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Aerodinâmica da Bola de Futebol: da Copa de 70 à Jabulani Carlos Eduardo Aguiar Programa de Pós-Graduação em Ensino de Física Instituto de Física - UFRJ Resumo • Resistência do ar • A crise aerodinâmica • Força de Magnus • O gol que Pelé não fez • Futebol no computador • Da Copa de 70 à Jabulani • Comentários finais A força de arrasto velocidade Varrasto Fa 2 aa VAC 2 1 F = densidade do meio A = área “frontal” Ca = coeficiente de arrasto O coeficiente de arrasto • AV2 tem dimensão de força Ca = Fa / (½ AV 2) é adimensional Ca só pode depender de quantidades sem dimensão • Em um fluido incompressível (V<<Vsom) a única quantidade adimensional é o número de Reynolds: DV Re Ca = f (Re) D = dimensão característica (diâmetro da bola), = viscosidade do meio Coeficiente de arrasto de uma esfera viscosidade domina inércia domina Stokes crise G.E. Smith, Newton’s Study of Fluid Mechanics, International Journal of Engineering Science 36 (1998) 1377-1390 Primeiras medidas e idéias sobre o arrasto medidas de Newton Principia, livro 2 água ar teoria de Newton curva experimental moderna Coeficiente de arrasto de uma esfera Re << 1 Ca = 24/Re Fa = (3D) V “atrito linear” Re = 0.16 (cilindro) Coeficiente de arrasto de uma esfera 103 < Re < 105 Ca 0,4 - 0,5 Fa 0,2 AV 2 Coeficiente de arrasto da bola de futebol Ar • densidade: 1,2 kg/m3 • viscosidade: 1,810-5 kg m-1 s-1 Bola de futebol • diâmetro: D = 0,22 m Vbola = (6,710 -5 m/s) Re resistência proporcional à velocidade (Re < 1) Vbola < 0,1 mm/s “atrito linear” irrelevante! Coeficiente de arrasto da bola de futebol Vbola 0,1 m/s Vbola 20 m/s CRISE Esfera lisa Na “crise” o coeficiente de arrasto diminui ~80% A crise do arrasto 0 10 20 30 40 50 V (m/s) 0 1 2 3 4 F A ( N ) bola de futebol (lisa) Para entender a crise: • Camada limite • Separação da camada limite • Turbulência na camada limite A camada limite camada limite laminar camada limite turbulenta • O fluido adere à superfície da bola. • A viscosidade transmite parcialmente esta adesão, criando uma camada que tende a mover-se com a superfície. Separação da camada limite H. Werlé A camada limite e a crise do arrasto camada limite laminar camada limite turbulenta Antes da crise Depois da crise A crise do arrasto ocorre mais cedo para esferas de superfície irregular. A rugosidade precipita a turbulência na camada limite. bola de golfe bola de futebol “rugosa” Rugosidade da bola T. Asai et al., Sports Engineering 10 (2007) 101 A crise do arrasto na bola de futebol O descolamento da camada limite e a força de arrasto Por que não é o lado afiado da asa que corta o ar? O descolamento da camada limite e a força de arrasto O descolamento da camada limite e a força de arrasto Carro esporte 0.3 – 0.4 Carro de passeio 0.4 – 0.5 Avião subsônico 0.12 Paraquedista 1.0 - 1.4 Homem ereto 1.0 – 1.3 Cabos e fios 1.0 – 1.3 Torre Eiffel 1.8 – 2.0 http://aerodyn.org/Drag/ Alguns coeficientes de arrasto O efeito Magnus bola sem rotação rotação no sentido horário A rotação muda os pontos de descolamento da camada limite. A força de Magnus ver por ex. K.I. Borg et al. Physics of Fluids 15 (2003) 736 VwF rAC 2 1 MM • CM = coeficiente de Magnus • w = velocidade angular • r = raio da bola CM ~ 1 (grande incerteza) FM A força de Magnus na bola de futebol MpS CSC v/rSp T. Asai et al., Sports Engineering 10 (2007) 101 Rotação e arrasto T. Asai et al., Sports Engineering 10 (2007) 101 v/rSp O gol que Pelé não fez Brasil x Tchecoslováquia, Copa de 70 “E, por um fio, não entra o mais fantástico gol de todas as Copas passadas, presentes e futuras. Os tchecos parados, os brasileiros parados, os mexicanos parados – viram a bola tirar o maior fino da trave. Foi um cínico e deslavado milagre não ter se consumado esse gol tão merecido. Aquele foi, sim, um momento de eternidade do futebol.” Nelson Rodrigues, À Sombra das Chuteiras Imortais O gol que Pelé não fez T [s] (X Y Z) [m] (Vx Vy Vz) [m/s] V [m/s] [graus] Início 0,00 (-5,2 -2,9 0,0) (27,8 -0,4 8,8) 29,1 17,6 Final 3,20 (54,3 3,7 0,0) (15, 2 -0,2 -8,9) 17,6 -30,2 • Vídeo digitalizado e separado em quadros. • A posição da bola foi determinada em cada quadro. Início e final da trajetória Parametrização do coeficiente de arrasto 100000 200000 300000 400000 Re 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 C A 0,3 0,2 0,1 0 Sp = ω r / v Parametrização da força de Magnus v/rSp T. Asai et al., Sports Engineering 10 (2007) 101 MpS CSC 25.1CM • Pontos: dados extraídos do vídeo. • Linha: cálculo com o modelo. Frequência de rotação (ajustada): f = ωy / 2 = − 6,11 Hz O gol que Pelé não fez Desvio médio: 23 cm -10 0 10 20 30 40 50 60 X (m) 0 2 4 6 8 10 Z ( m ) O gol que Pelé não fez -20 0 20 40 60 X (m) 0 2 4 6 8 Z ( m ) 0 1 2 3 4 T (s) -20 0 20 40 60 X ( m ) 0 1 2 3 4 T (s) 0 2 4 6 8 Z ( m ) Simulação do chute de Pelé O que ocorreria sem a crise do arrasto (Vcrise = ) O que ocorreria sem o efeito Magnus Futebol no computador Futebol no computador Sem a resistência do ar e o efeito Magnus (se o chute de Pelé fosse no vácuo) Bolas de Efeito • Trajetórias de bolas chutadas do mesmo ponto e com a mesma velocidade, mas com diferentes rotações em torno do eixo vertical. A Folha Seca A folha seca (segundo Leroy*): Bola com eixo de rotação na mesma direção da velocidade inicial. * B. Leroy, O Efeito Folha Seca, Rev.Bras.Física 7 , 693-709 (1977). Da Copa de 70 à Jabulani: geometria da bola de futebol Telstar 1970 32 gomos Teamgeist 2006 14 gomos Jabulani 2010 8 gomos Teamgeist vs. Jabulani Teamgeist Jabulani O efeito knuckleball T. Asai et al., A Study of Knuckling Effect of Soccer Ball, The Engineering of Sport 7, p. 555 Comentários Finais • A crise do arrasto e o efeito Magnus desempenham um papel importante na dinâmica da bola de futebol. • Muitos fenômenos curiosos podem ser investigados com esses efeitos: a folha seca de Didi, por exemplo. • Outros esportes com bola (vôlei, tênis) podem ser tratados de forma semelhante. • Potencial pedagógico: – Física do cotidiano – Fenômenos importantes em outros contextos – Motivação para o estudo de dinâmica de fluidos Bibliografia • J. Wesson, The Science of Soccer (IoP Publishing, 2002) • C. E. Aguiar, Gustavo Rubini, A aerodinâmica da bola de futebol, Revista Brasileira de Ensino de Física 26, 297 (2004) • I. Griffiths, C. Evans, N. Griffiths, Tracking the flight of a spinning football in three dimensions, Measurement Science and Technology 16, 2056 (2005) • T. Asai, K. Seo, O. Kobayashi, R. Sakashita Fundamental aerodynamics of the soccer ball, Sports Engineering 10, 101 (2007) • J. E. Goff, M. J. Carré, Trajectory analysis of a soccer ball, American Journal of Physics 77, 1020 (2009) • S. Barber, S.B. Chin, M. J. Carré, Sports ball aerodynamics: A numerical study of the erratic motion of soccer balls, Computers & Fluids 38, 1091 (2009) • J. E. Goff, M. J. Carré, Soccer ball lift coefficients via trajectory analysis, European Journal of Physics 31, 775 (2010)
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