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Produção textual I Aula 1: Falando sobre a escrita Apresentação “Deus escreve certo por linhas tortas”; “Quem tem boca vai a Roma”; Para quem sabe ler, um pingo é letra.” Ditados como esses ilustram a importância da fala e da escrita na nossa sociedade. Nos mostram que sem comunicação, não seríamos capazes de viver em grupo. Percebemos que, para comunicar as nossas ideias verbalmente, ou seja, fazendo uso de palavras, falamos ou escrevemos. Nesta aulacomeçaremos a entender como se dá o processo da escrita e os elementos comunicacionais que envolvem esse processo. Objetivos Discutir as semelhanças e diferenças entre fala e escrita; Conhecer, resumidamente, a história da escrita; Reconhecer a importância da escrita na vida do homem em sociedade; Identi�car as funções da escrita na sociedade; Re�etir o papel da escola na aquisição da escrita. Fala e escrita: modalidades do uso da língua Sabemos que fala e escrita são modalidades distintas de uso da língua. Com a nossa experiência ao longo da vida escolar, já entendemos que a escrita não é uma simples transcrição da fala. Quando escrevemos, diferentemente do que ocorre quando falamos, o contexto de produção e o contexto de recepção não coincidem. Se, em uma conversação natural, o planejamento e a execução acontecem ao mesmo tempo, em um texto escrito, temos tempo para planejar, escrever e revisar o que produzimos. Nosso objetivo não é tratar fala e escrita de modo polarizado, ou seja, de um lado a fala, de outro, a escrita. (Fonte: Shutterstock). Concordamos com Koch e Elias (2009, p. 14) e tantos outros autores quando ressaltam que fala e escrita não devem ser vistas "de forma dicotômica, estanque, como era comum até há algum tempo e, por vezes, como acontece ainda hoje". Leitura Leia um texto da Ingedore Koch sobre características da língua falada e da língua escrita. Sobre esse aspecto, destacamos a proposta de Marcuschi (2004) que a�rma que "as diferenças entre fala e escrita se dão dentro de um continuum tipológico das práticas sociais e não na relação dicotômica de dois polos opostos." (apud, Koch & Elias (2009:14)). Desse modo, poderíamos situar os diversos tipos de práticas sociais de produção textual ao longo desse contínuo, partindo da conversação espontânea, coloquial até chegarmos à escrita formal. Perceberíamos, assim, que alguns textos escritos como bilhetes, cartas familiares e textos de humor estariam mais próximos às nossas conversações naturais. Por outro lado, alguns contextos de língua falada como conferências e algumas entrevistas pro�ssionais estariam mais próximas à escrita formal. javascript:void(0); Como surgiu a escrita? Já vimos que a comunicação é indispensável para a vida em sociedade, mas como o homem interagia com os outros membros do seu grupo? Ao longo da história, vimos que o homem, inicialmente, fazia uso de imagens para expressar suas ideias. Depois, vieram as palavras orais e, só mais tarde, a escrita. Comentário Podemos inferir então que a escrita é derivada da fala? Não! Vejamos o comentário do professor Luiz Antônio Marcuschi .1 Atenção Vale lembrar a existência de comunidades ágrafas, ou seja, sem tradição escrita. https://estacio.webaula.com.br/cursos/protx2/aula1.html "O fato de a escrita ocupar uma posição segunda dentre as possibilidades de comunicação verbal não signi�ca que ocupe uma posição secundária. Pelo contrário: saber escrever é e sempre será requisito essencial para promover a ascensão social, cultural, pro�ssional e econômica de qualquer indivíduo" - Sautchuk, 2011, p.2 Hoje em dia, percebemos a facilidade no acesso à escrita, mas nem sempre foi assim. Houve um tempo em que a escrita era uma atividade de difícil acesso e realizada por poucos privilegiados. A invenção da prensa contribuiu muito para as atividades de leitura e de escrita. Por que escrevemos? Ao longo da vida, escrevemos diferentes textos para diferentes destinatários e com diversos objetivos. Notamos que escrever é um ato individual, pois é o produtor do texto o responsável por algumas decisões: a quem escrever, o que escrever, como escrever. Vejamos as funções da linguagem, apresentadas por Carneiro (2001): Clique nos botões para ver as informações. A partir da escrita, é possível transferir o ato de comunicação para um outro momento ou um outro local. No entanto, isso não seria su�ciente para explicar a necessidade de continuarmos escrevendo. Como salienta o autor, temos, hoje, uma série de recursos tecnológicos capazes de exercer a mesma função que a escrita como as gravações em DVD. Função de transferência Segundo essa função, escrevemos para armazenar informações, o que, atualmente, pode ser feito também por meio de outros recursos. Função de preservação Escrevemos para registrar dados que serão utilizados ainda no presente. Como exemplo, podemos destacar o uso de agendas. Função de memorização A escrita é uma forma de preservar a identidade cultural de um povo, o que salienta a relação entre língua escrita e nacionalidade. Função sócio-político-cultural Por mais que se possa, na língua falada, produzir obras artísticas de qualidade, percebemos que a escrita é o veículo de grandes obras da literatura. Função artística À medida que escrevemos, estamos formando um pensamento. A escrita é uma grande aliada no desenvolvimento da cultura de um povo por ser uma ferramenta na produção de conhecimentos e na manutenção de conhecimentos acumulados ao longo da vida. Função de produção de conhecimento Saiba mais Um ótimo exemplo de escrita na vida em sociedade é visto no �lme “Narradores de Javé.” Nele, temos a história de uma cidade ameaçada de extinção devido à construção de uma hidrelétrica. Para manter a cidade, os moradores resolvem produzir um documento com os feitos importantes ocorridos na cidade para que, entendida como um patrimônio histórico, a cidade seja preservada. O curioso é que, na cidade, há apenas um indivíduo capaz de colocar no papel esses fatos. Leia a resenha. O papel da escola na aquisição da escrita javascript:void(0); Já vimos que a fala é desenvolvida a partir do convívio com os nossos familiares, mas como podemos adquirir a escrita? A primeira observação a ser feita refere-se aos verbos utilizados na pergunta apresentada: a fala é "desenvolvida"; a escrita é "adquirida". (Br.freepik.com). Para que um indivíduo adquira um sistema de escrita, é necessário que ele passe por um processo de educação formal. Por outro lado, para falar, basta que esse indivíduo esteja exposto a uma língua. Muitos estudos sobre aquisição da escrita, como os das pesquisadoras Emilia Ferreiro e Ana Teberosky, apresentam a tese de que esse processo acontece bem antes do ingresso à escola. Atenção É importante re�etir que o fato de um indivíduo não dominar o sistema de escrita não compromete seu desempenho ao utilizar a língua falada. Saiba mais A língua falada, mais especi�camente a maneira de escrevermos, também pode servir de fonte de interpretação da personalidade. Veja algumas indicações para uma análise de personalidade. Notas Marcuschi1 "Sob o ponto de vista mais central da realidade humana, seria possível de�nir o homem como um ser que fala e não como um ser que escreve. Entretanto, isto não signi�ca que a oralidade seja superior à escrita, nem traduz a convicção, hoje, tão generalizada quanto equivocada, de que a escrita é derivada e a fala é primária. A escrita não pode ser tida como uma representação da fala, como você verá adiante. Em parte, porque a escrita não consegue reproduzir muitos fenômenos da oralidade, tais como a prosódia, a gestualidade, os movimentos do corpo e dos olhos, entre outros. Em contrapartida, a escrita apresenta elementos signi�cativos próprios, ausentes na fala, tais como o tamanho e tipo de letras, cores e formatos, elementos pictóricos, que operam como gestos, mímicas e prosódia gra�camente representados.“ javascript:void(0); (MARCUSCHI, L. A. Da fala para escrita - atividades de retextualizaçâo. São Paulo:Cortez, 2000. p. 17) Referências CARNEIRO, A.D. Redação em construção: a escritura do texto. Rio de Janeiro: Moderna, 2001. FERRERO; TEBEROSKY. Psicogênese da língua escrita. São Paulo: Artmed, 1999. KOCH, I. Introdução a linguística textual: trajetória e grandes temas. São Paulo: Contexto, 2009. MARCUSCHI, L. A. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008. Próxima aula O conceito de escrever bem; A relevância do planejamento antes de iniciar a atividade de escrita; As etapas do planejamento de uma produção de texto; Os componentes importantes de um texto: destinatário, conteúdo, organização e propósito comunicativo; As partes de um texto (introdução, desenvolvimento e conclusão) e suas características principais; Os mitos do escrever bem. Explore mais Pesquise na internet, sites, vídeos e artigos relacionados ao conteúdo visto. Em caso de dúvidas, converse com seu professor online por meio dos recursos disponíveis no ambiente de aprendizagem. Assista ao vídeo: A história da palavra ; Narradores de Javé (Trailer) . javascript:void(0); javascript:void(0);
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