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1 AS PRINCIPAIS BASES DA MTC (MEDICINA TRADICIONAL CHINESA) Profa. Dra. Thalita Masoti Blankenheim RESUMO A medicina veterinária tradicional chinesa (MVTC) é relativamente nova no Ocidente, sendo chamada de medicina alternativa, apesar de ser uma medicina usada para tratar animais na China por mais de 100 anos (GLÓRIA, 2017). Ainda segundo Glória (2017), é uma técnica que ainda hoje continua a evoluir e a adaptar as suas técnicas à medida que novas informações sobre o seu funcionamento vão surgindo. O fundamento base é fornecer um quadro integral para a compreensão, interpretação e organização do processo de saúde-doença, olhar para o ser vivo como um todo, considerando no seu meio envolvente (rotinas, alimentação, hábitos, entre outros) e possíveis desequilíbrios. Yin e Yang são princípios universais dos aspectos opostos da vida. Yin é a força passiva ou negativa. Yang é a força ativa ou positiva. Ambos não podem existir isoladamente, pois há sempre algum Yin no Yang e alguns Yang no Yin. Assim, nada é completamente todo Yin ou todo Yang (SARMENTO, 2014). Yin é como a água, frio e pesado. Ele reside nas partes mais sombreadas do universo e no lado interno do corpo. São exemplos de Yin: noite, lua, frio, escuro, interno, feminino, inibição, parassimpático e crônico. Yang é como fogo, que aquece e circula. Ele direciona os movimentos ativos do corpo, estando associado ao estado de alerta e atividade. Yang reside na luz do sol e nas partes superiores e externas do corpo. São exemplos de Yang: dia, sol, calor, claro, externo, masculino, excitação, simpático e agudo (SARMENTO, 2014). Através da observação dos elementos da natureza e de sua relação com o corpo, os médicos da China Antiga desenvolveram uma doutrina denominada Teoria dos Cinco Elementos. Os cinco elementos são: Fogo, Terra, Metal, Água e Madeira. Aos quatro elementos que consistem na natureza, segundo os gregos – Terra, Água, Fogo e Ar – os chineses acrescentaram um quinto elemento – a 2 Madeira que representa a vida. O ar possui a mesma conotação filosófica do Metal (PEREIRA; QUEIROZ, 2020). Cada elemento é ligado a um sistema de órgãos. Assim, o Fogo associa- se ao coração e intestino delgado, e liga-se a circulação do sangue, alimento e hormônios. A Terra associa-se ao baço/pâncreas e estômago liga-se à digestão. O Metal associa-se aos pulmões e intestino grosso, ligando-se com a movimentação dos líquidos. A Madeira associa-se ao fígado e à vesícula biliar, ligando-se com a árvore dos processos tóxicos (PEREIRA; QUEIROZ, 2020). As teorias de Yin e Yang e dos Cinco Elementos são empregadas na Medicina Tradicional Chinesa para explicar o organismo, suas funções fisiológicas, os processos patológicos e as relações internas entre eles, bem como para explicar as leis gerais de diagnóstico e tratamento (SARMENTO, 2014). Uma das técnicas mais utilizadas na MVTC, a acupuntura, foi primeiramente utilizada por agricultores nas espécies de maior interesse econômico: vacas, ovelhas, porcos e cavalos. No ocidente, a medicina veterinária deu os seus primeiros passos no tratamento das espécies de companhia, como os cães e gatos (SCOGNAMILLO-SZABÓ; BECHARA, 2010). A acupuntura consiste na inserção de agulhas e/ou transferência de calor em áreas definidas da pele, chamadas de acupontos. Ela reestabelece o equilíbrio de estados funcionais alterados e atinge a homeostase pela influência sobre determinados processos fisiológicos. É derivada do latim acus e pungere, respectivamente agulha e puncionar, mas atualmente outros meios de estímulo de acupontos são utilizados. A expressão chinesa Zhen Jiu, espetar e queimar, traduz de forma mais completa o método, que utiliza comumente o calor como fonte de estímulo (HAYASHI; MATERA, 2005). O objetivo central da MTC e, portanto, da Acupuntura, é a ideia de equilíbrio, tanto no que se refere às funções orgânicas quanto à relação do corpo com o meio externo. Em outras palavras, a Acupuntura preconiza que a saúde é dependente das funções psico-neuroendócrinas, sob influência do código genético e de fatores extrínsecos como nutrição, hábitos de vida, clima, qualidade do ambiente, entre outros (SCOGNAMILLO-SZABÓ; BECHARA, 2010). 3 A filosofia da Acupuntura e a lógica científica são derivadas de observações da natureza e dos organismos. Porém, a Acupuntura detém principalmente nas inter-relações dos fatos observados, gerando um raciocínio dialético dinâmico e sintético. Por outro lado, o raciocínio científico é, geralmente, compartimentalizado, de forma que, para a ciência, as diversas áreas do conhecimento pouco têm em comum (SCOGNAMILLO-SZABÓ; BECHARA, 2010). Na acupuntura tradicional chinesa, os acupontos estão distribuídos ao longo de uma rede interligada de meridianos por onde flui o fator denominado Qi, considerado a energia vital circulante. Os acupunturistas consideram que a dor é resultado do bloqueio do meridiano causado por uma doença, impedindo a passagem da energia vital. O termo que se refere a acuponto é Shu Xue. A palavra Shu significa passagem, comunicação, e Xue significa orifício, saída. Esse orifício da pele se comunica com um ou mais órgãos internos através de um meridiano, Jing, ou de seu colateral, Luo. Cada acuponto reflete as condições do seu órgão correspondente, portanto quando um órgão está sujeito a alterações fisiopatológicas, um ou mais acupontos relacionados podem se tornar sensíveis ou apresentar sinais de anormalidade, como rigidez da pele no local ou alterações de cor (PANTANO, 2011).