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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS DO MAR PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS MARINHAS TROPICAIS ELÃINE CHRISTINE DOS SANTOS DOURADO DINÂMICA TEMPORAL E ESPACIAL DE OVOS E LARVAS DE PEIXES NO TRECHO INFERIOR DO RIO ITAPECURU (MARANHÃO, BRASIL). FORTALEZA 2017 ELÃINE CHRISTINE DOS SANTOS DOURADO DINÂMICA TEMPORAL E ESPACIAL DE OVOS E LARVAS DE PEIXES NO TRECHO INFERIOR DO RIO ITAPECURU (MARANHÃO, BRASIL). Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Ciências Marinhas Tropicais da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em Ciências Marinhas Tropicais. Área de concentração: Utilização e manejo de ecossistemas marinhos e estuarinos. Orientador: Prof. Dr. Raúl Cruz Izquierdo. Co-orientadora: Profª. Dra. Oscarina Viana de Sousa. FORTALEZA 2017 ELÃINE CHRISTINE DOS SANTOS DOURADO DINÂMICA TEMPORAL E ESPACIAL DE OVOS E LARVAS DE PEIXES NO TRECHO INFERIOR DO RIO ITAPECURU (MARANHÃO, BRASIL). Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Marinhas Tropicais da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em Ciências Marinhas Tropicais. Área de concentração: Utilização e manejo de ecossistemas marinhos e estuarinos. Aprovada em: 29/06/2017. BANCA EXAMINADORA _______________________________________ Prof. Dr. Raúl Cruz Izquierdo (Orientador) Universidade Federal do Ceará (UFC) _________________________________________ Prof. Prof. Dr. Nivaldo Magalhães Piorski Universidade Federal do Maranhão (UFMA) _________________________________________ Profª. Dra. Paula Cilene Alves da Silveira Universidade Federal do Maranhão (UFMA) _________________________________________ Profª. Dra. Caroline Vieira Feitosa Universidade Federal do Ceará (UFC) _________________________________________ Prof. Dr. Marcelo de Oliveira Soares Universidade Federal do Ceará (UFC) Dedico, aos meus filhos, Ana Beatriz e André Lucas, e ao meu esposo Wagner, fontes de vida, alegria e amor eternos. aos meus pais, Hilda (in memorian) e Raimundo João, exemplos de perseverança, determinação e amor. e, em especial, à Flor, minha mãe de coração, por sua proteção, dedicação e por não me deixar desistir nunca. AGRADECIMENTOS “Você não sabe o quanto eu caminhei pra chegar até aqui...” Não chegamos a lugar algum sozinhos. Pessoas chegam, algumas ficam outras partem para outros caminhos, mas todas são importantes na contribuição do nosso crescimento. Chego a esta etapa que é mais que a realização de um trabalho de pesquisa. É a conquista de um sonho e pra chegar até aqui, muitas pessoas e instituições foram importantes. Por diferentes razões, deixo aqui meus sinceros agradecimentos. A Deus, por ser o alicerce de fé e por tornar tudo possível. Ao meu orientador, professor Dr. Raúl Cruz Izquierdo, exemplo de profissionalismo, competência e humildade. Obrigada pela confiança e autonomia a mim depositadas. Agradeço por todas as críticas e sugestões, sempre muito valiosas. O senhor teve papel imprescindível nessa jornada. Obrigada de coração. À professora Dra. Oscarina Viana de Sousa, carinhosamente Osca. Obrigada por ter aberto as portas do LABOMAR pra mim, sem ao menos me conhecer. Iniciei o doutorado como sua orientanda, e por motivos maiores, tive que mudar os planos, mas mesmo assim você esteve junto comigo. Tenho em você um exemplo de profissionalismo, amor, dedicação e competência. De orientadora a co-orientadora, pouco importa. Sua contribuição foi além da pesquisa, foi para a vida toda. E, da mesma forma, pra toda a vida, são os ensinamentos do meu grande mestre, o professor Dr. Antonio Carlos Leal de Castro (“Totó”), profissional no qual me espelho. A você, um agradecimento especial, por compartilhar comigo sua experiência e sabedoria, pela confiança e credibilidade depositadas desde os tempos de graduação e mais do que isso, por não me deixar desistir nas horas difíceis. Obrigada pelo apoio logístico, pela disponibilização do Laboratório de Ictiologia, auxílio na análise dos dados, discussão, enfim, pela ajuda dispensada durante a execução deste trabalho. Pela eterna amizade, meus sinceros agradecimentos. Ao prof. Dr. Nivaldo Piorski, que também me acompanha desde a graduação. Um excelente profissional. Agradeço pela amizade e incentivo constantes. Pelo apoio e pela valiosa contribuição a este trabalho. Suas críticas, sugestões e auxílio nas análises foram enriquecedores. E acima de tudo, obrigada pelas horas de prosa, onde eu desabafava o medo de não dar conta e não chegar ao final, mas suas palavras sábias e encorajadoras só me fortaleceram. À Dra. Andréa Bialetzki, exemplo também de competência e profissionalismo. Obrigada pela oportunidade de treinamento e por ter aberto as portas do Laboratório de Estudo de Ovos e Larvas de Peixes (NUPÉLIA/UEM) há alguns anos atrás, contagiando-me com seu amor por essa área. Suas contribuições foram além do esperado. À Pós-Graduação em Ciências Marinhas Tropicais (LABOMAR/UFC), na pessoa do Coordenador prof. Dr. Carlos Eduardo Peres e à Isabela Aguiar, pelo excelente trabalho executado à frente da Secretaria da Pós. Agradeço também ao corpo docente do LABOMAR pela valiosa contribuição à minha formação. Deixo aqui também meu agradecimento emocionado ao professor Dr. Adauto Fonteles Filho (in memorian), que nos deixou recentemente. Suas contribuições na área de Dinâmica Pesqueira foram valiosíssimas, mas sua experiência de vida, seus ensinamentos enquanto professor e ser humano foram enriquecedores para a minha formação profissional e pessoal. Aos amigos e colegas do LABOMAR, em especial, à Clarissa, Graciene, Cristiane, Luciana, Dani, Cris, Gleire, Daniel, Marina e Érika Targino, pela convivência, amizade, troca de informações, diversão, enfim, por todos os momentos que deixaram esses anos de doutoramento mais leves. À equipe do Laboratório de Ictiologia da UFMA e, em especial, aos amigos Marcelo Henrique, Leonardo Soares, Paula Verônica, Vitor Lamarão, James Wirlen, Júmir, Moacir e Davi pelo apoio nas coletas e demais etapas da execução desse trabalho e pelas horas de descontração, sempre muito divertidas. Agradeço também à Gisele Cardoso, pela ajuda na confecção do mapa e aquisição dos dados georreferenciados. E à querida amiga Izabel Funo, que não me deixou perder a oportunidade da seleção há quatro anos atrás. Para a concretização deste sonho, algumas instituições também foram imprescindíveis. Agradeço à Universidade Federal do Ceará, em nome do LABOMAR, à Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA/Campus Zé Doca), pelo apoio institucional e logístico. E à FAPEMA (Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão), pela concessão da bolsa de doutorado. Por fim, quero agradecer à minha família. Ao meu esposo Wagner Portela e aos meus filhos Ana Beatriz e André Lucas, pelo amor, pela paciência, pela assistência emocional (tinha dias que ficava feito louca e vocês sem entenderem uma gota! kkkk). Obrigada por compreenderem (ou ao menos tentarem) e aceitarem minha ausência, mesmo quando estava de corpo presente. Vocês me completam. Meus eternos agradecimentos aos meus pais Hilda dos Santos Dourado (in memorian) e Raimundo João Dourado Filho, por todo carinho, apoio, incentivo e dedicação desde sempre e para sempre. E, em especial, à Flor, minhamãe também, uma pessoa maravilhosa que sempre esteve ao meu lado, guiou-me até aqui, dedicou os melhores anos de sua vida em minha criação. A senhora nunca me deixou desistir de nada, sempre acreditou em mim, até mesmo quando eu achava difícil continuar. Presente maior eu não poderia ter tido e essa vitória é nossa. Aos meus irmãos queridos Danny, Karla, Dudu e Nildo que deixam a vida muito mais divertida e que me ajudaram ficando com meus filhotes nos momentos de ausência. E a todos que contribuíram direta ou indiretamente para a realização deste trabalho e conquista desse sonho, meus sinceros agradecimentos. “Não importa o que aconteça, continue a nadar.” (Walter Graham) RESUMO A presente tese avaliou a composição, abundância e distribuição espaço-temporal do ictioplâncton no trecho inferior do rio Itapecuru (Maranhão, Brasil). As amostragens ocorreram trimestralmente (maio de 2012 a outubro de 2014) em três ambientes com características hidrológicas distintas, ao longo da calha principal do rio. O ictioplâncton foi amostrado com rede cônico-cilíndrica (300μm), através de arrastos na sub-superfície da coluna d’água. Foram obtidos dados de precipitação, vazão, pH, oxigênio dissolvido, condutividade, salinidade, transparência, alcalinidade e sólidos em suspensão. Após triagem e contagem do material biológico, foi feita a caracterização taxonômica das larvas e a identificação quanto ao estágio de desenvolvimento. Estimativas espaço-temporais do ictioplâncton foram baseadas na frequência de ocorrência e densidade. A variabilidade faunística foi analisada através de descritores ecológicos. A variação espaço-temporal da densidade de ovos e larvas, assim como dos descritores ecológicos, foi analisada através de ANOVA e teste a posteriori de Tukey. A distribuição dos estágios de desenvolvimento larval foi avaliada espacialmente, a fim de identificar possíveis áreas de desova e crescimento. Para avaliar as diferenças nas densidades de cada estágio foi aplicado o protocolo da ANOVA protegida. A similaridade entre os locais de amostragem foi realizada através da Análise de Cluster, utilizando a distância de Bray-Curtis, calculada a partir dos dados de densidades larvais. A interação entre as variáveis bióticas e abióticas foi analisada a partir da Análise de Redundância. A assembleia de larvas esteve composta principalmente por espécies de Characiformes (37,16%), Siluriformes (34,27%) e Perciformes (15,39%) de pequeno e médio portes, sedentárias ou que realizam curtas migrações. Dos espécimes identificados, 12 são larvas de espécies de peixes de importância comercial e três são endêmicas do nordeste brasileiro. As densidades de ovos e larvas sofreram poucas variações entre os locais à medida que apresentou maiores modificações ao longo dos anos. Os dois ambientes à montante da área de estudo (P1 e P2) foram mais similares na densidade de ovos, bem como na composição, abundância e distribuição das espécies larvais, com a presença de larvas tipicamente dulcícolas. Por outro lado, no ambiente à jusante (P3) foi registrada a presença exclusiva de táxons estuarinos, como larvas de Oligoplites palometa, Centropomus paralelus e Cynoscion acoupa. Registrou-se a presença de larvas em todos os estágios de desenvolvimento, sendo os mais iniciais com ocorrência no ponto 1. Diferenças temporais foram evidenciadas, com as maiores densidades ocorrendo nos meses de maior precipitação pluviométrica (janeiro-junho). A estrutura da assembleia larval mostrou-se relacionada ao conjunto de variáveis ambientais. Os pontos P1 e P2 caracterizaram-se por apresentarem águas doces, mais transparentes e de temperaturas ligeiramente mais elevadas, com mais baixo teor de sólidos suspensos e maior concentração de oxigênio, ao passo que em P3, a água mostrou-se mais turva e com traços de salinidade em determinados períodos do ano. As variáveis ambientais que mais caracterizaram os ambientes 1 e 2 permitiram separar a maioria dos Characiformes que ocorreram preferencialmente em águas mais oxigenadas, transparentes, com maior condutividade e sem salinidade. Esses ambientes também foram propícios para a ocorrência mais expressiva de larvas de Plagioscion squamosissimus. Por outro lado, larvas de Centropomus parallelus, Oligoplites palometa, C. acoupa, Pellona flavipinnis e de Engraulidae ocorreram preferencialmente em ambiente de águas mais turvas, com mais alto teor de sólidos em suspensão, salinidade e baixa transparência (P3). Por fim, as análises permitiram verificar diferenças na distribuição de ovos e larvas de peixes no trecho investigado, as quais foram influenciadas por condições ambientais e temporais. Algumas espécies encontraram condições mais favoráveis à desova e ao desenvolvimento inicial nos dois ambientes mais preservados e mais à montante da área de estudo. Palavras-chave: Ictioplâncton. Distribuição espaço- temporal. Variáveis abóticas. ABSTRACT The present thesis evaluated the composition, abundance and spatio-temporal distribution of ichthyoplankton in the lower reaches of the Itapecuru River (Maranhão, Brazil). Samplings occurred quarterly (May 2012 to October 2014) in three environments with distinct hydrological characteristics, along the main channel of the river. The ichthyoplankton was sampled with conical-cylindrical net (300μm), through trawls on the subsurface of the water column. Data were obtained of precipitation, flow, pH, dissolved oxygen, conductivity, salinity, transparency, alkalinity and suspended solids. After sorting and counting of the biological material, the taxonomic characterization of the larvae and the identification of the development stage were made. Spatio-temporal estimates of ichthyoplankton were based on frequency of occurrence and density. Fauna variability was analyzed through ecological descriptors. The spatial-temporal variation of egg and larval density, as well as ecological descriptors, was analyzed through ANOVA and Tukey's posterior test. The distribution of the stages of larval development was evaluated spatially in order to identify possible areas of spawning and growth. To evaluate the differences in the densities of each stage, the protected ANOVA protocol was applied. The similarity between the sampling sites was performed through the Cluster Analysis, using the Bray-Curtis distance, calculated from the data of larval densities. The interaction between biotic and abiotic variables was analyzed from the Redundancy Analysis. The larva assembly was composed mainly of Characiformes (37,16%), Siluriformes (34,27%) and Perciformes (15,39%) of small and medium size, sedentary or short migrations. Of the specimens identified, 12 are larvae of fish species of commercial importance and three are endemic to northeastern Brazil. The densities of eggs and larvae suffered little variation among the sites as they presented major changes over the years. The two environments upstream of the study area (P1 and P2) were more similar in egg density, as well as in the composition, abundance and distribution of larval species, with the presence of typically sweet larvae. On the other hand, in the downstream environment (P3) the exclusive presence of estuarine taxa such as Oligoplites palometa, Centropomus paralelus and Cynoscion acoupa were recorded. The presence of larvae was recorded at all stages of development, with the earliest occurring at point 1. Temporal differences were evidenced, with the highest densities occurring in the months of higher rainfall (January-June). The structure of the larval assembly was related to the set of environmental variables. The points P1 and P2 were characterized by fresh, more transparent waters and slightly higher temperatures, with lower suspended solids content andhigher oxygen concentration, whereas in P3, the water showed to be more turbid and traces of salinity at certain times of the year. The environmental variables that most characterized environments 1 and 2 allowed to separate most of the Characiformes that occurred preferentially in more oxygenated, transparent waters, with higher conductivity and without salinity. These environments were also propitious for the most expressive occurrence of Plagioscion squamosissimus larvae. On the other hand, larvae of Centropomus parallelus, Oligoplites palometa, C. acoupa, Pellona flavipinnis and Engraulidae occurred preferentially in a more turbid environment, with higher solids content, salinity and low transparency (P3). Finally, the analyzes allowed to verify differences in the distribution of eggs and larvae of fish in the section investigated, which were influenced by environmental and temporal conditions. Some species found conditions more favorable to spawning and initial development in the two most preserved environments and more upstream of the study area. Keywords: Ichthyoplankton. Spatial-temporal distribution. Abiotic factors. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Desenho esquemático de caracteres merísticos e morfométricos realizadas em ovos (A), larvas (B) e juvenis (C) das espécies de peixes. Fonte: NAKATANI et al. (2001). .................................................................................. 23 Figura 2 - Esquema representativo dos estágios ontogênicos de uma larva de peixe. Fonte: modificado de NAKATANI et al. (2001)................................................. 26 Figura 3 - Localização da bacia hidrográfica do rio Itapecuru (Maranhão) e sua divisão em Alto, Médio e Baixo Curso. .......................................................................... 38 Figura 4 - Localização dos pontos de amostragem, no Baixo Itapecuru (Maranhão).......... 40 Figura 5 - Vetores de corrente horizontal na superfície da coluna d’água em cada seção transversal do Rio Itapecuru, em Santa Luzia, com representação dos estágios de maré (BM – Baixa-mar; EM – Enchente; PM – Pré-a-mar; e VZ - Vazante) e valores médios nas seções. Fonte: (PETROBRÁS/UFMA, 2014).................................................................................................................... 41 Figura 6 - Vetores de corrente horizontal na superfície da coluna d’água em cada seção transversal do Rio Itapecuru, em São Miguel, com representação dos estágios de maré (BM – Baixa-mar; EM – Enchente; PM – Pré-a-mar; e VZ - Vazante) e valores médios nas seções. Fonte: (PETROBRÁS/UFMA, 2104).................................................................................................................... 42 Figura 7 - Vetores de corrente horizontal na superfície da coluna d’água em cada seção transversal do Rio Itapecuru, em Rosário, com representação dos estágios de maré (BM – Baixa-mar; EM – Enchente; PM – Pré-a-mar; e VZ - Vazante) e valores médios nas seções. Fonte: (PETROBRÁS/UFMA, 2014).... 43 Figura 8 - Procedimento de coleta do ictioplâncton na área de amostragem do Baixo Itapecuru (MA, Brasil), através da rede de plâncton (malha de 300 µm). Foto: James Azevedo (Abril, 2014).............................................................................. 44 Figura 9 - Valores mensais (A) e médios (B) de precipitação pluviométrica, para o período de amostragem (maio de 2012 a dezembro de 2014) e para uma série histórica de intervalo de 10 anos, considerando as estações localizadas nos municípios de Caxias (trecho a montante do perímetro investigado) e São Luís (trecho a jusante). Fonte: Banco de Dados Meteorológicos para Ensino e Pesquisa (BDMEP) – INMET. ........................................................................... 49 Figura 10 - Valores mensais (A) e médios (B) de vazão, para o período de amostragem (maio de 2012 a dezembro de 2014) e para uma série histórica de intervalo de 10 anos, considerando a estação de Itapecuru-Mirim (trecho a montante do perímetro investigado). Fonte: Sistema de Informações Hidrológicas (HidroWeb) da Agência Nacional de Águas – ANA........................................... 50 Figura 11 - Variação mensal das variáveis ambientais no Baixo Itapecuru, durante o período de maio de 2012 a dezembro de 2014. (A) Transparência da água (cm) e sólidos suspensos totais; (B) Temperatura da água (oC) e oxigênio dissolvido (mg/L); (C) pH e salinidade (UPS); (D) alcalinidade (mg/L) e condutividade (µS/cm). ...................................................................................... 52 Figura 12 - Abundância de ovos e larvas de peixes coletados trimestralmente, no período de maio de 2012 a outubro de 2014, no Baixo Itapecuru (Maranhão, Brasil), considerando os dois períodos sazonais (estiagem e chuvoso)........................... 53 Figura 13 - Frequência de ocorrência das espécies de larvas de peixes no Baixo Itapecuru (Maranhão, Brasil) .............................................................................. 56 Figura 14 - Distribuição espacial da densidade de ovos de peixes coletados, trimestralmente, no período de maio de 2012 a outubro de 2014, nos três locais de amostragem: Santa Luzia (A), São Miguel (B) e Rosário (C), no Baixo Itapecuru (Maranhão, Brasil) ................................................................................................................. 57 Figura 15- (A) Densidade média e (B) resultado da ANOVA unifatorial aplicada aos dados de densidade [log10 (x +1)] de ovos coletados, trimestralmente, no período de maio de 2012 a outubro de 2014, no Baixo Itapecuru (Maranhão, Brasil). (quadrados = valor médio; barras = erro padrão)................................... 58 Figura 16- Distribuição temporal de ovos de peixes (A) coletados, trimestralmente, no período de maio de 2012 a outubro de 2014, no Baixo Itapecuru (Maranhão, Brasil) e resultado da ANOVA unifatorial (F) aplicada aos dados de densidade [log10 (x +1)] (B). (quadrados = valor médio; barras = erro padrão). Letras diferentes sobre as barras representam diferenças temporais significativas (Tukey < 0,05). ................................................................................................... 59 Figura 17- Distribuição da densidade dos táxons larvais, amostrados para todo o período (2012 a 2014), no Baixo Itapecuru (Maranhão, Brasil)....................................... 60 Figura 18- Distribuição da densidade dos táxons larvais, identificados em nível específico, amostrados para todo de 2012 a 2014, no Baixo Itapecuru (Maranhão, Brasil), considerando o período hidrológico........................................................................................................... 62 Figura 19- (A) Densidade média e erro padrão e (B) resultado da ANOVA aplicada aos dados de densidade [log10 (x +1)] de larvas coletadas nos anos de 2012 a 2014, no Baixo Itapecuru (Maranhão, Brasil). (quadrados = valor médio; barras = erro padrão). Letras diferentes sobre as barras representam diferenças espaciais significativas (Tukey p<0,05).............................................................. 63 Figura 20- (A, B, C) Distribuição mensal, por ambiente, e (A1, B2, C2) resultado da ANOVA aplicada aos dados de densidade de larvas [log10 (densidade+1)], coletadas no Baixo Itapecuru (MA, Brasil), entre maio de 2012 e outubro de 2014. (quadrados = valor médio; barras = erro padrão). Letras diferentes sobre as barras representam diferenças temporais significativas (Tukey p<0,05)........ 64 Figura 21- Densidade média de larvas de peixes, em diferentes estágios de desenvolvimento registradas nas estações de amostragem, no BaixoItapecuru, entre maio de 2012 e outubro de 2014. Estágios de desenvolvimento larval: LV = larval vitelino; PF = pré-flexão; FL = flexão; FP = pós- flexão................................................................................................................... 65 Figura 22- Distribuição mensal dos táxons larvais, nos diferentes estágios de desenvolvimento registrados entre maio de 2012 e outubro de 2014. Estágios de desenvolvimento larval: LV = larval vitelino; PF = pré-flexão; FL = flexão; FP = pós-flexão.................................................................................................... 66 Figura 23- Variação espacial dos atributos ecológicos calculados para a assembleia de larvas de peixes, no Baixo Itapecuru, no período de maio de 2012 a outubro de 2014. (A) riqueza por número de táxons (S) e índice de riqueza de Margalef (D); (B) diversidade de Shannon (H’) e equitabilidade (J).................. 67 Figura 24- Contribuição de espécies por ordens taxonômicas, para todo o período de amostragem e por período hidrológica................................................................ 67 Figura 25- Variação espacial dos atributos ecológicos calculados para a assembleia de larvas de peixes do Baixo Itapecuru, considerando o período hidrológico. (A) riqueza por número de táxons (S); (B) índice de riqueza de Margalef (D); (C) diversidade de Shannon (H’); (D) equitabilidade (J)........................................... 68 Figura 26- Variação espaço-temporal dos atributos ecológicos calculados para a assembleia de larvas de peixes do Baixo Itapecuru, amostrada entre maio de 2012 a outubro de 2014....................................................................................... 69 Figura 27- Variação espaço-temporal dos atributos ecológicos calculados para a assembleia de larvas de peixes do Baixo Itapecuru, amostrada entre maio de 2012 a outubro de 2014. ..................................................................................... 71 Figura 28- Análise de redundância (RDA) entre as variáveis ambientais (precipitação, vazão, temperatura, pH, transparência, alcalinidade, oxigênio dissolvido, salinidade e sólidos suspensos totais - SST) e as densidades larvais. Táxons em destaque apresentaram correlações significativas com os dois eixos da RDA, retidos para interpretação.......................................................................... 73 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Bacias hidrográficas inseridas na Região Hidrográfica do Atlântico Nordeste Ocidental, com destaque para a Bacia Hidrográfica do Rio Itapecuru....................................................................................................... 36 Tabela 2 - Variáveis abióticas amostradas na área de estudo no Baixo Itapecuru (Maranhão, Brasil), no período de maio de 2012 a outubro de 2014........... 46 Tabela 3 - Composição taxonômica, nome vulgar, importância comercial local (ICL), estratégia reprodutiva (ER), densidade média (larvas/10m3) ± intervalo de confiança (X ± I.C.) e frequência de ocorrência (FO%) das larvas de peixes coletadas, trimestralmente, no período de maio de 2012 a outubro de 2014, no Baixo Itapecuru (MA, Brasil)...................................... 55 Tabela 4 - Resultado da Análise de Redundância (RDA) associando as densidades larvais e as variáveis ambientais amostrados no Baixo Itapecuru, entre maio de 2012 e outubro de 2014.................................................................. 74 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 19 2 REVISÃO DE LITERATURA ......................................................................... 22 2.1 Estudos qualitativos do ictioplâncton: a importância da identificação de ovos e larvas........................................................................................................ 22 2.2 Estudos quantitativos do ictioplâncton: padrões populacionais e variações espaço-temporais.................................................................................................. 27 2.3 O Transporte do Ictioplâncton.......................................................................... 29 2.4 A influência de fatores abióticos sobre ovos e larvas...................................... 30 2.5 A importância da caracterização hidrológica na determinação da ocorrência e distribuição de organismos aquáticos........................................ 34 3 MATERIAL E MÉTODOS............................................................................... 36 3.1 Localização e caracterização da área de estudo.............................................. 36 3.1.1 A Bacia do Rio Itapecuru.................................................................................. 36 3.1.2 O Baixo Curso do Rio Itapecuru e a Área de Amostragem........................... 39 3.1.4 Amostragem dos Dados..................................................................................... 44 3.1.3.1 Material Biológico.............................................................................................. 44 3.1.3.2 Variáveis Ambientais......................................................................................... 45 3.1.3 Análise dos Dados.............................................................................................. 46 4 RESULTADOS................................................................................................... 49 4.1 Variáveis ambientais.......................................................................................... 49 4.2 Composição taxonômica e abundância de ovos e larvas................................ 53 4.3 Distribuição espaço-temporal do ictioplâncton............................................... 57 4.3.1 Ovos.................................................................................................................... 57 4.3.2 Larvas................................................................................................................. 59 4.4 Estágios de Desenvolvimento Larval............................................................... 65 4.5 Índices Ecológicos.............................................................................................. 67 4.6 Estrutura da assembleia larval......................................................................... 70 4.7 Relação com Variáveis Ambientais................................................................... 72 5 DISCUSSÃO....................................................................................................... 75 6 CONCLUSÃO ................................................................................................... 84 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 85 ANEXOS............................................................................................................. 100 19 1 INTRODUÇÃO O Brasil é privilegiado por apresentar uma grande extensão de cursos d’água, detendo as maiores redes hidrográficas do mundo e, consequentemente, as maiores da América do Sul, sendo a Bacia Amazônica a primeira em termos de área de drenagem, seguida pela Bacia do rio Paraná (GALVES et al., 2009). O Estado do Maranhão destaca-se nesse cenário por sua malha hidrográfica de grandes dimensões, cujos rios distinguem-se por serem permanentes e manterem expressivo volume de água durante todo o ano (ALCÂNTARA, 2004). Das bacias perenes, destacam-se as de maior extensão: Mearim (99.920 Km2), Itapecuru (52.972 Km2) e Gurupi (34.775 Km2) (MMA, 2006). De destaque também são os índices alarmantes de degradação ambiental dos corpos aquáticos presentes nesses ambientes, quesofrem com os aglomerados urbanos em sua área de drenagem (SILVA; CONCEIÇÃO, 2011). Dentro desse contexto, o rio Itapecuru, de importância estratégica para o desenvolvimento econômico do Maranhão, tem sofrido acentuadas modificações em suas características em função do manejo inadequado, queimadas, desmatamentos indiscriminados e outras ações antrópicas que provocam a impermeabilidade do solo, erosão de suas margens e assoreamento de seu leito, ocasionando empobrecimento progressivo da biodiversidade de sua bacia hidrográfica, ainda pouco conhecida (ALCÂNTARA, 2004; MMA, 2006; SILVA; CONCEIÇÃO, 2011). Para a região, poucos são os estudos considerando a fauna e a flora (ARANHA, 1997; ARAÚJO et al., 1998; PIORSKI et al., 1998; MMA, 2006; BARROS et al., 2011). Os ecossistemas aquáticos sofrem grave pressão antropogênica em todo o mundo e, como resultado, seus recursos biológicos estão diminuindo rapidamente (DUDGEON et al., 2006; VÖRÖSMARTY et al., 2010). Dessa forma, conhecer e compreender a organização e a distribuição dos organismos numa escala espacial e temporal (ANGERMEIER; WINSTON, 1999; UNDERWOOD et al., 2000; ANDERSON et al., 2005) é essencial para subsidiar hipóteses sobre os processos responsáveis por esse declínio, assim como para definir estratégias e prioridades de conservação. Dentre as pressões sofridas pelos ambientes aquáticos, a poluição das águas, a modificação do fluxo, a destruição e degradação de hábitats e a invasão por espécies exóticas, configuram como as principais ameaças (DUDGEON et al., 2006). Os impactos resultantes podem ser diretamente medidos na biota, onde os peixes estão entre os organismos aquáticos mais ameaçados a nível mundial (COWX; AYA, 2011), principalmente a porção mais 20 vulnerável desse grupo, os ovos e as larvas (BIALETZKI et al., 2008; REYNALTE-TATAJE et al., 2012a, b). O ictioplâncton constitui uma assembleia espacial e temporalmente dinâmica e o sucesso de sua sobrevivência está associado às condições favoráveis ao seu desenvolvimento, destacando-se períodos e locais de desova, crescimento e alimentação, com reflexo no sucesso da manutenção do estoque adulto (RAYNIE; SHAW, 1994; HARE; RICHARDSON, 2014). Um dos elementos chave para a manutenção de populações viáveis de peixes é a reprodução, já que o sucesso das espécies depende do recrutamento. Para a maioria delas, esse processo fisiológico ocorre em ciclos sazonais relacionados às condições ambientais favoráveis que maximizam a fertilização do ovo e o desenvolvimento das larvas (BAUMGARTNER et al., 2008; SUZUKI et al., 2009). A ausência da reprodução durante anos consecutivos ou a falta do estímulo reprodutivo devido às modificações do habitat podem causar a depleção ou mesmo a extinção de estoques naturais (AGOSTINHO et al., 2004). Assim, os principais indicadores de sucesso ou fracasso de desova dos peixes podem ser inferidos através da dinâmica de seus estágios larvais (HOUDE, 1997; HSIEH et al., 2006), constituindo, então, uma importante ferramenta para o estabelecimento de ações de conservação, como o controle dos estoques pesqueiros (KING et al., 2003), ajudando consequentemente na proteção de espécies vulneráveis e/ou ameaçadas (REYNALTE- TATAJE et al., 2008). No Maranhão, poucos são os estudos que consideram as fases iniciais de desenvolvimento dos peixes e, em ambientes continentais, são inexistentes. Para esta região, tem-se registros dos trabalhos de Juras (1983, 1984 e 1985), na área de influência do Consórcio ALUMAR, na Ilha de São Luís, abrangendo as baías de São Marcos (Estreitos dos Mosquitos e de Coqueiros. Rio dos Cachorros, Tauá – Redondo e Porto Grande), do Arraial e de São José; Silveira (2003) que estudou o ictionêuston presente na Zona Econômica Exclusiva da Costa Maranhense; Andrade (2006), que analisou a estrutura do ictioplâncton do estuário do Porto de Icatu; Soares et al (2014a,b) que avaliaram a densidade de larvas do estuário do rio Bacanga. Dessa forma, considerando a importância econômica e ambiental do rio Itapecuru para o Estado do Maranhão, os impactos sofridos ao longo de toda sua extensão e a importância do ictioplâncton no ciclo de vida das espécies de peixes, o presente estudo teve 21 como objetivo geral determinar a composição, a densidade e a distribuição espaço-temporal de ovos e larvas de peixes em uma área do trecho inferior do rio Itapecuru (Maranhão, Brasil) e sua relação à hidrodinâmica ambiental. A hipótese central desse estudo é que ocorrem diferenças na distribuição espaço-temporal comunidade ictioplanctônica em função da influência dos fatores abióticos e da da heterogeneidade do habitat. Como objetivos específicos, buscou-se: (i) determinar a composição do ictioplâncton; (ii) analisar a variação espacial e temporal de ovos e larvas; (iii) verificar a influência de variáveis ambientais (temperatura, precipitação pluviométrica, vazão, oxigênio dissolvido, transparência da água, alcalinidade, sólidos em suspensão, condutividade elétrica, pH e salinidade) sobre a abundância destes organismos; (v) identificar possíveis sítios de desova e áreas de berçário . 22 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Estudos qualitativos do ictioplâncton: a importância da identificação de ovos e larvas Os primeiros estudos sobre o ictioplâncton eram realizados como forma de auxiliar no entendimento das variações dos estoques pesqueiros e da dinâmica populacional das espécies de interesse comercial (BORGES et al., 2003). Contudo, observou-se a falta de informações que pudessem subsidiar as relações de causa e efeito entre as populações larvais e adultas. Nesse sentido, as pesquisas se diversificaram, incluindo, entre outras abordagens, o estudo do desenvolvimento larval (RÉ, 1999; NAKATANI et al., 2001; BIALETZKI et al. 2008) e a associação com variáveis ambientais (ARAÚJO-LIMA et al., 1998; HUMPHRIES; LAKE, 2000; WERNER, 2002; REYNALT-TATAJE et al., 2013), contribuindo de maneira mais substancial para o entendimento das variações espaço-temporais de abundância e diversidade (SILVA, 2014) e permitindo o uso multi e interdisciplinar do ictioplâncton nas mais diversas abordagens, desde a ecológica à avaliação de impactos ambientais. Um dos maiores entraves no estudo desses organismos é a identificação taxonômica, considerada tarefa difícil e complexa, principalmente por conta da grande similaridade morfológica encontrada nos primeiros estágios de desenvolvimento das diferentes espécies e pela carência de chaves de identificação para as formas larvais. Essa dificuldade torna-se maior quando se trata de espécies dulcícolas em comparação com as marinhas, cujo conhecimento é consideravelmente superior, em grande parte devido à maior quantidade de espécies (NAKATANI et al., 2001). Há cerca de 8.500 espécies de peixes de água doce e aproximadamente 6.000 ocorrem em ambientes continentais da América do Sul (FROESE; PAULY, 2007), sendo Characiformes e Siluriformes as duas ordens mais abundantes. Em ambientes marinhos, Perciformes é o maior e mais diversificado grupo, com minoria em água doce. A maioria das publicações, incluindo descrições, chaves e ilustrações, compreendem principalmente o território Norte-Americano (DITTY, 1989; RICHARDS, 2005), o Europeu (RÉ, 1999) e o Australiano (LEIS; TRNSKI, 1989). No Brasil, destacam-se o trabalho pioneiro de Araújo-Lima e Donald (1988), e os estudos de Barletta-Bergan (1999) e Nakatani et al. (2001). Do ponto de vista taxonômico, a identificação de ovos e larvas de peixes baseia-se em caracteres morfométricos e merísticos (Figura 1) (KENDALL Jr. et al., 1984; NAKATANI et al., 2001) e Dunn (1983) ressalta ainda a importância da caracterização 23 osteológica numa perspectiva ontogênica, como ferramenta na identificação e análise filogenética. A identificação de ovos torna-se mais complicada ainda por termenos informações disponíveis, ficando na maioria das vezes apenas na categoria “ovos”. As principais características utilizadas na sua identificação são: (i) diâmetro do ovo; (ii) estrutura e diâmetro do vitelo; (iii) presença e distribuição de gotículas de óleo (pouco frequentes em espécies de água doce); (iv) tamanho do espaço perivitelino; e (v) a forma e a cor dos ovos vivos (NAKATANI et al., 2001). Figura 1. Desenho esquemático de caracteres merísticos e morfométricos realizadas em ovos (A), larvas (B) e juvenis (C) das espécies de peixes. Fonte: NAKATANI et al. (2001). 24 Quanto às larvas, a primeira tentativa para a identificação deve ser o enquadramento em ordem ou família, baseando-se em sua forma e aparência. Em seguida, podem ser utilizados o formato e a posição de estruturas anatômicas, como olhos, boca e nadadeiras, localização da abertura anal, presença de espinhos e outros processos, assim como o padrão de pigmentação, um dos caracteres mais utilizados para o reconhecimento de gêneros e espécies (MILLER; KENDALL JR., 2009). O número de miômeros está diretamente relacionado ao número de vértebras dos adultos e por causa da sua constância ao longo do período larval, podem ser utilizados como número total e parcial (pré e pós-anal), inclusive servindo como referência na posição de estruturas (KELSON et al., 2012). Já o número de raios, a posição e o desenvolvimento das nadadeiras e sua composição (raios moles e duros) também são importantes caracteres, pois ao final do período larval estas estruturas se encontram desenvolvidas e podem ser facilmente comparadas as dos adultos. Alguns trabalhos de taxonomia larval tem se baseado no método geométrico de análise da forma para as diferentes fases de desenvolvimento (CAVICCHIOLI et al., 1997; STRAUSS; BOOKSTEIN, 1982; STRAUSS; FUIMAN, 1985). A morfometria descreve a forma do corpo, como por exemplo, associando a altura do corpo e o comprimento da cabeça. Muitos caracteres morfométricos são alométricos, isto é, as larvas mudam sua forma conforme crescem, e esses caracteres muitas vezes são descritos como proporções ou porcentagem de uma estrutura em relação a outra (por exemplo, o diâmetro do olho em relação ao comprimento da cabeça) (KELSO et al., 2012). Mais recentemente, outras metodologias tem sido utilizadas para auxiliar na identificação de ovos e larvas, tais como genética bioquímica e molecular, eletroforese e uso de DNA-mitocondrial (“DNA barcoding”) (MILLER; KENDALL JR., 2009; VALDEZ- MORENO et al., 2010; MATARESE, 2011). Apesar de todas essas ferramentas, o número de espécies descritas ainda é muito reduzido. Assim, na ausência de informações, a identificação se dá pela análise de sequências regressivas das fases de desenvolvimento, a partir da forma juvenil conhecida (NAKATANI et al., 2001). Para a identificação dos estágios de desenvolvimento larvais, a terminologia é variada, mas todas convergem na sistematização dos estudos, buscando categorizar o processo de desenvolvimento, o que nem sempre é fácil pela dificuldade em caracterizar um processo dinâmico (KELSON et al., 2012). Dessa forma, a classificação quanto à ontogenia é baseada na presença ou ausência do saco vitelínico, do estado de flexão da notocorda e do desenvolvimento da nadadeira caudal e seus elementos de suporte, sendo empregados quatro 25 estágios de desenvolvimento: (i) larval vitelino (LV); (ii) pré-flexão (PF); (iii) flexão (FL); e (iv) pós-flexão (FP) (AHLSTROM; MOSER, 1976; KENDALL JR et al, 1984; NAKATANI et al., 2001). (i) Larval vitelino - estágio de desenvolvimento compreendido entre a eclosão e o início da alimentação exógena; neste estágio boca e ânus encontram-se fechados e olhos parcialmente pigmentados ou sem pigmentos (Figura 2a); (ii) Pré-flexão - estágio de desenvolvimento que se estende desde o início da alimentação exógena até o início da flexão da notocorda. Neste estágio o olho está pigmentado, boca e ânus abertos e a notocorda não está flexionada, ou seja, não possui ainda a formação dos ossos hipurais e raios da nadadeira caudal (Figura 2b); (iii) Flexão - estágio de desenvolvimento que se caracteriza pelo início da flexão da notocorda, com o aparecimento dos elementos de suporte da nadadeira caudal (ossos hipurais), até a completa flexão da mesma, aparecimentos do botão da nadadeira pélvica e início de segmentação dos raios das nadadeiras dorsal e anal (Figura 2c, d); (iv) Pós-flexão - estágio de desenvolvimento que se caracteriza pela completa flexão da notocorda, aparecimento do botão da nadadeira pélvica e início de segmentação dos raios das nadadeiras dorsal e anal até a completa formação dos raios da nadadeira peitoral, absorção da nadadeira embrionária e o aparecimento de escamas (Figura 2d). 26 Figura 2. Esquema representativo dos estágios ontogênicos de uma larva de peixe. (a) Larval-vitelino; (b) pré- flexão (PF); (c) início de flexão (FL); (d) final da flexão; (e) início da pós-flexão (FP). Fonte: modificado de NAKATANI et al. (2001). 27 2.2 Estudos quantitativos do ictioplâncton: padrões populacionais e variações espaço- temporais A ocorrência de ovos e larvas de peixes no plâncton mostra uma sequência estacional dependente da interação de diversos fatores, bióticos e abióticos, com reflexo nos padrões de abundância e distribuição espaço-temporal das comunidades ictioplanctônicas (WERNER, 2002; GUICHARD et al., 2004; SASSA et al., 2004; WANNER et al., 2011). Tal fato faz com que os primeiros estágios de desenvolvimento dos peixes configurem-se como uma fase crítica no ciclo de vida destes organismos, por serem considerados fatores responsáveis pelas flutuações populacionais no recrutamento das espécies (MILLER et al., 1988; HOUDE, 1989; SILVA, 2012). Dentre os fatores bióticos, a atividade reprodutiva de cada espécie, a disponibilidade de alimentos e a predação são tidos como os principais agentes de variabilidade nas populações ictioplanctônicas (BALON, 1984; LOWE-MCCONNELL, 1999). A maioria das espécies de peixe apresenta uma periodicidade sazonal na reprodução, relacionada às condições favoráveis que maximizam a fecundação e o desenvolvimento de sua prole (BALON, 1984a; AGOSTINHO et al., 2004). Assim, a variabilidade de táticas reprodutivas que modelam a estratégia adotada por cada espécie é essencial para o sucesso da coorte. Como exemplo, muitas espécies realizam migrações durante o período reprodutivo, buscando locais apropriados para liberar seus gametas e permitir a fertilização dos mesmos (AGOSTNHO et al., 2007b; OLIVEIRA; FERREIRA, 2002; PAVLOV et al., 2008; TAGUTI, 2011). Da mesma forma, o tipo e o período de desova e o tipo de ovo habilitam os peixes a residirem em diferentes habitats (LOWE- MCCONNELL, 1999; RIZO, et al., 2002). A disponibilidade de alimentos também pode incidir nas variações das populações larvais. A passagem da alimentação endógena para a exógena (SINCLAIR, 1997; SANTIN et al., 2004; OLIVERIA et al., 2012), ou ainda os “thresholds”, segundo a teoria saltatória (BALON, 1984b). Essa teoria descreve que o desenvolvimento larval constitui uma sequência longa de etapas estáveis que são interrompidas por uma rápida alteração no seu desenvolvimento, caracterizando uma fase de metamorfose larval. No entanto, essa fase de metamorfose só é significativa se puder ser associada a algum fator de alteração morfológica, fisiológica, ecológica ou comportamental da espécie (KOVÁC et al., 1999). Por exemplo, 28 Oliveira et al. (2012) verificaram que grandes mudanças morfológicas ocorreram no estágio de flexão e na transição para pós-flexão em larvas de Brycon hilarii. Essas transformações, (como por exemplo, a flexão da notocorda, a formação dos raios das nadadeiras e o maior desenvolvimento muscular), juntas, propiciam um corpo mais aptopara maior atividade natatória e busca de alimento. Ainda nessa perspectiva, Cushing (1990) argumentou, através da hipótese “match/mismatch”, que a taxa de sobrevivência larval é aumentada quando ocorre sincronia entre o ciclo de produção planctônica e o período da primeira alimentação exógena. Alguns estudos tem encontrado correlações significativas entre densidades larvais e de fito e zooplâncton em ambientes de diferentes estados tróficos (LIMA; ARAÚJO-LIMA, 2004; PECK et al., 2012; REYNALTE-TATAJE et al., 2013; PICAPEDRA et al., 2015). Aliada à alimentação, a predação surge como mais um fator biótico ligado à mortalidade larval (MILLER et al.; 1988; GERKING, 1994). Esta interação está associada à sobrevivência das larvas e a sua capacidade de encontrar, capturar e ingerir o alimento de modo a melhorar a condição física, aumentar o crescimento e evitar a morte por inanição. Assim, as larvas maiores e bem alimentadas poderão conseguir evitar mais eficazmente a predação (NEILSON et al. 1986; MILLER et al. 1988; MOROTE et al. 2010). Resultados dos estudos de Paradis et al. (1996) e Faria et al. (2001) demonstraram picos de abundância do ictioplâncton seguido por picos de densidade de predadores. As variáveis abióticas podem afetar indiretamente a comunidade de peixes, influenciando nas respostas fisiológicas e comportamentais dos organismos e/ou, diretamentamente, afetando os padrões de distribuição e abundância das espécies (VAZZOLER et al., 1997; REYNALTE-TATAJE et al., 2013). Variáveis como regime pluviométrico, ciclos de maré, ventos, correntes, fotoperíodo, temperatura, pH, vazão, oxigênio dissolvido, transparência, dentre outros, podem levar a variações sazonais na ocorrência, densidade e crescimento dos peixes nos primeiros estágios de vida (HUMPHRIES et al., 1999; AGOSTINHO et al., 2004; BAUMGARTNER et al., 2008; ZACARDI, 2015). Existe a percepção de que, para as espécies neotropicais, a variação do nível da água e da vazão sincroniza eventos biológicos como maturação gonadal, migração e desova (HARRIS; GEHRKE, 1994; HUMPHRIES et al., 1999). Para alguns pesquisadores, a desova independe do aumento do fluxo, sendo que os benefícios da inundação para o sucesso da reprodução seriam indiretos, pelas vantagens que as larvas e juvenis teriam com o ingresso de nutrientes e aumento do número de refúgios (HUMPHRIES et al., 1999). 29 Apesar das tendências gerais existentes para a comunidade de peixes, as diferenças entre as estratégias reprodutivas, presentes dentro de uma mesma comunidade, permitem que as populações apresentem diferentes respostas às variáveis ambientais ao nível regional (REYNALTE-TATAJE et al., 2013). 2.3 O Transporte do Ictioplâncton Em virtude da não mobilidade dos ovos e da baixa capacidade natatória das larvas nos estágios bem iniciais de desenvolvimento, os processos físicos, como as correntes, são responsáveis quase que exclusivamente pelo transporte do ictioplâncton dos locais de desova para áreas de berçário, o que contribui para o recrutamento e consequente sucesso reprodutivo dos peixes (BENNET; MOYLE, 1996; MORIYAMA et al., 1998). Harden-Jones (1968), pioneiro em investigar o transporte ictioplanctônico como um dos processos chaves no recrutamento dos peixes, discutiu o sistema denominado “triângulo da migração”, dividindo-o em três segmentos básicos: as áreas de desova, de crescimento e de recrutamento do estoque adulto. O ciclo pode iniciar com o deslocamento passivo dos ovos e larvas das áreas de desova às áreas de crescimento; neste momento os indivíduos dependem das correntes; o ciclo segue com o recrutamento, que consiste no processo de incorporação dos juvenis ao estoque adulto, caracterizado pela natação livre (contracorrentes). Completando o ciclo, com o deslocamento ativo dos adultos em direção às áreas de desova. Vaz (2005) ressalta que durante o processo de transporte das áreas de desova aos locais de crescimento eventualmente podem ocorrer falhas, que podem levar à dispersão e morte das larvas. Miller (1988) divulgou a teoria sobre o transporte de acordo com a fase da maré, conhecida como “tidal stream transport” (TST) e sobre o transporte independente da seleção das correntes de maré. Neste último caso, de acordo com Boehlert e Mundy (1988) e Churchill et al. (1999) o indivíduo pode influenciar no seu transporte e, o estágio de desenvolvimento larval e o poder natatório proporcionam habilidades para alterar a posição do indivíduo na coluna d’água. O “tidal stream transport” tem sido evidenciado nos estudos de Rowe e Epifanio (1994), onde os autores observaram que as larvas descem antes ou no final da maré enchente e são menos abundantes na coluna da água durante a maré vazante. As pesquisas que buscam relacionar o transporte do ictioplâncton com a hidrodinâmica são desenvolvidas, sobretudo em ambientes costeiros, como lagoas, baías e estuários (BECK et al., 2001; SANVICENTE-ANÕRVE et al., 2003; CHIAPPA-CARRARA et al., 2003). 30 2.4 A influência de fatores abióticos sobre ovos e larvas A relação de fatores abióticos com a ocorrência e distribuição de ovos e larvas de peixes tem sido amplamente demonstrada em vários estudos (HUMPHRIES et al., 1999). Tais fatores podem agir (ou agem) como desencadeadores da reprodução. Sendo assim, é possível afirmar que certas mudanças ambientais podem delimitar o período e o sucesso reprodutivo na maioria dos peixes (VAZZOLER, 1996). As variáveis ambientais podem afetar indiretamente a comunidade de peixes, influenciando nas respostas fisiológicas e comportamentais dos organismos e, diretamente, afetando os padrões de distribuição e abundância das espécies (VAZZOLER et al., 1997; REYNALTE-TATAJE et al., 2007). Poucos fatores desempenham tanta influência sobre os peixes como a temperatura (PULGAR et al., 2003; REBOUÇAS et al., 2014). É um parâmetro de extrema importância, sobretudo em regiões temperadas e subtropicais, que se caracterizam por flutuações sazonais marcantes na temperatura da água (VAZZOLER, 1996; SULIS-COSTA et al., 2013). Considerado um fator limitante (VAZZOLER, 1996; GHIRALDELLI et al., 2007), a temperatura influencia o ciclo reprodutivo e o crescimento dos peixes (HUMPHREY et al., 2003), a eficiência do consumo do saco vitelino (HEMING; BUDDINGTON, 1988) e as taxas de mortalidade. A capacidade adaptativa dos indivíduos à temperatura depende da espécie, do estágio de desenvolvimento e da amplitude térmica. Em geral, as variações súbitas da temperatura implicam na redução do oxigênio dissolvido na água e no aumento do seu consumo, devido à aceleração do metabolismo (VAZZOLER, 1996; KOUMOUNDOUROS et al., 2001). Em baixas temperaturas, o metabolismo dos peixes é muito reduzido não havendo crescimento e, dependendo dos limites letais da espécie, pode ocorrer mortalidade. Já uma elevação da temperatura da água pode ocasionar maior crescimento, mas a partir de certo limite, a depender da espécie, pode levar também à mortalidade dos peixes (BALDISSEROTTO, 2009). Segundo Campana et al. (1996), a temperatura é um elemento controlador do crescimento, por afetar de forma direta as taxas metabólicas, o consumo de oxigênio, a alimentação e a digestibilidade. Os eventuais efeitos da temperatura nesses animais são mais notáveis durante as fases de rápido crescimento larval e juvenil (MARTELL et al., 2005). Para a ictiofauna marinha, a temperatura e a salinidade são dois fatores que 31 agem juntos e têm papel fundamental no período de incubação e eclosão de ovos de muitas espécies. O efeito é mais pronunciado nas espécies que vivem em locais rasos e propensos a mudanças ambientais constantes, já que as mudanças na temperatura podem ampliar ou reduzir a faixa de salinidade de um determinado local (NISSLING et al., 2006). Mihelakakis e Kitajima (1994) testaram em laboratório o efeito de12 salinidades e 6 temperaturas nas mais diversas combinações, sobre vários aspectos de incubação e eclosão de ovos de Sparus sabra e encontraram condições ideais de eclosão dos ovos na combinação de temperatura entre 18 e 22°C e salinidade na faixa de 24 a 38%. Uma consequência importante decorrente do aumento da temperatura é a mudança de solubilidade dos gases na água, principalmente o oxigênio, que apresenta naturalmente uma redução na sua capacidade de solubilização com a elevação da temperatura (SCHMIDT--NIELSEN, 2002). O trabalho de Wu et. al (2003) demonstra que a exposição à hipóxia pode ser considerada um disruptor endócrino à reprodução em peixes por diminuir a concentração de testosterona, estradiol e hormônio estimulador da tireóide (TSH) em Cyprinus carpio, com consequente redução de liberação de gametas, taxa de fertilização e sobrevivência larval. Além da temperatura, o aumento de resíduos orgânicos também afeta a solubilidade do oxigênio na água, em virtude da decomposição pela microbiota aeróbia, com efeitos na sobrevivência das larvas (LINO, 2003). Alguns autores afirmam que o fotoperíodo é o sinal principal e mais livre de interferência para a sincronização da reprodução em teleósteos, agindo como um gatilho, principalmente em animais de clima temperado (MIGAUD et al., 2010), porém, sendo altamente variável entre espécies (GWINNER, 1986). Desde a década de 80 estudos tem mostrado que a temperatura e o fotoperíodo afetam a secreção e a capacidade de resposta de órgãos-alvo aos hormônios gonadotrópicos (hormônio luteinizante - LH e hormônio folículo-estimulante - FSH), tanto em peixes de clima temperado quanto tropical (MUNRO et al., 1990; FRAILE et al., 1994). Nas espécies de regiões temperadas que desovam na primavera ou início do verão, o crescimento gonadal é estimulado por um fotoperíodo longo, geralmente em combinação com altas temperaturas, como no caso de carpas, já nas espécies que desovam no outono ou início do inverno, o crescimento gonadal é estimulado por uma diminuição do fotoperíodo, como para a maioria dos salmonídeos (BALDISSEROTTO, 2002). O pH é um parâmetro considerado como um dos mais importantes para a 32 caracterização de ambientes aquáticos, sendo também, ao mesmo tempo, um dos mais difíceis de interpretação, devido ao grande número de fatores que podem influenciá-lo (ESTEVES, 1998), por isso grande parte das informações sobre a influência do pH nos peixes é proveniente de estudos sobre cultivo (REYNALTE-TATAJE et al., 2015). Alterações bruscas de pH (pH < 5 ou pH > 9) podem prejudicar a sobrevivência de espécies aquáticas e produzir alterações histológicas, que afetam o crescimento e o desenvolvimento dos peixes (FERREIRA; NUÑER; ESQUIVEL, 2001). Níveis de pH ácidos (entre 4 e 5, principalmente) diminuem a taxa de fertilização e mortalidade dos ovos (JEZIERSKA; BARTNICKA, 1995), além de atraso no desenvolvimento dos embriões que sobrevivem e do aumento da incidência de deformações na notocorda (OYEN et al, 1995). Da mesma forma, níveis de pH (entre 8 e 10,5) levam a uma redução da viabilidade dos ovos, com aumento de deformidades nas larvas (JEZIERSKA; BARTNICKA, 1995). O pH também pode produzir alterações histológicas, que afetam o crescimento e o desenvolvimento dos peixes. Essas alterações já foram observadas em vários órgãos, como brânquias, cavidades nasais, olhos, cérebro, coração, intestino, bexiga natatória e fígado de alevinos de muitas espécies expostas a pH alcalino (10,2-10,3) e no saco vitelino em pH ácido (OSTASZEWSKA et al., 1999). Kuegel et al. (1990) registraram diminuição da eclosão dos ovos de truta arco-íris (Oncorhynchus mykiss) e de truta-marrom (Salmo trutta), causada pela redução da permeabilidade da membrana coriônica, que impedia a saída da larva de dentro do ovo, quando submetido a valores baixos de pH. Reynalte-Tataje et al. (2015), estudando o efeito do pH sobre a incubação de ovos e larvicultura de Prochilodus lineatus verificaram que quatro horas depois de iniciada a incubação, todos os ovos morreram em pH 5,0. Em pH 6 ovos e larvas apresentaram, respectivamente, diâmetro e comprimento total inferiores aos incubados em pH neutro e alcalino. Estudos tem demonstrado que, em ambientes neotropicais, as espécies de peixes tem apresentado certa preferência por ambientes com pH entre 6 e 8 (LOPES et al., 2001; TOWNSEND; BALDISSEROTTO, 2001; BAUMGARTNER et al., 2008), embora essa tendência possa variar entre espécies e entre os diferentes estágios do ciclo de vida (FERREIRA et al., 2001; PARRA; BALDISSEROTTO, 2007). Peixes tropicais tendem a desovar continuamente ao longo do ano ou apresentam picos associados à estação chuvosa. Por exemplo, em tuvira, Eigenmannia 33 virescens, uma combinação de simulação de chuva, aumento do nível da água e diminuição da condutividade induzem a uma completa gametogênese e desova, fato que não ocorre caso os parâmetros sejam testados individualmente. Para outras espécies tropicais como Pimelodus maculatus, Piaractus mesopotamicus, P. macropomum, Colossoma macropomum dentre outras espécies tropicais, a chuva parece ter papel decisivo na maturação final e desova (BALDISSEROTTO, 2002). Existe a percepção de que, para as espécies neotropicais, a variação do nível da água e da vazão sincroniza eventos biológicos como maturação gonadal, migração e desova (HARRIS; GEHRKE, 1994; HUMPHRIES et al., 1999). Para alguns pesquisadores, a desova independe do aumento do fluxo, sendo que os benefícios da inundação para o sucesso da reprodução seriam indiretos, pelas vantagens que as larvas e juvenis teriam com o ingresso de nutrientes e aumento do número de refúgios (HUMPHRIES et al., 1999). Nas pisciculturas, diversas espécies nativas da bacia do Prata apresentam maturação gonadal durante a primavera e verão, independentemente de mudanças de vazão e nível da água no seu ambiente de cultivo (REYNALTE-TATAJE et al., 2007). Entretanto, são poucas aquelas que conseguem encontrar estímulos para desovar em ambientes confinados. No ambiente natural, Vazzoler et al. (1997) verificaram para as espécies do alto rio Paraná, uma correlação positiva entre a intensidade reprodutiva e o fotoperíodo e a temperatura da água, não sendo obtida nenhuma correlação monotônica com o nível da água. A maior parte da literatura disponível sobre as estratégias reprodutivas das espécies migradoras menciona que a ocorrência de cheias estimula a atividade reprodutiva das espécies desse grupo, já que permite o aumento da área alagada e facilita o desenvolvimento de ovos e larvas (AGOSTINHO et al., 2004). A maior atividade reprodutiva de Prochilodus lineatus, quando os valores de vazão e nível da água aumentam, tem sido registrada por vários autores (AGOSTINHO; ZALEWSKI, 1995; AGOSTINHO et al., 2004), que consideram que nas grandes enchentes, as espécies detritívoras são favorecidas pela expansão da água, por permitir a inundação da vegetação e o ingresso de uma considerável quantidade de matéria orgânica. Na Bacia Amazônica, o período de enchente dos rios é fundamental para a atividade reprodutiva de muitas espécies de peixes, principalmente dos Characiformes e Siluriformes migradores (ARAÚJO-LIMA, 1984). Nesta fase do ciclo hidrológico, muitas espécies deslocam-se dos tributários até a calha dos rios principais para desovarem. Um modelo bem conhecido de reprodução dos peixes migradores da Amazônia é proposto por 34 Goulding (1980), no qual os peixes saem anualmente dos lagos, igarapés e rios de águas pobres para desovarem em ambientes considerados ricos em nutrientes. Apesar das tendências gerais existentes para a comunidade de peixes, as diferenças entre as estratégias reprodutivas, presentes dentro de uma mesma comunidade, permitem que as populações apresentem diferentes respostas as variáveis ambientais ao nívelregional. Ainda que as medidas físicas e químicas da coluna d’água retratem o “status” de um ecossistema, o ideal é a associação destas aos parâmetros biológicos (CALLISTO et al., 2004; POMPEU et al., 2005). 2.5 A importância da caracterização hidrológica na determinação da ocorrência e distribuição de organismos aquáticos O regime hidrológico é destacado como um dos fatores que garantem a manutenção e governam o funcionamento dos ecossistemas (POSTEL; RICHTER, 2003). Alterações na hidrodinâmica podem implicar também em alterações na composição, estruturação e distribuição da biota aquática. Os rios são ecossistemas abertos, onde interage a tríade atmosfera-água-terra. Os componentes de entrada (vazão de entrada, escoamento lateral, precipitação, infiltração e os rios efluentes) e de saída (vazão escoada; evaporação, evapotranspiração e o fluxo nos rios influentes) resumem as principais situações de movimento da água associado ao escoamento nos períodos chuvosos e de estiagem. Destaca-se a importância das dimensões espacial (vertical, longitudinal e lateral) e temporal, devendo ser observadas mudanças físicas, químicas e biológicas, processos hidrológicos e geomorfológicos, ocasionados por fenômenos naturais ou por intervenção humana (PETTS, 2000; BROWN; PASTERNACK, 2008; HU et al., 2008). Na dimensão longitudinal do rio, observa-se o conceito de “Contínuo Fluvial” proposto por Vannote et al. (1980), que considera dentre outros aspectos, a contínua mudança nas condições ambientais do fluxo de primeira ordem para ordens superiores, dividindo o rio em três regiões geomorfológicas distintas: (i) região de nascente ou superior, onde a declividade não é muito grande e há alta contribuição terrestre de sedimentos orgânicos; (ii) médio curso, de grande declividade, mais relacionado com a produção de algas e plantas aquáticas; 35 (iii) e proximidade da foz, baixo curso ou trecho inferior, no qual a declividade é pequena e o rio tende a meandrar. Nessa região, há grande alteração na turbidez, devido à carga elevada de sedimentos procedentes de montante. Além disso, nessa região, os rios sofrem influência das variações de ciclos de marés dos oceanos, atuando nas marés cheias como uma barreira ao fluxo natural do rio no sentido montante para jusante, podendo, dessa forma, provocar alterações nos parâmetros físicos e químicos do ambiente (CUNHA et al., 2011). Nas dimensões lateral e vertical do rio, aspectos geomorfológicos dos solos e ações antrópicas (RENSCHLER et al., 2007), como poluição e desmatamento na mata ciliar, são fortes influenciadores na qualidade e quantidade da água. 36 3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1 LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO 3.1.1 A Bacia do Rio Itapecuru A bacia do rio Itapecuru está inserida na Região Hidrográfica do Atlântico Nordeste Ocidental (Tabela 1), sendo de domínio estadual, uma vez que seus limites se iniciam e terminam dentro do Estado do Maranhão (MMA, 2006). Considerada a segunda maior bacia genuinamente maranhense, situa-se na parte centro-leste do Estado, entre as coordenadas 2º51’ a 6º56’ S e 43º02’ a 43º58’ W (Figura 3), abrangendo uma área de 53.216,84 Km2, cerca de 16% do território. Limita-se ao sul e a leste com a bacia do rio Paranaíba, a oeste e sudeste com a bacia do Mearim e a nordeste com a bacia do Munim. Tabela 1. Bacias hidrográficas inseridas na Região Hidrográfica do Atlântico Nordeste Ocidental, com destaque para a Bacia Hidrográfica do Rio Itapecuru. Regiões Hidrográficas (PNRH/MMA- ANA,2006) Bacias Hidrográficas do Maranhão Área (Km2) Porcentagem (%)sobre a área estadual REGIÃO HIDROGRÁFICA DO ATLÂNTICO NORDESTE OCIDENTAL Sistema Hidrográfico do Litoral Ocidental 10.226,22 3,08 Sistema Hidrográfico das Ilhas Maranhenses 3.604,62 1,09 Bacia Hidrográfica do Rio Mearim 99.058,68 29,84 Bacia Hidrográfica do Rio Itapecuru 53.216,84 16,03 Bacia Hidrográfica do Rio Munim 15.918,04 4,79 Bacia Hidrográfica do Rio Turiaçu 14.149,87 4,26 Bacia Hidrográfica do Rio Maracaçumé 7.756,79 2,34 Bacia Hidrográfica do Rio Preguiças 6.707,91 2,02 Bacia Hidrográfica do Rio Periá 5.395,37 1,62 Fonte: SOARES et al. (2016). O rio Itapecuru, que dá nome à bacia, nasce dentro do Parque Estadual do Mirador (sul do Maranhão), no sistema formado pelas serras de Croeiras, Itapecuru e Alpercatas, em altitudes em torno de 500m. Percorre cerca de 1.050 km de extensão, distribuída em terrenos baixos e de suaves ondulações, até desembocar na baía de São 37 José/Arraial (Oceano Atlântico), ao sul da Ilha de São Luís, capital maranhense (MARANHÃO, 2002; ALCÂNTARA, 2004). De importância estratégica, foi fundamental no povoamento de diversas cidades do interior devido a sua fácil navegabilidade, servindo de via de acesso para o desenvolvimento do comércio no Maranhão (SILVA; CONCEIÇÃO, 2011). Atualmente, é responsável pelo abastecimento de 75% da população de São Luís (SILVA; CONCEIÇÃO, 2011). Fisicamente, o Rio Itapecuru foi segmentado em três regiões distintas, de acordo com as suas características da rede de drenagem, compartimentação e das formas de relevo da bacia: Alto Curso, Médio Curso e Baixo Curso (MEDEIROS, 2001; ALCÂNTARA, 2004) (Figura 3). O Alto Itapecuru corresponde ao trecho entre a nascente, na serra de Croeiras (Mirador), até a cidade de Colinas, com uma extensão de aproximadamente 320 km. Possui poucos metros de largura (variando de 5m a 25m) e profundidade média de 1,5m. Neste trecho, a presença de declives mais fortes, caracteriza-o como rio de planalto. O Médio Itapecuru inicia-se no município de Colinas e vai até Caxias, em um percurso de cerca de 230 km. Nesta área, predomina o relevo de chapadas baixas. O Baixo Itapecuru se estende de Caxias até a foz na Baía do Arraial, com aproximadamente 360 km (ALCÂNTARA, 2004; MMA, 2006). 38 Figura 3. Localização da bacia hidrográfica do rio Itapecuru (Maranhão) e sua divisão em Alto, Médio e Baixo Curso. A bacia do Itapecuru abrange porções de diferentes ecossistemas, predominando a Floresta de Transição, entre os biomas Amazônico e Cerrado, Floresta Estacional Decidual (Mata dos Cocais) e Cerrado (MMA, 2006). As características das águas do Itapecuru são influenciadas pelos trechos por onde passam. Dessa forma, águas claras e límpidas são encontradas no alto curso, uma vez que corta sedimentos predominantemente arenosos; a partir dessa região, o Itapecuru atravessa sedimentos argilosos e siltosos, conduzindo grande concentração de sedimentos em suspensão. No trecho entre Colinas e Itapecuru-Mirim, as águas apresentam-se turvas e um pouco escuras, com presença de grandes quantidades de sedimentos. Após o município de Rosário, nas proximidades da foz do Itapecuru, as águas são lamacentas e salobras pela influência das águas oceânicas (MMA, 2006). 39 Além disso, o desmatamento de suas margens contribui para o aceleramento dos processos erosivos. No período de seca, ocorre uma intensa ocupação das margens do Itapecuru pelos pequenos agricultores rurais, a jusante de Caxias. Essa preparação das terras envolve não só a remoção da mata ciliar, mas também seu destino para o leito do rio, o que contribui para o assoreamento do canal. Dessa forma, somente as margens rochosas constituídas de lajes não são erodidas pela ação humana (SILVA; CONCEIÇÃO, 2011). O clima da região é classificado como chuvoso, quente e úmido, com média anual de precipitação em torno de 1.790mm e umidade relativa do ar acima de 80% (ANA, 2005). A dominância é do regime fluvial tropical, explicado pela existência de uma estação de águas abundantes (cheia), de janeiro a maio/junho, e outra de águas escassas (seca/estiagem), de julho a dezembro. A temperatura média anual é de 27ºC, com baixa amplitude térmica anual,característica das regiões intertropicais (MMA, 2006). 3.1.2 O Baixo Curso do Rio Itapecuru e a Área de Amostragem O Baixo Curso do Itapecuru apresenta as menores declividades encontradas ao longo do rio, o que influencia a velocidade da água, que corre mais tranquilamente, caracterizando-o como um rio de planície. Nessa porção, passa a ser mais piscoso e, nas proximidades da cidade de Rosário, observa-se a mistura de água doce/água salgada (cunha salina), influenciando a fauna e flora. Ao longo da bacia, o relevo vai se aplainando apresentando, no baixo curso, altitude máxima de 50m, o que favorece o alagamento de suas margens em períodos de alta precipitação fluviométrica (MMA, 2006). Atualmente, no baixo curso do Itapecuru, localiza-se a concentração industrial mais significativa do Estado, em função da existência do Distrito Industrial de São Luís e dos projetos minero-metalúrgicos da Vale e da ALUMAR (Alumínios do Maranhão) (MMA, 2006). É nesse trecho também que se encontra a central de captação de água que abastece a cidade de São Luís, por meio do Sistema ITALUÍS. Em contrapartida, tem sofrido acentuadas modificações em suas características em função do manejo inadequado, queimadas, desmatamentos indiscriminados e outras ações antrópicas que provocam a impermeabilidade do solo, erosão de suas margens e assoreamento de seu leito, ocasionando empobrecimento progressivo da biodiversidade de sua bacia hidrográfica, ainda pouco conhecida (ALCÂNTARA, 2004; MMA, 2006; SILVA; CONCEIÇÃO, 2011). 40 Os pontos de amostragem estão localizados no Baixo curso do rio Itapecuru (02° 55' 60"S e 44° 14' 60" W), entre os municípios de Santa Rita e Rosário (Figura 4). Este trecho apresenta grande navegabilidade, no entanto, a pequena declividade ocasiona a formação de bancos de areia nas imediações de Rosário. As amostragens foram realizadas em três pontos denominados ITA-P01 (Santa Luzia), ITA-P02 (São Miguel) e ITA-P03 (Rosário), situados entre o sistema de captação de água ITALUÍS e a foz no município de Rosário. Os locais de amostragem diferem por características hidrológicas, descritas a seguir, conforme (PETROBRÁS/UFMA, 2014). Figura 4. Localização dos pontos de amostragem, no Baixo Itapecuru (Maranhão). Ponto 1 - Estação Santa Luzia Em Santa Luzia, (ITA-P01), o rio apresenta-se com forma simétrica e profundidade de até 4m. O fluxo neste trecho é do tipo laminar, com velocidade média de 0,30 m-3.s-1 na maré vazante. O fluxo tem sentido de montante a jusante nas marés vazante, baixa-mar e pré-a-mar, invertendo o sentido na maré enchente (Figura 5). A margem direita apresenta-se bem inclinada, enquanto a esquerda possui 41 inclinação mais leve, o que torna essa característica um forte indicador de problemas de enchentes quando do período de cheias dos rios. A vazão média anual registrada nessa localidade, em 2012 e 2013 foi de 55,18 e 43,07 m-3.s-1, respectivamente. Figura 5. Vetores de corrente horizontal na superfície da coluna d’água em cada seção transversal do Rio Itapecuru, em Santa Luzia, com representação dos estágios de maré (BM – Baixa-mar; EM – Enchente; PM – Pré-a-mar; e VZ - Vazante) e valores médios nas seções. Fonte: (PETROBRÁS/UFMA, 2014). Ponto 2 - Estação São Miguel Em São Miguel (ITA-P02), a maior profundidade ocorre próximo à margem esquerda e na região central (4,8m), diminuindo próximo à margem direita (3m). Neste ponto, a velocidade média de corrente é de 0,45m.s-1, na maré vazante. A corrente tem sentido negativo (jusante-montante) na maré enchente e pré-a-mar, revertendo o fluxo na maré vazante por toda sua extensão (Figura 6). A vazão média anual registrada nessa localidade, em 2012 e 2013 foi de 73,18 e 140,69 m-3.s-1, respectivamente. 42 Figura 6. Vetores de corrente horizontal na superfície da coluna d’água em cada seção transversal do Rio Itapecuru, em São Miguel, com representação dos estágios de maré (BM – Baixa-mar; EM – Enchente; PM – Pré-a-mar; e VZ - Vazante) e valores médios nas seções. (PETROBRÁS/UFMA, 2014). Ponto 3 - Estação Rosário No trecho correspondente a Rosário (ITA-P03), o relevo apresenta-se predominantemente plano com pequenos desníveis nas margens do rio. A profundidade média é de 3m, com velocidade de corrente de 0,45 m-3.s-1. Na pré-a-mar, a corrente tem sentido jusante-montante, reestabelece-se na maré vazante e, no trecho final, inverte o fluxo novamente na maré enchente (Figura 7). A vazão média anual registrada nessa localidade, em 2012 e 2013 foi de 158,41 e 157,77 m-3.s-1, respectivamente. 43 Figura 7. Vetores de corrente horizontal na superfície da coluna d’água em cada seção transversal do Rio Itapecuru, em Rosário, com representação dos estágios de maré (BM – Baixa-mar; EM – Enchente; PM – Pré-a- mar; e VZ - Vazante) e valores médios nas seções. (PETROBRÁS/UFMA, 2014). No baixo curso, a influência da maré dinâmica é responsável pela variação do nível d’água do rio Itapecuru até as proximidades da cidade de Cantanhede (PETROBRÁS/UFMA, 2014). Os pontos ITA-P01 (Santa Luzia) e ITA-P02 (São Miguel) estão situados em uma área de influência de maré dinâmica, mas sem a salinização da água. Por outro lado, em ITA-P03 (Rosário), o trecho do rio assume características estuarinas com a presença de manguezais (Laguncularia sp.), salinização e ampla variação de maré. Uma informação importante observada na área de amostragem, refere-se à defasagem na inversão do sentido da corrente, com ocorrência verificada em Rosário. Nesse ambiente, a resposta durante a maré enchente é mais rápida, indicando uma defasagem menor, devido à proximidade com a foz do rio. Essa defasagem implica na influência da maré dinâmica registrada nesse trecho, com influência de salinidade. 44 3.1.3 Amostragem dos Dados 3.1.3.1 Material Biológico As amostragens ocorreram trimestralmente, entre maio de 2012 e outubro de 2014, englobando as estações climáticas (período chuvoso → janeiro - junho/período de estiagem → julho-dezembro) baseadas na alternância dos índices pluviométricos. O material biológico foi capturado através de arrastos horizontais na sub- superfície da coluna d’água, com duração de aproximadamente 10 minutos e auxílio de rede cônico-cilíndrica (malhagem 300µm), equipada com fluxômetro para determinação do volume de água filtrado (Figura 5). O material coletado foi fixado em formol 4% tamponado com carbonato de cálcio (CaCO3) (KELSO; RUTHERFORD, 1996) (Figura 8). Figura 8. Procedimento de coleta do ictioplâncton na área de amostragem do Baixo Itapecuru (MA, Brasil), através da rede de plâncton (malha de 300 µm). Foto: James Azevedo (Abril, 2014). Em laboratório, as amostras foram triadas sob microscópio estereoscópio em placa do tipo Bogorov, para separação dos ovos e larvas de peixes do restante do plâncton e quantificados. Após esse processo, apenas as larvas foram identificadas até o menor nível taxonômico possível, seguindo a técnica de sequência regressiva de desenvolvimento proposta por Ahlstrom e Moser (1976), Nascimento & Araújo-Lima (2000) e Nakatani et al. (2001). A identificação taxonômica foi baseada na avaliação de caracteres morfológicos, morfométricos e de pigmentação. Dentre os caracteres analisados destacam-se forma do corpo, presença de barbilhões, sequência de formação e posição das nadadeiras, presença de espinhos e posição 45 da abertura anal em relação ao corpo. Dados merísticos, como número de miômeros e de raios das nadadeiras (quando presentes), foram também usados Nakatani et al. (2001). As larvas que não apresentaram características que permitissem sua identificação ou que se encontravam em estágio muito inicial de desenvolvimento foram enquadradas em nível de Ordem ou Família ou na categoria não-identificada (danificada). O enquadramento taxonômico foi baseado em
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