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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CAROLINE GOMES DE AVIZ PEDRO LIMA FARIAS Diagnóstico da Pimenta-do-Reino no Município de São Miguel do Guamá – PA PARAGOMINAS 2017 CAROLINE GOMES DE AVIZ PEDRO LIMA FARIAS Diagnóstico da Pimenta-do-Reino no Município de São Miguel do Guamá - PA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Engenharia Agronômica da Universidade Federal Rural da Amazônia, como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Engenharia Agronômica. Área de Concentração: Produção Vegetal Orientador: D.Sc.: Luís de Souza Freitas. Co-orientadora: D.Sc.: Danielle Silva Pinto PARAGOMINAS 2017 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal Rural da Amazônia --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Aviz, Caroline Gomes de Diagnóstico da Pimenta-do-Reino no Município de São Miguel do Guamá – PA / Caroline Gomes de Aviz e Pedro Lima Farias. _ Paragominas, 2017. 62 f. Orientadora: Prof. D.Sc. Luís de Souza Freitas Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Agronomia) – Universidade Federal Rural da Amazônia - UFRA, Paragominas - PA, 2017. 1. Pipericultura - Produtividade. 2. Fusariose. 3. Pragas. I. Farias, Pedro Lima. II. Freitas, Luís de Souza, Orient. III. Título. CDD 23.ed. 633.8498115 --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- A Deus, que sempre esteve ao nosso lado, nos abençoando e mostrando o melhor caminho, e aos nossos pais que não nos deixaram desistir, em meio às dificuldades, dedicamos essa conquista a vocês. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, pela sabedoria, compreensão, paciência e pelo seu amor tão grandioso, cada momento dessa conquista foi escrita por Ele; Ao meu pai Manoel Diogo de Aviz e a minha mãe Elineuza Batista Gomes, pelo amor, incentivo, dedicação, oração, persistência, e pela palavra que me acalmava nos momentos difíceis; A todos meus familiares, que sempre me ajudaram com palavras de sabedoria, conforto e orações, em especial a minha irmã Camila Gomes, pelo companheirismo; Ao meu namorado Pedro Lima Farias, pela paciência, força, amor, companheirismo, e principalmente por estar do meu lado nos momentos bons e não tão bons; À Universidade Federal Rural da Amazônia pela oportunidade de realizar este curso; A todos os meus professores, desde o maternal até a faculdade, pelo conhecimento compartilhado e pelo incentivo, em especial meu orientador Luís Freitas, pela dedicação, paciência e empenho na elaboração deste trabalho, e também a nossa Co-orientadora Danielle Pinto, pelo auxilio e pela atenção prestada A todos os meus amigos, em especial Tacimara Oliveira que sempre tinha palavras lindas de conforto para me acalmar nos momentos de angustia e desespero; Às meninas que moraram comigo nesses 5 anos de curso, Thaise, Carla, Juliane e Cândida, que me ensinaram conviver com as diferenças e me deram apoio nas horas difíceis longe de casa e de nossos pais; Ao Engenheiro Agrônomo Antonio Max, ao Técnico Agropecuário Rômulo Cezar e ao Engenheiro Florestal Rodrigo Soares por dividirem seus conhecimentos conosco, e nos auxiliarem no decorrer deste trabalho; A todos os meus vizinhos, que torciam pela minha vitória, principalmente Joana Maria, que considero muito; A todos os funcionários da UFRA, em especial Tia Toinha e Tia Néia, que sempre estavam dispostas a me ajudar ao longo deste curso; Agradeço a todas as pessoas que contribuíram direta e indiretamente para o êxito desta etapa em minha vida, que Deus abençoe a todos! Caroline Gomes de Aviz AGRADECIMENTOS Quero agradecer primeiramente a Deus pela saúde е força para superar as dificuldades e estar aqui hoje numa data tão especial, porque sem Ele a gente não é nada. Agradecer em especial aos meus pais Edileuza Moreira Lima (in memoriam) e Antonio Miranda Farias, pelo amor, incentivo e apoio incondicional, e meus irmãos Ivan Lima Farias, João Lima Farias, Maria Antônia Lima Farias, Francisco Lima Farias e Ediney Lima Farias que contribuíram muito para que eu tivesse essa alegria, de ter um curso de formação superior. Gostaria de agradecer a todos meus familiares, em especial a tia Dalva pelo amparo e apoio que me deu ao longo do curso para chegar até o fim. Agradecer também em especial minha namorada Caroline Gomes de Aviz, pelo apoio, pelo incentivo para que eu não desistisse do curso e também ao companheirismo ao longo do curso, meu muito obrigado a você. Agradecer em especial à Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) pela oportunidade de fazer o curso, pelo ambiente criativo e amigável que foi proporcionado no decorrer desses anos de formação profissional de Engenheiro Agrônomo. Aos meus orientadores, pelo empenho dedicado à elaboração deste trabalho Prof. Dr. Luiz Freitas e a Profª. Dr. (a). Danielle Pinto pelo paciente trabalho de revisão e de ter confiado no meu potencial. Aos meus amigos Charles, Adenil, Izomar, José, João Paulo e Suzane que me deram apoio emocional e ombro amigo ao longo destes anos. Ao amigo e Engenheiro Agrônomo Antonio Max, ao Técnico Agropecuário Rômulo Cezar da EMATER-SMG e ao Engenheiro Florestal Rodrigo Soares por colaborarem para a realização deste trabalho; Ao corpo docente, direção е administração da UFRA que oportunizaram а janela que hoje vislumbro um horizonte superior, pеlа confiança no mérito е ética aqui presentes. Aos funcionários da UFRA, especialmente Tia Neia e Toinha, que muitas das vezes nos ajudaram em algo na universidade. A todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação profissional, о meu muito obrigado. Pedro Lima Farias “A sabedoria repousa no coração dos que têm discernimento, e mesmo entre os tolos ela se deixa conhecer”. (Provérbios 14: 33) RESUMO O Pará é o maior produtor dentre os estados brasileiros, com cerca de 90% da produção, cuja produtividade e longevidade das plantas têm sido reduzidas pelo ataque da fusariose e de viroses. O objetivo geral deste trabalho foi avaliar os aspectos produtivos da pimenta-do-reino no município de São Miguel do Guamá – PA. O estudo foi realizado na zona rural do município de São Miguel do Guamá– PA, com 33 produtores em 13 comunidades. Os dados foram obtidos através do levantamento das informações quantitativas através da aplicação de um questionário com perguntas voltadas ao sistema de produção de pimenta-do-reino da propriedade, relacionadas a origem dos produtores, pragas e doenças, produtividades, insumos utilizados, manejo, colheita e beneficiamento da cultura. A aplicação do questionário ocorreu no mês de julho de 2016. A produção anual de pimenta-do-reino no município foi de 375.500 kg, ou seja, 375 toneladas de pimenta colhida no ano de 2015. Os tratos culturais realizados no município são bem semelhantes aos usados no restante do estado do Pará, sendo que os mais utilizados são capina, limpeza de área e amarrio das mudas, estes são métodos comuns entre os produtores entrevistados. A praga mais recorrente na cultura é o pulgão, porém a praga citada como a que ocasiona maiores prejuízos foi a formiga. A doença mais grave e quefoi citada por um maior número de produtores foi a fusariose. Os insumos mais citados pelos pipericultores de São Miguel do Guamá – PA foram o calcário e a enxada, ambos são utilizados por todos os produtores do município. A principal dificuldade encontrada pelos produtores no cultivo da pimenta-do-reino é o preço do tutor morto (estaca de Acapu), que se eleva conforme aumento do preço da pimenta. A rota de comercialização do produto se dá principalmente na região Nordeste do estado, a cidade que compra a maior parte da pimenta guamaense é Castanhal – PA. Palavras-chave: Fusariose. Insumos. Pipericultura. Pragas. Produtividade. ABSTRACT Pará is the largest producer among the Brazilian states, with about 90% of production, whose productivity and longevity of plants have been reduced by the attack of fusariosis and viruses. The general objective of this work was to evaluate the productive aspects of black pepper in the municipality of São Miguel do Guamá - PA. The study was carried out in the rural area of the municipality of São Miguel do Guamá - PA, with 33 producers in 13 communities. The data were obtained by means of the survey of the quantitative information through the application of a questionnaire with questions related to the production system of pepper of the estate, related to the origin of the producers, pests and diseases, productivities, inputs used, handling, harvesting And processing of the crop. The questionnaire was applied in july 2016. The annual production of black pepper in the municipality was 375,500 kg, or 375 tons of pepper harvested in the year 2015. The cultural practices carried out in the municipality are very similar To those used in the rest of the State of Pará, being the most used are weeding, cleaning of area and amarrio of the seedlings, these are common methods among the producers interviewed. The most recurrent pest in the crop is the aphid, but the pest cited as the one that caused the most damage was the ant. The most serious disease that was cited by a larger number of producers was Fusarium. The most cited inputs by the São Miguel do Guamá - PA producers were limestone and hoe, both used by all producers in the municipality. The main difficulty encountered by growers in the cultivation of black pepper is the price of the dead tutor (Acapu stake), which rises as the price of pepper increases. The route of commercialization of the product occurs mainly in the northeastern part of the state, the city that buys most of the guamaense pepper is Castanhal - PA. Key-words: Fusarium. Inputs. Pipericultura. Pests. Productivity. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Mapa de localização das comunidades visitadas no município de São Miguel do Guamá – PA. ............................................................................................................................ 29 Figura 2 - Naturalidade dos produtores de pimenta-do-reino, no município de São Miguel do Guamá - PA. ............................................................................................................................. 30 Figura 3 - Principais fatores que contribuíram para a vinda dos produtores para São Miguel do Guamá - PA. ............................................................................................................................. 30 Figura 4 - Grau de escolaridade dos produtores de pimenta-do-reino, em São Miguel do Guamá - PA. ............................................................................................................................. 31 Figura 5 - Quantidade de produtores em relação ao tempo que está na atividade pimenta-do- reino em São Miguel do Guamá - PA. ..................................................................................... 32 Figura 6 - Média do tamanho de área destinada ao plantio de pimenta-do-reino em cada propriedade no município de São Miguel do Guamá - PA....................................................... 34 Figura 7 – Características das propriedades produtoras de pimenta-do-reino em São Miguel do Guamá - PA. ............................................................................................................................. 34 Figura 8 - Porcentagem de produtores que possuem assistência técnica no cultivo da pimenta- do-reino em São Miguel do Guamá - PA. ................................................................................ 35 Figura 9 - Principais agrotóxicos utilizados no cultivo da pimenta-do-reino em São Miguel do Guamá - PA. ............................................................................................................................. 36 Figura 10 - Principais adubos orgânicos utilizados no cultivo da pimenta-do-reino em São Miguel do Guamá - PA. ............................................................................................................ 36 Figura 11 - A - Carneiros que fornecem adubo orgânico para a plantação de pimenta-do-reino. B – Esterco de carneiro. ............................................................................................................ 37 Figura 12 - Concentrações de NPK mais utilizadas no cultivo da pimenta-do-reino em São Miguel do Guamá - PA. ............................................................................................................ 38 Figura 12 – Porcentagem de produtores que utilizam calcário antes do plantio da pimenta-do- reino em São Miguel do Guamá – PA. ..................................................................................... 38 Figura 13 - Tipo e espécie de tutor utilizado pelos produtores para conduzir a pimenta-do- reino em São Miguel do Guamá – PA. ..................................................................................... 39 Figura 14 - Características físicas (textura) dos solos das propriedades rurais de São Miguel do Guamá - PA. ........................................................................................................................ 40 Figura 15 - Plantio de pimenta-do-reino em propriedade com solo arenoso em São Miguel do Guamá – PA. ............................................................................................................................ 40 Figura 16 - Porcentagem de produtores que compram e produzem a muda de pimenta-do- reino em São Miguel do Guamá – PA. ..................................................................................... 41 Figura 17 - Materiais utilizados pelos produtores na produção de substratos para as mudas de pimenta-do-reino em São Miguel do Guamá – PA. ................................................................. 42 Figura 18 - Espaçamentos utilizados na produção de pimenta-do-reino no município de São Miguel do Guamá – PA. ........................................................................................................... 43 Figura 19 - Tratos culturais executados pelos produtores na produção de pimenta-do-reino em São Miguel do Guamá – PA. .................................................................................................... 44 Figura 20 - Pragas e doenças que afetam a pimenta-do-reino em São Miguel do Guamá – PA. .................................................................................................................................................. 45 Figura 21 - Pulgão e formiga atacando a pimenteira-do-reino em São Miguel do Guamá – PA. .................................................................................................................................................. 45 Figura 22 - Doenças que incidem sobre a pimenteira-do-reino em São Miguel do Guamá – PA. ............................................................................................................................................46 Figura 23 - Sintomas da doença fusariose (A). Sintomas da doença Antracnose (B) na pimenteira-do-reino. ................................................................................................................. 46 Figura 24 - Sistemas de irrigação utilizados nas propriedades pelos agricultores na cultura da pimenta-do-reino em São Miguel do Guamá – PA. ................................................................. 47 Figura 25 - Meses de colheita da cultura de pimenta-do-reino em São Miguel do Guamá – PA. .................................................................................................................................................. 47 Figura 26 - Formas de debulha e formas de secagem da cultura da pimenta-do-reino em São Miguel do Guamá – PA. ........................................................................................................... 48 Figura 27 - Tipos de pimenta-do-reino comercializadas pelos produtores em São Miguel do Guamá – PA. ............................................................................................................................ 49 Figura 28 - Pimenta-do-reino verde (A), branca (B) e preta (C). ............................................. 50 Figura 29 - Fluxograma do beneficiamento da pimenta preta e branca no município de São Miguel do Guamá – PA. ........................................................................................................... 51 Figura 30 - Preço pago pelo kg de pimenta-do-reino em 2015/2016 no município de São Miguel do Guamá – PA. ........................................................................................................... 51 Figura 31 - Principais destinos de comercialização da pimenta-do-reino de São Miguel do Guamá – PA. ............................................................................................................................ 53 Figura 32 - Principais entraves que afetam a produção de pimenta-do-reino em São Miguel do Guamá – PA. ............................................................................................................................ 54 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Recomendação de adubação para a pimenteira-do-reino, em função da análise de solo. .......................................................................................................................................... 22 Tabela 2 - Nome das comunidades, identificação dos produtores, área total das propriedades e área plantada de pimenta-do-reino em São Miguel do Guamá – PA. ...................................... 33 Tabela 3 - Produção total e produção individual das propriedades avaliadas em São Miguel do Guamá – PA. ............................................................................................................................ 49 Tabela 4 - Fatores que influenciam no preço da pimenta-do-reino no município de São Miguel do Guamá - PA. ........................................................................................................................ 52 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 14 2 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 15 2.1 Objetivo geral .................................................................................................................... 15 2.2 Objetivos específicos ......................................................................................................... 15 3 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................................... 16 3.1 Produção de pimenta-do-reino Estado do Pará ............................................................. 16 3.2 Cultivares e sua caracterização ....................................................................................... 17 3.2.1 Apra ................................................................................................................................. 17 3.2.2 Bragantina ........................................................................................................................ 17 3.2.3 Cingapura ........................................................................................................................ 17 3.2.4 Guajarina ......................................................................................................................... 18 3.2.5 Iaçará ............................................................................................................................... 18 3.2.6 Kottanadan ....................................................................................................................... 18 3.2.7 Kuthiravally ..................................................................................................................... 18 3.3 Solos e Preparo de área .................................................................................................... 19 3.3.1 Análise de solo e preparo de área .................................................................................... 20 3.4 Produção de Mudas .......................................................................................................... 20 3.4.1 Instalações para produção de mudas ............................................................................... 21 3.4.2 Seleção das matrizes e obtenção das mudas .................................................................... 21 3.4.3 Substrato .......................................................................................................................... 21 3.4.4 Manutenção das Mudas ................................................................................................... 22 3.5 Adubação Química e Orgânica ....................................................................................... 22 3.6 Tratos Culturais ................................................................................................................ 22 3.6.1 Capina e Roçagem ........................................................................................................... 23 3.6.2 Amarrio das mudas .......................................................................................................... 23 3.6.3 Cobertura morta ............................................................................................................... 23 3.6.4 Drenagem ........................................................................................................................ 24 3.6.5 Podas ................................................................................................................................ 24 3.6.6 Amontoa .......................................................................................................................... 24 3.7 Pragas e Doenças .............................................................................................................. 24 3.7.1 Pulgão .............................................................................................................................. 25 3.7.2 Cochonilhas ..................................................................................................................... 25 3.7.3 Formiga de fogo .............................................................................................................. 25 3.7.4 Fusariose .......................................................................................................................... 26 3.7.5 Antracnose ....................................................................................................................... 26 3.8 Colheita e Beneficiamento............................................................................................... 27 4 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................................ 28 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................ 29 5.1 Caracterização dos produtores de São Miguel do Guamá - PA ................................... 29 5.2 Caracterização das propriedades .................................................................................... 32 5.3 Caracterização dos principais insumos utilizados pelos produtores ........................... 35 5.4 Aspectos produtivos .......................................................................................................... 40 5.5 Aspectos de comercialização ............................................................................................ 49 5.6 Dificuldades encontradas na produção de pimenta-do-reino ....................................... 53 6 CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 55 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 56 APÊNDICE ............................................................................................................................. 60 14 1 INTRODUÇÃO A pimenteira-do-reino (Piper nigrum L.) é uma planta trepadeira perene semi-lenhosa da família das Piperáceas. O gênero Piper pertence à classe das Dicotiledôneas, e a ordem Piperales (EMBRAPA, 2004). A cultura apresenta dois tipos de ramos, um de crescimento que se desenvolve junto ao tutor, fixando-se a este por raízes grampiformes, e outro tipo de ramo, o produtivo, que se desenvolve lateralmente e produz os frutos. As raízes são adventícias e algumas pivotantes, sendo que 68% do sistema radicular está na camada até 20 cm. Os frutos desenvolvem-se em espigas. O período entre a floração e a maturação é cerca de seis meses (COSTA; MEDEIROS, 2001). Para Duarte (2004), o cultivo da pimenteira-do-reino no Brasil está estreitamente relacionado à colonização portuguesa. Originária das florestas de Kerala, sul da Índia, é a especiaria que mais atraiu os comerciantes daquela época. Os portugueses, os primeiros a descobrir uma rota mais curta para a Índia partindo da Europa, passaram a denominar o produto de pimenta-do-reino, termo como é conhecida até hoje. Os maiores produtores mundiais da pimenta-do-reino são Índia, Vietnã, Indonésia, Malásia e Brasil. A produção mundial de pimenta-do-reino nos últimos anos variou entre 300.000 a 400.000 toneladas anuais (SERRANO, 2014). Sua introdução no Brasil, ocorreu no século XVII, primeiramente no estado da Bahia, sendo levada em seguida para outros estados, mas só se estabeleceu como cultivo, em 1933 no estado do Pará, após a introdução da cultivar Cingapura, pelos imigrantes japoneses (CONAB, 2015). Segundo Casali (2008) a pimenta-do-reino é cultivada, principalmente, em países de climas tropicais e subtropicais. Sendo assim, encontra no Brasil condições ideais para seu cultivo. O Pará é o maior produtor dentre os estados brasileiros, com cerca de 90% da produção, cuja produtividade e longevidade das plantas têm sido reduzidas pelo ataque da fusariose e de viroses (CMV e PYMoV) (LEMOS; TREMACOLDI; POLTRONIERI, 2014). Dados do IBGE (2016), revelam que no mês de outubro de 2016 a produção brasileira de pimenta-do-reino foi de 52.794 toneladas em 24.455 hectares, com um rendimento médio de 2.119 kg/ha. Com destaque para os maiores estados produtores, Pará (66,6%), Espírito Santo (24,5%), e Bahia (4,7%). A pimenta-do-reino, produzida no Brasil é vendida no mercado externo como pimenta-preta, pimenta-branca e pimenta-verde ou em salmoura, ao passo que no mercado 15 interno, ela é comercializada como pimenta-preta e branca, pimenta em pó e misturada a outros condimentos, principalmente cominho. Subprodutos como piperina e oleorresina – extraídos de grãos chochos de pimenta – são utilizados nas indústrias de embutidos, perfumaria e farmacêutica, cujos preços podem atingir até três vezes o valor obtido do produto comercializado na forma de grãos (DUARTE et al., 2006). Os maiores importadores da pimenta brasileira são Estados Unidos, Holanda, Argentina, Alemanha, Espanha, México e França (CASALI, 2008). Para Filgueiras et al. (2007), um dos grandes problemas que compromete os produtores da cultura é o fato desses não conseguirem se organizar na busca de melhores ganhos comerciais através de associações e/ou cooperativas, exigindo melhores condições de infraestrutura para escoamento da produção e assistência técnica. Segundo dados do Departamento de Estudos Socioeconômicos (DESER, 2008), um outro problema enfrentado pelos produtores de pimenta-do-reino é que já iniciam a atividade com a incorporação da prática de utilização de insumos químicos por vezes até mecanizada, resultando em altos custos de implantação e manutenção da cultura, além da dificuldade que eles enfrentam com a ausência de infraestrutura de armazenagem, o que torna difícil a prática de estocagem de pimenta para negociá-la em épocas mais propícias. No município de São Miguel do Guamá, bem como em outras regiões do estado do Pará, várias são as lacunas enfrentadas pelos pipericultores, principalmente, quando tange aspectos relacionados à produtividade, pragas e doenças, irrigação, adubação, produção de mudas, e também o escasso nível de informações presente na literatura. Diante do exposto, há a necessidade da realização de estudos sobre aspectos produtivos da pimenta-do-reino na região, a fim de beneficiar produtores, estudantes, técnicos e pesquisadores através da realização deste trabalho 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo geral O objetivo geral foi avaliar os aspectos produtivos da pimenta-do-reino no município de São Miguel do Guamá – PA. 2.2 Objetivos específicos Compreender o processo de produção da pimenta-do-reino. Conhecer os principais tratos culturais aplicados à pimenta-do-reino no município; 16 Identificar as principais pragas e doenças mais recorrentes na cultura; Quantificar os principais insumos empregados na produção de pimenta-do-reino; Analisar as principais dificuldades enfrentadas pelos produtores de pimenta-do-reino; Averiguar a comercialização, bem como as rotas de comercialização da pimenta-do-reino. 3 REVISÃO DE LITERATURA 3.1 Produção de pimenta-do-reino Estado do Pará A espécie da pimenteira-do-reino (Piper nigrum L.), se estabeleceu como cultivo racional após a introdução da cultivar Cingapura, pelos imigrantes japoneses em 1933, no estado do Pará (DESER, 2008). O Brasil, se tornou o país que mais produziu pimenta-do-reino em todo o mundo nos anos de 1980 a 1983, e nos anos de 1980 a 1982 e também em 1984 alcançou a posição de maior exportador mundial de pimenta-do-reino, graças à produção paraense (HOMMA, 2008). Dados da Fapespa (2015), a produção paraense de pimenta-do-reino no ano de 2013 foi de 30.885 toneladas, sendo Igarapé-Açu e Tomé-Açu os maiores municípios produtores do estado, que registraram as maiores produções (12,36% e 10,36%, respectivamente). Neste mesmo ano, a pimenta-do-reino foi o segundo produto agrícola de maior valor exportado pelo estado em 2013, superado apenas pela soja. Na safra de 2015, o estado do Pará tinha uma área total plantada de 16.152 hectares de pimenta-do-reino, e 15.891 hectares de área colhida, se destacando como o maior estado produtor do país nesse ano, e teve uma participação de 73% da produção nacional. No ano de 2016, a área plantada aumentou para 24.919 hectares, porém a área colhida não obteve aumento significativo e totalizou 16.280 hectares, e nesse mesmo ano a participaçãodo Pará na média nacional foi de 67% (IBGE, 2016). A área colhida não acompanhou a quantidade de área plantada, pelo fato da cultura produzir pouco no primeiro ano, variando de 1,0 até 2,0 kg por planta de acordo com o manejo empregado. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2013) revela que a microrregião do Guamá que abrange os municípios: Aurora do Pará, Cachoeira do Piriá, Capitão Poço, Garrafão do Norte, Ipixuna do Pará, Irituia, Mãe do Rio, Nova Esperança do Piriá, Ourém, Santa Luzia do Pará, São domingos do Capim, São Miguel do Guamá e Viseu, todos no 17 estado do Pará, foi responsável por 26% da produção estadual de pimenta-do-reino no ano de 2009. 3.2 Cultivares e sua caracterização Independente da cultivar, as mudas devem ser provenientes de plantas matrizes bem formadas, vigorosas e livres de pragas e doenças. Embora as cultivares não apresentem resistência à doença fusariose, é importante diversificar no campo, evitando a uniformidade genética com a utilização de uma única cultivar (POLTRONIEIRI, LEMOS, 2014a). 3.2.1 Apra Esta cultivar é oriunda de estacas de plantas matrizes provenientes do Estado de Kerala, sul da Índia, na década de 1980, tem folhas largas, com 8,8 cm de largura e comprimento médio de 13,8 cm, espigas longas, com comprimento médio de 12,0 cm, e várias fileiras de frutos graúdos. Sua produção média é de 3,5 kg/planta. Deve ser cultivada em sistema consorciado com fruteiras, espécies arbóreas e algumas essências florestais (DUARTE et al., 2006). 3.2.2 Bragantina Conhecida também como Panniyur, denominação da cultivar original na Índia, apresenta plantas com folhas largas, em forma de coração, espigas muito longas, com comprimento médio de 14 cm, flores 100% hermafroditas, que favorecem o enchimento das espigas, frutos graúdos e coloração verde-clara dos brotos novos dos ramos de crescimento (LEMOS; TREMACOLDI; POLTRONIERI, 2014). 3.2.3 Cingapura Foi introduzida no Brasil em 1933 e recebeu o nome de Cingapura, em alusão ao local de origem. É conhecida também pelo nome de pretinha, em alguns municípios do Estado do Pará. Possui formato cilíndrico, folhas pequenas e estreitas, espigas curtas com comprimento médio em torno de 7,0 cm e frutos de tamanho médio. Não apresenta resistência às principais doenças (fusariose, podridão do pé e viroses), porém apresenta resistência à murcha amarela (LEMOS et al., 2011). 18 3.2.4 Guajarina Foi lançada pelo Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Úmido (CPATU) em 1982, como nova cultivar para a exploração comercial da cultura da pimenta-do-reino no Brasil. Foi obtida por meio de propagação vegetativa da cultivar Arkulum Munda, que tem origem na Índia. Apresenta folhas alongadas e de tamanho médio, espigas longas e frutos graúdos. A maturação de seus frutos ocorre entre os meses de agosto e outubro (ALBUQUERQUE; DUARTE, 1991). 3.2.5 Iaçará Oriunda de polinização aberta, foi introduzida da Índia, em 1981. Essa cultivar tem formato cilíndrico e folhas estreitas de tamanho médio. Os ramos de crescimento apresentam raízes adventícias bem desenvolvidas. A espiga tem comprimento médio de 9,0 cm, é repleta de frutos e apresenta casca espessa. Produz 2,6 kg/planta, sendo a colheita realizada de agosto a outubro (DUARTE et al., 2006). 3.2.6 Kottanadan Apresenta formato cilíndrico, ramos ortotrópicos vigorosos emitindo raízes de sustentação bem desenvolvidas. As plantas adultas, após sofrerem podas nos ramos ortotrópicos, demoram a lançar novas brotações. As brotações apresentam tonalidade violeta. As folhas são largas, de tamanho médio. As espigas apresentam comprimento médio de 13 cm, com boa formação de frutos e enchimento de espiga. Os frutos apresentam-se em forma esférica de tamanho médio. Sua maturação se dá de agosto até novembro. Sua produção média é de 3,2 kg de pimenta-preta/planta (POLTRONIEIRI, LEMOS, 2014a). 3.2.7 Kuthiravally Apresenta folhas largas e compridas, espigas longas, com comprimento médio de 12 cm e extremidade recurvada repleta de frutos graúdos (0,49 mm de diâmetro). Em cultivo a pleno sol, a partir do terceiro ano, a planta apresenta arquitetura em formato cilíndrico, com ramos de crescimento contendo raízes adventícias bem desenvolvidas saindo da região dos nós. Os brotos dos ramos de crescimento são de coloração violeta (LEMOS; TREMACOLDI; POLTRONIERI, 2014) 19 3.3 Solos e Preparo de área Ao se escolher o solo para cultivo da pimenta deve-se levar em consideração a reserva de nutrientes do mesmo, pois baixos teores de nutrientes podem ser corrigidos pelo uso adequado de fertilizantes e corretivos. Propriedades físicas inadequadas, como solos moderadamente e imperfeitamente drenados, têm provocado o aparecimento de doença causada por fungos (CPT, 2012). Para o bom desenvolvimento da cultura, é importante que o solo apresente boa drenagem, mas com retenção da umidade (CASALI, 2008). Na Amazônia há uma dominância de solos de baixa fertilidade natural, o que é consequência de sua formação, possuindo baixa capacidade de nutrientes essenciais disponíveis. Entretanto, no caso da pimenteira-do-reino, essa baixa reserva de nutrientes pode ser compensada pelo uso adequado de fertilizantes e corretivos, sendo mais importante a considerar as propriedades físicas do solo, consideradas boas, em sua maioria (DUARTE, 2004, p. 23). Os solos de textura média são os mais indicados, pois não secam tão rápido quanto os arenosos, nem encharcam tão facilmente quanto os argilosos, é importante que o terreno seja plano e levemente inclinado, pois favorece a conservação do solo, facilita a demarcação das linhas de plantio, os tratos culturais e a colheita, além de oferecer segurança ao trânsito de tratores e implementos nos carreadores. Devem ser bem drenados, áreas de baixada ou com lençol freático próximo da superfície devem ser evitadas. Não é recomendado instalar a plantação em solos pedregosos, principalmente naqueles com muita piçarra (FRANZINI; SILVA; BOTELHO, 2014). Para que a cultura tenha um bom desenvolvimento é importante que o solo, onde será plantado, a pimenta-do-reino, esteja dentro das características acima citadas e com retenção da umidade. Solos muito argilosos devem ser evitados, pois, devido à baixa capacidade de infiltração de água, podem facilitar o encharcamento, prejudicando o sistema radicular da planta e permitindo, assim, a entrada de fungos causadores de doenças, principalmente a fusariose (CPT, 2012). É preferível que para a instalação de um pimental, a área a ser utilizada já seja trabalhada, para facilitar o preparo mecanizado, reduzir os custos operacionais, além de cumprir a legislação ambiental, no que concerne à derrubada e queima da mata. A área deverá ser plana, evitando-se solos rasos e/ou com possibilidade de encharcamento (EMBRAPA, 2004). 20 3.3.1 Análise de solo e preparo de área A recomendação de adubação para a pimenteira-do-reino, por ocasião da implantação da cultura, deve ser efetuada com base na análise do solo, retirando-se entre 15 e 20 amostras simples, por área uniforme de até 10 hectares, para a formação de uma amostra composta (DUARTE, 2004). No preparo da área, deve-se inicialmente proceder a coleta do solo, para análise, que vai definir a necessidade de correção e adubação, bem como fazer prospecção quanto a existência de algum impedimento físico, no perfil do solo (EMBRAPA, 2004). 3.4 Produção de Mudas A pimenta-do-reino pode ser propagada por sementes ou por estacas, sendo que, comercialmente, o método indicado é o de propagação por estacas, pois forma pimentais com boa conformação, precocidade, uniformidade de produção e mantém as mesmas características da planta matriz (CASALI, 2008). Rocha et al, (2001), descrevem que o uso do método para obtenção de mudas a partir de estacas herbáceas de plantasmatrizes sadias, é justificado pela necessidade de controlar a doença que cada vez mais vem se alastrando na região, conhecida como fusariose, causada por um fungo Fusarium solani Mart. (micro-organismo não visível a olho nu), principal responsável pela destruição dos pimentais. A propagação da pimenta-do-reino, em plantios comerciais, é feita por meio de estacas enraizadas. Este processo induz a planta a uma frutificação precoce e uniforme (VELOSO; ALBURQUERQUE, 1989). A produção, o comércio, a exportação, a importação e outras atividades relacionadas a sementes e mudas no Brasil são regidas pela Lei 10.711/03, que instituiu o Sistema Nacional de Sementes e Mudas, regulamentada pelo Decreto 5.153/04. Para produzir exportar importar sementes ou mudas é necessário estar inscrito no Registro Nacional de Sementes e Mudas (Renasem), além do Registro Nacional de Cultivares (RNC). O primeiro passo para quem deseja produzir, exportar, importar, ou realizar qualquer atividade relacionada com sementes e mudas é procurar a orientação do setor de sementes e mudas da Superintendência Federal de Agricultura (BRASIL, 2003). A tecnologia de produção de mudas herbáceas foi adotada pelos pipericultores por apresentar diversas vantagens em relação ao plantio com mudas oriundas de estacas semi- lenhosas: a) previne a disseminação da fusariose e do mosaico; b) reduz a perda de material vegetativo, no campo; c) permite a formação de pimentais mais uniformes; d) eliminação das práticas de capação (eliminação da primeira floração) e da poda de formação (DUARTE, 2004). 21 3.4.1 Instalações para produção de mudas As instalações para produção das mudas de pimenta-do-reino podem ser bastante simples, constituindo-se basicamente de um ripado para proteger as mudas. Este local deve ser de fácil acesso e ter disponibilidade de água, em quantidade suficiente para irrigação das mudas, deve ser próximo do local onde será implantada a cultura e longe de pimentais doentes (CASALI, 2008). 3.4.2 Seleção das matrizes e obtenção das mudas Para produção eficiente de plantas matrizes vigorosas e com controle sanitário é realizado a condução das plantas em espaldeiras, utilizando miniestacões (1,50 m a 2,00 m) em ambiente protegido contra pragas, com cobertura com plástico. As estacas produzidas nessas condições podem ser do tipo herbáceas com 2 a 3 nós para produção das mudas (LEMOS; POLTRONIERI, 2014b). As estacas para formação de um pimental devem ser escolhidas de pimenteiras com desenvolvimento vegetativo vigoroso, produtivas, livre de doenças e pragas, e com idade entre dois a quatro anos de cultivares adaptadas à região (VELOSO; ALBURQUERQUE, 1989). Não é recomendado o corte de plantas em fase de floração e frutificação, pois não há emissão de raízes, quando ocorre, as plantas resultantes são muito fracas pela falta de reserva das estacas nesse estádio da planta. As estacas herbáceas são obtidas de plantas a partir de 8 meses, com o corte a 50 cm acima do solo (LEMOS; POLTRONIERI, 2014b). O tratamento fitossanitário é feito mergulhando-se as estacas em solução aquosa dos fungicidas carbendazim (Derosal), tiabendazol (Tecto) ou tebuconazol (Folicur) na dose de 1 g/L ou 1 mL/L, durante 15 a 20 minutos: 1.000 L de calda fungicida são suficientes para tratar de 5 mil a 6 mil estacas (DUARTE, 2006). 3.4.3 Substrato O substrato é utilizado para encher os sacos plásticos, nos quais são colocadas as estacas para enraizar, ou pré-enraizadas. Ele deve ter boa permeabilidade e porosidade para facilitar a infiltração da água da rega e para o bom crescimento das raízes. No entanto, não deve ser muito solto, para permitir a formação de um torrão em volta do sistema radicular, o que melhora o pegamento das mudas no campo (CASALI, 2008). Podem ser utilizados como substratos: esterco bovino curtido, terra preta e areia. 22 3.4.4 Manutenção das Mudas Para manter o vigor e o bom estado sanitário das mudas, são realizados tratos culturais, como regas diárias, adubação foliar, controle de doenças, como antracnose (Colletotrichum gloeosporioides) e mofo-branco (Sclerotium rolfsii), e de pragas, principalmente pulgões (Aphis spiricolae) e cochonilhas (Pseudococcus elisae), que são transmissores de vírus (LEMOS; POLTRONIERI, 2014b). 3.5 Adubação Química e Orgânica Dentre as fontes de matéria orgânica recomendadas para a pimenta-do-reino estão os estercos bovino e de aves e torta de oleaginosas, em doses variando de acordo com o teor originalmente presente no solo (DUARTE; ALBUQUERQUE, 2005). Nas condições da Região Norte recomenda-se aplicar esterco bovino nas doses de 4,0 kg por cova no transplantio das mudas, 4,0 kg no segundo ano e 4,0 kg no terceiro ano de cultivo (PIMENTEL, 1985). Oliveira et al. (2005), comprovaram através de estudos que a adição de fontes de nitrogênio mineral (Ureia e Sulfato de Amônia) na adubação de formação, apresentam bons resultados de altura e diâmetro do colo da planta em relação a adubação orgânica. As recomendações de adubação química para a pimenteira-do-reino são divididas em três fases: adubação de plantio, de formação e de produção (OLIVEIRA E NAKAYAMA, 2010). Tabela 1 - Recomendação de adubação para a pimenteira-do-reino, em função da análise de solo. *Extrator Mehlich 1. *(Adaptado de OLIVEIRA E NAKAYAMA, 2010). 3.6 Tratos Culturais Os principais tratos culturais usados no manejo de pimentais são: capinas, cobertura morta e drenagem. A aplicação correta dos tratos culturais tem reflexos positivos na produção, na rentabilidade e na vida útil dos pimentais (DUARTE, 2006). N P no solo (mg dm-3)* K no solo (mg dm-3)* Época 0 - 10 11 - 20 >20 0 - 40 41 - 90 >90 (g planta-1) P2O5 (g planta-1) K2O (g planta-1) 1° ano 25 20 10 5 25 15 10 2° ano 50 40 20 10 50 30 15 3° ano 75 60 30 15 75 45 25 4° ano ou mais 90 80 40 20 90 60 30 23 3.6.1 Capina e Roçagem Para manter as plantas cultivadas livres da competição das plantas daninhas é necessário fazer a capina. O controle pode ser feito, mecanicamente, ou por meio de herbicidas. Na época mais chuvosa, quando o crescimento de plantas daninhas é acelerado, é mais recomendada a capina química (LAZIA, 2012). A roçagem é uma prática menos danosa do que a capina, por proteger melhor o solo e as raízes das plantas (EMBRAPA, 2004). 3.6.2 Amarrio das mudas À medida em que as plantas vão crescendo, é necessário fazer o Amarrio destas, para auxiliar na sua condução pelos tutores. Pode ser utilizado fio de plástico, barbante ou cipó́. O peso da folhagem e da frutificação poderá́ desprender as plantas do tutor, resultando em quebramento da haste e secamento da folhagem, se as plantas não estiverem bem aderidas. É preciso fazer o amarrio até́ a planta atinja o ponto mais alto (LAZIA, 2012). 3.6.3 Cobertura morta A cobertura morta fornece muitos benefícios para o solo como proteção contra a ação direta das chuvas, redução do escoamento da água e das enxurradas, aumento do teor de matéria orgânica e de umidade no solo, manutenção do equilíbrio da temperatura do solo, redução da erosão laminar, redução da incidência de plantas daninhas e aumento da população de microrganismos (DUARTE, 2006). Deve ser colocada no final do período chuvoso e mantida no período de estiagem. Ela consiste na colocação de material vegetal, palha ou capim seco proveniente das roçagens ou de capineiras, em torno da planta. É importante porque mantém a umidade do solo, reduz a concorrência de plantas daninhas e a incidência da fusariose, além de evitar a erosão e servir como fonte de matéria orgânica (EMBRAPA, 2004). Para fazer cobertura morta são usados os seguintes materiais: casca de arroz, serragem de madeira curtida, raspas de raízes de mandioca, mas a melhor é a cobertura com folhas de capim-elefante roxo ou capim-guatemala. Paraisso, é preciso preparar capineiras. Para cobertura apenas em volta da planta, são necessários 1.000 m2 de capineira/1.000 plantas. A cobertura deve ser feita no final do período chuvoso (DUARTE, 2006). São usados ainda ramos de embaúba, palha de gramíneas e de leguminosas, entre outros (LAZIA, 2012). 24 3.6.4 Drenagem Em caso de encharcamento do terreno, a drenagem é prática imprescindível. É feita com aberturas de valas que possibilitem o escoamento do excesso de água (EMBRAPA, 2004). O excesso de umidade no solo é altamente prejudicial à pimenteira, pois favorece a propagação de moléstias do sistema radicular, causadas por fungos. Também pode ocorrer a morte das plantas pelo excesso de água e falta de oxigenação nas raízes. O sistema de drenagem deve ser feito antes do início da época chuvosa, ao redor da plantação (LAZIA, 2012). 3.6.5 Podas Durante o crescimento, a pimenteira-do-reino emite várias brotações que, se deixadas crescer livremente, formarão uma touceira impossível de ser conduzida. Por isso, deve ser feita uma poda do broto terminal, quando a pimenteira atingir 1 m de altura. Essa prática tem como objetivo estimular a brotação dos ramos laterais de produção ou frutíferos (LAZIA, 2012). 3.6.6 Amontoa É uma prática feita com o objetivo de evitar o empoçamento da água da chuva no pé das pimenteiras e, ao mesmo tempo, conservar a umidade. Faz-se a amontoa, chegando-se a terra ou restos provenientes de capinas ao redor do pé da pimenteira (EMBRAPA, 2004). 3.7 Pragas e Doenças O aumento na expansão do cultivo de pimenta-do-reino pode elevar os índices de problemas fitossanitários nos plantios da cultura, principalmente pelo fato do Estado do Pará apresentar condições climáticas favoráveis como, alta temperatura e umidade relativa do ar, para o estabelecimento de insetos-praga. Além dos plantios em larga escala e em monocultivos, que também contribuem para o aparecimento de pragas (LEMOS; CELESTINO FILHO, 2009). Apesar do potencial inseticida apresentado pela pimenta-do-reino, a planta é afetada por alguns insetos que causam danos nas hastes, nos brotos, nas folhas e nos frutos, que podem levar a planta à morte (DUARTE et al., 2006). 25 3.7.1 Pulgão Segundo Lopes (2004) o pulgão suga a seiva da planta reduzindo seu crescimento, várias espécies de pulgão transmitem viroses, que causam severas perdas na produção. Além disso, ao se alimentarem na planta, excretam uma substância adocicada na superfície dos órgãos aéreos, onde cresce um fungo preto (fumagina) que deprecia os frutos. 3.7.2 Cochonilhas Depositam seus ovos em ovissacos nas raízes de mudas em viveiro e nas hastes da planta, próximo às raízes adventícias. A forma jovem do inseto apresenta coloração alaranjada, corpo ovalado e é recoberto por pulverulência branca. Os adultos são pequenos (1,2 mm a 2 mm), têm corpo mole e recoberto por cera branca. Encontra ótimas condições em alta umidade e temperatura, infesta raízes e hastes de mudas de pimenteira-do-reino. Plantas atacadas podem definhar, soltando brotos e folhas, e até morrer. Seus ataques são mais comuns em plantios mal cuidados e com adoção de tratos culturais equivocados (LEMOS; TREMACOLDI; POLTRONIERI, 2014). Além de sugar a seiva das plantas, P. elisae é vetor da virose conhecida como “Piper Yellow Mottle Vírus” (PYMV). Está associada com formigas-de-fogo do gênero Solenopsis, as quais se alojam na folhagem da pimenteira-do-reino, principalmente, na região dos nós das hastes aderidas ao tutor (LEMOS; CELESTINO FILHO, 2009). 3.7.3 Formiga de fogo A presença de formigas nos pimentais dificulta os tratos culturais devido, especialmente, aos ataques das mesmas aos operários rurais (LEMOS; TREMACOLDI; POLTRONIERI, 2014). A espécie Wamannia auropunctata é uma formiga pequena (3 a 5 mm de comprimento), coloração marrom-clara e com ferrão (GALLO et al., 2002). Formam ninhos na serrapilheira e colonizam plantas de pimenteira. São formigas que vivem sobre a planta da pimenteira, associadas às cochonilhas P. elisae e P. longivalvata (LEMOS; CELESTINO FILHO, 2009). 26 3.7.4 Fusariose Reconhecida por muitos agricultores como uma das mais severas doenças que atacam a pimenta-do-reino, a podridão das raízes pode matar a planta e prejudicar a sua produtividade (OLIVEIRA, 2015). A Podridão das raízes ou Fusariose é uma doença causada pelo fungo Nectria haematococca Berk e Br.f. sp. Piperis Albuq. (Fusarium solani Mart.) Sacc. f. sp piperis Albuq. pode ser propagada pelo solo e pela parte aérea através das chuvas e ventos. Ocasiona o apodrecimento do sistema radicular e secamento de ramos e folhas (EMBRAPA, 2004). A doença geralmente inicia-se em pequenas reboleiras na lavoura, que posteriormente evoluem, chegando a ocupar grandes áreas, tornando o pimental economicamente inviável (VENTURA; COSTA, 2004). O fungo ataca as raízes da planta causando podridão. Em consequência, a planta fica amarela e murcha, e as folhas, os entrenós e as espigas caem. A doença também pode começar pelos ramos, causando o secamento das plantas e se espalha pela plantação rapidamente, destruindo todo o pimental dentro de dois anos (ROCHA et al., 2001). Homma (2016), comenta que a disseminação do Fusarium solani f. piperi nos pimentais do Estado do Pará, a existência de mercado e de preços internacionais, até então favoráveis, fizeram com que o Brasil alcançasse a posição de primeiro produtor e exportador mundial de pimenta-do-reino, em 1982. Isto conduziu à introdução clandestina de variedades mais produtivas da Índia durante a década de 1980, apesar das severas leis proibindo a saída desse material genético naquele país. Para se detectar a presença da fusariose na planta, recomenda-se observar se há́ uma lesão escura no nó do ramo da pimenteira. Se a doença já́ estiver evoluindo bastante, a lesão segue para cima e para baixo do ramo principal da planta. Isso faz com que os ramos laterais sequem e caiam (OLIVEIRA, 2015). 3.7.5 Antracnose O fungo causador da doença é o Colletotrichum gloeosporioides. Esta doença não causa perda significativa em plantas adultas, e sua ocorrência é mais comum nos meses mais secos do ano, está associada à deficiência de potássio (TREMACOLDI, 2014). Sua importância é reconhecida quase que exclusivamente pelas lesões que provoca em frutos, em campo ou após a colheita. É mais problemática em cultivos de verão, quando ocorrem temperatura e umidade altas. O patógeno é disseminado por sementes infectadas e por respingos de água de chuva ou irrigação. A doença se inicia como pequenas áreas redondas e deprimidas, que crescem rapidamente e 27 podem atingir todo fruto. Sob alta umidade, o centro das lesões fica recoberto por uma camada cor-de-rosa, formada por esporos do fungo. Os frutos atacados não caem e as lesões permanecem firmes, a não ser que haja invasão de organismos secundários que aceleram a sua deterioração (LOPES, C, A. et al., 2007). Em mudas herbáceas, mantidas em viveiros muito úmidos e com sombreamento denso, Colletotrichum gloeosporioides causa a queima rápida das folhas jovens, resultando em queima e morte da muda (DUARTE, 2006). 3.8 Colheita e Beneficiamento O período de floração da pimenteira-do-reino tem início no período chuvoso, normalmente em dezembro, e estende-se até o final de março. A maturação das espigas ocorre 6 meses após a floração. A colheita é feita no período de julho a novembro, de acordo com a floração (LEMOS; POLTRONIERI, 2014a). A colheita deve ser feita manualmente, espiga por espiga, quando os frutos estiverem próximos à maturação (inicio do amarelecimento) (COSTA; MEDEIROS, 2001). Depois são depositados em sacos de aniagem ou de polipropileno trançado. Para a colheita das espigas formadas na parte superior da planta, utilizam-se escadas de madeira do tipo tripé. Após a colheita,os frutos são debulhados manualmente ou em pequenas máquinas e, em seguida, são colocados para secar ao sol ou em secadores movidos à lenha (LEMOS; POLTRONIERI, 2014a). É importante que no momento da colheita os frutos apresentem um teor de umidade entre 80 e 85% e casca de coloração vermelha. Tradicionalmente, a colheita da pimenta-do- reino é realizada quando os frutos estão completamente desenvolvidos, podendo apresentar casca de colorações verde-claro, amarelo e vermelho (SERRANO; NOVAK; LIMA, 2008). Durante a colheita, o solo ao redor da pimenteira, deve ser coberto com uma lona ou plástico previamente higienizados, para evitar possível contaminação microbiológica dos grãos que caírem no chão. Os produtores devem ficar alerta quanto à presença de materiais fecais humanos ou animais que possam ser introduzidos, involuntariamente, no ambiente da colheita ou beneficiamento (EMBRAPA, 2004). A colheita é realizada de acordo com o tipo de produto a ser obtido. Considerando o estádio de maturação dos frutos na espiga, há três tipos de pimenta-do-reino: verde, preta e branca, sendo que o produtor brasileiro produz mais a pimenta-preta, (POLTRONIERI; LEMOS, 2014b). Após a colheita, pode-se utilizar dois métodos de secagem para produzir pimenta preta ou branca. Para pimenta preta, debulhar manualmente ou mecanicamente e secar em terreiros de alvenaria, lonas ou secadores. Para pimenta branca, selecionar espigas com frutos maduros, 28 debulhar, ensacar e mergulhar em água corrente por 8 a 12 dias. Após o período lavar em água corrente e secar em terreiros de alvenaria ou lonas. Não usar secadores devido escurecer o produto. (COSTA; MEDEIROS, 2001). Após realizada secagem da pimenta, é feito o procedimento de ventilação para a eliminação de pedras, talos, pedaços de ramos, pimenta chocha, folhas secas e todas as impurezas, então é embalada em sacos de polipropileno de 50 kg (DUARTE, 2004). 4 MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi realizado na zona rural do município de São Miguel do Guamá – PA (Figura 1), no mês de julho de 2016. As coordenadas geográficas da cidade são 1° 37′ 40″ sul, 47° 28′ 55″ oeste, possui uma extensão de área de 1.110,17 km². O clima do município é do tipo Equatorial, segundo a classificação de Köppen. Os dados utilizados na pesquisa serão oriundos de pesquisa de campo, realizada por meio de aplicação de questionário, abordando os seguintes assuntos: sistema de produção da pimenta-do-reino das propriedades, origem dos produtores, pragas e doenças frequentes, produções, insumos utilizados, manejo, colheita e beneficiamento da cultura. Para a elaboração do questionário foi necessária uma profunda revisão de literatura, para entender, de forma geral, os aspectos produtivos relacionados a cultura da pimenta-do- reino. A identificação dos produtores de pimenta-do-reino de São Miguel do Guamá – PA foi realizado a partir de informações concedidas pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER) (APÊNDICE). Após o término da elaboração do questionário, aplicou-se o mesmo em todas as comunidades que produzem a cultura no município, para se obter os principais aspectos de produção ocorrente no município em questão. Totalizaram-se 33 produtores de pimenta-do- reino, que estão distribuídos em 13 comunidades, sendo que dos 33 entrevistados, 9 se encontram na comunidade Cristo Rei, que fica localizado a 58 km da cidade, 5 são da comunidade Miritueira que fica a 28 km de distância, 3 produtores são da Vila Acaputeua a 30 km da cidade, 3 residem na comunidade Urucuriteua a 25 km de distância, 3 ficam a 16 km nas margens da rodovia que corta o município (BR 010), 2 são da Vila Apuí a 20 km de distância, 2 são da Comunidade Sete de Setembro distante 28 km do centro urbano, 1 é da Vila Tatuaia, é a propriedade mais distante da cidade e fica a 80 km, 1 é do Santo Antonio que fica a 20 km, 1 da Vila Canavial há 40 km de distância, 1 localiza-se na comunidade Santana 29 do Urucurí distante 32 km, 1 encontra-se na Vila Suaçuí a 32 km, e o último está na comunidade Ladeira a 30 km de distância da cidade. Após a coleta dos dados, foram selecionados os principais aspectos a serem discutidos. E para finalizar, os dados coletados foram sistematizados em ilustrações simples como gráficos, tabelas (Excel 2013), fluxogramas e porcentagens, para melhor compreensão das informações obtidas. Figura 1 - Mapa de localização das comunidades visitadas no município de São Miguel do Guamá – PA. Fonte: Aviz e Farias (2016). 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 Caracterização dos produtores de São Miguel do Guamá - PA De acordo com os resultados obtidos, observou-se que a maioria dos produtores são naturais do Estado do Pará, ou seja, 63,64% nasceram na localidade onde residem atualmente ou nas regiões próximas. E 36,36% se deslocaram de outros estados do país, como Ceará, Pernambuco, Maranhão, Rio Grande do Norte e Minas Gerais (Figura 2). 30 Figura 2 - Naturalidade dos produtores de pimenta-do-reino, no município de São Miguel do Guamá - PA. Fonte: Aviz e Farias (2016). Para os produtores que se deslocaram de outras regiões do país, notou-se que a maioria (70%), vieram com seus pais em busca de melhores condições de vida, e com o passar dos anos construíram suas famílias. Pode-se observar que a maior parte dessas pessoas migrou da região nordeste brasileira, principalmente por causa da seca que assolava a região nessa época, e esse fator foi responsável por 15% do motivo da migração dessas pessoas, que ouviram falar que no Pará tinha água em abundância, que a “terra” era boa para produzir, e etc. Outro motivo responsável pela chegada dessas famílias, foram propostas de emprego, que acabaram trazendo 10% desses produtores. Herança de terra dos pais, foi o quarto e último motivo pela qual esses produtores migraram para a região que residem hoje em dia, totalizando 5% destas causas (Figura 3). Figura 3 - Principais fatores que contribuíram para a vinda dos produtores para São Miguel do Guamá - PA. Fonte: Aviz e Farias (2016). 21 5 4 1 1 1 0 5 10 15 20 25 Pará Ceará Pernambuco Maranhão Rio Grande do Norte Minas Gerais N ú m er o d e p ro d u to re s Local de origem Herança dos pais 5% Proposta de emprego 10% Seca no Nordeste 15% Melhores condições de vida 70% 31 O grau de escolaridade dos produtores de pimenta-do-reino do município de São Miguel do Guamá, variou bastante, onde se obteve níveis desde o não alfabetizado até os que possuem ensino superior. De todos os agricultores que responderam ao questionário, 19 possuem o ensino fundamental incompleto (EFI), 6 deles são analfabetos, isto é, sem escolaridade (SE), 4 têm o ensino médio completo (EMC), 2 entre os 33 já fizeram ou estão fazendo o ensino superior (ES), apenas 1 possui o ensino fundamental completo (EFC), e somente 1 pessoa apresenta o ensino médio incompleto (EMI) (Figura 4). Figura 4 - Grau de escolaridade dos produtores de pimenta-do-reino, em São Miguel do Guamá - PA. *EFC=Ensino Fundamental Completo; EFI=Ensino Fundamental Incompleto; EMC=Ensino Médio Completo; EMI=Ensino Médio Incompleto; ES=Ensino Superior; SE=Sem Escolaridade. Fonte: Aviz e Farias (2016). Na figura 5 pode-se notar que a maioria dos produtores (13) está na atividade de cultivo da pimenta-do-reino há apenas 5 anos motivados pela alta do preço da cultura nos últimos anos, que trouxe novos produtores, e com eles muitas dúvidas sobre o plantio e manejo correto dessa cultura. É notório, também que 11 deles estão na atividade há bastante tempo, cerca de 20 anos, e que resistiram a queda no preço da pimenta, que chegou a custar R$ 3,50 o kg. Cerca de 4 dos produtores, plantam pimenta-do-reino há aproximadamente 10 anos. E os 5 restantes, cultivam essa cultura de 30 a 50 anos, por tradiçãode família, e que aumentam ou diminuem a área de acordo com o preço comercializado do produto no mercado, esses produtores são os mais idosos e que estão passando a tradição para os seus filhos. 19 6 4 2 1 1 0 5 10 15 20 G ra u d e es co la ri d a d e Número de Produtores EFC EMI ES EMC SE EFI 32 Fonte: Aviz e Farias (2016). 5.2 Caracterização das propriedades Em relação à área das propriedades, verificou-se que 39,40% dos produtores apresentam áreas variando de 8 a 50 ha, 33,33% áreas superiores a 75 ha, e 18,18% possuem propriedades com áreas inferiores a 6 ha, ressalta-se que 9,09% não souberam informar a área total de suas terras (Tabela 2). Dentro desse contexto, 32 produtores se enquadram como agricultores familiares, pois segundo informações publicadas no site da Embrapa (2012) e na Cartilha do Produtor Rural do SEBRAE (2015), para ser considerado um agricultor familiar deve possuir área inferior a 4 módulos fiscais (220 ha), apenas um produtor possui área superior a 220 ha, isso quer dizer que 96,97% dos produtores de pimenta- do-reino do município são agricultores familiares. A área total plantada de pimenta-do-reino no município é bem pequena, e não ultrapassou 150 ha, que equivale a aproximadamente 375 mil pés de pimenta, considerando um espaçamento de 2 m x 2 m. Observou-se que 75,76% dos produtores possuem áreas destinadas ao plantio de pimenta-do-reino inferiores a 3,63 ha, 12,12% variaram entre 4 e 6 ha, e 12,12% têm áreas equivalentes a 50 ha. Vale ressaltar que devido ao preço elevado do quilograma da pimenta, muitos produtores investiram no plantio de novas áreas da cultura, logo a produtividade não vai equivaler à quantidade plantada, visto que são plantios novos, isto é, ainda não produziram (Figura 6). 0 2 4 6 8 10 12 14 Até 5 anos Até 10 anos Até 20 anosAté 30 anos Até 40 anos Até 50 anos N ú m er o d e p ro d u to re s Tempo em anos Figura 5 - Quantidade de produtores em relação ao tempo que está na atividade pimenta-do-reino em São Miguel do Guamá - PA. 33 Tabela 2 - Nome das comunidades, identificação dos produtores, área total das propriedades e área plantada de pimenta-do-reino em São Miguel do Guamá – PA. Comunidades Identificação do produtor Área total da propriedade (ha) Área plantada de pimenta-do-reino (ha) Cristo Rei P1 5,74 1 P2 75 12,5 P3 25 0,9 P4 14 6 P5 2,5 0,75 P6 3,63 3,02 P7 75 50 P8 75 12,5 P9 3,63 3,02 Miritueira P10 50 0,9 P11 12,5 0,46 P12 12 0,6 P13 25 1 P14 525 3,02 Acaputeua P15 1,81 0,6 P16 75 0,6 P17 25 1,51 Urucuriteua P18 1,21 P19 50,03 1,21 P20 0,9 0,6 BR 010 P21 25 2,11 P22 3,02 P23 12,5 1,21 Apuí P24 25 3,17 P25 25 0,45 Sete de Setembro P26 200 3,63 P27 50 4 Tatuaia P28 100 12 Santo Antônio P29 158 5,6 Canavial P30 0,8 Santana do Urucurí P31 8 4 Suassuí P32 93 2,44 Ladeira P33 100 2 Total 1.853,24 145,83 *P1= Produtor 1, P2= Produtor 2 e etc. Fonte: Aviz e Farias (2016). 34 Fonte: Aviz e Farias (2016). Ao se fazer a pergunta sobre quais documentos possuía suas terras, 26 dos produtores responderam que possuíam algum tipo de documento, às vezes só o de compra do terreno, e 7 deles disseram que não tinham nenhum documento, mas que pretendiam oficializar a compra da terra (Figura 7). Em relação ao Cadastro Ambiental Rural (CAR), observou-se que a maior parte deles (21) já realizou seu cadastro no CAR, e 12 produtores ainda não haviam registrado seus imóveis rurais no CAR (Figura 7). Já ao fator realização da Análise de Solo, notou-se que a quantidade de produtores que nunca realizaram a análise do solo de sua propriedade foi superior aos que já efetivaram esta técnica, 19 agricultores ainda não fizeram e 14 já realizaram. Aqui se explica a falta de conhecimento do produtor, pois a análise é muito importante para saber as necessidades de cada solo, e fazer a aplicação de adubos e corretivos adequadamente, sem que haja um excesso de adubação ou o contrário (Figura 7). Figura 7 – Características das propriedades produtoras de pimenta-do-reino em São Miguel do Guamá - PA. *CAR = Cadastro Ambiental Rural Fonte: Aviz e Farias (2016). 75,76% 12,12% 12,12% 0 5 10 15 20 25 30 0,45 - 3,63 4,0 - 6,0 12,0 - 50,0 N ú m er o d e p ro d u to re s Área (ha) 0,45 - 3,63 4,0 - 6,0 12,0 - 50,0 Figura 6 - Média do tamanho de área destinada ao plantio de pimenta-do-reino em cada propriedade no município de São Miguel do Guamá - PA. 26 7 21 12 14 19 0 5 10 15 20 25 30 sim não sim não sim não N º d e p ro d u to re s sim não Documentos da terra CAR Análise de solo 35 A porcentagem de propriedades que não possuem assistência técnica é de 51, 60%, ou seja, a maior parte das propriedades do município não possui nenhum tipo de assistência. Há uma carência enorme de técnicas que venham a tirar as dúvidas dos produtores, como o manejo adequado das culturas, forma de controle de doenças e pragas, como fazer mudas corretamente, e uma série de perguntas não respondidas. E os que possuem a visita de órgãos públicos de assistência técnica, relatam que é ineficiente, pois a visita ocorre poucas vezes no ano, e que quando precisam de um serviço, não lhes é ofertado, como por exemplo, produtores que não possuem tratores, e que tentam conseguir juntos a esses órgãos, mas na menor parte das vezes conseguem. Além de que, os 48,40%, que possuem assistência técnica, nem todos são órgãos públicos, existe uma empresa privada de assistência técnica, e também os Bancos do Brasil e da Amazônia (Figura 8). Figura 8 - Porcentagem de produtores que possuem assistência técnica no cultivo da pimenta-do-reino em São Miguel do Guamá - PA. Fonte: Aviz e Farias (2016). 5.3 Caracterização dos principais insumos utilizados pelos produtores Inúmeros foram os agrotóxicos citados pelos agricultores como os mais utilizados, usados no controle de pragas, doenças e plantas daninhas, principalmente no controle de insetos-pragas. Foram cerca de 30 produtos de diferentes marcas e funções, onde os que apareceram com mais frequência foram roundup, 18 produtores falaram que usam este produto, o segundo mais frequente foi o decis que apareceu 16 vezes, seguido do karate e nativo, que apareceram 8 vezes cada, logo após vieram o gramoxil e gramoxone com uma frequência de 7 vezes cada, glifosato e barragem apareceram 6 vezes cada um, e os demais tiveram frequência de utilização de 1 a 4 vezes (Figura 9). Segundo Duarte et al., (2006), os herbicidas mais usados são à base de paraquat (Gramoxone) e paraquat + diuron (Gramoxil). Para Casali (2008), os inseticidas devem ser fosforados e a base de dimetrato. 48,40%51,60% Quantidade de produtores que possuem assistência técnica (%) SIM NÃO 36 Fonte: Aviz e Farias (2016). O adubo orgânico mais utilizado pelos produtores de pimenta-do-reino do município é a torta de mamona (Figura 10), 29 agricultores confirmaram o uso deste fertilizante orgânico, porque além de ser um produto de menor custo, é muito bom para o desenvolvimento da planta, afirmaram os produtores. Trani et al., (2013), relatam que a torta de mamona é um fertilizante orgânico simples, ou seja, é oriundo de uma única fonte de origem animal ou vegetal, importante fonte de nitrogênio orgânico. É um produto de pouca disponibilidade no comércio devido à sua limitada produção. Fonte: Aviz e Farias (2016). Logo após, vêm os adubos de origem animal, o esterco de gado é o segundo adubo orgânico mais utilizado entre os produtores (17), um dos agricultores que utiliza esse esterco Figura 9 - Principais agrotóxicos utilizadosno cultivo da pimenta-do-reino em São Miguel do Guamá - PA. . 16 1 6 8 6 1 18 7 1 1 1 1 4 2 8 1 7 4 3 2 1 1 1 2 2 2 2 1 1 1 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 D ec is O u ro v er d e G li fo sa to k ar at e B ar ra g em B ra v ic R o u n d ap G ra m o ci l S it ri n e F o rm o si n C ru ci al C o d af o l E v id en ce F u ra d an N at iv o M eg af o l G ra m o ch o n e E n g eo p le n e C er co m b il P ar ad o x N u tr iv it K o rp la n C ri s C o m p re x C it ro n u tr e E sc o re C re sp o n M u se re m T o x a R o d o m il N ú m er o d e p ro d u to re s Agrotóxicos Utilizados Figura 10 - Principais adubos orgânicos utilizados no cultivo da pimenta-do-reino em São Miguel do Guamá - PA. . 29 13 12 17 12 14 2 0 5 10 15 20 25 30 35 Mamona Farinha de osso Yorim Esterco de gado Esterco de carneiro Esterco de galinha Casca de mandioca Número de produtores A d u b o s O rg â n ic o s 37 relatou que logo após os animais defecarem, as fezes são recolhidas e colocadas no pé da planta, um fato preocupante, pois para as fezes bovinas serem aproveitadas como adubo orgânico, é preciso passar alguns dias “curtindo” no sol (Figura 10). Casali (2008), recomenda o uso de adubos orgânicos de origem animal bem curtidos. Em estudo realizado por Oliveira et al. (2007), constatou-se que as maiores produções de pimenta-do-reino das cultivares Bragantina, Iaçará e Cingapura, são obtidas com doses estimadas em 7,3; 8,6; e 7,0 kg planta-1 de esterco bovino, respectivamente. Garantem ainda que, a produção máxima de pimenta seca por planta ocorre nas doses de 6,5; 8,9; e 7,8 kg planta-1 de esterco bovino. O esterco de galinha é frequentemente utilizado entre 14 produtores, porém existem dificuldades de se encontrar este produto, visto que não existem granjas na cidade, a quantidade a ser aplicada deve ser inferior às doses de esterco bovino e de carneiro, pois o esterco aviário tem teores mais elevados de nitrogênio. A Embrapa (2004) recomenda aplicar no primeiro ano de plantio 2,5 kg/planta de cama de aviário. Outro fertilizante de origem animal bastante utilizado no município é o esterco de carneiro (12), inclusive encontramos propriedades que criavam ovinos com interesse no esterco desses animais, além de lucrar vendendo os mesmos (Figura 11). Fonte: Aviz e Farias (2016). A farinha de osso também é um produto frequentemente utilizado, 13 produtores afirmam seu uso. O yoorim, apesar de muito dos produtores ou todos não conhecerem como adubo orgânico, é utilizado por 12 produtores, é rico em fósforo, cálcio, magnésio e micronutrientes. A casca da mandioca foi citada por 2 produtores, um fato que chama a atenção é que um deles coloca a casca imediatamente após ser retirada da raiz, e sabe-se que é necessário deixa-la no sol por alguns dias para poder diminuir o efeito toxico da casca da mandioca (Figura 10). Os adubos orgânicos mais utilizados pelos pipericultores de São Figura 11 - A - Carneiros que fornecem adubo orgânico para a plantação de pimenta-do-reino. B – Esterco de carneiro. 38 Miguel do Guamá – PA estão entre os recomendados por Lemos; Tremacoldi; Poltronieri (2014). A combinação de Nitrogênio, Fosforo e Potássio, conhecido popularmente por NPK, é o adubo químico preferido dos agricultores entrevistados, que diferenciaram apenas nas formulações. A concentração que foi mais citada (27) é a 10-28-20, seguida da formulação 18-18-18 que é usada por 22 agricultores, a terceira concentração de NPK que foi citada com mais frequência é de 16-16-16. As demais formulações foram citadas apenas uma vez 10-30- 20, 13-13-13, 15-15-15, e houve até mesmo produtor que prepara sua própria concentração de NPK. Fonte: Aviz e Farias (2016). Observou-se que todos os produtores de pimenta-do-reino entrevistados fazem uso de calcário, então nota-se que os produtores reconhecem a importância de se realizar a calagem na área que será feito o plantio (Figura 12). Oliveira e Nakayama (2010) recomendam o uso do calcário dolomítico, principalmente em solos com teor de magnésio inferior a 0,7 cmolcdm -3. Fonte: Aviz e Farias (2016). 100% Figura 13 – Porcentagem de produtores que utilizam calcário antes do plantio da pimenta-do-reino em São Miguel do Guamá – PA. 27 22 12 1 1 1 1 0 5 10 15 20 25 30 10-28-20 18-18-18 16-16-16 10-30-20 13-13-13 15-15-15 Própria concentração Número de produtores F o rm u la çõ es Figura 12 - Concentrações de NPK mais utilizadas no cultivo da pimenta-do-reino em São Miguel do Guamá - PA. . 39 Em relação às ferramentas e maquinários utilizados no cultivo de pimenta-do-reino a enxada é a ferramenta mais usada e foi citada por todos os produtores, seguido do trator e da foice, sendo que o trator era de propriedade do produtor, ou da associação da comunidade em que reside, ou emprestado da EMATER do município. A draga apareceu com bastante frequência também entre as ferramentas, é utilizada principalmente para abertura de covas, juntamente com a draga surgiu o facão, que é mais conhecido no município como terçado, logo em seguida veio o enxadeco, e o restante, martelo, pulverizador, machado, tesoura de poda, motor-serra e carro de mão apareceram com pouca frequência. Quanto ao tipo de tutor utilizado para tutoramento da pimenta, destacou-se o uso do tutor morto da espécie Acapu (Vouacapoua americana), que é usado por todos os produtores (33), porém 19 agricultores utilizam apenas o Acapu. Esta espécie possui características adequadas para tutoramento dessa cultura, pois possui alta durabilidade e resistência, por isso é a preferida pelos pipericultores do município. A espécie de madeira jarana (Ewscheilera jarana), juntamente com o Acapu foi citada por 8 agricultores, sendo que alguns produtores que utilizam a Jarana, é pelo motivo de possuírem a mesma na sua propriedade. Além do Acapu e da Jarana, 3 agricultores relataram usar outras espécies de tutor morto junto com o Acapu. Duarte; Albuquerque e Kato (2004) já afirmaram que os tutores de madeira, conhecidos também como estacas e estacões, mais utilizados na região norte do Brasil, são feitos de madeira-de-lei das espécies Acapu e Jarana (Figura 13). Fonte: Aviz e Farias (2016). Também é utilizado pelos pipericultores do município o tutor tipo vivo, porém em menor número que o tutor morto, sendo a espécie Gliricidia (Gliricidia sepium) citada por 3 produtores, que justificaram o uso por ser mais barata quando comparada ao Acapu. Kato et al., (2001) confirmam o que os produtores constataram, pois ao comparar cultivos sombreados com Gliricidia e cultivo com madeira-de-lei a pleno sol, observou-se uma redução de 21% nos custos com tutores. Semelhantes também ao que Menezes et al., (2013), afirmaram em seu Figura 14 - Tipo e espécie de tutor utilizado pelos produtores para conduzir a pimenta-do-reino em São Miguel do Guamá – PA. 198 3 3 Tutores vivos e/ou tutor morto Apenas Acapu Acapu e jarana Acapu e outros Gliricidia e acapu 40 trabalho que os gastos com tutores vivos são inferiores aos tutores mortos. Alguns agricultores falaram que tentaram utilizar a espécie como tutor, mas que encontram dificuldades de manejo, e notaram que a produção é menor. Diferente do que foi encontrado por Conceição et al., (2003), onde houve um aumento de produtividade de pimenta-do-reino preta das cultivares Kottanandan-1, Kuthiravalli, laçara-1, Apra, Cingapura e Guajarina nesse sistema de cultivo com tutor vivo de Gliricidia. 5.4 Aspectos produtivos A cidade de São Miguel do Guamá – PA, possui solo com características de textura arenosa, onde 60,60% dos produtores confirmaram que suas terras possuem esta característica de solo (Figura 14 e 15), e 39,40% relataram que o solo onde