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Scientiarum Historia VII . 2014 . ISSN 2176-1248 
HISTÓRIA DA MEDITAÇÃO: DAS TRADIÇÕES DO ANTIGO ORIENTE À CIÊNCIA 
DO SÉCULO XXI 
 
Bruno Prudente 
EICOS/IP/UFRJ 
 
RESUMO: Meditação é uma forma de prática contemplativa baseada no treinamento 
da atenção, envolvendo a observação sustentada de fenômenos no campo de 
consciência, com fins diversos. A partir de revisão bibliográfica interdisciplinar, 
versamos sobre a história desta prática em sua diversidade, desde as tradições 
filosófico-religiosas orientais até as versões modernas, enfatizando seus usos no 
estudo e desenvolvimento da consciência. Discutimos, sobretudo: os sentidos 
tradicionais de meditação, a disseminação das práticas meditativas no contexto do 
encontro oriente-ocidente, e implicações deste processo na história recente da 
ciência e das técnicas. Concluímos que a pesquisa e prática da meditação pode ser 
valiosa em diversos âmbitos, destacando-se a educação e promoção da saúde. 
 
PALAVRAS CHAVE: Meditação, Filosofia Asiática, Ciência, Diálogo 
Interparadigmático. 
 
Introdução 
 
Na história humana, em sua diversidade de culturas, encontramos uma rica 
variedade de práticas engendradas para auxiliar os indivíduos em sua busca por 
conhecimento e aperfeiçoamento de si mesmos. Neste sentido, a exploração da 
mente e da consciência pela via da percepção direta, pela introspecção 
gradativamente refinada e aprofundada através do treinamento da atenção e seus 
diferentes modos de funcionamento, figura ao mesmo tempo entre as mais simples e 
mais sofisticadas. Neste artigo, fazemos um breve retrospectiva histórica desta 
prática, conhecida mais genericamente como meditação, considerando sua 
diversidade de contextos socioculturais, de métodos e de objetivos mais específicos. 
 Para isso, discutimos em primeiro lugar os usos e sentidos das práticas 
meditativas no contexto de seu desenvolvimento inicial, no seio das tradições 
filosófico-religiosas orientais, com suas teorias e técnicas singulares. Aborda-se a 
 
 
Scientiarum Historia VII . 2014 . ISSN 2176-1248 
seguir a entrada e disseminação de tais tradições no âmbito do mundo ocidental, o 
que se realiza mais claramente nos últimos dois séculos, com implicações 
importantes em termos culturais, e com a meditação desempenhando aí um papel 
central. Por fim, discutimos em especial as implicações na história recente das 
ciências e das técnicas, considerando as pesquisas científicas sobre práticas 
meditativas, as adaptações modernas no recente processo de laicização, e 
questões epistemológicas e possíveis contribuições trazidas à ciência pelos estudos 
da meditação, à luz de um diálogo interparadigmático entre oriente e ocidente. 
 
Origens da(s) prática(s): as tradições filosófico-religiosas da Ásia 
 
A palavra meditação, no contexto em que a utilizamos aqui, refere-se 
inicialmente a uma variedade de práticas de contemplação originadas em tradições 
espirituais de diversas sociedades e culturas, assumindo especial importância no 
continente asiático. As primeiras referências conhecidas são antigas, encontradas na 
Índia em registros pictográficos datando de cerca de 1500 antes do início do 
calendário cristão, e de forma escrita nos chamados Upanisad, capítulos especiais 
dos Vedas, reconhecidos como os textos mais importantes no vasto sistema que 
veio a ser conhecido como Hinduísmo. Por outro lado, há também indícios de que, 
na China, formas talvez tão antigas de meditação se desenvolveram no contexto de 
tradições nativas, anteriores à codificação do Taoísmo (MURPHY ET AL, 1997). 
 Ao longo dos milênios, técnicas meditativas vem sendo empregadas em 
diversas tradições e linhagens internas, como o Budismo, Vedanta, Yoga, e Taoísmo 
(GOLEMAN, 1997). Em cada uma destas escolas, a meditação se constitui como 
uma das práticas mais importantes para os que almejam trilhar o caminho espiritual. 
Não raro, é entendida como condição estrita para alcançar as metas propostas, que 
via de regra se referem, em última instância, à conquista de um estado de 
consciência radicalmente novo, que seria caracterizado pela transcendência das 
ilusões e condições restritivas a que normalmente estamos submetidos, o que no 
ocidente chamaríamos iluminação – e em termos nativos se chamaria por exemplo 
de moksha (hinduísmo), nirvana (budismo indiano), ou satori (zen). 
 Na realidade, diversos tipos de práticas foram cultivados entre as tradições do 
 
 
Scientiarum Historia VII . 2014 . ISSN 2176-1248 
extremo oriente1. A meditação, em especial, enquanto uma prática de introspecção, 
de contemplação introvertida, foi mais valorizada em determinados contextos e 
períodos específicos. Naqueles cenários em que o conhecimento e domínio do 
universo interior do ser humano, por meio da compreensão direta da própria 
experiência e do desenvolvimento de seus potenciais latentes, foram entendidos 
como mais relevantes que as realizações em termos de vida material e social, as 
técnicas meditativas receberam naturalmente uma atenção mais cuidadosa. 
Exemplo interessante é encontrado no desenvolvimento das Upanisad, em um 
momento histórico especialmente fértil na Índia, marcado em sua esfera filosófica 
por uma transição radical, empreendida “à medida que o caminho do conhecimento 
(jñanamarga) substituía o caminho da atividade ritualística (karmamarga), ou seja, 
quando a filosofia (…) desprendeu-se da teia do ritualismo mágico, e esse foi 
gradualmente sendo relegado a um segundo plano” (ZIMMER, 2003, p.249). Nesse 
contexto, as preocupações do período védico-bramânico clássico, dominado por 
uma rígida estrutura religiosa, com seu panteão, rituais, hinos e preceitos 
norteadores da vida em uma sociedade de castas, lentamente cederam espaço à 
investigação da mente, à realizações de ordem mais pessoal, com uma orientação 
mais eminentemente psicológica – a meditação assume aí um papel de destaque. 
 
Entrada e difusão no ocidente: primeiros contatos 
 
No mundo ocidental, a difusão da meditação se deu sobretudo a partir da 
segunda metade do século XIX, através de círculos de estudiosos espiritualistas na 
Europa e nos Estados Unidos. Neste período, efervescente de inovações em todos 
os âmbitos da vida intelectual, a descoberta das tradições orientais por entusiastas 
de novas visões de filosofia e espiritualidade foi de grande relevância. O World 
Parliament of Religions, realizado em 1883 em Chicago, figura aí como um primeiro 
grande marco, permitindo pela primeira vez que se recebesse, em solo americano, 
ensinamentos asiáticos vindos dos próprios asiáticos. A partir daí, diversos mestres 
foram convidados excursionar pelo país, o que pouco depois levaria à formação dos 
 
1
 Figuram entre as principais as liturgias conduzidas pelas classes sacerdotais, leitura e instrução 
através das escrituras sagradas e discussões entre os eruditos, ou as disciplinas do corpo – e nos 
casos mais radicais as famosas austeridades ascéticas. 
 
 
Scientiarum Historia VII . 2014 . ISSN 2176-1248 
primeiros ashrams (templos hindus) ocidentais2 (MURPHY ET AL, 1997). 
 Inicialmente, então, foi em grande parte no campo de estudos de religiões que 
a meditação, ainda percebida como uma prática intrinsecamente cultivada no âmbito 
religioso, recebeu maior atenção por parte de intelectuais e acadêmicos (GOLEMAN, 
1997). Com o tempo, este interesse passou a se disseminar também entre 
estudiosos em outras áreas, sobretudo filósofos, historiadores, psicólogos e 
psicoterapeutas. Em fins da primeira metade do século XX, diversos trabalhos 
conjuntos começaram a ser desenvolvidos entre estes pesquisadores e mestres 
representantes de tradições asiáticas, resultando por exemplo, pela primeira vez na 
história, em livros e artigos escritos em colaboração entre swamis3 e cientistas. Este 
encontro e trabalho conjunto entre ocidente e oriente foi sem dúvida– e vem sendo 
ainda – um bom exemplo do que, em termos de epistemologia e filosofia da ciência, 
podemos chamar de diálogo interparadigmático (VASCONCELOS, 2002). 
 
A “nova era” da meditação: filosofia oriental e espiritualidade na contracultura 
 
Na década de 50, as filosofias do oriente já começavam a despertar atenção 
entre jovens artistas e intelectuais do emergente movimento beatnik4 (WATTS, 
2002). Mas é sobretudo a partir de fins dos anos 60 que observa-se um outro grande 
marco, formado na complementariedade de dois fenômenos: o advento da 
contracultura, já anunciada no horizonte à época do movimento beat mas tomando 
corpo com os jovens da primeira geração após a segunda guerra mundial; e por 
outro lado a vinda de muitos mestres espirituais – como swamis de diversas 
linhagens do Yoga, lamas tibetanos, monges zen-budistas do Japão, sacerdotes 
taoístas – que migraram da Ásia para o ocidente, em grande parte em consequência 
das crescentes tensões políticas naquele continente, geradas com a expansão do 
comunismo chinês (MURPHY ET AL, 1997). Estes dois fatores, bem casados entre 
si, confluíram para o início de um segundo grande capítulo na história da meditação 
no ocidente, caracterizado por uma grande popularização dos ensinamentos vindos 
 
2
 Atribui-se ao mestre vedantino Vivekananda a fundação do primeiro templo neste contexto. 
3
 Título conferido aos iniciados no Vedanta e em algumas vertentes da Yoga. 
4
 Isto é bem representado por personagens como Jack Kerouac, autor dos clássicos On The Road e 
The Dharma Bums – este último, traduzido em português como Os Vagabundos Iluminados, versa 
precisamente sobre a presença e as singulares formas de apropriação, entre expoentes deste 
movimento, da espiritualidade nativa do oriente, em especial da influência vinda do zen-budismo. 
 
 
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de sociedades orientais, abraçados por uma juventude sedenta de novas idéias e 
práticas, alternativas aos modos de vida cultivados na América do Norte e Europa, 
incluindo os de espiritualidade (WATTS, 2002). 
 Neste contexto histórico, era crescente o uso dos chamados psicodélicos. Os 
mistérios da vida psíquica do ser humano já vinham se destacando no cenário 
cultural, entre intelectuais e artistas, graças em grande parte à Psicanálise, criada 
por Freud no início do século e popularizada nas décadas seguintes, mas “para uma 
nova e mais jovem geração de visionários, a psicanálise foi logo substituída pelas 
drogas psicodélicas como o veículo primário para abrir as portas internas da 
percepção” (MURPHY ET AL, 1997, p. 5, tradução nossa). E assim como estas 
substâncias – como o LSD, sintetizado acidentalmente em laboratório, e a 
mescalina, encontrada no cactus mexicano peyote e utilizada ritualisticamente por 
tradições xamânicas – fascinaram esta geração, abrindo caminhos de exploração da 
consciência em seus distintos estados e modos de funcionamento, também as 
práticas de meditação despertaram grande interesse, embora de maneira bem 
diversa: acenavam, aí, como uma alternativa mais saudável aos psicodélicos e seus 
riscos, e até mesmo mais eficaz, ao se apresentar como uma maneira de expandir a 
consciência gradativamente, aprimorando o autoconhecimento e desenvolvendo os 
potenciais individuais de modo cuidadoso, mas com resultados mais duradouros e 
estáveis, sem depender de recursos externos e sem os perigos dos efeitos 
colaterais que podem ser ocasionados pelas drogas. 
 
Pesquisa científica sobre práticas meditativas: contribuições e atuais desafios 
 
 Um terceiro marco desta trajetória se dá a partir do crescimento do interesse 
científico. Por décadas século XX adentro o estudo mais acadêmico ficou restrito 
quase completamente às áreas menos “duras”, tais como a filosofia, a psicologia, as 
ciências das religiões. Isso é compreensível, considerando a dificuldade de 
comunicação entre culturas tão distintas quanto a da ciência moderna positivista e 
das tradições orientais, separadas por uma fronteira epistemológica significativa.
 Por isso, especialmente relevante vem sendo o trabalho em ciência 
experimental, cuja abordagem metodológica é hegemônica na produção de 
conhecimento no campo acadêmico. A partir da década de 60 observamos um 
 
 
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crescimento dos estudos, formulados para observar objetivamente os efeitos da 
meditação sobre o funcionamento psicofísico. Neste contexto, o desenvolvimento 
tecnológico é especialmente relevante, à medida em que novos equipamentos e 
métodos de pesquisa passam a integrar o arsenal metodológico das ciências 
biológicas e psicológicas, em suas vertentes laboratoriais. 
 Muitas contribuições foram trazidas quanto aos processos psicofisiológicos 
envolvidos nas práticas de meditação e seus efeitos. A diminuição do ritmo de ondas 
cerebrais e taxas metabólicas, por exemplo, correlacionados à experiência subjetiva 
de atenção e mente desperta e concentrada, é uma observação comum e ainda 
intrigante. Por outro lado, são relatados diversos benefícios obtidos pelas práticas, 
como o auxílio no desenvolvimento de habilidades cognitivas e na prevenção e 
tratamento de transtornos físicos e psicológicos. Após as primeiras décadas de 
pesquisa, é bem reconhecido o potencial da meditação em contribuir para a melhoria 
da qualidade de vida em múltiplos aspectos (MONK-TURNER, 2003). 
 No entanto, não deixamos de notar limites e desafios. A produção científica, 
concentrada em áreas como as ciências da saúde, neurociência e psicologia 
experimental, focaliza nos aspectos objetivos e quantitativos, no que é mensurável e 
observável em laboratório, por meio de indicadores específicos e bem delimitados, 
considerando sobretudo os efeitos, por um viés mais utilitarista das práticas. 
Algumas questões importantes merecem mais atenção, no entanto. Vide a 
experiência subjetiva em si, via de regra ignorada ou abordada superficialmente, não 
raro enquadrada em categorias pré-determinadas e pouco permeáveis; de modo 
semelhante, o contexto social e ambiental da experiência com a meditação não raro 
é deixado de lado; seria bem vinda, aí, a articulação entre diferentes estudos, mas, 
herança também de um especialismo dos saberes compartimentados, as frentes de 
colaboração interdisciplinar se mostram ainda um tanto incipientes; por último, há o 
fato de que as filosofias que originalmente acompanha e fundamenta as práticas de 
meditação, relevantes ao menos em termos de desenvolvimento histórico, raramente 
são consideradas (PRUDENTE & SOUZA, 2014). 
 
 
 
 
 
 
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Laicização da meditação: adaptações modernas e suas aplicações 
 
 Uma das consequências da disseminação da meditação é sua desvinculação 
do contexto tradicional e espiritual. A adaptação é inédita, pois ainda que não raro as 
tradições assumam uma conotação mais filosófica do que propriamente religiosa e a 
meditação seja uma prática mais psicológica que ritualística, a dimensão 
transcendental não só nunca esteve ausente como sempre foi a mais essencial. Nas 
últimas décadas, no entanto, multiplicam-se as versões laicas da prática (RATO, 
2011). A partir de um reconhecimento científico crescente quanto aos benefícios de 
se meditar, diferentes técnicas vem sendo adotadas em hospitais, clínicas de 
psicoterapia, spas, escolas e empresas, ou praticadas mais independentemente por 
indivíduos não compromissados com nenhuma religião ou tradição espiritual5. 
 Neste movimento, vemos a adaptação de práticas ancestrais, reformuladas 
em métodos e objetivos, com a criação de novos programas, institutos de pesquisa e 
ensino, cursos e certificações, manuais e até patentes – bons exemplos da 
ocidentalização da meditação. A laicização se materializa sobretudo no campo da 
saúde, sendo um dos casos maisicônicos o programa fundado em 1979 por Jon 
Kabat-Zinn na Universidade de Massachusetts, integrando seus conhecimentos 
médicos e ensinamentos recebidos de mestres zen-budistas6. Outro exemplo está 
na educação, em escolas e universidades. Atualmente, diversas instituições 
educacionais oferecem meditação em sua formação, seja como tentativa de evitar e 
resolver problemas pontuais de comportamento, ou indo além, como ferramenta 
pedagógica para um desenvolvimento humano mais integral (RATO, 2011). 
 
Meditação e técnicas de pesquisa: relevância de um reflexão epistemológica 
 
 Uma grande discussão na história da filosofia e das ciências é quanto à 
perspectiva da primeira pessoa. Como lemos nos livros de história da Psicologia, por 
exemplo, a trajetória desta ciência se inicia com os estudos experimentais 
 
5
 Nestes casos, não há fins espirituais, e sim objetivos diversos adequados aos novos contextos: 
prevenir e tratar doenças, relaxamento do corpo e mente, melhor desempenho escolar, ganhos de 
produtividade nas empresas, ou simplesmente autoconhecimento e desenvolvimento pessoal. 
6
 O chamado Mindfullness-Based Stress Reduction usa técnicas de meditação e práticas corporais 
inspiradas na Hatha-Yoga. Removendo o arcabouço filosófico-religioso nativo, Kabat-Zinn e 
colaboradores enfatizam o caráter laico do MBSR, num contexto científico (KABAT-ZINN, 2003). 
 
 
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conduzidos por Wundt, utilizando como técnica de pesquisa a introspecção. 
Criticada por sua abordagem subjetiva, no entanto, tal metodologia foi logo 
abandonada, substituída pela observação do comportamento, que poderia ser 
estudado objetivamente – surgia o behaviorismo7 (SCHULTZ & SCHULTZ, 1981). 
 Nas tradições orientais, é precisamente o oposto. Como aponta Goleman, “a 
maioria das grandes religiões asiáticas tem em seu núcleo uma psicologia”, que 
seria uma autêntica ciência prática que “as pessoas aplicam para disciplinar suas 
próprias mentes e corações a fim de atingir um estado de ser mais ideal” 
(GOLEMAN, 1997, p. 132); mas, ao invés de uma investigação empírica a partir de 
fora, com foco no comportamento e no discurso de outros sujeitos, o conhecimento 
psicológico entre as escolas orientais advém, em termos de pesquisa, basicamente 
a partir da introspecção, da observação de si mesmo. É através de sua própria 
percepção, orientada à experiência subjetiva em si e focalizada por diferentes 
ângulos e níveis de profundidade através das lentes manejáveis da atenção e da 
concentração – gradativamente polidas e refinadas por meio de práticas 
disciplinadas que requerem significativa força de vontade e dedicação – que um 
indivíduo procura, por si mesmo, desvendar os mistérios de seus próprios processos 
mentais, do funcionamento de seus pensamentos, emoções e sensações. Nesta 
perspectiva, a meditação é a metodologia de pesquisa por excelência. 
 
Conclusão 
 
 Estamos começando a investigar cientificamente as práticas de meditação, 
nos esforçando por compreender seus meios de ação e seus efeitos a nível de 
mente, corpo e comportamento. Ao mesmo tempo, passamos aos poucos a olhar 
com mais atenção para as teorias e visões de mundo e de ser humano que vem 
sendo desenvolvidas há milênios entre as diversas e complexas tradições de origem 
asiática, nas quais meditar é tão importante. Seja como uma prática de pesquisa de 
si mesmo, com fins terapêuticos ou visando o desenvolvimento de habilidades de 
 
7
 A introspecção, no entanto, continuou presente em outras áreas, como a psicoterapia e pesquisa 
clínica. Freud recomendou a auto-análise do analista, sempre testado diante dos dilemas alheios, 
seguido por outras escolas de psicoterapia, como a psicologia analítica de Jung, as abordagens 
humanistas, e a transpessoal (FEIST & FEIST, 2008). A questão é relevante nas ciências humanas 
em geral, já que o pesquisador, quando em campo, participa do próprio campo estudado 
(VASCONCELOS, 2002): toda pesquisa, neste contexto, é também uma auto-pesquisa. 
 
 
Scientiarum Historia VII . 2014 . ISSN 2176-1248 
ordem cognitiva, e mais certamente por todos estes aspectos, a meditação, em sua 
variedade de formas mas também com uma coerência metodológica constituindo 
uma base comum às diversas técnicas, desponta no horizonte da filosofia e das 
ciências como ferramenta promissora, que ainda merece ser melhor estudada 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
Feist, J., & Feist, G. J. (2008). Teorias da personalidade. Grupo A Educação. 
 
Goleman, D. A. (1988). A mente meditativa: as diferentes experiências meditativas 
no oriente e no ocidente. São Paulo: Editora Ática. 
 
Kabat-Zinn, J. (2003). Mindfulness-based interventions in context: past, present, and 
future. Clinical psychology: Science and practice, 10(2), 144-156. 
 
Monk-Turner, E. (2003) The benefits of meditation: experimental findings. The Social 
Science Journal, Vol.40(3), pp.465-470. 
 
Murphy, M., Donovan, S., & Taylor, E. (1997). The physical and psychological effects 
of meditation: A review of contemporary research. Institute of Noetic Sciences. 
 
Prudente, B., & Souza, M. C. M. (2014). Caminhos e rumos na pesquisa científica 
sobre práticas meditativas: uma análise crítica. No prelo. 
 
Rato, C. (2011). Meditação Laica Educacional para uma Educação Emocional: 
Formação de Professores. Paco Editorial. 
 
Vasconcelos, E. M. (2002). Complexidade e pesquisa interdisciplinar: epistemologia 
e metodologia operativa. Rio de Janeiro: Vozes. 
 
Watts, A. W. (2002). Filosofias da Ásia. Rio de Janeiro: Fissus. 
 
Zimmer, H. (2003). Filosofías da Índia. São Paulo: Palas Athena.

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