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ATENÇÃO PSICOSSOCIAL E USO DE ÁLCOOL E DROGAS W B A 02 67 _v 1. 0 2 Rogério Adriano Bosso Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020 ATENÇÃO PSICOSSOCIAL E USO DE ÁLCOOL E DROGAS 1ª edição 3 2020 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Carolina Yaly Giani Vendramel de Oliveira Juliana Caramigo Gennarini Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Camila Braga de Oliveira Higa Revisor Fábio Eiji Sato Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Gilvânia Honório dos Santos Hâmila Samai Franco dos Santos Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) __________________________________________________________________________________________ Bosso, Rogério Adriano B745a Atenção psicossocial e uso de álcool e drogas/ Rogério Adriano Bosso, – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020. 41 p. ISBN 978-65-86461-30-5 1. Atenção psicossocial. 2. Álcool I. Bosso, Rogério Adriano. Título. CDD 616.89 ____________________________________________________________________________________________ Jorge Eduardo de Almeida CRB-8/8753 © 2020 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. 4 SUMÁRIO Atenção psicossocial na abordagem ao usuário de álcool e outras drogas ___________________________________________ 05 Perfil dos usuários de álcool e outras drogas _______________________ 16 Políticas públicas na atenção aos usuários de álcool e outras drogas ___________________________________________ 30 Ambientes de tratamento específicos para usuários de álcool e outras drogas __________________________________________ 41 ATENÇÃO PSICOSSOCIAL E USO DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS 5 Atenção psicossocial na abordagem ao usuário de álcool e outras drogas Autoria: Rogério Adriano Bosso Leitura crítica: Fábio Eiji Sato Objetivos • Apresentar estratégias psicossociais no tratamento da dependência química. • Apresentar a rede socioassistencial para indivíduos em tratamento da dependência química. • Demonstrar o importante papel do suporte familiar na recuperação do dependente químico. 6 1. Introdução Olá, aluno! Neste módulo, você estudará temas que instigam todos os profissionais que atuam na área da dependência química: as estratégias psicossociais no ambiente de tratamento, a rede socioassistencial e o papel da família no processo de recuperação do dependente químico. Esses temas estão presentes no cotidiano e se faz extremamente importante que os profissionais que atuam nessa área estejam equipados com informações científicas e baseadas em evidências para poder desenhar um plano de atendimento singular (PAS) que seja eficaz e que alcance as reais necessidades do indivíduo que busca por ajuda em seu processo de recuperação. Com o conteúdo que você estudará agora, com certeza, poderá desenvolver novas estratégias e habilidades para lidar com o dependente químico, bem como com sua família, e terá possibilidades de realizar orientações e aconselhamentos adequados, além de encaminhamentos certeiros, conforme a demanda que lhe for apresentada. Está pronto para começar? Então, vamos estudar! 2. Atenção psicossocial na abordagem ao usuário de álcool e outras drogas O relatório mundial sobre o uso de drogas da United Nations Office on Drugs and Crime (UNODC, 2015) nos apresenta um cenário onde existe uma estimativa de que 5% da população mundial entre 15 e 64 anos de idade fez uso de algum tipo de drogas ilícitas em 2013, o equivalente a 246 milhões de pessoas. Do total apresentado, aproximadamente 27 milhões se enquadram em critérios diagnósticos para o transtorno por uso de substâncias (TUS). 7 A dependência química, nos dias atuais, tem se tornado um grave problema de saúde pública no Brasil. A dependência química não se restringe apenas às consequências que o uso acarreta na esfera biológica, mas por sua complexidade, se expande às esferas culturais, sociais e psicológica, podendo levar o indivíduo à prática de violência e vulnerabilidades, como risco de morte (MENDES, 2017). Devido a essas complexidades, você perceberá que não existe uma única estratégia para a oferta de tratamento da dependência química. O tratamento pode ser ofertado por diversas abordagens terapêuticas. É importante que o profissional conheça a história de vida da pessoa que está acometida com problemas decorrentes do uso de drogas e possam entender a fundo suas necessidades primordiais, e, por meio do uso de ferramentas, como o aconselhamento individual, traçar um plano de atendimento singular (PAS), sempre em conjunto com o dependente químico, para que se torne algo possível de ser realizado e com metas de curto prazo, que possa ser realizadas com sucesso, e reforce assim, positivamente, a pessoa em processo de recuperação e a motive a continuar em manutenção de sua abstinência. Vamos conhecer algumas das estratégias utilizadas no atendimento a pessoas dependentes químicas? Uma das abordagens, as psicoterapêuticas, pode ser ofertada no formato de psicoterapia individual ou de grupo. As linhas teóricas que apresentam maior eficácia são a terapia cognitivo-comportamental (TCC), terapia sistêmica e a Psicanálise (JEANNINNE, et al., 2015). Além das estratégias citadas, atividades específicas para a manutenção da abstinência no processo de recuperação devem incluir atendimentos psiquiátricos, grupos de prevenção a recaída e treinamento de habilidades sociais, atividades essas que podem ser encontradas no CAPS AD. Outro ponto importante e que deve ser reforçado e valorizado com o dependente químico em processo de recuperação é a frequência a grupos de apoio, como, por exemplo, Alcoólicos Anônimos (AA) ou Narcóticos Anônimos (NA) (BRASIL, 2019). 8 • Grupos de prevenção à recaída: as técnicas de prevenção à recaída para pacientes dependentes químicos sugerem, para que aumentem as chances de sucesso em sua recuperação, que se mantenham distantes de pessoas, hábitos e lugares que possam ser considerados gatilhos para uma possível recaída (DIEHL; BOSSO, 2019). • Treinamento de habilidades sociais: você sabe o que são habilidades sociais? Elas podem se caracterizar por um conjunto de comportamentos apresentados por um indivíduo em suas relações no contexto social, os quais podemos observar por meio de atitudes, sentimentos, desejos, direitos ou opiniões de modo assertivo, conforme a situação pede naquele determinado momento, sem esquecer de preservar o respeito às demais pessoas, resolvendo problemas imediatos e diminuindo a probabilidade futura de conflitos. Prezado aluno, agora você já sabe o que são habilidades sociais, correto? E o treinamento dessas habilidades, como acontece, você sabe? O treinamento de habilidades sociais tem sido observado como uma importante prática, desde os primeiros anos de vida, no desenvolvimento pessoal. O treinamento de habilidades sociais possibilita o desenvolvimento de indivíduos saudáveis. Tão importante é o treinamento de habilidades sociais, que pesquisas têm sido realizadas com o intuito de aprimorara inserção desses treinamentos desde períodos escolares, uma vez que esse ambiente é o primeiro espaço e talvez o mais rico dentro dos conjuntos de relações sociais na vida de um indivíduo. O treinamento de habilidades sociais tem se realizado com a esperança preventiva ao uso de substância psicoativas. • Grupos de apoio: os grupos de apoio, como o Alcoólicos Anônimos (AA), por exemplo, funcionam como uma irmandade composta de 9 homens e mulheres que vivenciam e realizam trocas, entre si, de experiências, a fim de solucionar seu problema comum com álcool ou outras drogas e ajudar outros dependentes que precisam de recuperação. A única exigência é ter o desejo de interromper o uso. O grupo é aberto ao público, sem cobrança de taxas, funciona de forma autossuficiente, ou seja, os participantes oferecem suas próprias contribuições, conforme podem. Os grupos de apoio não estão ligados a seita ou religião, não são partidários, não são afiliados a nenhuma organização ou instituição e não apoiam e nem combatem quaisquer causas. O propósito primordial é a manutenção da abstinência do álcool e outras drogas. • CAPS AD: o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD) é um serviço de saúde, sem custos ao dependente químico e seus familiares, funciona no modelo de portas abertas e é comunitário do Sistema Único de Saúde (SUS). O CAPS AD é um local de referência no tratamento para pessoas que sofrem com transtornos por uso de substâncias, cuja gravidade e/ ou persistência justifiquem sua necessidade de utilização do dispositivo de cuidado intensivo, personalizado, comunitário e promotor de saúde e vida. O objetivo dos CAPS AD é oferecer atendimento aos dependentes químicos de sua área de abrangência, realizando o acompanhamento médico e psicossocial e a reinserção social dos usuários por meio de estratégias que facilitem o acesso ao trabalho, lazer etc., além de promover o fortalecimento dos laços familiares e sociais. A ideia do CAPS AD é a substituição às internações psiquiátricas. Os usuários do CAPS AD são pessoas que apresentam intenso sofrimento psíquico e critérios diagnósticos para transtorno por uso de substâncias, que lhes restringem o repertório, impossibilitando, assim, de realizarem seus projetos de vida de forma saudável. São, preferencialmente, pessoas com critérios diagnósticos severos e/ou persistentes (BRASIL, 2004). 10 Figura 1 – Ajuda mútua compartilhada em grupos de apoio Fonte: SDI Productions/iStock.com. 2.1 Rede socioassistencial no tratamento da dependência química Aluno, você já ouviu falar em rede socioassistencial? Vamos conhecer um pouco sobre esse assunto? Podemos entender a rede de assistência como um conjunto de serviços, projetos, benefícios e programas que são prestados por meio de convênios com organizações sem fins lucrativos ou diretamente ao cidadão. Rede significa a parceria formada entre esses dispositivos para que se tenham mais informações sobre um usuário que integra vários equipamentos dessa rede. Essas informações dizem respeito ao histórico de atendimento do usuário, como presença de doenças anteriores, número de vezes que acessou a rede de saúde, quais foram os tipos de atendimentos e tratamentos realizados etc. Essa integração das informações faz com que aumente a qualidade da assistência prestada. Uma vez que a rede de atendimento está estruturada, o usuário é recebido pela equipe do serviço que buscou por ajuda e é referenciado entre todos os dispositivos. O Sistema Único de Saúde (SUS), o Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) e o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) fazem parte dessa grande rede de assistência. Ok, aluno, agora você sabe o que é uma rede de assistência, mas você sabe como mapeá-la? Existem formas de 11 conhecer e mapear os serviços da região. Mapear a região e aumentar o leque de oferta ao usuário é uma das missões mais importantes. Mas não é apenas mapear; você, enquanto profissional, deverá visitar e conhecer cada serviço com o qual seu local de atendimento pode contar (tanto públicos como os privados). Para que seja possível esse mapeamento, recomenda-se que seja realizado um diagnóstico social com a ferramenta chamada ecomapa. O ecomapa é uma ferramenta, um mapa, cujo objetivo é desenhar, junto com o usuário, todos os serviços disponíveis na rede, em sua região de residência, de forma ilustrativa e concreta. O ecomapa nada mais é que uma representação ilustrativa de avaliação dos serviços que permeiam a vivência do usuário na região em que vive. Mas muita atenção! Não é apenas o usuário que deve ter um ecomapa elaborado, deve-se elaborar, também, o mapeamento familiar, possibilitando, assim, uma visão ampla de prioridades e os passos que devem ser dados para garantir a reinserção social do usuário. Vamos ver como elaborar um ecomapa? O ecomapa deve deixar explícito o contexto em que o usuário vive, os serviços disponíveis e suas redes de apoio sociais/relacional. Com o desenho de um ecomapa, é possível entender, agrupar e trazer novos recursos, levantar hipóteses e realizar um monitoramento do processo de reinserção. Exemplo: as relações mais próximas, como familiares, amigos e outros vínculos que o usuário perceba como protetivos; os serviços na rede de atendimento, como médicos e serviços de saúde mental, conselho tutelar etc.; os grupos sociais não tão próximos, mas que o usuário também possui como recurso, como igrejas, escolas, grupos de convívio etc. Enfim, deve-se desenhar um ecomapa levando em consideração toda a rede possível que uma pessoa possa ter. Outro ponto importante do ecomapa é que ele também irá apresentar, de forma clara, a ausência de vínculos do usuário e que precisam ser trabalhadas pelo profissional que assume o caso. 12 A elaboração do ecomapa, junto com o usuário, torna-se um momento terapêutico importante, que pode deixar clara a restrição de repertório por conta do uso de drogas e o quanto sua relação com elas prejudicou seus vínculos. Um profissional capacitado, ao desenhar o ecomapa, consegue aumentar a motivação do usuário a manter-se em tratamento e recuperação. A ideia do ecomapa é reforçar as possibilidades de ajuda ao usuário, para que este se mantenha em recuperação. Aluno, você sabe onde os usuários podem encontrar as atividades necessárias para sua recuperação? As atividades específicas para a manutenção da abstinência no processo de recuperação podem ser encontradas nos Centros de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPS AD), local que conta com profissionais especializados da área da saúde, mas também podemos contar com os grupos de ajuda mútua, como os Alcoólicos Anônimos (AA) e Narcóticos Anônimos (NA), que não contam com auxílio profissional, apenas com a troca de experiência entre pares, cuja explicação veremos logo abaixo (SOUZA; KANTORSKI, 2009). Um dado importantíssimo para se levar em consideração é que os tratamentos que combinam reuniões de 12 passos aumentam as taxas de sobriedade em 45%. Com o trabalho em rede, o usuário poderá (re)estruturar uma rede socioassistencial significativa. Figura 2 – Simulação de um ecomapa Fonte: metamorworks /iStock.com. 13 2.2 Papel do suporte familiar na recuperação do dependente químico Bom, aluno, chegamos a um tema importante quando falamos em dependência química e o tratamento do usuário de drogas: a família! Você já parou para pensar que, após todo o período de tratamento e processo de recuperação, o usuário estará em contato com sua família, e mais, que essa família, por conta da inserção do familiar no mundo das drogas, pode estar tão adoecida quanto o usuário e precisando de suporte? Pois bem, vamos falar um pouco sobre esse assunto? O acompanhamento contínuo e sistemático dos profissionais com o usuário e seus familiares é de extrema importância para a eficácia do tratamento. Esse acompanhamento irá contribuir para a manutenção das necessidades do usuário, funcionandocomo estratégia importante na prevenção à recaída. O que vários estudos têm apresentado é que a reinserção social é complexa e composta por elementos como acompanhamento em rede, intervenções familiares e um bom gerenciamento de casos. Esses modelos de atendimentos em rede resgatam vínculos significativos e potencializam mudanças no estilo de vida do usuário. Na avaliação familiar, devemos nos atentar e dar atenção ao vínculo estabelecido e à qualidade deste. Compreender essa estruturação familiar se faz importante, pois nem sempre os vínculos familiares são vínculos protetivos ou com condições de diálogo e isso deve ser muito bem avaliado, existe a chance de os laços estarem rompidos ou fragilizados. Observar o contexto familiar é um dos fatores mais importantes, uma vez que os padrões de comportamento aprendidos com os pais e as interações familiares podem influenciar as atitudes dos filhos. Entende-se que o comportamento dos pais ou cuidadores servem como exemplo na 14 conduta da pessoa; dessa forma, pesquisas têm mostrado que filhos de usuários podem apresentar maior risco de tornarem-se dependentes. Não ter convivência com os pais é outro fator de risco relacionado à família. Observa-se que adolescentes que crescem em instituições e experienciam afetos disfuncionais, castigos exagerados, situações de ameaças e negligência em relação aos cuidados, ou são criados fora do seu núcleo familiar, são mais suscetíveis ao envolvimento com álcool e outras drogas. Já que vimos que tão importante quanto cuidar do usuário é o cuidado e a atenção que se deve dar a família, é extremamente necessário que você, aluno, saiba que, assim como existem grupos de apoio para os usuários, também existem os grupos de apoio para os familiares, os quais funcionam no mesmo modelo dos grupos de apoio para os usuários e acabam sendo uma extensão deles. Por exemplo: o grupo AA possui o Al-Anon, que é específico para familiares. Temos também o Amor Exigente (AE), que trabalha com o apoio aos familiares. Todas as famílias, sem exceção, devem ser encaminhadas para que conheçam essa rede de apoio. Nos sites dos respectivos grupos, os familiares podem filtrar por cidade, bairro e horários para encontrar uma reunião mais próxima de sua residência. Figura 3 – Representação da importância do suporte familiar Fonte: CalypsoArt/iStock.com. 15 Quando pensamos em dependência química, em tratamento aos usuários de álcool e outras drogas, devemos ter claro em nossas mentes que esse é um trabalho a ser realizado em conjunto, com atores que vão desde o próprio usuário e sua família até a ajuda profissional de uma equipe multiprofissional. O trabalho em rede na atenção psicossocial aumenta as chances de eficácia e sucesso no processo de recuperação de dependentes químicos. Referências bibliográficas BRASIL. Ministério da Cidadania. Secretaria Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas. Módulo X: prevenção e reinserção social. In: BRASIL. Ministério da Cidadania. Secretaria Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas. Curso Compacta: capacitação de monitores e profissionais das comunidades terapêuticas. Florianópolis: labSEAD, 2019. BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde mental no SUS: os centros de atenção psicossocial. Brasília: Ministério da Saúde, 2004. Disponível em: http://www.ccs. saude.gov.br/saude_mental/pdf/sm_sus.pdf. Acesso em: 21 jan. 2020. DIEHL, A.; BOSSO, R. A. Profissionais do Sexo. In: Alessandra Diehl (Org.). Sexualidade e dependência química: um guia para profissionais que atuam em serviços de tratamento. Curitiba: Appris, 2019. p. 130. JEANNINNE, A; LACCHINI, B; NASI, C; OLIVEIRA, G. C. de. Características de usuários de crack atendidos em um Centro de Atenção Psicossocial: concepção da equipe. Rev Eletrônic de Enfermagem, [s.l], v. 17, n. 2, p. 196-204, 2015. MENDES, M. S. Dependência química e fortalecimento psicossocial pelas práticas esportivas. Estud. psicol., Natal, v. 22, n. 3, p. 285-292, set. 2017. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413- 294X2017000300005. Acesso em: 20 jan. 2020. SOUZA, J.; KANTORSKI, L. P. A rede social de indivíduos sob tratamento em um CAPS AD: o ecomapa como recurso. Revista da Escola de Enfermagem da USP, São Paulo, v. 43, n. 2, p. 373-383, 2009. UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME. [s.l], 2015. World Drug Report 2015. Disponível em: https://www.unodc.org/documents/wdr2015/World_Drug_ Report_2015.pdf. http://www.ccs.saude.gov.br/saude_mental/pdf/sm_sus.pdf http://www.ccs.saude.gov.br/saude_mental/pdf/sm_sus.pdf http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-294X2017000300005 http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-294X2017000300005 https://www.unodc.org/documents/wdr2015/World_Drug_Report_2015.pdf https://www.unodc.org/documents/wdr2015/World_Drug_Report_2015.pdf 16 Perfil dos usuários de álcool e outras drogas Autoria: Rogério Adriano Bosso Leitura crítica: Fábio Eiji Sato Objetivos • Apresentar os critérios diagnósticos do usuário de álcool e outras drogas. • Apresentar o perfil do usuário de álcool e outras drogas. • Apresentar as comorbidades mais frequentes nos usuários de álcool e outras drogas. 17 1. Introdução Olá, aluno! Você já parou para pensar em questões como: quem é o usuário de álcool e outras drogas? Por que algumas pessoas se tornam dependentes químicos e outras não? Estamos falando de uma doença ou de uma questão moral? Os usuários são portadores de transtornos mentais? Essas questões, sem sombra de dúvidas, são questões que instigam todos os profissionais que atuam direta ou indiretamente com os usuários de álcool e outras drogas. Por esse motivo, neste módulo, você estudará temas que responderão a essas questões, bem como traçará o perfil dos usuários de álcool e outras drogas, seus aspectos biopsicossociais. Além disso, você também entenderá a neurobiologia da dependência química e conhecerá os critérios diagnósticos para o transtorno por uso de substâncias (TUS). Talvez o calcanhar de aquiles no tratamento dos usuários de substâncias seja as comorbidades. E você, aluno, sabe o que são comorbidades? Se sua resposta foi não, fique tranquilo, pois você estudará neste módulo. Prezado aluno, sem mais delongas, vamos estudar? 2. Perfil dos usuários de álcool e outras drogas Quando falamos em uso de drogas, estamos nos referindo a um fenômeno que, por sua complexidade, abrange as esferas biológica, psicológica, social, econômica e até mesmo espiritual. Existem relatos, desde os primórdios da existência humana, de que o ser humano utiliza elementos da natureza que pudessem alterar sua forma de funcionamento em nível mental e comportamental, o que deixa evidente que esse comportamento é inerente à raça humana. 18 Porém, quando existe um indivíduo em uso abusivo de algum tipo de substância psicoativa, isso impacta negativamente, e isso é comprovado cientificamente, a saúde pública. Além disso, o usuário abusivo ou já com uma dependência instalada não acomete apenas a si só, como também toda a sociedade na qual vive (BRASIL, 2019). Seguem algumas das atribuições do uso de álcool nas taxas de mortes: 28% estão diretamente ligadas a acidentes de trânsito, automutilação e violências doméstica e urbana; 21% ligadas a doenças do aparelho gastrointestinal; 19% ligadas a doenças do coração; sendo o restante ligadas a câncer, doenças infecciosas, transtornos mentais e outras condições de saúde (OMS, 2019). Por meio do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, foram divulgados dados importantes do Relatório Mundial sobre Drogas em relação ao consumo mundial de drogas. No referido documento (UNODC, 2019), foram apresentadas enfaticamente as consequências relacionadas ao uso de drogas para a saúde mundial, as quais têm apresentado significativa piora nos últimos anos, devido à falta de tratamento adequado, uma vez que muitos tratamentos disponíveisnão são baseados em evidências científicas. Há, no mundo, cerca de 35 milhões de pessoas acometidas pelos transtornos por uso de substâncias e que necessitam de tratamento. Esse número supera o considerado anteriormente de 30,5 milhões de pessoas (UNODC, 2019, p. 1). Mas o que acontece no cérebro com o uso de algum tipo de droga? O sistema mesolímbico-mesocortical, também denominado sistema de recompensa, composto pelas áreas tegmental ventral, nucleus accumbens, amígdala e córtex pré-frontal, tem como ação primordial promover e estimular comportamentos responsáveis pela manutenção da espécie humana. Com o uso de drogas, é capaz de produzir um aumento de centenas de vezes na atividade basal desse sistema. As drogas corrompem os mecanismos fisiológicos do cérebro, 19 gerando um prazer químico. Outros circuitos de neurônios também são desregulados pelo uso de drogas e são causados danos que podem ser reversíveis, porém com um período longo e prolongado de reestruturação (LARANJEIRA, 2012). Essas alterações nas estruturas, conforme se aumentam a quantidade e intensidade do uso e se diminui o espaçamento de tempo, gera tolerância, o que faz o usuário aumentar a quantidade de substância consumida para se obter o mesmo prazer que conseguia anteriormente com pequenas doses. Após esse processo, na retirada da droga, o indivíduo pode sofrer com a síndrome de abstinência: sinais e sintomas negativos devido à retirada abrupta da droga. Muitos usuários mantêm o uso mesmo com a presença de todas as consequências adversas para “fugir” da síndrome de abstinência. Figura 1 – Exemplos de apresentações das drogas Fonte: Stas_V/iStock.com. 2.1 Aspectos biopsicossociais do usuário de álcool e outras drogas Aluno, você já ouviu falar nos aspectos biopsicossociais do usuário de álcool e outras drogas? Que tal conhecer um pouco mais sobre esse assunto? 20 Pensando nos fenômenos ligados aos fatores biológicos (bio), psicológicos (psico) e os sociais (social), criou-se o termo “biopsicossocial”, o qual tenta expressar uma explicação da junção dessas esferas. Não se deve tentar explicar a dependência química, fenômeno complexo, como algo que esteja ligado única e exclusivamente a um fator, como, por exemplo, a condição social da pessoa. A dependência química é complexa e determinada de forma multifatorial, ou seja, existe uma junção de fatores que se somam para a síndrome da dependência química, o que já é bem consolidado na literatura. Falamos em síndrome, mas você, aluno, sabe o que é uma síndrome? Síndrome tem como significado a palavra “reunião” e sua origem é grega. Síndrome é um termo médico utilizado para caracterizar um conjunto de sinais e sintomas de uma determinada doença. Como falamos na dependência como sendo uma questão multifatorial, vamos ver agora alguns elementos que fazem parte do transtorno por uso de substâncias. Vale ressaltar que alguns autores consideram também a esfera espiritual como um dos fatores determinantes da dependência. • Fatores sociais: estrutura de família disfuncional, como o abandono, a violência doméstica e carências básicas; violência social; ter baixa escolaridade e restrição de oportunidades e opções de lazer; frequência a grupos que fazem uso constante e contínuo de drogas; ambiente permissivo ao uso de substâncias. • Fatores psicológicos: doenças psiquiátricas, como depressão, ansiedade, distúrbios do desenvolvimento, transtornos de personalidade etc.; alterações ligadas ao comportamento; repertório parco de habilidades sociais; falta de limite. • Fatores biológicos: predisposição genética; tolerância; potencial de toxicidade e de dependência da substância, o que são influenciadas pela via de administração (BRASIL, 2019). 21 O Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais, DSM-5 (APA, 2014) elenca 11 critérios de diagnóstico que caracteriza o transtorno por uso de substâncias, que podem acometer a pessoa a ponto de apresentar sofrimento e significativo comprometimento clínico. Para se fechar o diagnóstico, deve-se ter um acompanhamento da pessoa de pelo menos um ano. Os 11 critérios nos apresentam três possibilidades de dependência: leve, moderada ou grave. É considerada dependência leve quando existe a presença de dois ou três dos 11 critérios que veremos a seguir. Dependência moderada é considerada quando há a presença de quatro ou cinco dos 11 critérios e considera-se dependência grave a presença de mais de seis dos 11 critérios diagnósticos. Atenção, alunos: apenas um profissional médico é autorizado a um diagnóstico. Bom, vamos conhecer os 11 critérios diagnósticos? 1. A substância é consumida em quantidades maiores do que o planejado ou o uso acontece por um período maior do que o pretendido. 2. O usuário apresenta um desejo persistente, bem como esforços malsucedidos, de tentar reduzir a quantidade de substância consumida. 3. Tempo excessivo utilizado em atividades que envolvem o uso de substâncias. 4. Presença de fissura. 5. O uso de substância ocasiona incapacidade de desempenhar papéis sociais. 6. Uso contínuo de substâncias, mesmo apresentando problemas sociais ou interpessoais persistentes. 7. Restrição do repertório de vida. 22 8. Uso de substâncias mesmo na presença de perigo para a integridade física. 9. O uso de substâncias é mantido mesmo na presença de problemas físicos ou psicológicos persistentes. 10. Tolerância. 11. Síndrome de abstinência. Figura 2 – Esferas biopsicossocial Fonte: Natee127/iStock.com. 2.2 Perfil do usuário de álcool e outras drogas Bom, aluno, chegamos a um tema importante, que é conhecer o perfil dos usuários de álcool e outras drogas. Você consegue, por meio do que leu até este momento, pensar em qual seria o perfil dos usuários? Vamos conhecê-los? Estudo de Trevisan e Castro (2019) verificou que há maior prevalência em usuários do sexo masculino (80,5%), entre 41 e 60 anos (45,8%) e sem companheiro(a) (55,2%). Em sua grande maioria, possuem ensino fundamental incompleto (38,4%) e estão desempregados (34,7%); (62,9%) dos usuários estavam em tratamento entre um e cinco anos; 23 (39,8%) dos usuários já haviam sido internados anteriormente devido a comprometimentos pelo transtorno por uso de substâncias, entretanto, contatou-se que essa informação não constava nos prontuários de 26,3% dos usuários (essa informação reforça a importância de uma avaliação de perfil bem estruturada e bem documentada); 64,8% estavam em uso de medicações devido aos problemas relacionados ao uso das substâncias; 64,8% estavam no CAPS AD na modalidade de tratamento semi-intensiva. Em relação ao tipo de droga consumida pelos usuários, o uso de álcool disparou com 89,7% dos usuários em consumo dessa substância ao longo da vida. Em seguida, temos o consumo de tabaco (58,3%). As drogas perturbadoras e LSD tiveram menor consumo (2,2% e 0,5%, respectivamente). Na amostragem de consumo no último mês, tendo como referência a data do acolhimento no CAPS AD, o consumo de álcool novamente disparou, com (77,8%); e as perturbadoras: LSD e ecstasy com 0% e 0,3%. A droga de maior consumo entre o público masculino foi o tabaco (81,3%), e entre o público feminino, o crack (22,6%). A droga de maior consumo entre os adultos (77,4%) e os idosos (83,8%) foi o álcool. Os usuários que possuíam uma relação estável tinham um aumento no consumo de álcool (42,9%), e os que não possuíam uma relação estável apresentavam aumento no uso da cocaína (71,0%). Os usuários que possuem trabalho, tinham aumento no uso de álcool (44,7%), e os usuários que não possuem trabalho, tinham aumento no uso do crack (64,0%). Segundo Diehl e Bosso (2019), mulheres profissionais do sexo, em sua grande maioria (88,5%), relataram uso de álcool em forma de binge, e com apenas 32,9% relatando uso de preservativo, o que demonstra também importante risco para contaminação de doenças infectocontagiosas, como o HIV. 24 2.3 Frequentes comorbidadespresentes no usuário de álcool e outras drogas Por fim, aluno, agora que já compreendemos como se dá o transtorno por uso de substância, vimos um panorama da dependência em nível mundial e conhecemos o perfil dos usuários, vamos finalizar com chave de ouro e estudar um pouco sobre as comorbidades mais frequente nessa população? Pode-se considerar comorbidade psiquiátrica quando existe a presença de dois ou mais transtornos ou duas ou mais doenças que acontecem concomitantemente na vida de uma pessoa. Aproximadamente metade das pessoas que apresentam uma doença mental irão, além da doença, apresentar um transtorno por uso de substâncias (TUS) ao longo de suas vidas. O contrário também é valido, pois a doença mental pode aumentar as possibilidades para o transtorno por uso de substâncias e, por último, o uso de drogas pode acarretar doenças mentais. Uma em cada quatro pessoas com doença mental grave apresenta transtorno por uso de substância. A Figura 3 nos traz a ilustração em um estudo longitudinal na população norte americana. Figura 3 – Prevalência longitudinal entre transtornos por uso de substâncias e doença mental grave entre pessoas maiores de 18 anos nos Estados Unidos da América Legenda: linha azul: % entre pessoas com transtornos por uso de substâncias (TUS). Linha vermelha: % entre pessoas com transtorno mental grave. Fonte: SAMHSA (2014). 25 Os fatores de risco em comum podem justificar a alta prevalência de comorbidade. Esses fatores seriam: genética, estressores ambientais e vulnerabilidades neuroanatômicas (NICIU et al., 2014; WEN; SCHAID; LU, 2013; FIDALGO et al., 2018). As comorbidades mais comuns entre os usuários de substâncias são: transtornos de ansiedade, transtorno de ansiedade generalizada, transtorno de pânico e transtorno de estresse pós-traumático. Outros transtornos comuns são: depressão e transtorno bipolar, transtornos do spectrum psicótico, transtorno de personalidade borderline, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), e transtorno de personalidade antissocial. Esquizofrênicos apresentam índices maiores de uso de tabaco, álcool e transtornos por uso de drogas, como a maconha, do que a população em geral (OLSSON; FRIDELL, 2015; LE FOLL et al., 2015). • Transtornos de ansiedade: os transtornos de ansiedade incluem transtornos mistos que podem combinar características de medo e ansiedade excessivos e perturbações comportamentais. Medo é a resposta emocional/ comportamental que a pessoa emite frente a uma ameaça iminente real ou percebida apenas pela pessoa, enquanto os sintomas de ansiedade são gerados por uma antecipação de uma ameaça futura. Certamente, esses dois estados emocionais/ comportamentais se sobrepõem, mas também possuem suas características próprias, sendo que o medo aparece com maior frequência associado a períodos de excitabilidade autonômica aumentada, o que se faz necessário em situações de luta ou fuga, sensação de estar em risco imediato e comportamentos de fuga. Já a ansiedade se apresenta mais frequentemente associada a vigilância em preparação para perigo futuro e comportamentos de cautela ou esquiva ou tensão muscular (APA, 2014). • Depressão: pessoas com transtornos depressivos podem se apresentar com uma simples incapacidade de se concentrar. Entretanto, a dificuldade de concentração nos transtornos do 26 humor fica proeminente apenas durante um episódio depressivo. Na depressão, a pessoa pode apresentar humor deprimido quase todos os dias e na maior parte dele; o interesse ou prazer que apresentava anteriormente passam a ficar diminuídos em comparação a datas anteriores; a pessoa ganha ou perde peso significativamente; apresenta insônia ou hipersonia quase todos os dias; agita-se ou apresenta lentidão psicomotora não apresentada anteriormente; fadiga ou perda de energia; culpa-se excessivamente ou se sente sem valor quase todos os dias; apresenta habilidade reduzida de se concentrar ou pensar; pensamentos diários sobre morte e suicídio sem um plano. Pode apresentar tentativa de suicídio ou plano para este. Um ponto importante a ser observado é que esses sintomas precisam estar causando um impacto significativo na vida da pessoa de forma global (APA, 2014). • Transtorno bipolar: é uma doença grave e de distribuição universal que pode ser considerada grave. De 1% a 4% da população é afetada pelo transtorno bipolar, dependendo dos critérios utilizados. A maior incidência da presença do transtorno bipolar acontece no final da adolescência ou na idade adulta jovem, com uma idade média geral de início de 25 anos. Entre 20 e 30 anos de idade é que, geralmente, se dá o início da doença. São raros os casos de início tardio, após os 70 anos (AMERICAN PSYCHIATRY ASSOCIATION, 2014). • Transtorno de personalidade: segundo o Manual diagnóstico e estatístico americano de doenças mentais DSM-5 (APA, 2014), os transtornos de personalidade são aqueles que apresentam um padrão persistente de experiência interna e comportamento que se desvia drasticamente das expectativas de representação social e cultural da pessoa, é inflexível e difuso, geralmente se inicia na adolescência ou no início da fase adulta, permanece estável ao longo da vida e leva a um significativo sofrimento ou prejuízo. São, portanto, traços duradouros, anômalos e constantes que evoluem num continuum da vida da pessoa. 27 • Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH): os déficits primários do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade podem causar prejuízos globais na vida da pessoa, nas áreas da comunicação social e limitações funcionais, na comunicação efetiva, bem como na participação social ou no sucesso da vida acadêmica (APA, 2014). São elencados alguns critérios, segundo o DSM V: • Critério A: está ligado à desatenção ou à hiperatividade/ impulsividade. • Critério B: define que os sintomas de desatenção e/ou hiperatividade/impulsividade apresentados no critério A devem estar presentes em idade inferior a 12 anos de idade. • Critério C: define que os sintomas de desatenção e/ou hiperatividade/impulsividade devem apresentar-se em dois ou mais contextos do convívio da pessoa, como casa, trabalho, escola etc. • Critério D: define que os sintomas interferem significativamente ou reduzem a qualidade do funcionamento global da pessoa. • Critério E: define que os sintomas não podem ocorrer exclusivamente durante os sintomas agudos da esquizofrenia ou outro transtorno psicótico, e também não podem ser melhor explicados por outro transtorno mental. • Espectro da esquizofrenia e outros transtornos psicóticos: o espectro da esquizofrenia e outros transtornos psicóticos engloba a doença da esquizofrenia, os transtornos da personalidade esquizotípica e outros transtornos psicóticos. Esses transtornos são definidos por anormalidades na sensopercepção, como: alucinações, delírios, comportamento motor grosseiramente desorganizado ou anormal (incluindo catatonia), pensamento (discurso) desorganizado e sintomas negativos (APA, 2014). 28 Alunos, para que possamos pensar nas melhores estratégias de oferta de tratamento para portadores de transtornos por uso de substâncias, é de extrema necessidade conhecer o perfil do usuário, bem como as doenças que podem estar associadas à dependência. Somente assim poderemos alcançar de forma eficaz as necessidades básicas do usuário e aumentar as chances de manutenção da abstinência no processo de recuperação. Referências bibliográficas AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. Disponível em: http://www.niip.com.br/wp-content/uploads/2018/06/Manual-Diagnosico-e- Estatistico-de-Transtornos-Mentais-DSM-5-1-pdf.pdf. Acesso em: 28 jan. 2020. BRASIL. Ministério da Cidadania. Secretaria Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas. Módulo X: Atualização sobre álcool, tabaco e demais substâncias psicoativas.In: BRASIL. Ministério da Cidadania. Secretaria Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas. Curso Compacta: capacitação de monitores e profissionais das comunidades terapêuticas. Florianópolis: labSEAD, 2019. BRASIL. Ministério da Cidadania. Secretaria Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas. Módulo X: Conhecimentos fundamentais sobre dependência química. In: BRASIL. Ministério da Cidadania. Secretaria Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas. Curso Compacta: capacitação de monitores e profissionais das comunidades terapêuticas. Florianópolis: labSEAD, 2019. DIEHL, A.; BOSSO, R.A. Profissionais do sexo. In: Alessandra Diehl (Org.). Sexualidade e dependência química: um guia para profissionais que atuam em serviços de tratamento. Curitiba: Appris, 2019. p 130. LARANJEIRA, R. Bases do tratamento de dependência de crack. 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Mental and substance use disorders. https://www.samhsa.gov/disorders. [s.l.] 20 jun. 2014. Acesso em: jan. 2020. TREVISAN, E. R.; CASTRO, S. S. Centros de Atenção Psicossocial – álcool e drogas: perfil dos usuários. Saúde debate, Rio de Janeiro, v. 43, n. 121, p. 450-463, abr. 2019. Disponível em: https://scielosp.org/pdf/sdeb/2019.v43n121/450-463/pt. Acesso em: 28 jan. 2020. UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME. World Drugs Report. Vienna: UNODC, 2019. Disponível em: bit.ly/2n2RjtQ. Acesso em: 29 jan. 2020. http://bit.ly/2lywVR0 http://bit.ly/2lywVR0 https://www.samhsa.gov/disorders https://scielosp.org/pdf/sdeb/2019.v43n121/450-463/pt http://bit.ly/2n2RjtQ 30 Políticas públicas na atenção aos usuários de álcool e outras drogas Autoria: Rogério Adriano Bosso Leitura crítica: Fábio Eiji Sato Objetivos • Apresentar as políticas públicas sobre drogas no Brasil. • Apresentar a história das políticas públicas sobre drogas no Brasil. • Apresentar a legislação vigente. 31 1. Introdução Olá, aluno! No Brasil, muito se tem discutido sobre o uso e abuso de drogas lícitas e ilícitas. Neste módulo, você estudará sobre as políticas públicas sobre drogas no Brasil. Como sabemos, tudo tem sua história e é importante que saibamos sobre a história, a origem de tudo, pois dessa forma conseguiremos compreender melhor as configurações atuais das políticas públicas para essa demanda específica, dos portadores de transtornos por uso de substâncias. As políticas públicas foram se “modificando” ao longo do tempo, conforme as evidências científicas foram trazendo dados importantes sobre os usuários de álcool e outras drogas. Quando falamos em política sobre drogas, estamos falando de um conjunto de estratégias que o Brasil traçou na tentativa de reduzir a oferta, bem como a demanda das drogas. Com o conteúdo que você estudará agora, você poderá tomar ciência dos direitos que os usuários de álcool e outras drogas possuem, ajudando-os a, também, desenvolver essa consciência e, dessa forma, não cometer o risco de negligenciar o usuário durante seu atendimento. Prezado aluno, temos muito o que ver sobre esse assunto, não é mesmo? 2. Políticas públicas sobre drogas e sua história no Brasil Para iniciar os estudos, vamos entender o que são políticas públicas? As políticas públicas são um conjunto de estratégias que pode ser desenvolvido pelo Estado, nos níveis municipal, estadual e federal. 32 Sempre que existe uma demanda de um grupo populacional específico na sociedade, na tentativa de solucionar o problema, cria-se política pública, com objetivos específicos focados na situação-problema. As políticas públicas têm a função de direcionar por meio de suas diretrizes, que devem ser seguidas em todo o país. Para a criação das políticas públicas sobre drogas, existem vários debates entre diferentes setores, os quais nem sempre possuem os mesmos interesses em comum. Você, aluno, tem ideia de quais são esses setores? • Sociedade civil. • O poder do Estado (Legislativo, Executivo e Judiciário). • Indústrias das drogas, como tabaco e bebidas alcoólicas. • Universidades com dados científicos. • Mídia. Vale ressaltar que as políticas públicas não ditam as mesmas diretrizes em todos os locais, ou seja, elas podem sofrer alterações dependendo do município, estado, país ou cultura. Vale ressaltar também que as políticas públicas não devem ser engessadas, ou seja, elas podem e devem ser revistas ao longo dos tempos para alterações necessárias. Para ilustrar, podemos tomar como exemplo de mudanças na legislação o cigarro. Há 30 anos, existiam inúmeras propagandas, sempre de forma luxuosa, para prender a atenção das pessoas; além disso, seu uso era permitido em qualquer lugar, sendo ele coletivo ou não, porém, após muita discussão dos setores e colaboração da área acadêmica com suas pesquisas, nos dias atuais, com as mudanças das políticas públicas em relação ao cigarro, a propaganda e os locais para uso foram restritos. 33 Algumas vezes, ficamos descrentes em relação à tomada de atitudes que possam vir a promover mudanças, não é mesmo, aluno? Mas vamos tomar esse exemplo como base para nos mantermos firmes na ideia de lutar por melhorias que possam acarretar bem-estar global para a sociedade. As políticas públicas em relação ao cigarro deram muito certo, impactando diretamente a diminuição de problemas de saúde e o consumo dessa droga (BRASIL, 2019). Mas agora, aluno, vamos dar uma passeada pelo tempo e saber como se deu, no Brasil, o processo da evolução das políticas públicas sobre drogas e das legislações vigentes? 1973: • Adesão do Brasil ao Acordo Sul-Americano sobre Estupefacientes e Psicotrópicos. • Lei n. 6.368/1976, separa as figuras de traficante e usuário. • Coloca a necessidade de comprovação do uso por meio de laudo toxicológico. 1986: • Criação do Fundo de Prevenção, Recuperação e de Combate às Drogas de Abuso (Funcab), Lei n. 7.560/1986, vinculada ao Ministério da Justiça, sob direção do Conselho Federal de Entorpecentes (Confen). 1988: • A Constituição de 1988 determina que tráfico de drogas é crime inafiançável e sem anistia. 1993: • Com o intuito de propor a política nacional de entorpecentes para que elaborem planos, coordene, supervisione, exerça orientação 34 de normas e fiscalize as atividades do uso de entorpecentes e substâncias psicoativas que causem dependência física ou psíquica, bem como o tráfico, além de funções em conformidade com os objetivos do Sistema Nacional de Prevenção, Fiscalização e Repressão de Entorpecentes, foi criado o Conselho Federal de Entorpecentes (Confen). • A Secretaria Nacional de Entorpecentes foi criada com o objetivo de acompanhar, supervisionar e fiscalizar o que era executado pelo Conselho Federal de Entorpecentes. 1998: • A Medida Provisória n. 1.689/1998 transforma o Confen em Conad (Conselho Nacional Antidrogas). • Criação da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) objetivando a integração entre sociedade, governo e o Conad. A missão da Senad é coordenar a Política Nacional Antidrogas. • Especificamente, até então,não havia uma política nacional sobre drogas. 2000: • A Lei n. 10.167/2000 restringe a publicidade na mídia de produtos derivados do tabaco. • A Lei n. 10.167/2000 proíbe também propaganda via internet, a propaganda em pistas, estádios, palcos ou locais similares e a propaganda indireta contratada (merchandising). • A Lei n. 10.167/2000 proíbe, ainda, patrocínios em eventos culturais e esportivos nacionais. 2001: • A Lei n. 10.216/2001 preocupa-se com a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e apresenta uma nova diretriz para o modelo de assistência em saúde mental. 35 • A Lei n. 10.216/2001 apresenta, ainda, as modalidades de internação, sendo elas: voluntária, involuntária e compulsória. Vale ressaltar que, para qualquer uma das modalidades de internação, a avaliação médica se faz imprescindível. Muito ouvimos falar, atualmente, sobre a Reforma Psiquiátrica. Um marco legal da reforma é a Lei n. 10.216/01, de Paulo Delgado. A lei dá garantia aos usuários de álcool e outras drogas à universalidade de acesso e direito assistencial, assim como garante sua integralidade. A partir dessa mudança, são estruturados serviços que possam atender as pessoas em seu local de convívio, sem que elas precisem ser retiradas de seu ambiente social para ser reclusa em um modelo tradicional de internação (SANTOS; OLIVEIRA, 2013). • Ainda nesse ano, acontece a mudança do nome do Funcab para Fundo Nacional Antidrogas (Funad): Medida Provisória n. 2.216- 37/2001. Ainda nesse período, a Resolução RDC 101/2001 – Anvisa apresenta a regulamentação técnica de exigências mínimas para que funcionem serviços que atendam usuários de álcool e outras drogas. 2002: • A Política Nacional Antidrogas (Pnad) aponta diretrizes para desenvolver estratégias de prevenção, recuperação, tratamento, reinserção social, repressão ao tráfico, redução de danos sociais e à saúde, pesquisas, estudos e avaliações decorrentes do uso indevido de drogas por meio do Decreto n. 4.345 de 26 de agosto de 2002. 2003: • A política do Ministério da Saúde para atenção integral a usuários de álcool e outras drogas é publicada pelo Ministério da Saúde. Cria os serviços assistenciais de atenção diária: os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e os Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD). 36 2005: • Aprovação da Política Nacional sobre Drogas (Pnad) pelo Conad. 2006: • A Lei n. 11.343/2006 retira a pena de prisão para o usuário de álcool e outras drogas que esteja portando essas substâncias para seu próprio consumo. Essa mesma lei diferencia o traficante profissional daquele que “trafica” para poder ter como recompensa algum tipo de substância para o próprio consumo. • O Sistema Nacional de Políticas sobre Drogas (Sisnad) é instituído. O Sisnad e a Pnad são importantes avanços nas políticas públicas sobre drogas. 2008: • Apreensão do veículo, suspensão temporária da CNH e multa são penalidades para motoristas que apresentem concentração de álcool no sangue. Essa implementação faz parte do Decreto n. 6.488 de 19 de junho de 2008, que dispõe alterações no Código de Trânsito Brasileiro. 2011: • Para poder avaliar as comunidades terapêuticas de forma eficaz, levando em consideração seu caráter de convívio entre pares e residencial, a Anvisa propõe uma revisão na RDC 101/2001 e cria a RDC 29/2011. Anterior a essa revisão, as comunidades terapêuticas eram avaliadas com o mesmo rigor da avaliação de um Hospital. 2012: • A Lei n. 12.760 de 20 de dezembro de 2012 propõe penalidades mais severas para pessoas que forem pegas dirigindo sob uso de álcool. A tolerância para o nível de alcoolemia agora é zero. 37 2015: • O Marco Regulatório das Comunidades Terapêuticas é considerado pela Resolução Conad n. 1/2015. 2019: • O Projeto de Lei da Câmara n. 37 (PLC 37/2013) é aprovado e, assim, sancionada a Nova Política Sobre Drogas no Brasil. Figura 1 – Proibição do uso de tabaco/cigarro em locais coletivos Fonte: philpell/iStock.com. 2.1 As políticas públicas sobre drogas no Brasil e sua legislação vigente Aluno, agora você já conheceu um pouco da história e da evolução das políticas públicas sobre drogas no Brasil. Você já conhecia a história das políticas públicas sobre as drogas no Brasil? Considera que o Brasil teve avanços importantes com a implementação dessas políticas? Como um cidadão da sociedade civil, você, aluno, contribuiria para as políticas sobre drogas com alguma ideia que julga importante e que poderia trazer benefícios para a população brasileira que é acometida pelos transtornos relacionados ao uso de álcool e outras drogas? Bom, foram muitas contribuições de diversos setores ao longo desses anos e agora vamos estudar um pouco sobre as políticas sobre drogas que estão vigentes no Brasil. Está pronto? 38 Em junho de 2019, em parceria com os Ministérios da Saúde, da Justiça e Segurança Pública, da Mulher, da Cidadania, da Família e Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, foi aprovada a Nova Política sobre Drogas no Brasil. O encargo sobre a responsabilidade pelo tratamento do usuário de álcool e outras drogas fica para o Ministério da Cidadania. Uma das mudanças foi o fortalecimento das comunidades terapêuticas. A partir de então, elas fazem parte da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Assim como as comunidades terapêuticas, os hospitais psiquiátricos também passam a integrar a Rede de Assistência Psicossocial (Raps) como serviços importantes na rede de cuidados ao usuário de álcool e outras drogas, bem como para seus familiares. Mais de 25 mil leitos psiquiátricos foram extintos entre 2002 e 2014 em todo o Brasil, baseado na ideia de que pessoas portadoras de transtornos mentais não necessitam de internação. Com isso, houve uma crise na área da saúde mental, não deixando de fora os usuários de álcool e outras drogas. Hoje o número de usuários que necessitam de leitos para tratamento adequado é muito maior do que o número de leitos que estão disponíveis no Brasil (ABEAD, 2019). Uma proporção considerável de usuários de álcool e outras drogas não possuem recursos mínimos necessários para seu processo de recuperação do transtorno pelo uso de substâncias. Alguns sequer podem contar com o amparo social básico, como condições de autossustento e moradia, estando expostos a vulnerabilidade social, o que contribui para a baixa adesão aos serviços ambulatoriais (MORAES, 2005). Antes da Nova Política sobre Drogas no Brasil, existia uma lacuna na história de tratamento dos usuários de álcool e outras drogas, que precisavam, antes de qualquer coisa, de suporte social. Com a inclusão das comunidades terapêuticas na Raps, foi possível que o usuário de álcool e outras drogas estabilizasse seu quadro clínico de forma intensiva, contando com o acolhimento em um ambiente seguro e 39 especializado, tendo, além do suporte social, a possibilidade de reinserir- se socialmente, por meio do convívio entre os pares e o resgate dos vínculos familiares. Figura 2 – Diferentes setores participando de discussões para ações relacionadas às políticas públicas sobre drogas Fonte: filo/iStock.com. Aluno, vale lembrar que trabalhar com a demanda de pessoas portadoras de transtornos por uso de substâncias é algo extremamente complexo e que precisaremos utilizar todas as ferramentas possíveis para melhor auxiliar aqueles usuários que buscam por ajuda. Por esse motivo, precisamos estar cientes das políticas públicas sobre drogas no Brasil, para que possamos oferecer e conscientizar os usuários de álcool e outras drogas sobre seus direitos assistenciais, direitos esses que incluem a garantia da integridade e respeito em seu atendimento. Os usuários de álcool e outras drogas devem ser vistos como pessoas em sofrimento e não julgados moralmente. São portadores de uma doença crônica e devem ser tratados como qualquer outra pessoa portadora de qualquer outra doença grave, com o mesmorespeito e cuidado. A política pública nos ajuda, com suas diretrizes, a lutarmos por essas garantias. 40 Referências bibliográficas ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS SOBRE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS (ABEAD). O que a “Nova Política sobre Álcool e Drogas” (PNAD) no Brasil nos informa? Rio de Janeiro. 2019. Disponível em: https://www.abead.com.br/opiniaoabeadpnad. Acesso em: 7 jan. 2020. BRASIL. Ministério da Cidadania. Secretaria Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas. Módulo X: histórico e políticas públicas sobre drogas no Brasil. In: BRASIL. Ministério da Cidadania. Secretaria Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas. Curso Compacta: capacitação de monitores e profissionais das comunidades terapêuticas. Florianópolis: labSEAD, 2019. BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (Conad). Resolução Conad n. 1/2015. Regulamenta, no âmbito do Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (Sisnad), as entidades que realizam o acolhimento de pessoas, em caráter voluntário, com problemas associados ao uso nocivo ou dependência de substância psicoativa, caracterizadas como comunidades terapêuticas. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, 01/2015 p. 51, 28 ago. 2015. Disponível em: bit.ly/326KzL5. Acesso em: 8 jan. 2020. BRASIL. Presidência da República. Decreto n. 9.761, de 11 de abril de 2019. Aprova a Política Nacional sobre Drogas. Diário Oficial da União: seção 1 – extra – A, Brasília, DF, 04/2019 p. 7, 11 abr. 2019. Disponível em: bit.ly/2TVtSPx. Acesso em: 25 jul. 2019. BRASIL. Presidência da República. Secretaria Nacional Antidrogas. Mapeamento das instituições governamentais e não governamentais de atenção às questões relacionadas ao consumo de álcool e outras drogas no Brasil – 2005. Brasília: Senad, 2007. MORAES E. et al. Visita domiciliar no tratamento de pacientes dependentes de álcool: dados preliminares. Rev Bras Psiq., v. 27, n. 4, p. 347-348, dez. 2005. SANTOS, J. A. T.; OLIVEIRA, M. L. F. Políticas públicas sobre álcool e outras drogas: breve resgate histórico. Saúde e Transformação Social, v. 4, n. 1, p. 82-89, 2013. SÃO PAULO. Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social. Coordenação de Políticas sobre Drogas (Coed). Guia técnico Rede Recomeço: serviço de acolhimento social. São Paulo: Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social, [s.d.]. Disponível em: bit.ly/2NnT0NT. Acesso em: 9 jan. 2020. SILVA, C. D. M. Lei de drogas comentada. 2. ed. Diretoria da Associação Paulista do Ministério Público Biênio 2015/2016. São Paulo: Associação Paulista do Ministério Público, 2016. VARGAS, A. F. M; CAMPOS, M. M. A trajetória das políticas de saúde mental e de álcool e outras drogas no século XX. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 24, n. 3, p. 1.041-1.050, mar. 2019. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S1413-81232019000301041&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 5 fev. 2020. https://www.abead.com.br/opiniaoabeadpnad http://bit.ly/326KzL5 http://bit.ly/2TVtSPx http://bit.ly/2NnT0NT http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232019000301041&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232019000301041&lng=en&nrm=iso 41 Ambientes de tratamento específicos para usuários de álcool e outras drogas Autoria: Rogério Adriano Bosso Leitura crítica: Fábio Eiji Sato Objetivos • Capacitar o aluno para realizar encaminhamentos adequados aos usuários de álcool e outras drogas. • Apresentar os ambientes de tratamento específicos para tratamento dos usuários de álcool e outras drogas. • Apresentar os tipos de internação para usuários de álcool e outras drogas. • Discutir o trabalho da equipe multidisciplinar no atendimento aos usuários de álcool e outras drogas. 42 1. Introdução Olá, aluno! Neste módulo, você estudará sobre os ambientes de tratamento específicos para o tratamento do usuário de álcool e outras drogas. Muito se fala em encaminhamento adequado ao usuário de álcool e outras drogas, porém, para que se possa encaminhá-lo adequadamente, faz-se extremamente necessário e importante que o profissional conheça quais são os ambientes de tratamento que estão disponíveis hoje na rede socioassistencial e que está capacitada para receber esse usuário, de forma que contemple toda a complexidade que a dependência química traz consigo ao acometer a pessoa. Existem ideias divergentes entre os profissionais da saúde em relação aos ambientes de tratamento, muitas vezes entrando em discussões que não levam a lugar nenhum, na tentativa da compreensão de qual dos ambientes seria o melhor para o usuário. Vale pensar que não falamos em ambiente de tratamento melhor ou pior, cada um dos ambientes apresenta seus pontos fortes e suas fraquezas, sendo assim, contemplam diferentes perfis de usuários em diferentes momentos da evolução da dependência química. O ideal é sempre o acompanhamento em rede! Com o conteúdo que você estudará agora, com certeza, poderá identificar qual será o melhor ambiente para encaminhar o usuário que chegar até você, considerando seu momento na evolução da dependência. Acredito que você esteja curioso para conhecer os ambientes de tratamento, correto? Então, vamos estudar! 43 2. Ambientes de tratamento para usuário de álcool e outras drogas 2.1 Ambientes de tratamento Todo serviço que oferece tratamento para o usuário de álcool e outras drogas possui sua própria organização interna, o que resulta no enquadre terapêutico, ou seja, na oferta das atividades de tratamento que estarão disponíveis naquele local, na estrutura do tratamento (teórico-prático, profissional e institucional). Quando falamos em ambientes de tratamento, não falamos apenas em uma modalidade. Isso não seria nem mesmo possível, devido aos diferentes perfis de usuários, sendo que cada perfil se identificará mais com um modelo de tratamento ou com outro, e isso não significa que os modelos são melhores ou piores um dos outros, são apenas diferentes. Cada ambiente possui seus pontos fortes, mas também possui seus pontos a serem melhorados. Enquanto profissionais inseridos nesses ambientes, precisamos avaliar esses pontos e fortalecer a cada dia os que estão se apresentando de forma positiva e propor estratégias para a melhoria dos pontos que precisam ser revistos. É importante que o profissional se atente aos locais que já conseguiram comprovar seus resultados quanto a proposta de tratamento e sucesso de recuperação de usuários, de forma científica. Vamos conhecer quais são, no Brasil, os principais ambientes de tratamento disponíveis e suas particularidades, uma vez que cada ambiente de tratamento possui suas atribuições definidas e diferenciadas umas das outras (BRASIL, 2019). • Centro de Atenção Psicossocial em Álcool e Drogas (CAPS AD): os CAPS AD são serviços de saúde disponibilizados para municípios com mais de 70 mil habitantes ou para municípios que não atinjam 44 esse número de habitantes, mas que estejam geograficamente situados em fronteiras ou que estejam situados em rota de tráfico, conforme a Portaria GM n. 336 de 19 de fevereiro de 2002. O CAPS AD pode, também, funcionar na modalidade 24 horas, segundo a portaria GM/2.841 de 20 de setembro de 2010, com a proposta de aumentar o cuidado ao dependente químico. Esse ambiente de tratamento deve integrar o usuário em sua comunidade por meio de atividades que devem ser propostas de forma individualizada para cada caso e contar com leitos para eventuais necessidades de atendimentos emergenciais e de observação, além de oferecer as refeições diárias, conforme a necessidade de estadia do usuário no local. Embora o CAPS AD apresente um avanço inquestionável no tratamento dos usuários de álcool e outras drogas, ainda não são, por si só, suficientes para tratar de todas as demandas dos usuários (RIBEIRO; LARANJEIRA, 2012). • Comunidades terapêuticas: para iniciar o subtema sobre ascomunidades terapêuticas (CTs), vale lembrar que elas foram incluídas na Rede de Apoio Psicossocial (Raps) na nova lei sobre drogas de 2019 (Lei n. 13.840, de 5 de junho de 2019). Porém, com essa inclusão, não significa que todos os usuários de álcool e outras drogas que necessitem de tratamento ou procurem espontaneamente devem, necessariamente, ser encaminhados ou utilizar essa modalidade de ambiente de tratamento. A partir da inclusão das CTs na Raps, ela passa a ser uma possibilidade terapêutica no conjunto de serviços que compõem a rede socioassistencial, voltada para a recuperação de dependentes químicos. As CTs estão presentes em mais de 60 países e são consideradas ambientes de tratamento especializado. A oferta de seu programa se dá de forma intensiva e estruturada, com foco na manutenção da abstinência. O agente-chave no processo de mudança das CTs se dá por meio da utilização da própria comunidade como agente terapêutico, o que http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13840.htm 45 também faz desse modelo um diferencial. Na CT, a pessoa é tratada como um todo, considerando suas particularidades, e sua admissão é apenas de forma voluntária (RIBEIRO; LARANJEIRA, 2012). • Pronto-socorro: embora o pronto-socorro seja um dos locais mais procurados pelos usuários de álcool e outras drogas, ele carece de profissionais especialistas na área da dependência química. Dessa forma, o atendimento ao usuário fica pobre, pois existe uma grande complexidade e, além desse fator, o pronto-socorro, para essa população, poderia servir como um motivador para a busca de tratamentos específicos se contassem com profissionais capacitados para acolher essa demanda. A grande procura do usuário pelo pronto-socorro se dá devido à relação do uso com situações de vulnerabilidade, como: acidentes automobilísticos ou domésticos, quedas, agressões físicas e outras situações que comprometem a integridade física do usuário (BRASIL, 2019). • Hospitais psiquiátricos: usuários de álcool e outras drogas, com comprometimento severo por conta do envolvimento com o uso de substâncias, podem não aderir a tratamentos em meio aberto, como os tratamentos ambulatoriais, e poderão precisar de internação hospitalar para poder estabilizar o quadro da dependência química. Porém, com a reforma psiquiátrica, cada vez mais, os leitos têm sido indisponíveis, dificultando a entrada dos usuários nessa modalidade de tratamento. Essa falta de leitos específicos para a dependência química faz com que, em alguns hospitais, o usuário permaneça em companhia de pacientes com patologias psiquiátricas diversas, como, por exemplo, psicóticos crônicos e agudos, não tendo, assim, um olhar apurado para as questões específicas da dependência (BRASIL, 2019). • Hospital-dia: o Hospital-dia, serviço de internação parcial, apresenta uma abordagem altamente estruturada em que o usuário passa o dia no serviço e retorna à noite para casa. Suas 46 propostas terapêuticas são bem definidas, objetivas e com limite de tempo. O Hospital-dia apresenta um cenário mais clínico e/ ou hospitalar e os usuários podem frequentar de quatro a cinco vezes durante a semana. Sua principal função é oferecer um local protegido e com foco na abstinência. Sua indicação é para usuários que necessitam de acompanhamento multidisciplinar e intensivo, em horário integral, bem como para usuários em estágios iniciais do tratamento, pois permite a desintoxicação com suporte médico. É indicado também para usuários com baixa motivação para o tratamento ou com episódios de recaídas frequentes, incluindo os usuários sem suporte social e com baixo repertório para habilidades sociais. O custo de um Hospital-dia chega a ser 40% a 60% mais barato que uma internação tradicional (RIBEIRO; LARANJEIRA, 2012). • Moradia assistida: a moradia assistida é um ambiente de tratamento que faz a junção entre atenção social e de saúde, podendo oferecer ao usuário um período prolongado de três meses a um ano de acolhimento. Enfermeiros, médicos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais etc., podem realizar o monitoramento dos usuários. Seu principal objetivo é a reinserção social e prevenção à recaída, dessa forma, sua indicação é para usuários com demanda de acolhimento social ou em estágios mais avançados de recuperação. Não necessariamente sua estadia precisa estar condicionada à abstinência. Na moradia assistida, os papéis dos usuários são bem definidos com normas e regras, às vezes, bastante rígidas e restritivas para manter a ordem e a convivência saudável. (RIBEIRO; LARANJEIRA, 2012). • Ambulatório especializado: o ambulatório especializado possui uma estrutura completa de atendimento, sendo assim, não envolve a internação. Os atendimentos são realizados por profissionais especializados em atender à demanda de álcool e outras drogas e o tratamento acontece de forma periódica. Psicólogos e médicos 47 elaboram o projeto terapêutico, o qual, em sua maioria, envolve terapia em grupo ou individual e uso de medicações psiquiátricas. Sua indicação é para usuários em etapas iniciais do processo de recuperação, uma vez que permite o acompanhamento médico no período de desintoxicação. Além da figura do psicólogo e do médico, outros profissionais podem compor a equipe, sendo terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, enfermeiros e educadores físicos (RIBEIRO; LARANJEIRA, 2012). • Grupos de apoio: os grupos de apoio mais conhecidos são Alcoólicos Anônimos (AA) e Narcóticos Anônimos (NA). Esses grupos atuam como uma irmandade que pode ser composta por homens e mulheres, os quais vivenciam e realizam trocas, entre si, das experiências do uso, com o intuito de resolver seu problema comum com substâncias psicoativas, além de ajudar outros usuários que precisam alcançar a recuperação. O desejo de interromper o uso é a única exigência para frequentar o grupo. O grupo é aberto ao público e sem cobrança de taxas, pois funciona de forma autossuficiente. Não estão ligados a seita ou religião, não são afiliados a nenhuma organização ou instituição, não são partidários e não apoiam e nem combatem quaisquer causas. A manutenção da abstinência do álcool e outras drogas é o propósito primordial (BRASIL, 2019). Figura 1 – Representação da importância do suporte profissional Fonte: smolaw11/IStock.com. 48 2.2 Modelos de internação para o tratamento da dependência química Aluno, você já deve ter ouvido falar nas modalidades de internação existentes no Brasil, bem como as discussões e polêmicas em relação às modalidades de internação involuntária e compulsória. Mas você as conhece? Sabe como funciona cada uma dessas modalidades de internação? Antes de prosseguirmos, é importante ressaltar que a internação, seja ela de qual modalidade for, é sempre o último recurso de que o profissional que trabalha com a demanda da dependência química deve lançar mão, pois as internações são indicadas para casos severos de dependência, em que a pessoa acometida pelo transtorno por uso de substâncias fecha critérios diagnósticos para dependência grave, está sob risco de morte ou com sua crítica prejudicada devido ao uso. Sendo assim, sem condições de percepção de sua real condição e sem possibilidades de avaliar devida e adequadamente suas escolhas. Bom, aluno, vamos conhecer as modalidades de internação. Hoje, no Brasil, podemos contar com diferentes modelos de internação para o tratamento de usuários de álcool e outras drogas. Sobre as internações, Barros e Serafim (2009, p. 175) informam que é a lei que define suas modalidades, bem como suas justificativas. São considerados os seguintes tipos de internação: I – internação voluntária: aquela que se dá com o consentimento do usuário; II – internação involuntária: aquela que se dá sem o consentimento do usuário e a pedido de terceiro; e III – internação compulsória: aquela determinada pela Justiça. Continuando com os apontamentosde Barros e Serafim (2009), eles informam que uma internação só pode ser considerada voluntária se a 49 pessoa declarar, de forma escrita, logo no ato da admissão, que aceita ou que optou por esse modelo de tratamento. Os demais casos de internação podem ser considerados involuntários, com exceção das judiciais (compulsórias), nas quais a vontade do usuário de álcool e outras drogas não interfere. Barros e Serafim (2009) ainda informam que, em se tratando de internação voluntária, seu término pode acontecer por determinação médica ou mesmo pela solicitação escrita do usuário. Sobre a internação involuntária, Barros e Serafim (2009) informam que esse modelo de internação se dá devido à perda de autonomia do usuário, que passa a apresentar um funcionamento desadaptativo de seu estado, no qual podem ocorrer quadros psicóticos graves, casos de depressão com risco de suicídio, entre outros, que podem ilustrar essa condição. Informam-nos, ainda, também Barros e Serafim (2009), para outros importantes aspectos da internação involuntária, ressaltando que essa modalidade de internação deverá ser comunicada ao Ministério Público Estadual no prazo de 72 horas. Essa comunicação deve acontecer por meio do responsável técnico do local da internação (ambiente de tratamento que receber o usuário) e devendo, no momento da alta do usuário, ser adotado o mesmo procedimento. A obrigatoriedade do término da internação involuntária deve se dar por solicitação escrita pelo médico responsável pelo tratamento, ou por um familiar, ou responsável legal. Sobre a internação compulsória, Barros e Serafim (2009) informam que esse modelo de internação é determinado, conforme a legislação vigente, por juízes, os quais levarão em conta as condições de segurança do ambiente de tratamento, quanto à salvaguarda do paciente, dos demais usuários que ali se encontram internados e dos funcionários. Um dos pontos mais importantes no funcionamento saudável de uma pessoa é a condição que ela tem de autonomia, porém, levando em consideração essa questão como um ponto importante, podemos 50 compreender o modelo de internação involuntária. Koopmans e Sremac (2011) nos ajudam a pensar a autonomia, descrevendo-a como a possibilidade de liberdade em fazer escolhas de autorrespeito; aponta ainda que, ao fazer uma escolha de forma voluntária, a pessoa não deixa de assumir as responsabilidades e consequências previsíveis dessa escolha. Koopmans e Sremac (2011) colocam, ainda, o uso de substâncias psicoativas como prejudicial à autonomia. Figura 2 – Maca hospitalar com equipamento de contenção Fonte: Rikke68/iStock.com. 2.3 Orientações da equipe multidisciplinar no tratamento do usuário de álcool e outras drogas Bom, aluno, chegamos a um tema importante quando falamos em dependência química e o tratamento do usuário de drogas: as orientações da equipe multidisciplinar que compõe o tratamento. É a composição dos membros dessa equipe, com toda sua experiência na área e capacidade de realizar orientações adequadas, que contribuirá para a elaboração de planos de atendimento singular (PAS) que possibilitem ao usuário alcançar suas metas rumo à recuperação e manutenção da abstinência. Duas ações importantes da equipe de tratamento para a dependência química são: a orientação em relação ao processo de tornar-se 51 dependente para os usuários e familiares, bem como informações adequadas sobre encaminhamentos, e esclarecimentos do funcionamento dos ambientes de tratamento, como, por exemplo, da oferta das atividades que compõem o programa (ALMEIDA et al., 2018). • Orientação: em se tratando de usuários que preenchem critérios para dependência leve, as orientações da equipe devem estar relacionadas aos prejuízos pelo uso, como afetivos, sociais, financeiros e fisiológicos. Em se tratando de usuários que preenchem critérios para dependência moderada, a equipe deve orientar sobre os riscos de desenvolver uma dependência severa, devido à tolerância desenvolvida no cérebro. Os usuários devem ser orientados quanto à diminuição do consumo ou parar totalmente. Em se tratando de usuários que preenchem critérios para dependência grave, a equipe deve orientar os usuários sobre a importância da reestruturação das relações pessoais, sociais e familiares que foram prejudicadas devido ao uso de drogas. O objetivo de todas as orientações consiste na reinserção social do usuário de álcool e outras drogas (LOPES et al., 2019). Figura 3 – Equipe multidisciplinar discutindo o caso de um usuário na recepção de um ambiente de tratamento para usuários de álcool e outras drogas Fonte: katleho Seisa/iStock.com. 52 Ao trabalharmos com uma população que demandará tratamento especializado, é importante conhecermos os ambientes, não somente na teoria, mas também, sempre que possível, é importante que o profissional que atua com essa demanda visite os locais para conhecer na prática tanto as ofertas do serviço como a equipe que compõe o serviço, possibilitando, assim, a formação de rede, pois, unindo as ferramentas disponíveis nos diferentes ambientes de tratamento, aumentam-se a eficácia e a possibilidade de o usuário manter-se em abstinência. Referências bibliográficas ALMEIDA, R. B. F. et al. O tratamento da dependência na perspectiva das pessoas que fazem uso de crack. Interface, Botucatu, v. 22, n. 66, p. 745- 756, set. 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414- 32832018005006103&script=sci_abstract&tlng=pt Acesso em 14 fev. 2020. BARROS, D. M. de; SERAFIM, A. P. Parâmetros legais para a internação involuntária no Brasil. Rev. psiquiatr. clín., São Paulo, v. 36, n. 4, 2009. Disponível em: https:// www.scielo.br/pdf/rpc/v36n4/a08v36n4.pdf. Acesso em: 16 fev. 2020. BRASIL. Ministério da Cidadania. Secretaria Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas. Módulo X: Histórico e políticas públicas sobre drogas no Brasil. In: BRASIL. Ministério da Cidadania. Secretaria Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas. Curso Compacta: capacitação de monitores e profissionais das comunidades terapêuticas. Florianópolis: labSEAD, 2019. KOOPMANS, F.; SREMAC, S. Addiction and Autonomy: are Addicts Autonomous? Nova prisutnost, v. 1, p. 171-188, set. 2011. LOPES, L. L. T. et al. Ações da equipe multiprofissional do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas. Rev. Bras. Enferm., Brasília, v. 72, n. 6, p. 1.624- 1.631, dez. 2019. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0034-71672019000601624&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 12 fev. 2020. RIBEIRO, M.; LARANJEIRA, R. O Tratamento do usuário de crack. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-32832018005006103&script=sci_abstract&tlng=pt https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-32832018005006103&script=sci_abstract&tlng=pt https://www.scielo.br/pdf/rpc/v36n4/a08v36n4.pdf https://www.scielo.br/pdf/rpc/v36n4/a08v36n4.pdf http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672019000601624&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672019000601624&lng=en&nrm=iso 53 BONS ESTUDOS! Sumário Atenção psicossocial na abordagem ao usuário de álcool e outras drogas Objetivos 1. Introdução 2. Atenção psicossocial na abordagem ao usuário de álcool e outras drogas Referências bibliográficas Perfil dos usuários de álcool e outras drogas Objetivos 1. Introdução 2. Perfil dos usuários de álcool e outras drogas Referências bibliográficas Políticas públicas na atenção aos usuários de álcool e outras drogas Objetivos 1. Introdução 2. Políticas públicas sobre drogas e sua história no Brasil Referências bibliográficas Ambientes de tratamento específicos para usuários de álcool e outras drogas Objetivos 1. Introdução 2. Ambientes de tratamento para usuário de álcool e outras drogas Referências bibliográficas
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