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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE TECNOLOGIA INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DE ALIMENTOS AVALIAÇÃO DA CONTAMINAÇÃO POR Staphylococcus aureus ATRAVÉS DE TÉCNICAS MOLECULARES E CORRELAÇÃO COM OS ASPECTOS HIGIÊNICO- SANITÁRIOS EM PREPARAÇÕES DE PESCADO CRU (SUSHI E SASHIMI) JOSIANE MARÍLIA DO CARMO Rio de Janeiro 2015 JOSIANE MARÍLIA DO CARMO AVALIAÇÃO DA CONTAMINAÇÃO POR Staphylococcus aureus ATRAVÉS DE TÉCNICAS MOLECULARES E CORRELAÇÃO COM OS ASPECTOS HIGIÊNICO- SANITÁRIOS EM PREPARAÇÕES DE PESCADO CRU (SUSHI E SASHIMI) Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós-graduação em Ciência de Alimentos – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Ciência de Alimentos Orientador: Vânia Margaret Flosi Paschoalin Co-orientador: Ana Carolina da S. Carvalho Rio de Janeiro 2015 C287 Carmo, Josiane Marília do. Avaliação da contaminação por Staphylococcus aureus através de técnicas moleculares e correlação com os aspectos higiênico-sanitários em preparações de pescado cru (sushi e sashimi) / Josiane Marília do Carmo. – Rio de Janeiro: UFRJ/ IQ, 2015. 87f. Orientador: Vânia Margaret Flosi Paschoalin. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Química, Programa de Pós-Graduação em Ciência de Alimentos, 2015. 1. Sushi e sahimi. 2. Reação em cadeia da polimerase. 3. Staphylococcus aureus. I. Paschoalin, Vânia Margaret Flosi. (Orient.). II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto de Química. Programa de Pós-Graduação em Ciência de Alimentos III. Título. CDD: 664.001 JOSIANE MARÍLIA DO CARMO AVALIAÇÃO DA CONTAMINAÇÃO POR Staphylococcus aureus ATRAVÉS DE TÉCNICAS MOLECULARES E CORRELAÇÃO COM OS ASPECTOS HIGIÊNICO- SANITÁRIOS EM PREPARAÇÕES DE PESCADO CRU (SUSHI E SASHIMI) Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós-graduação em Ciência de Alimentos – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Ciência de Alimentos Orientador: Vânia Margaret Flosi Paschoalin Co-orientador: Ana Carolina Carvalho Aprovado em: BANCA EXAMINADORA _____________________________________________ Profa. Dra. Vânia Margaret Flosi Paschoalin Instituto de Química - UFRJ _____________________________________________ Prof. Dra. Daniela Sales Alviano Instituto de Microbiologia Paulo de Góes- UFRJ _____________________________________________ Dra. Patrícia Ribeiro Pereira Instituto de Química - UFRJ AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus, por me conceder consciência e discernimento ao desenvolver o meu trabalho e por ser meu auxílio nos momentos difíceis. Em especial ao meu noivo Ivan Lima, por sua compreensão pelo tempo ausente, por tolerar meus estresses em determinados momentos desta pesquisa e principalmente por me ensinar o que é uma verdadeira relação de parceria. Meu agradecimento com imenso carinho! A todos os meus familiares e amigos pelas orações e apoio em todos os momentos. Ao Instituto de Química e ao Programa de Pós Graduação em Ciência de Alimentos pela oportunidade e suporte para minha formação profissional. A equipe do Instituto de Microbiologia Paulo de Góes, Profº Rafael Duarte, Karen Machado, Rayane Charmon e Marlei Gomes, pela troca de experiências e toda colaboração para o desenvolvimento dos experimentos deste estudo. A Professora Vânia Paschoalin pela orientação e todos os recursos. Aos amigos pesquisadores do projeto de pesquisa em segurança e higiene do pescado, Claudius Cabral, Claudio Capella, e a minha Co-orientadora Ana Carolina Carvalho pelos inúmeros “brainstorms”. Aos demais integrantes do laboratório 545, em especial o professor Eduardo Mere e Raquel Casaes, pelas dúvidas esclarecidas e contribuição com esse estudo. A equipe de nutrição institucional do Hospital Universitário da UERJ, Samyra Kede, Jacqueline Carvalho, Cinthia Souza, Vânia Magalhães e Débora de Jesus, pela colaboração e coberturas na escala de trabalho. A Roberta Cândido, minha “filha”, pela solidariedade e importante ajuda com as minhas dificuldades de informática. E as demais pessoas que por ventura eu não tenha citado aqui, mas que participaram com igual importância deste período de minha formação, o meu muito obrigada! Dedico este estudo a uma pessoa muito especial que chegou como um presente divino e fez uma transformação em minha vida. Ivan Lima, apesar da minha determinação, sem o seu apoio não sei se esse objetivo seria concretizado. "Você não pode mudar o vento, mas pode ajustar as velas do barco para chegar onde quer." Confúcio RESUMO Carmo, Josiane Marília do. Avaliação da contaminação por Staphylococcus aureus através de técnicas moleculares e correlação com os aspectos higiênico-sanitários em preparações de pescado cru (sushi e sashimi). Instituto de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2015. A globalização tem contribuído para incorporação da culinária tradicional de diferentes culturas no cotidiano da população brasileira, o que aliado aos benefícios nutricionais do pescado e a busca por alimentos mais saudáveis tem contribuído com a popularização do hábito de ingerir pescado cru no país, sobretudo na forma de sushi e sashimi. O pescado sem prévio tratamento térmico pode estar associado a veiculação de microrganismo patogênicos, e comprometer a saúde do consumidor. O objetivo do presente estudo foi avaliar a qualidade de preparações de sushi e sashimi quanto a presença de Staphylococcus coagulase positiva comercializados em três unidades de uma rede de restaurantes não especializados em culinária nipônica. As condições higiênico-sanitárias destes estabelecimentos foram avaliadas, assim como se os manipuladores eram portadores assintomáticos dos microrganismos. Foram utilizadas técnicas de microbiologia convencional e ferramentas moleculares como a PCR, sequenciamento do gene 16S rDNA e PFGE (eletroforese em campo pulsado). Também foi determinada a resistência antimicrobiana dos isolados de S. aureus para pesquisar cepas resistentes à meticilina (MRSA). Um total de 31 amostras de pescado e 06 amostras de manipuladores (cavidades nasofaringeana e orofaringeana e mãos) foi coletado. 29% das amostras de alimentos apresentaram contagem elevada de Staphylococcus coagulase positiva (SCP) em meio seletivo. Quinze isolados foram identificados como S. aureus, sendo 12 deles pelo teste de PCR e 03 pelo sequenciamento do gene 16SrDNA. A relação clonal entre os isolados de pescado e dos manipuladores foi analisada por PFGE, demonstrando que um dos manipuladores avaliados foi a fonte de contaminação de preparações de pescado cru servidos naquele restaurante. Quanto aos demais grupos bacterianos que foram isolados a partir das amostras de sushi e sashimi, houve prevalência de membros da família Enterobacteriaceae (88%). Em relação às boas práticas de fabricação, apenas um dos estabelecimentos apresentou percentual de conformidades superior a 76%. No presente estudo, foi demonstrado que a qualidade microbiológica das preparações a base de pescado cru apresentaram contaminação que parece estar relacionada à condições higiênico-sanitárias não satisfatórias. Palavra-chave: Staphylococcus aureus, Sushi e sashimi, PCR, PFGE, Sequenciamento do gene 16SrDNA, Boas Práticasde Fabricação. ABSTRACT Carmo, Josiane Marília do. Identificação de Staphylococcus aureus por técnicas moleculares e correlação com os aspectos higiênico-sanitários em preparações a base de pescado cru (sushi e sashimi). Instituto de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2015. Globalization has contributed to the incorporation of traditional cuisine of different cultures in everyday life of the population, combining the nutritional benefits of fish and the search for healthier foods has contributed to the popularity of the habit of eating raw fish in the country, such as sushi and sashimi. The raw fish consumption has been associated with transmission of pathogenic microorganisms that can jeopardize consumers health. The aim of this study was to evaluate the quality of sushi and sashimi preparations for the presence of coagulase positive Staphylococcus (SCP) marketed in three units of restaurants form the same chain, do not specialize in Japanese food. The sanitary conditions of these restaurants were evaluated including the evaluation of handlers as asymptomatic carriers of SCP. Raw fish microbiota was studied by conventional microbiology and molecular tools as PCR, 16S rDNA partial sequencing and pulse-field gel electrophoresis (PFGE). It was also determined the antimicrobial resistance of S. aureus strains to methicillin (MRSA). A total of 31 samples from raw fish and 06 samples from handlers (nasopharyngeal and oropharyngeal cavities and hands) were collected. 29% of food samples showed high counts of Staphylococcus coagulase positive (SCP) in selective medium. Fifteen isolates were identified as S. aureus, 12 of them by PCR and 03, by 16S rDNA sequencing. The relationship between clonal isolates of fish and handlers was evaluated by PFGE, showing that one of the handlers was the source of raw fish contamination served at the restaurant. Other bacteria species were isolated from sushi and sashimi, with high prevalence (88%) of Enterobacteriaceae members. A compliance of 76% to good manufacturing practices was reached by a single restaurant. A single restaurant showed compliance superior to 76% to good manufacturing practices. In the present study, it was shown that the microbiological quality of the raw fish contamination may be related to unsatisfactory sanitary conditions. Keywords: Staphylococcus aureus, Sushi and Sashimi, PCR, PFGE, 16S rDNA sequencing, Good Manufacturing Practices LISTA DE TABELAS Tabela 1. Valores mínimos e máximos em UFC/g, de Staphylococcus coagulase positiva (SCP) encontradas em amostras de peixes, filés e preparados (sushi e sashimi) de salmão, atum e namorado, coletados em três restaurantes (R1, R2, R3) dos municípios do Rio de Janeiro e Niterói, no período de setembro de 2013 a fevereiro de 2014. 42 Tabela 2. Análises microbiológicas (UFC/g), de Staphylococcus coagulase positiva em amostras de filé e preparados (sushi e sashimi) de atum (Thunnus sp.), coletados em três restaurantes dos municípios do Rio de Janeiro e Niterói, no período de setembro de 2013 a fevereiro de 2014. 43 Tabela 3. Análises microbiológicas (UFC/g de alimento), de Staphylococcus coagulase positiva em amostras de matéria-prima, filé e preparados (sushi e sashimi) de namorado (Pseudopercis numda), coletados em três restaurantes dos municípios do Rio de Janeiro e Niterói, no período de setembro de 2013 a fevereiro de 2014. 43 Tabela 4. Análises microbiológicas (UFC/g de alimento), de Staphylococcus coagulase positiva em amostras de matéria-prima, filé e preparados (sushi e sashimi) de salmão (Salmo salar), coletados em três restaurantes dos municípios do Rio de Janeiro e Niterói, no período de setembro de 2013 a fevereiro de 2014. 44 Tabela 5. Análise microbiológica de amostras coletadas de manipuladores quanto a presença de Staphylococcus coagulase positiva por estabelecimento estudado, no período de setembro de 2013 a fevereiro de 2014 (nos municípios do Rio de Janeiro e Niterói). 45 Tabela 6. Análise microbiológica de amostras coletadas de manipuladores quanto a presença de Staphylococcus coagulase positiva de nasofaringe, orofaringe e mãos dos manipuladores de três restaurantes dos municípios do Rio de Janeiro e Niterói, no período de setembro de 2013 a fevereiro de 2014. 45 Tabela 7. Identificação de isolados bacterianos por sequenciamento parcial do 16S rDNA. 48 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Staphylococcus aureus - www.hivwebstudy.org 30 Figura 2. Identificação de S. aureus em amostras de preparados de peixe cru e manipuladores de três restaurantes dos municípios do Rio de Janeiro e Niterói, no período de setembro de 2013 a fevereiro de 2014. 46 Figura 3. Dendograma de distribuição dos perfis clonais e resistência a antimicrobianos observados entre S. aureus isolados de preparações a base de peixe cru (sashimi e shushi) e manipuladores em restaurantes (R1, R2 e R3) dos municípios do Rio de Janeiro e Niterói, no período de setembro de 2013 a fevereiro de 2014. 49 Figura 4. Avaliação da adequação das condições higiênico-sanitárias do estabelecimento R1 de acordo com os itens de BPF estabelecidos pela RDC 216 - ANVISA. 51 Figura 5. Avaliação da adequação das condições higiênico-sanitárias do estabelecimento R2 de acordo com os itens de BPF estabelecidos pela RDC 216 - ANVISA. 51 Figura 6. Avaliação da adequação das condições higiênico-sanitárias do estabelecimento R3 de acordo com os itens de BPF estabelecidos pela RDC 216 - ANVISA. 52 Figura 7. Relação entre as amostras reprovadas quanto aos limites estabelecidos pela RDC 12 – ANVISA e percentual de adequação das Boas Práticas definidas pela RDC 216 – ANVISA. 53 https://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0CAYQjB1qFQoTCM26pf3Vq8cCFYGKkAodrVsDig&url=http%3A%2F%2Fwww.hivwebstudy.org%2Fcases%2Fdermatologic-manifestations%2Fmethicillin-resistant-staphylococcus-aureus-mrsa-skin-and-soft&ei=vX7PVY3oJ4GVwgStt43QCA&bvm=bv.99804247,d.Y2I&psig=AFQjCNE64zOqWGpEDc10gaaN9DWjRbGB2A&ust=1439747738790083 LISTA DE SIGLAS, ABREVIATURAS DTA - Doença Transmitida por Alimento BPF - Boas Práticas de Fabricação APPCC - Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária RDC – Resolução da Diretoria Colegiada MS – Ministério da Saúde IDEC – Instituto de Defesa do Consumidor MAPA – Ministério de Agricultura Pecuária e Abastecimento SVS – Secretaria de Vigilância em Saúde OMS – Organização Mundial de Saúde ICMSF – International Commission on Microbiological Specifications for Foods SCP – Sthaphylococcus Coagulase Positiva PCR – Polymerase Chain Reaction PFGE – Pulsed Field Gel Eletrophoresis MRSA – Staphylococcus aureus resistente a meticilina TSA – Teste de Sensibilidade a Antimicrobianos CLSI - Clinical and Laboratorial Standarts Institute UPGMA – Unweighteh Pais Group Method whith Arithmetic Mean SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 15 2 REVISÃO DE LITERATURA 17 2.1 Consumo de preparações a base de pescado cru – Culinária Japonesa 17 2.2 Vigilância Sanitária 17 2.3 Segurança dos Alimentos 19 2.4 Higiene do ambiente, equipamentos e utensílios 21 2.5 Manipuladores de alimentos 22 2.6 Importância do controle microbiológico nos alimentos 24 2.7 Pescado 26 2.8 Conservação do Pescado 26 2.9 Aspectos microbiológicos de pescados 27 2.10 Staphylococcus Coagulase Positiva (SCP) 28 2.11 Staphylococcus aureus 30 2.12 Identificação de Staphylococcus aureus em alimentos 31 2.13 Resistência a antimicrobianos 32 3 JUSTIFICATIVA 35 4 OBJETIVOS 36 4.1 Objetivo geral 36 4.2 Objetivos específicos 36 5 MATERIAL E MÉTODO 37 5.1 Desenho experimental 37 5.2 Análise microbiológicae isolamento de SCP em preparados a base de peixe cru (sushi e sashimi) e manipuladores 37 5.3 Testes de PCR para identificação dos isolados 37 5.4 Identificação dos isolados por sequenciamento parcial do gene 16S rDNA 38 5.5 Comparação do perfil clonal de S. aureus por Pulsed Field Gel Electrophoresis (PFGE) 39 5.6 Teste de suscetibilidade dos isolados a agentes antimicrobianos (TSA) 40 5.7 Avaliação dos restaurantes estudados quanto aos critérios de Boas Práticas na Manipulação dos Alimentos 40 5.8 Análise de dados 40 5.9 Aspectos éticos 41 6 RESULTADOS 42 6.1 Análise microbiológica do pescado in natura, preparados a base de peixe cru (sushi e sashimi) e manipuladores 42 6.2 Identificação dos microrganismos isolados por técnicas moleculares 46 6.2.1 Baseadas em PCR 46 6.2.2 Baseadas no sequenciamento parcial do gene 16S rDNA 45 6.3 Comparação do perfil clonal de S. aureus por PFGE 48 6.4 Teste de suscetibilidade a substâncias antimicrobianas (TSA) 50 6.5 Avaliação de critérios de Boas Práticas na Manipulação dos Alimentos 50 7 DISCUSSÃO 54 8 CONCLUSÕES 58 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 59 ANEXOS I - CHECKLIST PARA AVALIAÇÃO DE BOAS PRÁTICAS EM SERVIÇOS DE ALIMENTAÇÃO 68 II - RESUMO PUBLICADO EM EVENTO CIENTÍFICO - 27º Congresso Brasileiro de Microbiologia 79 III - RESUMO PUBLICADO EM EVENTO CIENTÍFICO - CHEMRIO 2014, Symposium 80 IV - RESUMO PUBLICADO EM EVENTO CIENTÍFICO - 3ºI Seminário em Inovação e Tecnologia na Área de Alimentos, SITA 81 V - APRESENTAÇÃO DE TRABALHO EM EVENTO CIENTÍFICO: VII Congresso Latino-Americano e XIII Congresso Brasileiro de Higienistas de Alimentos. 82 15 1. INTRODUÇÃO O perfil alimentar da população é influenciado por diversos aspectos, como a disponibilidade dos alimentos, hábitos regionais e aspectos econômicos. No caso do Brasil, o hábito alimentar é um reflexo dos padrões socioculturais introduzidos pela migração maciça de diferentes grupos étnicos, resultando em diferenças em áreas ou regiões do país (DUTRA DE OLIVEIRA et al, 2002). No que tange à imigração, destaca-se a japonesa que tem promovido um enraizamento muito crescente de seus costumes alimentares no cotidiano brasileiro, tanto considerando o aumento do número de restaurantes especializados na culinária japonesa, como a presença de alguns pratos típicos servidos em restaurantes não especializados. As lojas especializadas em alimentos típicos da culinária japonesa, anteriormente restritas a regiões onde predominavam imigrantes asiáticos, tornaram-se comuns, estando presentes em quase todos os shopping centers dentro da categoria fast-food, existindo, até mesmo, lojas especializadas na modalidade de entrega em domicílio - delivery (GERMANO & GERMANO, 2008). Denomina-se sashimi qualquer alimento marítimo consumido cru, como peixes, mariscos e camarões (ALCÂNTRA, 2009). Segundo Sikorski, Kolakowaska e Burt (1990) o pescado destinado à elaboração do sashimi deve ser fresco e não pode ser submetido ao congelamento, permitindo-se apenas o resfriamento, visando o retardo do desenvolvimento microbiano. Por isso, a captura, manipulação e conservação do pescado para a preparação deste tipo de alimento, necessitam de cuidados especiais. Considerando a elevação de consumo de sushi e sashimi no país, é importante a realização de uma reflexão no contexto da Segurança Alimentar e Nutricional (SAN). Estima-se que aproximadamente 100 milhões de indivíduos, considerando a população de todos os países industrializados, contraem doenças de origem alimentar, convencionalmente chamadas de doenças transmitidas por alimentos (DTA), devido ao consumo de água e/ou alimentos contaminados (FIGUEIREDO, 2004). As enfermidades de origem alimentar são devido à ingestão de alimentos contaminados com micro-organismos ou toxinas indesejáveis (MARTINS, 2006). Muitos casos de enfermidades causados por alimentos não são notificados aos órgãos de inspeção ou agências de saúde, pois seus sintomas são geralmente brandos e a vítima não busca atendimento médico (FORSYTHE, 2002). Além disso, certas sociedades não associam a diarreia a um sintoma de doença, mas a ocorrências naturais, não relacionadas com a contaminação do alimento, tais como: indigestão, 16 excesso de condimentos e superstições (MOTARJEMI & KÄFERSTEIN, 1997). Esse desconhecimento sobre a origem das DTAS faz com que muitos consumidores subestimem a frequência das sérias consequências de se ingerir um alimento contaminado com micro- organismos patogênicos (HANASHIRO, 2002). O número de casos de doenças transmitidas por alimentos (DTAs) tendo como veículo os pescados é geralmente baixo quando comparado ao dos causados por carnes de maneira geral e frango em particular, ovos, leite e derivados. A importância do pescado como veiculador de patógenos depende de fatores como a dieta e a forma de preparo. No Japão, onde o peixe é importante parte da dieta, sendo muitas vezes consumido cru, a proporção de DTAs oriunda de pescados é maior que nos países ocidentais (HUSS; REILLY; EMBAREK, 2000). Moluscos filtradores e peixes consumidos crus são produtos de alto risco, já que não há como fazer o controle completo de agentes patogênicos destes produtos. O consumo de pescados que sofreram cocção é mais seguro do ponto de vista microbiológico (HUSS; REILLY; EMBAREK, 2000). No caso de iguarias como sushi e sashimi, preparadas manualmente, além da contaminação do pescado, o contato direto do alimento com as mãos dos manipuladores pode levar ao aumento da incidência de patógenos como Staphylococcus aureus (JAY, 2005). Segundo Silva Jr. (2001), preparações muito manipuladas são consideradas de alto risco, especialmente quando elaboradas por pessoas que não possuem treinamento adequado. Deste modo, aspectos higiênico-sanitários devem ser controlados para um consumo seguro desses alimentos. O presente trabalho teve como objetivo identificar e enumerar a presença de Staphylococcus coagulase positiva em preparações a base de pescado cru (sushi e sashimi) comercializados em três unidades de uma rede de restaurantes não especializados em culinária nipônica, dos municípios de Niterói e Rio de Janeiro - RJ, investigando sua procedência através de uma análise das condições higiênico-sanitárias a que esses alimentos foram submetidos, e correlacionar a presença destes micro-organismos nos manipuladores, denominados sushimen. 17 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Consumo de preparações a base de pescado cru – Culinária Japonesa Dentre os fatores que influenciam no consumo alimentar de uma população, podemos citar aspectos nutricionais, sociais, históricos, simbólicos, políticos e até ideológicos. Os pescados em geral têm alcançado popularidade na mesa dos brasileiros. Atualmente a influência da culinária japonesa tem se difundido muito, principalmente pelo consumo de sushi e sashimi (ALCÂNTRA, 2009). O sushi é constituído à base de arroz temperado com vinagre, açúcar e sal combinado com pescado cru ou ainda vegetal e frutas. Já o sashimi corresponde ao peixe cru filetado em pequenas porções. Entre os peixes mais utilizados estão o atum, o salmão e o namorado (MATTÉ et al., 2006). A comida japonesa está em alta no Brasil. Nos últimos quinze anos o consumo de comida japonesa nas cidades brasileiras aumentou 400%. Este movimento tem recebido auxílio até das churrascarias, que ultimamente, oferecem essas iguarias em seu bufê de saladas. O número de restaurantes especializados também tem aumentado. Um dos motivos associados está a culinária saudável com baixo teor de gorduras saturadas (CARNEIRO, 2012). 2.2 Vigilância Sanitária Segundo a Lei n° 8.080 de 19 de setembro de 1990 (artigo 6°, § 1°) a Vigilância Sanitária é definida por “um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitáriosdecorrentes do meio ambiente; da produção e circulação de bens; e da prestação de serviços de interesse da saúde, abrangendo o controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente, se relacionam com a saúde, compreendidas todas as etapas e processo, da produção ao consumo; e o controle da prestação de serviços que se relacionam direta ou indiretamente com a saúde” (BRASIL, 1990). A eficiência do órgão fiscalizador está diretamente ligada às políticas de saúde adotadas pelos Governos Federal, Estadual e Municipal, onde as ações de vigilância sanitária têm predominantemente caráter fiscal, e são exclusivas do Estado (VALENTE, 2001). Como um pré- requisito para a saúde, a alimentação pode sofrer intervenção de políticas públicas com objetivo 18 de assegurar o acesso da população a alimentos de qualidade (SOUZA; PELICIONI; PEREIRA, 2003). Em 26 de novembro de 1993, o Ministério da Saúde (MS) publicou a Portaria Federal n° 1.428 que estabeleceu diretrizes para as Boas Práticas de Fabricação (BPF) e a utilização do Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle - APPCC, visando à prevenção e controle higiênico dos alimentos (GERMANO et al, 2000). Diante do crescimento de estabelecimentos comerciais que prestam serviços de alimentação, o Ministério da Saúde, por meio de seu órgão regulador, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), juntamente com representantes dos diversos setores e profissionais de estabelecimentos que prestam este tipo de serviço, definiram o conteúdo de uma resolução aplicável em âmbito nacional, à padronização os processos envolvidos na produção de alimentos e à fiscalização exercida pelas ações de vigilância sanitária. Assim, em 16 de setembro de 2004 foi publicada no Diário Oficial da União a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 216 (BRASIL, 2004) que dispõe sobre o “Regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços de Alimentação” cujo objetivo foi estabelecer procedimentos de Boas Práticas de Fabricação para serviços de alimentação a fim de garantir as condições higiênico-sanitárias do alimento preparado. Cabe à Vigilância Sanitária, a fiscalização deste tipo de estabelecimento no cumprimento das legislações, garantindo a segurança do alimento comercializado. De acordo com Silva Júnior (2014), as BPF são normas de procedimentos que tem como objetivo, atingir um determinado Padrão de Identidade e Qualidade de um produto e/ou um serviço na área de alimentos, cuja eficácia e efetividade deverão ser avaliadas através de inspeção e/ou investigação. São práticas preventivas que incluem aspectos que vão desde a produção no campo até a mesa do consumidor final, passando pela industrialização, distribuição e comercialização (PAS, 2004). A aplicação das BPF é de extrema importância, pois a partir destas ocorreram grandes mudanças, tanto estruturais como comportamentais nos estabelecimentos comerciais e industriais, entre outros seguimentos que manipulam alimentos, para promover a qualidade higiênico- sanitária e a conformidade da produção de alimentos de acordo com a legislação vigente (RÊGO et al, 2001). Os itens para a elaboração do manual de boas práticas e para as diretrizes da inspeção sanitária são: responsabilidade técnica, controle de saúde dos funcionários, controle de água para 19 o consumo, controle das matérias primas, controle integrado de pragas, visitantes, estrutura dos estabelecimentos, higiene, manipulação e transporte (SILVA JÚNIOR, 2014). A garantia de um alimento seguro para o consumidor pode ser avaliada através de uma lista de verificação, também chamada de checklist após a implantação de programas de qualidade. Este é um formulário que analisa requisitos relativos aos funcionários, instalações, saneamento, sanitização, equipamentos, produção e controle de qualidade. A partir desta análise pode ser realizado um levantamento dos pontos críticos e planejar ações corretivas visando à adequação de todo o processo conforme a legislação vigente (SEIXAS et al, 2008). 2.3 Segurança dos Alimentos Entende-se por segurança dos alimentos a aquisição, pelo consumidor, de alimentos de boa qualidade, livre de contaminantes, ou perigos, de natureza química, biológica, física ou quaisquer substâncias que possam causar danos à saúde (CALAÇA, 2003). Os principais órgãos responsáveis pelo controle de qualidade dos alimentos no Brasil são: o Ministério da Saúde (MS), Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) e o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC) (CAVALLI, 2001). Vários fatores podem contribuir para que um alimento deixe de ser seguro e torne-se um fator de risco para a saúde humana, entre eles podemos citar matérias primas contaminadas, instalações inadequadas, manipuladores portadores de micro-organismos patogênicos, alimentos preparados com muita antecedência, falta de higiene de manipuladores, procedimentos de higienização de equipamentos e utensílios deficientes, cozimento insuficiente, contaminação por pragas e vetores e estocagem de alimentos em temperaturas inseguras. Essas situações contribuem para que ocorram alterações nos alimentos que muitas vezes não está diretamente relacionado com sua aparência, e sim com suas características físicas, químicas e microbiológicas, ou seja, um alimento aparentemente bom pode estar alterado ou deteriorado. Existem várias doenças que podem ser veiculadas pelos alimentos; muitas podem causar problemas graves de saúde, inclusive levar ao óbito do consumidor (FERREIRA, 2006). As doenças transmitidas por alimentos (DTAs) representam um problema de grande importância na Saúde Pública, pois ocasionam a redução da produtividade, perdas econômicas e afetam a confiança do consumidor. Países em desenvolvimento, como o Brasil possuem uma taxa mais alta de incidência de DTAs quando comparados com países desenvolvidos. A gravidade da 20 doença depende da quantidade do alimento contaminado ingerido, do tipo de micro-organismo e/ou toxina envolvida, e do estado de saúde do indivíduo acometido (BENEVIDES; LOVATTI, 2004). No Brasil, somente alguns estados e/ou municípios dispõem de estatísticas e dados sobre a ocorrência de surtos de DTA, agentes etiológicos mais comuns, alimentos mais frequentemente implicados, população de maior risco e outros fatores. Porém, a maioria dos casos de DTA não são notificados como explicado anteriormente (SANTOS, 2010). O Ministério da Saúde, por meio das secretarias municipais de saúde, é o órgão responsável pelos registros de surtos de DTA no país. Dados da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS, apud SANTOS, 2010) indicam que foram notificados 6602 surtos de DTA no Brasil com 117300 indivíduos doentes e 64 óbitos no período de 1999-2008. Segundo a SVS estes números estariam subestimados. Os dados disponíveis indicam que o agente etiológico era ignorado em 51% dos surtos e o veículo (alimento) era desconhecido em 34,3% dos surtos. De acordo com as informações disponíveis, a maior parte dos surtos de DTA (84%) é causada por bactérias patogênicas e/ou suas toxinas, predominando Salmonella spp. (42,9%), Staphylococcus spp. (20,2%), Bacillus cereus (6,9%), Clostridium perfringens (4,9%), Salmonella enteritidis (4,0%), Shigella sp. (2,7%), e outros (18,4%), seguidas por vírus (13,6%), contaminantes químicos (1,2%) e parasitos (1%). A diarreia é um dos sintomas mais comuns da DTA, juntamente com a dor de estômago, náusea, vômitos e febre (FORYSTHE, 2002). Cerca de 70% dos casos de doença diarreica aguda são causados por consumo de água e/ou alimentos contaminados, segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS) (REUNIÃO INTERAMERICANA DE SAÚDE E AGRICULTURA, 2003). Registros epidemiológicos mostram que os serviços de alimentação contribuem para o alto índice de DTA, sendo responsáveis por mais de 50% da ocorrência de surtos. (FERREIRA,2006). Garantir a segurança dos alimentos exige a aplicação de sistemas que monitorem a qualidade dos produtos nas etapas operacionais que vão desde a recepção e armazenamento dos produtos até a manipulação e distribuição do alimento preparado (CALAÇA, 2003). 2.4 Higiene do ambiente, equipamentos e utensílios As superfícies utilizadas para preparação de alimentos, como os equipamentos e 21 utensílios, podem ser focos de contaminação, principalmente se não forem higienizados corretamente. Às superfícies como aço, vidro, polipropileno, plástico, borracha, fórmicas e ferro, podem ocorrer agregação de resíduos orgânicos, como restos de alimentos decorrentes desta má higienização. Esses resíduos são fonte de energia para que micro-organismos, bactérias e fungos, permitindo a adesão e multiplicação de micróbios (ABERC, 2000). A contaminação, multiplicação e sobrevivência microbiana no ambiente e equipamentos devem ser controladas. A comprovação e/ou monitorização devem determinar se o nível de higiene é aceitável para que as correções sejam realizadas em tempo necessário a fim de manter o controle do processo. A comprovação das condições de higiene dos equipamentos deve ser atestada após inspeção do processo de limpeza (SILVA JÚNIOR, 2014). A limpeza aparente pode induzir ao erro e dar uma falsa sensação de segurança. É desejável confirmar o nível de limpeza e desinfecção mediante análise microbiológica de amostras provenientes do equipamento e do meio ambiente (SILVA JÚNIOR, 2014). Como descrito na RDC nº 216 (BRASIL, 2004), as instalações, os equipamentos e utensílios devem ser mantidos em condições higiênico-sanitárias apropriadas. As operações devem ser realizadas por funcionários capacitados e com frequência de maneira a garantir condições de higiene e minimizar o risco de contaminação do alimento. Os funcionários devem utilizar uniformes apropriados e diferenciados dos manipuladores de alimentos. A área de preparo dos alimentos, assim como os equipamentos e utensílios utilizados, deve ser higienizada quantas vezes forem necessárias e imediatamente após o término do trabalho. Os produtos sanitizantes utilizados deverão estar regularizados pelo Ministério da Saúde. A diluição, o tempo de contato e modo de uso e/ou aplicação destes produtos, deverão obedecer às instruções recomendadas pelo fabricante. Após utilizados, deverão ser identificados e guardados em locais próprios (BRASIL, 2004). Andrade, Silva e Brabes (2003) ao fazerem uma avaliação microbiológica das condições higiênico-sanitárias dos equipamentos e utensílios de 12 restaurantes industriais localizados nas regiões da Zona da Mata e Metalúrgica de Minas Gerais, com capacidade para produção de 1.000 a 4.000 refeições/dia, verificaram que apenas 18,6% apresentavam resultado microbiológico condizente com higienização eficiente. 2.5 Manipuladores de alimentos 22 Para efeito da inspeção sanitária de alimentos, qualquer pessoa que entra direta ou indiretamente em contato com substâncias alimentícias é considerado manipulador, ou seja, todas as pessoas que estão relacionadas com o preparo, conservação e a comercialização dos alimentos (RIEDEL, 1992). Segundo Corrêa (2004) o manipulador é responsável por grande parte das enfermidades transmitidas por alimentos, uma vez que seu estado de saúde e suas práticas de higiene pessoal influenciam nas operações realizadas. Existem várias fontes de contaminação de alimentos e vários fatores que contribuem para aumentar a probabilidade dessa contaminação. A higiene do manipulador e de todo material que o alimento entra em contato deve ser muito rígida e é de extrema importância para a produção segura do produto final (TEDESCO et al, 2004). Segundo Silva Júnior (2001), preparações muito manipuladas são consideradas de alto risco, especialmente quando elaboradas por pessoas que não possuam treinamento adequado. Os manipuladores de alimentos são responsáveis por até 26% dos surtos de DTA de origem bacteriana, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde - OMS (ANDRADE; SILVA; BRABES, 2003; COELHO et al, 2010). Em sua maioria, não possuem ou praticam inadequadamente a higiene pessoal, e os micro-organismos se multiplicam quando ocorre qualquer falha sanitária. Mesmo que assintomáticos, estes manipuladores podem eliminar micro- organismos patogênicos. Aqueles com sinais de febre, diarreia, faringite ou sinusite devem ser afastados do trabalho imediatamente para não comprometerem a segurança dos alimentos (GÓES et al, 2001). A saúde do manipulador é um fator muito importante, porque é pelos exames médicos e laboratoriais realizados na contratação, que se verifica se o funcionário possui ou não alguma patologia ou micro-organismo que pode ser transmitido pela contaminação de alimentos ao ser humano. O exame médico de um manipulador de alimentos deve ser feito sempre que houver uma indicação clínica ou epidemiológica. A legislação exige exames médicos periódicos, estes incluem exame físico, de sangue e de fezes para fazer a verificação de patógenos. Outros exames podem ser realizados como o de cultura de secreção orofaríngea e a cultura do material dos dedos (SILVA JÚNIOR, 2014). Com a realização destes exames, o médico poderá averiguar se o funcionário está em condições ótimas para desenvolver a função a que foi destinado, não sofrendo os riscos de um 23 acidente de trabalho causado por uma parasitose, por uma infecção subclínica ou por qualquer alteração que passaria despercebida sem os exames laboratoriais e a consequente avaliação clínica do médico do trabalho (BRASIL, 2004). Ferreira (2006) realizou uma pesquisa bibliográfica sobre a contaminação dos alimentos ocasionada pelos manipuladores, onde foram enfocados os principais micro-organismos envolvidos nestes episódios. Dentre estes, Staphylococcus aureus esteve envolvido com maior frequência nos casos de contaminação dos alimentos provocada por falhas na manipulação, pois na maioria das vezes essa contaminação ocorre por meio de ferimento nas mãos, outras lesões purulentas ou secreções que contaminam os alimentos durante sua manipulação. Cerca de 25% das pessoas são portadores deste micro-organismo alocado nas fossas nasais e muitas vezes os manipuladores não têm conhecimento sobre este fato. De acordo com a RDC nº 216 (BRASIL, 2004), os manipuladores devem lavar cuidadosamente as mãos ao chegar ao trabalho, antes e após manipular alimentos, após qualquer interrupção do serviço, após trocar materiais contaminados, após usar os sanitários e sempre que se fizer necessário. Devem ser afixados cartazes de orientação aos manipuladores sobre a correta lavagem e sepsia das mãos e demais hábitos de higiene, em locais de fácil visualização, incluindo as instalações sanitárias e lavatórios. Não devem fumar, falar desnecessariamente, cantar, assobiar, espirrar, cuspir, tossir, comer, manipular dinheiro ou praticar outros atos que possam contaminar o alimento, durante o desempenho das atividades. Devem usar cabelos presos e protegidos por redes, toucas ou outro acessório apropriado para esse fim, não sendo permitido o uso de barba. As unhas devem estar curtas e sem esmalte ou base e durante a manipulação, devem ser retirados todos os objetos de adorno pessoal e maquiagem. Os manipuladores devem ter asseio pessoal, apresentando-se com uniformes compatíveis à atividade, conservados e limpos. Os uniformes devem ser trocados, no mínimo diariamente e usados exclusivamente nas dependências internas do estabelecimento, devem ser de cor clara; sem bolsos na altura da cintura; sem botões ou estes devem estar protegidos; as calças devem ser feitas com cintos fixos ou com elástico e devem ser mantidos em bom estado e limpos. Os sapatos devem ser de borracha ou outro material impermeável, tipo bota ou calçado semelhante, sem aberturas. As roupas eobjetos pessoais devem ser guardados em um local específico e reservado para esse fim (BRASIL, 2004). 24 2.6 Importância do controle microbiológico nos alimentos Os micro-organismos patogênicos estão presentes no solo, trato intestinal de animais, entre outros ambientes, portanto é provável que as matérias-primas de origem animal e vegetal veiculem micro-organismos patogênicos. Estes patógenos devem ser identificados e controlados a fim de evitar surtos de DTA (FRANCO; LANDGRAF, 2002). Dentre os micro-organismos patogênicos mais importantes estão os grupos produtores de toxinas, como, por exemplo, Staphylococcus aureus, Clostridium perfringens, Clostridium botulinum, Vibrio cholerae, Bacillus cereus e fungos filamentosos; e aqueles que causam infecções como a Salmonella sp., Escherichia coli, Shigella sp., Vibrio parahaemoliticus, Campilobacter sp., Listeria monocytogenes e Yersinia sp. (FRANCO; LANDGRAF, 2002). Quando os alimentos apresentam modificações das suas características organolépticas, podendo apresentar sabor e odor desagradáveis, são classificados como alimentos deteriorados. Essa deterioração é resultado da multiplicação indesejável de micro-organismos capazes de produzir compostos voláteis durante seu metabolismo, os quais são detectados pelo olfato e paladar humanos. Apesar de não causarem obrigatoriamente distúrbios gastrointestinais, essas características são indesejadas pelo consumidor, sendo este um problema de qualidade e não de segurança dos alimentos (FORSYTHE, 2013). É importante estimar a carga microbiana na superfície das mãos de manipuladores e alimentos, e avaliar também os efeitos dos métodos de sanitização realizados (LAGAGGIO; FLORES; SEGABINAZI, 2002). O controle microbiológico dos alimentos tem crescido muito, principalmente, para atender às exigências do mercado em relação à importação e exportação, exigência de consumidores e dos órgãos de fiscalização (RIBEIRO et al, 2005). As bactérias patogênicas de origem alimentar são na grande maioria aeróbias mesófilas, portanto, a análise deste grupo é indicativa da qualidade sanitária do alimento. Estes micro- organismos crescem em condições de temperaturas de 37ºC, semelhantes a do corpo humano, os quais encontram ambiente propício para seu crescimento nas mãos dos manipuladores e nos alimentos (FRANCO; LANDGRAF, 2002). Segundo a ICMSF - International Commission on Microbiological Specifications for Foods (1984) - o número de micro-organismos aeróbios mesófilos (contagem em placa) encontrados em alimentos, é um dos indicadores microbiológicos de qualidade mais comumente 25 utilizados, indicando se a limpeza, a desinfecção e o controle da temperatura durante o processo de tratamento industrial, transporte e armazenamento foram realizados de forma adequada. Esta determinação permite também obter informações referentes às alterações incipientes dos ali- mentos, sua provável vida de prateleira, e a falta de controle no descongelamento ou desvios na temperatura de refrigeração adequada. A análise microbiológica deve ser realizada criteriosamente para garantir um resultado confiável, permitindo desta forma uma avaliação da conformidade do produto com o seu Padrão de Identidade e Qualidade. Os produtos que não estiverem de acordo com o critério microbiológico deverão ser reprovados e descartados (FRANCO; LANDGRAF, 2002). 26 2.7 Pescado Pescado engloba todos os animais aquáticos, marinhos ou de água doce, que são utilizados como alimento do homem, os quais podem ser consumidos diretamente ou aproveitados para a industrialização (PHILIPPI, 2003). De acordo com o Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal do Ministério da Agricultura (RIISPOA) em seu Artigo 439, o pescado, in natura, pode ser classificado como fresco, resfriado, ou congelado. Entende-se por "fresco" o pescado dado ao consumo sem ter sofrido qualquer processo de conservação, a não ser a ação do gelo. O pescado classificado como "resfriado" deve ser devidamente acondicionado em gelo e mantido em temperatura entre -0,5ºC e -2ºC. O pescado congelado é aquele tratado por processos adequados de congelação, em temperatura não superior a -25ºC (BRASIL, 1952). É considerado um alimento de alta digestibilidade, mas também um dos mais perecíveis. Desde o momento em que é retirado da água, inicia-se uma série de modificações e alterações que podem impedir sua comercialização, tanto como alimento para ser consumido de modo direto, quanto como matéria prima para ser industrializada (MEDEIROS, 2014). 2.8 Conservação do Pescado Os peixes deverão ser acondicionados sob refrigeração a bordo, o mais rápido possível, sendo aplicadas também as boas práticas de higiene para uma operação mais segura (SENAI, 2000). O processo de refrigeração, em temperaturas entre -1ºC e 10ºC, não apresenta ação esterilizante, apenas retarda as atividades microbianas já existentes e impede o surgimento de novos agentes deteriorantes (CORDEIRO et al, 2007). No congelamento são utilizadas temperaturas mais baixas do que na refrigeração, assim, inibindo o crescimento microbiano por desaceleração do processo metabólico. O pescado conservado sob condições estéreis e a temperaturas de congelamento não se deteriora mesmo após várias semanas de estocagem (VIEIRA, 2003). É usual a conservação com a utilização de gelo picado misturado intimamente com o pescado. O ideal é que este alcance temperatura de 0ºC, até sua comercialização ou que sejam adotadas medidas destinadas a preservá-lo. Uma delas é a eliminação da cabeça, cauda, barbatanas e a extração das vísceras para efetuar um congelamento a – 20 ºC, forma em que pode ser comercializado (SALINAS, 2002). 27 A vida útil do pescado é determinada pelas reações enzimáticas e pelo número de espécies de micro-organismos presentes, fatores estes dependentes de sua microbiota natural e pelo modo de manuseio desde sua captura até a estocagem, fatores estes relacionados com as boas práticas de manipulação. Outro fator determinante da vida útil do pescado é a temperatura de estocagem (NEIVA, 2008). Estudos sobre a microbiota presente na superfície de peixes mostraram que os micro- organismos deteriorantes mais frequentes são Pseudomonas sp. (32 - 60%), Alteromonas sp. (32 a 60%), Moraxella sp. (18 a 37%) e Acinetobacter sp. (18 a 37%) (JAY, 2005; VIEIRA, 2003). Hoffmann e colaboradores (1999), realizaram um estudo em São José do Rio Preto, SP, onde foram coletadas 11 amostras de pescados comercializados na região, realizadas análises microbiológicas e por fim, os resultados foram correlacionados com os padrões existentes na legislação. Os resultados evidenciaram que 99% das amostras dos produtos foram comercializados em condições higiênico-sanitárias insatisfatórias e potencialmente capazes de causar DTA. De acordo com os autores a maioria das amostras apresentou contagem de Staphylococcus aureus acima do padrão estabelecido pela legislação brasileira. 2.9 Aspectos microbiológicos de pescados Os pescados, em geral, apresentam musculatura, órgãos e liquido corporal livres de contaminação. No entanto, as regiões de contato direto, como pele, guelras e vísceras podem apresentar contaminação, principalmente por bactérias. A multiplicação de micro-organismo é favorecida, principalmente pelo aumento de temperatura do ambiente marinho (OGAWA, 1999). O pescado é um dos alimentos mais suscetíveis à degradação, principalmente pela atividade microbiana. As alterações de sabor, odor, textura e cor indicam o nível de frescor ou decomposição causado, principalmente, pela atividade microbiana. A velocidade de decomposição será influenciada diretamente pelo nível de contaminação inicial e condições de armazenamento como umidade, temperatura e atmosfera. Este último pode ser considerado ponto crítico de controleno processo de produção de pescados (FRANCO & LANDGRAF, 2008). A deterioração do pescado ocorre pela autólise, oxidação, atividade bacteriana ou pela combinação destes processos. O processo de autólise ocorre devido à ação de sucos digestivos, de natureza ácida, carregados de enzimas proteolíticas, que migram para os tecidos musculares, após a morte. Essas enzimas atuam sobre os tecidos, provocando sua decomposição e facilitando a 28 disseminação de micro-organismos, elas ainda perfuram as vísceras, extravasando material contaminado. A oxidação das gorduras produz alterações de aroma e/ou coloração do produto (Jay, 2005). O pescado possui uma microbiota natural composta por Pseudomonas, Aeromonas, Moraxella, Shewanella, Flavobacterium, Vibrio e Micrococcus. Dentre estas, as mais importantes na deterioração do pescado são Pseudomonas, Aeromonas, e Shewanella. Esses gêneros são importantes não só pela sua natureza psicrotrófica, mas principalmente pela capacidade que têm de utilizar, para o seu desenvolvimento, substâncias nitrogenadas não-proteicas. Estes compostos são obtidos a partir das reações enzimáticas que ocorrem após a morte do pescado (Franco & Landgraf, 2008). Uma vez esgotados os substratos não-protéicos as bactérias metabolizam as proteínas ocasionando alterações mais profundas, como o amolecimento dos tecidos, aumento da concentração de compostos de odor nauseante (Franco & Landgraf, 2008). Um dos principais pontos críticos de controle para a produção de pescados a ser considerado, são os procedimentos adotados a bordo após a pesca, já que o número de bactérias pós-captura pode aumentar na ordem de 10 5 a 10 6 bactérias/cm 2 . Dentro da cadeia produtiva do pescado existem muitas fontes de contaminação, que modificam a microbiota original. As fontes de contaminação a se considerar são: evisceração realizada de qualquer maneira, não resfriamento do produto imediatamente após a pesca, lavagem inadequada, uso de equipamentos sem assepsia, transporte inadequado, manipulação humana em mercados, peixaria (Ogawa, 1999). Além disso, conforme mencionado anteriormente, o pescado fresco pode ser influenciado por hábitos não higiênicos dos manipuladores, podendo comprometer a qualidade higiênico- sanitária do alimento. O consumo de pescado in natura representa um grande risco à saúde coletiva, por não haver as barreiras térmicas (cocção) para eliminação de micro-organismos do alimento e assim garantir sua inocuidade. Os manipuladores precisam estar atentos às práticas de manipulação para evitar que a contaminação externa deste produto atinja a carne (Martins, 2006; Lima, 2010). 2.10 Staphylococcus Coagulase Positiva (SCP) Dentro do gênero Staphylococcus são descritas 32 espécies, sendo que somente 5 delas 29 são capazes de produzir a coagulase, uma enzima extracelular que coagula o plasma sanguíneo, sendo assim denominadas como Staphylococcus coagulase positiva (SCP) (SILVA; GANDRA, 2004). Durante muitos anos, Staphylococcus aureus foi considerada a única espécie de seu gênero capaz de produzir enterotoxinas e a enzima coagulase. Posteriormente as espécies Staphylococcus hyicus e Staphylococcus intermedius também foram consideradas produtoras sendo inclusive incriminadas em surtos de intoxicação alimentar. Devido a grande semelhança fenotípica, a legislação brasileira foi modificada, passando a estabelecer a pesquisa e enumeração de SCP, ao invés da enumeração de S. aureus (SILVA; GANDRA, 2004). Os alimentos envolvidos em surtos de DTA devem, na investigação epidemiológica, ser coletados e examinados para Staphylococcus spp. O diagnóstico deve ser feito com base em levantamento do quadro clínico e histórico de ingestão de alimentos suspeitos, entrevistando-se vítimas e demais pessoas envolvidas que possam deter informações relevantes, além da utilização de técnicas laboratoriais de isolamento e identificação do micro-organismo. Resultados positivos em doentes e no alimento confirmam o diagnóstico (FERREIRA, 2006). De acordo com a Instrução Normativa nº 62, de 26 de agosto de 2003 (BRASIL, 2003) do MAPA, a identificação de Staphylococcus coagulase positiva em alimentos consiste basicamente em etapas de cultura em ágar Baird-Parker, seleção de colônias suspeitas e identificação destas mediante provas bioquímicas. A produção de coagulase é uma importante característica utilizada na identificação do S. aureus, portanto a legislação brasileira preconiza a pesquisa de Staphylococcus coagulase positiva (SCP) como indicativo de S. aureus. Intoxicação alimentar por estafilococos é uma doença causada pela ingestão de alimentos contaminados com enterotoxina produzida por bactérias deste gênero. A bactéria é considerada, para fins de análise microbiológica, com potencial para produção de enterotoxinas em alimentos quando é considerado coagulase positiva (BRASIL, 2001; MARTINS, 2006). Existem testes sorológicos e moleculares para determinar a enterotoxigenicidade do S. aureus isolado de alimentos. Métodos para separação e detecção de toxinas em alimentos têm sido desenvolvidos e utilizados para melhorar o diagnóstico da doença. A fagotipagem pode ser útil quando o micro-organismo viável pode ser isolado de um alimento incriminado, de vítimas e de portadores suspeitos tais como manipuladores de alimentos. O isolamento de micro- 30 organismos de um mesmo fagotipo de fezes ou vômito de duas ou mais pessoas confirmam o diagnóstico (FERREIRA, 2006). Segundo Neto e colaboradores (2002) uma incidência apreciável destes micro-organismos tem sido detectada, principalmente em produtos de origem animal submetidos à intensa manipulação. 2.11 Staphylococcus aureus O Staphylococcus aureus é uma bactéria esférica (cocos) que aparece aos pares no exame microscópico, em cadeias curtas ou em cachos similares aos de uva. É Gram positiva, anaeróbia facultativa ou aeróbia, com faixa de crescimento de 7ºC a 48ºC e crescimento ótimo em temperatura entre 35ºC a 37ºC, caracterizando um micro-organismo mesófilo (FORSYTHE, 2002; SANTOS, 2006). Figura 1. Staphylococcus aureus - www.hivwebstudy.org Pode ser encontrado frequentemente em fômites ou colonizando humanos e animais, onde pode ser encontrado na pele, narina, períneo, axilas, vagina, entre outras regiões do corpo. Estima-se que esteja presente nas fossas nasais de 20% a 40% de humanos saudáveis, classificando-se assim como portadores assintomáticos (KONEMAM et al, 2001). Os manipuladores de alimentos, se portadores assintomáticos, se não seguirem corretamente as BPF, poderão disseminar este micro-organismo durante o processo de preparo dos mesmos (SILVA; GANDRA, 2004). A doença não ocorre pela ingestão da bactéria em si, e sim pela ingestão de toxinas pré- formadas no alimento, as enterotoxinas. O período de incubação é muito rápido, de 30min a 8h após a ingestão do alimento contaminado. Os sinais clínicos são caracterizados por vômitos, https://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0CAYQjB1qFQoTCM26pf3Vq8cCFYGKkAodrVsDig&url=http%3A%2F%2Fwww.hivwebstudy.org%2Fcases%2Fdermatologic-manifestations%2Fmethicillin-resistant-staphylococcus-aureus-mrsa-skin-and-soft&ei=vX7PVY3oJ4GVwgStt43QCA&bvm=bv.99804247,d.Y2I&psig=AFQjCNE64zOqWGpEDc10gaaN9DWjRbGB2A&ust=1439747738790083 31 náuseas, diarreias brandas a intensas, salivação, sudorese e desidratação, variando com o grau de sensibilidade do indivíduo, da concentração de enterotoxinas e da quantidade de alimento contaminado ingerido (FRANCO; LANDGRAF, 2008). Não é uma doença fatal e a recuperação dos pacientes pode ocorrer em um ou dois dias após o início dos sintomas. Seu diagnóstico é dificultado devido à semelhança com outras intoxicações e toxinfecções (GERMANO; GERMANO, 2008). Os alimentos mais envolvidos na contaminação pelo S. aureus são aquelescom elevado teor de umidade e alta concentração de proteínas. (NASCIMENTO, 2013). 2.12 Identificação de Staphylococcus aureus em alimentos Entre as espécies produtoras da enzima coagulase, Staphylococcus aureus é a espécie que mais prevalece em surtos de DTA. Devido ao risco que sua presença em alimentos oferece à saúde pública, diversos países estabeleceram como parte das ações de fiscalização sanitária de órgãos governamentais, a obrigatoriedade de sua pesquisa (SILVA; GANDRA, 2004). A RDC n°12 da ANVISA (BRASIL, 2001) estabelece o limite máximo de 10 3 UFC/g de produto para SCP em pescado fresco e para pratos prontos para o consumo a base de pescados e similares crus, como o sushi e o sashimi o limite é de 5x10³ UFC/g. As técnicas tradicionais de microbiologia de alimentos fundamentam-se na utilização de testes morfológicos e bioquímicos para a identificação de gêneros e espécies. As técnicas microbiológicas rotineiramente utilizadas são realizadas por crescimento em meios de cultura seletivos complementadas por testes bioquímicos diferenciais, baseados em sua maioria, na expressão de enzimas específicas, usados em conjunto com testes sorológicos (GANDRA et al, 2008). De acordo com a Instrução Normativa nº 62, de 26 de agosto de 2003, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), a identificação de S. aureus em alimentos consiste basicamente de etapas de cultivo em agar Baird-Parker, seleção de colônias suspeitas e identificação destas mediante provas bioquímicas. No entanto, a técnica apresenta algumas desvantagens: ser demorada e trabalhosa, pois necessita de muitos reagentes e vidrarias; geralmente é necessário o processamento de um grande número de amostras, conforme exigência na indústria de alimentos; além do risco de interpretações errôneas dos resultados. Nas últimas décadas, foram desenvolvidos testes moleculares para a detecção, 32 identificação e caracterização de bactérias patogênicas em alimentos. Dentre essas, técnicas baseadas na reação de PCR (Polymerase Chain Reaction) (BOER E BEUMER,1999; MALORNY et al, 2003) que amplificam sequencias específicas do genoma do patógeno ou organismo alvo. Pequenas quantidades de sequências de DNA específicas são enzimaticamente amplificadas até que sejam obtidas milhões de cópias da sequência alvo (KONEMAM et al, 2001). O teste de PCR é rápido, sensível e inequívoco. A rapidez na identificação de agentes etiológicos pela detecção do seu DNA, em comparação ao método preconizado pela microbiologia convencional, torna a PCR uma alternativa prática, além de sua alta sensibilidade e especificidade, dentre os métodos de diagnósticos disponíveis para Staphylococcus aureus em alimentos. Em conjunto, também podemos citar a técnica de eletroforese, pulsed field gel eletrophoresis - PFGE, que é apropriada para separar grandes fragmentos de DNA, por meio da reorientação do DNA em gel pela ação de campos elétricos alternados (MAGALHÃES et al, 2005). Esta técnica é reconhecida como padrão ouro para identificação de linhagens bacterianas, como S. aureus, possibilitando uma comparação do perfil clonal das cepas isoladas de alimentos e manipuladores, por exemplo (SHIMAMURA E MURATA, 2011). Nos últimos anos as técnicas de biologia molecular auxiliaram muito na elucidação da taxonomia do gênero Staphylococcus, permitindo relacionar ou comparar os resultados dos testes fenotípicos e genotípicos. Entre esses métodos, a análise comparativa da sequência de determinados genes de macromoléculas conservadas tem sido empregada para a classificação de micro-organismos. Um exemplo dessas macromoléculas é o RNA ribossomal, essencial para a sobrevivência dos organismos, e altamente conservado entre as bactérias. O sequenciamento do gene do RNA ribossomal 16S tem sido extensivamente usado com finalidade taxonômica e filogenética (BECKER et al, 2004) e é considerado o método de referência para a identificação bacteriana (NOLTE & CALIENDO 2003). As sequências encontradas são comparadas com aquelas depositadas em bancos de dados, como o do National Center for Biotechnology Information - NCBI (BECKER et al, 2004). 2.13 Resistência a antimicrobianos Segundo Jay (2005), os agentes antimicrobianos são substâncias de origem biológicas e/ou sintéticas que produzem toxicidade seletiva sobre micro-organismos. 33 Os antibióticos e drogas afins, em conjunto denominados agentes antimicrobianos, são utilizados no tratamento de doentes que sofrem de doenças infecciosas. Desde a década de 1940, essas doenças e as mortes causadas por elas reduziram significativamente. No entanto, essas drogas têm sido usadas tão amplamente e por tanto tempo que os organismos infecciosos estão desenvolvendo mecanismos de adaptação a eles, tornando as drogas menos eficazes. (CDC, 2014) A resistência aos antibióticos é a capacidade que, micro-organismos como bactérias, vírus, fungos e parasitas, desenvolvem para resistir aos efeitos das drogas. Isso significa que esses germes não morrem e o seu crescimento não é parado com a administração desses fármacos (CDC, 2014). As bactérias resistentes são mais comuns em ambientes onde os antibióticos são usados com muita frequência, como por exemplo, em serviços de saúde, na comunidade, e na produção de alimentos de origem animal. Tavares (2000) descreveu que a resistência aos antimicrobianos é um fenômeno genético, relacionado à existência de genes contidos no micro-organismo que codificam diferentes mecanismos bioquímicos que impedem a ação das drogas. A resistência pode ser originada em mutações que ocorrem no germe durante seu processo reprodutivo e resultam de erros de cópia na sequencia de bases que formam o DNA cromossômico, responsáveis pelo código genético. A outra origem da resistência é a importação dos genes causadores do fenômeno, consistindo na resistência transferível. Esta resistência faz-se através dos mecanismos de transdução, transformação e conjugação e, frequentemente, envolve genes situados em plasmídeos e transposons. O gênero Staphylococcus é de grande importância devido a sua alta prevalência em infecções hospitalares e por apresentar taxas elevadas de resistência a oxacilina e a outros antimicrobianos (KAISER et al, 2010). No Brasil, S. aureus mostram-se resistentes à penicilina G, ampicilina e amoxicilina em mais de 70% das cepas isoladas, seja em ambiente hospitalar ou na comunidade, não sendo mais indicado o uso destes antimicrobianos para o tratamento de infecções estafilocóccicas, mesmo que benignas e mesmo que procedam do ambiente extra-hospitalar (FARIAS et al, 1997; JAY, 2005; TAVARES, 2000). Os esforços para prevenir infecções resistentes incluem imunização, controle de infecção, 34 uso controlado de antibióticos, ou seja, boas práticas na prescrição, reduzir a disseminação de uma pessoa para outra, e proteger o abastecimento de alimentos. Micro-organismos resistentes a antimicrobianos são motivo de preocupação para autoridades sanitárias e pesquisadores em todo o mundo, principalmente no que tange a elevada ocorrência de S. aureus resistente a meticilina (MRSA) A presença destes patógenos em alimentos possui impacto direto sobre a clínica médica humana, especificamente nas medidas terapêuticas adotadas em pacientes vítimas de doenças transmitidas por alimentos. Uma vez que manipuladores de alimentos podem atuar como reservatório desse micro- organismo, torna-se importante avaliar o risco de transmissão de cepas com o perfil genético de resistência para os alimentos (CERQUEIRA, 2013). Deve ser considerado ainda, que patógenos multirresistentes podem agir como disseminadores de genes de resistência a antimicrobianos para outros micro-organismos susceptíveis, e assim ajudar na transferência de genes para bactérias de microbiotas humanas e de outros animais (PRICE, 2007). 35 3. JUSTIFICATIVAO conhecimento de que o consumo de alimentos ricos em ácidos graxos poli-insaturados e com baixos níveis de colesterol reduz o risco de doenças cardíacas está alterando os hábitos alimentares da população, fazendo com que os consumidores prefiram as carnes brancas, magras, e assim contribuindo para aumentar o consumo de peixes e derivados. Aliado a isto, nas últimas décadas, o mundo tem presenciado um acelerado processo de globalização dos costumes e hábitos alimentares. Houve uma rápida difusão e aceitação de alimentos como o sushi e o sashimi, no qual esses pratos à base de pescado cru, que em pouco tempo tornaram-se sinônimo de “comida saudável”. No entanto, já existe uma preocupação dos órgãos reguladores e fiscalizadores ligados à saúde pública com o crescente consumo desse tipo de alimento, principalmente, pelo fato de ser um produto altamente perecível, ser consumido “in natura” e, principalmente, por necessitar de maior rigor na implementação e manutenção de condições higiênico-sanitárias adequadas para sua preparação e conservação (VIEIRA et al, 2007). A segurança alimentar, no que concerne à qualidade do alimento ingerido, precisa ser garantida nas preparações de peixe cru, como sushi e sashimi, como preconiza a legislação brasileira vigente. Além disso, resultados de análises, com rigor científico e metodológico, poderão alertar os responsáveis pela vigilância em saúde. Da mesma maneira, os consumidores devem ser avisados sobre os riscos de DTAs associados ao consumo desses alimentos quando não preparados de forma adequada. Os resultados e conclusões deste estudo poderão contribuir para a criação de normas específicas para o preparo adequado destas iguarias, possibilitando assim, melhor norteamento para estabelecimentos comercializadores e consumidores. 36 4. OBJETIVOS 4.1 Objetivo geral A proposta deste estudo visou avaliar a qualidade microbiológica quanto à presença de Staphylococcus aureus em preparações à base de pescado cru, sushi e sashimi, comercializados em três unidades de uma rede de restaurantes não especializados em culinária nipônica dos municípios de Niterói e Rio de Janeiro - RJ. Os estabelecimentos comerciais também foram avaliados quanto às condições higiênico-sanitárias a que esses alimentos foram submetidos, desde a aquisição da matéria-prima até a sua disponibilização para consumo. 4.2 Objetivos específicos - Analisar e enumerar Staphylococcus coagulase positiva em amostras de sushi e sashimi coletadas em três estabelecimentos comerciais do tipo self-service, não especializados na culinária nipônica, nos municípios de Niterói e Rio de Janeiro - RJ. - Identificar as cepas de S. aureus entre as colônias típicas e não-tipicas coagulase positivas isoladas a partir do pescado cru isoladas por técnicas microbiológicas convencionais, por testes de PCR. - Pesquisar a presença de cepas de S. aureus em manipuladores de alimentos (sushimen) naqueles restaurantes onde forem encontradas amostras contaminadas. - Identificar as colônias por sequenciamento parcial do gene rDNA 16S. - Analisar a influencia dos manipuladores de alimento (sushimen) na qualidade microbiológica das preparações de sushi e sashimi, através da avaliação do perfil clonal de linhagens de S. aureus presentes no pescado em comparação às linhagens presentes na mão e fossas nasofaringeana e orofaringeana dos manipuladores, por eletroforese em campo pulsado (Pulsed-field gel electrophoresis – PFGE). - Avaliar as condições higiênico-sanitárias dos estabelecimentos durante as diferentes etapas do processamento do alimento - desde a aquisição da matéria-prima, armazenamento, pré- preparo, preparo, manutenção e distribuição para consumo – através da aplicação de uma lista de verificação das Boas Práticas de Fabricação (checklist) elaborada de acordo com os itens da RDC nº 216 de 15 de setembro de 2004 - ANVISA. 37 5. MATERIAL E MÉTODO 5.1 Desenho experimental Para esse estudo foram coletas amostras de pescado no período de setembro de 2013 a fevereiro de 2014, em três restaurantes do tipo self-service, localizados nos municípios do Rio de Janeiro e Niterói. Foram coletadas, de forma asséptica, 31 amostras no total, sendo 11 amostras do restaurante 1 (R1), 10 amostras dos restaurantes 2 e 3 respectivamente (R2) e (R3). Essas amostras foram provenientes de 3 tipos de peixe: salmão (Salmo salar), atum (Thunnus sp.) e namorado (Pseudopercis numida); e divididas em dois grupos: a) produto final - sushi e sashimi antes de sua exposição à venda; b) pescado adquirido inteiro (matéria-prima) ou na forma de filé. Também foram coletadas amostras provenientes das mãos e fossas nasofaringeana e orofaringeana dos manipuladores deste alimento, com auxílio de swabs estéreis que posteriormente foram incluídas em meio de transporte Stuart. Todas as amostras foram mantidas sob refrigeração até o momento das análises microbiológicas. 5.2 Análise microbiológica e isolamento de SCP em preparados a base de peixe cru (sushi e sashimi) e manipuladores As análises microbiológicas foram realizadas segundo a Instrução Normativa nº 62, de 26 de agosto de 2003 (BRASIL, 2003) do MAPA. Para isso, 25 g de cada amostra foram adicionadas a 225 mL de solução salina peptonada 0,1% e levadas ao homogeneizador de alimentos Stomacher® (Seward Stomacher® 400 circulator, West Sussex, Reino Unido), a 220 rpm durante 2 min. Foram efetuadas cinco diluições seriadas a partir desta primeira e 0,1 ml de cada diluição inoculada em ágar Baird-Parker. As placas foram incubadas a 36 ± 1ºC por 30 a 48h. Para cada amostra, uma placa contendo entre 20-200 colônias foi selecionada e as contagens de colônias típicas e atípicas foram registradas separadamente. Em seguida foram selecionadas de três a cinco colônias de cada tipo: típicas (T) e atípicas (A), e semeadas em tubos contendo caldo cérebro-coração (BHI), para confirmação, e incubadas a 36 ± 1ºC por 24h. A partir da cultura pura em BHI foram realizadas as seguintes provas complementares e confirmativas: - Prova da coagulase: foi transferido 0,3 ml de cada tubo de cultivo em BHI para tubos estéreis contendo 0,3 ml de plasma de coelho e incubados a 36 ± 1ºC por 6h, onde foi observada a presença ou não de coágulos. - Coloração de Gram: foram preparados os esfregaços das colônias e em seguida corados pelo 38 método de Gram. A ausência de cocos Gram positivos indica teste negativo para Staphylococcus aureus. A presença de cocos Gram positivos indica a necessidade da realização de testes complementares. - Prova da catalase: com o auxílio de alça de platina, bastão de vidro, palito de madeira ou pipeta de Pasteur, estéreis, foi retirado uma alíquota do cultivo em ágar-estoque e transferido para uma lâmina ou placa de vidro contendo uma gota de peróxido de hidrogênio a 3%, misturando o inoculo ao peróxido. A não formação de borbulhas foi considerada prova negativa para catalase, sendo que Staphylococcus aureus é catalase positiva. Os mesmos testes foram efetuados para as amostras provenientes de swabs de mãos e fossas nasofaringeana e orofaringeana dos manipuladores. 5.3 Testes de PCR para identificação dos isolados Testes de PCR foram utilizados para identificação das cepas de S. aureus. A liberação do DNA foi realizada por lise térmica, no qual foi utilizado 100µL de TE (Tris 15 mM e EDTA 0,1 mM) conforme descrito por Dias e colaboradores (2008). A presença do gene femA foi usada como critério de classificação, no qual foi utilizado o seguinte par de primer: femAf (5’ AAA AAA GCA CAT AAC AAG CG 3’) e femAr (5’ GAT AAA GAA GAA ACC AGC AG 3’), de acordo com Mehrotra e colaboradores (2000). Foram gerados amplicons de 132 pb com desnaturação inicial a 94ºC/5min, seguido de 35 ciclos (desnaturação a 94°C/2min, anelamento a 55ºC/30s e extensão a 72ºC/1min) e extensão final de 72ºC/7min.As amplificações foram realizadas em termociclador MyCycler Thermal Cycler (Bio Rad, Hercules, CA, USA). A visualização desses amplicons foi realizada em fotodocumentador Mini Lumi® (TelAvive, Israel CA) após corrida eletroforética em gel de agarose a 2% (100V, 200 mA por 80min) corado com GelRed (Biotium®, Califórnia, USA). 5.4 Identificação dos isolados por sequenciamento parcial do gene 16S rDNA Cepas de SCP que não foram amplificadas pelo gene femA foram submetidas ao sequenciamento da região V5 do gene 16SrDNA. As condições da PCR foram realizadas conforme descrito por Lee e colaboradores (2007) que amplificavam um fragmento de 240 pb. Os pares de primer utilizados foram: 16SrDNAf (5'- CCG CCT GGG GAG TAC G 3') e 16SrDNAr (5'- AAG 39 GGT TGC GCT CGT TGC -3'), desnaturação inicial a 94ºC/3min, seguido de 35 ciclos (desnaturação a 94°C/1min, anelamento a 55ºC/1min e extensão a 72ºC/1min) e extensão final de 72ºC/5min. Os produtos obtidos foram purificados com kit de purificação (illustra™ GFX™ PCR DNA and Gel Band Purification Kit) (GE Healthcare, Buckinghamshire, Reino Unido). Os produtos de PCR foram sequenciados utilizando 20ng de DNA purificado e 13µl dos pares de primer, num volume final de 20µl (Applied Biosystems, CA, EUA). Após a amplificação, os produtos foram purificados de acordo com o protocolo do kit BigDye Terminator Purificação X™ (Applied Biosystems, CA, EUA) e sequenciados num sequenciador de 3130 Genetic Analyzer (Applied Biosystems, CA, EUA). Sequências produzidas foram editadas com o software Bio Edit v.7.2.5 (http://www.mbio.ncsu.edu/bioedit/bioedit.html). Posteriormente as sequências resultantes foram comparadas com sequências bacterianas depositadas na base de dados do National Center for Biotechnology Information (NCBI/BLAST). 5.5 Comparação do perfil clonal de S. aureus por Pulsed Field Gel Electrophoresis (PFGE) Colônias de S. aureus cultivadas em ágar Baird-Parker e identificadas pelas provas bioquímicas e pela PCR do gene femA foram embebidas em agarose de baixo ponto de fusão. A parede celular bacteriana foi lisada com lisostafina e, após tratamento com proteinase K, submetida a lavagens com tampão Tris-EDTA. Posteriormente o DNA foi digerido com endonuclease de restrição SmaI como previamente descrito por Vivoni e colaboradores (2005). Os fragmentos foram separados por eletroforese em campo pulsado, em gel de agarose a 1,2% em TBE 0,5x, no equipamento CHEF DRIII system (Bio-Rad Laboratories, CA, USA), utilizando as seguintes condições: tempo inicial de 1s, tempo final de 35s por 21h, a 6V/cm. Após a corrida, os géis foram corados em solução 0,5 μg/mL de brometo de etídio e documentados em transluminador MiniLumi Bio-Imaging (BioAmerica® Califórnia, USA) e analisados com o software BioNumerics (Applied Maths, Kortrijk , Bélgica). O padrão de referência S. aureus NCTC 8325 foi incluído na primeira e na última raia de cada gel. A semelhança de padrões de bandas foi avaliada por meio do coeficiente de Dice e o dendograma foi construído com base nos percentuais de similaridade que foi gerado pelo método UPGMA (Unweighted Pair Group Method with Arithmetic Mean). Os isolados que apresentaram coeficiente de similaridade ≥ 80% foram considerados do mesmo genótipo e a interpretação visual foi realizada usando o critério de Van Belkum e colaboradores (2007). 40 5.6 Teste de suscetibilidade dos isolados a agentes antimicrobianos (TSA) Alíquotas de cultivo dos isolados, equivalente a 0,5 unidades McFarland, foram plaqueadas em meio agar Muller Hinton com uso de swab estéril. Inoculou-se o cultivo líquido, em toda a superfície do meio, em pelo menos três sentidos, girando a placa após cada espalhamento. Então, foram colocados cuidadosa e assepticamente os discos contendo os agentes antimicrobianos sobre a placa, com auxílio de pinça previamente esterilizada. Os antibióticos utilizados para o teste foram clindamicina (2g), cefoxitina (30g), rifampicina (5g), eritromicina (15g), tetraciclina (30g), vancomicina (30g), ciprofloxacina (5g), cloranfenicol (30g), linezolida (30g) e cefepime (30g). As placas com os polidiscos foram incubadas a 37ºC por 18h. Após este período, os halos de inibição foram mensurados com auxílio de um halômetro. A interpretação do teste foi baseada na tabela que determina as medidas padrões dos halos de inibição para cada agente antimicrobiano, segundo a classificação: resistente, intermediário e sensível, de acordo com orientações do CLSI (NCCLS, 2015). 5.7 Avaliação dos restaurantes estudados quanto aos critérios de Boas Práticas na Manipulação dos Alimentos Os critérios de Boas Práticas de Fabricação adotados em cada restaurante foram avaliados através de uma lista de verificação (Anexo 1) elaborada de acordo com a RDC 216 de 15 de setembro de 2004, da ANVISA, a qual estabelece o Regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços de Alimentação. Foram avaliados itens relacionados à edificações e instalações; higienização; controle integrado de pragas; abastecimento de água; manejo de resíduos; manipuladores de alimentos; matérias primas e embalagens; preparação do alimento; armazenamento e transporte; exposição ao consumo; documentação, registros e responsabilidade técnica. Os restaurantes foram classificados em três grupos de acordo com o percentual de adequação obtido utilizando a metodologia adotada por Saccol e colaboradores (2013): Grupo 1 entre 76-100% de adequação; Grupo 2 entre 51-75% de adequação e Grupo 3 entre 0- 50% de adequação. 5.8 Análise de dados A análise dos dados foi feita por uma planilha eletrônica usando o Excel (Microsft TM Inc) e Epi Info 7. Os dados obtidos pelo sequenciamento e PFGE foram analisados utilizando o software Bionumerics 2014. 41 5.9 Aspectos éticos Previamente ao início dos experimentos, o projeto em questão foi submetido e aprovado pelo comitê de ética da Universidade Federal do Rio de Janeiro sob n° 353.290, visto que as análises envolvem seres humanos (manipuladores de alimentos) e dependem da aprovação e emissão de um termo de consentimento que foi assinado pelo responsável de cada estabelecimento e por cada manipulador participante. 42 6. RESULTADOS 6.1 Análise microbiológica do pescado in natura, preparados a base de peixe cru (sushi e sashimi) e manipuladores A análise da avaliação microbiológica do pescado in natura e suas preparações demonstrou que em todas (100%) as amostras de pescado provenientes dos 03 estabelecimentos (R1, R2 e R3) foi detectada a presença de Staphylococcus coagulase positiva (SCP). Destas, 29% (9/31) apresentaram contagem de patógenos acima do valor estabelecido pela legislação brasileira - RDC n°12 (BRASIL, 2001), que tem como limite máximo 5x10 3 UFC/g, como mostrado na Tabela 1. Tabela 1. Valores mínimos e máximos em UFC/g, de Staphylococcus coagulase positiva (SCP) encontradas em amostras de peixes, filés e preparados (sushi e sashimi) de salmão, atum e namorado, coletados em três restaurantes (R1, R2, R3) dos municípios do Rio de Janeiro e Niterói, no período de setembro de 2013 a fevereiro de 2014. Restaurante Número de amostras Valores mínimos e máximos (UFC/g) SCP nº e % de amostras reprovadas R1 11 0,3x10² - 1,1 x 10 4 3 (27%) R2 10 9,0x10² - 2,2 x 10³ 0 R3 10 9,0x10² - 14,1 x 10³ 6 (60%) Total 31 - 9 (29%) As contagens médias de SCP nas amostras de pescado matéria prima, filé e preparado de sushi e sashimi, de todos os estabelecimentos estudados foram, respectivamente, de: 4,22x10³ UFC/g; 2,59x10³ UFC/g; 4,62x10³ UFC/g; e 3,94x10³ UFC/g. Foi identificado em matéria-prima (namorado in natura) contagem de SCP acima do estabelecido pela legislação para alimento consumido cru. Foram analisadas um total de 9 amostras de atum (Thunnus sp.), 10 amostras de namorado (Pseudopercis numida)
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