projeto e puderam enriquecê-lo. E ainda aos colegas de disciplinas (e de “Bar- terapia”) e do LPCOG, com quem pude compartilhar muitos momentos memoráveis durante este período! Gostaria também de agradecer à minha orientadora. Fer, fizeste muito mais do que orientar! Obrigado por acolher, acalmar, ensinar, pegar junto, não desanimar e principalmente por tornar-se um grande modelo de pessoa e profissional para mim! E também à minha coorientadora, pela generosidade e conhecimentos compartilhados. Agradeço às crianças e famílias que participaram deste estudo, possibilitando que a pesquisa acontecesse. E finalmente, agradeço a oportunidade de estudar na UFSC, instituição pública e de qualidade, que se mantém como ponto de luz em tempos de tanto descrédito para com a ciência. 8 RESUMO O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por um conjunto de déficits que afetam consideravelmente o desempenho funcional do indivíduo. Crianças e adolescentes com TEA apresentam prejuízos em habilidades cognitivas, inclusive nas Funções Executivas (FE). As FE são um conjunto de processos cognitivos que permitem aos indivíduos que exerçam controle do seu comportamento e o regule com a finalidade de atingir demandas ambientais, permitindo comportamentos mais adaptados, auto-organizados e direcionados a metas. Ou seja, estas habilidades exercem poder gerencial sobre os aspectos cognitivos, emocionais e comportamentais dos humanos. Estudos nacionais ainda se mostram escassos com crianças com TEA em idade pré-escolar (3 a 6 anos de idade). Esta fase do desenvolvimento é de extrema importância para a maturação do sistema nervoso e, consequentemente, para o desenvolvimento de diversas habilidades neuropsicológicas, inclusive para as FE. Dessa forma, o presente estudo teve como objetivo avaliar funções executivas de crianças pré-escolares com diagnóstico de Transtorno do Espectro do Autismo. Trata-se de uma pesquisa de abordagem quantitativa, descritiva, do tipo série de casos, em que 12 crianças com TEA sem deficiência intelectual responderam a uma bateria de testes neuropsicológicos. Os instrumentos utilizados tiveram como foco avaliar os componentes de FE como atenção seletiva e alternada, flexibilidade cognitiva, planejamento e organização, associação semântica e fluidez de execução, controle de interferências e controle inibitório, memória operacional auditiva e Teoria da Mente. Os resultados mostraram que as crianças com TEA, sem deficiência intelectual, apresentaram desempenho sugestivo de déficit em diferentes instrumentos que avaliam FE. Evidencia-se também algumas limitações deste estudo, como o tamanho da amostra, destacando a necessidade de pesquisas futuras. Palavras-chave: Funções executivas; Autismo; Pré-escolares. 9 ABSTRACT Autism Spectrum Disorder (ASD) is a neurodevelopmental disorder characterized by a set of deficits that considerably affect an individual's functional performance. Children and adolescents with ASD have impaired cognitive abilities, including Executive Functions (EF). EF are a set of cognitive processes that allow individuals to exercise control over their behavior and regulate it in order to achieve environmental demands, allowing for more adapted, self- organized and goal-oriented behaviors. That is, these skills exercise managerial power over the cognitive, emotional and behavioral aspects of humans. National studies are still scarce with pre-school children with ASD (3 to 6 years old). This stage of development is extremely important for the maturation of the nervous system and, consequently, for the development of several neuropsychological skills, including for EF. Thus, the present study aimed to evaluate executive functions of preschool children diagnosed with Autism Spectrum Disorder. This is a quantitative, descriptive, case series study, in which 12 children with ASD without intellectual disability responded to a battery of neuropsychological tests. The instruments used focused on evaluating the components of EF such as selective and alternate attention, cognitive flexibility, planning and organization, semantic association and fluidity of execution, interference control and inhibitory control, auditory working memory and Theory of Mind. The results showed that children with ASD, without intellectual disabilities, showed a performance suggestive of deficit in different instruments that evaluate EF. Some limitations of this study are also evident, such as the sample size, highlighting the need for future research. Keywords: Executive functions; Autism; Preschoolers. 10 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Exemplo da primeira parte do instrumento TAC..................................................... 48 Figura 2. Exemplo da segunda parte do instrumento TAC. .................................................... 48 Figura 3. Exemplo da terceira parte do instrumento TAC. ................................................... 488 Figura 4. Tarefa correspondente à segunda parte do TT-P. .................................................. 489 Figura 5. Imagem da tela com a figura “noite” do TSS para pré-escolares. ........................... 50 Figura 6. Ilustração do perfil neuropsicológico do Caso 1, na perspectiva de picos e vales... 69 Figura 7. Ilustração do perfil neuropsicológico do Caso 2, na perspectiva de picos e vales... 71 Figura 8. Ilustração do perfil neuropsicológico do Caso 3, na perspectiva de picos e vales... 74 Figura 9. Ilustração do perfil neuropsicológico do Caso 4, na perspectiva de picos e vales... 76 Figura 10. Ilustração do perfil neuropsicológico do Caso 5, na perspectiva de picos e vales. 79 Figura 11. Ilustração do perfil neuropsicológico do Caso 6, na perspectiva de picos e vales. 81 Figura 12. Ilustração do perfil neuropsicológico do Caso 7, na perspectiva de picos e vales. 83 Figura 13. Ilustração do perfil neuropsicológico do Caso 8, na perspectiva de picos e vales. 85 Figura 14. Ilustração do perfil neuropsicológico do Caso 9, na perspectiva de picos e vales. 88 Figura 15. Ilustração do perfil neuropsicológico do Caso 10, na perspectiva de picos e vales. ........................................................................................................................................ 90 Figura 16. Ilustração do perfil neuropsicológico do Caso 11, na perspectiva de picos e vales. ........................................................................................................................................ 92 Figura 17. Ilustração do perfil neuropsicológico do Caso 12, na perspectiva de picos e vales. ........................................................................................................................................ 95 Figura 18. Ilustração do desempenho dos 12 casos, na perspectiva de picos e vales. ............ 96 11 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Indicadores dos principais grupos que compõe as FE, durante a primeira infância.....................................................................................................................................33 Tabela 2. Tarefas nos subtestes do SON-R 2¹/2-7[a]...............................................................46 Tabela 3. Esquema resumido sobre os instrumentos utilizados...............................................51 Tabela 4. Comparação das médias do grupo TEA nos domínios dos questionários SON, Dígitos e Corsi com valor de referência da literatura...........................................................................57 Tabela 5. Comparação das médias do grupo nos domínios dos questionários TAC e TTP com valor de referência da literatura...............................................................................................59 Tabela 6. Comparação das médias do grupo TEA nos domínios do questionário FCR com valor de referência da literatura........................................................................................................60 Tabela 7. Descrição das médias do grupo nos domínios da variável TMEC...........................60 Tabela 8. Comparação das médias do grupo nos domínios do questionário STROOP com valor de referência da literatura pela idade do participante..............................................................61 Tabela 9. Descrição das médias do grupo TEA nos domínios da variável IFEI........................62 Tabela 10. Descrição das variáveis e comparação da média do grupo na variável ASQ com valor de referência da literatura...............................................................................................62 Tabela 11. Caracterização dos casos referente a idade, sexo, tipo de escola e classificação de desempenho na inteligência (SON-R 2¹/2-7[a]), Memória de Trabalho Auditiva (Tarefa de Dígitos - TD) e Memória de Trabalho Visuoespacial (Tarefa Span de Blocos – Corsi - TSBC).......................................................................................................................................63 Tabela 12. Classificação de desempenho dos 12 casos nas habilidades de atenção, atenção e percepção visual, flexibilidade cognitiva, controle inibitório, praxia construtiva e planejamento, e memória imediata ..........................................................................................65 12 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS A total - desempenho total na avaliação da atenção AA - atenção alternada ABEP - Associação Brasileira de Empresas de Pesquisas ABIPEME - Associação Brasileira dos Institutos de Pesquisa de Mercado ADI-R - Autism Diagnostic Interview – Revised ADI-R - Entrevista Diagnóstica para Autismo – Revisada ADOS-G - Observação Diagnóstica do Autismo Agenda Genérica AMA - Associação dos Amigos dos Autistas APA - American Psychological Association AS - atenção seletiva AS c - atenção seletiva com maior complexidade BRIEF-P - Brief Rating Inventory of Executive Function-Preschool Version (Classificação Breve de Funções Executivas de pré-escolares CBCL - Child Behavior Checklist (Lista de Verificação de Comportamento Infantil) CBQ-SF - Questionário do Comportamento Infantil – Formulário Curto CC - Coerência Central CDC-EUA - Centro de Controle e Prevenção de Doenças norte Americano CDCHU - Center on the Developing Child at Harvard University CEPSH - Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos CHEXI - Childhood Executive Functioning Inventory CI esc - Controle Inibitório escore CI esc t - Tempo de Resposta no Controle no escore CI inc - Controle Inibitório, escore incongruente CI inc t - Tempo de Resposta no escore incongruente CI int - Controle Inibitório interferência CI int t - Tempo de Resposta no escore de interferência 13 CID-10 - Classificação Internacional de Doenças CS - Cognição Social DAS-II - Escala de Habilidade Diferencial – II DSM – I - Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais DSM-5 - Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais 5ª Edição DSM-III - Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais 3ª Edição DSM-IV - Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais 4ª Edição ESC – Escore FCR - Figura Complexa de Rey FE - Funções Executivas FLE c - flexibilidade cognitiva, conexões FLE s - flexibilidade cognitiva, sequências FLE total - desempenho total na avaliação da flexibilidade cognitiva IFEI - Inventário de Funcionamento Executivo Infantil IFEI aut: Desempenho Funcional de Autorregulação IFEI ci - Desempenho Funcional do Controle Inibitório IFEI mt - Desempenho Funcional da Memória de Trabalho IFEI pla - Desempenho Funcional de Planejamento IFEI total: Desempenho Funcional Total em Habilidades de Funções Executivas INTERF - Interferência LPCOG - Laboratório de Psicologia Cognitiva Básica e Aplicada MTA od - Memória de Trabalho Auditiva, ordem direta MTA oi - Memória de Trabalho Auditiva, ordem inversa MTV od - Memória de Trabalho Visuoespacial, ordem direta MTV oi - Memória de Trabalho Visuoespacial, ordem inversa NAIPE - Núcleo de Assistencial ao Paciente Especial OD – Ordem Direta OI – Ordem Inversa PLA c - Planejamento, cópia PLA c temp - Tempo de Execução da cópia PLA m - Planejamento, memória PLA m temp - Tempo de Execução da memória PLS-4 - Escala de Linguagem – 4ª Edição Pp - Pontuação padrão 14 PPGP - Programa de Pós-Graduação em Psicologia QAA - Questionário de Avaliação de Autismo QI - Quociente de Inteligência QI e - Quociente Intelectual de execução QI g - Quociente Intelectual geral QI r - Quociente Intelectual de raciocínio QICP - Questionário de Identificação para Cuidadores Parentais SA - Síndrome de Asperger SCQ - Questionário de Comunicação Social SCQ - Social Comunnication Questionnaire STR – Stroop SUS - Sistema Único de Saúde TAC - Teste de Atenção por Cancelamento TAC 1 - Atenção Seletiva TAC 2 - Atenção Seletiva Complexa TAC 3 - Atenção Alternada TAC 3 AA – Atenção Alternada TAC Total - Escore Geral de Atenção TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TD - Tarefa de Dígitos TDAH - Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade TDI - Transtorno do Desenvolvimento Intelectual TEA - Transtorno do Espectro do Autismo TES - Teoria da Empatia-Sistematização TMEC - Teste de Teoria da Mente para Crianças ToM - Teoria da Mente TR - Tempo de reação TRF - Formulário de Relatório de Professores TSB-C - Tarefa Span de Blocos – Corsi TSS - Teste de Stroop Semântico TT B - Flexibilidade Cognitiva TT-P - Teste de Trilhas para Pré-escolares 15 TTP A - Busca Visual TTP A CON - Busca Visual, conexões TTP A SEQ – Busca Visual, sequências TTP B CON – Flexibilidade Cognitiva, conexões TTP B SEQ - Flexibilidade Cognitiva, sequência UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina 16 SUMÁRIO 1. APRESENTAÇÃO 18 2. INTRODUÇÃO 20 3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 24 3.1. Transtorno do espectro do autismo (TEA): histórico, caracterização e teorias explicativas 24 3.2. Funções Executivas em Pré-Escolares com Transtorno do Espectro do Autismo 30 4. OBJETIVOS 42 4.1 Objetivo geral 42 4.2 Objetivos específicos 42 5. MÉTODO 43 5.1. Caracterização da pesquisa 43 5.2. Caracterização do campo de pesquisa 43 5.3. Participantes 43 5.4. Instrumentos 44 5.4.1 Questionário de Identificação para Cuidadores Parentais (QICP) 44 5.4.2 Questionário de fatores de saúde, sociodemográficos e culturais para avaliação neuropsicológica infantil 44 5.4.3 Questionário de Avaliação de Autismo (QAA) 45 5.4.4 Inventário de Funcionamento Executivo Infantil (IFEI) para Pais e Professores 45 5.4.5 Teste Não Verbal de Inteligência SON-R 2¹/2-7[a] 46 5.4.6 Teste de Atenção por Cancelamento (TAC) 48 5.4.7 Teste de Trilhas para Pré-escolares (TT-P) 49 5.4.8 Figura Complexa de Rey (FCR) 50 5.4.9 Teste de Stroop Semântico (TSS) 50 5.4.10 Tarefa de Dígitos (TD) 51 5.4.11 Tarefa span de Blocos – Corsi (TSB-C) 51 5.4.12 Teste de Teoria da Mente para Crianças (TMEC) 52 5.5 Procedimentos de coleta de dados 55 5.6 Procedimentos Éticos 56 5.7 Análise dos dados 56 17 6. RESULTADOS 58 6.1 Resultados referentes ao Grupo de Crianças com diagnóstico do TEA (n = 12) 58 6.2 Resultados individuais – Série de Casos 68 7. DISCUSSÃO 98 REFERÊNCIAS 114 APÊNDICES 127 Apêndice 1 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE 127 Apêndice 2 – Questionário de identificação para pais 131 18 1. APRESENTAÇÃO O presente estudo é vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGP) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), mais precisamente na Área três, “Saúde e Desenvolvimento Psicológico”, Linha um, “Saúde e Contextos de Desenvolvimento Psicológico”. A área três investiga os processos psicológicos nas interações entre saúde e desenvolvimento dos indivíduos e sociedades, e a linha um visa compreender o desenvolvimento psicológico e as relações com a saúde em diferentes contextos (ambiental, familiar, institucional e comunitário). Este estudo também é vinculado ao Laboratório de Psicologia Cognitiva Básica e Aplicada (LPCOG), na linha três “Neuropsicologia do uso/abuso de drogas e de outras psicopatologias”. O objetivo desta linha é explorar aspectos neuropsicológicos e comportamentais do uso/abuso de drogas e de outras psicopatologias pelo decorrer do desenvolvimento humano. Desta forma, os objetivos deste estudo se conectam com os objetivos da área, linha e laboratório citados. A motivação para esta pesquisa decorreu da prática profissional do mestrando, que é psicólogo com especializações em neuropsicologia e neurologia e atua profissionalmente com crianças com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) no contexto clínico. Em âmbito nacional existem poucos estudos sobre desempenho neuropsicológico de pré- escolares com TEA e são especialmente escassos sobre o desempenho em Funções Executivas (FE) nesta faixa etária. Inicialmente pretendia-se realizar um estudo do tipo caso controle, em que o grupo clínico seria composto por pré-escolares com TEA sem deficiência intelectual associada e o grupo controle seria composto por crianças de neurodesenvolvimento típico, pareadas pelo tipo de escola (pública ou privada), idade em meses e desempenho cognitivo em testes de QI. Para tal, estabeleceu-se parceria com escolas de educação infantil pertencentes ao ensino público e privado, de onde seriam captados os participantes do grupo controle. A coleta do grupo clínico transcorreu conforme o planejado, ao longo do ano de 2019, via encaminhamentos de profissionais da saúde para o mestrando, que rotineiramente recebe crianças com TEA para avaliação neuropsicológica. Contudo, quando se pretendia iniciar a coleta do grupo controle (2020.1), o Brasil entrou em regime de quarentena em virtude da pandemia do SARSCOV2, coronavírus causador da COVID-19. Diante do cenário de interrupções de atividades escolares, acadêmicas e profissionais por um período, os 19 pesquisadores necessitaram alterar o desenho do estudo, transformando-o em um estudo do tipo série de casos, onde foram analisados os desempenhos de doze pré-escolares com TEA sem deficiência intelectual. 20 2. INTRODUÇÃO O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é um transtorno de etiologia multifatorial, embora haja a estimativa de que 80% dos casos ocorram em decorrência de herdabilidade genética (Bai et al., 2019). Outros fatores também são apontados como indicativos de risco para o seu desenvolvimento, como hipóxia neonatal, diabetes gestacional, uso de Valproato durante a gestação, gestações com intervalo menor de doze meses, idade materna acima dos quarenta anos, idade paterna acima dos cinquenta anos, outro filho com TEA, nascimento pré-termo e obesidade materna (Lord et al., 2020). Dois grupos de sintomas compõem o TEA, são eles: déficits clinicamente significativos e persistentes na comunicação e na interação social, e padrões comportamentais restritos e repetitivos. Os sintomas encontram-se presentes precocemente durante o desenvolvimento e produzem déficits funcionais evidenciados em vários domínios da vida do indivíduo, como por exemplo na vida pessoal, social, acadêmica ou profissional (APA, 2013). Independentemente do nível de gravidade dos sintomas, o indivíduo com TEA apresenta comprometimento clinicamente significativo em seu funcionamento (Bosa, 2018). Nos últimos anos nota-se expressivo aumento na incidência do transtorno, o que possivelmente está relacionado à melhora da acurácia diagnóstica dos casos mais brandos, bem como à mudança em alguns fatores ambientais, por exemplo o baixo peso ao nascer, obesidade materna, diabetes gestacional, uso de medicamentos durante a gestação (ex. ácido valproico), a poluição ambiental e exposição a determinados grupos de agrotóxicos (APA, 2013; Schwartzman, 2018). Estimativas recentes elaboradas pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças norte Americano (CDC-EUA) indicam prevalência de TEA em 1 para cada 54 crianças de oito anos de idade (Maener et al., 2020). Os dados epidemiológicos sobre o TEA indicam maior prevalência em indivíduos do sexo masculino, numa proporção aproximada de 4,3 meninos para cada menina (Maener et al., 2020). O diagnóstico é importante para o auxílio do indivíduo e sua família na garantia dos atendimentos necessários e, ocorrendo precocemente, o diagnóstico e a intervenção podem trazer excelentes resultados sobre aspectos amplos do desenvolvimento (Volkmar & Wiesner, 2019). Apesar disso, estimativas indicam que a média de idade para o fechamento do diagnóstico é por volta dos quatro anos e dois meses de idade (Maener et al., 2020). Como proposta para antecipação da média de idade de fechamento de diagnóstico, o estudo de 21 Carbone et al. (2020), propõe que todos os bebês passem por triagem para risco de TEA em consultas na atenção primária em saúde. Geralmente o TEA se manifesta acompanhado de outras condições patológicas, sendo as principais comorbidades os prejuízos no desempenho da inteligência (deficiência intelectual), o transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH), as alterações de linguagem, o transtorno específico de aprendizagem e a epilepsia. Em pré-escolares com TEA, transtornos de ansiedade estão presentes em 50%, fobias específicas em 40%, TDAH em 40% e comportamentos opositores em 20% (Lord, Brugha, Charman et al, 2020). O nível de funcionamento e o prognóstico estão condicionados à quantidade de comorbidades e ao nível de comprometimento/gravidade destas (APA, 2013). A inteligência se expressa a partir das capacidades de raciocínios lógico e abstrato e da maneira como o indivíduo utiliza suas habilidades cognitivas globais (Júlio-Costa & Antunes, 2017). A deficiência intelectual (transtorno do desenvolvimento intelectual, TDI), é caracterizada por alterações nestas habilidades cognitivas globais, tais como raciocínio, capacidade para solucionar problemas, habilidades para planejar, abstração, juízo crítico, aprendizagens formais e ecológicas e em funções adaptativas que culminam em déficits para atingir marcos desenvolvimentais (APA, 2013). Diante do nível de complexidade do TEA, o diagnóstico deve ser realizado de maneira multiprofissional com equipe mínima composta por um neurologista e/ou psiquiatra e/ ou pediatra, psicólogo e fonoaudiólogo (Brasil, 2014). Durante o processo diagnóstico, as comorbidades devem ser identificadas e descritas. Para diagnosticar TDI, o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais, DSM-5 propõe a mensuração da inteligência por meio de instrumentos psicométricos, sendo o QI menor que 70 indicativo para TDI, ou dois desvios padrão para menos em qualquer instrumento de avaliação cognitiva, bem como por meio de observação do comportamento adaptativo ou desadaptativo expresso pelo desempenho funcional do indivíduo (APA, 2013). Evidencias indicam que aproximadamente 33% dos indivíduos com TEA apresentem TDI comórbido, existindo uma diferença desta em relação aos gêneros, em que 39% de meninas e 32% de meninos com TEA possuem TDI (Maener et al., 2020). Em linhas gerais, quando há comprometimento no desempenho intelectual, há prejuízo generalizado nas funções neuropsicológicas, incluindo um grupo específico de funções, chamado de funções executivas. 22 De maneira abrangente, conforme propõem Malloy-Diniz et al. (2014), as FE podem ser compreendidas como um grupo de funções neuropsicológicas que permitem, de maneira integrada, que o indivíduo dirija comportamentos a metas, avalie a eficácia destes comportamentos e abandone aqueles que se mostrem ineficazes, em prol daqueles que possam ser eficazes. O resultado do funcionamento integrado dessas funções permite que os indivíduos resolvam problemas de curto, médio e longo prazos. Ou seja, possibilitam que o indivíduo controle seu comportamento, regulando-o com a finalidade de atender demandas apresentadas pelo ambiente, desempenhando comportamentos ajustados e dirigidos a metas. Podemos considerar ainda, que estas funções apresentam a possibilidade de os humanos coordenarem seus processos cognitivos, emocionais e comportamentais (Seabra, Reppold, Dias, & Pedron, 2014). Na infância, as FE são fundamentais para prestar atenção em uma tarefa e lembrar de informações relevantes, para controlar comportamentos e emoções (Engel de Abreu et al., 2015), para compreender a leitura realizada (Oliveira, 2014), para o conhecimento de aritmética e realização de cálculos (Menon, 2010), entre outras. Além do desempenho em habilidades acadêmicas, as FE estão relacionadas com alterações comportamentais, em especial nos comportamentos externalizantes (característicos de impulsividade e agressividade), mesmo em crianças pequenas (Schoemaker, Múlder, Dekovic, & Matthys, 2013). Evidencias apresentadas por estudos de caráter longitudinal indicaram que crianças cujo desempenho nas FE é bom, possuem maiores chances de na vida adulta apresentarem melhores indicadores de saúde física e mental, sucesso acadêmico, carreiras profissionalmente mais sólidas, menor envolvimento com ilegalidades e menores taxas de uso e abuso de substancias psicoativas (CDCHU, 2011). Estudos internacionais cujo alvo são os déficits em FE nos casos de TEA não são recentes. Já nos anos de 1990, pesquisadores como McEvoy, Rogers e Pennington e também Pellicano já estudavam os impactos da atenção seletiva e das habilidades de Teoria da Mente (ToM) em crianças com TEA (Carreiro et al., 2014). No âmbito nacional, Czermainski, Riesgo, Guimarães, Salles e Bosa (2014) realizaram estudo investigando o desempenho de crianças e adolescentes com TEA em tarefas de FE. Apesar das FE atingirem maturação entre a adolescência e a vida adulta, o desenvolvimento dessas funções é iniciado precocemente (Jurado & Rosselli, 2007). Estudos com enfoque em FE de crianças, especialmente em idade pré-escolar (3 a 6 anos de idade) (Dias & Trevisan, 2018) e com TEA são relativamente novos no Brasil. Sabe-se também 23 que estratégias preventivas e de intervenção precoce na estimulação destas habilidades apresentam bons resultados e que tendem a perdurar (Dias, 2013; Muskat & Cardoso, 2016), portanto, mais estudos sobre esta faixa etária se fazem necessários. 24 3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 3.1. Transtorno do espectro do autismo (TEA): histórico, caracterização e teorias explicativas O termo autismo infantil foi utilizado pela primeira vez pelo psiquiatra Bleuler em 1911, porém Leo Kanner, em 1943, foi quem melhor relatou ao descrever as observações que realizara de 11 crianças que apresentavam comportamento bastante peculiar. Tal comportamento se caracterizava pela presença de inabilidade inata em estabelecer contato afetivo e interpessoal, associada à obsessividade, estereotipias e ecolalias. Kanner sugeriu a hipótese de que a etiologia do autismo estaria relacionada à prejuízos da interação entre mãe e bebê. Um ano mais tarde, Hans Arperger descreveu outros casos de crianças com características semelhantes ao autismo, que também apresentavam dificuldades na comunicação social, porém, sua inteligência era preservada e não manifestavam prejuízos na fala (Assumpção Jr & Pimentel, 2000; Porciuncula, 2016), inaugurando o que anos mais tarde (década de 1980) se popularizou internacionalmente como Síndrome de Asperger (SA). No ano de 1952 a Associação Americana de Psiquiatria (APA) publicou o primeiro Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-I), que se tornou referência internacional para clínicos e pesquisadores. Nesta edição, sintomas de autismo eram compreendidos como componentes de subgrupos da esquizofrenia infantil. Em meados da década de 1960, a hipótese apresentada por Kanner ganhou força e a teoria sobre as “mães geladeiras” passou a ser considerada uma possível causa para o desenvolvimento do autismo. No avançar da década, um movimento contrário a esse começou a sustentar a hipótese de que o autismo seria um transtorno neurológico presente desde tenra infância e encontrado em diferentes países, níveis socioeconômicos e etnias. Até a década de 1970, as teorias que buscavam explicar o autismo ficavam restritas a ideias reducionistas de gênese psicológica ou familiar do transtorno, como, por exemplo, a teoria das “mães frias/geladeiras” (Caixeta & Caixeta, 2005). Em 1978, o médico psiquiatra Michal Rutter caracterizou o autismo enquanto um distúrbio do desenvolvimento cognitivo, com critérios específicos: a) atraso e alterações sociais não apenas no desenvolvimento cognitivo; b) déficits de comunicação; c) movimentos estereotipados e maneirismos e; d) tudo isso iniciando antes dos 30 meses de idade. 25 Posteriormente, no Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais, 3ª Edição (DSM-III), o autismo foi reconhecido como condição única, específica, sendo incluído no grupo “transtornos invasivos do desenvolvimento”. Essa classe agrupava o conjunto de desvios de importantes funções psicológicas, principalmente aquelas que estão envolvidas na aquisição de habilidades sociais e de linguagem. A este grupo pertenciam também a SA, os transtornos desintegrativos e a síndrome de Rett (Ferrari, 2007). Em 1981, Lorna Wing, médica psiquiatra, motivada enquanto pesquisadora, clínica e mãe de uma criança com autismo, revolucionou a compreensão sobre o transtorno ao ampliar a compreensão sobre as características heterogêneas e sugerindo tratar-se de um espectro, enfatizando aquilo que ficou conhecido por “Tríade de Wing”: alterações na interação e comportamento social, comunicação e imaginação e ainda no comportamentos repetitivos e a presença de interesses restritos. Salientou também as características específicas da SA e fundou a National Autistic Society (www.autism.org.uk). Já nos anos finais da década (1988), Ivar Loovas, psicólogo, apresentou os benefícios da análise do comportamento e de terapias comportamentais ofertadas de maneira intensiva em um estudo descrevendo tais procedimentos com dezenove crianças com autismo em idade pré-escolar. Tratava-se de uma proposta em que as crianças foram submetidas a quarenta horas de intervenção semanal e após dois anos de intervenção, apresentaram melhora média de vinte pontos em escalas de avaliação do QI. Isso possibilitou que durante a década de 1990 a terapia comportamental emergisse com propostas de controle ambiental e da aprendizagem. Concomitante (1989), a temática do autismo foi abordada em um sucesso de bilheteria, o filme “Rain Man” (Levinson, 1989), importante para maior disseminação acerca do transtorno, embora tenha contribuído para um dos principais mitos sustentados até o momento atual sobre a condição: de que “dentro” de um indivíduo com autismo há, muitas vezes escondido, um grande gênio, com inteligência superior à média. No ano de 1994, o DSM-IV e a Classificação Internacional de Doenças CID-10 se equipararam conceitualmente para reduzir eventuais confusões entre clínicos e pesquisadores. Neste movimento, a SA foi acrescida ao DSM-IV, ampliando o autismo que passou então a contar com uma condição mais branda, reconhecendo aqueles indivíduos com maior nível funcional. Em 1998, Andrew Wakefield, cientista, publicou na revista Lancet um estudo que afirmava que algumas vacinas estariam relacionadas à etiologia do transtorno. Este equívoco se resolveu anos mais tarde, culminando na cassação do registro médico de Wakefield e na retratação da Lancet. 26 A Organização das Nações Unidas passou a instituir o dia 2 de abril como Dia Mundial da Conscientização do Autismo em 2007, com a finalidade de dialogar com a população como um todo sobre a importância de conhecer o transtorno. Em 2018, este dia se tornou oficial no Brasil como Dia Nacional de Conscientização sobre o Autismo. Em 2012 foi sancionada em território nacional a Lei 12.764/12, também chamada de Lei Berenice Piana, qual propõe a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, sendo um importante reconhecimento legal na garantia dos direitos das pessoas com TEA. Tais direitos devem, desde então, ser assegurados no nível do acesso ao diagnóstico precoce, ao tratamento com terapias e medicamentoso, ambos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Ainda devem ser garantidas questões relacionadas à educação e proteção social, bem como ao trabalho. Em 2018, houve a publicação do estudo de Czech (2018) sobre a vida de Hans Asperger, evidenciando sua filiação ao movimento nazista e práticas higienistas em prol de uma eugenia, contanto inclusive com prática de eutanásia em crianças. Isso causou desconforto na população científica, acadêmica e profissional e a National Autistic Society se posicionou com carta de repúdio. Desde 2013, com o advento do DSM-5, usa-se a nomenclatura Transtorno do Espectro do Autismo (APA, 2013) e o inclui entre os Transtornos do Neurodesenvolvimento. O termo “espectro”, já descrito anteriormente por Wing e pela literatura científica, evidencia um avanço na compreensão do TEA, uma vez que é um transtorno do neurodesenvolvimento muito complexo e heterogêneo em diversos aspectos, especialmente do ponto de vista cognitivo e comportamental (Porciuncula, 2016). Essa compreensão atual de espectro amplia as possibilidades diagnósticas e de tratamento, enfatizando a ampla heterogeneidade da condição e reconhecendo que as alterações presentes no transtorno são quantitativas e também qualitativas. Para o plano de tratamento, entender o TEA como espectro sugere que o profissional deve estar atento às idiossincrasias para fazer as escolhes das ferramentas terapêuticas de maiores chances de sucesso em cada caso. Os Transtornos do Neurodesenvolvimento se caracterizam por condições nas quais há alterações no desenvolvimento de habilidades cognitivas, motoras, sensoriais e/ou comportamentais, ou seja, se caracterizam pela presença de déficits no desenvolvimento que acarretam prejuízos no funcionamento pessoal, social, acadêmico e/ou profissional. Podem variar desde limitações muito específicas na aprendizagem ou no controle de funções executivas até prejuízos globais em habilidades sociais ou inteligência (Mecca, Orsati, & 27 Macedo, 2014). De acordo com o DSM-5, pertencem aos transtornos do neurodesenvolvimento: deficiências intelectuais (transtorno do desenvolvimento intelectual, atraso global do desenvolvimento, deficiência intelectual não especificada); transtornos da comunicação (transtorno da linguagem, transtorno da fala, transtorno da fluência com início na infância/gagueira, transtorno da comunicação social pragmática, transtorno da comunicação não especificado); transtorno do espectro autista; transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (transtorno de déficit de atenção/hiperatividade, transtorno de déficit de atenção/hiperatividade não especificado); transtorno da aprendizagem; transtornos motores (transtorno do desenvolvimento da coordenação, transtorno do movimento motor estereotipado, transtorno de tique, outro transtorno de tique especificado, transtorno de tique não especificado); e outros transtornos do neurodesenvolvimento (outro transtorno do neurodesenvolvimento especificado, outro transtorno do neurodesenvolvimento não especificado) (APA, 2013). O TEA aparece precocemente, antes mesmo dos três anos de idade, e segue o desenvolvimento humano até a vida adulta; porém, suas manifestações podem ser atenuadas através de intervenções profissionais e estimulação adequadas (Surian, 2010). Ao diagnosticar o TEA deve-se considerar principalmente os prejuízos na área sócio- comunicativa, que pode estar acompanhada de expressões comportamentais rígidas. Além desses, existem aspectos de especificação: com ou sem comprometimento intelectual concomitante; com comprometimento da linguagem ou não; associado a uma condição médica ou genética conhecida, ou a um fator ambiental; associado a outro transtorno do desenvolvimento neurológico, mental ou de comportamento; e/ou com catatonia. Importante destacar os aspectos de especificação, visto que estes permitem que os avaliadores considerem de maneira ampla os sintomas e os comportamentos de cada indivíduo com TEA (APA, 2013). A manifestação dos sintomas é ampla e heterogênea e está relacionada ao desenvolvimento intelectua e outras funções neuropsicológicas do indivíduo. As habilidades de interação social e de linguagem/comunicação tendem a apresentar comprometimento mesmo na etapa pré-linguística. Os prejuízos na espontaneidade e reciprocidade socioemocional são as principais dificuldades, bem como os déficits no uso de gestos na intenção de compartilhar a atenção sobre um fator de interesse (Bosa et al., 2016). Estes prejuízos no desenvolvimento influenciam fortemente o desempenho funcional dos indivíduos, que tendem a apresentar dificuldades nas atividades da vida diária, na adaptação 28 social, no desenvolvimento da linguagem verbal e não verbal e no comportamento (Muszkat, Araripe, Andrade, & Muñoz, 2014). Além dos prejuízos socioemocionais e de comunicação, prejuízos cognitivos como dificuldades em inibir impulsos, planejar ações, buscar diferentes possibilidades para a resolução de um problema e inferir sobre o estado mental de outras pessoas também são típicos no transtorno (Bosa et al., 2016). Para melhor compreensão do transtorno, a literatura apresenta algumas teorias para o desenvolvimento cognitivo no TEA, sendo a Teoria da Cognição Social, a Teoria da Mente, a Teoria da Coerência Central, Teoria da Empatia- Sistematização e a Teoria de déficits nas Funções Executivas as mais discutidas (Muszkat, Araripe, Andrade, Muñoz & Mello, 2014) e apresentadas brevemente a seguir. O termo Cognição Social (CS) refere-se ainda a habilidades de identificar, manipular e adequar comportamentos a partir de informações sociais percebidas e decodificadas num determinado contexto (Mecca, 2018). Apesar de não haver um consenso na literatura sobre todos os domínios que estariam relacionados com a CS, algumas habilidades vêm sendo indicadas como importantes neste processo, dentre elas estão o processamento de emoções, a percepção social, o estilo de atribuição, a atribuição de estado mental (ou Teoria da Mente), as habilidades imitativas, o contágio emocional e o reconhecimento de ações. Pessoas com TEA apresentam baixo desempenho em tarefas de CS, expressas por dificuldades cotidianas de perceber e interpretar os outros indivíduos, de compreender os pensamentos emoções do outro e intenções que o outro pode ter sobre terceiros. Assim, necessitam de intervenções sistemáticas para a ampliação de repertórios destas habilidades (Mecca, 2018; Muszkat, Araripe, Andrade, & Muñoz, 2014). Outra teoria, nomeada como Teoria da Mente (ToM), foi inaugurada por Premak e Wooddruff em 1978, conforme citam os autores Mecca, Dias e Berberian (2016), é compreendida como a habilidade de inferir e compreender estados mentais dos outros e de si mesmos, a partir de inferências não observáveis, ou seja, o contexto. Algumas habilidades são consideradas como precursoras dos aspectos explícitos da ToM, são elas: linguagem, controle inibitório, reconhecimento de emoções, atenção, memória de trabalho e flexibilidade cognitiva (Mecca, 2018). Este tipo de atenção pode ser observada quando mãe e bebê compartilham a atenção sobre um mesmo objeto, símbolo ou evento. Bosa (2002) enfatizou os prejuízos na atenção compartilhada, que inclui déficits nas habilidades de ToM, como fortes preditores para alterações no neurodesenvolvimento e suspeita de TEA. De acordo com Júlio-Costa e Antunes (2017), quando comparadas a indivíduos neurotípicos, 29 pessoas com TEA apresentam déficits em várias facetas da ToM: reconhecimento dos estados mentais em situações sociais desconfortáveis, reconhecimento de falsas crenças sobre o mundo ou sobre as crenças dos outros, inferência emocional com base no reconhecimento de faces e compreensão da relação entre ver e saber. A teoria da Coerência Central (CC), proposta por Frith em 1989, sugere que indivíduos neurotípicos possuem uma cognição caracterizada pela tendência em integrar os estímulos recebidos como um todo. Frequentemente indivíduos com TEA apresentam alterações na CC ou no processamento gestáltico das informações, valorizando parte das informações recebidas em detrimento do todo. Um exemplo do prejuízo neste modelo de cognição seria a dificuldade na compreensão de metáforas ou sarcasmos. Entretanto, ainda não existem evidências científicas robustas que sustentem esta teoria (Júlio-Costa & Antunes, 2017; Muszkat, Araripe, Andrade, & Muñoz, 2014). A Teoria da Empatia-Sistematização (TES), também conhecida como teoria do cérebro masculino extremo, foi produzida por Baron-Cohen (2002). Segundo ele, a empatia é uma capacidade composta por habilidades complexas, dependentes de seis sistemas cognitivos, sendo eles a) o detector de intencionalidade; b) detector de direção do olhar; c) atenção compartilhada; d) ToM; e) detector de emoção; e f) sistema de empatia. A sistematização está relacionada com a capacidade de compreender ou prever sistemas (podem ser eventos, pessoas, situações) a partir de regras e está relacionada a um processo mecânico. Desta forma, esta teoria considera que no TEA existe baixa empatia e alta sistematização (Júlio-Costa & Antunes, 2017). No TEA, prejuízos na linguagem geralmente afetam todos os processos: recepção, produção fonológica, sintaxe, prosódia, semântica e pragmática. Conforme visto anteriormente, déficits na comunicação social tendem a chamar a atenção das famílias de crianças com TEA precocemente. As alterações nos processos de linguagem tendem a impactar as relações sociais, a comunicação, a expressão, a compreensão de intenções e crenças dos outros. Por conta destes prejuízos que costumeiramente pessoas com TEA apresentam alterações na prosódia, emitindo fala monótona (Muszkat, Araripe, Andrade, & Muñoz, 2014). Recentemente, avanços em pesquisas de neuroimagem evidenciaram os prejuízos na conexões e formações de rede reduzida ou muito fraca em áreas cerebrais responsáveis pela imitação, percepção de faces e processamento emocional, ou seja, em áreas envolvidas na cognição social, com áreas pré-frontais, historicamente apontadas como substratos neurobiológicos para as FE (Müller & Fishman, 2018). 30 Por fim, a Teoria de Déficits nas Funções Executivas (FE), que será utilizada como base neste estudo. Embora não haja consenso na literatura sobre a definição acerca das FE, comumente este grupo de habilidades é compreendido como conjunto de habilidades e capacidades que nos possibilitam “executar as ações necessárias para atingir um objetivo” (Uehara, Mata, Fichman, & Malloy-Diniz, 2016). Durante o processo ontogenético, seres humanos maturam sistemas neurais que permitem maiores habilidades de deliberar, tomar decisões e solucionar problemas, sendo as FE as últimas a amadurecerem no desenvolvimento humano (Querino, Godoy, Cheib, Sallun, & Malloy-Diniz, 2018). Evolutivamente, esse grupo de funções permite que os indivíduos consigam flexibilizar rotinas, inibir comportamentos indesejados, planejar e tomar decisões considerando benefícios e malefícios, aprender a partir da experiência de seus pares, utilizar ferramentas e construir parcerias com outros indivíduos. São habilidades cognitivas importantes que permitem que as pessoas se adaptem a novas situações e solucionem problemas, com o intuito de alcançar objetivos. São processos em que a tomada de decisão é facilitada e possibilitam que o sujeito controle suas ações, pensamentos e emoções (Barkley, 2001; Dias & Trevisan, 2018; Lezak, Howieson, & Loring, 2004). As FE mediam nossas habilidades em organizar os pensamentos direcionados a objetivos, sendo essenciais para as práticas acadêmicas, laborais, sociais, bem como para a vida cotidiana. Comportamento ético e senso de moralidade também são frutos do bom desempenho das FE (Ardila, 2008). 3.2. Funções Executivas em Pré-Escolares com Transtorno do Espectro do Autismo O desenvolvimento humano não se reduz ao amadurecimento do sistema nervoso, mas envolve uma condição de realizar trocas com o meio, assimilando e estruturando novas informações a partir dele. Desde o nascimento até o primeiro ano de vida, pode-se observar alguns aspectos basais referentes à capacidade de regular o próprio comportamento em demanda das contingências ambientais, bem como de estabelecer metas e executar comportamentos com o objetivo de alcançá-las (Martins, Miranda, & Fischer, 2018; Uehara, et al., 2016). Neste sentido, os primeiros anos de vida são fundamentais para o desenvolvimento de habilidades que servirão de base para o surgimento de novas, mais complexas (Muszkat & Rizzutti, 2018). A maturação neurobiológica sofre extraordinária influência do ambiente, que nesta fase é representado principalmente pela família e escola. 31 Neste momento, ocorre um grande salto no desenvolvimento físico e psicossocial, e nota-se franca evolução das habilidades de linguagem, memória, capacidades abstrativas e emocionais. Como exemplos, já nos primeiros meses de vida os bebês humanos são capazes de responder a expressões faciais maternas; por volta dos três meses compreendem ações animadas; aos nove meses já são capazes de compreender a ação orientada para objetivos; e por volta dos quatorze meses são capazes de compreender o planejamento de ações (Tomasello, Carpenter, Call, Behne, & Moll, 2005). Aos dois anos já demonstram maiores habilidades para nomear emoções; por volta dos três anos são capazes de relatar experiências emocionais; e aos quatro anos tendem a estarem aptos a perceberem que as reações emocionais podem variar entre as pessoas (Júlio-Costa & Antunes, 2017; Muszkat, Araripe, Andrade, & Muñoz, 2014; Muszkat & Rizzutti, 2018). Nos primeiros anos, habilidades imprescindíveis se desenvolvem, tais como: motricidade ampla e fina, habilidades visuoespaciais, autorregulação e automonitoramento, elaboração e generalização de estratégias, capacidades matemáticas, raciocínio, memória, habilidades linguísticas e verbais, formação de conceitos e categorias, habilidade para inferir estados mentais dos outros e consciência e sentimentos de si mesmo (Mecca, Antônio, Rabelo, Valentini, & Macedo, 2014). Entre o grupo de importantes funções neuropsicológicas presentes nesta fase do desenvolvimento humano, encontram-se as Funções Executivas (FE). Esse grupo encontra-se em processo de intenso desenvolvimento durante a infância, sendo esta fase crucial para a adequada estimulação de habilidades associadas a tais funções e seus subcomponentes. (Uehara, Charchat-Fichman, & Ladeira, 2013). Levanta-se a hipótese de que evolutivamente o seu desenvolvimento possibilitou ampliação nas capacidades adaptativas de nossa espécie, na resolução de problemas sociais, incluindo aspectos afetivos das interações sociais, como reciprocidade e cooperação social (Malloy-Diniz & Dias, 2020). Como descrevem Malloy-Diniz e Dias (2020), a revisão de literatura realizada por Baggetta e Alexander (2016) sobre modelos de FE, identificou a existência de 48 modelos diferentes, sendo os modelos propostos por Miyake et al. (2000), empírico, e por Diamond (2013), teórico e baseado no modelo empírico de Miyake, os mais citados. Por maior afinidade teórica, neste estudo optamos pelo segundo mencionado, que compreende as FE a partir de três funções primárias, ou básicas, são elas: 1) inibição/controle inibitório; 2) memória de trabalho e; 3) flexibilidade cognitiva. Para este modelo outras FE mais 32 complexas, como habilidades de planejamento, tomada de decisão, resolução de problemas, entre outras, dependem da interação e bom funcionamento destas primárias. Inibição ou controle inibitório são sinônimos que estão relacionados com a habilidades de autocontrole, ou seja, a capacidade para inibir respostas inadequadas e ainda coordenar interferências, inibindo o foco atencional a distratores, memórias ou mesmo pensamentos indesejados ou incoerentes com as demandas ambientais do momento. Permite que sejamos capazes de controlar nosso comportamento de maneira consciente (Seabra, Reppold, Dias & Pedron, 2014). Na fase pré-escolar, essa função é extremamente importante para o cumprimento de regras, manutenção do foco atencional em tarefas dirigidas e mesmo em brincadeiras livres, além da inibição de pensamentos e emoções disfuncionais ou desadaptativos. Três subprocessos interrelacionados compõem a inibição: a inibição de respostas dominantes (comportamentos condicionados e que não estão adequados a determinado contexto ou ambiente), cessação de comportamentos já em andamento (impedimento de comportamentos que já estão sendo executados, por exemplo quando uma criança suprime determinada ação ao ser advertida por um adulto) e controle de interferências endógenas e exógenas (habilidade para filtrar interferências e manter-se engajado atencionalmente em algum objetivo) (Barkley, 1997; Querino et al., 2018). Já a memória de trabalho é compreendida como a função que nos permite manter informações na mente por um curto período de tempo, e, além disso, manipula-la mentalmente. A manipulação mental da informação nos permite atualiza-la e transforma-la, de modo que está diretamente relacionada à aprendizagem, ao raciocínio e à solução de problemas. Baddeley (2003), organizou a memória de trabalho em quatro constructos relacionados que funcionam a partir de uma hierarquia: 1) executivo central (é quem manipula e controla as informações); 2 e 3) são os constructos que subsidiam o executivo central, a alça fonológica (guarda informações verbais através de sons e da linguagem) e o esboço visuoespacial (que retém estímulos visuoespaciais) e; 4) o buffer episódico (permite o armazenamento temporário da informação e se relaciona com a memória de longo prazo) (Querino et al., 2018). Manter uma informação na mente, para na sequência manipular mentalmente esta informação com outras subjacentes é fundamental para a aprendizagem formal e informal e isso só é possível graças ao desenvolvimento de habilidades de memória de trabalho. Neste modelo, a flexibilidade cognitiva é a que se desenvolve mais tardiamente e possui maior complexidade, visto que depende das anteriores. Permite que sejamos capazes 33 de “pensar fora da caixa”, nos atentarmos a diferentes perspectivas e ainda modificar nosso foco atencional diante de tarefas. Está associada à criatividade (Dias & Trevisan, 2018). A flexibilidade cognitiva ainda permite que sejamos capazes de alternar entre perspectivas, diminuindo a rigidez de pensamento (Querino et al., 2018). Compreendemos a flexibilidade cognitiva a partir de dois subdomínios: a flexibilidade atencional, que é relacionada a mudança nas normas para a seleção de um novo estímulo; e a flexibilidade de resposta, cuja mudança de regra exerce uma mudança sobre a resposta motora (Brown & Bowman, 2002; Querino et al., 2018). Quando a criança é capaz de mudar de estratégias ou mesmo a considerar que outros pontos de vista diferentes do seu podem possuir algum sentido, está utilizando habilidades de flexibilidade cognitiva. Em meados do terceiro ano de vida as crianças começam a manifestar melhores condições para controlar o próprio comportamento, em especial no que diz respeito ao cumprimento de regras, ou seja, no comportamento de postergar sua gratificação (Tabaquim, Ferreira, & Riechi, 2017). O aprimoramento das FE parece melhorar durante o ciclo vital, de maneira sequenciada e depende de demandas ambientais para tal. Como indicam Uehara, Mata, Fichman e Malloy-Diniz (2016), períodos que parecem mais críticos ou sensíveis para o desenvolvimento destas funções se localizam aos dois e entre os sete e nove anos de idade, apresentando posterior avanço entre os 16 e 19 anos. A Tabela 1 apresenta alguns indicadores dos principais grupos que compõem as FE, durante a primeira infância. Tabela 1 Indicadores dos principais grupos que compõe as FE, durante a primeira infância. Adaptado de Center on the Developing Child at Harvard University (2011). Inibição / Controle inibitório Memória de trabalho Flexibilidade cognitiva 6 meses: Bebês possuem a capacidade de inibir respostas, ainda de forma rudimentar. Por exemplo: tendem a estar prontos 7 a 9 meses: Os bebês já são capazes de lembrar que os objetos não existem apenas quando se encontram em seu campo visual, e encontram-se com condições para 9 a 11 meses: Os bebês humanos encontram-se disponíveis para desenvolver a capacidade de buscar por métodos alternativos para solucionar pequenos 34 para não tocar em algo que foram instruídos para tal. desempenhar ações juntas para atingir. Por exemplo: certos de que há um brinquedo escondido sob um pano, conseguem retirar o pano e agarrar o brinquedo. problemas, como por exemplo tentar recuperar objetos além de alcançar os que se encontram em seu campo visual. 8 a 10 meses: Nesta faixa etária os bebês começam a manter o foco, apesar de distrações com atrasos na realização de uma tarefa. 9 a 10 meses: Já podem ser capazes de executar tarefas que levam a um fim, ou seja, apresentam habilidades necessárias para cumprir uma tarefa em duas etapas. 2 a 5 anos: As crianças já se encontram aptas a manter comportamentos diferentes em diferentes locais, a fim de cumprir com as regras de cada local. Por exemplo: na escola deve-se ficar com os calçados nos pés, mas em casa deve-se tirá-los. 9 a 11 meses: Apresenta habilidades necessárias para inibir o alcance imediato e aguardar momento oportuno para pegar um objeto de seu desejo. Por exemplo: pode aguardar para pegar um objeto que está inacessível, esperando momento oportuno para desviar-se da barreira e alcançar o objeto. 3 anos: As crianças tendem a conseguir manter em mente as regras de um jogo simples, por exemplo: vermelho vai aqui e azul vai lá. 4 a 5 anos: Neste período as crianças tendem a reduzir obstinações, por exemplo, podem alternar a regra de 4 a 5 anos: Tendem a compreender que a aparência pode possuir representações mais abstratas, como por exemplo, quando lhe 35 uma brincadeira com maior habilidade. oferecem uma esponja que se parece com uma pedra. As FE ainda podem ser classificadas entre “frias” e “quentes”. As habilidades “frias” são caracterizadas como processos que não envolvem estimulação emocional, estando mais relacionadas com aspectos lógicos e cognitivos, como por exemplo o raciocínio lógico e abstrato, as habilidades de planejamento e resolução de problemas e a memória de trabalho. Já os aspectos “quentes” estão relacionados a aspectos emocionais, também a crenças e desejos, na regulação do afeto, da motivação e também dos comportamentos sociais, por exemplo nas habilidades de Teoria da Mente (ToM) (Uehara et al., 2016). Pesquisas evidenciam que a separação dos processos quentes e frios deve ocorrer no período da adolescência (Welsh & Peterson, 2014). Em suma, as FE atuam de modo semelhante ao funcionamento de uma orquestra: planejando ações, executando e monitorando-as, e direcionando o controle de habilidades cognitivas, comportamentais e emocionais. São habilidades intimamente relacionadas com tarefas que começam a ser exigidas dos pré-escolares: aprender a ler, a realizar cálculos e a escrever. Por sua vez, essas tarefas possibilitam mais do que a aquisição de uma forma de comunicação, permitem a construção de estruturas de pensamentos abstratos e autoconceito, beneficiando a formação da personalidade da criança. Em pré-escolares, as habilidades de controle inibitório e memória de trabalho atuam como viabilizadores na socialização e na aprendizagem formal (Tabaquim, Ferreira, & Riechi, 2017; Muszkat & Rizzutti, 2018). Esta fase é, portanto, um período sensível para o desenvolvimento cognitivo e emocional, tornando-se também um momento oportuno para avaliação e intervenção no caso de alterações qualitativas do desenvolvimento. No Brasil, apesar do crescente número de estudos visando investigar FE em crianças, a quantidade de instrumentos e tarefas normatizados, validados e adaptados para pré-escolares ainda é pequena (Seabra, Reppold, Dias & Pedron, 2014). As principais contingências relacionadas com o desenvolvimento cognitivo em pré- escolares são os fatores biológicos e ambientais (Oliver, Antoniuk, & Bruck, 2017). Sabe- se que além dos primeiros, que são determinantes, o desenvolvimento das capacidades cognitivas depende dos estímulos que a criança receberá do meio em que está inserida. Ou seja, como o ambiente é responsável por propiciar o acúmulo de novas experiências e 36 habilidades, fazem-se necessários estímulos adequados para que o pré-escolar desenvolva suas funções cognitivas através de interações com o meio (Mecca, Antônio, Rabelo, Valentini, & Macedo, 2014). As habilidades de interação social e de linguagem, fortemente intensificadas depois dos dois primeiros anos de vida, estão em pleno avanço nesta faixa etária, possibilitando muito o aprendizado e trocas com o ambiente. No que tange a contingências ambientais, fatores socioeconômicos parecem exercer influência sobre o desenvolvimento cognitivo. O nível sócio econômico (NSE), refere-se à posição da pessoa na sociedade que é permeada por diversos aspectos, tais como educação, ocupação dos pais, renda familiar, saúde física e mental da família e aspectos físicos e psicossociais do ambiente. Em um estudo recente de revisão, Piccolo, Sbicigo, Grassi- Oliveira e Salles (2016) concluíram que o desempenho neuropsicológico é influenciado pelo NSE e alguns estudos analisados pelos autores indicaram o nível de escolaridade dos pais, especialmente escolaridade materna, como fatores importantes para o desempenho neuropsicológico dos filhos, sendo a função mais afetada a linguagem. Outros estudos analisados por Piccolo e colaboradores (2016), demonstraram ainda que crianças com NSE mais baixo tendem a presenciar mais situações estressoras do que crianças que possuem NSE mais alto e por este motivo ficam mais propensas a doenças ou dificuldades de desenvolvimento. Especificamente sobre FE em pré-escolares com TEA, parece haver uma carência de estudos em âmbito nacional. Entretanto, pesquisas têm apontado para alterações em FE em crianças e adolescentes com TEA, como por exemplo, com relação a prejuízos no controle inibitório (Chan, Cheung, Han, Sze, Leung, Man, & To, 2009; Christ, Holt, White, & Green, 2007; Kilinçaslan, Mukaddes, Küçükyazici, & Gürvit, 2010; Robinson, Goddard, Dritschel, Wisley, & Howlin, 2009) e na memória de trabalho espacial (Czermainski, Riesgo, Guimarães, Salles, & Bosa, 2014; Landa & Goldberg (2005) e semântica (Lopes, Passos & Czermainski, 2019). Um estudo comparativo entre grupo de crianças com hipótese diagnóstica de TEA e crianças de desenvolvimento típico, com 24 meses de idade, avaliou a mudança atencional bem sucedida (Smith, Carter, Claser & Kaldy, 2019). As crianças que compuseram o grupo controle foram recrutadas por correspondências e as crianças com suspeita de TEA foram recrutadas por meio de centros de intervenção precoce ao desenvolvimento, da cidade de Boston. Participaram do experimento 59 crianças, sendo 29 com hipótese diagnóstica de TEA e 30 de neurodesenvolvimento típico. As habilidades para mudança atencional, que 37 podem ser consideradas requisitos para habilidades de flexibilidade cognitiva, foram avaliadas a partir de uma tarefa de busca visual que não requer instruções verbais, validadas pelos autores (Kaldy, Carter & Blasser, 2011). Aos 24 meses de idade, os resultados sugerem que as habilidades para mudança atencional bem sucedida não parecem ser característica central do TEA nesta faixa etária. O estudo realizado por Jahromi, Chen, Dakopolos e Chorneau (2019), que incluiu 38 crianças, sendo 18 com TEA (média de 4 anos e 8 meses de idade) e 20 crianças de desenvolvimento neurotípico (média de 4 anos e 1 mês de idade), pareou as crianças dos dois grupos considerando o sexo, desempenho intelectual (idade mental), idade linguística expressiva e receptiva. As crianças com TEA tiveram seu diagnóstico confirmado através do instrumento Entrevista Diagnóstica para Autismo - Revisada (Autism Diagnostic Interview – Revised - ADI-R), e os pais ainda responderam o Questionário de Comunicação Social (SCQ) que serve como instrumento de triagem para TEA. As crianças foram submetidas à Escala de Linguagem – 4ª Edição (PLS-4) que avalia a idade de linguagem expressiva e compreensiva e à Escala de Habilidade Diferencial - II (DAS-II) que estima a idade cognitiva de crianças. A tarefa de tolerância à gratificação utilizada seguiu os mesmos procedimentos de Mischel et al. (Mischel, 1983; Mischel el al., 1989), onde expõe-se para a criança duas canecas com quantias diferentes de chocolate (utilizaram M&Ms), uma com dois chocolates e outra com 10 e uma campainha ou sino. Na sequência, o avaliador explica para a criança que ele sairá e, se ela esperar ele retornar, receberá 10 M&Ms, ou caso não espere, pode tocar a campainha e receberá apenas dois M&Ms. Durante a espera, foram observados o tempo de espera por gratificação e as emoções expressas pela criança durante este período. A regulação emocional das crianças foi avaliada por uma lista de verificação respondida pelos pais, baseada nos estudos de Shields e Cicchetti (1997). Para verificar as habilidades de FE foram utilizadas quatro instrumentos: a) a tarefa de paradigma do tipo Stroop - Dia/Noite (Gerstadt, Hong & Diamond, 1994), que avalia a capacidade da inibição de respostas (controle inibitório); b) a tarefa do Jogo de Mão, ou “Tarefa do punho de Luria” (Hughes, 1998), com a finalidade de avaliar as habilidades de inibição de resposta pré- existente (controle inibitório); c) o Questionário do Comportamento Infantil – Formulário Curto (CBQ-SF) (Putnam & Rothbart, 2006), respondido pelos pais, evidenciando através de uma escala do tipo likert habilidades comportamentais das crianças que indicam o desempenho de FE; e d) uma Escala de Comunicação, utilizada para medir as interações das crianças, especialmente a iniciativa de manter atenção sobre um conjunto de brinquedos. Os 38 resultados indicaram que as crianças com TEA toleraram esperar por menos tempo, apresentaram comportamentos impulsivos, mais direcionados aos objetos de seu interesse e expressaram menos afeto positivo do que pares sem TEA. Corroborando com esses achados, outro estudo (Gardiner, Hutchison, Müller, Kerns & Iarocci, 2017) avaliou FE (memória de trabalho, inibição, flexibilidade cognitiva e planejamento) de 43 pré-escolares, sendo 24 com TEA (média de 5 anos e 5 meses de idade) e 19 (média de 4 anos e 8 meses idade) de neurodesenvolvimento típico. Participaram do estudo as crianças que não apresentavam déficits cognitivos, avaliado pela Escala de Inteligência Stanford-Binet, e os pais responderam ao questionário sobre comportamento adaptativo Vineland II. Nos testes, não houve diferença significativa entre os grupos nos resultados expressos de habilidades de memória de trabalho, inibição, flexibilidade cognitiva ou planejamento. Já o resultado expresso pelos pais das crianças evidenciou que ecologicamente, ou seja, no dia-a-dia, quando precisam gerir diferentes demandas ambientais, as crianças com TEA apresentaram resultados inferiores aos de seus controles neurotípicos. Correlações entre as FE e a gravidade de sintomas em pré-escolares com TEA foram identificadas em um estudo do tipo grupo controle, realizado na Itália (Valeri, Casula, Napoli, Stivano, Trimarco, Vicari & Scalisi, 2019) onde foram avaliadas 54 crianças (27 com o diagnóstico de TEA e 27 controles sem alterações desenvolvimentais) com idades entre 4 e 6 anos. As crianças com TEA foram recrutadas num hospital neuropediatrico e já haviam recebido o diagnóstico por equipe multidisciplinar com base nos critérios do DSM- 5 e apresentavam pontuações equivalentes ao transtorno na Entrevista Diagnóstica para Autismo – Revisada (ADI-R) ou pela Observação Diagnóstica do Autismo Agenda Genérica – ADOS-G. Estas foram pareadas por idade em meses e desempenho em teste de inteligência (Leiter-R). As FE foram avaliadas através da BAFE (Valeri et al, 2015), uma bateria de avaliação neuropsicológica italiana para pré-escolares, composta por diferentes tarefas para cada subdomínio (memória de trabalho, controle inibitório e flexibilidade cognitiva) de FE. Os resultados apontaram para pior desempenho das crianças com TEA em habilidades de controle de impulsos/inibição e em habilidades de flexibilidade cognitiva. Já a memória de trabalho, em especial visuo-espacial, diferenças entre o grupo clínico e o controle não foram notadas. Na comparação intra-grupo, as crianças com sintomas de TEA mais graves tiveram piores desempenhos em habilidades de controle de impusos/inibição do que as crianças com sintomas mais brandos do transtorno. 39 Um estudo Holandês (Otterman et al., 2019), incorporado no Estudo Geração R (Kooijman et al, 2017), uma coorte com o objetivo de avaliar fatores biológicos e ambientais que influenciam o crescimento, o desenvolvimento e a saúde das crianças e seus pais, composta por 4450 crianças. As crianças foram avaliadas a partir dos relatos de seus pais e professores em questionários, dentre eles: Inventário de Classificação Breve de Funções Executivas de pré-escolares (BRIEF-P) (Brief Rating Inventory of Executive Function- Preschool Version [BRIEF-P]), Lista de Verificação de Comportamento Infantil (Child Behavior Checklist – CBCL), Critérios do DSM-5 para diagnóstico de TEA e Versão Holandesa do Formulário de Relatório de Professores (TRF) (Teacher Report Form). Foram inclusas crianças com idades entre quatro e sete anos, com a finalidade de identificar prejuízos no funcionamento executivo de acordo com demandas neurológicas. Os grupos clínicos investigados foram de crianças com diagnóstico de TEA e de TDAH, e os resultados sugeriram associação graduada entre o déficit no funcionamento executivo e o curso dos transtornos do neurodesenvolvimento e ainda apontaram para os déficits em FE como precursores de TEA e TDAH desde períodos precoces do neurodesenvolvimento. Estes últimos achados corroboram com o estudo de Stephens, Watson, Crais e Reznick (2018) em que foram entrevistados 380 pais de crianças com suspeita diagnóstica de TEA e as alterações em habilidades de FE, relatadas pelos pais, foram preditivas para a confirmação diagnóstica de TEA posteriormente. Quando se trata de crianças com diagnóstico fechado de TEA, o desempenho nas habilidades de FE pode predizer o desenvolvimento de atividades lúdicas, em especial no caso de pré-escolares com TEA sem déficits intelectuais. Um grupo de pesquisadores (Faja et al., 2016) acompanhou longitudinalmente dois grupos de crianças com TEA, sendo um deles com habilidades de linguagem mais alta e o outro com habilidades de linguagem mais baixa. Os resultados indicaram que o grupo com linguagem mais alta, apresentou desfecho mais favorável para o desenvolvimento de brincadeiras abstratas e para o uso de habilidades de FE, se comparado ao grupo com habilidades de linguagem mais baixa. Um estudo (Kimhi, Shoam-Kugelmas, Agam Bem-Artzi, Bem-Moshe, & Mauminger-Zviely, 2014), comparou dois grupos, sendo um deles composto por 29 pré- escolares de neurodesenvolvimento típico e outro com 30 pré-escolares com TEA. Encontraram como resultados que as crianças do grupo clínico apresentaram perfis cognitivos heterogêneos e em especial, com reduzidas habilidades verbais e de socialização se comparado ao grupo controle. 40 Maranhão e Pires (2017) realizaram um estudo que visou investigar associações entre o desempenho de crianças com TEA em provas de avaliação de FE e nas habilidades sociais. Os achados do estudo sugeriram que os perfis executivos e de habilidades sociais são diretamente influenciados pelo nível de desenvolvimento da linguagem verbal. Outros estudos sugerem que os prejuízos em FE mais frequentemente encontrados em pessoas com TEA são nas habilidades de planejamento, organização, flexibilidade cognitiva, controle inibitório e fluência verbal e visual (Muszkat, Araripe, Andrade, & Muñoz, 2014). No Brasil, um estudo (Czermainski, Riesgo, Guimarães, Salles, & Bosa, 2014) avaliou o desempenho de crianças e adolescentes com TEA sem DI nas habilidades das FE. Participaram 11 crianças e adolescentes com TEA, com idades entre 9 e 15 anos de idade e 19 crianças e adolescentes neurotípicos para controle. Foi utilizada uma bateria para avaliação neuropsicológica que englobava um questionário sóciodemográfico respondido pelos pais ou responsáveis, o teste de inteligência Matrizes Progressivas Coloridas de Raven – Escala especial, o Stroop Test, o Teste de Trilhas, e subtestes que avaliam FE do Neupsilin- Inf (Span de dígitos, Span de pseudopalavras, Memória de trabalho visuoespacial, Fluência verbal fonêmica ortográfica, Fluência verbal semântica e Auditoria go/no go). Apesar de uma amostra clínica pequena e da necessidade de utilizar estes dados com cautela, as conclusões do estudo apontaram para a presença de prejuízos significativos nos subprocessos das FE, incluindo memória de trabalho, planejamento, flexibilidade cognitiva, inibição, fluência verbal e memória de trabalho visuoespacial. É importante ressaltar que a amostra clínica deste estudo não possuía deficiência intelectual e mesmo assim apresentou desempenho prejudicado das FE. A pesquisa mencionada acima ainda gerou outro estudo, do tipo série de casos (Czermainski et al., 2015) avaliou o desempenho em habilidades de FE de crianças e adolescentes com TEA, sem deficiência intelectual. Participaram 11 crianças (nove meninos e duas meninas) com idades entre 10 e 15 anos, selecionados a partir dos critérios de estarem alfabetizados, possuírem desempenho do QI dentro da faixa de normalidade, não possuírem diagnósticos psiquiátricos comórbidos e não possuírem deficiências sensoriais (como deficiência visual ou auditiva). Os instrumentos utilizados foram o teste de inteligência Matrizes Progressivas Coloridas de Raven – Escala especial, Teste de Stroop, Teste de Trilhas, Figura Complexa de Rey, Span de Dígitos (ordem inversa), Repetição de pseudopalavras, Memória de trabalho visuoespacial, Fluência Verbal fonêmica, Fluência Verbal semântica e o Auditoria “go/no go”. Os pais/ responsáveis responderam ao 41 questionário de avaliação qualitativa “BRIEF”, que avalia FE a partir de 86 itens que questionam o funcionamento do indivíduo na vida diária. Os resultados apontaram para heterogeneidade no perfil neuropsicológico dos participantes, e quatro subgrupos foram identificados: 1) desempenho predominantemente baixo, 2) alterações em várias funções neuropsicológicas, porém algumas preservadas, 3) habilidades neuropsicológicas relativamente preservadas, mas com déficits em poucas tarefas e 4) um caso que não completou a avaliação. A avaliação qualitativa respondida pelos pais indicou a presença de déficits executivos significativos na maioria dos casos. Considerando estes dados em conjunto, percebe-se que a avaliação neuropsicológica de pré-escolares é um processo recente no Brasil. Poucos estudos em âmbito nacional investigam esses construtos em crianças desta faixa etária com o diagnóstico de TEA. Nestes casos, a intervenção precoce é indicada e vem apresentando resultados positivos, especialmente quando a abordagem consiste na integração dos membros da família (Cossio, Pereira, & Rodriguez, 2018). A detecção precoce de alterações no desenvolvimento apresenta melhores resultados em decorrência das capacidades plásticas do encéfalo (Muszkat, & Cardoso, 2016); portanto, estudos que contribuam para identificação de tais alterações são necessários. 42 4. OBJETIVOS 4.1 Objetivo geral Avaliar funções executivas de crianças pré-escolares com diagnóstico de Transtorno do Espectro do Autismo. 4.2 Objetivos específicos a) Avaliar as funções executivas de crianças com diagnóstico de Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) com idades entre cinco e seis anos; b) Identificar possíveis perfis neuropsicológicos do grupo clínico, a partir da análise nomotética; c) Avaliar se a gravidade do TEA está associada a maior prejuízo no desempenho nas tarefas de funções executivas. 43 5. MÉTODO 5.1. Caracterização da pesquisa Trata-se de um estudo de abordagem quantitativa, que mede variáveis e possíveis relações entre elas (Sampieri, Collado & Lucio, 2006); do tipo série de casos, pois visa compreender associações e dissociações entre indivíduos com determinada condição clínica. Esse método de investigação (série de casos) possibilita o entendimento das variações de desempenho e ou comportamento dos indivíduos em provas que avaliam um mesmo grupo de funções neuropsicológicas (Schwartz & Dell, 2010). Em relação ao tempo, o estudo se configura como de corte transversal, visto que analisou variáveis em um momento determinado no espaço e no tempo. Ainda, em relação aos objetivos, é caracterizada como descritiva pois objetivou conhecer e descrever as características de determinado grupo (Gil, 2010). 5.2. Caracterização do campo de pesquisa Os dados foram coletados em consultório de psicologia com condições adequadas para aplicação das provas neuropsicológicas com as crianças e para a coleta de dados com os informantes através de entrevista e questionários. 5.3. Participantes Participaram da pesquisa 12 crianças, 11 meninos e uma meninas, com idades entre 5 anos e 0 meses e 6 anos e 11 meses e seus responsáveis. Doze eram crianças que preenchiam o critério de inclusão estabelecido para o grupo clínico (série de casos) que era possuir diagnóstico de Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) sem associação com deficiência intelectual A amostra foi não probabilística e os participantes selecionados por conveniência, a partir do contato com especialistas (Pediatras, Neuropediatras, Psicólogos, Neuropsicólogos e Fonoaudiólogos) no atendimento a crianças com TEA em Joinville/SC e região) e centros de atendimento especializado a pessoas com TEA (Associação dos Amigos dos Autistas de Joinville, AMA Joinville, Núcleo de Assistencial ao Paciente Especial, o NAIPE de Joinville, e Associação dos Amigos dos Autistas de Jaraguá do Sul, AMA Jaraguá do Sul). 44 Participaram crianças de escolas públicas e privadas e as características socioeconômicas das famílias foram consideradas a partir dos critérios da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP). 5.4. Instrumentos Para a realização desta pesquisa, foram utilizados 12 instrumentos, descritos a seguir e esquematizados na Tabela 3. 5.4.1 Questionário de Identificação para Cuidadores Parentais (QICP) Questionário autoaplicável, desenvolvido pelos pesquisadores com objetivo de coletar dados de identificação e informações a respeito dos aspectos neurodesenvolvimentais dos pré-escolares com TEA. É composto por 16
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