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01 - Aula introdutAria (AmArica I)

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HISTÓRIA DA 
AMÉRICA I
Aula introdutória: Povos originários da América
Prof.ª Rozely Vigas
“Se alguém quiser compreender 
minha cultura, comece a ler 
nossas histórias, comece a 
sintonizar com os nossos heróis, 
comece a vivenciar nossa poesia!”
MUNDURUKU, Daniel. Histórias de índio. São Paulo, 
Companhia das Letrinhas, 2002.
Daniel Munduruku (1964- )
• Nasceu em Belém-PA, no povo Indígena Munduruku. 
• Empenhado no movimento indígena brasileiro, é formado
em Filosofia, com licenciatura em História e Psicologia, 
pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL). 
Mestrado e doutorado em Educação pela USP e pós-doutorado em linguística pela 
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). 
• Integrou o programa de Pós-Graduação em Antropologia Social na USP. É diretor-
presidente do Instituto Uk'a - Casa dos Saberes Ancestrais. 
• Autor de aproximadamente 50 obras, sendo a maioria classificada como literatura 
infanto-juvenil.
• Seus livros “Histórias de índio, coisas de índio”, “As serpentes que roubaram a noite” 
e “Meu avô Apolinário” receberam premiações no campo da literatura infantil.
“História pré-hispânica”
“História pré-colombiana” Ideia de “Pré-História”
“História pré-colonial”
EXPRESSÕES EUROCÊNTRICAS 
HISTÓRIA ANTIGA DA AMÉRICA
● É preciso romper com esses conceitos.
● Como alertou Paulo Seda: ir em busca de 
uma História Antiga da América não 
significa transpor para cá o conceito de 
Antiguidade. 
● É uma outra História Antiga, específica 
para este continente, que os autores estão 
defendendo.
HISTÓRIA ANTIGA DA AMÉRICA
Propostas de como fazê-la…
● Adotar nomenclaturas, como América indígena ou
povos originários da América.
● Concentrar-se na agência desses povos.
● Enfatizar que os meios de uma pesquisa histórica
não são única e exclusivamente documentos escritos
● Perceber a importância da Arqueologia para a
reconstrução dessa história.
● "Se já houve um corredor livre de gelo 
durante o Último Máximo Glacial, não 
era nas regiões do interior do norte da 
América do Norte, mas ao longo da 
costa noroeste", escreveu James Dixon, 
da Universidade do Novo México. 
Link: https://g1.globo.com/ciencia-e-
saude/noticia/2016/08/estudo-redesenha-
rota-de-passagem-de-humanos-para-
americas.html
CHEGADA DA 
HUMANIDADE NA 
AMÉRICA
ÁREAS IMPORTANTES
MESOAMÉRICA
REGIÃO ANDINA
Império Inca e 
outros povos.
Maias, Mexicas, entre 
outros povos.
o As diversas localidades da América apresentavam uma grande variedade de povos, 
línguas, meio ambiente e sistemas socioeconômicos.
o Estimativas propostas pelos estudos demográficos dos habitantes nativos nas 
Américas do Norte, Central e do Sul antes da conquista: 
o A. L. Kroeber (cerca de 8.400.000)
o H. F. Dobyns (entre 90 e 112 milhões)
o A. Rosenblat (1.385.000)
o W. M. Denevan (57 milhões)
o As hipóteses médias sugerem que os nativos do continente dispunham de técnicas 
agrícolas e de recursos para alimentar populações bastante consideráveis.
POVOS NATIVOS
o Um mosaico nada estagnado de povos, com culturas e línguas distintas, embora a 
intensidade dos fluxos internos tenha colaborado para o compartilhamento do mundo 
simbólico, de costumes, de troncos linguísticos, da cultura material... 
o Porém, é incorreto pensar que esse mundo fosse uma coisa só, algo uniforme, sem o 
ritmo das mudanças promovidas pelo ambiente, pelas adaptações e pelas ideias.
o Termos como “conquista”, “colonização” e “migração” também podem ser apontados 
para eventos e dinâmicas comuns de povos existentes em todo o continente americano.
o Enfim, dentro da visão dos novos historiadores que buscam a História Antiga da América, 
as questões ligadas ao povoamento e à origem das populações americanas não são as 
mais importantes.
o Eles privilegiam a questão da diversidade cultural quando da chegada dos europeus. 
POVOS NATIVOS
CHAMADA À REFLEXÃO
Inverter a ordem dos fatos: Em vez de refletir 
sempre sobre a influência europeia sobre as 
populações americanas, pensar o contrário, como 
os europeus foram influenciados no pensamento, no 
modo de agir. 
o Perguntas iniciais: 
o O que você teria visto se pudesse observar os povos indígenas antes da 
chegada dos europeus? 
o Como viveriam os índios? 
o Quantos eram? 
o Como se organizavam? 
o Como eram suas aldeias? 
o Quem eram seus chefes e especialistas religiosos? 
o Como conduziam a guerra e cultivavam a paz? 
BUSCAS PELAS “HISTÓRIAS INDÍGENAS”
CAMINHOS OBSTÁCULOS
• As áreas tropicais são grandes obstáculos para 
a arqueologia;
• Não podemos esperar respostas seguras da 
linguística, pois falta esgotar as tarefas de 
descrição, comparação e classificação das 
línguas indígenas;
• Os escritos dos primeiros séculos da 
colonização devem ser lidos com cuidado e 
criticamente; Devemos nos questionar até que 
ponto os grupos indígenas contemporâneos 
guardam alguma semelhança com os sistemas 
sociopolíticos e cosmologias da época da 
conquista.
• Recorrer às evidências fornecidas 
pela arqueologia e pela linguística 
histórica;
• Conhecer as descrições deixadas 
pelos colonizadores e missionários 
dos séculos XVI e XVII;
• Estudar as populações indígenas 
contemporâneas;
• Utilizar-se dos métodos da 
etnografia.
BUSCAS PELAS “HISTÓRIAS INDÍGENAS”
o Os texto da nossa leitura são exemplos desta tentativa de se compreender 
o máximo possível sobre os povos originários.
o O artigo de Marcia Arcuri nos apresenta uma discussão bibliográfica das 
interpretações arqueológicas e etnográficas sobre as formas de 
organização política e social na América antiga. 
o O capítulo 1 da tese de livre-docência de John Monteiro, por sua vez, 
mostra a partir dos escritos do senhor de engenho e sertanista Gabriel 
Soares, de meados do século XVI, como o passado indígena tem sido 
pensado desde então.
BUSCAS PELAS “HISTÓRIAS INDÍGENAS”
BUSCAS PELAS “HISTÓRIAS INDÍGENAS”
o Artigo de Marcia Arcuri:
o Houve um intenso debate sobre a natureza da organização social e política dos 
povos originários a partir dos estudos antropológicos das décadas de 1940, 
1950 e 1960.
o Os modelos pensados sobre a história do continente foram forjados a partir da 
oposição entre as terras altas e as baixas, entre terrenos áridos e 
montanhosos, e uma floresta luxuriante, densa e úmida. De um lado, a grande 
formação montanhosa andina, e do outro, todo o resto a leste.
o Julian Steward (1948) e Elman Service (1962) propunham que os grupos 
indígenas da América do Sul teriam vivenciado diferentes estágios de 
complexidade na sua organização política e social, em quatro níveis de uma 
escala evolutiva.
FORMAS TRADICIONAIS DE 
ORGANIZAÇÃO POLÍTICA E SOCIAL
BANDOS
Grupos caçadores-
coletores nômades 
predestinados ao 
“primitivismo”.
CACICADOS
Possuíam poderes 
político e religioso 
institucionalizados, 
hierarquizados 
socialmente pela 
função social ou 
trabalho de indivíduos, 
ou grupos.
TRIBOS
Sociedades 
agricultoras 
sedentárias, com 
ligações por laços de 
sangue e ausência de 
poder centralizado.
ESTADO
Alto grau de desenvolvimento 
econômico, com sistema 
político de alianças 
diplomáticas, controle 
coercitivo, densidade 
populacional, intensificação da 
produção agrícola e pastoril, 
burocratização do poder 
público e estratificação social.
BUSCAS PELAS “HISTÓRIAS INDÍGENAS”
o As pesquisas arqueológicas dos anos 90 e 2000 demonstram que os quatro tipos 
de agrupamento estão obsoletos, pois desconsideram elementos da cosmovisão 
ameríndia fundamentais às noções de organização social e política.
o Os dados levantados por essas pesquisas (como a presença de sociedades 
complexas na Amazônia Central) trazem perspectivas de análise, que permitem 
uma completa revisão teórica.
o Nessa leva, o artigo propõe o questionamento da existência de sociedades 
estatais na América pré-colombiana.
o Mais do que identificar o estágio de ‘evolução social’ de determinado grupo, é 
preciso esclarecer quais os processos e os múltiplos fatores que levaram uma 
determinadasociedade a organizar-se de forma mais ou menos hierárquica, ou 
“complexa”, descartando o determinismo ecológico.
BUSCAS PELAS “HISTÓRIAS INDÍGENAS”
o “É fundamental que o debate historiográfico seja alimentado com dados 
ainda inéditos, seja pela interpretação de novos vestígios arqueológicos, 
estudos lingüísticos, etnográficos e campos afins.”
o Destaca a necessidade permanente de projetos de investigação.
o Há ainda muitas lacunas da história da América indígena para serem 
preenchidas, sendo fundamental rever as teorias e interpretações sobre as 
formas de distribuição espacial, as noções de territorialidade, as relações 
centro x periferia e as relações de poder entre as sociedades ameríndias.
o Introdução e Capítulo 1 de John Monteiro:
o Mostra um processo já em curso na historiografia latino-americana e latino-
americanista da década de 70, que estava deslocando os holofotes dos 
colonizadores para os colonizados.
o Estudos que buscaram dimensionar, documentar e interpretar a experiência 
das populações nativas sob o domínio espanhol, a partir da exploração de 
testemunhos nativos, como crônicas e genealogias escritas por indígenas e 
mestiços, registros territoriais, documentos dos cabildos das comunidades 
indígenas, representações pictóricas, testamentos, processos da Inquisição, 
investigações criminais, litígios e outros.
BUSCAS PELAS “HISTÓRIAS INDÍGENAS”
o Quando pensamos em estudos sobre a América portuguesa, o quadro muda 
completamente. 
o Além de uma ausência quase total de fontes textuais e iconográficas produzidas 
por escritores e artistas nativos, que restringe o trabalho dos historiadores, há 
também uma resistência dos mesmos ao tema, visto como objeto exclusivo dos 
antropólogos.
o Causas apresentadas pelo autor: 
o a) Exclusão dos índios enquanto legítimos atores históricos. A grande maioria 
dos historiadores considera que não possui as ferramentas analíticas para se 
chegar nesses povos, o que os tornam praticamente invisíveis enquanto 
sujeitos históricos. 
o b) Os povos indígenas são vistos como populações em vias de desaparecimento. 
BUSCAS PELAS “HISTÓRIAS INDÍGENAS”
o Até a década de 1980, a história dos indígenas no Brasil resumia-se basicamente à 
crônica de sua extinção, o que dificultou a compreensão dos múltiplos processos 
de transformação étnica que ajudariam a explicar uma parte considerável da 
história social e cultural do Brasil.
o O autor aponta o surgimento de uma “nova história indígena”, que:
o “buscava unir as preocupações teóricas referentes à relação história/antropologia 
com as demandas cada vez mais militantes de um emergente movimento 
indígena, que encontrava apoio em largos setores progressistas que renasciam 
numa frente ampla que encontrava cada vez mais espaço frente a uma ditadura 
que lentamente se desmaterializava”.
o proporcionou uma oportunidade de repensar alguns pressupostos teóricos a 
respeito das sociedades indígenas, cruzando documentos históricos e teoria social 
com novas leituras de mito, ritual e narrativas orais como formas alternativas de 
discurso histórico.
BUSCAS PELAS “HISTÓRIAS INDÍGENAS”
o Sobre os manuscritos de Gabriel Soares de Sousa: “Roteiro Geral, com largas 
informações de toda a costa do Brasil”; “Memorial e Declaração das Grandezas 
da Bahia de Todos os Santos, de sua fertilidade e das notáveis partes que tem”; 
e o sem título contra os jesuítas da Bahia.
o Esses relatos, principalmente o “Memorial”, têm sido amplamente utilizados 
desde o século XIX na consolidação de uma tradição de estudos tupis no Brasil.
o Não se deve desassociá-lo do seu contexto colonialista, baseado na economia 
açucareira, no sertanismo e na escravidão indígena
o São textos que refletem a longa convivência entre o autor e os nativos, durante 
as suas experiências de senhor de engenho e de sertanista.
BUSCAS PELAS “HISTÓRIAS INDÍGENAS”
o Ao estabelecer categorias básicas para diferenciar as populações indígenas, 
Gabriel Soares buscou várias referências distintas, mas europeias, descrevendo 
as sociedades indígenas a partir daquilo que lhes faltava.
o Os povos nativos eram vistas como sociedades “sem fé, nem lei, nem rei”.
o Mesmo baseado nos relatos de indígenas aldeados, escravizados e 
cristianizados, o Memorial buscava abstrair os Tupinambá do contexto colonial.
o As novas denominações (Potiguar, Tupiniquim, Tupinaé...) espelhavam não 
apenas os desejos e as projeções dos europeus, como também os ajustes e as 
aspirações de diferentes populações nativas que buscavam lidar com os novos 
desafios postos pelo avanço do domínio colonial, demonstrando a capacidade 
das comunidades nativas dialogarem com os novos tempos, fosse para assimilar 
ou para rejeitar algumas das suas características.
BUSCAS PELAS “HISTÓRIAS INDÍGENAS”
TEXTOS DA AULA:
BELMONTE, Alexandre. Reflexões sobre a antiguidade da 
América: o altiplano andino como caso paradigmático. 
NEARCO: Revista Eletrônica de Antiguidade, vol. X, nº. I, p. 
22-56, 2018.
SEDA, Paulo. Sociedades “Sem História” - Antiga da 
América. Das Américas, ed. 3, p. 1-24, 2010.
ARCURI, Marcia M. Tribos, Cacicados ou Estados? A 
dualidade e centralização da chefia na organização social 
da América pré-colombina. Revista do Museu de 
Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 305-320, 2007.
MONTEIRO, John M. Tupis, Tapuias e Historiadores: estudos 
de História Indígena e do Indigenismo. Tese apresentada 
para o Concurso de Livre Docência Área de Etnologia, 
Subárea História Indígena e do Indigenismo – Unicamp, 
Campinas, 2001. (INTRODUÇÃO E CAPÍTULO 1)

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