Buscar

2007-dis-grcoelho

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ 
FACULDADE DE MEDICINA 
DEPARTAMENTO DE CIRURGIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
GUSTAVO RÊGO COÊLHO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FATORES RELACIONADOS À DISFUNÇÃO E NÃO FUNÇÃO 
PRIMÁRIA DO ENXERTO NO TRANSPLANTE DE FÍGADO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA 
2007 
 
 
GUSTAVO RÊGO COÊLHO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FATORES RELACIONADOS À DISFUNÇÃO E NÃO FUNÇÃO PRIMÁRIA DO 
ENXERTO NO TRANSPLANTE DE FÍGADO 
 
Dissertação apresentada ao Programa de 
Pós-Graduação em Cirurgia da 
Faculdade de Medicina da Universidade 
Federal do Ceará, como requisito parcial 
para obtenção do grau de Mestre em 
Cirurgia. 
 
Orientador: Prof. Dr. José Huygens 
Parente Garcia 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA 
2007 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
C616a Coêlho, Gustavo Rêgo 
Fatores relacionados à disfunção e não função primária do 
enxerto no transplante de fígado/ Gustavo Rêgo Coêlho. 
2007. 
 92 f. 
 
 Orientador: Prof. Dr. José Huygens Parente Garcia 
 Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Ceará. 
 Faculdade de Medicina, Fortaleza, 2007. 
 
 1. Transplante de Fígado. 2. Doadores de Órgãos. 
3.Insuficiência Hepática. 
 I. Garcia, José Huygens Parente (Orient.). II. Título. 
CDD 
 
GUSTAVO RÊGO COÊLHO 
 
 
 
 
 
 
FATORES RELACIONADOS À DISFUNÇÃO E NÃO FUNÇÃO PRIMÁRIA DO 
ENXERTO NO TRANSPLANTE DE FÍGADO 
 
 Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Cirurgia, da Faculdade de 
Medicina, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do 
grau de Mestre em Cirurgia. 
 
 
Aprovada em _____/_____/______ 
 
 
 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
 
__________________________________________________________________ 
Prof. Dr. José Huygens Parente Garcia (Orientador) 
Universidade Federal do Ceará (UFC) 
 
____________________________________________ 
Profa. Dra. Claudia Regina Fernandes 
Universidade de Fortaleza (UNIFOR) 
 
______________________________________________ 
Prof. Dr. Ben-Hur Ferraz-Neto 
Hospital Albert Einstein (São Paulo-SP) 
Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
À minha amada esposa Kersya, exemplo 
de equilíbrio e amor, indispensável para 
a minha vida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ao meu pai, Clovis, valorizador da vida 
e do saber. 
 
À minha mãe, Yolanda, exemplo de 
amor maternal, solidariedade, 
honestidade e responsabilidade. 
 
Ao meu futuro filho, Pedro Otávio, novo 
horizonte em minha vida. 
 
Ao meu irmão, Clovinho, pelo qual tenho 
um amor incondicional. 
 
À minha irmã, Zélia e ao meu sobrinho 
Guilherme pelo carinho. 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Ao Prof. Dr. PAULO ROBERTO LEITÃO DE VASCONCELOS, professor 
associado do Departamento de Cirurgia e coordenador do Programa de Pós-Graduação 
em Cirurgia da Universidade Federal do Ceará, pela incansável dedicação à Pós-
Graduação dessa instituição. 
Ao Prof. Dr. JOSÉ HUYGENS PARENTE GARCIA, Chefe do Departamento 
de Cirurgia da Universidade Federal do Ceará e do Centro de Transplante de Fígado do 
Hospital Universitário Walter Cantídio, orientador, exemplo de dedicação a profissão, 
liderança, perseverança e determinação. 
Ao Dr. JOÃO BATISTA MARINHO DE VASCONCELOS, cirurgião geral do 
Hospital Universitário Walter Cantídio, exemplo de profissional, competência, 
inquietude científica, pela orientação a mim dispensado em todos os momentos da 
minha formação humana e cirúrgica. 
A Profa. Dra. CLAUDIA REGINA FERNANDES, professora da Universidade 
de Fortaleza e chefe do Serviço de Anestesiologia da equipe de transplante de fígado do 
Hospital Universitário Walter Cantídio, pelo constante incentivo à pesquisa. 
Ao Prof. Dr. TELMO VALENÇA JUNIOR, professor do Departamento de 
Patologia e Medicina Legal da Universidade Federal do Ceará, responsável por todas as 
análises histopatológicas desse estudo. 
Ao Prof. Dr. JOÃO ARAGÃO XIMENES FILHO, professor visitante do 
Departamento de Cirurgia da Universidade Federal do Ceará, pelo apoio e contribuição 
na analise estatística desse estudo, me ensinando e ajudando de forma incondicional. 
Ao Prof. Dr. MARCELLUS HENRIQUE LOYOLA PONTE DE SOUZA, 
gastroenterologista e professor adjunto do Departamento de Fisiologia e Farmacologia 
dessa universidade, pela contribuição no desenho dessa dissertação. 
A todos MÉDICOS, ENFERMEIROS, FISIOTERAPEUTAS, PSICÓLOGOS, 
ASSISTENTES SOCIAIS, FUNCIONÁRIOS envolvidos com o Centro de Transplante 
de Fígado do Hospital Universitário Walter Cantídio. 
Aos FUNCIONÁRIOS, RESIDENTES E INTERNOS, da Cirurgia Geral I e 
Transplante, que estão diariamente contribuindo com minha formação médica. 
 
Aos bolsistas de iniciação científica do centro de transplante do Hospital 
Universitário Walter Cantidio BRONNER PAMPLONA e FERNANDA 
CAVALCANTE, por ajudarem na elaboração dessa dissertação. 
A bibliotecária Sra. ROSANE MARIA COSTA, pelas orientações 
bibliográficas. 
A CAPES pelo apoio financeiro que me permitiu a realização deste trabalho. 
A UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ por propiciar toda a minha 
formação médica e especialização em cirurgia geral e transplante de fígado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O tempo é muito lento para os que esperam 
Muito rápido para os que têm medo 
Muito longo para os que lamentam 
Muito curto para os que festejam 
E eterno para os que amam. 
 Willian Shakespeare 
 
 
 
RESUMO 
Título: Fatores relacionados à disfunção e não função primária do enxerto no 
transplante de fígado. 
Programa de Pós-Graduação em Cirurgia da Universidade Federal do Ceará 
Dissertação de Mestrado 
Autor: Gustavo Rego Coelho 
Orientador: José Huygens Parente Garcia 
Fortaleza 22 de Novembro de 2007 
 
A insuficiência hepática do enxerto no pós-operatório pode se manifestar como 
uma Disfunção Primaria do Enxerto (DPE) ou uma Não Função do Enxerto (NFE). O 
Objetivo desse trabalho é avaliar os fatores relacionados ao doador e ao receptor com a 
disfunção primária e a não função do enxerto em pacientes submetidos ao transplante 
de fígado. Foram avaliados 176 transplantes de fígado no Hospital Universitário Walter 
Cantídio da Universidade Federal do Ceará (HUWC/UFC). A mortalidade em 30 dias 
dos pacientes com evolução enzimática normal foi de 5%; dos pacientes com DPE foi 
19,7% e dos pacientes com NFE foi de 100%. Os pacientes que evoluíram no pós-
operatório com DPE e NFE tiveram 3,69 vezes mais chances de óbito em 30 dias que 
os pacientes que tiveram evolução normal. Nesse estudo, foram avaliados diversos 
fatores do doador e do receptor: idade, níveis séricos de sódio, transaminases, grau de 
esteatose do enxerto, escore MELD, Tempo de Isquemia Fria (TIF) e Tempo de 
Isquemia Quente(TIQ). O TIF maior que 600 minutos, TIQ maior que 55 minutos e o 
grau de esteatose hepática maior que 30% foram fatores de risco para o 
desenvolvimento de DPE/NFE. A correlação entre TIF em minutos com a evolução das 
transaminases hepáticas do primeiro ao sétimo pós-operatório, revelou significância 
estatística no 1o PO, 2o PO, 3o PO, 4o PO, 6o PO e 7o PO para AST. Em relação a ALT 
houve significância estatística no 1o PO, 2o PO, 3o PO, 4o PO, 5o PO, 6o PO e 7o PO. A 
correlação entre TIQ em minutos com a evolução das transaminases hepáticas do 
primeiro ao sétimo pós-operatório, revelou significância estatística no 1o PO, 5o PO, 6o 
PO e 7o PO para AST. Em relação a ALT houve significância estatística no 1o PO. 
Conclui-se que o grau de esteatose no enxerto maior que 30%, o aumento do TIF e do 
TIQ tem correlação com aumento das transaminasesno pós-operatório e 
conseqüentemente maior risco de DPE/NFE. 
 
Palavras-chave: Transplante de Fígado. Doadores de Órgãos. Insuficiência Hepática. 
 
 
 
ABSTRACT 
 
Title: Evaluation of factors related to primary graft dysfunction and 
nonfunction in the liver transplantation. 
Pos-Graduate Program of Surgery of The Federal University of Ceará 
Author: Gustavo Rêgo Coêlho 
Superviser: José Huygens Parente Garcia 
Fortaleza, November 22th 2007 
A hepatic insufficiency of the graft after liver transplantation can be defined 
with Primary Graft Dysfunction (PGD) or Primary Nonfunction (PNF). The Objective 
of this work is to evaluate the factors related to the donor and the recipient with PGD or 
PNF in patients submitted to the liver transplant. 176 patients were submitted a liver 
transplantation in the Walter Cantidio University Hospital of the Federal University of 
Ceara. The mortality, in 30 days, of the patients with normal enzymatic evolution was 
of 5%; of the patients with PGD was 19.7% and the patients with PNF was of 100%. 
The patients who had evolved in the postoperative (PO) with PGD and PNF had had 
3,69 times more possibilities of death in 30 days than the patients who had had normal 
evolution. In this work, we evaluated donors and recipients vaiables: age, peak serum 
sodium, aminotransferases, liver steatosis, score MELD, the Cold Ischemia Time of 
Isquemia Fria (CIT) and the Warm Ischemia Time (WIT). The TIF bigger that 600 
minutes, the WIT bigger that 55 minutes and liver steatosis > 30% were factors of risk 
for the PGD/PNF development. The correlation between the CIT, in minutes, with the 
evolution aminotransferases of the first one to the seventh postoperative day, it 
disclosed to significance statistic in 1st PO, 2nd PO, 3rd PO, 4th PO, 6th PO and 7th PO for 
AST. In relation the ALT had significance statistics in 1st PO, 2nd PO, 3rd PO, 4th PO, 5th 
PO, 6th PO and 7th PO. The correlation between WIT, in minutes, with the evolution of 
aminotransaminases the first one to the seventh postoperative day, revealed a 
significance statistic in 1st PO, 5th PO, 6th PO and 7th PO for AST. In relation the 
ALT we had significance statistic in the 1st PO. The liver steatosis > 30%, the increase 
of the CIT and the WIT consequently have correlation with increase of 
aminotransaminases in postoperative and the bigger risk of DPE/NFE. 
Key words: Liver Transplantation, Organs Donors, Hepatic Insufficiency
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
ABTO - Associação Brasileira de Transplante de Órgãos 
AST - Aspartato Aminotransferase 
ALT – Alanina Aminotransferase 
DCE - Doador com Criterios Expandidos 
DPE - Disfunção Primária do Enxerto 
DVA – Drogas Vasoativas 
HUWC - Hospital Universitário Walter Cantídio 
MELD - Model End-Stage Liver Disease 
NFE – Não Função do Enxerto 
OPTN – The Organ Procurement and Ttransplantation Network 
PCR - Parada Cardiorrespiratória 
PO - Pós-Operatório 
RNI - Relação Normatizada Internacional do Tempo de Protrombina 
TIF - Tempo de Isquemia Fria 
TIQ - Tempo de Isquemia Quente 
UFC - Universidade Federal do Ceará 
UNOS - The United Network for Organ Sharing 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 1 Aorta, veia cava e veia mesentérica inferior dissecadas durante a captação de 
órgãos..........................................................................................................................
 
Figura 2 Cirurgia de banco com dissecção do tronco celíaco................................................... 
Figura 3 Pinça Vascular ocluindo as três veias hepáticas......................................................... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
Tabela 1 
 
Pacientes excluídos do estudo em 207 transplantes............................................ 31 
Tabela 2 
 
Causas de indicação do transplante hepático em 176 pacientes...... 32 
Tabela 3 
 
Prevalência da indicação do transplante hepático em 176 pacientes (%)........ 32 
Tabela 4 
 
Causa do óbito após o transplante de fígado em 30 dias em 176 pacientes... 33 
Tabela 5 Mortalidade pós-operatório em 30 dias dos pacientes que evoluíram com 
DPE/NFE em 176 pacientes............................................................................. 
 
33 
Tabela 6 Variáveis ordenadas dos 176 doadores de fígado – média, mediana e desvio 
padrão.............................................................................................................. 
 
34 
Tabela 7 
 
Varáveis dicotômicas dos 176 doadores de fígado – número e proporção..... 35 
Tabela 8 Variáveis ordenadas dos 176 receptores de fígado – média, mediana e desvio 
padrão.............................................................................................................. 
 
36 
Tabela 9 Evolução AST no pós-operatório nos 176 receptores de fígado – média, 
mediana e desvio padrão.................................................................................. 
 
36 
Tabela 10 Evolução ALT no pós-operatório nos 176 receptores de fígado – média, 
mediana e desvio padrão.................................................................................. 
 
37 
Tabela 11 
 
Variáveis dicotômicas dos 176 receptores de fígado – número e proporção 37 
Tabela 12 Variáveis dicotômicas relacionadas aos receptores analisadas para DPE/NFE n
176 transplantes.................................................................................................
 
38 
Tabela 13 Variáveis dicotômicas relacionadas aos doadores analisadas para DPE/NFE 
 nos 176 transplantes.........................................................................................
 
39 
Tabela 14 Idade dos doadores correlacionada com a evolução de AST no pós-operatório 
dos 176 transplantes............................................................................................
X 
Tabela 15 Idade dos doadores correlacionada com a evolução de ALT no pós-operatório
dos 176 transplantes...........................................................................................
X 
Tabela 16 Sódio sérico dos doadores correlacionado com evolução enzimática de 
 AST no pós-operatório dos 176 transplantes...................................................
 
39 
Tabela 17 Sódio sérico dos doadores correlacionado com evolução enzimática de 
ALT no pós-operatório dos 176 transplantes....................................................
 
40 
Tabela 18 Idade dos receptores correlacionada com evolução enzimática de AST 
 no pós-operatório dos 176 transplantes............................................................
 
40 
Tabela 19 Idade dos receptores correlacionada com evolução enzimática de ALT 
no pós-operatório dos 176 transplantes............................................................ 
 
41 
Tabela 20 MELD dos receptores correlacionado com evolução enzimática de AST 
 no pós-operatório dos 176 transplantes........................................................... 
 
41 
Tabela 21 MELD dos receptores correlacionado com evolução enzimática de ALT 
 no pós-operatório dos 176 transplantes.............................................................
 
42 
Tabela 22 Tempo de Isquemia Fria (TIF) dos receptores correlacionado com evolução 
enzimática de AST no pós-operatório nos 176 transplantes.............................
 
42 
Tabela 23 Tempo de Isquemia Fria (TIF) dos receptores correlacionado com evolução 
enzimática de ALT no pós-operatório nos 176 transplantes..............................
 
43 
Tabela 24 Tempo de Isquemia Quente (TIQ) dos receptores correlacionado com 
 
 evolução enzimática de AST no pós-operatório nos 176 transplantes............ 43 
Tabela 25 Tempo de Isquemia Quente (TIQ) dos receptores correlacionado com 
 evolução enzimática de ALT no pós-operatório nos 176 transplantes............
 
44 
SUMÁRIO 
 
 RESUMOABSTRACT 
 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
LISTA DE FIGURAS 
LISTA DE TABELAS 
1 INTRODUÇÃO.............................................................................................. 15
2 OBJETIVO..................................................................................................... 22
3 CASUÍSTICA E MÉTODO.......................................................................... 23
3.1 Critérios de exclusão...................................................................................... 24
3.2 Cirurgia de captação de fígado..................................................................... 24
3.3 Hepatectomia do receptor e implante do enxerto....................................... 26
3.4 Imunossupressão............................................................................................ 27
3.5 Exames de controle no pós-operatório......................................................... 27
3.6 Critérios para diagnóstico de Disfunção primária do enxerto (DPE) e 
Não Função do Enxerto (NFE)..................................................................... 
28
3.7 Critérios de alta hospitalar........................................................................... 28
3.8 Tratamento estatístico................................................................................... 28
3.8.1 Variáveis de desfecho...................................................................................... 28
3.8.2 Variáveis analisadas......................................................................................... 29
3.9 Análise estatística.......................................................................................... 30
4 RESULTADOS.............................................................................................. 31
4.1 Características da população estudada....................................................... 31
4.2 Variáveis relacionadas aos doadores e receptores..................................... 34
5 DISCUSSÃO.................................................................................................. 45
6 CONCLUSÃO............................................................................................... 53
REFERÊNCIAS........................................................................................................ 54
APÊNDICES.............................................................................................................. 65
ANEXOS..................................................................................................................... 77
 
 
 
 
 
 
 
15
1 INTRODUÇÃO 
 
A hepatite crônica é definida como uma reação inflamatória crônica do fígado com 
duração de três a seis meses, com anormalidade das enzimas hepáticas e alterações histológicas 
do fígado. As principais causas de hepatite crônica são infecção pelo vírus C, vírus B, vírus D, 
hepatopatia alcoólica, hepatite auto-imune, hepatite crônica medicamentosa e doença de Wilson 
(FRIEDMAN, 1999). 
Segundo o Ministério da Saúde do Brasil (2002), as duas principais causas de doença 
crônica do fígado em adultos foram a hepatite pelo vírus C e a cirrose alcoólica. Os portadores 
crônicos do vírus C correspondem a cerca de 1,5% da população (3,2 milhões de brasileiros). 
O principal tratamento da doença hepática crônica terminal é o transplante hepático. 
Esses pacientes devem ser alocados em lista de espera para transplante quando a expectativa de 
vida conforme a historia natural da doença for menor que 90% em um ano, de acordo com o 
consenso da Sociedade Americana de Transplante e da Associação Americana para Estudo das 
Doenças do Fígado (LUCEY et al., 1997). As mais comuns indicações para transplante em 
adultos no mundo são infecção pelo vírus C e cirrose alcoólica (REYES; MAZARIEGOS, 1999; 
KEEFFE, 2001). Outras indicações são cirrose biliar primaria, hepatite auto-imune, hepatite 
crônica pelo vírus B, doenças metabólicas, carcinoma hepatocelular e falência hepática aguda. 
A idéia de substituir um órgão doente por outro sadio, data do segundo século da era 
cristã, com o registro do milagre de São Cosme e São Damião que substituíram a perna 
necrosada de um cristão por a de um mouro morto em combate (NOTHEN, 2005). 
Os transplantes de órgãos sólidos passaram a ser o tratamento de escolha para a doença 
renal, hepática, cardíaca e pulmonar, na sua fase final. A historia dos transplantes de órgãos 
sólidos iniciou-se com o desenvolvimento de técnicas de sutura vascular por Alexis Carrel no 
inicio do século XX (STARZL, 1993), que permitiram dessa forma que o sonho de transplantar 
órgãos pudesse se concretizar, dando a Aléxis Carrel o prêmio Nobel de medicina em 
1912.Welch (1955) implantou um fígado heterotópico na pelve de um cão e Cannon (1956) 
implantou um fígado de maneira ortotópica também em cão, mas ambos sem sucesso. 
Starzl et al.(1959) demonstraram técnicas de hepatectomia total que são utilizadas ate 
hoje. No mesmo período, desenvolveu-se o conceito de que a perfusão hipotérmica intraportal 
com ringer lactato e solução de Collins poderia manter os fígados preservados por até 12 horas 
(WALL et al., 1977; BENICHOU et al., 1977; JAMIESON et al., 1988; KALAYOGLU et al., 
 
 
16
1988). Tal fato foi comprovado pelo estudo das biopsias dos fígados transplantados (PORTER, 
1969; SNOVER et al., 1984; DEMETRIS et al., 1985). 
 Starzl et al. (1963), em Denver, após oito anos do início dos estudos experimentais, 
realizaram o primeiro transplante de fígado em humano. O paciente era uma criança de 3 anos 
de idade portadora de atresia das vias biliares, tendo evoluído para óbito por sangramento 
durante o procedimento. Posteriormente, Starzl e sua equipe realizaram mais dois transplantes 
com sobrevida de 7 e 22 dias, respectivamente. (STARZL et al., 1963). Starzl et al. (1967) 
realizaram o primeiro transplante de fígado com sobrevida prolongada. A paciente era uma 
criança de 2 anos de idade, portadora de um colangiocarcinoma, sobrevivendo 1 ano e seis 
meses. 
Em 1960, Peter Medawar, ganhou o Prêmio Nobel de Medicina por seus estudos 
relacionados com as bases imunológicas de rejeição da pele e a tolerância adquirida, abrindo 
espaços para diversos outros estudos em imunossupressão (MEDAWAR, 1944; MEDAWAR, 
1945; BILLINGHAM et al., 1953). 
Durante o período de 1967 a 1972, foram realizadas diversas tentativas de transplantes 
de fígado em todo o mundo. Como os resultados não eram satisfatórios, somente quatro grandes 
centros continuaram com seus programas de transplante: o serviço de Thomas Starzl, em 
Pittsburgh, nos Estados Unidos. O de Roy Calne, em Cambridge, na Inglaterra, o de Ruud 
Krom, em Gröningen, na Holanda, e o de Rudolf Pichlmayr, em Hannover, na Alemanha 
(STARZL et al., 1984; ROLLES et al., 1984; KROM et al., 1984; PICHLMAYR et al., 1984). 
Em 1978, Calne introduziu na prática clínica a ciclosporina, uma nova droga 
imunossupressora, inicialmente usada em transplantes renais (CALNE et al., 1979). Strarzl et 
al.(1981) associaram a ciclosporina à prednisona e posteriormente à azatioprina, tendo 
resultados animadores com os pacientes transplantados. No início da década de noventa surgiu 
então o FK506, inibidor de calcineurina como a ciclosporina, mas com maior potência, 
contribuindo para uma sobrevida de um ano maior que 90% (STARZL et al., 1989). 
Em 1983 mais de 500 transplantes de fígado já haviam sido realizados. Assim sendo, o 
Governo Americano promoveu uma reunião em Washington, com o intuito de definir 
consensualmente aspectos controversos, passando o transplante de fígado a ser considerado um 
procedimento terapêutico e não mais experimental (National Intstitutes of Health Consensus 
Development Conference Statement, 1984). Por esse consenso, o transplante de fígado deveria 
ser indicado nos portadores de doença hepática crônica progressiva e irreversível, sem 
alternativas tradicionais de tratamento, e que não houvessecontra-indicações. 
 
 
17
O surgimento de uma nova solução de preservação de órgãos: UW-Belzer, apresentada à 
comunidade científica em 1987 por Folkert Belzer da Universidade de Wisconsin (JAMIESON 
et al., 1988; KALAYOGLU et al., 1988), possibilitou a preservação do fígado por um tempo 
bem maior, permitindo captação de enxertos em outras regiões, facilitando a programação 
cirúrgica (JAMIELSON et al., 1988). 
Na América Latina, o primeiro transplante de fígado com sucesso foi realizado em 1985 
no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo pela equipe da Unidade de Fígado 
(MIES et al., 1998). A paciente tinha 20 anos, era portadora de um tumor primário de fígado, e 
teve boa evolução pós-operatória com sobrevida de 13 meses. A partir de então, a Unidade de 
Fígado do Hospital das Clinicas da Universidade de São Paulo (USP), passou a realizar o 
procedimento de maneira rotineira. Raia et al. (1989) descreveram o primeiro transplante 
intervivos de fígado do mundo com doador relacionado. 
No Estado do Ceará, Brasil, a idéia de transplantar órgãos sólidos surgiu com o Professor 
Antonio Lacerda Machado. Em 1976, foi criado o Centro de Doenças Hepato-Renais do 
Hospital Universitário Walter Cantídio da Universidade Federal do Ceará, tendo sido realizado 
o primeiro transplante renal da Região Norte-Nordeste. 
No inicio do ano 2000, foi iniciado, no Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC) 
da Universidade Federal do Ceará, um programa de transplante de fígado em suínos, etapa 
inicial no treinamento da equipe multidisciplinar. Em 18 de Maio de 2002, a equipe coordenada 
pelo Prof. José Huygens Parente Garcia realizou com sucesso o primeiro transplante de fígado 
do Estado do Ceará (GARCIA et al., 2005). 
Em fevereiro de 2002, foi introduzido nos Estados Unidos o sistema MELD (Model for 
End-Stage Liver Disease)(Anexo A) para alocação de enxerto hepático proveniente de doador 
falecido nos receptores da fila de espera. O MELD foi um modelo inicialmente utilizado para 
avaliar a mortalidade de pacientes submetidos a “shunt” intra-hepático portossistêmico via 
transjugular em pacientes cirróticos, sendo posteriormente validado para avaliação da sobrevida 
em três meses de pacientes com doença hepática terminal (MERION et al., 2005). A fórmula 
para o cálculo utiliza os valores de bilirrubina total, creatinina sérica e relação normatizada 
internacional do tempo de protrombina (RNI) (KAMATH et al, 2001). Dessa forma, o objetivo 
principal seria priorizar os pacientes mais graves e reduzir a mortalidade em lista de espera. O 
uso do escore MELD para alocação de fígado é um acurado preditor de mortalidade pré-
transplante, mas não de sobrevida pós-transplante. Freeman et al. (2005) validaram o sistema 
MELD analisando 4.163 transplantes realizados entre fevereiro de 2002 e dezembro de 2003, 
 
 
18
concluindo que a sobrevida do enxerto e do paciente permaneciam excelentes. Merion et 
al.(2005) após analisarem 12996 pacientes transplantados entre 2001 e 2003 nos Estados 
Unidos da América, sugeriram que pacientes com baixo MELD (6-11) teriam sobrevida maior 
em um ano se não fossem transplantados; entretanto, se o MELD fosse maior que 18 o benéfico 
de um transplante de fígado era inquestionável. Dessa forma, em julho de 2006, o Ministério da 
Saúde do Brasil passou a adotar também o sistema MELD em substituição a ordem cronológica. 
A escassez de órgãos passou a ser a grande limitação dos transplantes, pois o transplante 
de fígado ainda é a única opção terapêutica para pacientes com doença hepática em estágio 
terminal. No ano 2000, segundo a UNOS (The United Network for Organ Sharing), foram 
realizados aproximadamente 4800 transplantes de fígado nos Estados Unidos, entretanto 
existiam mais de 17000 pacientes na fila de espera (BUSUTTIL; TANAKA, 2003). No ano de 
2006, a proporção doador/receptor foi de 6000/20000 (1:3,3), com uma disparidade muito 
grande entre o número de transplantes necessários e os realizados, ocasionando altas taxas de 
mortalidade na fila de espera (CAMERON et al., 2006). 
Devido a necessidade de aumentar a disponibilidade de órgãos, várias equipes 
transplantadoras iniciaram em seus programas transplantes alternativos ao transplante clássico 
proveniente de enxerto total de doador falecido. Instituíram de maneira rotineira o transplante 
intervivos, o “split-liver” (divisão anatômica do fígado de doador falecido para dois receptores), 
o transplante dominó (um paciente portador de Polineuropatia Amiloidótica Familiar recebe um 
fígado de um doador falecido e doa o seu a outro receptor) e o uso de enxertos provenientes de 
doadores falecidos com critérios expandidos (DCE) (BUSUTTIL; TANAKA et al., 2003). 
A definição do DCE ainda não está bem estabelecida, mas conceitualmente é todo aquele 
doador que possua características que possam acarretar uma insuficiência hepática pós-
transplante no receptor, seja uma Disfunção Primaria do Enxerto (DPE) ou uma Não Função do 
Enxerto (NFE) (CAMERON et al., 2006). Makowka et al. (1987) caracterizaram DPE como o 
pico sérico de AST maior que 1500U/L e/ou ALT maior que 1000U/L nos sete primeiros dias 
de pós-operatório, refletindo um mau funcionamento dos hepatócitos e lesão celular. A NFE é 
caracterizada pela necessidade de retransplante em até 72 horas pós-transplante, relacionada a 
função do enxerto. 
Outros autores adotaram a definição de DCE como aqueles doadores portadores de 
fatores de risco que podem aumentar a incidência de DPE ou NFE e, conseqüentemente, causar 
impacto no resultado (RENZ et al, 2005; TECTOR et al, 2006). Os critérios de aceitação dos 
doadores de órgãos têm sido cada vez mais flexíveis devido a escassez de órgãos e aos bons 
 
 
19
resultados obtidos com a utilização de órgãos de DCE (OJO et al., 2001; DELMONICO; 
WYNN, 2002; PORT et al., 2002). O DCE é comumente chamado de “doador marginal”, 
palavra traduzida do inglês, que atualmente deve-se evitá-la, por trazer um tom pejorativo ao 
doador. 
A incidência de DPE e NFE no transplante de fígado ocorre em mais de 20% dos 
pacientes (BROKELMAN et al., 1999). O receptor com DPE evolui com insuficiência 
funcional do fígado transplantado, podendo ter alterações clínicas e laboratoriais importantes. A 
DPE pode comprometer órgãos vitais, que entram em falência e favorecem infecções com 
evolução rápida para o óbito. A NFE tem quadro clinico de evolução catastrófica no receptor 
(coma, acidose metabólica, anúria, aumento persistente das enzimas hepáticas, distúrbios de 
coagulação), necessitando retransplante com urgência. 
Vários estudos têm demonstrado variáveis responsáveis pela diminuição da função 
inicial do enxerto, podendo acarretar perda do enxerto e óbito do paciente (MOR et al., 1992; 
STRASBERG et al., 1994). Uma revisão da literatura mostrou que pelo menos 15 variáveis 
estão implicadas na DPE e NFE: idade do doador, sexo, raça, proporção peso doador receptor, 
compatibilidade sangüínea ABO, Classificação de Child-Turcotte-Pugh (Anexo B), causa da 
morte cerebral, tempo de internamento hospitalar, uso de drogas vasoativas, parada cardíaca 
antes da captação, alteração dos testes de função hepática, hipernatremia no doador, esteatose 
hepática, tempo de isquemia fria, tempo de isquemia quente, sorologias positivas para vírus C e 
B, idade e “status” clínicos do receptor (STRASBERG et al., 1994; AVOLIO, et al., 1999; 
CAMERON et al., 2006). 
Nas últimas duas décadas, a idade dos doadores vem aumentando progressivamente. Em 
1991, somente 13% dos doadores de fígado tinham mais de 50 anos; em 2001, esse número 
ultrapassou os 30% (OPTN, 2003). Diversos estudos têm demonstrado uma forte relação com 
idade do doador superior aos 50 anos e DPE, entretanto sem contra-indicar a doação (MOR et 
al., 1992; KARATZAS et al., 1997; BRICENO et al., 1997; GRANDE et al., 1998; OH et al., 
2000). 
Opelz e Wujciak, (1994)e Mimeault et al. (1989) demonstraram que há uma diminuição 
da sobrevida dos enxertos hepáticos provenientes de doadores com instabilidade hemodinâmica 
e em uso de drogas vasopressoras como a dopamina e a noradrenalina, contribuindo para a DPE 
e NFE. 
 
 
20
Figueras et al. (1996) sugeriram pela primeira vez, que níveis elevados de sódio 
(>155mEq/L) no sangue do doador, ocasionariam efeitos deletérios ao enxerto, entretanto sem 
contra-indicar o transplante. 
A esteatose hepática tem sido encontrada nos doadores com uma freqüência de 9-26% 
(D’ALESSANDRO et al., 1991; LOINAZ; GONZALEZ, 2000). A obesidade, idade avançada, 
alcoolismo e diabetes mellitus estão relacionadas. Pacientes que receberam fígados com 
esteatose apresentaram maior chance de NFE e DPE nas primeiras semanas pós-transplante 
(TODO et al., 1989; D’ALESSANDRO et al., 1991; ADAM et al., 1991; CHUI et al., 2000b). 
Enxertos com mais de 60% de esteatose não devem ser usados, a não ser em casos de extrema 
urgência e como ponte para outro transplante (LOINAZ; GONZALEZ, 2000). Enxertos com 30-
60% de esteatose podem ser usados, mas com cautela. Já os enxertos com menos de 30% de 
esteatose podem ser utilizados com segurança(BUSUTTIL; TANAKA, 2003). 
O Tempo de Isquemia Fria (TIF) é iniciado na cirurgia de captação no momento em 
que a aorta é ocluida e o fígado é perfundido com soluções de preservação, até o momento em 
que o enxerto é retirado do acondicionamento hipotérmico e colocado sobre o campo cirúrgico 
do receptor. O Tempo de Isquemia Quente (TIQ) compreende o final do TIF até a reperfusão 
portal do enxerto do receptor. Quanto maior o TIF (principalmente após 10 horas), e o TIQ 
(principalmente após 45 minutos), menor a sobrevida do enxerto e do receptor (CAMERON et 
al., 2006). No transplante de fígado, o evento isquêmico termina com a reperfusão do órgão. Ao 
restaurar o fluxo sangüíneo , impõe-se nova agressão ao fígado enxertado, agravando a lesão 
causada pelo período de isquemia. Esse fenômeno é conhecido como lesão de isquemia e 
reperfusão e envolve mecanismos e vias metabólicas celulares complexas, em que o resultado 
final poderá ser a disfunção do enxerto ( MIRANDA et al., 2004). 
Atualmente, diversos trabalhos têm tentado introduzir o conceito de que há uma 
influência no somatório dos fatores de risco para DCE (MUENHLBACHER et al., 2005; 
CAMERON et al., 2006; FENG et al., 2006; MERION et al., 2006). Acredita-se que a 
quantificação do risco doador deve ser utilizada na alocação dos enxertos hepáticos (MERION 
et al., 2006). DCE com mais de três critérios contribuirão de forma significativa para DPE 
(PORKONY et al., 2005). Castagneto et al.(2006) não aconselham o uso de enxertos 
provenientes de DCE em pacientes com MELD elevado (>25), pois há diminuição na sobrevida 
do enxerto e do receptor. 
Assim sendo, observa-se a necessidade de mais estudos para o esclarecimento de quais 
são realmente os fatores de risco para DPE/NFE. Dessa forma, seria possível minimizá-los e até 
 
 
21
controlá-los, com conseqüente diminuição da perda dos enxertos e da morbidade e mortalidade 
dos receptores. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22
OBJETIVO 
 Identificar fatores do doador e do receptor relacionados com a disfunção e a não função 
primária do enxerto em pacientes submetidos a transplante de fígado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
23
3 CASUÍSTICA E MÉTODO 
 
Foram inicialmente avaliados 207 transplantes de fígado no Hospital Universitário 
Walter Cantídio da Universidade Federal do Ceará (HUWC/UFC), no período de maio de 2002 
a dezembro de 2006. Após o emprego dos critérios de exclusão, permaneceram para este estudo 
176 transplantes. 
Todos os casos tiveram seus dados coletados e catalogados em fichas previamente 
padronizadas (Apêndice A e Apêndice B). O estudo foi de caráter prospectivo do tipo coorte 
histórico. O tempo de seguimento laboratorial foi de sete dias, enquanto para avaliação de 
infecção e mortalidade este período foi de 30 dias. Foram consideradas infecções hospitalares 
aquelas que ocorreram pelo menos 48 horas após realização do transplante de fígado. 
A biópsia do enxerto foi realizada durante a cirurgia para captação de múltiplos órgãos 
em doador falecido com retirada de um fragmento com 0,5 cm de diâmetro do lobo esquerdo do 
fígado. O material foi submetido a processamento histológico e corado com 
hematoxilina/eosina. A mensuração do grau de esteatose do tipo macrovesicular nos enxertos 
foi dividida qualitativamente em esteatose leve (<30%), esteatose moderada (30-60%) e 
esteatose acentuada (>60%), sendo realizado pelo serviço de Anatomia Patológica da 
Universidade Federal do Ceará. 
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário 
Walter Cantídio da Universidade Federal do Ceará sob o nº 005.06.01 (Apêndice C). 
Foram coletados os seguintes dados do prontuário do receptor e do doador: 
1. Fatores relacionados ao doador 
- Parada cardiorrespiratória, uso de drogas vasoativas, idade, causa do óbito, níveis 
séricos de sódio, transaminases, grau de esteatose hepática, tempo de isquemia fria e quente do 
enxerto. 
2. Fatores relacionados ao receptor 
- Idade, sexo, etiologia da doença de base, evolução das transaminases, e grau de 
insuficiência hepática avaliado pela classificação de Child-Turcotte-Pugh e MELD. 
 
 
 
 
 
 
24
 
3.1 Critérios de exclusão 
 Foram excluídos da pesquisa todos os receptores que evoluíram para óbito nas primeiras 
24 horas do transplante não relacionado com a função do enxerto, apresentaram trombose de 
artéria hepática ou veia porta nos primeiros sete dias de transplante com repercussão clinica e 
laboratorial. Foram excluídos também aqueles com coleta de dados incompleta e os que faziam 
parte de outros protocolos de estudo como o protocolo do projeto sódio. (20 doadores com sódio 
sérico > 155mEq/L tiveram seus enxertos lavados com dextrose a 5%) . 
 
3.2 Cirurgia de captação de fígado 
 A cirurgia de captação de múltiplos órgãos foi iniciada com uma incisão mediana que se 
estendia da fúrcula esternal até a sínfise púbica do doador. O fígado era avaliado quanto a sua 
textura e coloração. Os ligamentos redondo, falciforme e triangular esquerdo eram seccionados. 
Palpava-se o hilo hepático com intuito de identificar a artéria hepática e suas possíveis variações 
anatômicas. 
 O cólon direito e o duodeno eram mobilizados até exposição da raiz da artéria mesentérica 
superior e da superfície anterior da veia cava infra-hepática e da aorta. A aorta distal era 
dissecada imediatamente acima da bifurcação das ilíacas, sendo a artéria mesentérica inferior 
ligada e seccionada. A aorta era circulada com fios de algodão. A veia cava infra-renal era 
então dissecada e reparada com fio algodão. A artéria mesentérica superior era dissecada e 
reparada com o intuito de se identificar variações anatômicas. Biópsia hepática era realizada de 
rotina. O pilar diafragmático direito era seccionado, para melhor exposição da aorta, que em 
seguida era reparada com fios. A veia mesentérica inferior era dissecada e reparada. 
 Em seguida, realizava-se heparinização sistêmica com 400UI/Kg peso do doador. A aorta 
distal era ligada e uma cânula de perfusão tipo sonda de Levine número 20 era inserida, tendo-
se o cuidado para não ultrapassar os óstios das artérias renais. A veia mesentérica inferior distal 
era ligada e canulada com uma sonda de Levine número 12, palpando-se a extremidade da 
sonda na veia porta acima da cabeça do pâncreas e abaixo da bifurcação portal (Figura 1). A 
aorta supra-celíaca era ligada e a perfusão iniciada pela aorta distal com 2 litros de solução de 
Collins a 4°C. Em seguida, iniciava-se perfusão pela veia mesentérica comsolução de Belzer. A 
 
 
25
junção da veia cava com o átrio direito era seccionada na cavidade pericárdica para drenagem 
livre da solução de perfusão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 1 – Aorta, veia cava e veia mesentérica inferior dissecadas durante a captação de órgãos. 
 A veia cava infra-renal era ligada e seccionada para facilitar a drenagem das soluções de 
preservação. Nessa ocasião, os órgãos abdominais envolvidos no processo de captação eram 
resfriados com gelo. 
 Após confirmação da viabilidade do enxerto caracterizada por uma perfusão homogênea e 
completa, a equipe cirúrgica era autorizada para iniciar a cirurgia do receptor. 
 A vesícula biliar era aberta e irrigada com ringer lactato gelado. Após o término da perfusão, 
o colédoco distal era seccionado. Em seguida, a artéria hepática era dissecada em direção da 
aorta com ligadura das artérias gastroduodenal, esplênica e gástrica esquerda. A artéria 
mesentérica superior era dissecada cerca de 3 centímetros distalmente à aorta com o intuito de 
localizar uma possível variação anatômica (artéria hepática direita ramo da artéria mesentérica 
superior). A aorta era seccionada logo acima das artérias renais e abaixo do diafragma. A veia 
cava infra-renal e supra-renal eram seccionadas. O enxerto hepático era retirado da cavidade 
abdominal com parte do diafragma direito. O Fígado era colocado em um recipiente de inox 
sobre dois sacos plásticos contendo gelo triturado. Iniciava-se uma nova perfusão do enxerto 
com 1000 ml de solução de Belzer, sendo 500 ml pela artéria hepática, 300 ml pela veia porta e 
200 ml pelo colédoco. 
 Em seguida, era realizada a cirurgia de banco, consistindo no preparo final do enxerto. O 
tecido diafragmático era removido da veia cava supra-hepatica e realizado ligadura das veias 
 
 
26
frênicas. A veia porta era separada do tecido conectivo até próximo à bifurcação. O tronco 
celíaco era dissecado até a artéria hepática comum, com ligadura das artérias esplênica e 
gástrica esquerda (Figura 
2). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Figura 2 – Cirurgia de banco com dissecção do tronco celíaco. 
 
3.3 Hepatectomia do receptor e implante do enxerto 
 A cirurgia do receptor era realizada com uma incisão bicostal com extensão mediana. Após 
abertura da cavidade abdominal, o afastador com tração era posicionado para retração dos 
rebordos costais e melhor exposição do fígado. O pedículo hepático era isolado com passagem 
de fita para manobra de “Pringle”, caso fosse necessário controle de sangramento. Em seguida, 
as estruturas do pedículo hepático eram dissecadas e ligadas logo acima da origem do ducto 
cístico no colédoco. A veia porta era individualizada e exposta até a sua porção pancreática. 
Após abordagem do hilo hepático, o fígado era tracionado para a esquerda e separado da veia 
cava retro-hepática com ligadura proximal e distal de múltiplas pequenas veias hepáticas, 
incluindo a veia hepática direita inferior, quando presente (técnica de “piggyback”). Era 
realizada a dissecção do ligamento dorsal da veia cava com posterior secção entre pinças 
vasculares, expondo a veia hepática direita para sua reparação. A fase anepática era iniciada 
pela interrupção do fluxo portal através da divisão deste vaso entre pinças vasculares. O 
segmento lateral esquerdo era retraído para a direita para exposição do lobo caudado e o 
peritônio era seccionado entre o caudado e a veia cava. A veia hepática direita era dividida o 
 
 
27
mais próximo possível do parênquima hepático após aposição de pinça vascular junto a veia 
cava. Uma pinça vascular longa e curva era posicionada no tronco da veia hepática média e 
esquerda, a qual era seccionada logo após a bifurcação, com retirada do órgão. Neste momento, 
procedia-se a hemostasia rigorosa do leito hepático e retroperitônio. Em seguida, uma pinça 
vascular especifica longa e curva era posicionada transversalmente a cava com o cabo voltado 
para a esquerda, ocluindo, assim, as três veias hepáticas (Figura 3). Uma trava de segurança era 
posicionada na extremidade desta pinça, para evitar que durante o manuseio houvesse acidentes 
graves, como embolia gasosa e hemorragias, ocasionados pelo deslocamento desta pinça. Fazia-
se então, uma abertura comum na junção da veia hepática média e esquerda e da veia cava em 
direção a veia hepática direita. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Figura 3 – Pinça Vascular ocluindo as três veias hepáticas 
 O enxerto era posicionado sobre o campo operatório e a cirurgia iniciada pela anastomose 
entre a veia cava supra-hepática do enxerto e as 3 veias hepáticas do receptor. Em seguida, 
realizava-se a anastomose da veia porta com fio cirúrgico prolene 6.0 termino-terminal, com 
fator de crescimento correspondente a 1/3 do diâmetro da veia porta. Antes do término da 
anastomose, uma sonda de Levine número 12 era introduzida na veia porta em direção ao fígado 
e iniciado a irrigação com 500 a 1000 ml de solução de ringer em temperatura ambiente, com a 
finalidade de evacuar, através da cava infra-hepatica, resíduos das soluções de preservação que 
apresentam altas concentrações de potássio. A veia infra-hepática do enxerto era ligada e o 
fígado revascularizado pela veia porta, terminando assim a fase anepática. A reconstrução 
arterial era realizada com fio prolene 7.0 com auxilio de lupas. Após término das anastomoses 
 
 
28
vasculares, realizava-se colecistectomia seguida de reconstrução da via biliar principal através 
de anastomose término-terminal sem dreno. 
 
3.4 Imunossupressão 
 Após revascularização do fígado pela veia porta era administrado por via intravenosa 1,0 g 
de metilprednisolona. No pós-operatório, a maioria dos pacientes era mantida com esquema de 
imunossupressão duplo baseado em tacrolimus e prednisona. Os níveis desejados do tacrolimus 
eram entre 10 e 15 ng/ml no primeiro mês. Caso o paciente apresentasse nefrotoxicidade 
(creatinina > 1,5mg/dl) pelo tacrolimus, a dose do mesmo era diminuída em 50% , sendo 
associado micofenolato mofetil. 
 
3.5 Exames de controle no pós-operatório 
 Durante os primeiros dias de pós-operatório (PO), o paciente era avaliado pelo nível de 
consciência, capacidade de síntese dos fatores de coagulação, níveis de bilirrubina, níveis de 
transaminases, hemograma, plaquetas, glicemia, uréia, creatinina, sódio, cloro, potássio, cálcio 
iônico, magnésio, gama-glutamiltransferase e fosfatase alcalina. Estes testes eram solicitados 
diariamente nos primeiros sete dias de transplante. Os níveis séricos de tacrolimus eram aferidos 
3 vezes por semana. 
 O Ultra-som abdominal era realizado em todos os pacientes pelo menos uma vez durante o 
internamento com o intuito de avaliar vasos hepáticos, vias biliares e a presença de coleções 
abdominais. 
 
3.6 Critérios para diagnóstico de Disfunção Primária do Enxerto (DPE) e Não Função do 
Enxerto (NFE) 
 A Disfunção Primaria do Enxerto compreende a elevação de AST >1500U\L e/ou elevação 
da ALT >1000U\L em qualquer um dos sete primeiros dias de pós-operatório sem causa 
conhecida. A Não Função do Enxerto é a necessidade de retransplante ou óbito nas primeiras 72 
horas relacionado com insuficiência hepática (MAKOWKA et al.,1987). 
 
 
 
29
3.7 Critérios de alta hospitalar 
 A alta hospitalar ocorria no mínimo com sete dias de pós-operatório após normalização da 
função hepática, ausência de sinais clínicos e laboratoriais de rejeição aguda e sem sinais de 
infecção. 
3.8 Tratamento Estatístico 
 
3.8.1 Variáveis de desfecho analisadas foram as seguintes: 
 - Evolução enzimática padrão – pacientes que durante os sete primeiros dias de pós-
operatório não tiveram elevação da AST > 1500 U\L e/ou elevação da ALT > 1000 U\L. 
 - Disfunção Primaria do Enxerto – elevação da AST >1500U\L e/ou elevação da ALT 
>1000U\L nos primeiros sete dias de pós-operatório. 
 - Não Função do Enxerto – Necessidade de retransplanteou óbito nas primeiras 72 horas 
relacionada com insuficiência hepática. 
 - Óbito em 30 dias 
3.8.2 Variáveis analisadas 
As variáveis relacionadas aos doadores foram: 
 - Ordenadas 
 - Idade em anos 
 - Transaminases hepáticas AST e ALT (U\L) 
 - Sódio sérico (mEq/L) 
 - Dicotômicas 
 - Uso de drogas vasoativas 
 - Grau de esteatose hepática 
 - Presença de parada cardiorrespiratória previamente a captação 
 - Idade do doador maior que 55 anos 
 - Sódio sérico maior que 155 mEq/L 
 - Transaminases hepáticas ( AST e ALT) maior que 150 U/L 
 
 
30
As variáveis relacionadas aos receptores foram: 
 - Ordenadas 
 - Idade em anos 
 - Escore MELD 
 - Tempo de isquemia fria em minutos 
 - Tempo de isquemia quente em minutos 
 - Dicotômicas 
 - Escore MELD maior que 25 
 - Tempo de isquemia fria maior que 600 minutos 
 - Tempo de Isquemia quente maior que 55 minutos 
 As variáveis dicotômicas: idade doador maior que 55 anos, sódio sérico maior que 155 
mEq/L, transaminases hepáticas (AST e ALT) maior que 150U/L, MELD maior que 25, tempo 
de isquemia fria maior que 600 minutos e tempo de isquemia quente maior que 55 minutos 
foram adotadas como valor de corte após revisão da literatura consultada. 
 
3.9 Análise estatística 
 Considerando a não normalidade da amostra, após realização do teste de Komolgorov-
Smirnov, foi utilizado o teste de correlação de Spearman (rs) para análise de correlação 
bivariada dos dados dos doadores e receptores com a evolução das transaminases hepáticas no 
pós-operatório. Também foi utilizado o teste do Qui-quadrado para complementar a análise das 
variáveis dicotômicas. O valor do p bicaudal foi considerado significante com 95% de 
probabilidade alfa ( *p < 0,05) para rejeitar a hipótese de nulidade. Foi utilizado o programa 
Graphpad Prism versão 4.0. 
Coeficiente de Correlação de Spearman (rs) 
Valor de (rs) Interpretação 
rs = 0 não há correlação entre as variáveis 
0 > rs > 1 as duas variáveis aumentam e diminuem de forma simultânea 
rs = 1.0 perfeita correlação entre as variáveis 
 
 
31
-1 > rs > 0 uma variável aumenta e a outra diminui 
rs = -1.0 correlação inversa entre as variáveis 
 
4 RESULTADOS 
 
4.1 Características da população estudada 
Durante o período de maio de 2002 a dezembro de 2006, foram realizados no Hospital 
Universitário Walter Cantídio 207 transplantes de fígado, sendo 206 com doadores falecidos e 
1 com doador vivo. Dos 207 transplantes, foram excluídos da amostra 31 (15%) transplantes 
devido a diversos fatores (Tabela 1). 
 
 Tabela 1 - Transplantes excluídos do estudo 
Transplantes excluídos do estudo Número de 
transplantes
Protocolo sódio 20 
Trombose artéria hepática com repercussão clinica 4 
Dados incompletos 2 
Sangramento pós-operatório imediato 1 
Outros 4 
 
 Fizeram parte do estudo 176 transplantes, que apresentavam como principal indicação 
para o transplante a hepatopatia crônica pelo vírus C (39%) e a cirrose alcoólica ( 28%) (Tabela 
2 e Tabela 3). 
A maioria dos receptores era do sexo masculino (72,5%). A média de idade dos 
receptores era de 48,8 anos, variando de 11 a 68 anos. 
 A distribuição pela classificação de Child-Turcotte-Pugh para doenças hepáticas 
crônicas se comportou da seguinte maneira: Child A 17 (10%), Child B 96 (56%) Child C 55 
(34%) (Gráfico 1 – Apêndice D). Oito pacientes não se enquadravam nesta classificação por 
apresentarem hepatite aguda fulminante. 
 Pela classificação do MELD os pacientes foram distribuídos da seguinte forma: MELD < 
12 = 29 (17%), MELD 13-24 = 130 (78%) e MELD > 25 = 9 (5%) (Gráfico 2 – Apêndice E). O 
MELD médio foi de 16,4. Em oito pacientes o critério MELD não se aplicou, pois os pacientes 
tinham hepatopatia aguda fulminante. 
 
 
32
 A incidência de retransplante foi de 5% (9), sendo 7 casos devido a trombose de artéria 
hepática, 1 caso por não função do enxerto e 1 caso por disfunção do enxerto. A incidência geral 
de trombose da artéria hepática foi de 4%. 
Tabela 2 – Causas de indicação de transplante hepático 
Causas de indicação do transplante de fígado Número 
de 
pacientes 
Hepatopatia crônica pelo vírus C 36 
Hepatopatia crônica pelo vírus C associados ao hepatocarcinoma 19 
Hepatopatia crônica pelo vírus C associado a cirrose alcoólica 14 
Cirrose alcoólica 37 
Hepatopatia crônica pelo vírus B 11 
Hepatopatia crônica pelo vírus B associado ao hepatocarcinoma 2 
Cirrose criptogênica 17 
Hepatite aguda fulminante 8 
Trombose de artéria hepática 6 
Colangite esclerosante primária 4 
Cirrose biliar primária 3 
Hepatite autoimune 3 
Hepatopatia crônica por doença de Wilson 2 
Hepatocarcinoma sem cirrose 2 
Cirrose ductopênica 1 
Cirrose biliar secundaria 1 
Cirrose colestatica idiopatica 1 
Síndrome hepato-pulmonar 1 
Metástase de tumor carcinóide 1 
Glicogenolise 1 
Esteato hepatite não alcoólica 1 
Hemocromatose com hepatocarcinoma 1 
DPE seguido de NFE 1 
Doença de Caroli 1 
Hepatopatia crônica pelo vírus C e vírus B 1 
Hepatopatia crônica pelo vírus B e vírus D 1 
Total de Pacientes 176 
 
 Tabela 3 – Prevalência da indicação do transplante hepático(%) 
Prevalência (%) 
Hepatopatia crônica pelo vírus C 39% 
Cirrose alcoólica 28% 
Hepatocarcinoma 13% 
Cirrose criptogênica 10% 
Hepatopatia crônica pelo vírus B 8% 
Hepatite aguda fulminante 4% 
Trombose de artéria hepática 4% 
Colangite esclerosante primária 2% 
Hepatite autoimne 2% 
Cirrose biliar primária 2% 
 
 
33
Outros 10% 
 
 
A mortalidade após o transplante de fígado em 30 dias foi de 14%, tendo como 
principais causas de óbito a disfunção primaria do enxerto seguido de infecção grave, a não 
função do enxerto e a trombose de artéria hepática (Tabela 4). 
 
 Tabela 4 – Causa do óbito após o transplante de fígado em 30 dias 
Causa do óbito Número de 
pacientes (%) 
Disfunção Primária do Enxerto 11(6%) 
Não Função do Enxerto 6(3,25%) 
Trombose de Artéria Hepática 2(1,%) 
Trombose de Veia Porta 1(0,5%) 
Outros motivos 6(3,25%) 
Mortalidade em 30 dias 26/176 (14%) 
 
Cinqüenta e quatro por cento dos transplantes apresentaram evolução enzimática padrão, 43% 
evoluíram com disfunção primaria do enxerto e 3% com não função do enxerto. A mortalidade 
em 30 dias dos pacientes com evolução enzimática padrão foi de 5%; dos pacientes com DPE 
foi 19,7% e dos pacientes com NFE foi de 100%. Os pacientes que evoluíram no pós-operatório 
com DPE e NFE tiveram 3,69 vezes mais chances de óbito em 30 dias que os pacientes que 
tiveram evolução padrão (Tabela 5). 
 
Tabela 5 – Mortalidade pós-operatório em 30 dias dos pacientes que evoluíram com DPE/NFE . 
Variável Risco 
Relativo 
Intervalo de 
Confiança (95%) 
P 
Mortalidade em 30 dias dos pacientes com 
DPE/NFE 
3,69 2,54 – 5,36 < 0,001
 
 
 
 
 
 
34
4.2 Variáveis relacionadas aos doadores e receptores 
Com relação aos doadores, foram 175 doadores falecidos e 1 doador vivo. Cento e vinte 
doadores (68%) eram do sexo masculino e 56 (32%) do sexo feminino. A média de idade dos 
doadores era de 34 anos e 6 meses, variando de 2 a 68 anos (Gráfico 3 – Apêndice F). 
A principal causa de óbito dos doadores foi traumatismo crânio encefálico em 112 
(65%), acidente vascular cerebral em 52 (30%), tumor de sistema nervoso central em 5 (2%) e 
outras causas em 6 (3%) (Gráfico 4 – Apendice G). 
Em relação ao uso de drogas vasoativas como dopamina e noradrenalina, 107(61%) 
doadores utilizavam pelo menos uma droga, 64(36%) duas drogas e 5(3%) não utilizavam 
nenhuma droga (Gráfico 5 – Apêndice H). 
Quando avaliado o grau de esteatose hepática dos enxertos, 162 (93%) enxertos 
apresentavam esteatose < 30%, 10 (5%) enxertos entre 30-60% e 4(2%) com mais de 60% de 
esteatose (Gráfico 6 – Apêndice I) 
As variáveis ordenadas relacionadas aos doadores encontram-se na tabela 6 e as 
dicotômicas na tabela 7. 
 
 Tabela 6 – Variáveis ordenadas dos 176 doadores de fígado –média, mediana e erro padrão 
Variável Média Mediana Erro 
Padrão 
Idade (anos) 
AST (U\L) 
ALT (U\L) 
Sódio sérico (mEq/L) 
34,56 
85,76 
63,03 
152,7 
31 
56 
42 
151 
1,09 
7,01 
5,07 
1,15 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
35
 Tabela 7 – Varáveis dicotômicas dos 176 doadores de fígado – número e proporção 
Variável Número Proporção
Uso de Drogas Vasoativas 
 Sim 171 97,2% 
 Não 5 2,8% 
Grau de Esteatose Hepática > 30% 
 Sim 15 8,5% 
 Não 161 91,5% 
Grau de Esteatose Hepática 
 < 30% 162 92,2% 
 30-60% 10 5,6% 
 > 60% 4 2,2% 
Presença de Parada Cardiorrespiratória 
 Sim 31 17,6% 
 Não 145 82,4% 
Idade do doador > 55 anos 
 Sim 14 7,9% 
 Não 162 92,1% 
Sódio sérico >155mEq/L 
 Sim 72 40,9% 
 Não 104 59,1% 
AST > 150U/L 
 Sim 25 14,2% 
 Não 151 85,8% 
ALT > 150U/L 
 Sim 13 7,3% 
 Não 163 92,7% 
 
 
As variáveis ordenadas relacionadas aos receptores encontram-se nas tabelas 8, 9 e 10 
(Gráfico 7 – Apêndice J). 
 
 
 
 
36
Tabela 8 – Variáveis ordenadas dos 176 receptores de fígado – média, mediana e erro padrão 
Variável Média Mediana Erro 
Padrão 
Idade (anos) 
MELD 
Tempo de Isquemia Fria (min) 
 Evolução Padrão (n = 94) 
 DPE/NFE ( n = 82) 
Tempo de Isquemia Quente (min) 
 Evolução Padrão ( n = 94) 
 DPE/NFE (n = 92) 
48,81 
16,4 
390,7 
361,2 
424,2* 
53,99 
51,41 
56,95* 
52 
16 
360 
350 
380 
50 
50 
55 
1,01 
0,54 
8,59 
8,79 
14,64 
1,39 
1,46 
2,44 
* p < 0,05, quando foram comparados o TIF e o TIQ dos pacientes que tiveram evolução 
padrão com os que apresentaram DPE/NFE. 
Quando comparado os TIF do grupo com evolução enzimática padrão ao grupo que 
evoluiu com DPE/NFE houve significância estatística (TIF evolução padrão: 361,2+8,79; TIF 
DPE/NFE: 424,2+14,64*, p < 0,05). Em relação ao TIQ, houve também diferença significativa 
entre o grupo com evolução padrão e o grupo com DPE/NFE (TIF evolução padrão: 
51,41+1,46; TIQ DPE/NFE: 56,95+2,44*, p < 0,05) (Gráfico 8 – Apêndice K) (Gráfico 9 –
Apêndice L). 
 
Tabela 9 – Evolução AST no pós-operatório nos 176 receptores de fígado – média, mediana e 
erro padrão 
Variável AST Média Mediana Erro 
Padrão 
1o PO (U/L) 
2o PO (U/L) 
3o PO (U/L) 
4o PO (U/L) 
5o PO (U/L) 
6o PO (U/L) 
7o PO (U/L) 
1926 
1637 
990,7 
395,0 
175,8 
127,7 
91,90 
1050 
728,5 
360,0 
183,0 
98,00 
70,00 
54,00 
196,2 
177,4 
131,3 
65,49 
41,88 
32,20 
15,96 
 
 
 
 
37
Tabela 10 – Evolução ALT no pós-operatório nos 176 receptores de fígado – média, mediana e 
erro padrão 
Variável ALT Média Mediana Erro 
Padrão 
1o PO (U/L) 
2o PO (U/L) 
3o PO (U/L) 
4o PO (U/L) 
5o PO (U/L) 
6o PO (U/L) 
7o PO (U/L) 
1197 
1090 
827,0 
477,2 
320,8 
255,4 
218,6 
722,0 
546,0 
356,0 
239,5 
150,0 
142,5 
115,5 
118,7 
101,1 
90,47 
54,08 
32,37 
26,64 
24,84 
 
 
As variáveis dicotômicas relacionadas aos receptores encontram-se na tabela 11. 
 
Tabela 11 – Variáveis dicotômicas dos 176 receptores de fígado – número e proporção 
Variável Número Proporção
MELD > 25 
 Sim 9 5,1% 
 Não 159 90,4% 
 Hepatite Fulminante 8 4,5% 
Tempo de isquemia fria > 600 minutos 
 Sim 10 5,6% 
 Não 166 94,4% 
Tempo de Isquemia quente > 55 minutos 
 Sim 71 40,3% 
 Não 105 59,7% 
 
Quando analisadas as variáveis dicotômicas relacionadas aos receptores e doadores, o 
TIF maior que 600 minutos, TIQ maior que 55 minutos e o grau de esteatose hepática maior que 
30% apresentaram significância estatística (Tabela 12 e Tabela 13). 
 
 
 
38
Tabela 12 – Variáveis dicotômicas relacionadas aos receptores analisadas para DPE/NFE nos 
176 transplantes 
Variável Risco Relativo Intervalo de Confiança (95%) p 
MELD > 25 0,99 0,5873 - 1,673 0,97 
TIF > 600 minutos 2,77 0,7960 - 9,647 0,02* 
TIQ > 55 minutos 1,48 1,081 - 2,046 0,009*
* p < 0,05 
Tabela 13 – Variáveis dicotômicas relacionadas aos doadores analisadas para DPE/NFE nos 176 
transplantes 
Variável Risco 
Relativo 
Intervalo de Confiança 
(95%) 
p 
Uso de Drogas Vasoativas 0,74 0,2518 - 2,195 0,54 
Grau de Esteatose Hepática > 30% 2,82 1,018 - 7,848 0,006* 
Presença de Parada Cardiorrespiratória 0,90 0,6444 - 1,264 0,56 
Idade do doador > 55 anos 0,69 0,5074 – 0,9424 0,06 
Sódio > 155mEq/L 1,28 0,9494 - 1,725 0,09 
AST > 150U/L 1,03 0,6881 - 1,546 0,87 
ALT > 150U/L 0,99 0,5873 - 1,673 0,97 
 * p < 0,05 
Quando aplicado o teste de correlação (Sperman r) entre a idade dos doadores e a 
evolução das transaminases hepáticas do primeiro ao sétimo pós-operatório, não foi evidenciada 
significância estatística (Tabela 14 e Tabela 15). 
Tabela 14 – Idade dos doadores correlacionada com a evolução de AST no pós-operatório dos 
176 transplantes 
Variável Sperman (rs) P 
IDADE x 1o PO AST (U/L) 0,04777 0,5313 
IDADE x 2o PO AST (U/L) 0,04922 0,5214 
IDADE x 3o PO AST (U/L) 0,04632 0,5475 
IDADE x 4o PO AST (U/L) 0,04786 0,8836 
IDADE x 5o PO AST (U/L) 0,07920 0,5366 
IDADE x 6o PO AST (U/L) 0,07920 0,3061 
IDADE x 7o PO AST (U/L) 0,03989 0,6087 
 
 
39
Tabela 15 – Idade dos doadores correlacionada com a evolução de ALT no pós-operatório dos 
176 transplantes 
Variável Sperman (rs) P 
IDADE x 1o PO ALT (U/L) -0,01752 0,8185 
IDADE x 2o PO ALT (U/L) 0,01868 0,8078 
IDADE x 3o PO ALT (U/L) 0,03022 0,6948 
IDADE x 4o PO ALT (U/L) 0,02966 0,7010 
IDADE x 5o PO ALT (U/L) 0,04200 0,5877 
IDADE x 6o PO ALT (U/L) 0,04473 0,5648 
IDADE x 7o PO ALT (U/L) 0,02628 0,7352 
 
Quando aplicado o teste de correlação Sperman (rs) entre o sódio sérico dos doadores e a 
evolução das transaminases hepáticas do primeiro ao sétimo pós-operatório, não foi evidenciada 
significância estatística (Tabela 16 e Tabela 17). 
 
Tabela 16 – Sódio sérico dos doadores correlacionado com a evolução de AST no pós-
operatório dos 176 transplantes 
Variável Sperman (rs) p 
SÓDIO (mEq/L) x 1o PO AST (U/L) 0,004255 0,9556 
SÓDIO (mEq/L) x 2o PO AST (U/L) -0,02321 0,7625 
SÓDIO (mEq/L) x 3o PO AST (U/L) -0,03277 0,6705 
SÓDIO (mEq/L) x 4o PO AST (U/L) -0,06998 0,3659 
SÓDIO (mEq/L) x 5o PO AST (U/L) -0,02365 0,7603 
SÓDIO (mEq/L) x 6o PO AST (U/L) 0,009299 0,9045 
SÓDIO (mEq/L) x 7o PO AST (U/L) 0,07312 0,3477 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
40
Tabela 17 – Sódio sérico dos doadores correlacionado com evolução de ALT no pós-
operatório dos 176 transplantes 
Variável Sperman (rs) p 
SÓDIO (mEq/L) x 1o PO ALT (U/L) -0,0007469 0,9922 
SÓDIO (mEq/L) x 2o PO ALT (U/L) -0,06826 0,3736 
SÓDIO (mEq/L) x 3o PO ALT (U/L) -0,06045 0,4322 
SÓDIO (mEq/L) x 4o PO ALT (U/L) -0,04277 0,5797 
SÓDIO (mEq/L) x 5o PO ALT (U/L) -0,01317 0,8651 
SÓDIO (mEq/L) x 6o PO ALT (U/L) -0,03135 0,6867 
SÓDIO (mEq/L) x 7o PO ALT (U/L) -0,02152 0,7819 
 
Quando aplicado o teste de correlação Sperman (rs) entre a idade dos receptores e a 
evolução das transaminases hepáticas do primeiro ao sétimo pós-operatório, não foi evidenciada 
significância estatística (Tabela 18 e Tabela 19). 
 
Tabela 18 – Idade dos receptores correlacionada com evolução de AST no pós-operatório dos 
176 transplantes 
Variável Sperman (rs) p 
IDADE x 1o PO AST (U/L) -0,07753 0,3092 
IDADE x 2o PO AST (U/L) -0,05741 0,4545 
IDADE x 3o PO AST (U/L) -0,008326 0,9139 
IDADE x 4o PO AST (U/L) -0,01379 0,8588 
IDADE x 5o PO AST (U/L) -0,0009475 0,9902 
IDADE x 6o PO AST (U/L) 0,01278 0,8691 
IDADE x 7o PO AST (U/L) 0,03090 0,6918 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
41
Tabela 19 – Idade dos receptores correlacionada com evolução de ALT no pós-operatório dos 
176 transplantes 
Variável Sperman (rs) p 
IDADE x 1o PO ALT (U/L) -0,1092 0,1513 
IDADE x 2o PO ALT (U/L) -0,09774 0,2021 
IDADE x 3o PO ALT (U/L) -0,08908 0,2466 
IDADE x 4oPO ALT (U/L) -0,1054 0,1712 
IDADE x 5o PO ALT (U/L) -0,08903 0,2497 
IDADE x 6o PO ALT (U/L) -0,1040 0,1797 
IDADE x 7o PO ALT (U/L) -0,09599 0,2158 
 
Quando aplicado o teste de correlação (Sperman r) entre o MELD do receptor e a 
evolução das transaminases hepáticas do primeiro ao sétimo pós-operatório, não foi evidenciada 
significância estatística (Tabela 20 e Tabela 21). 
 
Tabela 20 – MELD dos receptores correlacionado com evolução de AST no pós-operatório 
dos 176 transplantes 
Variável Sperman (rs) p 
MELD x 1o PO AST (U/L) -0,03285 0,6744 
MELD x 2o PO AST (U/L) -0,08632 0,2717 
MELD x 3o PO AST (U/L) -0,06932 0,3793 
MELD x 4o PO AST (U/L) -0,02995 0,7060 
MELD x 5o PO AST (U/L) -0,0255 0,7478 
MELD x 6o PO AST (U/L) 0,05921 0,4556 
MELD x 7o PO AST (U/L) 0,03940 0,6219 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
42
Tabela 21 – MELD dos receptores correlacionado com evolução de ALT no pós-operatório 
dos 176 transplantes 
Variável Sperman (rs) p 
MELD x 1o PO ALT (U/L) -0,002980 0,9696 
MELD x 2o PO ALT (U/L) -0,07700 0,3271 
MELD x 3o PO ALT (U/L) -0,1007 0,2011 
MELD x 4o PO ALT (U/L) -0,1345 0,0879 
MELD x 5o PO ALT (U/L) -0,07862 0,3215 
MELD x 6o PO ALT (U/L) -0,08942 0,2608 
MELD x 7o PO ALT (U/L) -0,06845 0,3898 
 
A avaliação da correlação pelo Teste de Sperman r do TIF em minutos com a evolução 
das transaminases hepáticas do primeiro ao sétimo pós-operatório, revelou significância 
estatística no 1o PO, 2o PO, 3o PO, 4o PO, 6o PO e 7o PO para AST. Em relação a ALT houve 
significância estatística no 1o PO, 2o PO, 3o PO, 4o PO, 5o PO, 6o PO e 7o PO (Tabela 22 e 
Tabela 23). 
 
Tabela 22 – Tempo de Isquemia Fria (TIF) dos receptores correlacionado com evolução de AST 
no pós-operatório nos 176 transplantes 
Variável Sperman (rs) p 
TIF (min) x 1o PO AST (U/L) 0,1928 0,0108* 
TIF (min) x 2o PO AST (U/L) 0,2079 0,0062* 
TIF (min) x 3o PO AST (U/L) 0,2098 0,0059* 
TIF (min) x 4o PO AST (U/L) 0,1591 0,0388* 
TIF (min) x 5o PO AST (U/L) 0,1268 0,1005 
TIF (min) x 6o PO AST (U/L) 0,2034 0,0080* 
TIF (min) x 7o PO AST (U/L) 0,1523 0,0494* 
 * p < 0,05 
 
 
 
 
 
 
 
43
 
Tabela 23 – Tempo de Isquemia Fria (TIF) dos receptores correlacionado com evolução 
enzimática da ALT no pós-operatório nos 176 transplantes 
Variável Sperman (rs) p 
TIF (min) x 1o PO ALT (U/L) 0,1768 0,0196* 
TIF (min) x 2o PO ALT (U/L) 0,1793 0,0186* 
TIF (min) x 3o PO ALT (U/L) 0,2052 0,0071* 
TIF (min) x 4o PO ALT (U/L) 0,1829 0,0170* 
TIF (min) x 5o PO ALT (U/L) 0,1815 0,0182* 
TIF (min) x 6o PO ALT (U/L) 0,2249 0,0034* 
TIF (min) x 7o PO ALT (U/L) 0,2087 0,0066* 
 * p < 0,05 
A avaliação da correlação pelo Teste de Sperman r do TIQ em minutos com a evolução 
das transaminases hepáticas do primeiro ao sétimo pós-operatório, revelou significância 
estatística no 1o PO, 5o PO, 6o PO e 7o PO para AST. Em relação a ALT houve significância 
estatística no 1o PO (Tabela 24 e Tabela 25). 
 
Tabela 24 – Tempo de Isquemia Quente (TIQ) dos receptores correlacionado com a evolução 
de AST no pós-operatório nos 176 transplantes 
Variável Sperman (rs) P 
TIQ (min) x 1 o PO AST (U/L) 0,1613 0,0335* 
TIQ (min) x 2o PO AST (U/L) 0,09307 0,2246 
TIQ (min) x 3o PO AST (U/L) 0,1315 0,0864 
TIQ (min) x 4o PO AST (U/L) 0,1280 0,0972 
TIQ (min) x 5o PO AST (U/L) 0,1927 0,0121* 
TIQ (min) x 6o PO AST (U/L) 0,1921 0,0123* 
TIQ (min) x 7o PO AST (U/L) 0,1643 0,0338* 
 * p < 0,05 
 
 
 
 
 
 
 
44
 
Tabela 25 – Tempo de Isquemia Quente (TIQ) dos receptores correlacionado com a evolução 
de ALT no pós-operatório nos 176 transplantes 
Variável Sperman (rs) p 
TIQ (min) x 1o PO ALT (U/L) 0,1494 0,0491* 
TIQ (min) x 2o PO ALT (U/L) 0,07924 0,3015 
TIQ (min) x 3o PO ALT (U/L) 0,09246 0,2291 
TIQ (min) x 4o PO ALT (U/L) 0,1005 0,1921 
TIQ (min) x 5o PO ALT (U/L) 0,07544 0,3297 
TIQ (min) x 6o PO ALT (U/L) 0,1044 0,1780 
TIQ (min) x 7o PO ALT (U/L) 0,1358 0,0792 
 * p < 0,05 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
45
 
5 DISCUSSÃO 
 O transplante de fígado, atualmente, é o único tratamento curativo para pacientes 
portadores de hepatopatia crônica terminal e falência hepática aguda. A sobrevida em 5 anos 
tem sido superior a 80% nos grandes centros transplantadores. Os excelentes resultados obtidos 
com o transplante de fígado se devem ao refinamento da técnica cirúrgica, ao aprimoramento da 
anestesia, à otimização dos cuidados pós-operatórios e aos novos imunossupressores 
(FEIERMAN et al., 2004; STEADMAN, 2004; STARZL et al., 2005; MOORE et al., 2005; 
JAIN et al., 2005; KLUPP et al., 2005). Entretanto, a desproporção entre o número de 
doadores e de receptores na lista de espera continua a crescer de forma progressiva, acarretando 
altas taxas de mortalidade (UNOS, 2000). 
 Em cinco anos, foram realizados mais de 240 transplantes de fígado pela equipe de 
transplantes do HUWC/UFC, sendo atualmente uma das principais do Brasil. Apesar do 
crescente aumento das listas de espera nos últimos anos, não houve aumento do número de 
doadores falecidos. Em 2006, houve cerca de 6 doadores por milhão de habitantes no Brasil, 
número insuficiente para atender a demanda crescente. Dados da Organização Mundial da 
Saúde apontam para a necessidade de 20 a 30 doadores de fígado por milhão de habitantes por 
ano (ABTO, 2007). 
 Dados recentes do Hospital Universitário Walter Cantídio da Universidade Federal do 
Ceará revelaram que a mortalidade na fila de espera ultrapassou 30% (BRASIL et al, 2006). 
Por este motivo, vários centros têm utilizado doadores com critérios expandidos como 
estratégia para minimizar a mortalidade em lista de espera (TECTOR et al, 2006). 
 O transplante hepático, por ser um procedimento de alta complexidade, possui altas taxas 
de morbidade e mortalidade. Os pacientes podem evoluir com disfunção primária do enxerto, 
não função do enxerto, trombose de artéria hepática, rejeição aguda, rejeição crônica, recidiva 
da infecção do enxerto pelo vírus B ou C, recidiva de neoplasias, óbito intra-operatório por 
sangramento, etc (MONGE et al., 2002). 
 Diversos fatores vinculados às características dos doadores, ao trans-operatório e aos 
receptores podem implicar em disfunção primária do enxerto e até na não função do enxerto. 
Neste estudo, foram avaliados os fatores que poderiam contribuir para que o paciente evoluísse 
com DPE ou NFE. 
 Dos 176 receptores avaliados, foi constatado que a principal indicação para o transplante 
foi a hepatopatia crônica pelo vírus C seguida pela cirrose alcoólica, guardando assim as 
 
 
46
mesmas proporções da literatura mundial (UNOS, 2007). A média de idade dos receptores foi de 
48,8 anos com prevalência do sexo masculino. Noventa por cento dos receptores eram Child B 
ou C, demonstrando assim que esses pacientes só tinham nessa fase de suas vidas o transplante 
como única opção terapêutica. 
 Em julho de 2006, o Ministério da Saúde do Brasil adotou o escore MELD para alocar 
os pacientes na lista de espera, mudando da forma cronológica para o modelo de gravidade. Um 
estudo multicêntrico, que se encontra em andamento no Brasil, foi apresentado com dados 
parciais no último congresso da ABTO em setembro de 2007, sugerindo que a mudança para 
critério MELD não teve impacto na mortalidade na lista de espera, como também não aumentou 
a mortalidade pós-operatória. 
Avolio et al.(2006) concluíram que pacientes com MELD acima de 25 tinham maior 
risco de óbito após o transplante quando os enxertos eram provenientes de DCE. O MELD 
médio dos receptores do presente estudo foi de 16,4, tendo apenas nove pacientes MELD 
superior a 25. O escore maior que 25 não foi fator de risco para DPE/NFE, provavelmente 
porque 95% dos pacientes apresentavam escore menor que 25. Tal fato pode ser explicado pela 
implantação do sistema MELD no Brasil em julho de 2006 e pela maior parte dos transplantes 
desta casuísticaterem sido realizados antes deste período (era pré MELD). Dados ainda não 
publicados da Universidade Federal do Ceará revelam que o MELD médio atual dos pacientes 
transplantados é de 23,5, demonstrando que os pacientes atuais são mais graves. 
 A incidência de retransplante hepático foi de 5%, tendo como principal causa a trombose 
de artéria hepática. Busuttil et al. (2005) relataram 3200 transplantes com taxa de 
retransplante >10%. É possível que a incidência do HUWC /UFC tenha sido menor por falta de 
doadores para realizar o retransplante de urgência em tempo hábil. 
A maioria dos doadores deste estudo foi proveniente do Instituto Dr. Jose Frota da 
Prefeitura Municipal de Fortaleza. Cento e setenta e cinco transplantes foram realizados com 
doador falecido e somente um transplante foi realizado a partir de doador vivo. O transplante 
realizado com doador vivo foi o do tipo dominó, em que um paciente com polineuropatia 
amiloidótica familiar (PAF) recebeu um enxerto proveniente de um doador falecido e doou o 
seu fígado para uma paciente portadora de hepatopatia crônica pelo vírus C associada a 
hepatocarcinoma. O procedimento foi um sucesso e ambos encontram-se em bom estado de 
saúde há mais de um ano (GARCIA et al., 2006). A maioria dos doadores era do sexo 
masculino (68%), com idade média de 34 anos e seis meses, tendo o traumatismo crânio 
 
 
47
encefálico como principal causa de óbito (65%). A média e idade dos doadores de fígado nos 
Estados Unidos é de 42 anos e na Espanha 45 anos (UNOS, 2007, CUENDE et al., 2005). 
Receptores que recebem órgãos de doadores com prolongado tempo de hipotensão têm 
maior chance de perda do enxerto pós-transplante, principalmente aqueles que receberam altas 
doses de drogas vasoativas (MIMEAULT et al., 1989; OPELZ; WUJCIAK, 1994; 
MARKMANN et al., 2001). Por outro lado, Busuttil et al. (2005) demonstraram que PCR e o 
uso de drogas vasoativas não influenciaram de forma isolada no risco de mortalidade ou 
sobrevida em 60 meses nos receptores. No presente estudo, o uso de drogas vasoativas como 
noradrenalina e dopamina e a parada cardiorrespiratória (PCR) nos doadores previamente à 
cirurgia de captação, não apresentaram impacto na incidência de DPE/NFE. 97% dos doadores 
usaram pelo menos uma droga vasoativa e 17% tiveram PCR antes da captação. É importante 
ressaltar que o uso de drogas vasoativas foi muito alto, talvez pelo fato do processo de doação e 
captação ser por demais extendido. 
Schemmer et a.l (2007) consideraram transaminases do doador três vezes acima do valor 
normal como fator de risco para DPE/NFE. Entretanto, concluíram que AST e ALT nestes 
valores elevados não favoreceram DPE/NFE. No presente estudo, foi estabelecido um ponto de 
corte de AST e ALT maior que 150U/L, não tendo sido evidenciado risco relativo aumentado 
para DPE/NFE. 
O nível sérico de sódio do doador tem sido implicado como fator de risco para DPE/NFE 
em diversos trabalhos (STRASBERG et al., 1994; FIGUERAS et al., 1996; SCHEMMER et 
al., 2007). Avolio et al. (1991) sugeriram pela primeira vez, que a hipernatremia do doador tinha 
impacto adverso na evolução das enzimas hepáticas no pós-operatório do receptor. Gonzalez et 
al.(1994) demonstraram em análise multivariável de 187 pacientes que há correlação entre sódio 
do doador e disfunção hepática. Figueras et al. (1996) demonstraram que níveis séricos de sódio 
maior que 155mEq/L no doador, no momento da captação, pode causar disfunção hepática no 
receptor e proporcionar maior incidência de perda do enxerto precocemente. O mecanismo 
ainda não é bem conhecido, mas acredita-se que esteja relacionado com o edema nos 
hepatócitos exacerbado pela lesão de isquemia e reperfusão. Gonzalez et al. (1994) levantaram a 
hipótese de que a alteração na osmolaridade extracelular no enxerto hepático poderia ocasionar 
acúmulo de água nos hepatócitos, culminando com injúria celular após a fase de reperfusão. 
Totsuka et al.(1999) demonstraram que os níveis de sódio sérico no doador maior que 
155mEq/L poderiam propiciar dano ao enxerto. Jawan et al. (2002), em um estudo experimental 
com ratos, induziram hipernatremia nos doadores e depois avaliaram a função hepática, não 
 
 
48
encontrando alteração hepática relacionada com esta anormalidade. Tector et al. (2006) 
analisaram o uso de doadores falecidos com critérios expandidos em 571 transplantes e 
demonstraram que doadores com sódio elevado (>170mEq/L) não representavam risco para 
NFE ou DPE, sugerindo que doadores com sódio sérico elevado não sejam considerados como 
doadores com critérios expandidos. No presente estudo, a análise univariada do sódio sérico 
>155mEq/L não foi fator de risco para que o receptor evoluísse com NFE ou DPE. Tal fato foi 
previamente validado em 2005 na Universidade da Califórnia, onde foram avaliados 3200 
transplantes e não houve evidências de que o sódio sérico elevado do doador poderia ser um 
fator de risco para má evolução do enxerto. As razões pelas quais a hipernatremia não interferiu 
na função do enxerto dos receptores permanecem incertas, mas é possível que o aprimoramento 
das técnicas cirúrgicas e o manejo mais adequado do doador na unidade de terapia intensiva 
tenham contribuído (BUSUTTIL et al., 2005). 
O enxerto ideal é aquele proveniente de um doador entre 18 e 40 anos com morte 
cerebral causada por traumatismo crânio-encefálico (FENG, 2005). No entanto, a idade dos 
doadores tem aumentado significativamente em todo o mundo. Em 1991, 13% dos doadores 
falecidos tinham mais de 50 anos; 10 anos depois, esses doadores superam os 30% (OPTN, 
2001). Na década passada, o número de doadores nos Estados Unidos da América com idade 
superior a 50 anos mais do que dobrou, passando de 844 em 1994 para 1867 em 2003 
(DELMONICO et al., 2005). Inicialmente, doadores com idade superior a 50 anos têm sido 
associados com disfunção primária do enxerto. Entretanto, outros estudos têm demonstrado que 
doadores com mais de 50 anos, que não apresentam outros fatores para DPE, têm em seus 
enxertos sobrevida comparada a de doadores jovens, não representando assim contra-indicação 
absoluta para doação do fígado (WALL et al., 1990; MOR et al., 1992; KARATZAS et al., 
1997; BRICENO et al., 1997; OH et al., 2000) . Doadores com mais de 70 anos, entretanto, 
tem sido associados com alta taxa de perda de enxertos e receptores (BUSQUETS et al., 2001) 
O risco relativo de perda do enxerto aumenta com a idade, pois fígados de doadores com 60 a 
69 anos e maior que 70 anos possuem risco relativo de perda do enxerto de 1,49 e 1,88 
respectivamente (FENG, 2005). Cameron et al.(2005) sugeriram que fígados provenientes de 
doadores idosos devem ser usados com cautela se outros fatores de risco forem concomitantes. 
O tempo de isquemia fria deve ser minimizado e esses enxertos devem ser evitados em 
pacientes com cirrose por vírus C (ANGELICO et al, 2005; AVOLIO et al, 2005). 
Quando comparado imunologicamente o fígado com outros órgãos, evidencia-se que 
com o aumento da idade ele se torna mais imunogênico, diferentemente dos outros órgãos. Tal 
 
 
49
fato se deve talvez pela alta taxa de reserva funcional do fígado, grande capacidade de 
regeneração e necessidades metabólicas (POPPER, 1986). Fígados provenientes de doadores 
com mais de 50 anos de idade apresentam maior susceptibilidade a lesões endoteliais, a 
isquemia fria e a diminuição da síntese de ATP após reperfusão, podendo influenciar de forma 
negativa na capacidade de regeneração do fígado. Outro fato interessante é que doadores com 
idade elevada têm maior incidência de esteatose hepática, podendo contribuir de forma direta na 
lesão celular durante a fase de isquemia fria (KIMURA et al., 1996). 
No presente estudo, não foi encontrado significado estatístico quando aplicado teste de 
correlação entre a idade do doador e a evolução enzimática no pós-operatório, mesmo

Continue navegando

Outros materiais