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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Instituto de Matmática - Departamento de Matemática Geometria II / Geometria Não-Euclidiana Profa. Katrin Gelfert 7.∗ Transformações de Möbius Estude a seguinte proposição, tente demostrar as le- mas que vão ajudar na demonstração desta afirmação. Proposição. Duas transformações de Möbius distin- tas da identidade possuem os mesmos pontos fixos, se e somente se eles comutam. Faremos uns observações preparatórias. Nas seguin- tes afirmações sejam S, T : C∞ → C∞ duas transfor- mações de Möbius. Lema 1. Seja R : C∞ → C∞ uma transformações de Möbius. Considere S̃ = R◦S◦R−1 e T̃ = R◦T ◦R−1. Então S ◦ T = T ◦ S ⇔ S̃ ◦ T̃ = T̃ ◦ S̃. Demonstração. Basta ver que S = R−1 ◦ S̃ ◦ R e T = R−1 ◦ T̃ ◦R e que S ◦ T̃ = T̃ ◦ S̃ implica S ◦ T = (R−1 ◦ S̃ ◦R) ◦ (R−1 ◦ T̃ ◦R) = R−1 ◦ S̃ ◦ T̃ ◦R = R−1 ◦ T̃ ◦ S̃ ◦R = (R−1 ◦ T̃ ◦R) ◦ (R−1 ◦ S̃ ◦R) = T ◦ S. Da forma análoga S ◦ T = T ◦ S implica S̃ ◦ T̃ = T̃ ◦ S̃. Lema 2. Seja R : C∞ → C∞ uma transformações de Möbius. Considere S̃ = R◦S◦R−1 e T̃ = R◦T ◦R−1. Então S e T possuem os mesmos pontos fixos ⇔ S̃ e T̃ possuem os mesmos pontos fixos. Demonstração. Seja S(v) = v = T (v) um ponto fixo comum para S e T . Então o ponto ṽ = R(v), usando v = R−1(ṽ) e S̃(ṽ) = (R ◦ S ◦R−1)(ṽ) = (R ◦ S)(v) = R(v) = ṽ = R(v) = (R ◦ T )(v) = (R ◦ T ◦R−1)(ṽ) = T̃ (ṽ) segue que ṽ é ponto fixo comum para S̃ e T̃ . Lema 3. Para todo v, w ∈ C∞, v 6= w, existe uma transformações de Möbius R : C∞ → C∞ tal que R(v) =∞ e R(w) = 0. Demonstração. Tomar R(z) = z − w z − v . Lema 4. Para qualquer a ∈ C, as transformações de Möbius S e T tem o ponto ∞ como ponto fixo co- mum se e somente se as transformações de Möbius S̃(z) = aS(z) e T̃ (z) = aT (z) tem o ponto ∞ como ponto fixo comum. Lema 5. Para qualquer a ∈ C, as transformações de Möbius S e T comutam se e somente se as transfor- mações de Möbius S̃ e T comutam, onde S̃ é definida por S̃(z) = aS(z). Lema 6. Se uma transformação de Möbius é distinta da identidade, ela tem no máximo 2 pontos fixos. Demonstração. Por contradição: Se ela tivesse pelo menos três pontos fixos, ela tem que fixar todos os pontos de C∞, i.e. ela é a identidade, em contradição com a hipotese. Demonstração da Proposição. Sejam S, T : C∞ → C∞ duas transformações de Möbius, ambas distintas da identidade. ⇒: Supomos que as transformações de Möbius S e T possuem os mesmos pontos fixos. Pelo Lema 6, há dois casos: 1) S e T tem um ponto fixo v 2) S e T tem dois pontos fixos v e w. Caso 1): Pelos Lemas 1–3 podemos assumir, sem perda da generalidade, que v =∞. Portanto, S (e T similar) tem a forma S(z) = az + b c = a c z + b c , a, b, c ∈ C UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Instituto de Matmática - Departamento de Matemática Geometria II / Geometria Não-Euclidiana Profa. Katrin Gelfert Pelo Lema 4 podemos assumir, sem perda da genera- lidade, que S(z) = z + b, T (z) = z + β, b, β ∈ C. Fácil ver que S e T comutam. Caso 2): Pelos Lemas 1–3 podemos assumir, sem perda da generalidade, que v =∞ e w = 0. Portanto S e T tem a seguinte forma S(z) = az, T (z) = αz. Fácil ver que S e T comutam. ⇐: Supomos que as transformações de Möbius S e T comutam, i.e. S ◦ T = T ◦ S. Portanto T−1 ◦ S−1 ◦ T ◦ S = id. (0.1) Pelo Lema 6, para S há dois casos: 1) S tem um ponto fixo v 2) S tem dois pontos fixos v e w. Caso 1): Pelos Lemas 1–3 podemos assumir, sem perda da generalidade, que v = ∞ e assim S(∞) = ∞. Pelos Lemas 4 e 5, podemos assumir, sem perda da generalidade, que S tem a forma S(z) = z + β, para um β 6= 0. Sem perda da generalidade, podemos assumir que T (z) = az + b cz + d , a, b, c, d ∈ C, ad− bc = 1. Usando (0.1) e usando ad− bc = 1 segue z = T−1 ◦ S−1 ◦ T (z + β) = T−1 ◦ S−1 ( a(z + β) + b c(z + β) + d ) = T−1 ( a(z + β) + b c(z + β) + d − β ) = z(1− cdβ) + β(1− cd− d2) zc2β + 1 + c2β2 + cdβ Portanto, para todo z tem-se z2c2β = z(1− cdβ − (1 + c2β2 + cdβ)) + (β(1− cd− d2)). Comparando coeficientes em z2 segue c2β = 0 ⇒ c = 0. Portanto 0 = β(1− d2). Portanto d = ±1 Novamente usando 1 = ad − bc = ad segue a = d. Portanto T (z) = z + b. Portanto T (∞) = ∞. Assim mostramos que S e T fixam o mesmo ponto. Caso 2). Pelos Lemas 1–3 podemos assumir, sem perda da generalidade, que v = ∞ w = 0 e assim S(∞) =∞ e S(0) = 0. Supomos agora que S tenha dois pontos fixos z e w. Podemos assumir que z = ∞ e w = 0 e portanto S(z) = αz, α ∈ C \ {0, 1}. Da forma análoga ao caso anterior segue que T tem que fixar também ambos os pontos 0 e ∞.
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