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Código Logístico
57353
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6434-2
9 788538 764342
IESDE BRASIL S/A
2018
Sociologia Geral
Noêmia Lazzareschi
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Capa: IESDE BRASIL S/A.
Imagem da capa: Rawpixel.com/Shutterstock
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
L459s
2. ed. Lazzareschi, Noêmia
Sociologia geral / Noêmia Lazzareschi. - 2. ed. - Curitiba, PR : 
IESDE Brasil, 2018. 
94 p. : il. ; 21 cm.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6434-2
1. Sociologia. I. Título.
18-47123 CDD: 305CDU: 316.7
© 2007-2018 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por 
escrito da autora e do detentor dos direitos autorais.
Apresentação
Historicamente situados, o mundo empresarial e o mundo do traba-
lho repercutem em seu interior as condições econômicas, políticas, sociais e 
culturais universalmente existentes, devendo ser considerados um micro-
cosmos delas derivado. Frutos sociais do processo histórico mundial, são, 
no entanto, ao mesmo tempo seus produtores, irradiando universalmente 
as suas inovações tecnológicas e organizacionais, das quais surgem novos 
produtos e serviços que inundam os mercados e determinam, em grande 
parte, novos estilos de vida. O processo social universal e o mundo empre-
sarial e do trabalho estão, pois, em relações recíprocas, constituindo uma só 
realidade social, objeto de estudo das Ciências Sociais.
Assim, a obra Sociologia Geral tem como objetivo apresentar os subsí-
dios teóricos produzidos pelas Ciências Sociais e, em especial, pela socio-
logia, para a compreensão das inter-relações entre a sociedade e as esferas 
empresarial e do trabalho.
Bons estudos!
Sobre a autora
Noêmia Lazzareschi
Doutora em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de 
Campinas (Unicamp) e mestre em Ciências Sociais do Trabalho pelo 
Institut Supérieur du Travail da Université Catholique de Louvain 
(Bélgica). Bacharel e licenciada em Ciências Sociais pela Universidade de 
São Paulo (USP). Professora do departamento de Sociologia da Faculdade 
de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais 
da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Sumário
Sociologia Geral 7
Sumário
1 A promessa e as tarefas das Ciências Sociais 9
1.1 Condições históricas do nascimento das Ciências Sociais 11
1.2 As Ciências Sociais 16
2 As sociedades industriais capitalistas 21
2.1 Émile Durkheim 22
2.2 Max Weber 23
2.3 Karl Marx 25
2.4 A estrutura das sociedades industriais capitalistas 27
2.5 As empresas 29
3 As diferentes formas de administração do processo de trabalho no capitalismo moderno 37
3.1 A acumulação primitiva do capital 37
3.2 A divisão tecnológica do trabalho 39
3.3 Taylorismo e fordismo 40
3.4 Impactos do taylorismo e do fordismo sobre o trabalhador 44
3.5 Os Anos Dourados 47
4 A crise econômica mundial, a globalização da economia e a reestruturação produtiva 55
4.1 A crise da economia mundial 57
4.2 A globalização da economia 59
4.3 A reestruturação produtiva ou a nova lógica organizacional 64
4.4 O desemprego e as novas relações de trabalho 66
4.5 Novas relações de trabalho ou trabalho precário 72
4.6 Reações dos trabalhadores 74
4.7 Sindicalismo no Brasil 79
5 Novas competências profissionais 85
Sociologia Geral 9
1
 A promessa e as tarefas 
das Ciências Sociais
Wright Mills, um dos mais conceituados sociólogos norte-americanos do século 
XX, no livro A imaginação sociológica, chama a atenção para o fato de que
[...] raramente [os homens] têm consciência da complexa ligação entre suas vidas e o curso da 
história mundial; por isso, os homens comuns não sabem, quase sempre, o que essa ligação 
significa para os tipos de ser em que se estão transformando e para o tipo de evolução histórica 
de que podem participar. Não dispõem da qualidade intelectual básica para sentir o jogo que 
se processa entre os homens e a sociedade, a biografia e a história, o eu e o mundo. (1965, p. 10)
A qualidade intelectual básica necessária para que os homens compreendam a 
história, a biografia e as íntimas relações entre elas, dentro da sociedade, é a imaginação 
sociológica. Essa qualidade permite a cada um de nós se compreender como produto e 
produtor da vida social e, por isso, compreender-se como ser historicamente condicio-
nado, em que as possibilidades e limitações na vida são, em grande parte, circunscritas 
pela estrutura da nossa sociedade num determinado momento da história mundial.
 A promessa e as tarefas das Ciências Sociais1
Sociologia Geral10
A conscientização política é a expressão primeira e talvez a mais importante da imagi-
nação sociológica. Quem a possui sabe que não pode traçar livremente o próprio destino, 
cujo desenho é esboçado pelas condições sociais existentes, criadas e transmitidas pelas ge-
rações passadas, mas reproduzidas, reformadas ou transformadas por decisões políticas da 
geração presente, das quais certamente exigirá participar para poder exercer algum controle 
sobre o curso de sua própria vida.
Possibilitar o desenvolvimento da imaginação sociológica é, segundo Wright Mills 
(1965), a promessa das Ciências Sociais. Para cumpri-la, investiga-se, analisa-se, explica-se 
por meio de procedimentos metodológicos e teóricos definidores do conhecimento cientí-
fico – a estrutura social, demonstrando os princípios que a constituem, os mecanismos de 
sua manutenção e mudança e a psicologia de homens e mulheres que dela surge. A com-
preensão da estrutura social é uma condição necessária para situar historicamente o objeto 
de estudo de cada uma das Ciências Sociais, por mais específicos que sejam os problemas e 
as perspectivas teóricas que definem o eixo de suas preocupações particulares.
Representando o consenso entre os mais diferentes autores sobre as tarefas e os objetivos 
que as Ciências Sociais se autoimpõem, Wright Mills considera como a mais importante tornar 
os valores sociais aceitos claros e transparentes, pois os problemas ou questões sociais resul-
tam de sua transgressão, cuja origem deve ser buscada nas contradições da estrutura social. 
Uma questão social é um assunto público: é um valor estimado pelo público 
que está ameaçado. [...] A questão, na verdade, envolve quase sempre uma crise 
nas disposições institucionais, e com frequência também aquilo que os marxistas 
chamam de “contradições” ou “antagonismos”. (WRIGHT MILLS, 1965, p. 15)
São muitas as questões sociais que enfrentamos: a violência urbana, os conflitos 
armados, a miséria absoluta de milhões de pessoas, a favela, o desemprego, o abandono de 
crianças, a prostituição infantil, as drogas, o analfabetismo etc. que ferem os valores centrais 
das sociedades humanas: o respeito à vida e à dignidade humana, distanciando-nos da rea-
lização do sonho de instauração de uma sociedade justa, na qual, de fato, possam se realizar 
os princípios de Igualdade, Liberdade e Fraternidade, herdados da Revolução Francesa, que 
inauguraram o mundo moderno.
O estudo científico da estrutura social é, pois, o ponto de partida não só do reconheci-
mento dos problemas sociais que nos afligem, mas, sobretudo, da descoberta de suas ori-
gens e dos meios disponíveis para solucioná-los ou pelo menos minorá-los, no contexto do 
jogo de interesses de diferentes grupos e classes sociais das decisões políticas. Mas a imagi-
nação sociológica, que desperta e aprofunda a conscientização política, torna-se condutora 
do processo político democrático, impedindo que os homens se transformem em simples 
marionetes da história e objeto do poder autoritário de alguns. 
Para Wright Mills, as Ciências Sociais tornaram-se o denominador comum de nosso 
período cultural. De fato, evidencia-se universalmente o reconheci mento da importância do 
desenvolvimento da análise científicada vida social, pois pudemos constatar, sobretudo a 
partir da Segunda Guerra Mundial, que a utilização política dos conhecimentos produzidos 
pelas ciências físico-químico-naturais pode gerar mais problemas humanos e sociais do que 
 A promessa e as tarefas das Ciências Sociais
Sociologia Geral
1
11
realmente contribuir para resolver os já existentes. Não obstante, até aquele momento, a 
humanidade acreditou que o conhecimento por elas produzido era o mais eficaz e eficiente 
instrumento de que dispunha não só para melhorar as suas condições de vida, mas também 
para solucionar todos os graves e persistentes problemas sociais. Por isso, as ciências natu-
rais receberam especial atenção ao longo de mais de um século no mundo moderno, sem 
que se prestasse atenção às prováveis consequências dramáticas do uso político que delas 
se pode fazer.
Com efeito, basta lembrar a tragédia provocada pela bomba atômica em Hiroshima e 
Nagasaki, a ameaça constante de utilização de armas nucleares, o sofrimento de milhões de 
famílias devido à introdução de tecnologias sofisticadas que destroem milhares de postos 
de trabalho e geram desemprego em massa, os problemas éticos e morais originários das 
potencialidades da engenharia genética, a devastação da natureza, a poluição do ar, sonora e 
visual etc. para se dar conta da necessidade de se avaliar continuadamente os efeitos sociais 
e humanos, éticos e morais, positivos e negativos, construtivos e destrutivos, da utilização 
do conhecimento produzido por aquelas ciências. 
E essa avaliação depende não só da imaginação sociológica, mas também da produ-
ção intelectual dos cientistas sociais, cujas obras podem ser consideradas como a cons-
ciência crítica do processo histórico universal, contribuindo para o desenvolvimento da 
consciência crítica de toda a humanidade.
São essas as principais tarefas e os objetivos das Ciências Sociais, cujos estudos esten-
dem-se inevitavelmente ao mundo das empresas e do trabalho, ajudando os administrado-
res de empresas a atuarem profissionalmente com maior clareza e responsabilidade social, 
sem perder de vista os seus objetivos específicos de promoção da eficiência do processo 
produtivo e de prestação de serviços.
1.1 Condições históricas do 
nascimento das Ciências Sociais
A análise científica da vida social data do século XVIII e deve ser consi-
derada como o produto intelectual mais importante das transformações eco-
nômicas, políticas, sociais e culturais em curso desde o Renascimento e que se 
cristalizaram no Ocidente com a Revolução Industrial e a Revolução Francesa, 
marcos do surgimento do mundo moderno, isto é, da consolidação da ordem 
social capitalista.
1.1.1 A Revolução Industrial
A invenção da máquina a vapor na Inglaterra de 1750 significou o início 
de uma revolução nas técnicas de produção, o que possibilitou a mecanização 
do processo de trabalho em muitos ramos da atividade econômica, já na 
 primeira metade do século XIX, tendo significado também uma revolução na 
Vídeo
 A promessa e as tarefas das Ciências Sociais1
Sociologia Geral12
organização da produção que, a partir de então, passou a ser realizada no interior de empre-
sas com caráter permanente e racional.
Ao propiciar o aumento da produtividade do trabalho, a redução dos custos de produ-
ção e, como decorrência, o barateamento das mercadorias, a Revolução Industrial permitiu 
que se vislumbrasse o nascimento de uma sociedade de abundância e mais justa, graças às 
possibilidades econômicas de uma distribuição mais igualitária da renda.
Rapidamente irradiada para o continente, a Revolução Industrial, ao contrário de todas 
as expectativas, gerou problemas sociais de extrema gravidade que se alastraram, também 
rapidamente, por toda a Europa.
Em primeiro lugar, provocou o êxodo rural de enormes contingentes de trabalhadores 
entusiasmados com as perspectivas de melhoria de suas condições de vida. A consequência 
inevitável, porém, foi o desenvolvimento acelerado da urbanização não planejada, em que o 
resultado se expressou nas péssimas condições habitacionais dos trabalhadores, na imundí-
cie das cidades industrializadas, na falta de fornecimento de água e nas epidemias de cólera 
e de tifo que se espalharam por todo o continente, dizimando milhares de pessoas.
Segundo Eric J. Hobsbawm (1977, p. 225), o mais renomado historiador do século XX: 
Só depois de 1848, quando as novas epidemias nascidas nos cortiços começaram 
a matar também os ricos, e as massas desesperadas que aí cresciam tinham as-
sustado os poderosos com a revolução social, foram tomadas providências para 
um aperfeiçoamento e uma reconstrução urbana sistemática.
Devemos considerar também os baixos salários e o desemprego de milhares de traba-
lhadores, visto que até a década de 1840 
grandes massas da população continuavam até então sem ser absorvidas pelas 
novas indústrias e cidades, como um substrato permanente de pobreza e deses-
pero, e também as grandes massas eram periodicamente atiradas ao desemprego 
pelas crises que, até então, mal eram reconhecidas como temporárias e repetiti-
vas. (HOBSBAWM, 1977, p. 228) 
A criminalidade e a violência urbana, o alcoolismo, a prostituição e o suicídio cons-
tituíam o quadro de deterioração da vida social, aprofundado pela enorme desigualdade 
social. Ainda nas palavras de desse estudioso:
A época em que a Baronesa de Rothschild usou um milhão e meio de francos 
em joias no baile de máscaras do Duque de Orleans, em 1842, era a mesma em 
que John Bright assim descreveu as mulheres de Rochdale: “2 mil mulheres e 
moças passaram pelas ruas cantando hinos – um espetáculo surpreendente e 
singular – chegando às raias do sublime. Assustadoramente famintas, devora-
vam uma bisnaga de pão com indescritível sofreguidão, e se o pedaço de pão 
estivesse totalmente coberto de lama seria igualmente devorado com avidez.” 
(HOBSBAWN, 1977, p. 227)
Havia, ainda, o rígido controle e a disciplina impostos pelos patrões que tornavam in-
fernal a vida dos trabalhadores das fábricas, os quais estavam submetidos a jornadas de 
trabalho de 16 horas e a todo tipo de castigos e multas.
 A promessa e as tarefas das Ciências Sociais
Sociologia Geral
1
13
A Revolução Industrial não foi, portanto, apenas uma revolução econômica, que se 
tornou um marco na história da humanidade ao abrir as portas do crescimento e desen-
volvimento econômicos por suas inovações tecnológicas e organizacionais. Foi, também, 
responsável pelo aparecimento de novos e contundentes problemas humanos e sociais, 
além de ter dado início ao fim do antigo regime, com a entrada definitiva de novos perso-
nagens no cenário social: o empresário capitalista e o trabalhador proletário, que passa-
ram a constituir as duas grandes classes sociais da moderna sociedade capitalista nascente, 
permanentemente em conflito de interesses por ocuparem posições diferentes no processo 
de produção da riqueza. O capitalista é o proprietário dos meios de produção, isto é, do 
capital e da riqueza que gera mais riqueza – terra, tecnologia e trabalho concentrados na 
empresa por ele administrada –, e o proletário é proprietário apenas da força de trabalho, 
isto é, do capacidade para trabalhar, produzir e reproduzir em escala ampliada o capital, 
obrigando-se a vender a sua única propriedade no mercado de trabalho em troca de um 
salário com o qual deverá se sustentar.
Por essa razão, a Revolução Industrial não pode ser lembrada apenas como revolução eco-
nômica, devendo ser considerada uma verdadeira revolução da estrutura social que precipi-
tou as transformações políticas, jurídicas e ideológicas consumadas pela Revolução Francesa.
1.1.2 A Revolução Francesa
A Revolução Francesa de 1789 foi o acontecimento de maior repercussão no Ocidente 
por ter destruído definitivamente o antigo regime absolutista e a supremacia de uma aristo-
cracia decadente e por ter criado as condições necessárias e suficientes para o surgimento do 
Estado Moderno e a consolidação do regimecapitalista de produção.
Foi uma revolução conduzida pela burguesia enriquecida, inconformada com os consi-
deráveis privilégios e honrarias sociais concedidos aos nobres e ao clero, e sequiosa de poder 
para, sobretudo, pôr fim aos altos impostos e às rígidas regulamentações da política mer-
cantilista vigente que restringiam sua liberdade econômica. A burguesia pôde contar com o 
apoio imediato dos camponeses exasperados com o pagamento de um conjunto de obriga-
ções existentes desde a época feudal que lhes limitavam sobremaneira os ganhos.
Grupos de interesses econômicos contrariados encontraram nas ideias dos filósofos ilu-
ministas e dos economistas o arsenal intelectual para defla grar uma revolução que atingiu 
mortalmente as instituições políticas e jurídicas vigentes pela força da nova ideologia, ins-
pirada principalmente nas obras de: Locke (1632-1704), Voltaire (1694-1778) e Montesquieu 
(1689-1755), os grandes críticos da monarquia absolutista e pais da teoria política liberal, e 
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), fundador da teoria política democrática moderna. Essas 
obras se constituíram no fundamento teórico no qual se assenta o Estado Moderno1.
1 As obras mais importantes de John Locke são: Tratados sobre o governo; Cartas sobre a tolerância; e 
Tratado sobre a racionalidade do cristianismo. As de François-Marie Arouet Voltaire são: Cartas filosóficas; 
Candido; Ensaio sobre os cos tumes. A principal obra de Charles de Secondat, barão de Montesquieu, é 
Espírito das leis. As de Jean-Jacques Rousseau são: O contrato social; Discurso sobre as ciências e as artes; 
Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens; e Emílio.
 A promessa e as tarefas das Ciências Sociais1
Sociologia Geral14
Os economistas contribuíram com a crítica ao mercantilismo que impunha severas res-
trições à atividade econômica com sua política de amplo controle estatal sobre o comércio, 
favorecendo as exportações e restringindo as importações para manter uma balança comer-
cial que garantisse o enriquecimento do tesouro do país, e amplo controle da produção 
doméstica, com leis que regulamentavam os salários, as condições de emprego, a qualidade 
dos produtos etc.
A crítica à política mercantilista encontrou na obra de Adam Smith (1723-1790), A riqueza 
das nações, de 1776, a sua expressão mais contundente e qualificou o autor como o pai do libe-
ralismo econômico. A teoria por ele elaborada defendia o livre mercado por sua fundamenta-
ção na competição entre os produtores que, movidos pelo desejo egoísta de obter sempre mais 
lucros, garantiriam não só a produção demandada pelos consumidores, como também o apri-
moramento da qualidade dos produtos, a busca da eficácia e eficiência do processo produtivo 
para a redução dos custos e o barateamento das mercadorias, assegurando, dessa maneira, o 
desenvol vimento eco nômico continuado.
Assim, intelectualmente fundamentados, os revolucionários de 1789 elaboraram a 
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em setembro daquele ano, reunindo nesse 
documento as ideias que comandaram a transformação da sociedade francesa e, mais tarde, 
de todo o mundo ocidental.
Nas palavras de Eric J. Hobsbawm (1977, p. 77), “esse documento é um manifesto con-
tra a sociedade hierárquica de privilégios nobres, mas não um manifesto a favor de uma 
sociedade democrática e igualitária”, porque, apesar de seu primeiro artigo declarar que “os 
homens nascem e vivem livres e iguais perante as leis”, prevê a existência de distinções so-
ciais, ainda que “ somente no terreno da utilidade comum”. Mas, mesmo assim, não se pode 
deixar de considerar a importância social, política, econômica e cultural desse documento 
porque, de fato, ele inaugura o início do processo de resgate do conceito grego de cidadão, 
reformulando-o e ampliando-o, condição necessária para o surgimento do Estado Moderno, 
isto é, do Estado Racional, fundado no Direito Racional e na autoridade legal-racional, 
administrado burocraticamente e, segundo Max Weber (1864-1920), um dos clássicos da 
Sociologia, “único terreno em que o capitalismo moderno pode prosperar”.
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em seus artigos, foi decisiva para o 
surgimento das instituições políticas, jurídicas e econômicas necessárias e suficientes para 
o desenvolvimento do regime capitalista de produção e do Estado democrático, ao declarar 
a propriedade privada um direito natural, sagrado, inalienável e inviolável, como também 
a liberdade de expressão, a tolerância religiosa e a liberdade de imprensa, ao mesmo tempo 
que determinava ser o povo a fonte de toda soberania. A partir dessa declaração, o povo foi 
conquistando aos poucos o direito de se organizar politicamente, quer em partidos políti-
cos, quer em movimentos sociais, não só para eleger seus representantes, mas também para 
contestar e reivindicar melhores condições de vida, ponto de partida para a efetivação de 
mudanças na estrutura social.
Não obstante a importância desses acontecimentos, cumpre ressaltar que tanto a 
Revolução Industrial quanto a Revolução Francesa, como também as Ciências Sociais, são 
 A promessa e as tarefas das Ciências Sociais
Sociologia Geral
1
15
filhas do processo de racionalização da cultura ocidental, iniciado dois séculos antes, que 
têm como expressões mais significativas a própria ciência e a filosofia iluminista.
1.1.3 O Racionalismo
O Racionalismo tem origem na chamada revolução copernicana do século XVI que, além 
de Copérnico (1473-1543), é obra também de Kepler (1571-1630) e Galileu (1564-1642). Esses 
estudiosos desenvolveram ideias, investigações e estudos sobre o universo, resultando nas 
primeiras e mais contundentes contes tações à autoridade da Igreja Católica Apostólica 
Romana como fonte única do conhecimento oficialmente aceito, até então considerado sa-
grado, absoluto e incontestável. Eles fizeram nascer a convicção de que os homens, dotados 
de razão e de sentidos pela graça de Deus, são capazes de desvendar os mistérios de Sua 
criação e explicá-los corretamente.
No século XVII, René Descartes (1596-1650), matemático e físico, tornou-se o maior 
expoente do racionalismo, ao considerar a razão como a única fonte segura de conheci-
mento. No Discurso do método, afirmava ser necessário não só duvidar da veracidade dos 
conhecimentos existentes, como também das impressões sensoriais, pois nada garante que 
os nossos sentidos sejam confiáveis.
Figura 1 – HALS, Franz. Retrato de René Descartes. 1649. 1 óleo sobre tela.
Para ele, a reflexão filosófica deve partir de verdades ou axiomas simples e evidentes 
por si mesmos, como “Penso, logo existo”, e, por dedução matemática, como na geometria, 
chegar a um conjunto perfeitamente lógico de conhecimentos sobre indagações específicas.
Com Descartes, o processo de secularização da cultura ganha fôlego porque o método 
racionalista por ele elaborado foi o passo decisivo para o desenvolvimento da crítica racio-
nal às verdades que sustentavam a ordem estabelecida. Os resultados da aceitação desse 
 A promessa e as tarefas das Ciências Sociais1
Sociologia Geral16
método como instrumento único para a construção do conhecimento se expressaram na 
emancipação do pensamento das verdades religiosas, na renúncia a uma visão sobrenatural 
para explicar os fatos e na contestação dos fundamentos da sociedade feudal com suas ins-
tituições e costumes. Em outras palavras: o resultado do racionalismo foi a consagração do 
livre pensamento, livre da visão de mundo dominante até então, livre para ensaiar novas e 
revolucionárias construções.
O Iluminismo ou Filosofia das Luzes, cuja manifestação suprema se deu na França do 
século XVIII, foi o ponto culminante dessa revolução intelectual em curso que abalou defi-
nitivamente os alicerces culturais da sociedade medieval europeia.
A crítica feroz que seus principais representantes desfecharam contra a sociedade me-
dieval também se assentava na convicção de que os procedimentosintelectuais que possi-
bilitaram o desenvolvimento das ciências naturais deveriam ser aplicados na explicação da 
realidade social como fundamento racional para a sua rejeição. E esses procedimentos não 
se limitavam à aplicação do método dedutivo de investigação legado por Descartes, mas 
também do método empirista desenvolvido por Francis Bacon (1561-1626, cuja obra princi-
pal é Novum Organum), baseado na observação e na experimentação para a descoberta das 
leis universais invariáveis que regem a ordem natural e a ordem social.
Pode-se afirmar que da conjugação do método racionalista e do método empirista advém 
a concepção moderna de ciência, hoje universalmente aceita como o caminho para a busca 
da verdade e, portanto, um dos valores centrais das sociedades ocidentais. E dessa conjuga-
ção surgiram trabalhos extraordinários no campo das ciências físico-químico-naturais ainda 
nos séculos XVII e XVIII. Basta registrar os nomes de Isaac Newton (1643-1727) e Leibniz 
(1646-1716), no campo da física e da matemática, de Boyle (1627-1691) e de Lavoisier (1743-
-1794), no campo da química, e de Lineu (1707-1778) e de Buffon (1707-1788), no campo da 
biologia, para compreender as origens das convicções dos iluministas de que a razão e a 
ciência poderiam permitir o exercício de um certo controle humano sobre o mundo e, fun-
damentalmente, sobre a realidade social, que passou a ser compreendida como construção 
humana e não mais como realização da vontade divina – e, portanto, passível de crítica, de 
contestação e de transformação. 
Preparava-se, assim, o caminho para o processo revolucionário de instauração do mun-
do moderno e para o desenvolvimento das Ciências Sociais.
1.2 As Ciências Sociais
Não há fronteiras rígidas entre as Ciências Sociais, pois todas, como vimos, têm por 
objeto de estudo o comportamento social determinado pelo processo histórico universal. 
No entanto, cada uma delas focaliza um aspecto específico desse comportamento, anali-
sando-o de uma perspectiva própria, em torno de conceitos particulares que definem a sua 
construção teórica. Mas todas as Ciências Sociais se beneficiam dos conhecimentos pro-
duzidos pelos autores de cada uma, num íntimo entrelaçamento que permite o enrique-
cimento e aprofundamento da compreensão da vida social. Embora se possa distinguir a 
Vídeo
 A promessa e as tarefas das Ciências Sociais
Sociologia Geral
1
17
especificidade da produção das Ciências Sociais, em cada uma delas se identifica a contri-
buição do trabalho das demais, pelo menos no que diz respeito à utilização dos principais 
conceitos que indicam o seu campo de estudo particular e os problemas fundamentais de 
que se ocupam.
A Economia Política teve sua origem na Escola Clássica da Inglaterra, com a publicação 
das obras de Adam Smith, David Ricardo (1772-1823, autor de Princípios de Economia Política) 
e Thomas Malthus (1766-1834, autor de Ensaio sobre a população). Ela estuda as ações sociais 
voltadas à produção, à circulação, à distribuição e ao consumo de bens e serviços em seu 
contexto institucional nacional e internacional.
A Ciência Política analisa as instituições políticas que regulamentam a distribuição do 
poder, as diferentes formas de governo, a administração do Estado, a luta pelo poder, o 
comportamento político em suas diferentes manifestações – político-partidário e eleitoral 
–, as atitudes populares diante das questões políticas, a participação em movimentos so-
ciais, enfim, o processo político em geral, inclusive no seio das organizações e empresas.
A História é a ciência que estuda o processo de produção da vida (isto é, das condi-
ções materiais de existência e da consciência, expressa no conjunto de crenças, valores, 
padrões de comportamento), na expectativa de apreendê-lo em suas diferentes manifesta-
ções e especificidades ao longo do tempo. Detém-se sobretudo na análise daqueles acon-
tecimentos que decisi vamente contribuíram para a sua transformação com o surgimento 
de novas instituições sociais.
A Psicologia Social investiga as relações recíprocas entre personalidade e estrutura social, 
demonstrando a influência do ambiente social na formação da personalidade e como, em con-
textos grupais, os processos sociais são por ela influenciados, como, por exemplo, na ação da 
multidão, tal como tumultos ou linchamentos, nos estudos de opinião pública, nos movimen-
tos sociais, nas atitudes grupais em relação aos preconceitos de qualquer natureza etc., ou seja, 
como as reações coletivas alteram a conduta individual e interferem na vida social.
A Antropologia focaliza seus estudos na construção da cultura, ou seja, no mundo dos 
significados e dos valores sociais predominantes nas mais diferentes sociedades, inclusive 
nas sociedades ágrafas (sem grafia), analisando-as em todos os seus aspectos. Por isso, as 
fronteiras entre a Antropologia e a Sociologia são muito tênues.
A Sociologia, ciência que subsidia o curso Análise Social, investiga, analisa, explica e 
interpreta a estrutura social como um todo, levando em consideração todos os aspectos que 
a constituem – o econômico, o político, o cultural, o histórico, o psicológico – como também 
os demais fenômenos que interferem na configuração da vida social – como a demografia, a 
ocupação do espaço físico etc. É a ciência das relações sociais norteadas pelas instituições ou 
padrões de comportamento, que expressam valores, crenças, ideias, sentimentos comparti-
lhados pelos membros de uma sociedade, e princípios sobre os quais se assenta a organiza-
ção da vida social em todas as suas dimensões: econômica, política, social, cultural, deter-
minando sua estrutura e assegurando-lhe uma ordem. Por isso, muitos autores se referem à 
Sociologia como a ciência que procura descobrir, descrever, explicar e compreender a ordem 
que caracteriza a vida social, ou seja, os padrões de comportamento que a caracterizam e 
 A promessa e as tarefas das Ciências Sociais1
Sociologia Geral18
(GIDDENS, 2005, p. 23-24)
A imaginação sociológica nos permite ver que muitos eventos que pare-
cem dizer respeito somente ao indivíduo, na verdade, refletem questões 
mais amplas. O divórcio, por exemplo, pode ser um processo muito difícil 
para alguém que passa por ele – o que Mills chama de “problema pes-
soal.” Mas o divórcio, assinala Mills, é também um problema público 
numa sociedade como a atual Grã-Bretanha, onde mais de um terço de 
todos os casamentos termina dentro de dez anos. O desemprego, para 
usar outro exemplo, pode ser uma tragédia pessoal para alguém despe-
dido de um emprego e inapto para encontrar outro. Mesmo assim, isso vai 
bem além de uma questão geradora de aflição pessoal, se considerarmos 
que milhões de pessoas numa sociedade estão na mesma situação: é um 
assunto público, expressando amplas tendências sociais.
Tente aplicar esse tipo de perspectiva à sua própria vida. Não é necessário 
pensar apenas em acontecimentos preocupantes. Considere, por exemplo, 
por que você está virando as páginas deste livro – por que você decidiu 
estudar Sociologia. Você pode ser um estudante de Sociologia relutante, 
fazendo o curso somente para preencher créditos exigidos. Ou você pode 
estar entusiasmado para descobrir mais sobre o assunto. Quaisquer que 
sejam as suas motivações, você provavelmente tem muito em comum, sem 
saber necessariamente, com outros que estudam Sociologia. Sua decisão 
individual reflete sua posição numa sociedade mais vasta.
As seguintes características se aplicam a você? Você é jovem? Branco? 
Você vem de um background profissional ou de colarinho-branco? Você 
já teve, ou ainda tem, um trabalho de meio turno para aumentar seus 
ganhos? Você quer encontrar um bom trabalho quando terminar sua edu-
cação, mas não está especialmente empenhado em estudar? Você não sabe 
realmente o que é sociologia mas acha que tem algo a ver com como as 
pessoas se comportam em grupo? Mais de três quartos de vocês respon-
derão “sim” a tais questões. Estudantes universitários não sãoo típico da 
que “permitem a corrente rotineira da vida social” (INKELES, 1964, p. 47), possibilitando, 
portanto, prever o seu curso e, ao mesmo tempo, indicar as manifestações de desordem, de 
conflito e de mudança, pois a realidade social é processo.
Ampliando seus conhecimentos
Estudando Sociologia
 A promessa e as tarefas das Ciências Sociais
Sociologia Geral
1
19
população como um todo, mas tendem a ser provenientes de ambientes 
mais favorecidos. E suas atitudes geralmente refletem aquelas sustenta-
das por amigos e conhecidos. Os ambientes sociais dos quais viemos têm 
muito a ver com os tipos de decisões que achamos apropriadas.
Mas suponha que você respondeu “não” a uma ou mais dessas ques-
tões. Você pode ter vindo de um grupo minoritário ou de um passado 
de pobreza. Você pode ser alguém de meia-idade ou mais velho. Mesmo 
assim, outras conclusões provavelmente se seguem. Você provavelmente 
teve de se esforçar para chegar onde está; talvez você tenha tido de supe-
rar reações hostis de amigos e de outros quando contou a eles que estava 
pretendendo ir à faculdade; ou talvez você esteja combinando Ensino 
Superior com paternidade em tempo integral.
Embora sejamos influenciados pelos contextos sociais em que nos encon-
tramos, nenhum de nós está simplesmente determinado em nosso com-
portamento por aqueles contextos. Possuímos e criamos nossa própria 
individualidade. É trabalho da Sociologia investigar as conexões entre o 
que a sociedade faz de nós e o que fazemos de nós mesmos. Nossas atividades 
tanto estruturam – modelam – o mundo social ao nosso redor como, ao 
mesmo tempo, são estruturadas por esse mundo social.
O conceito de estrutura social é importante na Sociologia. Ele se refere ao 
fato de que os contextos sociais de nossas vidas não consistem apenas 
em conjuntos aleatórios de eventos ou ações; eles são estruturados ou 
padronizados de formas distintas. Há regularidades nos modos como nos 
comportamos e nos relacionamentos que temos uns com os outros. Mas 
a estrutura social não é como uma estrutura física, como um edifício que 
existe independentemente das ações humanas. As sociedades humanas 
estão sempre em processo de estruturação. Elas são reestruturadas a todo 
o momento pelos próprios “blocos de construção” que as compõem – os seres 
humanos como você e eu.
Atividades
1. Explique a seguinte afirmação: “A imaginação sociológica capacita seu possuidor a 
compreender o cenário histórico mais amplo, em termos de seu significado para a 
vida íntima e para a carreira exterior de numerosos indivíduos. Permite-lhe levar em 
conta como os indivíduos, na agitação de sua experiência diária, adquirem frequen-
temente uma consciência falsa de suas posições sociais. Dentro dessa agitação, busca- 
-se a estrutura da sociedade moderna, e dentro dessa estrutura são formuladas as 
 A promessa e as tarefas das Ciências Sociais1
Sociologia Geral20
psicologias de diferentes homens e mulheres. Através disso, a ansiedade pessoal dos 
indivíduos é focalizada sobre fatos explícitos e a indiferença do público se transfor-
ma em participação nas questões públicas” (MILLS, 1965, p. 11-12).
2. Explique as condições históricas que permitiram o surgimento das Ciências Sociais.
3. Qual o objeto de estudo das diferentes Ciências Sociais? É possível delimitar frontei-
ras entre elas? Justifique sua resposta.
Referências
GIDDENS, Anthony. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005.
HOBSBAWM, Eric J. A Era das Revoluções: 1789-1848. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.
INKELES, Alex. O que é Sociologia? São Paulo: Pioneira, 1974.
WEBER, Max. História geral da Economia. São Paulo: Abril Cultural, 1980. (Coleção Os Pensadores).
WRIGHT MILLS, C. A imaginação sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1965.
 Resolução 
1. A imaginação sociológica permite a cada um de nós se compreender como produto e 
produtor da vida social e, por isso, compreender-se como ser historicamente condi-
cionado, cujas possibilidades e limitações na vida são, em grande parte, circunscritas 
pela estrutura da nossa sociedade num determinado momento da história mundial.
2. A partir do século VXIII, quando se deixou de acreditar que a construção humana 
era obra de um processo divino e as vozes da razão e do empirismo começaram a 
ser aceitas, surgiu a necessidade de se refletir cientificamente sobre a realidade e a 
estrutura social. Isso se deu especialmente em um contexto de revoluções (Revolu-
ção Francesa, Revolução Industrial), grandes guerras (Primeira e Segunda Guerras 
Mundiais) e avanço das ciências exatas e biológicas (Newton, Lavoisier, Buffon).
3. O objeto de estudo das Ciências Sociais é o comportamento social determinado pelo 
processo histórico universal. Não há como delimitar a fronteira entre as Ciências 
Sociais, pois coexistem em um estreito inter-relacionamento, no qual todas dialogam 
e se beneficiam dos resultados postulados entre si.
Sociologia Geral 21
2
As sociedades 
industriais capitalistas
A Sociologia é uma ciência recente. Nasceu com o mundo moderno para explicá-lo 
e compreendê-lo. Assim, seu objeto de estudo é a estrutura das sociedades industriais 
capitalistas, denominadas sociedades modernas por Durkheim, capitalismo moderno por 
Max Weber e modo de produção capitalista por Marx e Engels.
Embora Auguste Comte, com a publicação do Curso de Filosofia Positiva, entre 1830 
e 1839, seja considerado o pai da Sociologia, os autores clássicos que mais contribuí-
ram para o seu desenvolvimento foram Émile Durkheim (1858-1917), Max Weber 
(1864-1920) e Karl Marx (1818-1883)1. Esses três autores elaboraram os mais impor-
tantes princípios explicativos da análise sociológica, respectivamente, o princípio da 
causação funcional, da conexão de sentido e da contradição dialética e se tornaram 
referências fundamentais para os autores contemporâneos e todos aqueles que preten-
dem iniciar-se no estudo da produção sociológica.
1 As obras principais dos clássicos da Sociologia são: Émile Durkheim: A divisão do trabalho social; As regras do método 
sociológico; O suicídio; As formas elementares da vida religiosa; Educação e sociedade. Max Weber: Metodologia das Ciências 
Sociais; A ética protes tante e o espírito do capita lismo; História geral da econo mia; Economia e sociedade; Ciência e política: 
duas vocações. Karl Marx: Manuscritos eco nômicos e filosóficos de Paris de 1844; A ideologia alemã (em colaboração com 
F. Engels); Miséria da filosofia; Manifesto do Partido Comunista (em colaboração com F. Engels); O 18 Brumário de Luis 
Bonaparte; Salário, preço e lucro; Trabalho assalariado e capital; Contribuição à crítica da economia política; A luta de classes 
na França; Grundrisse e, a mais importante, O Capital: crítica da economia política.
As sociedades industriais capitalistas2
Sociologia Geral22
Da aplicação desses princípios à análise da estrutura social resultaram explicações e 
interpretações diferentes, isto é, teorias diferentes sobre o mesmo objeto de estudo: a socie-
dade capitalista, cujas características fundamentais foram nos apresentadas por esses três 
autores, ao mesmo tempo, fornecendo os princípios metodológicos para o desenvolvimento 
da pesquisa empírica.
2.1 Émile Durkheim
Para Durkheim, a característica principal das sociedades modernas é a divisão do traba-
lho social. Ao promover a interdependência das funções profissionais especializadas, a divi-
são do trabalho social, que tem como origem o aumento da população, gera a solidariedade 
orgânica, ou seja, um novo tipo de coesão ou integração social que nasce do reconhecimento 
coletivo da complementariedade das atividades individuais diferenciadas, assegurando a 
existência e o funcionamento da sociedade e, consequentemente, a satisfação das necessida-
des individuais de um maior número de pessoas.
Figura 1 – Émile Durkheim.
FONTE: Wikimedia Commons.
Compreenda-se que, para Durkheim, a vida social só é possível porque existe uma cons-
ciência coletiva, ou seja, um conjunto de crençase sentimentos comuns aos de uma determina-
da sociedade que forma um sistema específico com vida própria. Ou, ainda: 
Vídeo
As sociedades industriais capitalistas
Sociologia Geral
2
23
a sociedade não é simples soma de indivíduos, e sim sistema formado pela sua 
associação, que representa uma realidade específica com seus caracteres pró-
prios. Sem dúvida, nada se pode produzir de coletivo se consciências particula-
res não existirem; mas esta condição necessária não é suficiente. É preciso ainda 
que as consciências estejam associadas, combinadas, e combinadas de determi-
nada maneira; é desta combinação que resulta a vida social, e, por conseguinte, é 
esta combinação que a explica. (DURKHEIM, 1971, p. 71)
Assim, a vida social é possível porque existe uma consciência coletiva que se impõe e, 
portanto, é compartilhada pelas consciências individuais. Desse compartilhamento, nasce a 
coesão social ou a solidariedade social.
Nas “sociedades simples” (hordas, clãs, tribos), marcadas por uma divisão rudimen-
tar do trabalho social, dado o pequeno número de pessoas que as compõem, predomina 
a “solidariedade mecânica” que nasce de crenças e sentimentos compartilhados por todos 
os membros da sociedade. Nelas, o conteúdo da consciência coletiva é o culto à própria 
sociedade, mantendo-se o respeito total e absoluto às suas crenças e sentimentos. Por isso, 
nas sociedades simples, os indivíduos são totalmente envolvidos pela consciência coletiva, 
havendo quase nenhuma controvérsia entre eles. 
Mas, à medida que acontece o desenvolvimento da divisão do trabalho social, os senti-
mentos comuns se atenuam, porque as atividades sociais se modificam, diferenciando os indi-
víduos entre si nas suas crenças e ações. A consequência inevitável disso é o desenvolvimento 
do individualismo, que se torna o novo conteúdo da consciência coletiva nas sociedades mo-
dernas. A divisão do trabalho social é, portanto, a condição criadora da liberdade individual 
e, ao mesmo tempo, de um novo tipo de solidariedade social que, como vimos, nasce do sen-
timento dos laços de interdependência dos indivíduos que, ao desempenharem funções dife-
renciadas, contribuem uns com os outros para a satisfação das necessidades de todos.
Essa seria, pois, a função social da divisão do trabalho social, isto é, o efeito social útil 
que produz, expresso na solidariedade orgânica, integração ou coesão social de um novo 
tipo de sociedade. Surgiu, a partir da análise dos efeitos sociais úteis dos fatos ou fenôme-
nos sociais, o princípio explicativo da causação funcional que permeia toda a obra de Émile 
Durkheim. Lembrando que, se Adam Smith, no livro A riqueza das nações, de 1776, já havia 
demonstrado a função econômica da divisão do trabalho – o aumento da produtividade do 
trabalho, a redução dos custos da produção e o barateamento das mercadorias –, Durkheim 
apenas se interessa por seus efeitos sociais nas mais diferentes esferas da vida em sociedade.
2.2 Max Weber
Para Max Weber, o traço característico do capitalismo moderno é a 
 racionalidade da conduta em todas as dimensões da vida. Essa racionalidade 
funciona como fundamental princípio norteador da vida econômica que se 
manifesta na multiplicação de empresas, por meio das quais todas as necessi-
dades de um grupo humano são satisfeitas.
Vídeo
As sociedades industriais capitalistas2
Sociologia Geral24
Figura 2 – Max Weber.
Fonte: Wikimedia Commons.
Weber (1980, p. 123) afirma que “O capitalismo existe onde quer que se realize a satis-
fação de necessidades de um grupo humano, com caráter lucrativo e por meio de empresas, 
qualquer que seja a necessidade de que se trate”. No entanto, o capitalismo moderno surgiu 
apenas na segunda metade do século XVIII com a organização racional do trabalho, ou seja, 
com o desenvolvimento da organização empresarial. Isso se deu apenas no Ocidente, onde 
havia as condições culturais suficientes e necessárias para tal.
O fato de tal desenvolvimento haver se verificado no Ocidente, deve-se aos traços 
característicos de cultura, peculiares a esta parte da Terra. Só o Ocidente conhece 
o Estado, no sentido moderno da palavra, com administração orgânica e relativa-
mente estável, funcionários especializados e direitos políticos. Os indícios destas 
instituições na Antiguidade e no Oriente, não alcançaram pleno desenvolvimen-
to. Só o Ocidente reconhece um direito racional, criado pelos juristas, interpretado 
e empregado racionalmente. Só no Ocidente se encontra um conceito de cidadão 
(civis romanus, citoyen, bourgeois), porque, só no Ocidente, se deu uma cidade no 
sentido específico da palavra. Além disso, só o Ocidente possui uma ciência no 
sentido atual. Teologia, filosofia, meditação sobre os problemas da vida foram 
conhecidas pelos chineses e indianos, aliás, com uma profundidade como nunca 
foi sentida pelo povo europeu. Uma ciência racional e uma técnica racional foram 
coisas desconhecidas para aquelas culturas. Finalmente, a Cultura Ocidental se 
distingue de todas as demais, isto pelo fato da existência de pessoas possuidoras 
de uma ética racional da existência. Em todos os lugares encontramos a magia e a 
religião: entretanto, só é peculiar do Ocidente o fundamento religioso do regime 
de vida, cujo resultado tinha de ser o racionalismo específico. (WEBER, 1980, 
p. 146, grifos do original)
As sociedades industriais capitalistas
Sociologia Geral
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25
Logo, entendemos que o processo de racionalização do mundo ocidental nas suas dife-
rentes manifestações, na visão de Max Weber, é condição necessária para o surgimento do 
capitalismo moderno e compreensão do significado do princípio explicativo da conexão de 
sentido. Com efeito, a racionalização do mundo ocidental é o processo de diferen ciação das 
esferas de valor e de ação, antes unificadas pela religião. Desta forma, a racionalidade passa a 
reger as diferentes dimensões da atividade social. A partir daí, valores distintos, muitas vezes 
em conflito, orientam as ações sociais, em que o sentido subjetivo a elas atribuído pelo sujeito, 
cabe às Ciências Sociais e, especificamente à Sociologia, compreender e interpretar.
2.3 Karl Marx
Para Marx, a especificidade do modo de produção capitalista reside na 
extração da mais-valia, isto é, numa nova modalidade de exploração do tra-
balho, substituindo a escravidão e a servidão que caracterizaram, respecti-
vamente, o modo de produção antigo e o modo de produção feudal, e que se 
constitui na fonte principal dos lucros do capitalista. A mais-valia correspon-
de à diferença entre o valor das mercadorias produzidas pelo trabalhador 
e o valor de sua força de trabalho (capacidade para trabalhar), expressa no 
salário. O trabalhador produz muito mais valor (riqueza na forma de mer-
cadorias) do que recebe em troca pela única mercadoria que possui e que é 
obrigado a vender no mercado de trabalho para sobreviver: a sua força de 
trabalho. 
Figura 3 – Karl Marx.
Fonte: Wikimedia Commons.
Vídeo
As sociedades industriais capitalistas2
Sociologia Geral26
Para Marx, a origem da exploração do trabalho é a propriedade privada dos meios de 
produção, responsável também pela divisão social do trabalho entre trabalho intelectual e 
trabalho material.
A classe que dispõe dos meios de produção material dispõe igualmente dos 
meios de produção intelectual, de tal modo que o pensamento daqueles a quem 
são recusados os meios de produção intelectual está submetido igualmente à 
classe dominante2. (MARX; ENGELS, 1978, p. 56)
Assim, no modo de produção capitalista, os proprietários do capital realizam o traba-
lho intelectual e são os produtores da consciência, da ideologia, da visão de mundo, isto é, 
da superestrutura social, composta da estrutura jurídico-política e ideológica. A ideologia 
dominante é imposta aos não proprietários dos meios de produção, produtores das condi-
ções materiais de vida, ou seja, da infraestrutura. Ela é a representação mental das condições 
de vida da classe dominante, muito distintasda classe dominada. A ideologia é sempre falsa 
consciência do mundo e, por isso, conduz à alienação, isto é, à incapacidade de compreender 
a realidade e de sobre ela exercer controle.
As classes sociais, por ocuparem posições diferentes no processo de produção da riqueza, 
têm interesses econômicos divergentes, razão pela qual estão permanentemente em relações 
sociais de conflito (latente ou manifesto, como nas greves, nos movimentos sociais, nas reivin-
dicações por melhores condições de vida). 
No Manifesto do Partido Comunista, de 1848, Marx e Engels afirmam que 
A história de toda sociedade existente até hoje tem sido a história das lutas de 
classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, mestre de cor-
poração e companheiro, numa palavra, o opressor e o oprimido permaneceram 
em constante oposição um ao outro, levada a efeito numa guerra ininterrupta, 
ora disfarçada, ora aberta, que terminou, cada vez, ou pela reconstituição revolu-
cionária de toda a sociedade ou pela destruição das classes em conflito. (MARX; 
ENGELS, 1978, p. 94)
Assim, para esses autores, as transformações do modo de produção vigente nos diferen-
tes momentos da história da humanidade (no Ocidente, modo de produção antigo, modo de 
produção feudal e modo de produção capitalista) resultaram da luta de classes, da contradi-
ção dialética entre os interesses das classes sociais.
Nas sociedades capitalistas, a luta de classes foi simplificada. “A sociedade global 
 divide-se cada vez mais em dois campos hostis, em duas grandes classes que se defron-
tam – a burguesia e o proletariado” (MARX; ENGELS, 1978, p. 94). Da luta entre essas duas 
classes surgiu um novo modo de produção, fundado na propriedade coletiva dos meios de 
produção, pondo fim à exploração do trabalho e à existência das classes sociais: o modo de 
produção comunista, no encerramento da fase de transição do capitalismo para a ditadura 
do proletariado, ou seja, do socialismo para o comunismo.
2 Atente-se para o fato de que Marx se refere à divisão social do trabalho e não à divisão do traba-
lho social, como Durkheim. Os significados dessas expressões são muito diferentes, porque enquanto 
Marx se refere à origem da divisão do trabalho, Durkheim se refere à especialização das funções so-
ciais, sem preocupar-se com a sua origem.
As sociedades industriais capitalistas
Sociologia Geral
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A destruição do modo de produção capitalista acontecerá pela emergência da con-
tradição dialética entre desenvolvimento das forças produtivas materiais (capacidade de 
produção de uma sociedade) e as relações sociais de produção entre capitalistas e assala-
riados. O fato é que ao revolucionar constantemente os meios de produção para enfrentar a 
acirrada competição nos mercados de bens, a burguesia vai cavando sua própria cova, visto 
que ao substituir trabalhadores por máquinas, sempre mais sofisticadas, gera desemprego 
em massa e impede a reprodução do próprio capital por impedir o consumo da produ-
ção cada vez mais diversificada e em grande escala. Emerge, então, a contradição dialética 
entre a acumulação da riqueza, de um lado, e, de outro, a acumulação da pobreza, parali-
sando o próprio processo de produção da riqueza e contribuindo para o fortalecimento da 
organização política dos trabalhadores, cujo resultado é o rompimento das relações sociais 
capitalistas pela revolução comunista.
A Sociologia, ainda hoje, continua subsidiada pelas obras dos três clássicos aqui rapi-
damente apresentados, pois os autores contemporâneos têm construído novos esquemas de 
explicação teórica a partir da sua total rejeição, da sua reformulação ou ainda da sua amplia-
ção, na tentativa de acompanhar e compreender o processo histórico que se manifesta em 
 situações por aquelas obras não contempladas.
Como Durkheim, Weber e Marx fundamentam suas teorias em princípios epistemoló-
gicos distintos (respectivamente, Positivismo, Sociologia da Compreensão e Materialismo 
Histórico e Dialético), em nenhuma hipótese é possível utilizar conceitos por eles elabo-
rados de maneira indistinta, porque seu poder explicativo se circunscreve no conjunto da 
teoria que lhes deu origem. No entanto, pode-se elencar as características peculiares das 
sociedades capitalistas contemporâneas utilizando as indicações que eles nos legaram, mui-
to embora as tenham explicado diferentemente. Assim, reunimos a seguir os componentes 
essenciais da estrutura das sociedades capitalistas.
2.4 A estrutura das sociedades 
industriais capitalistas
Os princípios norteadores das relações sociais e da organização das di-
ferentes dimensões da vida social podem ser assim apresentados:
• Trabalho livre, decorrente do primeiro artigo da Declaração dos 
Direitos do Homem e do Cidadão, segundo o qual todos os homens 
nascem livres e iguais perante a lei, condição necessária para a 
existência do mercado livre de trabalho e para a transformação da 
força de trabalho em mercadoria, isto é, trabalho assalariado.
Um mercado de trabalho livre existe quando e somente quan-
do os trabalhadores (seguindo a conhecida frase de Marx) são 
livres no duplo sentido, ou seja, “como pessoas livres, podem 
dispor de sua força de trabalho como mercadoria própria” e 
“são desprovidos de tudo o mais necessário à realização de sua 
Vídeo
As sociedades industriais capitalistas2
Sociologia Geral28
força de trabalho”. Um mercado de trabalho pressupõe a ausência de proprieda-
de em dois sentidos: o trabalhador não pode estar vinculado a um proprietário 
como um material componente da produção, nem pode controlar propriedade 
e, portanto, suas próprias chances de garantir uma existência fora do mercado 
de trabalho. O trabalhador não pode ser propriedade de alguém nem possuir 
propriedade. (OFFE, 1989, p. 72)
• Instituição da propriedade privada dos meios de produção, isto é, do capital, a 
todos acessível juridicamente, porém, na prática, só é acessível a alguns poucos, 
origem da contradição entre igualdade jurídica e desigualdade de fato.
• Desigualdade de fato, expressa na formação de classes sociais, que consiste na 
formação de grupos de pessoas que ocupam diferentes posições no processo de 
produção da riqueza, essas são determinadas pela posse ou não dos meios de 
produção. Desse restrito acesso de fato à propriedade do capital, nascem as duas 
grandes classes sociais das sociedades capitalistas: a dos proprietários do capital 
(capitalistas ou burguesia) e a classe dos não proprietários do capital (proletaria-
do ou classe assalariada) que vive da venda de sua força de trabalho no mercado 
livre em troca de um salário; as relações de produção entre proprietários e não 
proprietários dos meios de produção são regulamentadas por um contrato livre de 
trabalho que poderá ser rompido a qualquer momento por uma das partes.
• Luta de classes, latente ou manifesta, devido ao conflito de interesses econômicos 
das classes e/ou grupos sociais. Os conflitos manifestos se expressam nos movi-
mentos reivindicatórios e/ou grevistas, e os latentes são subjacentes às relações 
sociais entre as classes e, por isso, são permanentes.
• Divisão racional do trabalho, cujo critério único é a competência profissional e a 
capacitação técnica dos trabalhadores e divisão tecnológica do trabalho no interior 
das empresas.
• Economia de mercado, que consiste em uma estrutura econômica organizada para 
a produção de mercadorias, ou seja, a produção em larga escala de bens e pres-
tação de serviços para a troca por dinheiro no mercado de bens e serviços, com 
fundamento na livre iniciativa e na livre competição, embora parcialmente regu-
lamentada pelo Estado.
• Produção de bens e prestação de serviços por empresas, com caráter permanente e 
racionalmente organizadas para a obtenção de lucros, que tem como origem prin-
cipal a exploração do trabalho, ou seja, a extração da mais-valia, que é, a diferença 
entre o que foi efetivamente produzido pelo trabalhador e o que lhe foi pago em 
forma de salário: o trabalhadorsempre produz mais do que recebe.
• Estado Moderno, fundado no Direito Racional e na autoridade legal-racional, 
cuja legitimidade advém da crença na superioridade da lei racionalmente elabo-
rada pelo poder legislativo, representante da vontade do povo; Nele governa-se 
em nome da lei para fazer cumpri-la. Ela estabelece a separação entre os poderes 
executivo, legislativo e judiciário e, numa democracia plebiscitária, os cidadãos 
As sociedades industriais capitalistas
Sociologia Geral
2
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escolhem seus governantes através de eleições livres. O Estado Moderno é ad-
ministrado burocraticamente, com funcionários de carreira que ocupam cargos 
para os quais foram nomeados após terem demonstrado, pela via de concursos 
públicos, competência técnica para tal, ou, como se afirmou anteriormente, pela 
escolha soberana dos cidadãos para a ocupação de cargos no executivo e no po-
der legislativo.
• Direito Racional, isto é, direito calculável, como condição necessária para a exis-
tência das sociedades capitalistas modernas, pois, como afirma Max Weber (1980, 
p. 124), “Para que a exploração econômica capitalista proceda racionalmente pre-
cisa confiar em que a justiça e a administração seguirão determinadas pautas”.
• Secularização e racionalização e/ou intelectualização da cultura, herdada da filo-
sofia racionalista do século XVIII, cujas expressões mais importantes são a ciência, 
a técnica racional, o Estado Moderno e a razão como princípio organizador de 
todas as dimensões da vida.
• Técnica racional para a mecanização, automatização e informatização da produ-
ção e da prestação de serviços, isto é, industrialização, para a produção em larga 
escala de todas as mercadorias, característica das sociedades industriais.
2.5 As empresas
A produção de bens e a prestação de serviços no interior de empresas com 
caráter permanente e racionalmente organizadas formam um traço distintivo 
das sociedades industriais capitalistas, pois, em nenhum outro momento da 
história da humanidade, a satisfação das necessidades sociais dependeu delas 
totalmente. 
Sem dúvida, só podemos dizer que toda uma época é tipicamente 
capitalista quando a satisfação de necessidades se acha, segundo 
o seu centro de gravidade, orientada de tal maneira que, se ima-
ginamos eliminada esta classe de organização, fica em suspenso 
a satisfação das necessidades. (WEBER, 1980, p. 124)
Embora, ainda segundo Max Weber, encontremos várias formas de capi-
talismo ao longo dos tempos, foi apenas com a organização empresarial e per-
manente do trabalho que surgiu o capitalismo moderno, isto é, o capitalismo 
racional.
Encontramos, primeiramente, por toda a parte, e nas épocas mais 
diferentes, tipos de um capitalismo irracional: empresas capitalis-
tas que tinham por finalidade o arrendamento dos tributos (tanto 
no Ocidente como na China, e na Ásia Menor) e outras espécies 
de contribuições para financiar a guerra (na China e na Índia, na 
época dos Estados parciais); capitalismo mercantil de tipo especu-
lativo, tal como os mercadores o conheceram, quase sem exceção 
Vídeo
As sociedades industriais capitalistas2
Sociologia Geral30
em todas as épocas da história; e capitalismo usuário, que, através do empréstimo, 
explora as necessidades alheias. [...] Todas estas foram, somente, circunstâncias 
econômicas de caráter irracional, sem que jamais surgisse delas um sistema de or-
ganização do trabalho. O capitalismo racional tem em conta as possibilidades do mer-
cado, isto é, oportunidades econômicas no sentido mais estrito do termo: quanto 
mais racional for mais se baseia na venda para grandes massas e na possibilidade 
de abastecê-las. Este capitalismo, elevado à categoria de sistema, apenas se con-
segue no desenvolvimento moderno Ocidental, nos fins da Idade Média. (1980, 
p. 157, grifos do original)
Mas, não só para Weber, as empresas constituem um dos traços distintivos e fundamen-
tais das sociedades capitalistas, para Marx, as empresas racionalmente organizadas para a 
produção das mercadorias representam a característica mais significativa do novo modo 
de produção, porque é no seu interior que a nova modalidade de exploração do trabalho, a 
extração da mais-valia, se realiza, tornando-se a fonte principal dos lucros do capitalista e o 
fator determinante da reprodução do capital. E quanto mais racional for a organização do 
trabalho, maior será a taxa da mais-valia e, portanto, a taxa de lucros. 
O trabalhador trabalha sob o controle do capitalista, a quem pertence seu trabalho. 
O capitalista cuida em que o trabalho se realize de maneira apropriada e em que se 
apliquem adequadamente os meios de produção, não se desperdiçando matéria-
-prima e poupando-se o instrumental de trabalho, de modo que só se gaste deles o 
que for imprescindível à execução do trabalho. (MARX, 1971, p. 209)
Assim, o Livro I de O Capital, O processo de produção capitalista, dedica-se inteiramente 
à análise do processo de produção capitalista que se realiza no interior das empresas, cuja 
maior preocupação é a de organizar racionalmente o processo de trabalho para permitir o 
aumento da sua produtividade e, consequentemente, dos lucros dos capitalistas. 
A divisão tecnológica do trabalho, que consiste na decomposição do processo de traba-
lho em operações simplificadas realizadas por trabalhadores diferentes, ainda no período 
manufatureiro, é uma das expressões da racionalização das empresas.
Decompondo o ofício manual, especializando as ferramentas, formando os tra-
balhadores parciais, grupando-os e combinando-os num mecanismo único, a 
 divisão manufatureira do trabalho cria a subdivisão qualitativa e a proporciona-
lidade quantitativa dos processos sociais de produção; cria assim determinada 
organização do trabalho social e, com isso, desenvolve ao mesmo tempo nova 
força produtiva social do trabalho. A divisão manufatureira do trabalho, nas 
bases históricas dadas, só poderia surgir sob forma especificamente capitalista. 
(MARX, 1971, p. 417)
Mas, sem dúvida, a expressão mais significativa da organização racional do trabalho é 
a mecanização do processo de produção, com a introdução da maquinaria, que substitui o 
trabalhador, prolonga a jornada de trabalho além do necessário para a sua sobrevivência e 
intensifica o trabalho, aumentando ainda mais a taxa da mais-valia e a taxa de lucros. Esse 
emprego (da maquinaria), 
As sociedades industriais capitalistas
Sociologia Geral
2
31
[...] como qualquer outro desenvolvimento da força produtiva do trabalho, tem 
por fim baratear as mercadorias, encurtar a parte do dia de trabalho da qual pre-
cisa o trabalhador para si mesmo, para ampliar a outra parte que ele dá gratui-
tamente ao capitalista. A maquinaria é meio para produzir mais-valia. (MARX, 
1971, p. 424)
Para Marx, portanto, a divisão do trabalho no interior das empresas tem como obje-
tivo aumentar a produtividade do trabalho e os lucros dos capitalistas, sempre maiores 
com a introdução de sofisticadas tecnologias. Acirra o conflito social, imanente às socie-
dades capitalistas, por intensificar a exploração do trabalho e degradar o trabalhador ao 
 desprofissionalizá-lo, tornando-o um verdadeiro autômato.
Mesmo Durkheim reconhece que as formas contemporâneas da divisão do trabalho 
não podem engendrar solidariedade social, porque a especialização pronunciada das tare-
fas provoca descoordenação das funções e constitui fonte de desintegração por impedir o 
desenvolvimento do sentimento de interdependência, tornando-se patológica.
Independentemente das interpretações teóricas elaboradas pelos clássicos da Sociologia, 
podemos apresentar as características definidoras das empresas a partir de suas obras e, gra-
ças a elas, compreender também o seu surgimento e desenvolvimento como consequência 
das novas condições econômicas, políticas, sociais e culturais que marcaram o Ocidente da 
segunda metade do século XVIII.
Isso significa que, desde sempre, as empresas devem ser pensadas como produto da-
quelascondições permanentemente em processo, em transformação, o que implica afirmar 
que, para conhecê-las, é preciso situá-las historicamente, acompanhando-se o processo his-
tórico universal que as determina, ao mesmo tempo que é por elas determinado. Tarefa 
desafiadora e, por isso mesmo, imensamente interessante.
Pode-se definir a empresa como um grupo de pessoas propositadamente formado e 
racionalmente organizado para a produção em larga escala de bens ou para a prestação de 
serviços, para trocá-los por dinheiro no mercado de bens e serviços, tendo por objetivo único 
a obtenção de lucros. Todas as empresas são organizações, mas nem todas as organizações 
são empresas. O que as distingue é o fato de que somente as empresas têm como meta a 
obtenção de lucros. O exemplo mais ilustrativo de organização é o Estado, a maior de todas 
as organizações, e seus organismos prestadores de serviços à população sem fins lucrativos.
A organização racional das empresas se expressa:
• na divisão racional e tecnológica do trabalho, ou seja, na distribuição das tarefas 
segundo o critério único da competência profissional, da capacitação técnica, de 
seus membros;
• nas diferentes formas de organização do processo de trabalho, fundadas na divi-
são do trabalho e que, ao longo do século XX, foram identificadas como tayloris-
mo, fordismo e toyotismo;
• na existência de normas racionalmente elaboradas que regulamentam o compor-
tamento de seus membros e a execução das tarefas;
As sociedades industriais capitalistas2
Sociologia Geral32
• na estrutura de autoridade hierárquica, como princípio de coordenação das tarefas;
• na aplicação dos métodos e dos conhecimentos científicos ao processo produtivo 
e de prestação de serviços;
• na utilização da mais moderna e sofisticada tecnologia, produto de pesquisa per-
manente, muitas vezes por elas financiada;
• no cálculo econômico permanente, cálculo matemático dos custos da produção, 
das tendências do mercado, das probabilidades de obtenção de lucros e mesmo 
das probabilidades de prejuízos;
• na rápida e adequada reação às condições econômicas, políticas, sociais e culturais, 
nacionais e internacionais, determinantes das condições mercadológicas e de ob-
tenção de lucros, como consequência da análise permanente do processo histórico.
Como grupo de pessoas, a empresa se apresenta como um microcosmo social, desen-
volvendo os mesmos processos sociais que caracterizam a sociedade geral, apenas dela se 
diferenciando por realizarem uma atividade específica para a qual foram socialmente pre-
parados. Assim, tal como na sociedade geral, os membros da empresa desenvolvem ações 
sociais orientados por uma cultura empresarial que se origina na cultura da sociedade como 
um todo, submetem-se à obediência das normas estabelecidas e à estrutura de autoridade 
hierárquica e, ao mesmo tempo, informalmente, elegem seus líderes, ocupam posições dife-
renciadas segundo a sua competência profissional, colaboram e competem entre si, estão em 
conflito permanente com os seus empregadores, lutam por melhores condições de trabalho, 
de salário e de vida, e dependem da situação do mercado de trabalho para a manutenção de 
sua empregabilidade.
Por essas razões, o administrador, para tornar-se realmente competente, deverá adqui-
rir os conhecimentos produzidos pelas Ciências Sociais para compreender o comportamen-
to organizacional nas suas múltiplas determinações, a fim de promover, com a colaboração 
dos trabalhadores, os ajustamentos às condições econômicas, políticas, sociais e culturais, 
nacionais e internacionais, existentes.
 Ampliando seus conhecimentos
O valor do trabalho
(MARX, 1982, p. 28)
Devemos voltar agora à expressão “valor ou preço do trabalho”. Vimos que, 
na realidade, esse valor nada mais é que o da força de trabalho, medido 
pelos valores das mercadorias necessárias à sua manutenção. Mas, como o 
operário só recebe o seu salário depois de realizar o seu trabalho e como, 
ademais, sabe que o que entrega realmente ao capitalista é o seu trabalho, 
ele necessariamente imagina que o valor ou preço de sua força de trabalho 
é o preço ou valor do seu próprio trabalho. Se o preço de sua força de trabalho 
As sociedades industriais capitalistas
Sociologia Geral
2
33
é 3 xelins, nos quais se materializam 6 horas de trabalho, e ele trabalha 12 
horas, forçosamente o operário considerará esses 3 xelins como o valor ou 
preço de 12 horas de trabalho, se bem que estas 12 horas representem um 
valor de 6 xelins. Donde se chega a um duplo resultado:
Primeiro: O valor ou preço da força de trabalho toma a aparência do preço ou 
valor do próprio trabalho, ainda que a rigor as expressões de valor e preço do 
trabalho careçam de sentido.
Segundo: Ainda que só se pague uma parte do trabalho diário do ope-
rário, enquanto a outra parte fica sem remuneração, e ainda que esse tra-
balho não remunerado ou sobretrabalho seja precisamente o fundo de 
que se forma a mais-valia ou lucro, fica parecendo que todo o trabalho é 
trabalho pago.
Essa aparência enganadora distingue o trabalho assalariado das outras for-
mas históricas do trabalho. Dentro do sistema do salariado, até o trabalho 
não remunerado parece trabalho pago. Ao contrário, no trabalho dos escravos 
parece ser trabalho não remunerado até a parte do trabalho que se paga. 
Claro está que, para poder trabalhar, o escravo tem que viver e uma parte 
de sua jornada de trabalho serve para repor o valor de seu próprio sustento. 
Mas, como entre ele e seu senhor não houve trato algum, nem se celebra entre 
eles nenhuma compra e venda, todo o seu trabalho parece dado de graça.
O lucro obtém-se vendendo uma mercadoria 
pelo seu valor
O valor de uma mercadoria se determina pela quantidade total de traba-
lho que encerra. Mas uma parte dessa quantidade de trabalho representa 
um valor pelo qual se pagou um equivalente em forma de salários; outra 
parte se materializa num valor pelo qual nenhum equivalente foi pago. 
Uma parte do trabalho incluído na mercadoria é trabalho remunerado; a 
outra parte, trabalho não remunerado. Logo, quando o capitalista vende 
a mercadoria pelo seu valor, isto é, como cristalização da quantidade total 
de trabalho nela invertido, o capitalista deve forçosamente vendê-la com 
lucro. Vende não só o que lhe custou um equivalente, como também o 
que não lhe custou nada, embora haja custado o trabalho do seu operário. 
O custo da mercadoria para o capitalista e o custo real da mercadoria são 
coisas inteiramente distintas. Repito, pois, que lucros normais e médios se 
obtêm vendendo as mercadorias não acima do que valem e sim pelo seu 
verdadeiro valor.
As sociedades industriais capitalistas2
Sociologia Geral34
 Atividades
1. Apresente e explique as características principais das sociedades industriais capita-
listas segundo as perspectivas teóricas elaboradas pelos clássicos da Sociologia.
2. Qual o traço definidor de uma empresa e como se expressa?
3. Como se explica a desigualdade social de acordo com o pensamento de Marx?
 Referências 
DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1971.
MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. O processo de produção do Capital. Rio de 
Janeiro: Civilização Brasileira, 1971.
MARX, Karl. Salário, Preço e Lucro. In: Coleção Os economistas. São Paulo: Abril Cultural, 1982.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
OFFE, Claus. Capitalismo desorganizado. São Paulo: Brasiliense, 1989.
WEBER, Max. História geral da economia. São Paulo: Abril Cultural, 1980. (Coleção Os Pensadores).
 Resolução 
1. Para Durkheim, a característica principal das sociedades modernas é a divisão do 
trabalho social. Ao promover a interdependência das funções profissionais especia-
lizadas, a divisão do trabalho social, que tem como origem o aumento da população, 
gera a solidariedade orgânica, ou seja, um novo tipo de coesão ou integração social 
que nasce do reconhecimentocoletivo da complementariedade das atividades indi-
viduais diferenciadas, assegurando a existência e o funcionamento da sociedade e, 
consequentemente, a satisfação das necessidades individuais de um maior número 
de pessoas.
Para Max Weber, o traço característico do capitalismo moderno é a racionalidade da 
conduta em todas as dimensões da vida. Essa racionalidade funciona como fundamen-
tal princípio norteador da vida econômica que se manifesta na multiplicação de em-
presas, por meio das quais todas as necessidades de um grupo humano são satisfeitas.
Para Marx, a especificidade do modo de produção capitalista reside na extração da 
mais-valia, isto é, numa nova modalidade de exploração do trabalho, substituindo a 
escravidão e a servidão que caracterizaram, respectivamente, o modo de produção 
antigo e o modo de produção feudal, e que se constitui na fonte principal dos lucros 
do capitalista. A mais-valia corresponde à diferença entre o valor das mercadorias 
produzidas pelo trabalhador e o valor de sua força de trabalho (capacidade para tra-
balhar), expressa no salário. O trabalhador produz muito mais valor (riqueza na for-
As sociedades industriais capitalistas
Sociologia Geral
2
35
ma de mercadorias) do que recebe em troca pela única mercadoria que possui e que 
é obrigado a vender no mercado de trabalho para sobreviver: a sua força de trabalho.
2. Pode-se definir a empresa como um grupo de pessoas propositadamente formado e 
racionalmente organizado para a produção em larga escala de bens ou para a presta-
ção de serviços, para trocá-los por dinheiro no mercado de bens e serviços, tendo por 
objetivo único a obtenção de lucros. Todas as empresas são organizações, mas nem 
todas as organizações são empresas. O que as distingue é o fato de que somente as 
empresas têm como meta a obtenção de lucros. O exemplo mais ilustrativo de orga-
nização é o Estado, a maior de todas as organizações, e seus organismos prestadores 
de serviços à população sem fins lucrativos.
3. Para Marx, a desigualdade social surge a partir da separação e estratificação das 
classes sociais, que por sua vez se formam pela posse ou não dos meios de produção 
material e, consequentemente, intelectual.
Sociologia Geral 37
3
As diferentes formas 
de administração do 
processo de trabalho no 
capitalismo moderno
3.1 A acumulação primitiva do capital
A estrutura econômica da sociedade capitalista tornou-se possível 
graças à acumulação primitiva do capital ainda na estrutura econômica 
da sociedade feudal, anterior, portanto, à acumulação capitalista, como 
resultado de “processos idílicos” (aventureiros), sobretudo violentos, de 
obtenção de riquezas.
Vídeo
As diferentes formas de administração do processo de 
trabalho no capitalismo moderno3
Sociologia Geral38
As descobertas de ouro e de prata na América, o extermínio, a escravização das 
populações indígenas, forçadas a trabalhar no interior das minas, o início da 
conquista e pilhagem das Índias Orientais e a transformação da África num vas-
to campo de caçada lucrativa são os acontecimentos que marcam os albores da 
era da produção capitalista. Esses processos idílicos são fatores fundamentais da 
acumulação primitiva. Logo segue a guerra comercial entre as nações europeias, 
tendo o mundo por palco. Inicia-se com a revolução dos Países Baixos contra a 
Espanha, assume enormes dimensões com a guerra antijacobina da Inglaterra, 
prossegue com a guerra do ópio contra a China etc.
Os diferentes meios propulsores da acumulação primitiva se repartem numa or-
dem mais ou menos cronológica por diferentes países, principalmente Espanha, 
Portugal, Holanda, França e Inglaterra. Na Inglaterra, nos fins do século XVII, 
são coordenados através de vários sistemas: o colonial, o das dívidas públicas, 
o moderno regime tributário e o protecionismo. Esses métodos se baseiam em 
parte na violência mais brutal, como é o caso do sistema colonial. Mas, todos 
eles utilizavam o poder do estado, a força concentrada e organizada da socieda-
de para ativar artificialmente o processo de transformação do modo feudal de 
produção no modo capitalista, abreviando assim as etapas de transição. A força 
é o parteiro de toda sociedade velha que traz uma nova em suas entranhas. Ela 
mesma é uma potência econômica. (MARX, 1971, p. 868)
Max Weber também se refere aos processos de acumulação da riqueza anterio-
res ao capitalismo moderno que caracterizaram as formas de capitalismo irracional. 
Dentre esses processos, 
[...] a ocupação e exploração de grandes regiões fora da Europa. As aquisições 
coloniais dos Estados europeus deram lugar, em todos eles, a uma gigantesca 
acumulação de riquezas dentro da Europa. O meio empregado para este acú-
mulo de riquezas foi o monopólio dos produtos coloniais, as possibilidades de 
colocação nas colônias, isto é, o direito de transportar-lhes as mercadorias, e, 
finalmente, as oportunidades de ganho que oferecia o transporte, mesmo entre 
a metrópole e as colônias, tal como foram asseguradas pela Ata de Navegação 
Inglesa, de 1651. Tal acumulação de riquezas ficou garantida, sem exceção, por 
todos os países, mediante o exercício do poder, o que se revestiu de várias for-
mas, isto é, o Estado tirava das colônias lucros imediatos; administrando dire-
tamente suas riquezas, ou cedendo-as a determinadas sociedades, em troca de 
certos pagamentos. (WEBER, 1980, p. 136)
Assim, se a acumulação primitiva do capital foi obtida mediante atividades aventu-
reiras, a acumulação do capital nas sociedades modernas resulta da eficácia e eficiência da 
administração empresarial, isto é, da capacidade de explorar ao máximo, racionalmente, 
todos os recursos, meios e fatores da produção. O que resulta, portanto, da organização ra-
cional do trabalho no interior das empresas, do cálculo econômico permanente e da análise 
racional, probabilística em termos matemáticos, dos mercados nacionais e internacionais, 
frutos de múltiplas determinações: econômicas, políticas, sociais e culturais universais.
As diferentes formas de administração do processo de 
trabalho no capitalismo moderno
Sociologia Geral
3
39
Neste capítulo, a atenção se volta para as implicações sociais e humanas do 
processo de racionalização do interior das empresas, isto é, das diferentes formas 
de organização racional do processo de trabalho que marcaram o século XX e de-
terminaram, em grande parte, os mercados de trabalho.
3.2 A divisão tecnológica do trabalho
A primeira expressão da racionalização do interior das empresas industriais 
foi a divisão do processo de trabalho em operações especializadas atribuídas a di-
ferentes trabalhadores, já no século XVIII, conforme nos demonstrou Adam Smith 
(1937, p. 4) em A riqueza das nações: 
Um homem estica o arame, outro o retifica e um terceiro o corta; um 
quarto faz a ponta e um quinto prepara o topo para receber a cabeça; 
a cabeça exige duas ou três operações distintas: colocá-la é uma fun-
ção peculiar, branquear os alfinetes é outra e até alinhá-los num papel 
é uma coisa separada: e o importante na fabricação de um alfinete é 
deste modo dividido em cerca de dezoito operações que, em algumas 
fábricas, são executadas por mãos diferentes, embora em outras o mes-
mo homem às vezes execute duas ou três delas.
Os efeitos econômicos altamente positivos da divisão do trabalho devem-se, 
segundo Smith, a três diferentes circunstâncias: 
ao aumento da destreza de cada trabalhador individualmente; segun-
da, à economia de tempo que em geral se perde passando de uma es-
pécie de trabalho a outra; e, finalmente, à invenção de grande número 
de máquinas que facilitam e abreviam o trabalho, e permitem que um 
homem faça o trabalho de muitos. (SMITH, 1937, p. 7)
Ao longo do século XIX, a divisão do processo de trabalho acentuou-se e foi 
por Marx denominada divisão tecnológica do trabalho por conformar-se às exigências 
da introdução de novos instrumentais de trabalho, ou seja, às exigênciasde um 
sistema de máquinas que, ao desenvolver-se, propiciou uma total reorganização do 
interior da fábrica.
No entanto, até o final daquele século, o trabalho industrial ainda era realizado 
por operários profissionais, conhecedores da matéria-prima e de todas as etapas de 
sua transformação num produto final. Seu conhecimento advinha da experiência 
vivida no chão da fábrica e lhes garantia autonomia profissional. Dada a inexistên-
cia de uma programação da produção, predominava a organização autônoma do 
trabalho do operário profissional, que Alain Touraine, sociólogo francês, qualificou 
de sistema profissional ou Fase A do processo de organização e de qualificação do 
trabalho. A qualificação do operário é, sobretudo, indicada por seu poder de co-
mando e decisão sobre o próprio trabalho a partir do conhecimento da totalidade 
do processo produtivo.
Vídeo
As diferentes formas de administração do processo de 
trabalho no capitalismo moderno3
Sociologia Geral40
Esta independência, essa liberdade profissional do operário em relação à empre-
sa que o emprega é inseparável da unidade profissional das categorias operárias, 
num ofício determinado, unidade fundada na sucessão hierarquizada de níveis 
de aprendizagem e decisão. (TOURAINE, 1973, p. 449)
Nessa fase, a divisão tecnológica do trabalho, em estágio pouco avançado, preservava o 
trabalho profissional altamente qualificado.
3.3 Taylorismo e fordismo
Nas últimas décadas do século XIX, Frederick Taylor1 desenvolveu um novo método de 
organização do processo de trabalho industrial para aumentar o volume de produção, a fim 
de atender a demanda crescente pela conquista de novos mercados e “assegurar o máximo 
de prosperidade ao patrão e, ao mesmo tempo, o máximo de prosperidade ao empregado” 
(TAYLOR, 1966, p. 29), sendo esse o principal objetivo da administração. 
Figura 1 – Frederick Winslow Taylor.
Fonte: Wikimedia Commons.
O ponto de partida da obra de Taylor é a sua constatação de que o trabalhador é, 
por princípio e definição, vadio, trabalhando muito menos do que é fisicamente capaz, tal 
1 Engenheiro norte-americano que ficou conhecido como pai da administração científica, também 
conhecida como taylorismo, pela importância de sua obra, especialmente em Princípios de administração 
científica, publicada em 1911.
Vídeo
As diferentes formas de administração do processo de 
trabalho no capitalismo moderno
Sociologia Geral
3
41
como afirma nessa passagem extravagante que, com certeza, a todos atordoa já pelo título 
“Vadiagem no trabalho”:
Os ingleses e americanos são os povos mais amigos dos esportes. Sempre que um 
americano joga basquetebol ou um inglês joga cricket, pode-se dizer que eles se 
esforçam, por todos os meios, para assegurar a vitória à sua equipe. Fazem tudo 
a seu alcance para conseguir o maior número possível de pontos. O sentimento 
de grupo é tão forte que, se algum homem deixa de dar tudo de que é capaz no 
jogo, é considerado traidor e tratado com desprezo pelos companheiros.
Contudo, o trabalhador vem ao serviço, no dia seguinte, e em vez de empregar 
todo o seu esforço para produzir a maior soma possível de trabalho, quase sem-
pre procura fazer menos do que pode realmente – e produz muito menos do que 
é capaz; na maior parte dos casos, não mais do que um terço ou metade dum 
dia de trabalho, é eficientemente preenchido. E, de fato, se ele se interessasse por 
produzir maior quantidade, seria perseguido por seus companheiros de oficina, 
com mais veemência, do que se se tivesse revelado um traidor no jogo. Trabalhar 
menos, isto é, trabalhar deliberadamente devagar, de modo a evitar a realização de 
toda a tarefa diária, fazer cera, [...] é o que está generalizado nas indústrias e, prin-
cipalmente, em grande escala, nas empresas de construção. (TAYLOR, 1966, p. 32)
Essa citação inicial é bastante esclarecedora da intenção única de Taylor que é a de en-
contrar resposta à pergunta fundamental tanto para o capitalista quanto para o seu prepos-
to: como fazer o trabalhador trabalhar mais? A resposta é o taylorismo.
Ao criar e atribuir à gerência as funções de planejamento e controle do trabalho com o 
estudo de tempos e movimentos para a eficaz realização das tarefas inerentes aos diferentes 
postos de trabalho, de seleção e treinamento do pessoal, de fixação do volume de produção 
a ser obtido de cada um dos trabalhadores, de elaboração de programas de incentivo em di-
nheiro ao trabalhador Taylor fez surgir uma nova estrutura administrativa com fundamento 
na ideia de tarefa e deu início à chamada Fase B ou sistema técnico de organização do trabalho.
A ideia da tarefa é, quiçá, o mais importante elemento na administração cientí-
fica. O trabalho de cada operário é completamente planejado pela direção, pelo 
menos, com um dia de antecedência e cada homem recebe, na maioria dos casos, 
instruções escritas completas que minudenciam a tarefa de que é encarregado e 
também os meios usados para realizá-la. [...] Na tarefa é especificado o que deve 
ser feito e também como fazê-lo, além do tempo exato concebido para a execu-
ção. (TAYLOR, 1966, p. 51)
Partindo do princípio da divisão tecnológica do trabalho e da especiali zação do operá-
rio, Taylor estabeleceu cargos e funções, definindo o conteúdo e o modo de execução das 
tarefas de cada um e suas inter-relações com as dos demais, sob a supervisão da gerência. 
Iniciava-se, assim, o processo de total dissociação entre a concepção do projeto do resultado 
e do processo de trabalho e o trabalho de execução do projeto, o que se resume na dissocia-
ção entre trabalho intelectual e trabalho manual. O operário tornou-se um mero executor de 
tarefas previamente prescritas. 
As diferentes formas de administração do processo de 
trabalho no capitalismo moderno3
Sociologia Geral42
A Fase B é marcada, portanto, pela centralização da organização e do controle da 
produção que permite e aprofunda a fragmentação e a especialização das atividades 
industriais, fazendo surgir o operário especializado ou semiqualificado, simples condu-
tor de máquinas e executor de tarefas preestabelecidas, embora não elimine o trabalho 
qualificado, concentrado, agora, nas oficinas de manutenção e ferramentarias. 
Os operários especializados estão sujeitos à organização centralizada do traba-
lho. Já não representam um potencial profissional suscetível de utilizações di-
versas. Definidos pelo posto de trabalho e, em grande parte, intermutáveis, a sua 
especialização não é análoga à dos operários das manufaturas, cuja habilidade, 
mesmo reduzida à execução de trabalhos parcelares, continuava a ser o princípio 
definitivo. (TOURAINE, 1973, p. 454)
Assim, não mais havia necessidade de “homens extraordinários”, com exceção dos 
membros da gerência. As práticas de seleção e treinamento visavam apenas conhecer as 
aptidões dos candidatos a um emprego e treinar os selecionados de acordo com o método 
planejado. “A seleção, então, não consistiu em achar homens extraordinários, mas simples-
mente em escolher entre homens comuns os poucos especialmente apropriados para o tipo 
de trabalho em vista.” (TAYLOR, 1966, p. 76). Daí deriva o princípio da escolha do homem 
certo para o trabalho certo, cujas qualidades deveriam ser a força física e/ou a rapidez de 
percepção e reação na inspeção de qualquer objeto, mas de todos, sem exceção, a qualidade 
essencial deveria ser a capacidade para a obediência estrita.
Sem dúvida, o taylorismo permitiu aumentar consideravelmente a produtividade do 
trabalho, reduziu os custos de produção e os preços das mercadorias e, sobretudo, permitiu 
aumentar consideravelmente os lucros dos capitalistas, “assegurando ao máximo a pros-
peridade do patrão”. Mas, e quanto à prosperidade do empregado? A “prosperidade do 
empregado”, acreditava Taylor, estaria assim assegurada: 
Na tarefa, é especificado o que deve ser feito e também como fazê-lo, além do 
tempo exato concebido para a execução. E, quando o trabalhador consegue rea-
lizar a tarefadeterminada, dentro do tempo-limite especificado, recebe aumento 
de 30 a 100% do seu salário habitual. (TAYLOR, 1966, p. 51)
A nova organização do trabalho, caracterizada pela centralização e controle da produção 
pela gerência, tornou-se a forma predominante de administração do processo produtivo até 
as últimas décadas do século XX, porque o taylorismo foi aperfeiçoado por Henry Ford I, 
o pai da indústria automobilística, com a introdução, em 1914, de uma inovação tecnológica: 
a esteira automática de produção ou sistema automático de transporte de peças e ferramentas 
para intensificar ainda mais o ritmo de trabalho, agora totalmente controlado pela gerência 
que pode imprimir, com um simples apertar de botão, o ritmo que quiser ao trabalho de todos.
O fordismo caracteriza o que poderíamos chamar de socialização da proposta de 
Taylor, pois, enquanto este procurava administrar a forma de execução de cada 
trabalho individual, o fordismo realiza isso de forma coletiva, ou seja, a admi-
nistração pelo capital da forma de execução das tarefas individuais se dá de uma 
forma coletiva, pela via da esteira. (MORAES NETO, 1989, p. 36)
As diferentes formas de administração do processo de 
trabalho no capitalismo moderno
Sociologia Geral
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43
Figura 2 – Henry Ford.
Fonte: Wikimedia Commons.
Ford, diferentemente de Taylor, considerava o trabalhador não apenas um produtor de 
mercadorias, mas também um consumidor. Por isso, aumentou os salários de seus traba-
lhadores e instituiu a jornada de trabalho de oito horas como incentivo ao consumo, além 
de distribuir alguns benefícios, como: restaurantes, transporte, hospital e assistência social, 
por ter compreendido que a produção padronizada em massa requeria consumo de massa. 
Compreendeu também que o “fordismo” seria adotado nos mais diferentes setores da ativi-
dade econômica, inclusive nos escritórios onde a esteira de produção era movida pelo “office 
boy interno”, e poderia ser responsável pelo surgimento da sociedade de consumo de massa, 
o que de fato aconteceu devido à adoção, na década de 1930, de políticas intervencionistas 
de Estado que tinham por objetivo proteger a economia nacional, regulamentar as relações 
de trabalho e fortalecer os sindicatos, garantindo a elevação dos salários, consequentemente, 
o consumo em massa.
No entanto, é duvidosa a pretensão de Taylor, extensiva ao fordismo, de considerar 
essa forma de administração do processo de trabalho de “científica”. Trata-se muito mais 
de justificar a intensificação do trabalho pela ciência do que propriamente demonstrar o 
caráter verdadeiramente científico dessa organização do trabalho, pois, como ressalta Salm 
(1980, p. 64) “[...] a Ergono mia – estudo dos tempos e movimentos – não pode ser vista como 
algo objetivo, mas sujeito a negociações e compromissos” o que nos permite afirmar que o 
taylorismo/fordismo se fundamentam no conhecimento empírico, mas não propriamente 
científico, dos efeitos positivos da disciplina e obediência rígida às normas da empresa, ra-
cionalmente elaboradas, para o aumento da produtividade do trabalho. 
As diferentes formas de administração do processo de 
trabalho no capitalismo moderno3
Sociologia Geral44
Além disso, deve-se considerar que o acesso da classe operária ao consumo de bens in-
dustrializados, graças ao aumento dos salários e ao baratea mento das mercadorias, foi uma 
razão suficiente para justificar a submissão – não muito passiva, é verdade – a essa nova 
forma de administração do trabalho.
A análise crítica ao taylorismo/fordismo nos remete à questão do conflito de classes 
nas sociedades capitalistas e ao problema fundamental com o qual se defronta o capitalista: 
como obter a colaboração do trabalhador e fazê-lo trabalhar mais e melhor? Em princípio, 
ninguém quer trabalhar para enriquecer o outro em troca apenas de um emprego no qual do 
salário se extrai o estritamente necessário para a sua sobrevivência. O taylorismo e o fordis-
mo foram as respostas encontradas pelo capital, ao longo do século XX, para enfrentar esse 
problema, mas os trabalhadores sempre reagiram – e sempre reagem – às condições impos-
tas, organizando-se politicamente em sindicatos e em movimentos sociais reivindicatórios 
de diferentes naturezas, muitos deles bem-sucedidos que lhes garantiram alguma melhoria 
nas condições de trabalho e de vida. Conciliar interesses divergentes é o desafio maior a ser 
confrontado pelo capital, pelo administrador, pelos governos estabelecidos e pelos próprios 
trabalhadores, num esforço conjunto para a promoção do desenvolvimento e redução da 
desigualdade social.
3.4 Impactos do taylorismo e do 
fordismo sobre o trabalhador
Não há dúvida de que o taylorismo e o fordismo permitiram a melhoria das condições de 
vida para a parcela da classe operária assalariada das grandes corporações, dando-lhe acesso 
ao consumo de bens industrializados, além de terem gerado milhares de empregos nos EUA 
e terem sido responsáveis, em grande parte, pelo seu extraordinário crescimento econômico, 
o que fez do país uma potência mundial. Mas, a que preço? Charles Chaplin, no filme Tempos 
modernos2, produziu a representação artística mais ilustrativa do trabalho infernal das fábricas 
fordistas e a transformação do trabalhador num autômato desvairado, infeliz.
Não faltaram razões para isso, porque esse novo modelo de trabalho provocou fatores 
que influenciaram diretamente a vida pessoal do trabalhador, tais como: 
• A desprofissionalização: os trabalhadores passam a ser responsáveis apenas pela 
execução de uma ou mais tarefas simplificadas, repetitivas e insignificantes, pen-
sadas pela gerência científica, inclusive nos gestos e movimentos necessários para 
realizá-las bem e rapidamente, o que representa a monopolização do saber operá-
rio por essa gerência que, nas palavras de Benjamin Coriat,
se define pela análise do obstáculo que vence: trata-se nada menos que de ex-
propriar aos trabalhadores seu saber [...] não se trata somente de expropriar aos 
trabalhadores seu saber, senão também de confiscar este saber recolhido e 
sistematizado – em benefício exclusivo do capital. [...] o que aqui se instaura 
2 TEMPOS Modernos. Direção: Charles Chaplin. Produção: Charles Chaplin. EUA, 1936. 87 min.
Vídeo
As diferentes formas de administração do processo de 
trabalho no capitalismo moderno
Sociologia Geral
3
45
maciçamente é a separação entre trabalho de concepção e de execução, um dos 
momentos-chave da separação entre trabalho manual e intelectual. (CORIAT, 
1976, p. 94)
Essa especialização conduz inexoravel mente à perda da noção de totalidade do 
processo de produção e compromete a capacidade de compreensão do significado 
do próprio trabalho, sendo causa de profunda insatisfação e sentimento de frustra-
ção por impossibilitar a realização das potencialidades intelectuais e a satisfação 
das necessidades de autoestima e autorrealização, raiz da tendência ao absenteís-
mo, desperdício de material, negligência, acidentes de trabalho, turnover (rodízio 
de pessoal), alcoolismo, drogas, stress, Lesão por Esforço Repetitivo (LER), fadiga 
constante etc. e da resistência às condições impostas através de movimentos sindi-
cais, alguns marcados por extrema violência.
• a monopolização do saber pela gerência científica: isso reduz o poder de barganha 
da classe trabalhadora, cujos movimentos de resistência, sindicais, tornaram-se 
movimentos reivindicatórios por melhorias nas condições de trabalho, aumentos 
salariais e estabilidade no emprego e não mais movimentos visando à reapropria-
ção dos instrumentos de trabalho, de orientação revolucionária.
• A profunda insatisfação com as condições de trabalho: essa é causa da “evasão 
no lazer” em suas mais variadas formas – desde o simples passatempo diante da 
televisão até os esportes agressivos e jogos de azar – como necessidade visceral de 
preencher o vazio da alma e combater o tédio provocado pelo trabalho massacran-
te que é tido como insignificante, desinteressante,repetitivo, alienado e alienante, 
submisso, disciplinado e humilhante.
Tudo aquilo de que se viram privados no trabalho – iniciativa, responsabilida-
de, realização – os trabalhadores buscam reconquistar no lazer. Constatou-se, 
durante os últimos dez anos, uma fantástica proliferação de “manias”, de passa-
tempos (art and craft hobbies), às quais se acrescentam todas as espécies de lazeres 
ativos, fotografia, cerâmica, eletrônica, rádio etc., todas as categorias daquilo que 
Erich Fromm, por seu lado, opondo-se aos serviços “aperta-botão” das máquinas 
automáticas, chama de “do it yourself activities” (atividades “faça você mesmo”). 
Bell acrescenta, que se ajusta plenamente às interpretações que, antes, déramos 
desses fatos: A América viu multiplicar-se o “amador” numa escala até então 
desconhecida. E se nisso há, em si, um bem, ele foi obtido a um preço muito ele-
vado: o da satisfação no trabalho. (FRIEDMANN, 1972, p. 159)
Assim, no século XX, o trabalho ao ser separado do lazer, do prazer, da alegria da busca 
da autoestima e da autorrealização, transformando sua a expe riência e a vivência em casti-
go, punição, expiação do pecado original, tal como o interpretaram as tradições religiosas 
do Ocidente, ofereceu como compensação o alargamento do tempo livre para não só pos-
sibilitar a reposição saudável da força de trabalho e o aumento do consumo da produção 
em massa, mas também (muito embora essa não fosse a intenção) a reversão no e pelo lazer 
das privações do desenvolvimento da individualidade no e pelo trabalho a que submeteram 
milhões de trabalhadores.
As diferentes formas de administração do processo de 
trabalho no capitalismo moderno3
Sociologia Geral46
O taylorismo e o fordismo geraram uma massa de trabalhadores insatisfeitos, entedia-
dos, frustrados, infelizes, alienados de si mesmos, de sua própria natureza, cujas potencia-
lidades não puderam se efetivar na realização de um trabalho arte-criação-ação inteligente 
e transfigurou o papel da Razão na História em racionalidade instrumental das grandes 
organizações racionais do mundo moderno.
A organização racional é, assim, alienadora: os princípios orientadores da conduta 
e da reflexão, e com o tempo também da emoção, não estão centralizados na cons-
ciência individual do homem da Reforma, ou na razão independente do homem 
cartesiano. Os princípios orientadores são, na verdade, alheios e em contradição a 
tudo o que se tem compreendido historicamente como individualidade. Não será 
demais dizer que no desenvolvimento extremo, a possibilidade de razão que tem 
a maioria dos homens é destruída, à medida que a racionalidade aumenta e sua 
localização, seu controle, passa do indivíduo para a organização em grande escala. 
Há, então, racionalidade sem razão. Essa racionalidade não está de acordo com a 
liberdade, sendo, antes, a sua destruidora. (MILLS, 1965, p. 185)
O taylorismo e o fordismo universalizaram-se como forma predominante de organiza-
ção do processo de trabalho no pós-Segunda Guerra Mundial, em 1945, tendo sido um dos 
fatores determinantes da rápida reconstrução da Europa Ocidental e do Japão que, pouco 
mais tarde, desenvolveu o toyotismo, inaugurando a Fase C ou sistema automático de produção, 
por muitos autores denominada produção flexível.
É preciso ressaltar, no entanto, que as consequências positivas, ao contrário das negati-
vas, da predominância do taylorismo/fordismo não se estenderam a toda classe trabalhado-
ra e muito menos a todos os países. A América Latina ainda se debate para extirpar os enor-
mes bolsões de pobreza em todos os seus países, sem contar a disparidade das condições 
de vida entre eles. A competição econômica entre países se acirrou e os conflitos entre eles 
tornaram-se inevitáveis, inclusive os conflitos armados que não deram trégua à humanida-
de um só dia do século XX e neste início do século XXI.
Considera-se também que não foi simples coincidência o aparecimento das diferentes 
teorias de motivação para o trabalho3, a partir dos anos 1950, quando da universalização do 
taylorismo/fordismo e a contratação de psicólogos nas empresas. A simples denominação 
dessas teorias – Teorias de Motivação para o Trabalho – já é razão suficiente para se dar conta 
da dimensão das questões suscitadas pelas novas condições que não atingiram apenas os 
trabalhadores, mas também as empresas, obrigadas a enfrentar os problemas referidos de 
alcoolismo, drogas, negligência, turnover etc., a rever os seus métodos de gestão e a atender 
muitas das reivindicações dos trabalhadores, se quisessem obter a sua colaboração. 
Compreende-se facilmente que, se naquelas condições trabalhar fosse uma atividade 
agradável, não haveria necessidade de se pensar em aplicar técnicas de motivação dos tra-
balhadores originadas de teorias de motivação para o trabalho.
3 As teorias da motivação foram elaboradas por Maslow (1970), Herzberg, Mausner e Snyderman 
(1959) e Argyris (1969).
As diferentes formas de administração do processo de 
trabalho no capitalismo moderno
Sociologia Geral
3
47
3.5 Os Anos Dourados
A maioria dos seres humanos atua como os historiadores: só em 
retrospecto reconhece a natureza de suas experiências. Durante os 
anos 1950, sobretudo nos países “desenvolvidos” cada vez mais 
prósperos, muita gente sabia que os tempos tinham de fato melho-
rado, especialmente se suas lembranças alcançavam os anos anterio-
res à Segunda Guerra Mundial. Um primeiro-ministro conservador 
britânico disputou e venceu uma eleição geral em 1959 com o slogan 
“Você nunca esteve tão bem”, uma afirmação sem dúvida correta. 
Contudo, só depois que passou o grande boom, nos perturbadores 
anos 1970, à espera dos traumáticos 1980, os observadores – sobretu-
do, para início de conversa, os economistas – começaram a perceber 
que o mundo, em particular o mundo do capitalismo desenvolvido, 
passara por uma fase excepcional de sua história; talvez uma fase 
única. Buscaram nomes para descrevê-la: “os trinta anos gloriosos 
dos franceses (les trente glorieuses), a Era de Ouro de um quarto de 
século dos anglo-americanos. O dourado fulgiu com mais brilho 
contra o pano de fundo baço e escuro das posteriores Décadas de 
Crise. (HOBSBAWM, 1995, p. 253)
Esse é o parágrafo inicial das mais de cem páginas da parte dois do livro 
de Eric Hobsbawm, A era dos extremos: O breve século XX - 1914-1991 – dedicada 
exclusivamente a apresentar e analisar as expressões materiais e não materiais 
da prosperidade sem precedentes que se estendeu do período imediato ao pós-
-Segunda Guerra Mundial (1945-1973) e atingiu não só a Europa e o Japão, mas 
também alguns países da América Latina – razão pela qual o título dessa parte 
do livro é A era de ouro, também denominada por diferentes autores de Os anos 
dourados, Os anos gloriosos, As décadas de ouro.
no Brasil, esse momento da história ficou popularmente conhecido como Os 
Anos Dourados que, entre nós, tiveram curtíssima duração, pois foram interrom-
pidos pelos Anos de Chumbo da ditadura militar. Os Anos Dourados iniciaram no 
governo de Juscelino Kubitschek (Os Anos JK), em 1956, cujo programa de gover-
no, o conhecido Plano de Metas, prometia “cinquenta anos de desenvolvimento 
em cinco”, dinamizando a economia brasileira com a construção de Brasília e 
a entrada do capital estrangeiro para a produção de bens duráveis. Em 1957, 
Juscelino inaugurou a pedra fundamental da Volkswagem do Brasil, inauguran-
do, ao mesmo tempo, outra fase da industrialização nacional: a industrialização 
de bens duráveis com capital estrangeiro. A construção de Brasília e os investi-
mentos estrangeiros no país geraram milhares de empregos, especialmente em 
São Paulo, na região do ABC paulista (Santo André, São Bernardo e São Caetano), 
transformando-a no polo industrial de ponta da América Latina, com tecnologia 
estrangeira e administração fordista do processo de trabalho.
Vídeo
As diferentes formas de administração do processo de 
trabalho no capitalismo moderno3
Sociologia Geral48Figura 3 – Juscelino Kubitschek de Oliveira.
Fonte: Wikimedia Commons.
Porém, os Anos Dourados no Brasil chegaram ao fim com a Revolução de 1964, que 
interrompeu o processo político democrático, pois, de acordo com diversos autores, a Era de 
Ouro significou um momento marcado não só pelo crescimento e desenvolvimento econô-
micos, mas também pela democratização das instituições políticas e sociais.
Por isso houve muitas razões para justificar as denominações desse período de 30 anos 
do século XX e para preencher as cem páginas da parte dois do livro de Hobsbawm. São elas:
• Altíssimo crescimento econômico:
A economia mundial crescia a uma taxa explosiva. Na década de 1960, era claro 
que jamais houvera algo assim. A produção mundial de manufaturas quadrupli-
cou entre o início da década de 1950 e o início da década de 1970, e, o que é ainda 
mais impressionante, o comércio mundial de produtos manufaturados aumentou 
dez vezes [...]. A produção agrícola mundial também disparou, embora não espe-
tacularmente. E o fez não tanto (como muitas vezes no passado) com cultivo de 
novas terras, mas elevando sua produtividade. (HOBSBAWM, 1995, p. 275)
• Pleno emprego: a média de desemprego na Europa Ocidental estacionou em 1,5% 
e em 1,3% no Japão.
• Elevação dos salários: graças ao aumento da oferta de empregos e ao fortalecimento 
dos sindicatos, cujo poder de barganha também aumentou; acrescente-se a isso a 
distribuição de benefícios sociais, tais como educação fundamental, assistência mé-
dica e hospitalar, seguro-desemprego etc., que também contribuíram para aumentar 
o poder aquisitivo dos assalariados.
As diferentes formas de administração do processo de 
trabalho no capitalismo moderno
Sociologia Geral
3
49
• Desenvolvimento científico e tecnológico: o que permitiu inundar os mercados 
de novos produtos a preços populares: televisão, discos de vinil, rádios portá-
teis transistorizados, relógios digitais, calculadoras de bolso a bateria e depois a 
energia solar, e produtos de uso industrial e comercial – motor a jato, transistor, 
energia nuclear etc. (HOBSBAWN, 1995, p. 261).
• Multinacionalização do capital: a transferência do capital de grandes corporações 
para o Leste Asiático e a América Latina à procura de mão de obra barata e politi-
camente desorganizada, deu origem à uma nova divisão internacional do trabalho 
ao permitir a industrialização de bens duráveis (eletrodomésticos, automóveis, 
tratores etc.) em países até então produtores e exportadores de bens primários 
– commodities – e produtores de bens industrializados de consumo ( produtos ali-
mentícios, de higiene pessoal, tecidos, sapatos etc.).
• Internacionalização da economia: o que propiciou a criação de instituições in-
ternacionais, como o Banco Mundial (Banco Internacional para Reconstrução e 
Desenvolvimento) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) para a promoção do 
investimento internacional, manutenção da estabilidade do câmbio, além de tratar 
de balanças de pagamento (HOBSBAWM, 1995, p. 269).
• Adoção de políticas intervencionistas na economia pelos Estados nacionais: 
 subsidiando, sustentando, supervisionando, planejando e também administran-
do indústrias de toda natureza e construindo a infraestrutura necessária para o 
seu desenvolvimento, ao mesmo tempo em que adotaram políticas da social-de-
mocracia com a universalização de benefícios e programas sociais graças ao gran-
de volume de impostos arrecadados, fazendo nascer os Estados de Bem-Estar 
(Welfare States). 
• Mudanças culturais profundas em todas as esferas da vida: ressaltando-se as que atin-
giram a música, com Elvis Presley e as bandas dos Beatles e Rolling Stones; a família 
e os relacionamentos entre os sexos, com a pílula anticoncepcional e a instituição do 
divórcio em muitos países; a universalização do blue jeans que revolucionou a moda; 
os movimentos feministas e a liberação feminina; os movimentos antirracistas etc.
No entanto, a prosperidade dos Anos Dourados foi desigual e a pobreza em muitos 
países da África, da América Latina e da Ásia continuou a atingir milhões e milhões de pes-
soas, apesar do crescimento econômico também dessas regiões. Por quê? faremos aqui um 
parênteses para apontar as causas do fraco desenvolvimento econômico e social da América 
Latina e, em especial, do Brasil, mesmo durante o curto período dos Anos Dourados.
O subdesenvolvimento econômico e social do Brasil
(LAZZARESCHI, 2003, P. 70-71)
Países em processo de desenvolvimento e aqueles denominados emergentes (Brasil, 
México, Argentina, Índia, China e os do Sudeste Asiático) são depen dentes da tecnologia 
As diferentes formas de administração do processo de 
trabalho no capitalismo moderno3
Sociologia Geral50
originária dos países de industrialização avançada, o chamado Grupo dos Sete (G7): USA, 
Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Canadá.
A dependência tecnológica tem como resultado inevitável a sujeição econômica que 
se expressa no desequilíbrio permanente da balança de pagamentos e na dependência 
do aporte de capitais estrangeiros, seja na forma de investimentos produtivos diretos, 
seja na forma de capital financeiro captado a juros altíssimos no mercado internacio-
nal especulativo, desregulamentado e volátil, para financiar investimentos em infraes-
trutura e garantir o lastro da moeda, cuja estabilização depende das reservas nacionais 
em dólares.
Países de tecnologia atrasada ainda continuam exportadores de commodities primárias, 
isto é, de matérias-primas ou bens primários ou industrializados com pouco valor 
agregado, vendidos a preços quase sempre declinantes no mercado internacional, com 
exceção do petróleo.
A produção de bens duráveis, na maioria dos países dependentes da América Latina, foi 
possível, num primeiro momento, graças ao processo de multinacionalização do capital. 
Esse processo intensificou-se, sobretudo, a partir da década de 1960, motivado pela pers-
pectiva muitíssimo atraente de obtenção de altas taxas de lucro, resultado da abundância 
de mão de obra, fraqueza dos movimentos sindicais e políticos e dos baixos salários, com-
parativamente àqueles pagos nos países de origem do capital. Não se fazia necessária, 
portanto, a transferência de tecnologia de última geração para diminuir os custos de pro-
dução e aumentar a competitividade dos países da região nos mercados internacionais.
Assim, ao mesmo tempo que a multinacionalização do capital significou a intensificação 
do processo de industrialização dos países dependentes, iniciado em décadas anterio-
res, impediu, pelas mesmas razões que a motivaram, o desenvolvimento do mercado 
interno e a elevação dos níveis de vida de suas populações, além de sangrar os cofres 
públicos com o pagamento da dívida externa contraída tanto para a construção da 
infraestrutura industrial necessária quanto para financiar investimentos não produti-
vos – investimentos realizados de forma irresponsável por muitos governos militares 
da América Latina.
Fernando Henrique Cardoso (1975, p. 73-74) afirmou a respeito do processo de interna-
cionalização do mercado interno:
É a esse processo que me refiro com o designativo industrialização excludente ou restritiva. 
Por quê? A razão é simples em termos de uma caracterização que tome em consideração 
os efeitos dessa industrialização. Transfere-se para as economias em desenvolvimento um 
sistema produtivo já pronto, importando-se fábricas completas que, no decorrer de poucos 
anos, passam a fabricar os utensílios usuais à vida moderna dos países desenvolvidos e 
trazem com eles as técnicas [e não só a tecnologia produtiva] requeridas para o funciona-
mento das economias industriais de massa: propaganda, fabricação constante de novos 
produtos e criação de novas necessidades de consumo, suporte financeiro complexo [cré-
dito ao consumidor e ao produtor], entre outros. 
Entretanto, da mesma forma que a industrialização substitutiva se iniciou no Brasil e nos 
outros países latino-americanos sem a ocorrênciaprévia ou posterior de uma profunda 
modificação na economia e na propriedade agrárias, sua etapa final, que supunha a pro-
dução dos bens de consumo de massa, deu-se sem que tivessem ocorrido significativas 
tendências à redistribuição de rendas. Assim, a internacionalização dos mercados – se é 
certo que significou a abertura do mercado aos capitais estrangeiros e maior homogenei-
zação das técnicas de produção, comercialização e funcionamento, em comparação com 
os centros de desenvolvimento mundial – não trouxe consigo maior participação social 
nos frutos do progresso tecnológico. Como compatibilizar, nessas condições, a escala de 
produção com o mercado? (CARDOSO, 1975).
As diferentes formas de administração do processo de 
trabalho no capitalismo moderno
Sociologia Geral
3
51
O resultado do processo de industrialização excludente ou restritiva no Brasil e nos 
demais países da América Latina foi a elevação dos índices de inflação a dois dígitos 
mensais com as consequências correlatas previsíveis: diminuição dos investimentos 
estrangeiros e dos gastos públicos; corrosão dos salários; aumento do desemprego, além 
dos pedidos de socorro ao FMI, implicando sempre dolorosos ajustes econômicos e 
queda dos níveis de vida da população. Por essas razões, a década de 1980 foi conside-
rada a década perdida, com o recrudescimento da dependência econômica, tanto para 
o Brasil quanto para o conjunto dos países latino-americanos que adotaram políticas 
semelhantes de industrialização pela via da substituição das importações, financiada 
pelo capital estrangeiro.
Exportadores de bens com pouco valor agregado e, por isso mesmo, vendidos a preços 
baixos, e importadores de bens com muito valor agregado, comprados a preços eleva-
dos, dependentes do mercado financeiro internacional ou do FMI para garantir a sua 
credibilidade na economia mundial, os países de tecnologia atrasada vivem as conse-
quências dramáticas do círculo vicioso da dependência: são dependentes porque têm 
tecnologia atrasada e têm tecnologia atrasada porque são dependentes. [...]
Após duas décadas perdidas – a de 1980, em decorrência da crise gerada pelo endivi-
damento externo e pelos altos índices de inflação, e a de 1990, devido à recessão eco-
nômica provocada não só pelas crises internacionais (México, Rússia, Ásia), mas tam-
bém, e sobretudo, pelo Plano Real que se fundamentou na política de juros altos para 
atrair capitais financeiros e conter a inflação, na cobrança de impostos em cascata para 
ajustar as contas públicas, numa política cambial de igualização da moeda nacional ao 
dólar americano que inviabilizava as exportações e na abertura dos mercados brasilei-
ros aos produtos estrangeiros altamente competitivos, paradoxalmente combinada à 
consolidação e ao fortalecimento de blocos econômicos, congregando os países mais 
ricos do mundo, como o Nafta e a União Europeia, resistentes à abertura de seus merca-
dos à concorrência internacional –, o Brasil e alguns países da América Latina (México, 
Argentina) conhecem uma nova fase de industrialização determinada pela globalização 
da economia que, por sua vez, dá início a novas formas de dependência dos países tec-
nologicamente atrasados.
Os Anos Dourados chegam ao fim na década de 1970, quando começa a se configurar 
uma crise de consumo com o acirramento da competição internacional. Para enfrentar a cri-
se, procede-se a uma total reestruturação da economia mundial que, inevitavelmente, pro-
voca a reestruturação das empresas e dos mercados de trabalho. Por isso, para compreender 
a nova forma de administração do processo de trabalho, em consolidação também no Brasil, 
será preciso compreender as razões da crise e a reorganização da economia mundial, com 
suas consequências sobre o mundo empresarial e dos mercados de trabalho. Esses temas 
serão abordados nos capítulos subsequentes.
As diferentes formas de administração do processo de 
trabalho no capitalismo moderno3
Sociologia Geral52
Que sofrimento? – insatisfação e “conteúdo 
significativo” da tarefa
(DE JOURS, 1992, p. 48-52)
[...] Do discurso operário podem-se extrair vários temas que se repetem 
obstinadamente como um refrão obsessivo. Não há um só texto, uma só 
entrevista, uma só pesquisa ou greve em que não apareça, sob suas múl-
tiplas variantes, o tema da indignidade operária. Sentimento experimen-
tado maciçamente na classe operária: o da vergonha de ser robotizado, de 
não ser mais que um apêndice da máquina, às vezes de ser sujo, de não ter 
mais imaginação ou inteligência, de estar despersonalizado etc. É do con-
tato forçado com uma tarefa desinteressante que nasce uma imagem de 
indignidade. A falta de significação, a frustração narcísica, a inutilidade 
dos gestos formam, ciclo por ciclo, uma imagem narcísica pálida, feia, 
miserável. Outra vivência, não menos presente do que a da indignidade, 
o sentimento de inutilidade remete, primeiramente, à falta de qualifica-
ção e de finalidade do trabalho. O operário da linha de produção como o 
escriturário de um serviço de contabilidade muitas vezes não conhecem 
a própria significação de seu trabalho em relação ao conjunto da ativi-
dade da empresa. Mas, mais do que isso, sua tarefa não tem significação 
humana. Ela não significa nada para a família, nem para os amigos, nem 
para o grupo social e nem para o quadro de um ideal social, altruísta, 
humanista ou político. Raros são aqueles que ainda creem no mito do 
progresso social ou na participação à uma obra útil. Correlativamente, 
elevam-se queixas sobre a desqualificação. Desqualificação cujo sentido 
não se esgota nos índices e nos salários. Trata-se mais da imagem de si que 
repercute do trabalho, tanto mais honroso se a tarefa é complexa, tanto 
mais admirada pelos outros se ela exige um know-how, responsabilidade, 
riscos. A vivência depressiva condensa de alguma maneira os sentimentos 
de indignidade, de inutilidade e de desqualificação, ampliando-os. Esta 
depressão é dominada pelo cansaço. Cansaço que se origina não só dos 
esforços musculares e psicossensoriais, mas que resulta sobretudo do 
estado dos trabalhadores taylorizados. Executar uma tarefa sem investi-
mento material ou afetivo exige a produção de esforço e de vontade, em 
outras circunstâncias suportada pelo jogo da motivação e do desejo. A 
vivência depressiva alimenta-se da sensação de adormecimento intelec-
tual, de anquilose mental, de paralisia da imaginação e marca o triunfo do 
condicionamento ao comportamento produtivo.
 Ampliando seus conhecimentos
As diferentes formas de administração do processo de 
trabalho no capitalismo moderno
Sociologia Geral
3
53
[...] Fadiga, carga de trabalho e insatisfação. Ao invés de fazer referência 
à noção de carga psíquica do trabalho, que corresponde, antes de 
tudo, à preocupação em apresentar uma concepção coerente com 
a ergonomia contemporânea, é melhor interrogar-se sobre o custo 
humano da insatisfação. A organização do trabalho, concebida por um 
serviço especializado da empresa, estranho aos trabalhadores, choca-se 
frontalmente com a vida mental e, mais precisamente, com a esfera das 
aspirações, das motivações e dos desejos. [...] Num trabalho rigidamente 
organizado, mesmo se ele não for muito dividido, parcelado, nenhuma 
adaptação do trabalho à personalidade é possível. As frustrações 
resultantes de um conteúdo significativo inadequado às potencialidades e 
às necessidades da personalidade podem ser uma fonte de grandes esforços 
de adaptação. Mesmo as más condições de trabalho são, no conjunto, 
menos temíveis do que uma organização de trabalho rígida e imutável. 
O sofrimento começa quando a relação homem-organização do trabalho 
está bloqueada; quando o trabalhador usou o máximo de suas faculdades 
intelectuais, psicoafetivas, de aprendizagem e de adaptação. Quando 
um trabalhador usou de tudo de que dispunha de saber e de poder na 
organizaçãodo trabalho e quando ele não pode mais mudar de tarefa: isto 
é, quando foram esgotados os meios de defesacontra a exigência física. 
Não são tanto as exigências mentais ou psíquicas do trabalho que fazem 
surgir o sofrimento (se bem que este fator seja evidentemente importante 
quanto à impossibilidade de toda a evolução em direção ao seu alívio). A 
certeza de que o nível atingido de insatisfação não pode mais diminuir 
marca o começo do sofrimento.
Da análise do conteúdo significativo do trabalho, é preciso reter a anti-
nomia entre satisfação e organização do trabalho. Via de regra, quanto 
mais a organização do trabalho é rígida, mais a divisão do trabalho é 
acentuada, menor é o conteúdo significativo do trabalho e menores são 
as possibilidades de mudá-lo. Correlativamente, o sofrimento aumenta.
O sofrimento proveniente do pouco conteúdo significativo do traba-
lho taylorizado não é mais um mistério e é denunciado não só pelos 
operários mas também pelos ergonomistas e por certos meios do 
patronato “progressista”.
 Atividades
1. Se você trabalha numa fábrica ou num escritório, descreva as suas atividades e verifi-
que se estão organizadas segundo os princípios do taylorismo/fordismo, explicando 
como se dá essa relação.
As diferentes formas de administração do processo de 
trabalho no capitalismo moderno3
Sociologia Geral54
2. Caso você trabalhe numa fábrica ou num escritório, perceba se é possível encontrar 
no seu posto de trabalho oportunidade para desenvolver as suas potencialidades de 
inteligência, criatividade, espírito crítico e iniciativa. Justifique sua resposta.
3. Faça uma pesquisa bibliográfica para verificar se a sua cidade natal e o seu Estado 
também cresceram, permitindo a melhoria das condições de vida da população du-
rante Os Anos Dourados.
 Referências 
ARGYRIS, Chris. Personalidade e organização: o conflito entre o sistema e o indivíduo. Rio de Janeiro: 
Renes, 1969.
CARDOSO, Fernando Henrique. Autoritarismo e democratização. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975.
CORIAT, Bejamin. Ciencia, técnica y capital. Madrid: H. Blume, 1976.
DEJOURS, Christophe. A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. São Paulo: 
Cortez, 1992.
FRIEDMANN, Georges. O trabalho em migalhas. São Paulo: Perspectiva, 1972.
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WEBER, Max. História geral da economia. São Paulo: Abril Cultural, 1980. (Coleção Os Pensadores).
 Resolução 
1. e 2. Caso não trabalhe, entreviste um profissional da área para responder às atividades.
3. Resposta pessoal.
4. Resposta pessoal.
Sociologia Geral 55
4
A crise econômica mundial, 
a globalização da economia 
e a reestruturação produtiva
Continuar a apresentar as novas formas de organização do processo de trabalho 
que se seguiram ao taylorismo/fordismo sem situá-las historicamente poderia reforçar, 
para alguns incautos, a ideia vulgarmente difundida de que o interior das empresas 
se transforma devido ao seu dinamismo interno, natural, mecânico e, portanto, evolu-
tivo, sobretudo em função da evolução tecnológica, independentemente do ambiente 
nacional e internacional no qual se situam. Ledo engano, como vimos anteriormente.
A Sociologia nos ensina que a análise das diferentes formas de organização da 
produção e da prestação de serviços requer a ampliação de seus horizontes para além 
do próprio processo de trabalho, a fim de evidenciar os condicionantes econômicos, 
políticos, sociais e culturais de sua determinação. Desse modo, não incorremos no erro 
de considerá-las apenas como um reflexo da lógica do processo de produção capita-
lista, como fruto de um determinismo tecnológico ao qual se submetem as relações de 
produção e a estrutura da vida social. Se assim procedesse, estaríamos considerando a 
estrutura econômica como independente das ações humanas orientadas pelo cenário 
histórico por elas mesmas construído.
A crise econômica mundial, a globalização da 
economia e a reestruturação produtiva4
Sociologia Geral56
Por isso, a reestruturação produtiva para a superação da crise econômica mundial que 
se instalou a partir da segunda metade da década de 1960 deve ser estudada e compreen-
dida sobretudo como resultado de uma escolha consciente, deliberada e consentida pelos 
sujeitos históricos – trabalhadores, empresários, governo.
E isso porque, das práticas reativas dos trabalhadores às condições de trabalho e de 
vida, expressas nos movimentos tanto no interior das empresas quanto na mobilização sin-
dical, dependem as formas de organização do processo de trabalho, inclusive o modo de 
utilização da própria tecnologia, as formas de gestão da força de trabalho, a organização 
empresarial em seu conjunto.
Essas práticas conduzem também, pelo debate político amplo, a novos rearranjos insti-
tucionais de responsabilidade do Estado, que acabam por indicar o modo de solução coope-
rativo dos conflitos de interesses entre as partes, estabelecendo-se temporariamente por 
consentimento, isto é, em decorrência da aceitação das condições sugeridas como resultado 
de um processo de avaliação racional das possibilidades efetivas de realização, mesmo que 
parcial e temporariamente, dos interesses definidos e formulados a partir da experiência.
Sem o consentimento dos trabalhadores, pelo menos temporário, não se pode esperar a 
sua colaboração, e, sem esta, o processo de valorização do capital não se realiza. Para haver 
a colaboração entre as partes, a vontade dos empresários e do governo não pode se impor de 
forma cega e indiscriminada, porque isso significaria considerar os trabalhadores verdadei-
ras marionetes da história, tomando-se por premissa a sua total incapacidade de raciocínio e 
de ação racional na defesa de seus próprios interesses, o que é absolutamente inimaginável 
e negado pelo processo histórico. Basta acompanhar a história dos movimentos operários 
para se verificar a solidez de suas reivindicações:
Adam Przeworski (1988, p. 175) afirma que:
[...] as relações sociais estabelecem estruturas de escolhas segundo as quais as 
pessoas percebem, avaliam e agem. As pessoas consentem quando escolhem de-
terminadas linhas de ação e quando seguem na prática essas escolhas. Os assa-
lariados dão seu consentimento à organização capitalista da sociedade quando 
agem como se fossem capazes de melhorar suas condições materiais dentro dos 
limites do capitalismo. Mais especificamente, consentem quando agem coletiva-
mente como se o capitalismo fosse um jogo de soma positiva, ou seja, quando 
cooperam com os capitalistas ao escolher suas estratégias. 
Em outras palavras: a estrutura social se mantém se puder oferecer às pessoas, como 
indivíduos e membros de vários grupos, alguma garantia de que seus interesses, pelo me-
nos parcialmente, serão realizados, o que implica afirmar que o consentimento e a colabo-
ração são sempre provisórios, porque a avaliação racional das condições dadas em função 
das possibilidades de realização de interesses é permanente.E como não se tem assistido a 
manifestações contundentes dos assalariados do mundo inteiro contrárias à reestruturação 
produtiva, permite-se afirmar que com ela têm consentido, pelo menos temporariamente, 
porque a consideram necessária para a realização de seus próprios interesses.
A crise econômica mundial, a globalização da 
economia e a reestruturação produtiva
Sociologia Geral
4
57
Assim, a introdução de novas tecnologias e de novas técnicas gerenciais do processo de 
trabalho poderá ser compreendida: como fruto de uma situação de crise da economia mun-
dial; como consequência do esforço intelectual de adaptação das tecnologias de informação, 
desenvolvidas sobretudo por razões políticas durante os anos da Guerra Fria, ao processo 
produtivo e de prestação de serviços como instrumento de enfrentamento da crise; como 
resultado da necessidade de expansão dos mercados, própria do regime capitalista de pro-
dução e fundamental em situação de crise; e como possibilidade vislumbrada pelos próprios 
trabalhadores de melhoria de suas condições de vida, que a têm consentido, apesar de todos 
os problemas provenientes. 
4.1 A crise da economia mundial
A crise econômica mundial, que pôs fim aos Anos Dourados, no final de 
1960, prolongou-se na década seguinte com o surgimento de novos padrões 
de concorrência em virtude da multinacionalização do capital e da recupera-
ção da economia japonesa, elevada à potência mundial. 
A intensificação desse processo de multinacionalização do capital pro-
vocou uma nova divisão internacional do trabalho ao transformar países da 
América Latina – Brasil, Argentina, México – e do Sudeste da Ásia – Coreia 
do Sul, Taiwan, Cingapura, Malásia, Indonésia, Filipinas –, até então exporta-
dores de bens primários, em países industrializados e exportadores de bens 
duráveis, acirrando a competição internacional e ameaçando os interesses 
econômicos dos EUA e dos países de tradição industrial da Europa.
O novo cenário econômico mundial permitia identificar as razões do fra-
co crescimento econômico e da persistência da crise:
• o esgotamento relativo do paradigma taylorista ortodoxo, aí in-
cluído o paradigma fordista dele derivado, por sua comprovada 
ineficiência produtiva, isto é, por sua rigidez tecnológica e organi-
zacional que inviabiliza a inovação de produtos com sua produção 
padronizada em massa;
• a instabilidade dos mercados, cuja consequência é a necessária adap-
tação da produção ao dinamismo da demanda, assentada na exigência 
de qualidade do produto;
• o aparecimento de novos padrões de consumo que exigem a inova-
ção de produtos;
• a globalização financeira da qual se tornaram reféns todos os 
países do mundo, sobretudo aqueles em processo de desenvol-
vimento, onerando, com juros altos e desregulamentados, as ati-
vidades produtivas já pressionadas pela elevação dos preços dos 
insumos industriais devido à crise do petróleo, com a formação da 
Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP) em 1973;
Vídeo
A crise econômica mundial, a globalização da 
economia e a reestruturação produtiva4
Sociologia Geral58
• a rígida regulamentação dos mercados de trabalho em vários países industrializa-
dos e as pressões sindicais que aumentaram os salários ao longo dos Anos Dourados 
e exigiram benefícios sociais, com o consequente aumento de impostos e encargos 
sociais, dificultando a sobrevivência de muitas empresas e/ou reduzindo considera-
velmente a sua margem de lucros, o que significava redução de investimentos.
Mas das crises nascem as soluções, pelo menos temporárias, engendradas pela própria 
realidade em crise. Assim, adaptando-se as tecnologias de informação de base microeletrô-
nica, desenvolvidas sobretudo, mas não exclusivamente, pela Nasa durante o período mais 
crítico da Guerra Fria, ao processo produtivo e de prestação de serviços e conjugando-as aos 
métodos gerenciais do processo de trabalho aprimorados no Japão (toyotismo), proce deu-se 
à reestruturação produtiva cujas características principais permitem, nas palavras de David 
Harvey (1992, p. 141), “a flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho 
e dos padrões de consumo, desatando-se os três nós górdios que provocaram a crise econô-
mica mundial”.
Tornava-se também necessário intensificar a internacionalização dos mercados com a re-
dução das barreiras alfandegárias que sempre protegeram as empresas situadas em países de 
tecnologia atrasada, muito sensíveis à competição internacional, para conquistar mais e mais 
consumidores e desatar o último nó a impedir o desenvolvimento da economia mundial.
Assim, países economicamente dependentes se viram obrigados a abrir seus mercados 
de bens industrializados, supridos até então, como no caso do Brasil, por produtos fabrica-
dos internamente, para garantir as exportações de suas commodities, e se viram submetidos 
a novas dificuldades, resultantes não só da globalização financeira, mas também da globali-
zação comercial e da produção, na medida em que a nova lógica organizacional internacio-
naliza todas as etapas das atividades produtivas com a formação de redes empresariais que 
ultrapassam as fronteiras nacionais.
Para esses países, a alternativa de desenvolvimento não era outra a não ser a aplicação 
de investimentos maciços em pesquisa científica e tecnológica e na educação escolarizada de 
excelência, lembrando-se que países de tecnologia atrasada vivem as consequências dramá-
ticas do círculo vicioso da dependência: são dependentes porque têm tecnologia atrasada e 
têm tecnologia atrasada porque são dependentes. Eis o grande desafio a enfrentar, caso se 
queira vislumbrar um futuro melhor.
Os países industrializados passaram a defender as empresas nacionais, associando-se 
aos demais países da região com a formação de blocos econômicos, como a União Europeia, 
para tornar menos vulneráveis suas fronteiras comerciais da agressividade comercial mun-
dial. A tentativa de se consolidar um bloco econômico entre os países latino-americanos, 
como o Mercosul, com resultados altamente positivos, encontra dificuldades próprias da 
situação como o subdesenvolvimento científico e tecnológico que caracteriza essas nações, 
e dificuldades geradas pelas pressões dos países desenvolvidos que relutam na abertura de 
seus próprios mercados, mas exigem que os mais pobres o façam. É o caso da manutenção 
dos subsídios agrícolas nos países membros da União Europeia e dos EUA, impedindo a 
importação de produtos do agronegócio dos países subdesenvolvidos.
A crise econômica mundial, a globalização da 
economia e a reestruturação produtiva
Sociologia Geral
4
59
Não se pode negar ou mesmo minimizar a importância da introdução das novas tecno-
logias e das novas técnicas gerenciais da produção na determinação da nova configuração 
do mundo do trabalho, também não se pode negar que o seu interior é, em grande parte, 
definidor da natureza e da cristalização das tendências econômicas, políticas, sociais e cul-
turais na medida em que as repercute direta e indiretamente.
A globalização da economia e a introdução de novas tecnologias de base microeletrô-
nica, conjugadas à adoção de novas técnicas de gerenciamento do processo de trabalho – 
reestruturação produtiva – para permitir a inovação e, assim, a reconquista e conquista de 
novos mercados foram, portanto, as soluções encontradas para o enfrentamento da crise.
4.2 A globalização da economia
As transformações da economia mundial, que dão origem a um novo 
modo de acumulação do capital, e as transformações do processo de trabalho 
exigem novos rearranjos institucionais e/ou uma nova regulamentação de to-
das as esferas da vida: 
[...] uma materialização do regime de acumulação, que toma a 
forma de normas, hábitos, leis, redes de regulamentação etc. que 
garantam a unidade do processo, isto é, a consistência apropria-
da entre comportamentos individuais e o esquema de reprodu-
ção. Esse corpo de regras e processos sociais interiorizados tem 
o nomede modo de regulamentação. (LIPIETZ, apud HARVEY, 
1992, p. 117)
Nasce, então, uma nova forma de acumulação do capital em substitui-
ção ao período fordista de organização do processo de trabalho que David 
Harvey denominou acumulação flexível e Manuel Castells economia informa-
cional e global, cujas características podem ser assim sintetizadas:
• Internacionalização ou globalização da produção e dos mercados.
• Acirramento da competição internacional.
• Desenvolvimento de uma nova lógica organizacional, que resultou 
na transição da produção em massa para a produção flexível, ou do 
 fordismo ao pós-fordismo, graças às novas tecnologias que 
[...] permitem a transformação das linhas típicas da grande em-
presa em unidades de produção de fácil programação que po-
dem atender às variações do mercado (flexibilidade do produto) 
e das transformações tecnológicas (flexibilidade do processo) 
(CASTELLS, 1999, p. 176).
• Formação de redes entre pequenas e médias empresas sob o con-
trole de sistemas de subcontratação ou sob o domínio financeiro/
tecnológico de empresas de grande porte, ou formação de redes 
Vídeo
A crise econômica mundial, a globalização da 
economia e a reestruturação produtiva4
Sociologia Geral60
multidirecionais entre pequenas e médias empresas, como as das regiões indus-
triais italianas, por exemplo.
• Maximização da produtividade baseada em conhecimentos, “por inter médio do 
desenvolvimento e da difusão de tecnologias da infor mação e pelo atendimen-
to dos pré-requisitos para sua utilização (principalmente recursos humanos e in-
fraestrutura de comunicações)” (CASTELLS, 1992, p. 226).
A globalização da economia tem sido objeto de inúmeros estudos. Convém retomar 
alguns deles a fim de se conseguir compreender os seus mecanismos e processos. As cita-
ções são longas, mas necessárias para dirimir dúvidas sobre um tema candente e discutido 
com muita controvérsia devido às suas consequências muito negativas sobre os mercados 
de trabalho e sobre as condições de vida dos trabalhadores nos países em desenvolvimento.
Anthony Giddens (1997, p. 61), sociólogo inglês, afirma: 
O conceito de globalização é um dos que foram mais aplicados nos últimos anos, 
em debates na política, nos negócios e na mídia. Há uma década o termo “globa-
lização” era relativamente desconhecido. Hoje está na boca de todos. A globali-
zação significa que cada vez mais estamos vivendo “num único mundo”, em que 
os indivíduos, os grupos e as nações tornaram-se mais interdependentes.
A globalização é muitas vezes retratada apenas como um fenômeno econômico. 
Muito disso se deve ao papel das corporações transnacionais, cujas operações 
massivas se expandem através de fronteiras nacionais, influenciando os proces-
sos de produção global e a distribuição internacional do trabalho. Alguns assina-
lam a integração eletrônica dos mercados financeiros globais e o enorme volume 
de fluxo de capital global. Outros se concentram na abrangência sem preceden-
tes do comércio mundial, envolvendo uma variedade de bens e serviços muito 
maior do que antes.
Embora as forças econômicas sejam uma parte integrante da globalização, se-
ria errado sugerir que elas sozinhas a produzam. A globalização é criada pela 
convergência de fatores políticos, sociais, culturais e econômicos. Foi impelida, 
sobretudo, pelo desenvolvimento de tecnologias da informação e da comuni-
cação que intensificaram a velocidade e o alcance da interação entre as pessoas 
ao redor do mundo. Tomando um exemplo simples, pense na Copa do Mundo 
realizada na França. Graças às conexões globais de televisão, alguns jogos foram 
assistidos por 2 bilhões de pessoas no mundo.
Paul Singer (1997, p. 39-40), economista e sociólogo brasileiro, assim se refere à 
globalização:
A internacionalização financeira, econômica e cultural surge como tendência pelo 
menos desde a viagem de Marco Polo ao Extremo Oriente. Houve interrupções 
e recuos ocasionais, mas nada que fizesse a internacionalização sumir por lon-
go período. Mesmo nos dois séculos anteriores às grandes navegações, os laços 
comerciais entre os grandes impérios do continente asiático e a periferia euro-
peia não fizeram mais que se intensificar, com a consequente prosperidade e 
A crise econômica mundial, a globalização da 
economia e a reestruturação produtiva
Sociologia Geral
4
61
hegemonia político-financeira das repúblicas do norte da Itália. Quando portu-
gueses e espanhóis se lançaram às navegações transoceânicas, a partir do século 
XV, a África e as Américas foram integradas a um sistema de economia mundial 
já em pleno funcionamento. No século seguinte, a integração alcançou a Oceania 
e vários arquipélagos do Pacífico. Enfim, a internacionalização já progride há 
mais de meio milênio e o mundo atual é o seu produto.
A globalização pretende ser uma mudança qualitativa da internacionalização, na 
medida em que grandes progressos em comunicação e transporte aproxima-
ram ainda mais todos os povos nos sentidos material e cultural. Outro fator tão 
ou mais significativo da globalização foi o prolongado de paz que se seguiu à 
Segunda Guerra Mundial, não obstante as várias guerras locais travadas princi-
palmente na Ásia e na África. Se a internacionalização sofreu sua maior reversão 
em razão das duas guerras mundiais e da crise dos anos 1930, a ausência de no-
vos conflitos tão abrangentes foi decisiva para que a internacionalização pudesse 
dar o salto qualitativo à globalização. Em suma, aceitemos a hipótese de que o 
desenvolvimento da navegação aérea e da comunicação por satélite, aliado à 
relativa paz universal durante o último meio século, elevou a integração finan-
ceira, econômica e cultural a um patamar mais elevado.
Há que se notar de imediato um descompasso entre a globalização nos planos 
econômico e cultural e a globalização no plano político. Se hoje o comércio tanto 
quanto a comunicação uniformizaram os padrões de consumo na maioria dos 
países e, se o público chinês se emociona com telenovelas brasileiras e as nossas 
crianças jogam com paixão videogames japoneses, o progresso no estabelecimento 
de instituições governamentais internacionais tem sido escasso.
[...] Do ponto de vista político, a globalização tem sido um processo essencial-
mente negativo. O seu avanço se deve à desregulamentação, à eliminação de res-
trições e controles que sujeitavam as transações comerciais e financeiras interna-
cionais. Restrições e controles estes que se destinavam a submeter as transações 
entre residentes em países diferentes aos interesses coletivos dos agentes cuja 
atividade constitui a economia nacional. A proteção de indústrias “infantes” (re-
cém-implantadas) contra a concorrência de importações de países com as mes-
mas indústrias consolidadas é um exemplo clássico. Quando tarifas aduaneiras 
protecionistas são rebaixadas, a importação se amplia, o que conta como avanço 
da globalização. Mas este avanço é negativo, uma vez que é causado pela der-
rubada de uma barreira e a importação acrescida toma o lugar duma produção 
nacional “menos competitiva”, sem que tenha sido criada no plano político-ins-
titucional qualquer instância responsável pela defesa do interesse nacional ou 
pela definição de um itinerário para a redivisão internacional do trabalho que 
garantisse uma repartição equânime dos benefícios e custos entre todos os países 
envolvidos na globalização.
Por sua vez, Octávio Ianni (1996, p. 35-39), sociólogo brasileiro, faz as seguintes 
considerações:
A crise econômica mundial, a globalização da 
economia e a reestruturação produtiva4
Sociologia Geral62
O mundo mudou muito ao longo do século XX. Não é mais uma coleção de 
países agrários ou industrializados, pobres ou ricos, colônias ou metrópoles, de-
pendentes ou dominantes, arcaicos ou modernos. A partir da Segunda Guerra 
Mundial, desenvolveu-se um amplo processo de mundialização de relações, 
processos e estruturas de dominação e apropriação, antagonismo e integração. 
Aos poucos, todasas esferas da vida social, coletiva e individual, são alcançadas 
pelos problemas e dilemas da globalização.
É claro que a globalização das sociedades, em curso nesta altura da história, vinha 
ocorrendo em décadas e séculos anteriores. O capitalismo, com o qual nasce o 
mundo de que falamos no século XX, é um modo de produção e reprodução ma-
terial e espiritual que se forma, expande e transforma em moldes internacionais.
[...] Mas podemos distinguir pelo menos três formas, épocas ou ciclos de gran-
de envergadura na história do capitalismo. Ainda que possam distinguir-se por 
suas peculiaridades, convivem e mesclam-se. Em muitos casos, essas formas coe-
xistem, confundem-se, assim como em outros distinguem-se com maior nitidez, 
e até podem dar a impressão de que se sucedem. Cada uma predomina em de-
terminada época, parecendo assinalar os movimentos e as direções de países e 
continentes, ou do mundo.
Primeiro, o modo capitalista de produção organiza-se em moldes nacionais. 
Revoluciona as formas de vida e trabalho locais, regionais, feudais, comunitá-
rias, tribais ou pré-capitalistas.
[...] Segundo, o capitalismo organizado em bases nacionais transborda frontei-
ras, mares e oceanos. O comércio, a busca de matérias-primas, a expansão do 
mercado, o desenvolvimento das forças produtivas, a procura de outras e no-
vas fontes de lucros, tudo isso institui colonialismos, imperialismos, sistemas 
econômicos, economias-mundo, sistemas mundiais, em geral centralizados em 
capitais de nações dominantes, metrópoles ou países metropolitanos.
[...] Terceiro e último, o capitalismo atinge uma escala propriamente global. 
Além das suas expressões nacionais, bem como dos sistemas e blocos articulan-
do regiões e nações, países dominantes e dependentes, começa a ganhar perfil 
mais nítido o caráter global do capitalismo. Declinam os Estados-nações, tanto 
os dependentes como os dominantes. As próprias metrópoles declinam, em be-
nefício de centros decisórios dispersos em empresas e conglomerados moven-
do-se por países e continentes, ao acaso dos negócios, movimentos do mercado, 
exigências da reprodução ampliada do capital. Os processos de concentração e 
centralização do capital adquirem maior força, envergadura, alcance. Invadem 
cidades, nações e continentes, formas de trabalho e vida, modos de ser e pensar, 
produções culturais e formas de imaginar. Muitas coisas desenraizam-se, pare-
cendo flutuar pelos espaços e tempos do presente.
A crise econômica mundial, a globalização da 
economia e a reestruturação produtiva
Sociologia Geral
4
63
As sociedades contemporâneas, a despeito das suas diversidades e tensões inter-
nas e externas, estão articuladas numa sociedade global. Uma sociedade global 
no sentido de que compreende relações, processos e estruturas sociais, econômi-
cas, políticas e culturais, ainda que operando de modo desigual e contraditório. 
Nesse contexto, as formas regionais e nacionais evidentemente continuam a sub-
sistir e atuar. Os nacionalismos e regionalismos sociais, econômicos, políticos, 
culturais, étnicos, linguísticos, religiosos e outros podem até ressurgir, recrudes-
cer. Mas o que começa a predominar, a apresentar-se como uma determinação 
básica, constitutiva, é a sociedade global, a totalidade na qual pouco a pouco 
tudo o mais começa a parecer parte, segmento, elo, momento. São singularida-
des ou particularidades, cuja fisionomia possui ao menos um traço fundamental 
conferido pelo todo, pelos movimentos da sociedade civil global.
[...] Desde que começou a desenvolver-se na Europa, o capitalismo adquiriu todas 
as características de um processo inexorável e universal. Invadiu todos os cantos e 
recantos do mundo; não só uma, mas várias vezes, sob diferentes formas. Algumas 
vezes revolucionou tudo de alto a baixo, desbaratando o que encontrava pela fren-
te. Outras, acomodando-se às formas sociais de vida e de trabalho que encontrava, 
em uma simbiose conveniente e tensa, dinâmica e contraditória. Inclusive há casos 
em que o capitalismo recria formas sociais de vida e de trabalho distintas, seja pela 
dinâmica da simbiose, seja por suas flutuações cíclicas, quando se abrem espaços 
para diferentes formas de vida e trabalho. Em geral, no entanto, o capitalismo re-
voluciona contínua e reiteradamente os centros e as periferias, compreendendo os 
campos e as cidades, as nações e os continentes.
Visto assim, em perspectiva histórica ampla, o capitalismo é um modo de pro-
dução material e espiritual, um processo civilizatório revolucionando continua-
mente as condições de vida e trabalho, os modos de ser de indivíduos e coletivi-
dades, em todos os cantos do mundo.
Essas citações parecem suficientes para a caracterizar o processo de “globalização” ou 
de “mundialização” (palavra preferencialmente empregada pelos autores de língua france-
sa) que transformou a economia e revolucionou o interior das empresas e os mercados de 
trabalho dos países de todos os continentes, com exceção do africano, ainda completamente 
desconectado dos mercados internacionais,
Assim, a globalização pode ser compreendida como uma etapa do processo de realiza-
ção e desenvolvimento do modo de produção capitalista, marcada pela intensificação de sua 
internacionalização que, iniciada em séculos anteriores, expressa-se na presença de gran-
des corporações econômicas (Coca-Cola, Nike, General Motors, P&G – Procter & Gamble, 
Mitsubishi etc.) em quase todos os países do mundo, não só como fornecedoras de produ-
tos, mas também como produtoras, por meio da formação de redes empresariais por elas 
comandadas, isto é, por meio de parcerias com empresas locais, que dão origem a uma nova 
A crise econômica mundial, a globalização da 
economia e a reestruturação produtiva4
Sociologia Geral64
lógica organizacional: a da empresa em rede – de fornecedores, de produtores, de distribui-
ção, de clientes, de cooperação tecnológica, de coalizões-padrão (CASTELLS, 1999, p. 210).
A nova lógica empresarial repercute imediata e profundamente nos mercados de tra-
balho, desestruturando-os e reestruturando-os, com graves e contundentes consequências 
sobre os trabalhadores e sobre a vida sindical. 
A constituição de redes empresariais foi impulsionada pelas tecnologias de informação 
e de comunicação que também permitiram o surgimento do “dinheiro eletrônico” e a glo-
balização financeira, provocando uma total reorganização do sistema financeiro, pois fluxos 
enormes de dinheiro caminham pelo mundo via computadores sem qualquer regulamenta-
ção, com poder de desestabilização das economias nacionais.
A globalização fundamenta-se na redução das tarifas alfandegárias que protegem as 
economias nacionais da concorrência internacional e na abertura dos mercados regionais 
com a formação de blocos econômicos, configurando um processo de desregulamentação da 
vida econômica que acirra a competição nacional e internacional. A abertura dos mercados 
dos países em processo de desenvolvimento é altamente prejudicial às empresas nacionais, 
impossibilitadas de competir em igualdade de condições com as grandes corporações que 
lançam produtos sofisticados, baratos e inovadores, fabricados em várias partes do mundo, 
com mão de obra barata em mercados de trabalho desregulamentados ou pouco regulamen-
tados, e que podem contar com tecnologia de ponta. As empresas nacionais em países em 
desenvolvimento têm poucas chances de sobrevivência independente: acabam associando-
-se às grandes corporações, reforçando a interdependência econômica internacional.
A globalização não pode ser apenas compreendida como fenômeno econômico, como 
lembram tanto Ianni (1996) quanto Giddens (2005). Ela atinge todas as esferas da vida e 
transformam as culturas nacionais.
No plano político, a globalização se expressa na formação dos grandes organismos 
internacionais, como ONU, OEA, OTAN, FMI, Banco Mundial, OCDE, OMC1, de blocos 
econômicos regionais, ou na assinatura de acordos multilaterais de cooperação, além, é 
claro, dasconstantes viagens internacionais dos governantes à procura de mercados para 
os produtos nacionais – bens primários, em sua maioria, quando se trata de governantes de 
países em desenvolvimento.
No plano cultural, a globalização se expressa na internacionalização dos produtos cul-
turais das grandes economias mundiais: ciência, tecnologia, música, cinema, livros etc., que 
têm o poder de transformar desejos e expectativas das populações dos países subdesenvol-
vidos. Essa adoção de valores e padrões importados de consumo, comportamento e estética 
tendem a esgarçar a identidade nacional.
Por essas razões, a globalização tem provocado polêmicas acaloradas em todas as par-
tes do mundo e, sobretudo, nos meios acadêmicos dos países em desenvolvimento. 
1 ONU – Organização das Nações Unidas; OEA – Organização dos Estados Americanos; OTAN – Or-
ganização do Tratado do Atlântico Norte; FMI – Fundo Monetário Internacional; OCDE – Organização 
de Cooperação de Desenvolvimento Econômico; OMC – Organização Mundial do Comércio.
A crise econômica mundial, a globalização da 
economia e a reestruturação produtiva
Sociologia Geral
4
65
4.3 A reestruturação produtiva ou 
a nova lógica organizacional
As tecnologias da informação conjugadas às novas técnicas gerenciais do pro-
cesso de trabalho transformam o interior das fábricas e dos escritórios, imprimin-
do-lhes uma nova face, cujas principais características são:
• Redução das dimensões físicas das unidades empresariais, em virtude 
não só do desenvolvimento do processo de subcontratação e terceiriza-
ção, como também da adoção dos métodos japoneses de controle de qua-
lidade total, cujos fundamentos se expressam nos conhecidos 5 S:
shitsuke: senso de 
disciplina 
e autodisciplina
seiketsu: senso de 
saúde física e mental
seiso: senso de lim-
peza e conservação 
dos equipamentos
seiri: senso de 
 utilização racional 
dos recursos
seiton: senso de 
organização
5 S
 ◦ seiri: senso de utilização racional dos recursos para evitar desperdício; 
 ◦ seiton: senso de organização; 
 ◦ seiso: senso de limpeza e conservação dos equipamentos; 
 ◦ seiketsu: senso de saúde, física e mental; 
 ◦ shitsuke: senso de disciplina e autodisciplina, tendo por objetivo ve-
rificar a utilização racional dos recursos para evitar desperdício e a 
obtenção de uma produção livre de defeitos, além, é claro, de um 
rígido controle dos estoques que deu origem ao método just-in-time 
ou produção sem estoques;
• Redução da estrutura de autoridade hierárquica, com o surgimento 
de equipes multifuncionais com autonomia para a tomada de decisões 
operacionais.
Vídeo
A crise econômica mundial, a globalização da 
economia e a reestruturação produtiva4
Sociologia Geral66
• Redução dos postos de trabalho, pois que a nova lógica organizacional se funda-
menta nos princípios de integração e supervisão de todo o sistema de produção e, 
como afirma Zarifian (1990, p. 82), na “dissociação entre sistema técnico e sistema 
de trabalho, que passam a ser ligados por um novo sistema, o informacional”, 
consolidando o princípio de cooperação mútua que, em decorrência, aumenta a 
responsabilidade profissional de cada um e de todos.
• Fim da execução de tarefas parcelares, simplificadas e repetitivas, exigindo-se dos 
trabalhadores capacidade de compreensão da totalidade do processo de trabalho, 
versatilidade em várias tarefas, rápida adaptação às inovações e precisão na toma-
da de decisões, uma vez que os novos princípios de gestão enfatizam o processo e 
não a estrutura e a função.
• Forte envolvimento, em consequência, de todos os trabalhadores em todas as eta-
pas do processo de trabalho, tendendo a permitir o fim da total dissociação entre 
gerência científica e chão de fábrica que caracterizou as formas taylorista e fordista 
da organização do trabalho.
• Adoção do princípio de aperfeiçoamento contínuo do processo (kaizen), encora-
jando, assim, os trabalhadores ao desenvolvimento e à utilização de suas poten-
cialidades, isto é, inteligência, criatividade, espírito crítico e iniciativa, em todas as 
etapas da produção e/ou da prestação de serviços, permitindo-se vislumbrar nisso 
o início de um novo processo, o da reumanização do trabalho, degradado pela 
universalização do taylorismo e fordismo no século XX.
O novo modo de acumulação do capital, gestado na crise econômica das últimas déca-
das do século XX, dá origem a novos problemas, dificuldades e frustrações, mas também 
a novas expectativas, interesses, desejos e tentativas de resolução de problemas no infinito 
processo de reconstrução da História.
Dentre os problemas, dificuldades e frustrações criados pelo novo modo de acumu-
lação do capital e, mais imediatamente, pela reestruturação produtiva, com graves conse-
quências para os trabalhadores e governos de todos os países do mundo, em especial dos 
países subdesenvolvidos, ressaltam-se: a elevação dos índices de desemprego; o surgimento 
de novas e precárias relações de trabalho; o aumento considerável do mercado informal de 
trabalho; e a exigência de novas competências profissionais adquiridas nos bancos escolares 
para a garantia de empregabilidade, quando a grande maioria dos trabalhadores dos países 
mais pobres não tem acesso à escolaridade segundo os padrões de excelência, agravando 
sobremaneira a sua situação.
Para os governos, os problemas sociais e políticos que daí decorrem atingem dimensões 
extraordinárias e exigem maior eficiência administrativa e maior competência política para 
firmar acordos nacionais e internacionais que permitam a elaboração de novas estratégias 
para reverter a situação de crise que se expressa no aumento da violência urbana, nos deficits 
da Previdência Social, nos conflitos comerciais internacionais, na ameaça de volta da ciranda 
inflacionária etc. e, sobretudo, no sofrimento de milhões de famílias atingidas pela falta de 
perspectivas e de esperança no curto prazo.
A crise econômica mundial, a globalização da 
economia e a reestruturação produtiva
Sociologia Geral
4
67
4.4 O desemprego e as novas relações de trabalho
Segundo o relatório anual sobre Tendências Mundiais do Trabalho, da Organização 
Internacional do Trabalho (OIT), o desemprego atingiu 6,3% da população mundial em 
2005, isto é, quase 192 milhões de trabalhadores. A América Latina e a África Subsaariana 
registraram as taxas mais elevadas de desemprego e os maiores índices de pobreza. Entre 
2004 e 2005, 1,3 milhão de pessoas perderam seus empregos nos países latino-americanos e 
não mais conseguiram voltar ao mercado de trabalho. Esses índices não sofreram melhoras: 
quase 12 anos depois, a OIT registrou na América Latina e no Caribe um aumento de 7,9% 
em 2016 para 8,4% no final de 2017, representando uma alta de mais de dois milhões, totali-
zando 26,4 milhões de pessoas que procuram emprego sem sucesso. Na África Subsaariana, 
o desemprego atingiu a casa de 9,7% em 2005, sofrendo, ao longo desses 12 anos, uma leve 
queda para 7,8%, ainda um número alto, considerando que é o equivalente a 29,1 milhões 
de pessoas (OIT, 2017)
Taxas elevadas de desemprego significam taxas elevadas de pobreza. Segundo dados 
apresentados pelo IBGE (BRASIL, 2017), um quarto da população brasileira, 52,168 milhões, 
vive abaixo da linha da pobreza. Como o Brasil não tem estipulada uma linha oficial, esses 
dados foram baseados na perspectiva de 5,5 dólares americanos por dia (o equivalente a mé-
dia de 133,72 reais mensais, considerando como base para a conversão da moeda o mês de 
dezembro de 2017), considerados pela ONU e pelo Banco Mundial como limites para países 
emergentes (que é o caso do Brasil). Valores menores para esse cálculo ainda são considera-
dos em outras regiões, como 1,9 dólar para o cálculo da extrema pobreza. 
Segundo dados divulgados pela OIT em 2017, os jovens dos 15 aos 24 anos constituem 
mais de 35% de todos os desempregados do mundo, o número estimado é de 70,9 milhões. 
No Brasil, uma pesquisa realizada pelo IPEA – Institutode Pesquisa Econômica Aplicada 
– em 2017 apontou que no terceiro trimestre de 2015 o desemprego atingiu 19,7 % da popu-
lação jovem entre 18 e 24 anos; em relação ao terceiro trimestre de 2017, esse número subiu 
para 26,5% mostrando um crescimento elevado em um curto período de tempo, em relação 
à faixa etária superior, entre 25 e 39 anos, a variação foi de 8,6% e 11,3% para os mesmos 
períodos, a metade da taxa registrada entre os jovens (BRASIL, 2017). Além desses dados, 
pode-se observar na Tabela 1 que os índices só aumentaram em todas as categorias nesses 
três anos pesquisados:
Tabela 1 – Índices de desemprego no Brasil entre 2015 e 2017 por região.
2015 2016 2017
3° 
Trim.
4° 
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1° 
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2° 
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3° 
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Trim.
1° 
Trim.
2° 
Trim.
3° 
Trim.
Brasil 8,9 9,0 10,9 11,3 11,8 12,0 13,8 13,0 12,4
Centro Oeste 7,5 7,4 9,7 9,7 10,0 10,9 12,1 10,6 9,7
Nordeste 10,8 10,5 12,8 13,2 14,1 14,4 16,3 15,9 14,8
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A crise econômica mundial, a globalização da 
economia e a reestruturação produtiva4
Sociologia Geral68
2015 2016 2017
3° 
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Trim.
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Trim.
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Trim.
1° 
Trim.
2° 
Trim.
3° 
Trim.
Norte 8,8 8,6 10,5 11,2 11,4 12,7 14,2 12,5 12,2
Sudeste 9,0 9,6 11,4 11,7 12,3 12,3 14,2 13,6 13,2
Sul 6,0 5,7 7,3 8,0 7,9 7,7 9,3 8,4 7,9
Região 
Metropolitana
9,7 9,8 11,9 12,6 13,5 13,5 14,9 14,7 14,1
Não Região 
Metropolitana
8,3 8,4 10,1 10,4 10,5 10,9 12,9 11,7 11,2
Fonte: BRASIL, 2017.
Tabela 2 – Índices de desemprego no Brasil entre 2015 e 2017 por gênero.
2015 2016 2017
3° 
Trim.
4° 
Trim.
1° 
Trim.
2° 
Trim.
3° 
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4° 
Trim.
1° 
Trim.
2° 
Trim.
3° 
Trim.
Masculino 7,7 7,7 9,5 9,9 10,5 10,7 12,25 11,5 11,0
Feminino 10,4 10,6 12,7 13,2 13,5 13,8 15,8 14,9 14,2
 Fonte: BRASIL, 2017.
Tabela 3 – Índices de desemprego no Brasil entre 2015 e 2017 por faixa etária.
2015 2016 2017
3° 
Trim.
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Trim.
1° 
Trim.
2° 
Trim.
3° 
Trim.
4° 
Trim.
1° 
Trim.
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Trim.
3° 
Trim.
18 a 24 anos 19,7 19,4 24,1 24,5 25,7 25,9 28,8 27,3 26,5
25 a 39 anos 8,6 8,5 9,9 10,4 10,9 11,2 12,8 12,0 11,3
40 a 59 anos 4,6 4,9 5,9 6,3 6,7 6,9 7,9 7,6 7,4
60 anos 
 ou mais
2,7 2,5 3,3 3,8 3,6 3,4 4,6 4,5 4,3
Fonte: BRASIL, 2017.
A crise econômica mundial, a globalização da 
economia e a reestruturação produtiva
Sociologia Geral
4
69
Tabela 4 – Índices de desemprego no Brasil entre 2015 e 2017 por níveis de ensino.
2015 2016 2017
3° 
Trim.
4° 
Trim.
1° 
Trim.
2° 
Trim.
3° 
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Trim.
1° 
Trim.
2° 
Trim.
3° 
Trim.
Fundamental 
Incompleto
7,9 7,9 9,1 9,7 10,5 11,3 12,3 12,0 11,4
Fundamental 
Completo
9,7 9,8 11,6 12,9 13,4 13,4 15,2 15,0 14,8
Médio 
Incompleto
15,3 16,2 20,4 20,6 21,4 22,0 24,2 21,8 21,0
Médio 
Completo
10,1 10,1 12,7 12,8 13,2 13,2 15,5 14,6 14,0
Superior 6,2 6,2 7,6 7,8 7,8 7,6 9,2 8,3 7,9
Fonte: BRASIL, 2017.
Tabela 4 – Índices de desemprego no Brasil entre 2015 e 2017 por estrutura famíliar.
2015 2016 2017
3° 
Trim.
4° 
Trim.
1° 
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Trim.
3° 
Trim.
4° 
Trim.
1° 
Trim.
2° 
Trim.
3° 
Trim.
Não Chefe 
Família
12,4 12,3 15,0 15,3 15,8 16,0 18,1 17,1 16,4
Chefe 
Família
4,8 5,1 6,1 6,6 7,0 7,2 8,4 7,9 7,6
 Fonte: BRASIL, 2017.
O desemprego no Brasil, o país mais industrializado da América Latina e 9ª econo-
mia mundial, isto é, que possui o 9° maior produto interno bruto (PIB) do mundo, tem se 
mantido elevado desde a década de 1990. Em 1999, havia 7,6 milhões de desempregados, 
segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio do Instituto Brasileiro de Geografia 
e Estatística (IBGE), já na mesma pesquisa realizada em 2017, o número subiu para 13,8 mi-
lhões, o equivalente a 13,3% da população brasileira.
O desemprego se apresenta sob diferentes formas e tem diferentes causas. As formas 
mais persistentes podem ser assim identificadas:
• Desemprego estrutural: típico dos países subdesenvolvidos e dependentes, pro-
vocado pela fraqueza dos investimentos produtivos e pela ausência de mecanis-
mos institucionais de distribuição mais igualitária da renda. A dependência eco-
nômica se expressa no desequilíbrio permanente da balança de pagamentos e na 
dependência do aporte de capitais estrangeiros, seja na forma de investimentos 
produtivos diretos, seja na forma de capital financeiro, obtido a juros altíssimos 
no mercado internacional especulativo, desregulamentado e volátil, para financiar 
A crise econômica mundial, a globalização da 
economia e a reestruturação produtiva4
Sociologia Geral70
investimentos em infraestrutura e pagar a dívida externa, além de garantir o lastro 
da moeda, cuja estabilização depende das reservas nacionais em dólares.
• Desemprego tecnológico: típico dos países mais desenvolvidos, é provocado pela 
reestruturação produtiva, ou seja, pela introdução da mais sofisticada tecnolo-
gia de base microeletrônica conjugada à adoção de novas e sofisticadas formas 
de organização do processo de trabalho cuja consequência imediata é a redução 
de milhões de postos de trabalho em todo o mundo. Basta lembrar que um só 
computador elimina pelo menos quatro postos de trabalho, e torna quase abso-
lutamente dispensáveis os trabalhadores sem qualificação profissional, responsá-
veis no passado recente pela realização de operações simplificadas e repetitivas, 
hoje transferidas para as máquinas computadorizadas. No Brasil, a modernização 
tecnológica e organizacional, a partir da década de 1990, quando da abertura dos 
mercados brasileiros que obrigou as grandes empresas a tornarem-se internacio-
nalmente competitivas, é também responsável por parte da porcentagem do nú-
mero de desempregados.
• Desemprego conjuntural: como o próprio nome indica, é conse quência da queda 
temporária dos investimentos produtivos em determinadas conjunturas econômi-
cas, financeiras ou políticas, nacionais ou internacionais, marcadas sobretudo pelo 
aumento dos preços dos insumos industriais, especialmente do petróleo, pelo au-
mento dos índices de inflação que corrói o poder aquisitivo da moeda, dos salários 
e a credibilidade dos negócios. Políticas macroeconômicas e financeiras são adota-
das para a retomada do crescimento sustentado com fundamento, na maioria dos 
casos, no aumento das taxas de juros, que inibe os investimentos consequentemen-
te o consumo e impede a competitividade das empresas no mercado internacio-
nal, e com fundamento num drástico controle fiscal, com drástica diminuição dos 
gastos do governo e recessão econômica. O resultado é o aumento do desemprego, 
que tende a diminuir no médio prazo, seja pelo sucesso das medidas adotadas, 
seja pelo forte crescimento da economia mundial que, devido à globalização, é 
hoje um dos fatores determinantes dos índices de emprego e desemprego ao tor-
nar todas as economias do mundo interdependentes.
• Desemprego friccional: provocado pela mudança de emprego ou atividade dos 
indivíduos, muito comum nas últimas décadas com o desaparecimento e, ao mes-
mo tempo, o surgimento de muitas ocupações profissionais em decorrência das 
transformações tecnológicas e organizacionais do processo de trabalho e da rees-
truturação dos mercados.
• Desemprego temporário: ocorrido em razão da sazonalidade de algumas ativida-
des econômicas, sobretudo as relativas à agricultura e ao turismo.
Para a elaboração das taxas de desemprego são utilizados os critérios de desempre-
go aberto e desemprego, total que englobam também o desem prego oculto e o desem-
prego pelo desalento. O IBGE utiliza o critério de desemprego aberto, que corresponde 
às pessoas que procuraram emprego sem sucesso nos últimos 30 dias do período de 
referência, além de não terem tido qualquer ocupação remunerada.
A crise econômica mundial, a globalização da 
economia e a reestruturação produtiva
Sociologia Geral
4
71
A Fundação Seade e o Dieese adotam o critério de desemprego total, consi derando o 
desemprego aberto, o desemprego oculto pelo trabalho precário e o desemprego oculto pelo 
desalento. O desemprego oculto pelo trabalho precáriocaracteriza aqueles trabalhadores 
que, simultaneamente à procura de emprego, realizaram algum tipo de atividade descontí-
nua ou irregular, isto é, conseguiram algum tipo de ocupação remunerada. O desemprego 
oculto pelo desalento, como a própria expressão indica, caracteriza os trabalhadores que 
desistiram de procurar emprego, “desencorajados pelas condições do mercado de trabalho 
ou por razões circunstanciais, embora ainda queiram trabalhar”(DIEESE, 1997). 
Pelo fato de adotarem metodologias diferentes e não se fundamentarem nos mesmos 
dados, IBGE, Seade e Dieese apresentam resultados diferentes da pesquisa sobre o desem-
prego no Brasil. Infelizmente, porém, qualquer que seja a metodologia utilizada, a taxa de 
desemprego tem se mantido muito elevada, como elevados são os números referentes ao 
mercado informal de trabalho e ao trabalho precário.
A informalidade não é um problema novo no Brasil e muito menos na América Latina, 
pois, desde a consolidação do capitalismo moderno no final do século XIX, nunca o mercado 
de trabalho da região alocou a maior parte da força de trabalho disponível. Sempre mais da 
metade dos trabalhadores latino-americanos aptos para o trabalho sobreviveu no mercado 
informal de trabalho ou trabalho precário, não tendo pleno acesso, portanto, aos benefícios 
previstos pela legislação trabalhista, tais como férias, repouso semanal remunerado, apo-
sentadoria, décimo terceiro salário etc. Hoje, se o mercado informal e as diversas formas de 
trabalho precário chamam a nossa atenção, o motivo não reside na novidade do fenômeno, 
mas na sua dimensão e na falta de perspectivas de sua reversão. A redução do emprego 
formal parece ser tendência universal, mesmo havendo aumento dos investimentos produti-
vos, porque quase sempre esses investimentos são intensivos em bens de capital e, portanto, 
não são geradores de milhares de postos de trabalho, como eram aqueles do tempo da orga-
nização taylorista/fordista do processo de trabalho e de prestação de serviços.
Grandes empresas multinacionais, como as montadoras de automóveis, estão reestru-
turando suas unidades produtivas, anunciando demissões em massa. A Volkswagen do 
Brasil, por exemplo, que empregava mais de 40 mil trabalhadores na década de 1980, em 
sua fábrica fordista de São Bernardo do Campo, no estado de São Paulo, tem em 2017 cerca 
de 10,5 mil trabalhadores ativos, número que não tem previsão de crescimento, ao contrário, 
diante do cenário econômico do país, a multinacional analisa a demissão de um excedente 
de 34% desse pessoal. 
Vale sempre a pena enfatizar que a globalização, ao tornar todas as economias do mun-
do interdependentes e sobretudo dependentes das conjunturas econômicas e políticas dos 
países mais ricos, isto é, dos maiores consumidores de mercadorias e de serviços – EUA, 
Europa, Japão – para aumentarem suas exportações, acirra a competição por mercados entre 
regiões, países e empresas. Sem dúvida, isso requer não só modernização tecnológica, mas 
também modernização organizacional para intensificar o processo de redução dos custos de 
produção e o barateamento das mercadorias.
A modernização organizacional independe da modernização tecnológica, embora esta 
quase sempre requeira aquela. E a modernização organizacional assume diferentes formas, 
A crise econômica mundial, a globalização da 
economia e a reestruturação produtiva4
Sociologia Geral72
muitas conjugadas, que resultam, na maioria dos casos, em expressiva supressão de postos 
de trabalho e na precarização das relações de trabalho. Algumas delas são:
• a adoção dos métodos japoneses de gestão do processo de trabalho (toyotismo);
• a formação de redes empresariais nacionais internacionais – redes de produção, 
de distribuição, de comercialização – com a terceirização de micro e pequenas 
empresas;
• as fusões de empresas, alianças estratégicas, joint ventures;
• o estabelecimento de novas relações de trabalho que exigem a flexi bilização ou a 
sua desregulamentação, mesmo em países de rígida regulamentação dessas rela-
ções, como é o caso do Brasil, cuja legislação trabalhista é considerada uma das 
mais sofisticadas do mundo, com um grande número de artigos, cuja obediência é 
assegurada por uma justiça especial, a Justiça do Trabalho.
4.5 Novas relações de trabalho 
ou trabalho precário
Dessa maneira, também no Brasil vimos consolidarem-se a terceirização, o contrato tem-
porário de trabalho, a jornada parcial de trabalho, o banco de horas, o trabalho em domicílio, 
que implicam na consolidação do processo que se convencionou denominar de precarização 
das relações de trabalho, por impedirem o pleno acesso dos trabalhadores a todos os benefícios 
previstos na legislação trabalhista – a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) – e concedi-
dos pelas grandes empresas para reforçar sempre mais a colaboração de seus trabalhadores.
No Brasil, a terceirização tem se desenvolvido desde a década de 1990, ocupando traba-
lhadores demitidos das grandes empresas que investem a importância recebida do Fundo 
de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) na abertura de micro e pequenas empresas pres-
tadoras de serviços, quase sempre fadadas ao fracasso, apesar do apoio de órgãos gover-
namentais – universidades e Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, o 
Sebrae –, seja devido à inexperiência para gerir o próprio negócio, seja pela incapacidade 
para enfrentar a concorrência, seja por sua total dependência da empresa que primeiramen-
te as contratou para desobrigar-se do pagamento de encargos sociais a trabalhadores res-
ponsáveis por tarefas menos tecnologicamente sofisticadas do processo produtivo.
Os trabalhadores das empresas terceirizadas não terão oportunidade de ascensão pro-
fissional, porque não existe quadro de carreira, sentem-se mais inseguros dada a fragilidade 
econômica e financeira que as caracteriza, além de não terem acesso a alguns benefícios 
importantes concedidos pelas grandes empresas.
Outras expressões do processo de precarização do trabalho são o regime de jornada 
parcial, já em crescimento desde o início da década de 1980, em países industrializados, o 
contrato temporário, o banco de horas e o desenvolvimento das ocupações, isto é, das ativi-
dades autônomas ou informais.
Vídeo
A crise econômica mundial, a globalização da 
economia e a reestruturação produtiva
Sociologia Geral
4
73
Em setembro de 1998, foi aprovada uma medida provisória regula men tando a contra-
tação de trabalhadores por tempo parcial, garantindo-lhes, de forma proporcional, todos os 
direitos trabalhistas, como férias e décimo terceiro salário, assegurados aos empregados por 
horário integral. Jornada parcial de trabalho significa salário parcial e direitos trabalhistas 
parciais, isto é, trabalho precário.
O contrato temporário de trabalho ou contrato de trabalho por prazo determinado foi 
instituído pela Lei 9.601, de 21 de janeiro de 1998, que também instituiu o banco de horas, 
com o qual a empresa deixa de pagar horas extras na medida em que o número de horas 
trabalhadas acompanha as flutuações da produção e as demandas do mercado.
Também do ano de 1998, a Medida Provisória 1.726 alterava a legislação anterior ao 
prever a suspensão temporária do contrato de trabalho de dois a cinco meses, mediante 
acordo entre patrões e empregados. Durante a suspensão do contrato, o trabalhador deve 
receber do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) uma bolsa de estudos equivalente ao 
seguro-desemprego (em média 80% do salário) para cursos de requalificação profissional 
e, dependendo do acordo, cesta básica e ajuda de custo adicional. Passado esse período, o 
empregado deve ser recontratado e, se não o for, será demitido com todos os direitos.
A reestruturação das empresas implica, portanto, reestruturação dos mercados de tra-
balho com aumento dos índices de desemprego, do mercado informal e precário, o que 
significa afirmar, com o aumento do número de pessoas e de famílias atemorizadas ante as 
dificuldadesa enfrentar na luta cotidiana pela sobrevivência.
No entanto, seria incorreto atribuir todos os graves problemas sociais à globalização da 
economia, pois, conforme se afirmou, altos índices de desemprego, de trabalho informal e 
de trabalho precário não são novidades na América Latina, cuja estrutura econômica subde-
senvolvida é, em grande parte, responsável por eles. Apesar disso, a globalização da econo-
mia é responsável por sua intensificação, juntamente com a ausência de políticas públicas 
que, de fato, fomentem a geração de emprego e renda, isto é, políticas econômicas, indus-
triais, agrícolas, financeiras, de desenvolvimento educacional, científico e tecnológico, além 
de parcerias internacionais importantes, que resultem em investimentos produtivos para 
absorver a força de trabalho hoje excedente. Políticas governamentais, portanto, capazes de 
permitir ao país enfrentar a competição não só dos países de tradição industrial, científica 
e tecnológica, mas a competição também das gigantes economias do continente asiático, 
sobretudo da China. Com efeito, esse país tem conquistado mercados em todo o mundo 
não só oferecendo produtos baratos, mas também produtos manufaturados de maior valor 
agregado, de maquinário e bens industriais intermediários até produtos mais sofisticados, 
como computadores. A China tem ceifado importantes mercados de produtos brasileiros, 
como o de calçados. 
Com a maior população do mundo e mercado de trabalho totalmente desregulamenta-
do, pagando baixíssimos salários comparativamente aos salários e benefícios previdenciá-
rios nos países industrializados do Ocidente, inclusive o Brasil, com jornadas de trabalho 
de 12 a 14 horas e sem previdência social universal, a China não só nos “rouba” mercados, 
como também desvia para lá os investimentos produtivos com os quais poderiam ser gera-
dos muitos empregos aqui. Até empresas brasileiras, como a Grendhene e a Embraer, por 
A crise econômica mundial, a globalização da 
economia e a reestruturação produtiva4
Sociologia Geral74
exemplo, têm unidades produtivas naquela região. A China e os países do leste europeu 
recém-saídos da experiência do socialismo representam uma ameaça de desinvestimento e, 
em consequência, de aumento do desemprego e de precarização do trabalho aos trabalha-
dores dos países do Ocidente que conquistaram com enormes sacrifícios a regulamentação 
das relações de trabalho. Vem daí a importância das políticas governamentais no sentido de 
tornarem possível a competitividade das empresas brasileiras para a garantia do emprego e 
da distribuição da renda.
A competição internacional não se dá em igualdade de condições devido às especifi-
cidades históricas e institucionais das diferentes regiões e países do mundo, e a tentativa 
de proteger a economia nacional se inviabiliza ante as agressivas pressões internacionais 
que nem mesmo os organismos criados para minimizá-las ou suprimi-las conseguem en-
frentar. Ao contrário, à medida que os países ricos sustentam os grandes organismos inter-
nacionais de concessão de créditos, como FMI, Banco Mundial, Banco Interamericano de 
Desenvolvimento entre outros, são eles que detêm o poder de determinar-lhes o curso que 
será, é claro, em defesa de seus próprios interesses, ou seja, de proteção de suas economias.
4.6 Reações dos trabalhadores
Nesse contexto nacional e internacional, os sindicatos perdem poder de barganha. As 
reivindicações reduzem-se a uma só: a defesa do emprego. Ao longo do século passado, 
os sindicatos eram combativos organizando movimentos grevistas de confronto aberto ao 
capital, com os quais reivindicavam aumentos salariais, diminuição da jornada de trabalho, 
aposentadoria plena, participação efetiva na elaboração de políticas públicas para a melho-
ria das condições de trabalho e de vida de todos os trabalhadores. Os sindicatos desse novo 
cenário tendem a adotar uma nova orientação: a da negociação permanente, seja empresa 
por empresa, seja por setor, seja articulada entre governo, sindicatos e empresários, na ten-
tativa de garantir a estabilidade dos empregos.
Compreendendo o alcance das transformações tecnológicas e econô micas em curso, os 
trabalhadores mudaram o seu comportamento, o seu discurso e as suas reivindicações, porque 
sabem que a sobrevivência dos seus empregos depende da sobrevivência das empresas que os 
mantêm, e o sucesso delas está inextrincavelmente ligado aos altos índices de produtividade, 
qualidade e inovação do processo para diminuição dos custos de produção do produto. E, da 
mesma maneira, as empresas compreendem que a sua sobrevivência depende do tipo de par-
ceria que estabelecerem com os trabalhadores, o que significa permitir a participação não só 
nas decisões operacionais como também nos lucros obtidos pelo aumento de produtividade, 
com a fixação, em conjunto, das metas a realizar. Pode-se perceber, portanto, que um número 
considerável de empresas adota o sistema formal de remuneração variável que, via de regra, 
significa intensificação do trabalho na medida em que, como o próprio nome o indica, vincula 
o montante da remuneração à produtividade das equipes de trabalho.
Remuneração variável e participação nos lucros alteram as relações de trabalho e rompem 
a relação salarial, isto é, “o conjunto das condições jurídicas e institucionais que regem o uso do 
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A crise econômica mundial, a globalização da 
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trabalho assalariado, como também a reprodução da existência dos trabalhadores” (BOYER, 
1986), justificando, em parte, a flexibilização e desregulamentação dos mercados de trabalho.
A relação salarial não se estabelece mais como antes da reestruturação produtiva, com 
o mercado de trabalho (procura e oferta de trabalhadores), aumento da produtividade ba-
seado no desempenho individual dos trabalhadores ou, ainda, controle institucional sobre 
o trabalho (legislação). A relação salarial se estabelece com base na capacidade de produção 
das empresas determinada pela tecnologia empregada, eficiência do conjunto de seus traba-
lhadores, qualidade do produto e sobretudo capacidade de administração dos negócios, as 
quais, definem juntas a capacidade de competir no mercado internacional e, em decorrência, 
a obtenção de lucros, garantindo, ao mesmo tempo, a manutenção do emprego e a elevação 
dos salários ou a participação nos lucros, o que supõe o desenvolvimento de novas estrutu-
ras organizacionais e de gestão do pessoal.
Portanto, a participação nos lucros interessa tanto à empresa quanto aos trabalhadores. 
À empresa, significa garantir o esforço dos trabalhadores para atingir as metas estabeleci-
das, evitando paralisações ou produção defeituosa por negligência ou irresponsabilidade. 
Significa também compartilhar com os trabalhadores não só os lucros, mas também pos-
síveis prejuízos decorrentes, como, por exemplo: a situação do mercado local, nacional ou 
internacional; a política industrial e econômica do país; a incapacidade de acompanhamento 
das inovações tecnológicas; a má administração dos negócios; o mau desempenho de seus 
trabalhadores etc. Sobretudo, significa a desmobilização do movimento sindical, à medida 
que os interesses dos trabalhadores, agora parceiros ou sócios do capital, estariam interliga-
dos aos interesses de sua empresa e sua realização não mais dependeria das conquistas dos 
trabalhadores do seu setor ou dos trabalhadores em seu conjunto. 
A saúde econômica e financeira de uma empresa a define, o que faz com que dependa 
diretamente de seus funcionários; sendo assim, concessões mútuas dentro da especificidade 
da situação empresarial tendem a tornar-se a regra. Com isso, a empresa fica livre de parali-
sações ou greves promovidas pelo movimento sindical por razões salariais, de melhoria nas 
condições de trabalho ou de natureza política. 
O movimento sindical para esses trabalhadores perde importância ou deixa de ter sen-
tido como estratégia para a promoção de seusinteresses econômicos imediatos, pessoais 
ou coletivos. Suas funções tendem a deslocar-se para o campo das políticas econômicas 
que alcançam todos os trabalhadores em geral e não mais vinculadas à discussão e nego-
ciação dos interesses dos trabalhadores de uma categoria profissional ou de uma empresa 
em particular. Nessa, os próprios trabalhadores discutem e negociam diretamente com os 
dirigentes. O sindicato, portanto, tende a ter um novo papel, como já previa José Pastore no 
início dos anos de 1990:
Na definição de seu novo papel, desponta a importância dos sindicatos nas 
negociações dos princípios gerais das políticas de internacionalização da 
economia, estabilização da moeda, geração de empregos, políticas de rendas e 
modernização tecnológica. Nos fóruns tripartites (governo, trabalhadores e em-
presários), os sindicatos têm apresentado nítidas vantagens comparativas quan-
do comparados com grupos de trabalhadores que se unem ad hoc para discutir 
A crise econômica mundial, a globalização da 
economia e a reestruturação produtiva4
Sociologia Geral76
tais assuntos. Desponta, assim, uma nova divisão do trabalho – a negociação ar-
ticulada – na qual os sindicatos tratam dos temas que afetam toda a economia ou 
setores da economia e os empregados acertam os detalhes com seus empregadores 
diretamente. Se essa tendência vingar, será raro, daqui para a frente, ter o sin-
dicato na porta da fábrica ou confrontando chefias em nome de reivindicações 
específicas dos trabalhadores daquela empresa. Por sua vez, os dirigentes sindi-
cais serão demandados em um nível de competência técnica bem diferente da 
capacitação em técnicas de confrontação. (PASTORE, 1992, p. 52) 
Considere-se, também, que os próprios trabalhadores têm reconhecido como falsa a 
proteção que lhes dá, no caso do Brasil, a legislação trabalhista, porque o peso dos encargos 
sociais dificulta a participação das empresas no jogo competitivo do mercado internacional 
e, sobretudo, dificulta a vida dos próprios trabalhadores, que pagam o preço pela proteção 
legal de sua força de trabalho com a ameaça frequente de desemprego e de flexibilização das 
relações de trabalho.
Embora seja polêmica a discussão sobre o peso dos encargos sociais compulsórios e 
permanentes, reconhece-se que eles são muito altos, dobrando o preço da força de trabalho. 
O capital caminha pelo mundo à procura de condi ções favoráveis, as mais favoráveis, 
para a obtenção e realização de lucros. Intransigências dos trabalhadores, que impeçam as 
empresas de obterem lucros dentro dos patamares por elas fixados como satisfatórios, im-
plicam o perigo do desinvestimento que, como já nos ensinava Buraway (1985, p. 150) na 
década de 1980, é uma nova forma de controle da força de trabalho, isto é, um novo tipo de 
despotismo hegemônico: “O novo despotismo é a tirania racional da mobilidade do capital 
sobre o trabalhador coletivo.”
Mas os trabalhadores não assistem passivamente a essas transformações do mundo do 
trabalho que lhes são muitíssimo desfavoráveis. Sempre reagiram, reagem e reagirão inteli-
gentemente às condições de trabalho e de vida que lhes são perversas e elaboram estratégias 
de defesa de seus interesses, seja no interior das próprias empresas, seja em movimentos 
sociais que reivindicam a transformação da situação vigente por meio de decisões governa-
mentais de grande alcance, como, por exemplo:
• o desenvolvimento da pesquisa científica e tecnológica que depende, de investi-
mentos altamente produtivos e competitivos, geradores de milhares de empregos, 
em um processo já conhecido de “destruição criadora”;
• o desenvolvimento da educação escolarizada e universalizada de acordo com os 
padrões de excelência para garantir a empregabilidade de milhões de trabalhado-
res ou para garantir o sucesso de outros milhões em atividades autônomas;
• reforma tributária para incentivar os investimentos e o consumo, pois em 2016, 
por exemplo, a carga tributária representou 32,3% do PIB, segundo dados da 
Secretaria da Receita Federal;
• reforma política, para garantir a consolidação das instituições democráticas no seu 
sentido o mais amplo, inclusive a democratização econômica que, em parte, também 
depende do Congresso Nacional para favorecer o processo de distribuição da renda;
A crise econômica mundial, a globalização da 
economia e a reestruturação produtiva
Sociologia Geral
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• reforma do poder judiciário, para garantir a efetivação da distribuição da Justiça;
• reforma dos códigos, para adequá-los à realidade dos dias atuais.
Programas sociais não são suficientes para beneficiar a população mais carente se não 
forem acompanhados dessas reformas.
No interior das empresas, os trabalhadores remanescentes já perceberam que os limites 
de seu poder foram ampliados comparativamente à fase taylorista e fordista de organização 
do processo de trabalho, por mais paradoxal que isso possa parecer. No entanto, basta aten-
tar para o fato de que as consequências econômicas e financeiras do acirramento da competi-
ção de mercado verificou que as empresas são muito mais dependentes do que nunca foram, 
resultado da estreita colaboração de seus trabalhadores. 
Com tecnologia sofisticada que representa, na maioria dos casos, a imobilização de vul-
tosos capitais com enormes dificuldades para ganhar e fidelizar mercados, as empresas de-
pendem sempre mais de trabalhadores confiáveis.
A confiabilidade deve ser tratada como um dos pilares de sustentação do funcionamento 
normal, dentro dos padrões de excelência, das empresas modernizadas. E para manter tra-
balhadores confiáveis em seu interior, evitando-se o absenteísmo, o turnover, a negligência, 
a irresponsabilidade consciente ou inconsciente, as empresas se veem obrigadas a fazer con-
cessões se quiserem obter deles a necessária colaboração. E passam a oferecer altos salários, 
formação profissional, promoções no quadro de carreira, benefícios sociais que correspon-
dem a verdadeiros salários, como bolsa educação, fundo de pensão, clube desportivo, colônia 
de férias, participação nos lucros efetivos, programas de qualidade de vida no trabalho, maior 
autonomia operacional, além de se anteciparem às reivindicações de seus trabalhadores.
Evita-se a greve, os prejuízos por ela provocados são quase sempre muito mais eleva-
dos do que o montante a ser desembolsado pelo conjunto das reivindicações apresentadas. 
Daí a tendência para o desenvolvimento das negociações diretas entre as partes e o esforço 
para se chegar rapidamente a um acordo, como também a tendência, por parte dos traba-
lhadores, à aceitação da flexibilização do mercado de trabalho, porque a proteção do Estado 
e do sindicato pode significar, e de fato significa quase sempre, a inviabilidade de muitas 
empresas, de novos investimentos, de novos empregos e de aumentos salariais reais não 
concedidos devido aos encargos sociais elevados que se perdem irresponsavelmente, no 
caso brasileiro, pela incompetência e corrupção administrativas.
Aos trabalhadores que permanecem empregados interessam as transformações em 
curso tanto na estrutura organizacional e no estilo gerencial, como também nas formas de 
remuneração que incluem participação nos lucros, apesar dos enormes sacrifícios a que de-
vem se submeter para a manutenção de sua empregabilidade: atualização permanente de 
conhecimentos, enorme responsabilidade e dedicação exclusiva aos interesses da empresa.
Mas, em compensação, a reestruturação produtiva tende a revolucionar a estrutura de 
poder no seio das unidades empresariais ao:
A crise econômica mundial, a globalização da 
economia e a reestruturação produtiva4
Sociologia Geral78
• estabelecer uma política de comunicações abertas de compartilhamento de infor-
mações e conhecimentos que possibilita ao trabalhador a compreensão da totali-
dade do processo produtivo e de prestação de serviços;
• transformar a estrutura de autoridade hierárquica, suprimindo muitos cargos de 
chefia intermediária, fonte de conflitosinternos;
• devolver ao trabalhador a responsabilidade pelo processo de trabalho, com a for-
mação de equipes com forte consciência profissional e autonomia para tomar deci-
sões em situações não previstas, o que aumenta o seu envolvimento pessoal, psico-
lógico, proporcionando-lhe condições para o desenvolvimento do sentimento de 
autoestima, quase próximo ao daquele da autorrealização. Os efeitos psicológicos 
destes sentimentos, afirmam os psicólogos, são a satisfação pessoal com repercus-
sões positivas nos níveis de produtividade do trabalho;
• desenvolver a compreensão da forte dependência mútua entre empresas e tra-
balhadores, até então forte dependência unilateral, isto é, dos trabalhadores em 
relação à empresa. 
Além disso, como as empresas modernizadas tendem a ser muito bem-sucedidas, seus 
lucros tendem também a ser altíssimos, possibilitando não só aumentos salariais frequentes, 
como, sobretudo, o pagamento de salários extras, a título de participação nos lucros, dispen-
sando os trabalhadores do desgaste físico e emocional provocado por movimentos grevistas 
de natureza reivindicatória.
Enfim, as transformações do mundo do trabalho revolucionaram a estrutura do mer-
cado, criando situações de trabalho e de vida muito díspares entre os assalariados, tão bem 
identificadas por David Harvey (1992, p. 144) nesta passagem:
a estrutura do mercado de trabalho é caracterizada por um centro – grupo que 
diminui cada vez mais, segundo notícias de ambos os lados do Atlântico – que 
se compõe de empregados em tempo integral, condição permanente e posi-
ção essencial para o futuro de longo prazo da organização. Gozando de maior 
segurança no emprego, boas perspectivas de promoção e de reciclagem, e de 
uma pensão, um seguro e outras vantagens indiretas relativamente genero-
sas, esse grupo deve atender à expectativa de ser adaptável, flexível e, se ne-
cessário, geograficamente móvel. [...] A periferia abrange dois subgrupos bem 
distintos. O primeiro consiste em empregados em tempo integral com habili-
dades facilmente disponíveis no mercado de trabalho, como pessoal do setor 
financeiro, secretárias, pessoal das áreas de trabalho rotineiro e de trabalho 
manual menos especializado. Com menos acesso a oportunidades de carreira, 
esse grupo tende a se caracterizar por uma alta taxa de rotatividade, o que tor-
na as reduções da força de trabalho relativamente fáceis por desgaste natural. 
O segundo grupo periférico oferece uma flexibilidade numérica ainda maior e 
inclui empregados em tempo parcial, empregados casuais, pessoal com contrato 
por tempo determinado, temporários, subcontratação e treinandos com subsídio 
público, tendo ainda menos seguranças de emprego do que o primeiro grupo 
A crise econômica mundial, a globalização da 
economia e a reestruturação produtiva
Sociologia Geral
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periférico. Todas as evidências apontam para um crescimento bastante significa-
tivo desta categoria de empregados nos últimos anos.
A disparidade nas situações de trabalho e de vida tem graves repercussões sobre o 
movimento sindical, na medida em que, ao diversificar os interesses e expectativas dos tra-
balhadores, esfacela-se o sentimento de solidariedade de classe, impossibilitando a sua uni-
dade em torno das mesmas reivindicações. 
Para aqueles que não fazem parte do grupo de trabalhadores altamente privilegiados 
retratados por Harvey (1992), as perspectivas serão promissoras no médio prazo se adquiri-
rem as competências profissionais para a empregabilidade e para a obtenção de sucesso em 
ocupações autônomas que exigem criatividade, iniciativa, espírito crítico e empreendedor. 
Daí a importância de se oferecer, no país, cursos de empreendedorismo, incubadoras tec-
nológicas e de economia solidária, isto é, de cooperativismo, para que os hoje excluídos do 
mercado formal de trabalho ou submetidos a relações precárias de trabalho possam vislum-
brar um futuro mais digno.
Além disso, os trabalhadores deverão exigir dos responsáveis a efetivação daquelas 
políticas públicas que, como já se referiu, são as estratégias possíveis, nesse cenário, para a 
promoção de uma sensível melhoria nas condições de trabalho e de vida da maioria.
4.7 Sindicalismo no Brasil
Não se pretende, aqui, reconstituir a história do sindicalismo brasileiro, 
mas apenas apresentar os seus traços estruturais fundamentais, a fim de for-
necer subsídios básicos para a compreensão da luta dos trabalhadores pela 
melhoria de suas condições de trabalho e de vida, necessária para o enfrenta-
mento dos movimentos reivindicatórios com os quais o futuro administrador 
terá de lidar.
Um ano após a criação do Ministério do Trabalho pelo governo provisó-
rio de Getúlio Vargas, em 1930, foi instituído o modelo sindical no Brasil pelo 
Decreto-Lei 19.770. Apesar de sofrer algumas alterações ao longo do século 
XX, sobretudo na Constituição de 1988, o modelo sindical em vigor guarda 
as mesmas características principais do momento de seu nascimento e que 
permitem qualificá-lo de corporativo ou corporativista.
Segundo Philippe Schmitter (1974, p. 93-94), deve-se entender por 
corporativismo: 
um sistema de representação de interesses no qual as unidades 
constituintes são organizadas num número limitado de catego-
rias singulares, compulsórias, não competitivas, hierarquica-
mente ordenadas e funcionalmente diferenciadas, reconhecidas 
ou permitidas (se não criadas) pelo Estado, às quais se outorga 
o monopólio de uma representação deliberada no interior das 
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A crise econômica mundial, a globalização da 
economia e a reestruturação produtiva4
Sociologia Geral80
respectivas categorias em troca da observância de certos controles na seleção de 
seus líderes e na articulação de suas demandas e apoios. 
As razões pelas quais o sindicalismo brasileiro é corporativo são muito claras:
• Estrutura sindical criada e imposta pelo Estado.
• Unicidade sindical para cada categoria profissional e econômica e monopólio da 
representação dos interesses dos trabalhadores e patrões.
• Reconhecimento obrigatório pelo Ministério do Trabalho, isto é, somente o 
 sindicato reconhecido pelo Estado tem o direito de representação dos interesses 
de cada uma das categorias profissionais e econômicas, organizadas em sindi-
catos únicos com base territorial distrital, municipal, intermunicipal, estadual e 
 interestadual, mas nunca nacional, o que deu origem a milhares de sindicatos.
• Filiação voluntária dos representados, “indicativa”, segundo Leôncio Martins 
Rodrigues, “da intenção de reduzir a influência do sindicato ao deixar de fora dele 
a grande massa de trabalhadores” (RODRIGUES, 1990, p. 61).
• Todos os representados, filiados ou não, têm direito às conquistas obtidas pelo 
movimento sindical de sua categoria profissional ou econômica, o que constitui 
mais uma razão para as pífias filiação e participação dos trabalhadores nos seus 
respectivos sindicatos, além da compreensão de que esse modelo sindical não lhes 
 permite contar com uma organização política democrática.
• Os conflitos de interesses, individuais e coletivos, entre empresários e assalariados 
são resolvidos via Justiça do Trabalho, com a mediação do Estado nos casos em 
que se fizer necessário.
• As federações sindicais são constituídas por pelo menos cinco sindicatos do mes-
mo grupo, têm base estadual e representam, coletivamente, os interesses dos sin-
dicatos do seu grupo, celebram contratos coletivos e instauram dissídios coletivos 
na falta de sindicatos representativos das categorias interessadas.
• As confederações representam os interesses dos sindicatos de seu grupo no plano 
nacional, mas, 
as possibilidades que têm as federações quanto as confederações de agir jun-
to às bases sindicalizadas são muito poucas e seus dirigentes têm se limitado 
a uma atividade puramente de cúpula, além de organizar serviços de assistên-
cia jurídica e médica junto às organizações de 1º grau, isto é, os sindicatos, que 
não disponham de recursos suficientes.[...] Os sindicatos realmente expressivos 
mantêm vida independente das entidades de grau superior e frequentemente se-
guem política contrária a elas. Aliás, as federações e as confederações constituem 
o grande reduto do “peleguismo. (RODRIGUES, 1966, p. 109)
• Até a Constituição de 1988, no Ministério do Trabalho outorgava-se o direito de 
destituir a diretoria do sindicato e nomear um interventor, tal como a havia no-
meado a partir de uma lista tríplice de candidatos. A nova Constituição pôs fim à 
intervenção governamental nos assuntos internos dos sindicatos, ao mesmo tem-
po em que ampliou o direito de greve.
A crise econômica mundial, a globalização da 
economia e a reestruturação produtiva
Sociologia Geral
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81
Dessa forma, pode-se facilmente inferir que essa estrutura sindical fragmenta a clas-
se trabalhadora ao mobilizar as diferentes categorias profissionais para a defesa de seus 
interesses específicos. A disparidade das situações de trabalho, salariais e de vida e, em 
consequência, as disparidades das reivindicações para atender às expectativas imediatas de 
cada uma das categorias profissionais impedem a união da classe trabalhadora em torno 
da defesa de interesses comuns e reduzem o seu poder de barganha. Na verdade, era essa 
a intenção de Getúlio Vargas ao promulgar, em 1943, a Consolidação das Leis do Trabalho, 
inspirada na Carta Del Lavoro da Itália de Mussolini: atendia a antiga reivindicação dos tra-
balhadores de regulamentação das relações de trabalho e, ao mesmo tempo, impossibilitava 
a sua unidade política com a criação de sindicatos corporativos, evitando-se, assim, o con-
flito de classes. 
Assegurando ao sindicato regularmente reconhecido pelo Estado o direito de 
representação legal dos que participarem da categoria de produção para que foi 
organizado, a Constituição de 1937 instituiu o regime sindical mais consentâneo 
com as nossas condições de país que evoluía da fase agrária para a industrial, 
evitando que a pluralidade resultasse em luta de classes e em lutas de interesses 
dentro das próprias classes. (VIANNA, 1943, p. 50)
Assim, durante décadas, os movimentos sindicais foram cerceados pelo governo fede-
ral e se, naquele período, foi registrado, em algum momento, um crescimento do número de 
filiados, a explicação encontra-se no fato de que os sindicatos brasileiros tornaram-se ver-
dadeiros organismos de assistência social, com a prestação de serviços jurídicos trabalhistas 
dos sindicalizados, de serviços médicos e odontológicos, de lazer em suas colônias de férias, 
bailes, festas e serviços pessoais, como manicure, cabeleireiro, barbeiro, podólogo, em vez 
de serem o locus de defesa dos interesses econômicos dos trabalhadores e, portanto, de luta 
política democrática.
As duas décadas de ditadura militar (1964-1985) foram particularmente difíceis para o 
movimento sindical, pois os sindicatos mais fortes, como os dos metalúrgicos do ABC em São 
Paulo, sofreram intervenções e suas lideranças foram presas. Mas foi durante o regime autori-
tário, sobretudo na década de 1970, que os sindicatos iniciaram uma onda de greves nos seto-
res mais dinâmicos da economia, como o setor metalúrgico e o bancário, por exemplo, em 15 
diferentes locais do Brasil, num confronto aberto contra o Estado e o patronato, apresentando 
muitas e variadas reivindicações, tais como reposição salarial de acordo com os altos índices 
de inflação que solapavam o poder de compra dos assalariados e melhores condições de tra-
balho: ampliação da representação política dos trabalhadores no interior das empresas, com 
a organização de comissões de fábrica e na sociedade e com a participação na elaboração de 
políticas públicas para a melhoria das condições de vida do conjunto da população. Em 1979, 
foram mais de 400 greves, envolvendo mais de 3 milhões de trabalhadores, que inauguraram 
uma nova fase na história do sindicalismo brasileiro, denominada de o novo sindicalismo, e abri-
ram o caminho para a consolidação da abertura do processo democrático, em 1985.
O novo sindicalismo foi responsável pela autonomia sindical, pela fundação do Partido 
dos Trabalhadores, pelo surgimento das Centrais Sindicais, pelo nascimento do sindicalis-
mo no setor público, pela participação dos trabalhadores nos fóruns tripartites de discussão 
A crise econômica mundial, a globalização da 
economia e a reestruturação produtiva4
Sociologia Geral82
e negociação dos princípios gerais das políticas públicas de geração de empregos e renda, 
de requalificação profissional e das políticas sociais, apresentando propostas nas questões 
globais e não apenas setoriais, de interesse imediato.
As Centrais Sindicais representam os interesses de todas as categorias profissionais e os 
sindicatos estão a elas filiados, o que significa a tentativa de unificação da classe trabalha-
dora em torno de reivindicações comuns que transcendem as expectativas de cada uma das 
categorias. Ou seja: cabe às centrais sindicais a participação nas negociações para a elabora-
ção de políticas econômicas e sociais que visem à melhoria das condições de trabalho e de 
vida de todos os trabalhadores.
No entanto, as transformações no mundo do trabalho, que se iniciaram na década de 
1970 nos países mais ricos e a partir da década de 1990 no Brasil, arrefeceram os ímpetos 
reivindicatórios do novo sindicalismo, assim como reduziram o poder de barganha dos sin-
dicatos de todo o mundo industrializado, cuja preocupação e reivindicação principais pas-
saram a ser a defesa do emprego.
De qualquer maneira, o que aqui se quer registrar e ressaltar é o fato de que o modelo 
sindical brasileiro sempre se constituiu num verdadeiro obstáculo para o avanço das con-
quistas reivindicatórias dos trabalhadores, mesmo em conjunturas econômicas muito favo-
ráveis, ao impedir o nascimento e o desenvolvimento de uma organização propriamente 
democrática de representação de interesses.
 Ampliando seus conhecimentos
A experiência do desemprego
(GIDDENS, 2005, p. 335-336)
O desemprego pode ser uma experiência bastante perturbadora para 
aqueles que estão acostumados a ter um emprego seguro. Obviamente, 
a consequência mais imediata é a perda da renda, cujos efeitos variam 
conforme o país, em função dos contrastes no nível dos auxílios-desemprego. 
Nos países em que há uma garantia de acesso aos serviços de saúde e a 
outros benefícios assistenciais, os desempregados podem até sofrer grandes 
dificuldades financeiras, mas continuam sob a proteção do Estado. Em alguns 
países do Ocidente, como os Estados Unidos, o período de pagamento do 
auxílio-desemprego é menor, e o sistema de saúde não é universal, fazendo 
com que a pressão econômica sobre aqueles que não têm um emprego seja 
correspondentemente maior.
Estudos sobre os efeitos do desemprego em termos emocionais observaram 
que as pessoas que estão desempregadas vivenciam uma série de fases 
até se ajustarem à sua nova condição. Apesar de esta ser, sem dúvida, 
uma experiência individual, aqueles que enfrentaram a perda recente do 
A crise econômica mundial, a globalização da 
economia e a reestruturação produtiva
Sociologia Geral
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emprego normalmente passam por uma sensação de choque, que vem em 
seguida de um otimismo diante das novas oportunidades. Quando não há 
uma recompensa por esse otimismo, como frequentemente acontece, os 
indivíduos podem cair em períodos de depressão e de profundo pessimismo 
em relação a si mesmo e a suas perspectivas de emprego. Se esse período de 
desemprego se prolongar, o processo de ajuste acaba se completando com a 
resignação dos indivíduos às realidades de sua situação.
Altos níveis de desemprego podem provocar o enfraquecimento das 
comunidades e dos laços sociais. Em um estudo sociológico clássico, 
realizado na década de 1930, Marie Jahoda e seus colegas investigaram o 
caso de Marienthal, uma pequena cidade austríaca que estava atravessando 
uma situação de desemprego em massa após o fechamento da fábrica 
local. Os pesquisadoresnotaram como uma experiência de desemprego 
de longa duração acaba desgastando muitas das estruturas sociais e das 
redes de contatos da comunidade. As pessoas ficaram menos ativas nas 
questões cívicas, seu convívio social diminuiu e até iam menos à biblioteca. 
É importante observar que a experiência do desemprego também varia 
conforme a classe social. Para aqueles que estão situados no nível mais 
baixo da escala de renda, as consequências do desemprego podem ser 
sentidas principalmente em termos financeiros. Como já foi sugerido, 
os indivíduos da classe média acreditam que o desemprego prejudica 
primeiramente seu status social, e não o financeiro. 
Um conferencista de 45 anos de idade, quando dispensado, pode já ter 
adquirido bens suficientes para sobreviver confortavelmente durante 
as primeiras fases do desemprego, mas, para ele, pode ser muito difícil 
compreender as dimensões do desemprego para o futuro da sua carreira 
e para seu valor enquanto profissional.
 Atividades
1. Se você ou alguém de sua família já foi demitido de um emprego, como justificou a 
sua situação? E, agora, depois da leitura, como a justifica?
2. Se você ou alguém de sua família está à procura de um emprego, como compreendia 
a sua dificuldade em consegui-lo? E, agora, depois da leitura deste capítulo, como a 
compreende?
3. A reestruturação produtiva tem consequências perversas sobre os mercados de tra-
balho. Por quê? 
A crise econômica mundial, a globalização da 
economia e a reestruturação produtiva4
Sociologia Geral84
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 Resolução
1. Resposta pessoal.
2. Resposta pessoal.
3. Os mercados de trabalho se viram obrigados a reestruturar-se. Os países dependen-
tes tiveram que abrir seus mercados de bens industrializados por produtos fabri-
cados internamente, para que pudessem garantir a exportação de bens primários, 
além da pressão para investimentos maciços em pesquisa científica e tecnológica e 
em educação escolarizada e do fato de que são dependentes por terem tecnologia 
atrasada e têm tecnologia atrasada porque são dependentes.
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Novas competências 
profissionais
A reestruturação produtiva transforma a natureza do trabalho e define 
o novo perfil do trabalhador do século XXI, cujas características são muito 
diferentes daquelas dos trabalhadores da organização taylorista e fordista do 
processo de trabalho.
Mas isso não quer dizer que a reestruturação das indústrias e dos 
escritórios tenha feito ressurgir o trabalhador profissional no sentido tra-
dicional do termo e, mais precisamente, em seu sentido francês, cunhado 
por Georges Friedmann em O trabalho em migalhas e retomado por Alain 
Touraine, Braverman, Coriat, Freyssenet, entre outros. Ou seja: os trabalha-
dores das indústrias e escritórios tecnológica e organizacionalmente moder-
nizados realizam tarefas altamente qualificadas, mas que não são próprias 
de nenhum ofício de base, isto é, que não pertencem a nenhum conjunto ou 
família de trabalhos.
Segundo Freyssenet (1977, p. 114), “a qualificação de um trabalho é 
medida pelo grau e frequência da atividade intelectual que exige para ser 
executada”. Como o grau e a frequência da utilização das faculdades intelec-
tuais são, por sua vez, medidos pelo tempo estritamente necessário de apren-
dizagem e de instrução para a realização de uma tarefa ou de um conjunto de 
tarefas, pode-se afirmar que os trabalhadores das empresas modernizadas 
são altamente qualificados, pois deles se exige instrução mínima de Ensino 
Médio e muitos cursos de aprendizagem e treinamento.
Vídeo
Novas competências profissionais5
Sociologia Geral86
Além disso, embora também realizem tarefas repetitivas, que necessitam muito mais 
de senso de responsabilidade do que reflexão, os novos trabalhadores se submetem a situa-
ções de trabalho aleatórias e indeterminadas que requerem, segundo Davies, qualidades ou 
qualificações muito especiais: flexibilidade, adaptação e iniciativa para enfrentá-las correta-
mente. Os acontecimentos aleatórios e indeterminados, isto é, imprevisíveis no tempo (as to 
time) e imprevisíveis em sua natureza (as to nature) impõem intervenções qualificadas sobre 
o processo de trabalho. Por isso, os trabalhadores:
• devem ter um grande repertório de respostas, pois a natureza das intervenções 
necessárias não é conhecida;
• não podem depender da hierarquia (supervisores), pois devem responder imedia-
tamente aos acontecimentos que intervêm de modo irregular e repentino;
• devem ser autorizados a efetuar as tarefas necessárias com sua própria iniciativa 
(DAVIES apud CORIAT, 1978).
Ora, como se sabe, respostas variadas, rápidas e de iniciativa própria não são exigências 
que se impõem aos trabalhadores das fases anteriores à automatização e informatização do 
processo de trabalho, definidos pela desqualificação de suas tarefas, mas também não são 
suficientes para caracterizar o trabalhador profissional, cujo trabalho exige, além daquelas 
qualificações, o conhecimento de um ofício de base que faz dele um “onipraticante poliva-
lente”, nas palavras de Georges Friedmann (1972). Suas funções se realizam por meio de 
decisões próprias, fundadas no conhecimento e controle sobre a totalidade do processo de 
trabalho e na polivalência de suas qualificações.
Determinada, em grande parte, pelo estado das técnicas e dos meios de produção, a 
evolução do trabalho implica, segundo Alain Touraine, evolução na própria noção de qua-
lificação, não se podendo definir de maneira permanente as diferenças entre trabalhadores 
de papéis profissionais diversos. 
A qualificação, portanto, mede cada vez mais o papel do indivíduo no sistema 
técnico e humano de produção, [...] a saber, um conjunto de atividades definidas 
pelo seu lugar no circuito de produção, que supõe certas características psicoló-
gicas. (TOURAINE, 1973, p. 467)
Até a década de 1980, a maioria dos estudos sociológicos sobre o mundo do trabalho 
consagrou a tese da polarização das qualificações, segundo a qual a moderna tecnologia,ao intensificar a divisão do trabalho, seria responsável pelo desenvolvimento de um pro-
cesso com duplo e contraditório efeito: de um lado, a desqualificação da grande massa de 
trabalhadores e, de outro, a superqualificação de uma minoria. Os estudos mais importan-
tes, como os de Braverman (1980), Freyssenet (1977), Coriat (1978), H. Kern e M. Shumann 
(1980; 1984), por exemplo, explicam esse processo pela contínua perda do domínio operário 
sobre o processo de trabalho, iniciada já na fase manufatureira, e o desenvolvimento das 
especializações nas fases seguintes, inclusive nas indústrias automatizadas, cuja tecnologia 
aprofundaria a desqualificação dos operários da produção, reduzindo-os a meros vigilantes 
de máquinas e, ao mesmo tempo, provocaria superqualificação do trabalho de algumas ca-
tegorias, como de manutenção, técnicos, engenheiros e profissionais de informática.
Novas competências profissionais
Sociologia Geral
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Entretanto, desde de meados da década de 1980 estudos têm desmentido essa ten-
dência e permitido indicar outras, muito mais otimistas, que apontam para o desenvolvi-
mento do processo de requalificação do trabalho nas empresas modernas. O resultado foi 
o abandono da tese da polarização das qualificações pelos mesmos autores que contribuí-
ram para a sua aceitação.
Kern e Schumann, por exemplo, em 1981, voltaram às empresas por eles analisadas nos 
anos 1960, chegando a conclusões contrárias àquelas que foram objeto de suas preocupações 
em Trabalho industrial e consciência dos trabalhadores: 
Não houve acentuação da divisão do trabalho mas, ao contrário, em muitos lu-
gares, sérios esforços foram feitos para dar aos postos de trabalho definições 
mais amplas. Em lugar de uma degradação das qualificações, a preocupação 
com uma utilização mais global da competência operária tornou-se evidente. 
Não houve deterioração, mas desenvolvimento da formação, com renovação de 
seu conteúdo. Numa palavra: os comportamentos sob tutela foram substituídos, 
muito frequentemente por comportamentos, independentemente das oposições 
de interesse, de respeito à pessoa do trabalhador. (KERN; SCHUMANN, 1984)
A tese da desqualificação dos trabalhadores desenvolvida enfaticamente por Braverman 
foi também rejeitada por Jones e Wood com a noção, por eles introduzida, de “qualificações 
tácitas”, cujo mérito é o de demonstrar que qualquer tarefa, mesmo nos empregos conside-
rados não qualificados, realiza-se baseada em um saber, ou seja, “os trabalhadores utilizam 
uma certa qualificação e intervêm amplamente em todo o processo de trabalho concebido 
pelas direções” (JONES; WOOD, 1984).
Segundo esses autores, vários aspectos do conhecimento humano determinam a capa-
cidade dos trabalhadores de utilização de suas qualificações e constituem o que denominam 
conhecimento ou qualificação tácita. As dimensões principais da qualificação tácita seriam: 
• a prática das tarefas rotineiras que implica um processo de aprendizagem pelo 
qual as qualificações são adquiridas por meio da experiência; 
• os diferentes graus de consciência conforme a atividade a executar; e
• a necessidade de os trabalhadores desenvolverem qualificações de cooperação, 
dada a natureza coletiva do processo de trabalho. 
A noção de qualificações tácitas amplia o conceito de qualificação do trabalho, não o 
tratando mais apenas como o conjunto de conhecimentos e habilidades específicos reque-
ridos para a realização de uma tarefa. Isso implica afirmar que não há trabalho totalmente 
desqualificado e, evidentemente, quanto maior a complexidade das tarefas a realizar, maior 
será o número de qualificações tácitas exigidas. Ao mesmo tempo, implica negar a tese de 
Braverman sobre o total controle do processo de trabalho pela direção, mesmo nas empresas 
de tecnologia moderna, pois uma parte desse controle será sempre exercido pelo trabalha-
dor que fará o maquinário funcionar também em função de suas qualificações tácitas.
Freyssenet, já na década de 1980, também reconhece o desenvolvimento de um pro-
cesso de enriquecimento da qualificação nas empresas modernas, isto é, um processo de 
requalificação do trabalho.
Novas competências profissionais5
Sociologia Geral88
Ainda hoje o debate se centraliza em torno do que Piore e Sabel, em 1984, denominavam 
especialização flexível, cuja origem é o modelo da competência representado pela bem-suce-
dida empresa japonesa.
As qualificações exigidas no interior desse “novo modelo produtivo”, repre-
sentado pelo modelo empresarial japonês, contrastam fortemente com aquelas 
rela cionadas com a lógica taylorista de remuneração, de definição de postos de 
trabalho e de competências: trata-se da capacidade de pensar, de decidir, de ter 
iniciativa e responsabilidade, de fabricar e consertar, de administrar a produção 
e a qualidade a partir da linha, isto é, ser simultaneamente operário da produção 
e de manutenção, inspetor de qualidade e engenheiro. (HIRATA, 1994, p. 126)
O modelo da competência supõe a reformulação do próprio significado de qualificação 
para o trabalho, agora compreendida em suas múltiplas dimensões, isto é, em seus “compo-
nentes implícitos e não organizados e em seus componentes explícitos e organizados: educa-
ção escolar, formação técnica e educação profissional” (AOKI apud HIRATA, 1994, p. 128). 
De certa maneira, retoma também a noção de qualificações tácitas ou sociais, decompondo-a 
em “qualificação real” (conjunto de competências e habilidades, técnicas profissionais, es-
colares e sociais) e “qualificação operatória” (potencialidades empregadas por um operador 
para enfrentar uma situação de trabalho).
Como a estrutura industrial e de prestação de serviços é constituída na atualidade, so-
bretudo da informação com base no conhecimento e a correta utilização da informação, há 
consenso entre os autores em dois aspectos essenciais. O primeiro refere-se às exigências 
impostas pela reestruturação, que podem ser assim sintetizadas nas palavras de Vanilda 
Paiva (1995, p. 317): 
[...] capacidade de manipular mentalmente modelos, pensamento conceitual 
com raciocínio abstrato, compreensão do processo de produção, apreciação de 
tendências, limites e significado dos dados estatísticos, capacidade (e precisão) 
de comunicação verbal, oral e visual, responsabilidade, capacidade de preencher 
múltiplos papéis na produção e de rápida adaptação a novas gerações de ferra-
mentas e maquinarias.
Dessa forma, compreende-se que aos trabalhadores das empresas modernas impõem-
-se capacidade de abstração, raciocínio crítico e presteza de intervenção, isto é, capacidade 
para ler, interpretar e decidir com base em dados formalizados e fornecidos pelas máquinas, 
além de qualidades sociomotivacionais, de personalidade e caráter, que garantiarão o bom 
relacionamento com os colegas das equipes de trabalho.
As tecnologias da informação e as novas técnicas gerenciais estão exigin do, portanto, um 
trabalhador que seja capaz de efetivar conhecimentos, ou seja, capaz de utilizá-los correta-
mente na solução de problemas do dia a dia do trabalho e no processo de tomada de decisões 
que hoje devem ser rápidas devido à compressão espaço-tempo provocada pela informatiza-
ção. Trata-se, assim, do reconhecimento da necessidade de se pôr fim ao problema universal-
mente constatado do analfabetismo funcional. Diplomas não mais expressam a real aquisição 
da capacidade de efetivar conhecimentos na solução de problemas, porque o processo de 
Novas competências profissionais
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avaliação dos candidatos a um emprego é cada vez mais determinado pela capacidade de 
resolução de problemas simulados do que pela apresentação de um currículo pontuado de 
títulos formalmente adquiridos, como também pela demonstração do preenchimento de re-
quisitos pessoais de ordem sociomotivacional que permitem a integração dos trabalhadores 
às equipes multifuncionais e, portanto, heterogêneas.
Sem dúvida alguma, somente um ensino de boa qualidade – sobretudoo Ensino 
Fundamental – pode garantir a formação desse novo trabalhador cuja virtude será a de ter 
aprendido a aprender, adaptando-se rapidamente às novas situações para, de fato, encon-
trar-se em condições intelectuais, mentais e sociomotivacionais de trabalhar nessas condições.
O segundo aspecto da questão refere-se à substituição do conceito de qualificação pro-
fissional pelo conceito de competência, delineado anteriormente. Muitos autores têm de-
monstrado a inadequação do conceito de qualificação profissional para caracterizar o perfil 
dos trabalhadores da economia informal. 
O conceito de competência, tal como tem sido desenvolvido e utilizado, ao contrário do 
conceito de qualificação profissional, concentra-se nas qualidades intelectuais, mentais, cul-
turais e sociomotivacionais do trabalhador e que lhe permitem a compreensão da totalidade 
do processo de trabalho, a versatilidade em várias tarefas, a capacidade de tomar decisões 
rápidas e corretas e a participação em equipes multifuncionais. 
O interesse de um enfoque pela competência é que ele permite concentrar a aten-
ção sobre a pessoa mais do que sobre o posto de trabalho e possibilita associar 
as qualidades requeridas do indivíduo e as formas de cooperação intersubjetivas 
características dos novos modelos produtivos. A grande qualidade – e talvez o 
risco? – do conceito de competência é a de remeter, sem mediações, a um sujeito 
e a uma subjetividade. Qualificação é um conceito multidimensional e pode re-
meter à qualificação do emprego, do posto de trabalho, à qualificação do indiví-
duo, à relação social capital/trabalho etc. (HIRATA, 1997, p. 31)
As dificuldades para corresponder às novas exigências dos mercados de trabalho im-
põem um enorme sacrifício e sofrimento para milhões de trabalhadores à procura de um em-
prego, ou mesmo preocupados com a manutenção de seus empregos, sem que tenham tido 
a oportunidade de adquirir os requisitos que hoje definem a competência. Para adquiri-los 
é preciso voltar aos bancos escolares do Ensino Fundamental, Médio ou Superior, em cursos 
noturnos, frequentar aulas de informática, tentar aprender inglês etc. ,ou, então, conformar-
-se com a condição de excluído do mercado formal de trabalho.
Apesar de a manutenção de formas tradicionais de organização do processo de traba-
lho em alguns ramos da economia, os altos índices de desemprego permitem às empresas 
procederem com um processo seletivo rigoroso dos candidatos a uma vaga, impondo-lhes 
sofisticadas competências mesmo quando os postos de trabalho a ocupar não as requerem.
É exatamente nesse aspecto que se associam as noções de empregabilidade e competên-
cia. Se a empregabilidade é a probabilidade de saída do desemprego ou capacidade de ob-
ter um emprego, as duas noções se associam na medida em que a obtenção e manutenção 
de um emprego dependem da competência do candidato ou empregado, num processo de 
Novas competências profissionais5
Sociologia Geral90
atribuição de toda a responsabilidade pelo desemprego à incapacidade do trabalhador. São 
sérias as implicações políticas e sociais dessa associação dos conceitos de empregabilidade e 
competência, pois sabemos que vários fatores determinam a situação dos mercados de traba-
lho, sobretudo os de ordem macroeconômica que resultam da adoção de políticas econômicas 
e sociais específicas e de conjunturas econômicas nacionais e internacionais que favoreçam a 
geração de empregos e que ultrapassam a vontade e o âmbito da atuação do indivíduo.
Além disso, as transformações tecnológicas e organizacionais do mundo do trabalho, 
como já salientamos, tendem a reduzir significativamente a oferta de empregos e, por isso, a 
aquisição de novas competências profissionais por meio da educação escolarizada não terá 
como consequência a garantia de emprego para a maioria da força de trabalho disponível 
mesmo em conjunturas econômicas altamente favoráveis.
Por essa razão, o conceito de empregabilidade tem limitado alcance social: o jovem es-
tudante de hoje deve ser muito mais preparado para assumir a responsabilidade de garantir 
a própria sobrevivência e a de sua futura família não como empregado, mas como trabalha-
dor autônomo, sujeito de novas relações sociais de trabalho.
Perde importância, pois, o conceito de empregabilidade e sua compreensão como uma 
radicalização da teoria do capital humano, tão duramente criticada desde o nascedouro. 
Ganha importância a educação escolarizada para permitir a sobrevivência do maior número 
de pessoas quaisquer que sejam as relações de trabalho, assalariadas ou não, graças à aquisi-
ção das competências necessárias para a realização do trabalho nas novas condições tecnoló-
gicas e organizacionais da produção e da prestação de serviços, sendo processo irreversível 
o desenvolvimento científico e tecnológico.
E essas competências para trabalhar nas novas condições resultam do desenvolvimento 
das potencialidades de inteligência, criatividade, espírito crítico e iniciativa, promovido por 
uma escola na qual se aprendeu a aprender e que, simultaneamente, permite a transfor-
mação do jovem estudante num verdadeiro cidadão, capaz de tornar-se sujeito da História 
e autorrealizar-se. As novas competências, isto é, os novos conhecimentos e capacidades 
exigidos dos trabalhadores pela reestruturação do mercado de trabalho não têm, portanto, 
apenas valor econômico.
Investir em educação significa muito mais do que “transformar trabalhadores em capi-
talistas, não pela difusão da propriedade das ações da empresa [...], mas pela aquisição de 
conhecimentos e de capacidades que possuem valor econômico” (SCHULTZ, 1973, p. 35), tal 
como afirmava o mais importante autor da teoria do capital humano. Investir em educação 
e aprender a aprender significa, ao mesmo tempo, adquirir as condições para a formação de 
um capital intelectual cuja valorização resulta da compreensão da necessidade de se realizar 
o trabalho de transformação da estrutura social, de consolidação e efetivação dos ideais de-
mocráticos, abrindo o caminho para a emancipação humana.
Novas competências profissionais
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 Ampliando seus conhecimentos
Habilidades múltiplas
(GIDDENS, 2005, p. 314-315)
Uma das convicções dos comentadores pós-fordistas é a de que novas for-
mas de trabalho permitem aos empregados uma amplitude maior de suas 
habilidades por meio da participação em uma variedade de tarefas, em 
vez da realização de uma tarefa específica repetidas vezes. A produção em 
grupo e o trabalho em equipe são vistos como caminhos para promover 
uma mão de obra que tenha “habilidades múltiplas”, capaz de executar 
um conjunto mais amplo de responsabilidades; o que, por sua vez, leva a 
um crescimento na produtividade e na qualidade de mercadorias e servi-
ços. Empregados que conseguem prestar contribuições múltiplas aos seus 
empregos terão mais sucesso na hora de resolverem problemas e propo-
rem abordagens criativas.
O movimento em direção às “habilidades múltiplas” traz implicações 
para o processo de contratação. Se houve um tempo em que as decisões 
em relação à contratação de funcionários eram tomadas quase exclusiva-
mente com base na educação e nas qualificações, muitos empregadores 
agora procuram indivíduos que sejam capazes de se adaptar e de adqui-
rir novas habilidades com rapidez. Assim, quem for um especialista na 
aplicação de um software específico pode não ser tão valorizado quanto 
alguém que demonstrar facilidade em ter ideias. As especializações são 
geralmente tratadas como bens, mas se os empregados têm dificuldades 
em aplicar habilidades restritas criativamente em novos contextos, essas 
mesmas especializações podem não ser vistas como uma vantagem em 
um local de trabalho flexível, inovador.
Um estudo da Joseph Rowntree Foundation intitulado The Future of Work 
(Meadows, 1996) investigou os tipos de habilidades buscados pelos 
empregadores. Os autores chegaram à conclusão de que, tanto nos seto-
res ocupacionais profissionalizadosquanto nos não profissionalizados, as 
“habilidades pessoais” são cada vez mais valorizadas. A capacidade de 
colaborar e de trabalhar de forma independente, de tomar iniciativas e 
de escolher caminhos criativos diante de desafios estão entre as melho-
res habilidades que um indivíduo pode trazer a um emprego. Em um 
mercado no qual as necessidades individuais dos consumidores são cada 
vez mais satisfeitas, é essencial que os empregados de uma variedade de 
ambientes, desde o setor de serviços até a consultoria financeira, consigam 
Novas competências profissionais5
Sociologia Geral92
aproveitar as “habilidades pessoais” no local de trabalho. Segundo os 
autores do estudo, esse “rebaixamento” das habilidades técnicas pode ser 
mais difícil para aqueles que há muito tempo trabalham em funções repe-
titivas, de rotina, nas quais as “habilidades pessoais” não tiveram vez.
 Atividades
1. Reflita sobre as suas “habilidades pessoais” para verificar se você é um empregado 
“flexível, adaptável e geograficamente móvel”, capaz de se ajustar às necessidades 
das empresas que hoje buscam trabalhadores com essas habilidades. Seja honesto 
com você mesmo e, caso chegue à conclusão que não possui aquelas “habilidades 
pessoais”, demonstre como poderá adquiri-las.
2. Quais são as diferenças entre os conceitos de qualificação profissional e competência 
profissional?
3. Você acredita que a mais moderna organização do processo de trabalho pode fazer 
do trabalho uma atividade mais prazerosa? Por quê?
 Referências 
BRAVERMAN, Harry. Trabalho e capital monopolista: a degradação do trabalho no século XX. Rio 
de Janeiro: Zahar, 1980.
CORIAT. Différenciation et segmentation de la force de travail dans les industries de processus. In: 
LINHART et al. Division du Travail. Paris: Editions Galilée, 1978.
FREYSSENET, Michel. La Division Capitaliste du Travail. Paris: Editions Savelli, 1977.
FRIEDMANN, Georges. O Trabalho em Migalhas. São Paulo: Perspectiva, 1972.
GIDDENS, Anthony. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005.
HIRATA, Helena. Da polarização das qualificações ao modelo da competência. In.: FERRETTI, Celso et 
al (org.). Novas tecnologias, trabalho e educação: um debate multidisciplinar. Petrópolis: Vozes, 1992.
______. O Mundo do Trabalho. In.: CASALI, Alípio et al. Empregabilidade e educação: novos cami-
nhos no mundo do trabalho. São Paulo: Educ, 1997.
JONES, B.; WOOD, S. Qualifications tacites, division du travail et nouvelles tecnologies. In.: Sociologie 
du Travail, n. 4, 1984.
KERN, H.; SCHUMANN, M. Cambio tecnico y trabajo industrial, con polarización tendencial de las capaci-
dades medias. In.: LABARCA, C. Economía politica de la educación. Mexico: Nueva Imagen, 1980.
PAIVA, Vanilda. Inovações tecnológicas e qualificação. Revista Educação e Sociedade, ano 16, n. 50, 
abri. 1995.
SCHULTZ, Theodore W. O capital humano: investimento em educação e pesquisa. Rio de Janeiro: 
Zahar, 1973.
Novas competências profissionais
Sociologia Geral
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93
TOURAINE, Alain. A organização profissional da empresa. In.: FRIEDMANN, G.; NAVILLE, P. 
Tratado de sociologia do trabalho. São Paulo: Cultrix, 1973.
 Resolução
1. Resposta pessoal.
2. O conceito de competência concentra-se nas qualidades intelectuais, mentais, cultu-
rais e sociomotivacionais do trabalhador e que lhe permitem a compreensão da to-
talidade do processo de trabalho, a versatilidade em várias tarefas, a capacidade de 
tomar decisões rápidas e corretas e a participação em equipes multifuncionais. Já o 
conceito de qualificação profissional se relaciona ao conjunto de habilidades técnicas 
específicas para o desenvolvimento de uma atividade profissional. Neste as habili-
dades são independentes do processo, pois o conhecimento da atividade que está 
sendo realizada é suficiente, enquanto naquele faz-se necessário outras habilidades 
externas ao processo para que se tenha a compreensão de todas as etapas e as pos-
síveis formas de se resolver qualquer impasse que possa acontecer, sem causar – ou 
causar o menor possível – prejuízo à empresa.
3. Resposta pessoal.
Código Logístico
57353
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