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Patogênese viral, defesas do hospedeiro e imunodepressão viral Características virais infecção viral aguda, ocorre um desequilíbrio entre as ações causadas pelo agente viral e pelas reações imediatas por parte do organismo. O corpo humano reage a essas perturbações, até que ocorra a resolução dessa infecção, a morte do organismo hospedeiro ou que seja atingido um equilíbrio dinâmico nesta relação parasita/hospedeiro. Normalmente, a infecção aguda se apresenta com sintomatologia clara, podendo evoluir desde quadros brandos até casos graves, que podem levar à internação. A partir do momento em que ocorre esse equilíbrio dinâmico, estabelece-se uma infecção crônica. Nesse caso, o agente viral causa alterações sutis na forma como aquele organismo funciona, a ponto de essa infecção permanecer sem sintomas aparentes por longos períodos, ou até nunca manifestar qualquer sintoma. O dano tecidual será detectado pelo sistema imunológico, que acionará diferentes reações: a imunidade inata, apresentação de antígenos, produção de citocinas (moléculas que modulam a resposta das células), expansão clonal de linfócitos, entre outras. Esse é o cenário inicial de uma infecção aguda, que pode evoluir para recuperação ou estabelecimento de infecção crônica. A recuperação indica a eliminação do vírus, recuperação celular, reestabelecimento do sistema imunológico, retorno à homeostase e pode ocorrer produção de anticorpos. A infecção crônica promove produção contínua ou intermitente de vírus ou antígenos virais, dano tecidual, alteração do sistema imunológico e da homeostase. Na infecção crônica, pode haver uma situação de ausência de replicação, o que caracteriza a latência viral. Nesse caso, o vírus permanece em estado “dormente”, no qual não há a expressão de genes virais. O vírus pode “despertar” do estado de latência, dependendo da situação do organismo hospedeiro. Existem fatores virais e celulares que permitem o desenvolvimento da latência viral, e os mecanismos para estabelecimento da latência viral ainda são pouco compreendidos. É uma estratégia que permite ao vírus escapar do sistema imunológico, ficando virtualmente invisível para as defesas do corpo até que o ambiente seja favorável para o retorno da replicação viral (reativação). A reativação viral pode acontecer de forma intermitente, garantindo ao vírus a oportunidade de infectar novas células e permanecer no organismo. Transmissão viral Para atingir o interior da célula, o vírus precisa, em primeiro lugar, chegar a essa célula, o que, em se tratando de entidades microscópicas e sem meios de locomoção próprio, é uma tarefa um tanto quanto difícil. No entanto, existem alguns caminhos que o vírus pode pegar para chegar a essas células, dentre eles: ar, via fecal-oral, contato direto, vetores e via parenteral. Alguns vírus podem utilizar mais de uma via para invadir o hospedeiro e atingir os tecidos alvos. No caso de vírus que precisam atingir a circulação sanguínea para ter acesso às células que infectarão, é preciso ultrapassar a barreira da pele ou das mucosas, a fim de usar essa via. Isso pode acontecer em virtude de microlesões causadas por traumas ou injeção direta do agente viral por meio de material perfurocortante (via parenteral). Outra importante forma de transmissão dos vírus é a que acontece da mãe para o bebê (transmissão vertical), que pode ocorrer por várias vias e em momentos diferentes da concepção e do parto (intraútero, no parto e no pós-parto). Existem agentes infecciosos que são capazes de ultrapassar a barreira placentária e infectar o bebê ainda no útero, como a rubéola. Outros agentes podem ser transmitidos durante o parto, quando há contato do sangue da mãe com o bebê ou por meio da passagem pelo canal vaginal no momento do parto natural. Além disso, alguns vírus podem ser transmitidos pela amamentação. Via de entrada Fonte da infecção Trato respiratório Gotículas em suspensão no ar, contato das mãos com superfícies contaminadas Saliva Transferência direta de saliva Fecal-oral Contato direto ou indireto com fezes contaminas pela via oral Pele Contato direto com a pele ou direto/indireto com secreções da pele Sangue Transfusão sanguínea, hemoterapia, injeções microlesões Genital Secreções genitais Transmissão vertical Intrauterina, durante o parte, após o parto ou amamentação Vetores Mordidas de animais ou picadas de insetos Alguns vírus conseguem manter sua replicação em populações de animais silvestres sem causar doença nesses animais, ou causando doenças com sintomas brandos na maior parte da população. Um vírus que é capaz de infectar outros mamíferos, normalmente, não infectaria um ser humano. No entanto, em ocasiões raras, vírus podem sofrer mutações que permitem que eles façam “saltos”, e, dessa forma, transpor a barreira entre espécies. Nesses casos, os vírus passam a infectar organismos que originalmente não infectariam. Esses animais também são hospedeiros do vírus, mas, considerando a cadeia de transmissão estabelecida, são chamados de reservatórios. Quando esses animais entram em contato com os seres humanos (seja por contato direto, seja por meio de vetores), a infecção pode acontecer. Por isso, esses animais são chamados de reservatórios virais. No entanto, não basta haver a transmissão do vírus do reservatório animal para um ser humano. O vírus deve sofrer novas mutações para poder ser transmitido do ser humano originalmente infectado para outras pessoas. Uma vez que essa nova barreira é transposta, o vírus pode se estabelecer e se disseminar entre os seres humanos. Patogênese viral A patogênese viral é um fenômeno multifatorial, resultante das várias ações de um vírus para infectar uma célula. Sendo parasitas intracelulares obrigatórios, os vírus evolutivamente desenvolveram mecanismos complexos para viabilizar sua replicação, que incluem alterar o metabolismo da célula, afastando-a de suas funções originais, e direcionar todos os recursos para a produção de novas partículas virais. Essas ações acontecem em uma célula, mas, ao longo da infecção, as repercussões da ação dos vírus podem atingir todo o tecido onde a célula está localizada, ou até que essas repercussões se tornem sistêmicas, ou até uma infecção generalizada, afetando todo o organismo. ❖ Tropismo - O processo de patogênese se inicia quando as proteínas da partícula viral (vírion) conseguem se ligar e interagir com receptores específicos presentes na superfície celular, em um mecanismo que pode ser relacionado a uma chave e sua fechadura. Porém, não apenas isso, pois os próprios fatores virais que serão responsáveis por sua replicação também estão “calibrados" para tipos específicos de células. Isso implica no seguinte: cada vírus será capaz de infectar tipos específicos de células para as quais sua evolução o direcionou. ❖ Virulência - É a capacidade que um vírus tem de causar doença em seu hospedeiro. Não necessariamente, os sinais e sintomas de uma doença são causados pela infecção em si; às vezes, trata-se de uma consequência da virulência. Muitos desses sinais/sintomas são, na verdade, resultado da ação do sistema imunológico para eliminar a infecção. Fatores que influenciam na virulência são: carga viral no momento da infecção, forma da infecção, idade, gênero e susceptibilidade do hospedeiro. Fatores genéticos que influenciam a virulência no vírus e no hospedeiro Um grande desafio é identificar quais são os fatores genéticos, no vírus e no hospedeiro, que afetam a virulência. No entanto, com o advento da genética, foi possível entender, com cada vez mais detalhes, como certos genes afetam a virulência. Estes fatores acometerão aspectos da infecção, como a replicação viral, a capacidade do vírus de invadir a célula hospedeira, o tropismo, as alterações nas defesas do hospedeiro, o favorecimento para expansão viral no hospedeiro,além de influenciar os processos de morte celular. Esses fatores genéticos não são, necessariamente, genes. A grande variabilidade genética de alguns vírus também é um fator que pode favorecer a virulência. As dinâmicas populacionais de alguns vírus apresentam uma dinâmica que denominamos quasispécie. Como resultado das altas taxas de mutações que eles sofrem, emergem partículas com variações que tornam o vírus mais apto a se manter naquele ambiente, sendo capaz de evadir o sistema imunológico, alterar o tropismo viral e expressar genes que tornem mais eficiente a replicação. Durante o período de infecção, as quasispécies virais existem na forma de subpopulações. No entanto, existem eventos que denominados “gargalos", ou seja, um obstáculo (por exemplo, o sistema imunológico) que é capaz de conter grande parte da população viral. No entanto, os vírus que conseguem atravessar esse empecilho continuam a se replicar, e, dessa forma, tornam-se a população viral majoritária. Mecanismos de defesa naturais contra vírus As defesas do organismo se compõem em um conjunto de barreiras que tem o objetivo de bloquear uma infecção viral, que, por conseguinte, deve superar essas barreiras para conseguir infectar as células do organismo. O organismo está constantemente exposto a agentes virais e que estratégias de defesa mais complexas (como anticorpos) demoram tempo para serem montadas. Por isso, também existe um timing para cada linha de defesa. Algumas são de efeito imediato, outras podem demorar alguns minutos, ou algumas horas. Já outras podem levar horas ou dias. A primeira linha de defesa do organismo são as barreiras físicas impostas ao patógeno, sejam barreiras anatômicas (pele), sejam químicas (ácidos gástricos). A primeira delas é a própria pele, que se configura o maior órgão do corpo humano. Externamente, a pele é composta por uma camada de queratina, formada por células mortas, que protege a camada de células vivas que está logo abaixo e que é rica em capilares sanguíneos, os quais fazem as trocas de gases e o transporte de alimentos para as células que habitam essa camada. A camada queratinizada ainda é habitada por microrganismos comensais que também atuam na defesa, produzindo as substâncias conhecidas como defensinas, que têm ação contra certos vírus, embora existam estudos demonstrando que a ação dessas substâncias pode favorecer a infectividade de alguns vírus. As bactérias comensais que existem no trato digestório também produzem defensinas. A camada queratinizada ainda é habitada por microrganismos comensais que também atuam na defesa, produzindo as substâncias conhecidas como defensinas, que têm ação contra certos vírus, embora existam estudos demonstrando que a ação dessas substâncias pode favorecer a infectividade de alguns vírus. As bactérias comensais que existem no trato digestório também produzem defensinas. As mucosas também são portas de entrada importantes para os vírus. Altamente vascularizadas e com muitas células expostas, os tecidos mucosos ocupam grande extensão no corpo, estando presentes nas vias digestória e respiratória, no trato genital e em outras regiões do corpo. O muco secretado nesses tecidos se configura uma proteção importante contra as infecções virais, atuando como barreiras físicas entre o vírus e as células da mucosa, atuando também como um sistema “autolimpante”, pois o muco ajuda a levar impurezas para fora do tecido, seja pela ação de células ciliadas, cujo movimento direciona o muco para fora do corpo, seja por espirros, tosse e pelo fluxo de secreção de muco. A lágrima e a saliva também são secreções importantes para proteção da conjuntiva ocular e da mucosa oral contra infecções. Sua composição inativa certos vírus, e elas também têm função de limpeza da conjuntiva ocular e da boca. ❖ Mecanismos de defesa intrínsecos das células Defesas intrínsecas são aquelas que sempre estão presentes na célula, mesmo quando não há infecção. São mecanismos de defesa de uma categoria diferente da imunidade inata, que precisa do reconhecimento do patógeno e da expressão de certos genes associados para que possa cumprir sua função. ➢ RNA interferente - Mecanismo celular que funciona por meio de pequenas moléculas de RNA associadas a um complexo proteico denominado RISC e a uma proteína chamada argonauta, que é capaz de clivar o RNA. A partir daí, esse complexo será capaz de reconhecer moléculas de RNA mensageiro complementares ao RNA do complexo e degradá-los. Essas moléculas têm uma ação importante na regulação da expressão gênica e, em alguns organismos, também desempenham um papel na defesa contra infecções virais. Quando um vírus de RNA acessa o interior da célula, existem proteínas celulares chamadas Dicer que são capazes de clivar esse RNA em pequenas moléculas. Esses pequenos fragmentos de RNA viral são adicionados ao complexo RISC/Argonauta e passam a reconhecer por complementaridade outras moléculas de RNA no citoplasma, antes que os mesmos possam ser expressos. No entanto, alguns vírus têm a capacidade de produzir proteínas que se ligam ao complexo RISC/Argonauta, abolindo sua ação, evadindo essa forma de defesa. ➢ CRISP - mecanismo que também tem papel antiviral apenas para plantas e invertebrados: reconhecer sequências específicas de DNA e clivar esse DNA. Como resultado, o genoma viral perde sua capacidade de ser usado para gerar as proteínas virais. A descoberta do RNAi e do CRISP foram de enorme relevância para a ciência, uma vez que ambos possuem aplicações em laboratório. Os RNAi podem ser usados em experimentos que necessitem de silenciamento gênico, o que permite aos cientistas estudarem vias metabólicas ao silenciarem proteínas específicas dessas vias e avaliar seus efeitos. Já o CRISP inaugurou a era da edição genética. Essas ferramentas moleculares permitem a edição do DNA com grande precisão, tornando possível manipular o DNA de diferentes células, além de poder usá-lo para o desenvolvimento de novos tratamentos para doenças. ➢ Proteínas da família das APOBEC - As proteínas da família das APOBEC têm a capacidade de causar mutações em genomas virais compostos por RNA. Essas proteínas são construtivamente produzidas em vários tipos celulares; no entanto, a expressão dos genes que codificam as proteínas APOBEC pode ser aumentada pela ação de citocinas, como os interferons tipo II. As APOBEC são encapsuladas na partícula viral. Uma vez lá dentro, ela deamina os resíduos de citosina no RNA viral, fazendo com que eles sejam reconhecidos como uracilas pela RNA polimerase viral, que incorporará uma adenina ao RNA, causando muitas mutações, as quais abolirão o funcionamento desse RNA. Apesar disso, vírus como o HIV-1 tem proteínas que sequestram a APOBEC, impedindo que ela seja encapsulada na partícula viral e impedindo sua ação antiviral. ➢ Apoptose - A morte celular programada, também conhecida como apoptose, pode ser induzida pelas várias alterações metabólicas que um vírus provoca na célula. Essas alterações podem emitir uma variedade de sinais que ativam mecanismos intrínsecos (de dentro da célula) e extrínsecos (de fora da célula) de indução da apoptose. Para garantir que a célula sobreviva o suficiente para gerar suas partículas virais, alguns vírus possuem mecanismos para bloquear a apoptose, como produzir proteínas análogas a proteínas celulares anti-apoptose. Imunidade inata A imunidade inata tem a característica de ser ativada em pouco tempo, ou seja, em minutos ou horas após a infecção. Esse tipo de resposta é não específico, isso quer dizer que os mecanismos envolvidos nesse tipo de imunidade serão similares para todos os patógenos. A resposta inata dependerá de vários tipos de células, como neutrófilos, células dendríticas, mastócitos, basófilos, macrófagos, células NK (Natural Killer), monócitos e eosinófilos. Além da resposta celular,o sistema complemento também faz parte da imunidade inata. As células NK constituem uma das primeiras linhas de defesa do organismo, pois exercem sua ação sem a necessidade de sensibilização prévia. Dentre as funções das células NK, inclui-se a ação citotóxica e a produção de quimiocinas e de citocinas imunorregulatórias para o recrutamento de outras células, como neutrófilos e macrófagos, e para o processo de ativação de células dendríticas, dos linfócitos B e T, de forma que esses possam exercer sua ação. Uma importante característica da imunidade inata é a capacidade de reconhecer os elementos estranhos ao organismo (antígenos) e diferenciá-los dos elementos do próprio organismo. Isso é possível graças à ação de receptores celulares capazes de reconhecer os chamados PAMP (Pathogen Associated Molecular Pattern – padrão molecular associado a patógeno). Esses receptores podem estar tanto associados a células de defesa do corpo como solúveis e na circulação. No caso dos vírus, os PAMP mais importantes são os ácidos nucleicos virais, que têm características particulares o suficiente para serem reconhecidos pelos receptores de reconhecimento de padrões. Os receptores Toll-like foram os primeiros a serem reconhecidos; são receptores que estão presentes na membrana da célula e em endossomos. Imediatamente após reconhecer um patógeno, o receptor sinaliza para a expressão de genes para produzir interferon do tipo 1. Já os receptores RIG-I são citoplasmáticos e têm a função de reconhecer material genético viral neste meio, desencadeando a cadeia para expressão do interferon beta. Para a resposta antiviral, as principais citocinas são os interferons e as quimiocinas. Estas moléculas têm a função de regular a expressão de genes em outras células e, no caso de uma infecção viral, estabelecer respostas antivirais. Por isso, alguns vírus possuem mecanismos específicos para modular essa resposta e interromper a produção de citocinas. Como os vírus das hepatites B e C, que têm a capacidade de bloquear a sinalização dos receptores RIG-I ao clivar o receptor mitocondrial MAVS, interrompendo o processo de ativação dos fatores de transcrição que atuariam no gene do interferon beta. O que são citocinas? São sinalizadores celulares que necessitam de receptores de membrana específicos para serem reconhecidos pelas células. Na infecção viral, essas citocinas sinalizarão para que outras células do sistema imunológico cheguem ao local da infecção e desencadeiem a resposta antiviral nas células infectadas, podendo induzir a expressão de genes de resistência e apoptose da célula. A produção de interferon é rápida, mas a meia-vida dessa molécula é curta (por volta de 10 horas). Na verdade, muitos dos sintomas de uma “virose" são decorrentes da ação do Interferon, por isso uma ação demorada dessa molécula acabaria deixando de ter efeito no combate ao vírus e passaria a prejudicar o organismo. Existem os interferon do tipo 1 (alfa ou beta), tipo 2 (gama) e tipo 3 (lambda). Apesar dos seus efeitos benéficos, a produção de interferon pode induzir uma reação exacerbada sistêmica, por possuir efeitos deletérios, pode ocorrer febre, calafrios e náuseas, os sintomas clássicos de viroses. Alguns desses genes de resposta ao interferon expressam proteínas importantes para a resistência da célula à infecção viral. Como, por exemplo, a teterina, que é uma proteína que impede a entrada do vírus na célula. Outra proteína importante é a IFIT1, que bloqueará a tradução de RNA viral no citoplasma. Alguns vírus possuem mecanismos para escapar da IFIT1, como, por exemplo, estruturas secundárias em seus RNAs mensageiros, que impedem o ancoramento da IFIT1. As células dendríticas têm a função de vagar pelos tecidos em uma forma imatura, sendo principalmente atraídas por regiões onde citocinas estejam sendo produzidas. Ao entrar em contato com as citocinas liberadas pelas células infectadas e com o antígeno que está no local, a célula dendrítica é ativada e sofre seu processo de maturação.As células dendríticas são as primeiras células a chegarem a um sítio infeccioso e atuam como uma ligação entre o sistema imune inato e o adaptativo. Isso se deve ao fato de as células dendríticas serem altamente especializadas na captura e apresentação dos antígenos presentes nos patógenos para os linfócitos T, que fazem parte da resposta imune adaptativa. Por outro lado, as células dendríticas são atraídas e ativadas por fatores da resposta inume inata. Quando capturados, os antígenos são processados no interior da célula dendrítica e, posteriormente, são apresentados à superfície celular e inseridos nas moléculas do Complexo Principal de Histocompatibilidade. Resposta adaptativa As principais características, que a diferem da resposta imune inata são: ❖ Especificidade de reconhecimento antigênico; ❖ Diversidade do repertório dos receptores antigênicos; ❖ Capacidade de expansão clonal; ❖ Adaptação a mudanças ambientais; ❖ Memória imunológica. O sistema imune adaptativo é composto por um pequeno número de células com especificidade para patógenos individuais, toxinas ou alérgenos. A resposta executada por esse sistema não é tão rápida em comparação à resposta imune inata, pois as células efetoras, que realizam essas funções, devem ser sensibilizadas e se proliferarem até atingir um número suficiente de clones celulares para que ocorra uma resposta efetiva. O sistema imune adaptativo produz células com vida longa que persistem em um estado latente, mas que podem re-expressar suas funções efetoras de forma rápida após outro contato com o antígeno específico, mesmo que esse segundo contato aconteça muito tempo após o primeiro. É dessa forma que funciona o princípio da vacinação. Introduzimos de maneira controlada partes de microrganismos, microrganismos completos inativados ou ainda suas toxinas, para estimular o sistema imune, de modo que este seja capaz de montar uma defesa contra esse antígeno. Quando o indivíduo entra em contato com este antígeno novamente, ele já possui mecanismos efetores eficientes para protegê-lo, prevenindo, assim, que a doença se instale no organismo. Isso acontece pela geração da memória imunológica, ou seja, nosso sistema imune é capaz de armazenar uma memória para cada antígeno apresentado ao logo da vida, sendo capaz de se defender e combater os diversos antígenos existentes. A resposta imune adaptativa baseia-se em duas classes de células especializadas: os linfócitos B e os linfócitos T. A elevada quantidade dessas células no organismo e a alta diversidade de repertório dos receptores dessas células fazem com que haja grandes chances de um desses linfócitos encontrar um antígeno que se ligue a esse receptor e, assim, desencadear os processos de ativação e proliferação das células (expansão clonal), as quais são extremamente necessárias para a geração de uma resposta adaptativa eficiente. No entanto, esse processo de expansão clonal não é rápido, pois o organismo necessita de três a cinco dias para produzir quantidade suficiente de clones celulares e para estes se diferenciarem em células efetoras. Dessa forma, para que os patógenos não provoquem danos excessivos no hospedeiro, a resposta imune inata entra em ação imediatamente após a identificação do patógeno no organismo e atua na destruição dos microrganismos, até que a resposta imune adaptativa esteja pronta para começar a exercer sua função. A imunidade adaptativa atua por meio de dois tipos de resposta: a humoral (que é mediada por anticorpos produzidos pelas células plasmocitárias, que se desenvolveram a partir dos linfócitos B), e a celular (que é mediada pelos linfócitos T). Na ausência de reconhecimento contra algum antígeno, as células B permanecem circulando no sangue periférico no estado latente, para serem ativas, é necessária ligação do receptor de célulasB (BCR) se ligue a um antígeno e sinalização intracelular por duas cadeias peptídicas a Igα (CD79a) e a Igβ (CD79b). Após a ativação pelo antígeno, algumas células se transformam em células B de memória, pois adquirem a capacidade de sobreviver por grandes períodos sem necessitar de contínuo estímulo antigênico. Essas células são geradas nos centros germinativos e atuam montando uma resposta rápida na presença do mesmo antígeno frente a uma segunda exposição. Algumas células B, que proliferaram em resposta a antígenos, diferenciam-se em células plasmocitárias, e essas células são as secretoras dos anticorpos. Os anticorpos também são chamados de imunoglobulinas e constituem-se de duas cadeias pesadas e duas cadeias leves unidas por pontes dissulfeto. Existem cinco tipos de cadeias pesadas que formam a região constante (Fc): α, γ, δ, ε e µ. Essas cadeias definem as classes de imunoglobulina IgA, IgG, IgD, IgE e IgM, respectivamente. As cadeias leves são de dois tipos: κappa (κ) e lambda (λ). A especificidade de ligação ao antígeno é definida pela porção variável (Fab) da molécula, constituída pela união das regiões variáveis das cadeias leve e pesada da imunoglobulina. Nas respostas primária e secundária, há a produção dos isotipos IgM e IgG. Na fase aguda da resposta à infecção (resposta primária), a IgM é a principal imunoglobulina produzida, e a IgG é encontrada em pequena quantidade e eleva-se mais tardiamente. Já na resposta secundária, a IgG é a imunoglobulina predominante (anticorpo de memória). Nas duas respostas, a concentração sérica de IgM diminui rapidamente, e, após cerca de uma ou duas semanas, observa-se queda bastante acentuada, enquanto a produção de IgG é persistente e pode ficar elevada por longos períodos. Linfócitos T e a resposta celular As células T podem ser divididas em duas subpopulações: as células T CD4+ e as células T CD8+, as quais reconhecem diferentes classes de MHC. As células T CD4+ são designadas células T auxiliares (do inglês helper), reconhecem antígenos apresentados pelo MHC de classe II (HLA- DR, HLA-DP e HLA-DQ) e atuam na ativação da resposta humoral e celular com o objetivo de eliminar os patógenos. Uma porção das células T CD4+ atuam na ativação dos linfócitos B, macrófagos e linfócitos T CD8+. Outra porção são as células T CD4+, que têm importante papel regulatório e atuam como moduladores descendentes da resposta imune. Essas células T CD4+ regulatórias (Treg) dividem-se em dois grupos: Treg naturais e Treg adaptativas. As células CD8+ reconhecem antígenos apresentados por moléculas de MHC de classe I (HLA-A, HLA-B e HLA-C), possuem atividade citotóxica contra células infectadas por microrganismos intracelulares e contra células tumorais e células regulatórias que bloqueiam a ativação e a função de outros linfócitos T (células T supressoras). As células T CD8+ também apresentam subpopulações com secreção de diferentes citocinas e, dessa forma, são designadas células T citotóxicas tipo 1 e tipo 2. A ativação das células T CD8+ virgens para sua diferenciação em células citotóxicas efetoras e células T de memória exige o reconhecimento do antígeno e de segundos sinais fornecidos pelas células T CD4+. Como as moléculas de MHC de classe I são expressas em praticamente todas as células nucleadas, as células T CD8+ citotóxicas reconhecem as células- alvo no contexto das moléculas de MHC de classe I e destroem essas células por meio da ativação da via da apoptose mediante a rápida secreção de grânulos de perforinas e granzimas. Em paralelo, essas células também podem levar as células-alvo à morte por meio da expressão do receptor FasL (CD95), que interage com seu ligante Fas, que também desencadeia a apoptose. As células T de memória são geradas após a resposta a um antígeno específico e podem sobreviver em um estado latente por anos, ou até mesmo por toda a vida. Quando expostas ao mesmo antígeno, essas células são capazes de montar uma resposta mais rápida quando comparadas com as células T virgens. As células de memória podem ser divididas em células T de memória centrais e células T de memória efetoras. O primeiro grupo migra predominantemente para os linfonodos; em contato com o antígeno, essas células apresentam resposta limitada, mas com grande capacidade de proliferação. O segundo grupo dirige-se principalmente aos tecidos das mucosas, onde, após a estimulação antigênica, produz citocinas efetoras e, de maneira rápida, diferencia-se em células citotóxicas. Resposta adaptativa e os vírus Os anticorpos têm papel importante no combate a essas infecções, pois, após multiplicarem-se em células do hospedeiro infectadas, os vírus rompem essas células, ficando livres até a penetração em outra célula. Nessa fase extracelular, os anticorpos podem ligar-se aos vírus e, por meio do mecanismo de neutralização, impedir que eles penetrem em outra célula não infectada. Alternativamente, os anticorpos podem ser adjuvantes na resposta imune celular. Quando os anticorpos se ligam às células infectadas pelo vírus, permitem a ação citotóxica das células NK. Doenças como a poliomielite, o sarampo e a hepatite B são exemplos desse tipo de resposta. Os anticorpos têm papel fundamental na resposta contra a infecção quando se trata de um hospedeiro previamente sensibilizado, seja por imunização, seja devido a uma infecção prévia. Isso ocorre porque, em indivíduos já sensibilizados, os anticorpos podem interceptar os vírus e impedir a sua ligação com a célula do hospedeiro. Devido aos diversos tipos de mecanismos de defesa contra os vírus, grande parte dessas infecções são assintomáticas ou se apresentam com manifestações inespecíficas, como rash cutâneo e febre. No entanto, várias infecções virais progridem e podem culminar em dano tecidual importante. Em muitas infecções virais, a destruição de célula do hospedeiro pode acontecer por mais de um desses mecanismos: efeito citopático do vírus, reação de hipersensibilidade e fenômenos autoimunes. Por exemplo, na infecção pelo HIV e nas infecções pelo HCB e HBV, a destruição das células infectadas é mediada tanto pelo efeito citopático dos vírus como pela de citotoxicidade pelas células NK e células T CD8+. A evolução fez com que alguns vírus desenvolvessem uma estratégia para escapar da resposta imune. No caso do HIV-1, a indução de anticorpos continua sendo um desafio porque o vírus possui mecanismos de escape que “enganam” as células do hospedeiro, permitindo que sua replicação continue ativa. Um dos empecilhos à ação da resposta imune contra o HIV é o envelope do vírus, que contém uma camada de lipídeos que funciona como um “escudo” e impede a ação dos anticorpos. Esse escudo esconde as proteínas essenciais ao vírus (que seriam o alvo dos anticorpos) e deixa expostas outras regiões virais não essenciais, que podem ser reconhecidas pelos anticorpos, mas sofrem constantes mutações. Por conta desses mecanismos, as estratégias para produzir uma vacina contra o HIV-1 não têm apresentado resultados concretos, e a indução de anticorpos que neutralizem o vírus permanece como um desafio à comunidade científica. Mecanismos de imunodepressão A imunodepressão pode ser definida como um estado de deficiência do sistema imune para responder normalmente aos agentes agressores. A imunodepressão (ou imunodeficiência) primária ou congênita é resultado de alterações genéticas que culminam no aumento da suscetibilidade às infecções. Esse tipo de imunodeficiência geralmente se manifesta na infância e adolescência; porém, em alguns casos, pode ser detectado tardiamente. As imunodeficiências secundárias ou adquiridas não são genéticas, uma vez que se desenvolvem a partir de certas condições, como desnutrição, neoplasias, tratamento com medicamentos imunossupressores ou alguns tipos de infecção, como a causada pelo HIV. Já a imunossupressão é o atode reduzir deliberadamente a atividade ou eficiência do sistema imunológico. Isso pode ser feito com medicamentos imunossupressores, por exemplo. A imunossupressão é geralmente feita para coibir a rejeição em transplantes de órgãos ou para o tratamento de doenças autoimunes, como lúpus, artrite reumatoide, entre outras. No entanto, com o sistema imunológico praticamente desativado, o indivíduo imunossuprimido fica vulnerável a infecções oportunistas. Principais viroses e imunização Vírus respiratórios As infecções virais do trato respiratório são uma das principais causas de morbidade e mortalidade em todo o mundo, representando enorme carga econômica para os governos, já que esses vírus se disseminam de forma mais rápida do que outros. As famílias de vírus respiratórios são agrupadas desta forma porque os vírus se replicam no trato respiratório, de onde são eliminados e transmitidos por meio de secreções que saem da cavidade nasal e da cavidade oral. Alguns vírus respiratórios afetam o trato respiratório inferior, e outros, o trato respiratório superior. Como os vírus estão presentes no ambiente, qualquer um é capaz de se infectar. No entanto, nem todas as pessoas que se infectam apresentam algum sintoma – muitas são assintomáticas. O indivíduo assintomático apresenta replicação do vírus, essa pessoa é capaz de transmiti-lo para outra pessoa, porém o indivíduo não apresenta nenhum sintoma clássico da doença causada pelo vírus infectante, como, por exemplo, febre, tosse ou coriza. Já as pessoas que apresentam algum sintoma, indivíduos sintomáticos, de forma geral, quando infectadas com algum vírus respiratório, apresentam uma doença aguda autolimitada. Em alguns casos, pode haver agravo da doença e até mesmo o óbito. Alguns grupos apresentam maior vulnerabilidade, como crianças, idosos e pessoas imunocomprometidas. Os vírus respiratórios se espalham por três vias principais de transmissão: ❖ Contato (direto ou indireto): A transmissão de contato refere-se à transferência direta de vírus de uma pessoa infectada para um indivíduo suscetível (por exemplo, por meio de mãos contaminadas) ou transferência indireta de vírus, por meio de objetos intermediários (fômites), como copos e talheres compartilhados. ❖ Gotículas (transmissão pelo ar): As gotículas contendo o vírus geradas durante a tosse, o espirro ou a fala permanecem suspensas no ar e viajam pelo menos de 1 metro antes de entrarem na mucosa de pessoas próximas, e assim infectá-las ou se depositar em superfícies. ❖ Aerossol (transmissão pelo ar): Os aerossóis têm uma velocidade de sedimentação lenta, portanto permanecem suspensos no ar por mais tempo e podem viajar mais longe, chegando até mesmo a 5 metros de distância. A transmissão de um patógeno depende de muitas outras variáveis, como fatores ambientais (por exemplo, umidade e temperatura), aglomeração de pessoas, mas também de fatores do hospedeiro, como a presença do receptor ao longo do trato respiratório, susceptibilidade, imunidade prévia, entre outros fatores. Os vírus respiratórios pertencem a diferentes famílias de vírus, diferindo em virulência e os grupos de pessoas que são mais afetadas. Os vírus que estão frequentemente envolvidos nas infecções respiratórias são: Vírus Sincicial Respiratório (VSR), Influenza e Coronavírus. Ainda existem outras famílias importantes, como Rinovírus, Adenovírus e Parainfluenza. ❖ Vírus sincicial respiratório humano (VSR) É um vírus envelopado, de simetria helicoidal pleomórfico, com 100 a 350 nm de diâmetro. Seu genoma é RNA de fita simples, de polaridade negativa, com aproximadamente 15kb, não segmentado. O genoma desse vírus apresenta 10 genes que codificam 11 proteínas, uma vez que a proteína M2 gera duas proteínas de matriz distintas, M2-1 e M2-2. O envelope viral contém três proteínas, a glicoproteína (G), a glicoproteína de fusão (F) e a proteína hidrofóbica pequena (SH). Essas proteínas atuam na fixação da célula hospedeira e são responsáveis pela fusão e entrada na célula. As proteínas F e G são as principais proteínas antigênicas contra as quais a maioria dos anticorpos são produzidos. Além das proteínas estruturais, o RSV apresenta cinco outras proteínas estruturais, a proteína grande (L), nucleocapsídeo (N), fosfoproteína (P), matriz (M) e duas proteínas não estruturais (NS1 e NS2). O que costuma ser observado é que os indivíduos que são infectados pela primeira vez por VSR quase sempre apresentam sintomas (sintomáticos). As manifestações clínicas variam de doença leve do trato respiratório superior (URTI) até envolvimento grave do trato respiratório inferior (LRTI), apresentando então risco de morte. A infecção por VSR é comum em bebês e crianças pequenas. Quando ela se torna grave, como no caso de uma LRTI, geralmente é associado a bronquiolite, ou a pneumonia e até mesmo a asma. Não há, assim, imunidade permanente, sendo possíveis várias infecções durante a vida. Não só bebês e crianças pequenas estão vulneráveis, mas pacientes imunocomprometidos, aqueles com doença cardiopulmonar crônica e idosos também estão sob risco de grave envolvimento do trato respiratório inferior. O VSR constitui uma causa significativa de morbidade e mortalidade nessas populações. Nos adultos e nas crianças maiores que são saudáveis, de forma geral, os sintomas são semelhantes aos do resfriado comum, apresentando, assim, secreção nasal, espirros, tosse seca, febre baixa, dor de garganta e dor de cabeça. Em casos em que há progressão da doença, a infecção pode alcançar o trato respiratório inferior, havendo aparecimento de febre alta, muita tosse, dificuldade para respirar, adejo nasal, cianose labial, falta de apetite, letargia, entre outros. ❖ Influenza Os vírus Influenza causam doenças respiratórias em humanos e em animais, com impacto significativo na saúde humana e na economia. Ao total, são quatro espécies da mesma família Orthomyxoviridae e quatro gêneros distintos. Os vírus dessa família possuem partículas virais envelopadas, com genoma de RNA segmentado (octa-segmentado) com fita simples de polaridade negativa. O genoma codifica 16 proteínas, sendo 9 estruturais e 7 não estruturais. O influenza A circula na população humana como uma doença epidêmica que acontece anualmente e emerge de um reservatório zoonótico. O influenza B é quase exclusivamente humano, bem como o influenza C, que causa doença menos grave. O influenza D circula principalmente em suínos e bovinos, havendo poucos registros de circulação entre humanos. Recentemente foram encontradas evidências sorológicas na Itália da sua circulação na população humana porém mais estudos são necessários para avaliar a circulação entre humanos. Existem duas fontes que geram diversidade gênica para esses vírus, o drift e shift antigênico. São dois tipos de mudança no material genético do Influenza que são fonte de diversidade do vírus. O drift antigênico são pequenas mutações pontuais nas glicoproteínas HA e NA do genoma do vírus, que fazem com que ele não seja mais reconhecido pelo sistema imune do hospedeiro; elas o mantêm semelhante aos vírus de origem. Essas mutações geram a necessidade de produzir novas vacinas anualmente. Já o shift antigênico (rearranjo antigênico) é o processo pelo qual dois ou mais subtipos de um vírus se combinam de modo a formar um novo subtipo, cuja superfície possui uma mistura dos antígenos de dois ou mais dos subtipos originais. Um exemplo do shift antigênico é o H1N1, que causou a pandemia de 2009, conhecido como gripe suína. A gripe é caracterizada pelo início súbito de febre, mialgia, dor de cabeça, mal-estar, tosse seca, dor de garganta e congestão nasal. Podem ocorrer sintomas gastrointestinais, incluindo náuseas, vômitos e diarreia. O período de incubação de influenza é de 1 a 4 dias. O vírus só começa a ser eliminado pelo hospedeiro um dia antes do início dos sintomase dura até 5-7 dias. Embora os vírus influenza geralmente causem doença respiratória moderada, a infecção do trato respiratório inferior de humanos pode resultar em pneumonia com progressão para SDRA e morte por insuficiência respiratória. Arboviroses Os arbovírus são vírus transmitidos por artrópodes, como, por exemplo, mosquitos, carrapatos, entre outros. O ciclo enzoótico, juntamente ao ciclo urbano, poderia explicar a manutenção dessa transmissão de arbovírus em ambas as áreas. Acredita-se que as epidemias resultam da disseminação do vírus a partir do ciclo enzoótico, onde pessoas que trabalham em ambientes florestados ou próximos se infectam e se deslocam para os centros urbanos, onde há vetores como Aedes aegypti e/ou Aedes albopictus. A disseminação para outras cidades ocorre rapidamente através de viajantes aéreos, que não apresentam sintomas (assintomáticos). Doenças causadas pelos vírus Dengue (DENV), vírus Chikungunya (CHIKV), vírus Zika (ZIKV) e vírus da febre amarela são de Notificação Compulsória, com o objetivo de reduzir a transmissão e a incidência dessas arboviroses. No Brasil, temos algumas famílias de arbovírus que apresentam grande impacto na saúde pública: família Flaviviridae, família Bunyaviridae, família Arenaviridae e família Togaviridae. ❖ Família Flaviviridae A família Flaviviridae possui quatro gêneros descritos, Pestivirus, Pegivirus, Hepacivirus e Flavivirus. Alguns dos membros do gênero Flavivirus são vírus Oeste do Nilo (WNV), vírus da febre amarela (YFV), vírus Dengue (DENV) e vírus Zika (ZIKV). Os membros da família Flaviviridae apresentam uma partícula viral envelopada com nucleocapsídeo icosaédrico de 40 a 60 nm. Genoma viral é composto por RNA de fita simples, polaridade positiva e um único quadro de leitura aberta (ORF, Open Reading Frame). O genoma viral codifica uma poliproteína que dará origem a 3 proteínas estruturais (capsídeos [C], preMembrana [prM]/membrana [M], envelope [E]) e 7 proteínas não estruturais (NS1, NS2A, NS2B, NS3, NS4A, NS4B, NS5). ➢ Vírus Zika Em 1947, o vírus Zika (ZIKV) foi isolado pela primeira vez na floresta Ziika, que era uma das áreas de estudos sobre o vírus da febre amarela. Durante décadas, na África e na Ásia, havia casos esporádicos da doença. Porém, ao longo dos anos, o vírus foi tendo sua dispersão pelo mundo, com casos reportados, em 2007, na ilha Yap (Micronésia) e, em 2013, na Polinésia Francesa. Após o surto na Polinésia Francesa, o vírus se dispersou por outras ilhas do Pacífico (2014 e 2015). Com a disseminação do vírus nas Américas, entre 2013 e2014, o Brasil se tornou o epicentro da epidemia dessa doença. De acordo com os boletins epidemiológicos publicados pelo Ministério da Saúde brasileiro, entre 2015 e 2020, quase 300 mil casos foram notificados por todo o país. Alterações congênitas foram associadas à infecção pelo ZIKV durante a epidemia que ocorreu no país em 2015. Portanto, foram mais de 12 mil casos de gestantes confirmadas com a infecção por ZIKV e mais de 3 mil bebês nasceram com alterações associadas à infecção, entre 2015 e 2020. ZIKV pertence à família Flaviviridae e ao gênero Flavivirus. Apresenta dois genótipos já descritos, africano e asiático, com um único sorotipo. A linhagem asiática pode ser dividida em três subtipos: subtipo americano, subtipo pacífico e subtipo sudeste asiático. Por ser um arbovírus, ZIKV é transmitido principalmente pela picada de mosquitos Aedes infectados, embora outras vias de transmissões venham sendo descritas, como transfusões de sangue, transmissão sexual e transmissão vertical. ZIKV é capaz de infectar células presentes no local da picada. A ocorrência de viremias e a sua circulação nas células infectadas permite que o vírus chegue a diferentes locais do corpo, incluindo aqueles relacionados às patologias que têm relação com o Zika, como placenta e sistema nervoso central. A infecção pelo ZIKV pode variar de assintomática a uma doença leve autolimitada. Cerda de 27-50% das pessoas podem apresentar sintomas, sendo os mais comuns a febre, erupção cutânea, mialgia, artralgia, conjuntivite, dor retro-orbital, dor de cabeça, o edema e vômito. Embora a infecção causada por ZIKV tenha sido descrita como uma infecção branda, existem relatos de alterações neurológicas, como a síndrome de Guillain-Barré (SGB), entre outras doenças relacionadas ao sistema nervoso central em adultos e malformações congênitas, como a Síndrome Congênita do Zika (SCZ) em crianças. ➢ Vírus Dengue Assim como ZIKV, DENV pertence à família Flaviviridae, gênero Flavivirus, e é transmitido pela picada dos mosquitos do gênero Aedes. Apresenta quatro sorotipos antigenicamente distintos (DENV-1,-2,-3,-4), conferindo imunidade sorotipo-específica permanente. Os quatro sorotipos podem causar de uma doença aguda autolimitada a uma doença grave, sendo fatal em alguns casos. A partícula viral se assemelha a outros membros desse gênero, assim como sua replicação. A proteína NS1do DENV é secretada pelas células infectadas durante a replicação viral, podendo ser detectada no sangue do paciente. A infecção por dengue pode ser assintomática, mas, quando sintomática, é possível que ocorra o aparecimento de dores de cabeça, dor retroorbital, mialgia, artralgia, complicações gastrointestinais, inflamação hepática e exantema, como na imagem a seguir. Quando a febre desaparece, os pacientes podem evoluir clinicamente para uma forma grave, caracterizada pelo aumento da permeabilidade vascular com extravasamento de plasma e manifestações hemorrágicas, levando, em alguns casos, ao choque hipovolêmico. Em 1997, a OMS criou um sistema de classificação que separava a dengue em dois polos clinicamente distintos, a dengue e a Febre Hemorrágica da Dengue (FHD). Já em 2009, foi estabelecida uma nova classificação da dengue, como podemos observar na imagem a seguir. A classificação abrange indivíduos sintomáticos sem ou com sinais de alarme que podem evoluir para dengue grave. Existem duas teorias principais imunológicas na dengue que buscaram explicar os quadros graves em pessoas que tiveram mais de uma infecção por dengue. Com base na teoria do pecado antigênico original, as células T de reação-cruzada geradas durante a infecção primária causada por um sorotipo expandem e reconhecem o outro sorotipo DENV infectante com baixa afinidade. A expansão dessas células T de resposta cruzada superam a frequência das células T naives de alta afinidade pelo sorotipo DENV infectante. Por consequência, observa-se um prejuízo do clearance viral e uma desregulação da produção de mediadores inflamatórios, a “tempestade de citocinas”, que contribui para a imunopatogenia da dengue. A teoria da facilitação da infecção dependente de anticorpos (ADE) é o fenômeno em que anticorpos sub ou não neutralizantes facilitam a entrada de vírus heterólogos nas células hospedeiras, sendo mais bem caracterizada para DENV e ainda discutida para ZIKV. Essa teoria estabelece que anticorpos específicos de um sorotipo conferem imunidade ao longo da vida para o sorotipo homólogo (imunidade sorotipo-específica). Porém, quando o indivíduo se infecta por um sorotipo heterólogo, ou seja, por outro sorotipo, os anticorpos gerados na primeira infecção são capazes de se ligar ao vírus infectante, mas não são capazes de neutralizá-lo, pois a ligação é de baixa avidez. A interação vírus e anticorpo sub- ou não neutralizante facilitaria a entrada do vírus na célula hospedeira, via receptores Fcɣ. Dentro da célula, com a redução do pH do endossomo, o complexo vírus-anticorpo se desprenderá um do outro, potencializando, assim, a replicação viral. ❖ Família Togaviridae A família Togaviridae é composta pelo gênero Alphavirus (31 espécies). Alguns dos membros do gênero são vírus O'Nyong-Nyong (ONNV), vírus da Febre do Rio Ross (RRV) e vírus Chikungunya (CHIKV). Os membros dafamília Togaviridae apresentam uma partícula viral envelopada com núcleocapsídeo de simetria icosaédrica de 65-70 nm de diâmetro. O genoma viral é constituído por uma fita simples de RNA com polaridade positiva. O genoma viral apresenta duas regiões de leitura aberta (ORF – Open Reading Frame). Apresentam quatro proteínas não estruturais: nsP1, nsP2, nsP3 e nsP4 e quatro proteínas estruturais principais: E1, E2, E3 e Capsídeo (C). Além disso, também codifica a proteína 6k e a proteína TF (transframe). ➢ Vírus Chikungunya Vírus Chikungunya (CHIKV) é um arbovírus pertencente à família Togaviridae, gênero Alphavirus, que pode ser transmitido por mosquitos do gênero Aedes. CHIKV foi isolado pela primeira vez na Tanzânia, em 1952. O nome chikungunya deriva de uma palavra na língua makonde, que significa “tornar-se contorcido”, que faz menção à aparência curvada dos doentes com dor nas articulações. A primeira evidência da circulação de CHIKV fora da África veio de Bancoque, Tailândia, em 1958. De 1961 a 1963, o vírus foi encontrado no Camboja e na Índia. O primeiro caso autóctone na América ocorreu no final de 2013, no Caribe. Com o intenso fluxo de pessoas viajando e a presença de vetores competentes, o Brasil identificou o primeiro caso autóctone de chikungunya no Oiapoque (Amapá), em 13 de setembro de 2014, causado pelo genótipo asiático. Simultaneamente, na semana seguinte, foi reportada a infecção por outro genótipo em Feira de Santana (BA). De 2015 a 2019, foram notificados mais de 700 mil casos prováveis. Em 2020 (SE29), o número de casos prováveis notificados foi 56.717. CHIKV infecta o hospedeiro através de picadas contaminadas de mosquitos do gênero Aedes, podendo infectar células residentes na derme, onde são capazes de se replicar. Com o auxílio de células apresentadoras de antígeno, os vírus podem ser levados até o linfonodo mais próximo, onde também são capazes de se replicar. Na fase virêmica, o vírus pode atingir diversos órgãos. A infecção causada por CHIKV é caracterizada por uma infecção aguda e autolimitada que causa altos níveis de viremia, a qual costuma durar de 4 a 6 dias, podendo permanecer por até 12 dias. Das pessoas infectadas, 75% a 95% dos casos são sintomáticos. Normalmente, os sintomas da infecção causada por CHIKV são febre alta (>38.9°C), poliartralgia, que pode ser debilitante e que pode persistir por meses, exantema, prurido, vermelhidão nos olhos, astenia, dor de cabeça e mialgia. Após a fase aguda, algumas pessoas evoluem para a cura, enquanto outras desenvolvem a forma subaguda da doença, na qual permanece a artralgia, que pode ser acompanhada por prurido, dermatite esfoliativa e sintomas depressivos. Em alguns casos, os sintomas podem permanecer por mais de 3 meses, sendo considerado que o indivíduo entrou na fase crônica da doença. Nesta fase, é possível que haja persistência da artralgia, da dor neuropática, e, em alguns casos, ocorre alopécia e bursite. ❖ Diagnóstico das arboviroses O diagnóstico para as arboviroses é realizado através de diagnóstico clínico-laboratorial. O diagnóstico clínico da infecção causada por ZIKV, DENV ou CHIKV, muitas vezes, torna-se difícil devido à semelhança dos sintomas. Portanto, é necessária a realização do diagnóstico laboratorial para a confirmação da infecção. O diagnóstico laboratorial deve ser realizado na fase aguda da doença, que dura entre 7 e 10 dias, dependendo do arbovírus. A coleta do material biológico é indicada nos primeiros 7 dias após o aparecimento dos sintomas. O material biológico mais coletado para diagnóstico é o sangue periférico, podendo ser coletada urina, no caso da infecção por ZIKV e CHIKV, e saliva, para CHIKV. ➢ Isolamento em cultura de células - O isolamento viral é realizado principalmente em cultura de células em garrafas, como na imagem a seguir. As células provenientes da glândula salivar do mosquito (C6/36) e as células epiteliais renais extraídas de um macaco verde africano (VERO) são muito utilizadas. ➢ Detecção do RNA viral por RT-PCR - A técnica de RT-PCR (reação em cadeia da polimerase precedida de transcrição reversa) é capaz de identificar a presença do material genético do vírus na amostra clínica coletada, sendo necessário fazer testes para os três vírus (DENV, ZIKV, CHIKV), pois, desta forma, caso o resultado dê negativo, teremos a certeza de que o indivíduo doente não está infectado por nenhum dos três vírus circulantes. Além disso, é possível descartar possível coinfecção. ➢ Sorologia - Trata-se da sorologia para detecção de imunoglobulinas M (IgM), para captura do antígeno NS1 (DENV e ZIKV) e para detecção de imunoglobulinas G (IgG). O diagnóstico sorológico pode ser feito por busca de anticorpos IgM ou por captura de NS1 – ambos são detectados nos soros de pacientes. No entanto, foram observadas reações cruzadas entre DENV e ZIKV nos ensaios sorológicos. O IgG dificilmente é detectado na fase aguda; normalmente, é detectado após 15 dias do início dos sintomas, quando geralmente não há mais vírus circulando no sangue. Hepatites virais Hepatite significa a inflamação do fígado, que pode ter diferentes causas, como, por exemplo, o consumo excessivo de álcool, de remédio ou uma infecção por vírus. O fígado é indispensável ao corpo humano, sendo responsável pela metabolização de nutrientes, medicamentos e outras substâncias que devam ser absorvidas ou secretadas pelo corpo. Todo sangue que sai do estômago e do intestino passa pelo fígado antes de se espalhar pelo corpo. As hepatites virais são doenças infecciosas sistêmicas que afetam o fígado e são causadas pelos cinco vírus já descritos: vírus da hepatite A (HAV), vírus da hepatite B (HBV), vírus da hepatite C (HCV), vírus da hepatite D ou Delta (HDV) e vírus da hepatite E (HEV). Com exceção do HBV, que possui genoma DNA, todos os demais são vírus RNA, como podemos ver na imagem a seguir, embora apresentem diferenças em sua estrutura e seu genoma e, por consequência, em sua classificação taxonômica. Estes cinco vírus têm o fígado como alvo primário. De forma geral, a hepatite pode ser assintomática em 50 a 90% das pessoas. Quando sintomáticas, as pessoas podem apresentar náusea, vômitos, mal-estar, dor de cabeça, febre e perda do apetite. Dependendo da evolução da infecção, o indivíduo pode entrar na fase ictérica, caracterizada por colúria, acolia e icterícia, que coincidem com alteração das provas de função hepática (alaminotransferase – ALT, aspartatoaminotransferase – AST e gamaglutamiltransferase – GGT). Quando uma pessoa se infecta com um dos vírus da hepatite, o vírus migrará e infectará os hepatócitos. Com isso, pode acontecer sinais e sintomas característicos da doença, e, após a fase aguda, a pessoa infectada segue para a fase de recuperação. Algumas pessoas se recuperam completamente, porém outras cronificam, podendo ocorrer algumas complicações, como a cirrose e o carcinoma hepatocelular. ❖ Hepatite A A hepatite A é transmitida pela via orofecal através de ingestão de água/alimentos contaminados e/ou contato indireto (fômites). Após sua ingestão, o vírus é capaz de atravessar o intestino e chegar à corrente sanguínea, atingindo o fígado. Após a replicação no fígado, o vírus é eliminado com a bile nas fezes. Esse vírus costuma causar infecções agudas benignas, que evoluem para a cura sem necessidade de tratamento específico e sem cronificação. A partícula viral é eliminada nas fezes do paciente infectado em grandes quantidades e permanece estável no ambiente. Esse tipo de infecção está relacionado com condições sanitárias precárias, levando à ampla disseminação, principalmente do HAV, no ambiente. A infecção em crianças costuma ser assintomática, o que é outro fator que contribui para a disseminação do vírus. A infecção por hepatite A tem distribuição mundial. No Brasil, a hepatite A representa mais de 60 % dos casosdas hepatites virais agudas, e, nos últimos anos, foi observado que a média de idade da infecção tem se deslocado da infância para a adolescência. Em primeiro lugar, é realizada uma avaliação clínica do paciente sintomático pelo médico e, de acordo com os sintomas presentes, o médico solicitará o exame laboratorial com testes bioquímicos. Você lembra que a infecção pelos vírus Hepatite causa alterações nas enzimas do fígado? Então, por isso é solicitado o hepatograma (ALT, AST, FA, gama GT). Além disso, para o diagnóstico da infecção atual ou recente, é realizado a pesquisa de anticorpos anti-HAV IgM (infecção inicial), que podem permanecer detectáveis por cerca de seis meses. Pode ser realizado o PCR, buscando a presença do material genético do vírus (RNA viral). Para avaliação de cobertura vacinal e infecção passada, é realizada pesquisa do anticorpo IgG. O saneamento básico, com a instalação adequada de redes de esgoto e o acesso à água potável, é uma das formas de prevenir a infecção pelos vírus da hepatite A. Além disso, é importante criar hábitos de higiene, como lavar as mãos regularmente, principalmente após utilizar o banheiro e antes das refeições, e higienizar os alimentos, como frutas e verduras. No Brasil, é disponibilizada a vacina inativada contra hepatite A, que é administrada aos 15 meses de idade (dose única). ❖ Hepatites B e C As hepatites B e C são transmitidas principalmente por via parenteral, por contato com sangue e hemoderivados, sendo possível sua transmissão por contato sexual e de mãe infectada para o recém-nascido (durante o parto ou no período perinatal). Grupos de alto risco incluem os usuários de drogas injetáveis e indivíduos com múltiplos parceiros. Na maioria dos casos, a hepatite B não apresenta sintomas. A ausência de sintomas na fase inicial dificulta o diagnóstico precoce da infecção, sendo, muitas vezes, diagnosticada décadas após a infecção, com sinais relacionados a outras doenças do fígado. A triagem de hepatite B é realizada através da pesquisa do antígeno do HBV (HBsAg), que pode ser feita por meio de teste laboratorial ou teste rápido. Se o resultado do teste for positivo, deve ser realizado outro teste laboratorial, para complementar o diagnóstico, sendo mais indicado a detecção da carga viral, por meio de PCR. Estima-se que haja cerca de 2 bilhões de infectados pelo HBV no mundo. Destes, 350 milhões são portadores crônicos. No período de 1999 a 2019, foram notificados 247.890 casos confirmados de hepatite B no Brasil. A hepatite B não tem cura, portanto é de extrema importância que seja feita a sua prevenção. O controle e a prevenção da hepatite B se dá através do uso de preservativos, da esterilização de agulhas que são utilizadas, por exemplo, em estúdios de piercings e tatuagens, e da esterilização de alicates de unha que são utilizados em salões de beleza. Além disso, é realizada a triagem de doações de sangue e de órgãos. Existe vacina para hepatite B no sistema público, estando dentro do calendário nacional de vacinação: é oferecida uma dose da vacina quando a criança nasce. Além disso, existem doses da vacina Pentavalente (DTP+Hib+ Hep B) com 2, 4 e 6 meses, servindo como doses de reforço. Cerca de 200 milhões de pessoas foram afetadas pelo HCV em todo o mundo, sendo que 70%-85% de indivíduos apresentam infecção crônica pelo HCV. A infecção por HCV é a maior causa de transplante hepático no mundo. Muitas pessoas foram infectadas por HCV através de transfusão de sangue antes de 1993, pois, naquela época, não se faziam tantos testes nos doadores de sangue. Outra forma bastante comum da transmissão são acidentes com agulha e objetos perfurocortantes infectados e o compartilhamento de agulhas e seringas por usuários de drogas. De forma mais incomum, mas ainda possível, a transmissão sexual ou perinatal. A hepatite C não é transmitida pelo leite materno. O tratamento da hepatite C é feito com antivirais (daclatasvir, simeprevir e sofosbuvir) de ação direta, que apresentam taxas de cura de mais de 95% e são realizados, geralmente, por 8 ou 12 semanas. Não existe vacina contra a hepatite C. Para evitar a infecção, é importante não compartilhar com outras pessoas qualquer objeto que possa ter entrado em contato com sangue (seringas, agulhas, alicates, escova de dente etc.) e usar preservativo nas relações sexuais. Papiloma vírus humano (HPV) O Papilomavírus humano (HPV) é um vírus pertencente à família Papillomaviridae. Os HPVs são agrupados nos seguintes gêneros: Alfapapilomavírus, Betapapilomavírus, Gamapapilomavírus, Mupapilomavírus e Nupapilomavírus. É um vírus não envelopado que tem como genoma DNA fita dupla circular. Existem mais de 100 diferentes tipos de HPVs, sendo os genótipos mais frequentes classificados como alto risco (principalmente 16 e 18) e baixo risco (principalmente 6 e 11). A infecção por HPV causa normalmente o aparecimento de tumores benignos, chamados popularmente de verrugas. As verrugas são sempre causadas por alguma cepa de Papilomavírus humano. Diferentes genótipos podem causar verrugas em diferentes partes do corpo, como no braço, na perna e em regiões genitais. Alguns genótipos apresentam associações com neoplasias intraepitelial cervical (como câncer do colo de útero), como o 16 e o 18. As verrugas podem se espalhar de um local do corpo para outro ou até mesmo por todo o corpo, como no caso da epidermodisplasia verruciforme, uma genodermatose rara caracterizada por infecção disseminada por HPV. Além da infecção por HPV, os indivíduos portadores dessa doença apresentam um fator genético que favorece a disseminação do vírus. Essa doença é pouco conhecida pelo nome científico, mas muitos já devem ter ouvido o nome “homem-árvore”. HPV é uma infecção sexualmente transmissível (IST), sendo passada pelo contato direto ou indireto do epitélio com verrugas. Esses vírus possuem a capacidade de infectar tanto as mucosas como os tecidos cutâneos. O HPV está relacionado com o agente causador do câncer de colo do útero, ânus, pênis, vulva, vagina e boca e orofaringe, como também com o causador de verrugas cutâneas e genitais. As infecções, em sua maioria, são latentes, em que o período de incubação pode levar de 6 semanas a 2 anos. Muitas infecções são assintomáticas e transitórias. O vírus é encontrado no epitélio escamoso queratinizado e não queratinizado presente na mucosa da boca, nas vias respiratória superiores, na vagina, no colo uterino e no reto. A entrada do vírus ocorre através de microlesões presentes na pele, e o vírus se espalha pelas células basais do epitélio. Com a sua replicação, o vírus faz as células induzirem a replicação celular mais frequente, e, à medida que as células se dividem, diferenciam-se e trocam de função. A persistência da infecção está associada à integração do genoma viral e ao maior risco de desenvolvimento de câncer cervical. Nos HPV tipo 16 e 18, as proteínas E5, E6 e E7 associam-se e inativam as proteínas celulares p53 e pRB (gene do retinoblastoma). Na célula transformada, não há produção de vírus, embora continue a dividir-se em função do estímulo viral. À medida que as células se dividem, acumulam mutações que eventualmente levam à formação de um tumor. O HPV é uma doença que apresenta milhões de casos de condiloma genital por ano, sendo a segunda causa de morte por câncer em mulheres. No Brasil, não é realizada uma vigilância epidemiologia dos casos de HPV, mas se sabe que ocorre cerca de 15 mil óbitos por ano de mulheres com câncer de colo de útero (terceira causa de câncer em mulheres). O HPV é uma das doenças mais frequentes, mesmo sendo uma doença previsível de diversas formas. Por ser considerada a IST mais prevalente em todo o mundo, com maior incidência em adolescentes, e por ser altamente contagiosa, sendo possível adquiri-la com apenas uma exposição sexual, tornou-se tão necessárioo desenvolvimento de uma vacina capaz de prevenir, pelo menos, os genótipos mais frequentes: 6 e 11, 16 e 18. O diagnóstico do HPV pode ser realizado com auxílio de testes específicos e testes inespecíficos, além do diagnóstico clínico. Como testes inespecíficos podem ser realizados colposcopia, citopatologia (Papanicolau) e histopatologia, que visam detectar possíveis alterações nas células do colo do útero, dando indícios de possível infecção e até mesmo de desenvolvimento do câncer. Como testes específicos, que buscam o agente infeccioso, temos a microscopia eletrônica, imunocitoquímica, o PCR e a hibridização in situ. Sarampo O vírus do sarampo (MEV, do inglês Measles morbillivirus) pertence à família Paramyxoviridae e ao gênero Morbillivirus. MEV é um vírus envelopado, de simetria helicoidal pleomorfico com diâmetro de 100 a 250 nm. O MEV possui genoma de RNA de fita simples linear de polaridade negativa. O genoma do vírus possui 6 unidades de transcrição, as quais codificam oito proteínas, sendo seis estruturais e duas não estruturais. A transmissão do MEV ocorre por vias aéreas por contato de secreções respiratórias de pessoas infectadas. A infecção por MEV costuma causar uma doença aguda e autolimitada. Um indivíduo (crianças ou adultos não vacinados), ao entrar em contato com uma pessoa infectada e se infectar, passa pelo período de incubação, que pode durar de 7 a 14 dias. Após esse período, o indivíduo infectado sintomático pode apresentar febre, tosse, coriza, conjuntivite, manchas de Koplik e exantema maculopapular eritematoso, característico da infecção por sarampo. Os primeiros sintomas antes da erupção do exantema (com exceção das manchas de Koplik) são semelhantes aos de outras doenças respiratórias comuns. O aparecimento do exantema, geralmente, ocorre após 3 a 4 dias do início dos sintomas. O exantema do sarampo costuma aparecer no rosto e atrás das orelhas, no nariz, e depois se espalha para o tronco e as extremidades. O exantema desaparece, e tem início uma descamação, podendo ocorrer esfoliações severas na pele. Se não houver complicações, o paciente se recupera completamente, adquirindo imunidade duradoura contra o MEV. Assim como para outros vírus, estão disponíveis testes comerciais para detecção de anticorpos IgM e IgG anti-MEV por ensaio imunoenzimático (EIE), sendo o ELISA a técnica imunoenzimática mais utilizada nos centros de referência. O diagnóstico sorológico pode ser feito com soro ou na saliva durante a fase aguda da doença (IgM anti-sarampo), ou pode ser verificada a soroconversão, ou seja, quando a pessoa passa a ter IgG detectável no sangue contra o sarampo. As amostras de soro devem ser coletadas nos primeiros dias de sintomas, não ultrapassando o quinto dia. O período ideal para detecção da IgM é a partir do 3º dia do aparecimento da erupção cutânea – ele permanece detectável em um período de 30 a 60 dias na maioria dos indivíduos doentes. Além dos ensaios sorológicos, podem ser realizados métodos moleculares como o PCR (reação em cadeia de polimerase) para detecção do RNA viral, como também o isolamento viral, porém essa técnica é demorada e laboriosa. A PCR é mais sensível, e o resultado é obtido mais rapidamente. O sarampo é uma doença prevenível por vacinação. A vacina produzida é de vírus vivo atenuado. Atualmente, são oferecidas duas vacinas: Vacina tríplice viral (Protege do vírus do sarampo, da caxumba e rubéola) e vacina tetra viral (protege do vírus do sarampo, da caxumba, rubéola e catapora). Caxumba O vírus da caxumba pertence à família dos Paramyxoviridae e ao gênero Orthorubulavirus. São vírus envelopados, apresentam simetria helicoidal pleomórficos e levemente esférico com diâmetro de 100 a 600 nm e genoma de RNA de fita simples polaridade negativa. O homem é o único hospedeiro natural do vírus da caxumba. O vírus se propaga através do contato direto ou por gotículas de aerossóis no trato respiratório superior, tendo um período de incubação de 12 a 25 dias. A caxumba, também chamada de papeira ou parotidite, é uma doença viral aguda, autolimitada e contagiosa que afeta principalmente crianças e adolescentes. A infecção pode atingir qualquer tecido glandular e nervoso do corpo humano, mas o local mais comum são as glândulas parótidas, que produzem a saliva, ou as submandibulares e sublinguais, próximas ao ouvido. Sendo uma das principais característica da doença e um dos principais sintomas, a infecção pelo vírus leva ao aumento das glândulas salivares próximas aos ouvidos, que fazem o rosto inchar, como podemos ver na imagem a seguir. Outros sintomas comuns são: febre, calafrios, dores de cabeça, dores musculares e ao mastigar ou engolir, além de fraqueza. Em casos graves, a caxumba pode causar surdez. Trata-se de uma doença que raramente leva à morte. Porém, cerca de 30% das infecções pelo vírus da caxumba são assintomáticas. A prevenção é feita com doses de duas vacinas, assim como para o sarampo, a tríplice viral e a tetra viral. No Brasil, a vacina tríplice viral entrou no calendário nacional de vacinação em 1992, tendo como alvo crianças de 15 meses de idade. Hoje, a dose da tríplice viral é dada aos 12 meses de idade e, aos 15 meses, é dada a tetra viral. O diagnóstico da caxumba é basicamente clínico, com avaliação médica no inchaço presente nas glândulas. Pode ser coletada amostra de sangue para confirmar a presença do vírus por métodos moleculares, como reação em cadeia da polimerase – PCR, e métodos sorológicos, como a detecção de anticorpos anticaxumba do tipo IgM. Com o exame laboratorial, é possível excluir outras doenças que tenham sintomas parecidos. Catapora A catapora, nome popular para a doença causada pelo vírus Varicela-zóster (VZV), é uma doença infecciosa, aguda, febril, exantemática e contagiosa, que ocorre principalmente na infância. Na fase adulta, tende a ser mais severa. Além disso, existe a possibilidade da transmissão materno-fetal durante a gravidez, que pode levar a defeitos congênitos no bebê, especialmente no primeiro trimestre de gestação. Apesar de ser muito conhecido como Varicela-zóster, o vírus da catapora também é chamado de Alfaherpes vírus humano 3 por fazer parte da família Herpesviridae e da subfamília Alphaherpesvirinae, assim como os vírus herpes simples 1 e 2. Porém, o vírus da catapora e os herpes simples 1 e 2 não pertencem ao mesmo gênero. Varicela- zóster pertence ao gênero Varicellovirus, um vírus envelopado de simetria icosaédrica com genoma de DNA de dupla fita. A transmissão de varicela se dá de pessoa a pessoa, por meio de secreções respiratórias (saliva, espirro, tosse etc.) e através de contato com lesões de pele. A infecção tem início através do contato do vírus, causando a viremia primária. Os vírus se replicam em células fagocitárias do sistema imune inato e, após a replicação, ocorre a viremia secundária, que transporta o vírus até a pele, onde ele se desenvolve nas células endoteliais e epiteliais, levando ao aparecimento das vesículas, que são características da doença. Depois dessa fase, o vírus estabelece infecção latente nos gânglios da raiz dorsal da medula espinhal, podendo reativar-se após alguns anos e causar o Herpes zóster. Adultos com Herpes zóster representam um repositório do vírus na comunidade, possibilitando a transmissão para pessoas suscetíveis. A catapora, assim como outros vírus, apresenta sazonalidade nos climas temperado e tropical, com pico de incidência durante o inverno ou a primavera. Em países de clima temperado, 90 a 95% dos indivíduos adquirem o vírus na infância, como resultado de epidemias do inverno e primavera. Adultos com Herpes zóster representam contínuo repositório do vírus na comunidade, possibilitando a transmissão para pessoas suscetíveis com quem tiveram contato. Para a catapora, por ter aspectos clínicos muito característicos, de forma geral,não é realizado diagnóstico laboratorial, mas, quando são necessários a confirmação ou o descarte dos casos de varicela, principalmente em caso de varicela grave, são realizados testes sorológicos, como o ensaio de imunoabsorção enzimática (ELISA), a reação em cadeia da polimerase (PCR) ou imunofluorescência indireta (IFI). De forma geral, o tratamento da catapora é feito para aliviar os sintomas da doença. São utilizados analgésicos e antitérmicos, para amenizar a dor de cabeça e baixar a febre, e anti- histamínicos (antialérgicos), para aliviar a coceira. A coceira é muito marcante, e a pessoa infectada não deve coçar as vesículas para não aumentar as chances de infeccionar as feridas. Então, além de usar antialérgicos, o indivíduo pode colocar compressa de água fria sobre as feridas para evitar a coceira. Além do tratamento para os sintomas, pode ser utilizado o tratamento com o antiviral Aciclovir, sendo mais indicado para pessoas com formas mais graves, crianças com menos de 12 anos e pessoas imunocomprometidas. A principal medida de prevenção contra a catapora é a vacinação, com a vacina tetra viral. Porém, diante de uma infecção, alguns cuidados devem ser tomados, como lavar as mãos após tocar as lesões, desinfectar objetos pessoais que possam ter entrado em contato com secreções nasais ou com a saliva e isolar a pessoa doente. Em caso de crianças, o retorno à escola só é permito após todas as lesões terem formado crostas. Rubéola É um vírus envelopado com simetria helicoidal pleomórfico, com genoma de RNA fita simples polaridade positiva. A rubéola é uma doença infectocontagiosa aguda e autolimitada muito comum no período da infância, mas que também pode ocorrer em adultos não vacinados ou que não tiveram a doença quando crianças. Normalmente, as infecções por estes vírus produzem imunidade permanente. O vírus recebeu esse nome devido a uma das características clínica dessa doença, que é o aspecto avermelhado ou rubro do paciente. A doença também é conhecida, popularmente, como “sarampo alemão”. A transmissão ocorre de pessoa a pessoa por via respiratória em virtude do contato com secreções nasais e com a saliva. Além disso, a transmissão pode ocorrer de mãe para filho (transmissão vertical), em casos de infecção em mulheres grávidas. O vírus da rubéola é um dos vírus que apresentam capacidade de atravessar a barreira transplacentária e atingir o feto em desenvolvimento, levando ao aparecimento de síndromes congênitas ou até mesmo causando o aborto. A Síndrome da Rubéola Congênita (SRC) pode levar a deficiência auditiva, defeitos oculares (catarata, glaucoma congênito ou retinopatia pigmentar) e malformações cardíacas. O período de incubação é de 14 a 21 dias. Uma pessoa infectada pode apresentar sintomas como: febre alta, cefaleia (dor de cabeça), mal-estar, dor de garganta, aumento das glândulas perto do pescoço e ouvidos e aparecimento de exantema na pele. Assim como para os outros vírus apresentados anteriormente, o diagnóstico laboratorial da rubéola, para confirmação ou descarte de casos, é realizado através do ensaio de imunoabsorção enzimática (ELISA) para a detecção de anticorpos IgM e IgG para rubéola. Podem ser coletadas amostras para a realização do método molécula, o PCR, além de alinhar os resultados com o diagnóstico clínico. Caracterização dos fungos Características gerais da morfologia e nutrição dos fungos Os fungos são organismos eucariontes pluricelulares (filamentosos, bolores, cogumelos) multinucleados ou unicelulares (leveduras), com somente um núcleo, e são haploides. A característica mais importante que difere os fungos das plantas é que eles são aclorofilados, o que significa que adquirem seus nutrientes de modo diferente das plantas. A maioria dos fungos é aeróbica obrigatória; eventualmente, alguns são anaeróbios facultativos. Os fungos são mesófilos, o que significa que podem crescer em temperaturas entre 0 °C e 45 °C, mas o ideal, para a maioria, é entre 20 °C e 30 °C, preferencialmente em locais úmidos. Os fungos microscópicos (leveduras e bolores), quando crescidos em substratos adequados, formam estruturas denominadas “colônias”, que são visíveis a olho nu e apresentam características que os diferenciam macroscopicamente. As colônias fúngicas são formadas por estruturas reprodutivas e vegetativas que participam tanto do crescimento como do catabolismo. Os fungos pluricelulares (bolores ou filamentosos) são compostos por células de estruturas tubulares denominadas de hifas. Essas estruturas semelhantes a “fios de cabelo” dão aos fungos aquela aparência de pelos e tufos, comumente encontrados em pães mofados ou frutas estragadas, como morangos e laranjas. O conjunto dessas células tubulares compõe o micélio, que é responsável pela absorção de nutrientes e pela sustentação. Apesar de, em alguns casos, parecer que os fungos formam tecido verdadeiro, isso não acontece. Inclusive, os cogumelos, na verdade, são um grande conjunto de hifas que, juntas, apresentam aquele formato característico desse fungo macroscópico. As hifas pigmentadas são chamadas de “demáceas”; o pigmento, na maioria dos fungos, é composto por melanina, que dá uma coloração escura (marrom ou preta). Quando as hifas não têm coloração, são chamadas de “hialinas”. Em relação à estrutura das hifas, elas podem apresentar septos bem delimitados, sendo nomeadas “hifas septadas”, ou não ter esses septos visualmente delimitados, sendo chamadas de “hifas cenocíticas” ou “hifas asseptadas”. Os fungos filamentosos (bolores) apresentam amplo espectro de coloração e diversos tipos morfológicos: algodonosos, pulverulentos, aveludados etc. Já as leveduras têm colônias com aparência pastosa, brilhante, cerebriforme, tendendo à coloração creme, branca, preta ou rosa, dependendo da espécie. A seguir, conheceremos, ponto a ponto, as estruturas que compõem a célula fúngica, iniciando pela camada mais externa: a parede celular. ❖ Parede celular A parede celular fúngica é a estrutura que promove a rigidez da célula, aumentando sua proteção contra o estresse osmótico e ambiental. É composta essencialmente por camadas de carboidratos associados a proteínas e lipídeos, que variam de acordo com a espécie do fungo, a temperatura ambiente, o pH, a idade e a composição do substrato de crescimento. A parede celular fúngica é diferente da bacteriana, principalmente por ser rica em quitina, enquanto a parede das bactérias é composta por peptideoglicano. A quitina é o polissacarídeo mais presente na parede fúngica, sendo composto por um polímero de unidades de N-acetilglicosamina. Dependendo do grupo fúngico, pode haver a presença de celulose, ou a mescla dos dois (mais raramente). Outro componente da parede celular fúngica são as glucanas e as mananas, que são combinadas a proteínas, formando as glicoproteínas, manoproteínas e glicomanoproteínas. Outros polissacarídeos também estão presentes, e as β-glucanas são as mais importantes dentre eles. Cada uma dessas estruturas está localizada em maior quantidade em uma camada distinta da parede celular: as β-1-3-glucanas são mais internas, enquanto as camadas mais externas contêm β-1-6-glucanas. Por apresentar características particulares, durante a infecção, a parede celular fúngica exibe importantes propriedades biopatológicas e, por isso, torna-se importante alvo terapêutico, já que a parede celular possui estruturas exclusivas desses organismos e é essencial para a sobrevivência e resistência deles. ❖ Membrana citoplasmática A membrana citoplasmática dos fungos, assim como de outros organismos, contém o citoplasma e as organelas e é composta por esteróis e lipídeos complexos não encontrados nas membranas plasmáticas procarióticas. Assim como nas células eucarióticas dos animais, ela é composta por duas camadas de fosfolipídios (Figura 1.8) revestidas por proteínas e apresenta
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