Prévia do material em texto
SISTEMA DE MONITORAMENTO DE ELETROCARDIOGRAMA (ECG) UTILIZANDO ELETRODOS SECOS TÊXTEIS Luciane Peixoto Ribeiro Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Eletrônica e de Computação da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Marcio Nogueira Souza Rio de Janeiro Julho de 2016 ii SISTEMA DE MONITORAMENTO DE ELETROCARDIOGRAMA (ECG) UTILIZANDO ELETRODOS SECOS TÊXTEIS Luciane Peixoto Ribeiro PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE ENGENHARIA ELETRÔNICA E DE COMPUTAÇÃO DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO ELETRÔNICO E DE COMPUTAÇÃO Autor: _________________________________________________ Luciane Peixoto Ribeiro Orientador: _________________________________________________ Prof. Marcio Nogueira Souza, D. Sc. Examinador: _________________________________________________ Alexandre Visintainer Pino, D.Sc. Examinador: _________________________________________________ Carlos Fernando Teodósio Soares, D. Sc. Rio de Janeiro – RJ, Brasil Julho de 2016 iii UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Escola Politécnica – Departamento de Eletrônica e de Computação Centro de Tecnologia, bloco H, sala H-217, Cidade Universitária Rio de Janeiro – RJ CEP 21949-900 Este exemplar é de propriedade da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que poderá incluí-lo em base de dados, armazenar em computador, microfilmar ou adotar qualquer forma de arquivamento. É permitida a menção, reprodução parcial ou integral e a transmissão entre bibliotecas deste trabalho, sem modificação de seu texto, em qualquer meio que esteja ou venha a ser fixado, para pesquisa acadêmica, comentários e citações, desde que sem finalidade comercial e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do(s) autor(es). iv AGRADECIMENTO Dedico este trabalho aos meus pais Lucia e Luiz Carlos, que sempre investiram em meu potencial e patrocinaram essa longa jornada; ao meu namorado Davi que sempre me ajudou nas matérias de computação e me incentivou a não desistir; aos meus amigos adquiridos ao longo do curso Maria Zeneide, Matheus, Felipe, Jéssica e Carlos, com os quais as jornadas intensivas de trabalhos e estudos se tornaram possíveis e até mesmo divertidas em alguns casos e por todo o apoio e companheirismo que recebi desses colegas. Ao meu orientador de Iniciação Científica e desse Projeto de Graduação o professor Marcio Nogueira Souza devo um grande agradecimento e respeito, por ser um grande mestre que sempre teve muita paciência, respeito e dedicação para me ensinar tudo que aprendi nesse projeto e ao longo de mais de 2 anos trabalhando no Laboratório de Instrumentação Biomédica (LIB). Também não posso deixar de agradecer ao coordenador do curso de Engenharia Eletrônica, o Casé que sempre esteve a disposição dos alunos bastante solícito e simpático tirando todas as nossas dúvidas e nos ajudando no que fosse necessário e também agradeço aos grandes professores do departamento que me ensinaram muito mais que eletrônica, pois sempre tentaram passar lições profissionais e pessoais importantes também: Jomar, Marcio, Teodósio, Luiz Wagner, Brafman, Wallace, Diniz, Pino, Mauros e Osvaldo. Este projeto é uma pequena forma de retribuir o investimento e confiança em mim depositados por todas essas pessoas. v RESUMO O eletrocardiograma (ECG) é talvez o mais conhecido dos registros de biopotenciais, sendo usado na investigação e avaliação cardíaca, tanto em pacientes cardiopatas, como na medicina desportiva para sua avaliação cardiovascular de atletas. Com o avanço da tecnologia estão surgindo dispositivos de monitorização de biopotenciais que poderiam ser chamados wearable (dispositivos vestíveis), uma vez que se propõem a realizar a monitorização em condições do dia-a-dia. O presente trabalho investigou o desenvolvimento de um dispositivo wearable para captação de ECG com eletrodos têxteis, bem como monitorização da frequência cardíaca com alarmes para bradicardia e taquicardia, que possa futuramente ser utilizado na monitorização cardiológica de pacientes em estágio pós-operatório ou monitoramento de atletas durante atividade física; entre outras aplicações. Os resultados no protótipo construído mostraram que, apesar dos eletrodos têxteis apresentarem impedância mais elevada que os tradicionalmente usados para captação de sinais de ECG, foi possível obter sinais com razão sinal/ruído (SNR) satisfatória e que apresentaram na manutenção das características básicas nos sinais captados, podendo ser utilizados para fins diagnósticos. Palavras-Chave: dispositivos vestíveis, eletrocardiograma, eletrodos. vi ABSTRACT Perhaps the electrocardiogram (ECG) is the most known record of a biopotencial, being used in cardiac evaluation and also in sports medicine for cardiovascular evaluation of competitive athletes. The advances of technology are leading to the development of biopotential monitoring devices that could be called wearable since they propose to carry out monitoring in terms of day-to-day. The present study investigated the development of a wearable ECG device to be used in future in cardiac monitoring of patients during postoperative stage and also in monitoring of athletes during physical activity; among other applications. The results showed that despite the textile electrodes present higher impedance than the ordinary ones used to capture ECG signals, the developed prototype supplied ECG signals with a good SNR and that presented the basic physiological features needed to be used for diagnostic purposes. Key-words: wearable devices, electrocardiogram, electrodes. vii SIGLAS UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro LIB – Laboratório de Instrumentação Biomédica PEB – Programa de Engenharia Biomédica ECG – Eletrocardiograma EEG – Eletroencefalograma FC – Frequência cardíaca DRL – Driven Right Leg CI – Circuito integrado AMP-OP – Amplificador operacional INA – Amplificar de Instrumentação SNR – Signal to Noise Ratio CMR – Common-Mode Rejection CMRR – Common-Mode Rejection Ratio CMV – Common mode voltage LabVIEW – Laboratory Virtual Instrument Engineering Workbench USB – Universal serial bus viii Sumário 1 Introdução 1 1.1 - Tema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 1.2 - Delimitação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 1.3 - Justificativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 1.4 - Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 1.5 - Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 1.6 - Descrição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 2 Fundamentos Teóricos 4 2.1 - Biopotencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 2.2 - Sistema Cardiovascular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 2.3 - Eletrocardiograma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 2.4 - Eletrodos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 2.5 - Amplificadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . 12 2.5.1 - Amplificador de Instrumentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 2.5.2 - Topologia Clássica de Amplificadores de ECG . . . . . . . 14 2.6 - Circuito de Drive de Perna Direita (DRL) . . . . . . . . . . . . . . 15 3 Estado da Arte 16 3.1 - Metodologia dos artigos presentes na Literatura . . . . . . . . . . . 16 3.2 - Resultados dos artigos presentes na Literatura . . . . . . . . . . . . 17 4 Materiais e Métodos 20 ix 4.1 - Visão Geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 4.2 - Eletrodos Têxteis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 4.3 - Eletrônica de Frontend . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 4.3.1 - Circuito de Buffers . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 4.3.2 - Circuito Amplificador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 4.3.3 - Circuito de Drive de Perna Direita (DRL) . . . . . . . . . 26 4.4 - Sistema de Aquisição de Dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 4.5 - Software de Monitoramento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 5 Resultados 33 5.1 - Com eletrodo de gel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5.1.1 - Testes para o ganho do circuito de DRL . . . . . . . . . . . . 5.1.2 - Testes com adição de buffer . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5.2 - Com eletrodo têxtil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5.2.1 - Teste para distância dos eletrodos na cinta . . . . . . . . . . 5.3 - Com a placa PCB verde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5.3.1 - Testes para o ganho do circuito de DRL . . . . . . . . . . . . 5.3.2 - Testes para tamanho dos eletrodos nas cintas . . . . . . . . 5.3.3 - Testes para ganho total do sistema . . . . . . . . . . . . . . . . 5.3.4 - Teste da resposta em frequência . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5.4 - Com a placa de aquisição de dados e LabVIEW . . . . . . . . . . 5.4.1 - Testes para comparar o sinal com eletrodo de gel x têxtil 5.4.2 - Teste com o resultado final do ECG em 2 pacientes . . . 34 34 35 36 36 37 37 38 40 41 42 42 43 6 Discussão 7 Conclusão 8 Bibliografia 45 46 47 x Lista de Figuras 2.1 – Exemplo de biopotencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.2 – Detalhes do coração humano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.3 – Circulação do sangue pelo corpo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.4 – Pontos de obtenção do ECG normal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.5 – Sinal de ECG normal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.6 – Dois eletrodos biomédicos produzem uma tensão diferencial . . . . . . . . . . . . 2.7 – Modelo de circuito do eletrodo biomédico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.8 – Vista de perfil do eletrodo de superfície utilizado no ECG . . . . . . . . . . . . . . 2.9 – Eletrodo adesivo de gel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.10 – Amplificador de Instrumentação (INA) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.11 – Amplificador básico de ECG com drive de perna direita . . . . . . . . . . . . . . 3.1 – Vista superior (a) e vista explodida do eletrodo seco de EEG proposto (b), que foi coberto com um tecido condutivo em todas as faces . . . . . . . . . . . . 3.2 – Cinta de medição de ECG encontrada na Literatura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.3 – Resultado do EEG medido na área da testa do paciente . . . . . . . . . . . . . . . . 3.4 – Comparação de ECG com eletrodos convencionais e têxteis em monitores comerciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.5 – Comparação de ECG com eletrodos convencionais e têxteis no sistema completo de cinta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.1 – Diagrama de Blocos do sistema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.2 – Visão frontal dos eletrodos têxteis na Cinta de ECG . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.3 – Diagrama dos eletrodos na Cinta de ECG . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.4 – Vista de perfil da Cinta de ECG . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.5 – Diagrama de blocos da eletrônica de Frontend . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.6 – Esquemático do Sistema Eletrônico completo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.7 – Placa NI USB-6009 de aquisição de Dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.8 – Aplicação completa desenvolvida em LabVIEW . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.9 – Gráfico dos ECG’s normal e sem linha de base . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.10 – Detalhe da aplicação que calcula a frequência cardíaca . . . . . . . . . . . . . . . 4.11 – Gráficos do ECG normal e do ECG sem linha de base . . . . . . . . . . . . . . . 5.1 – Gráficos para comparação do ganho do circuito de DRL . . . . . . . . . . . . . . . 5.2 – Gráficos para comparação do ECG sem e com circuito de Buffers . . . . . . . 4 6 7 8 9 10 11 11 12 13 15 16 17 18 18 19 20 21 23 23 24 24 27 28 29 30 31 34 35 xi 5.3 – Gráficos de comparação da distância dos eletrodos na cinta de ECG . . . . . 5.4 – Gráficos para comparação do ganho de DRL com a placa verde . . . . . . . . . 5.5 – Fotografia das 5 topologias de cinta testadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5.6 – Gráficos de comparação das cintas 1 a 5 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5.7 – Gráficos de entrada e saída para cálculo do ganho total do sistema . . . . . . . 5.8 – Gráfico da resposta em frequência do sistema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5.9 – Gráficos de comparação dos eletrodos de gel e têxtil . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5.10 – Gráficos de comparação dos ECGs em 2 pacientes distintos . . . . . . . . . . . 36 37 39 39 41 42 43 44 1 Capítulo 1 Introdução 1.1 – Tema Este trabalho tem como objetivo o desenvolvimento de um sistema têxtil para captação e registro de eletrocardiograma (ECG), bem como monitorização da frequência cardíaca com alarmes para bradicardia e taquicardia. Mais especificamente o projeto consiste no desenvolvimento de um sistema para a captação do sinal da atividade elétrica do coração (ECG) por meio de eletrodos construídos com tecido condutor, a amplificação e filtragem analógica destes sinais, assim como a digitalização e processamento destes sinais, em LabVIEW (National Instruments, EUA), no sentido de se estimar e monitorar a frequência cardíaca do indivíduo que usa o sistema. Almeja- se que o sinal resultante, após a captação e processamento, tenha qualidade suficiente para ser utilizado na prática clínica, ou seja, que o sinal resultante preserve as características que permitam a um profissional de saúde identificar alterações de morfologia ou ritmo que estariam relacionadas com alterações fisiológicas relevantes. O objetivo geral do presente trabalho é contribuir para o desenvolvimento de tecnologia nacional de dispositivos wearable, em particular, de um sistema de captação de ECG que poderá ser utilizado na melhoria da monitorização cardiológica de pacientesem estágio pós-operatório; monitoramento de atletas durante atividade física; entre outras aplicações. 1.2 – Delimitação Apesar do registro de ECG normalmente utilizado na prática clínica utilizar 12 derivações (12 direções diferentes de se observar o vetor elétrico cardíaco), neste projeto o sistema têxtil a ser desenvolvido será de apenas uma derivação, uma vez que o mesmo somente será utilizado para a monitorização da frequência cardíaca. Uma vez 2 que se mostre viável o sistema de captação por meio de eletrodos têxteis, a tecnologia poderia futuramente ser escalonada para várias outras derivações. 1.3 – Justificativa O monitoramento da frequência cardíaca e do próprio traçado do ECG deveria ser realizado de modo contínuo, mas, no entanto, não há equipe médica suficiente e disponível para monitorar cada paciente individualmente todo o tempo. Para que haja esse acompanhamento, é, normalmente, necessário que o paciente fique ligado a aparelhos através de eletrodos com gel condutivo, que depois de algum tempo causam coceiras e até mesmo reações alérgicas em alguns indivíduos. Pacientes em recuperação cardíaca precisam de acompanhamento regular do funcionamento do coração durante a realização de atividades físicas. Neste sentido, o uso do sistema de monitorização cardiológica proposto pode auxiliar na resolução desses problemas. Graças aos avanços tecnológicos na miniaturização de semicondutores, é possível atualmente se pensar em desenvolver sistemas eletrônicos de monitorização de sinais que possam fazer parte da roupa do paciente [3], bem como desenvolver programas de monitoramento automático desses sinais. Além da utilidade do projeto a ser desenvolvido, este tema se torna mais interessante, pois diversas áreas recorrentes na graduação em Engenharia Eletrônica e de Computação serão abordadas, incluindo instrumentação, microeletrônica, processamento de sinais e comunicações. 1.4 – Objetivos Com o intuito de reduzir incômodos alérgicos no paciente o máximo possível, a melhor alternativa seria a utilização dos eletrodos têxteis e que seja possível vestir junto às roupas normais o equipamento necessário para o monitoramento fisiológico. Este conceito é conhecido como wearable, aonde um equipamento eletrônico vestido pelo paciente é capaz de obter informações através de sensores e transmiti-las para um computador [3]. Dispositivos de diagnóstico wearable tendem a ser amplamente utilizados nos próximos anos e, no caso deste projeto, o objetivo é contribuir para o 3 desenvolvimento de tecnologia nacional que permita o monitoramento automático do sinal do ECG. De acordo com o acima exposto, o objetivo do presente trabalho é investigar a confecção de eletrodos têxteis e a eletrônica de frontend associada à captação de ECG com este tipo de eletrodos, bem como desenvolver um software de monitoramento de frequência cardíaca em uma plataforma de instrumentação virtual denominada LabVIEW. 1.5 – Metodologia A parte analógica do sistema é composta por eletrodos têxteis conectados a pré- amplificadores especialmente desenvolvidos para operar com as características desse tipo de eletrodo. A metodologia utilizada para o projeto de tal parte diz respeito à topologia derivada de uma estrutura conhecida como driver de perna direita (DRL) [1] à alta impedância dos eletrodos têxteis. Além da parte de captação, foi utilizada uma placa de aquisição de dados USB - 6009 (National Instruments, EUA) e um software de processamento e análise de ECG desenvolvido em LabVIEW. 1.6 – Descrição No Capítulo 2 serão discutidos os fundamentos teóricos necessários para o entendimento do trabalho desenvolvido. O Capítulo 3 mostra os resultados da literatura de trabalhos similares para comparação posterior. O Capítulo 4 apresenta os Materiais e Métodos que foram utilizados no projeto, separados em blocos: eletrodos têxteis, eletrônica de Frontend, sistema de aquisição de dados e software de monitoramento. Os resultados são apresentados no Capítulo 5. Nele será explicitado o que cada configuração de eletrodos e ganho de DRL nos permitiu alcançar, os diversos ECGs coletados e o software em funcionamento. Finalmente, temos a conclusão do trabalho no Capítulo 7. 4 Capítulo 2 Fundamentos Teóricos 2.1 – Biopotencial Os biopotenciais são causados pela diferença de concentração de íons no interior e no exterior da célula, pois todas as membranas de todas as células do corpo humano separam diferentes potenciais elétricos. Algumas células, como as musculares e as nervosas, geram impulsos eletroquímicos capazes de se modificar com muita rapidez em suas membranas. Tais impulsos transmitem sinais por toda a membrana dos músculos e nervos. O biopotencial é gerado tanto durante o repouso quanto durante a atividade das células musculares e nervosas. Mesmo a célula possuindo dimensões microscópicas, é possível medir-se este potencial elétrico a nível celular [1]. A diferença de concentração eletroquímica através da membrana das células gera o potencial de Nernst, que é o potencial de repouso das células. As células que são excitáveis causam o potencial de ação, resultando em um fluxo intenso de íons através dela em resposta a um estímulo elétrico ou transiente de carga sobre essa célula [1]. Figura 2.1 – Exemplo de biopotencial. Fonte: www.dei-s1.dei.uminho.pt. 5 Medidores de biopotenciais medem a diferença de biopotencial produzida pela atividade de diferentes sistemas do corpo. Dentre os biopotenciais mais conhecidos podem ser citados: o Eletrocardiograma (ECG), o Eletroencefalograma (EEG), o Eletromiograma (EMG) e o Eletrooculograma (EOG). Cada um corresponde, respectivamente, ao biopotencial associado ao funcionamento do coração, cérebro, músculos e movimento dos olhos. Esses biopotenciais geralmente são adquiridos com eletrodos específicos que fazem a interface com a superfície cutânea de interesse e transducionam sinais iônicos em eletrônicos. A topologia de amplificador normalmente utilizada no projeto de um amplificador de biopotenciais é a do amplificador de instrumentação, pois esse possui várias características importantes como: entrada diferencial com alta impedância, ganho variável e alto CMRR. A preparação da pele, o posicionamento de eletrodos e o bom isolamento elétrico são também aspectos muito importantes que devem ser considerados na medição de biopotenciais, pois os biopotenciais apresentam baixa amplitude (10 μV a 10 mV) e espectro em baixas frequências (0,01 Hz a 100 Hz) [1]. 2.2 – Sistema Cardiovascular O sistema cardiovascular serve para levar material nutritivo e oxigênio às células do corpo humano, ele é formado por: sangue, coração e vasos sanguíneos. Coo o sangue é bombeado ao longo dos vasos sanguíneos constantemente o sangue atinge as células e troca materiais com elas. O coração é um músculo que se comporta como uma bomba, que é responsável pela circulação de sangue por cerca de 100 mil quilômetros de vasos sanguíneos [6].O coração é oco e musculoso, e possui membranas que o envolvem tanto internamente (endocárdio) quanto externamente (pericárdio). Suas paredes são constituídas pelo músculo miocárdio. Esse músculo é o responsável pelas contrações e apresenta quatro cavidades internas: duas superiores (átrios) e duas inferiores (ventrículos). O coração possui dois tipos de movimentos: a sístole (contração), em que o sangue é bombeado para o corpo e a diástole (relaxamento), em que o coração se enche de sangue [7]. 6 Figura 2.2 – Detalhes do coração humano. Fonte: www.sobiologia.com.br. A pulsação do sistema cardiovascular acontece a cada batida do coração e nela o sangue é impulsionado para as artérias. A frequência cardíaca é o intervalo entre esse movimento de pulsação, já que em situaçãonormal o coração é um órgão que funciona em ritmo quase constante, logo as irregularidades no seu ritmo indicam seu mau funcionamento (caracterizadas pelas arritmias cardíacas) [7]. 7 Figura 2.3 – Circulação do sangue pelo corpo. Fonte: www.sobiologia.com.br. O sangue oxigenado é bombeado pelo ventrículo esquerdo do coração para o interior da aorta, que distribui o sangue oxigenado para todo o corpo. Nos tecidos, o sangue libera gás oxigênio e absorve gás carbônico então, o sangue não oxigenado é transportado pelas veias que levam o sangue não oxigenado até o átrio direito. Deste, o sangue não oxigenado passa para o ventrículo direito e daí é transportado até os pulmões pelas artérias pulmonares. Nos pulmões, o sangue libera o gás carbônico e absorve o gás oxigênio captado do ambiente pelo sistema respiratório. O sangue oxigenado, então, retorna ao átrio esquerdo do coração, transportado pelas veias pulmonares. Do átrio esquerdo, o sangue oxigenado passa para o ventrículo esquerdo e 8 daí é impulsionado para o interior da aorta, reiniciando o ciclo de funcionamento do coração humano [6]. 2.3 – Eletrocardiograma A obtenção do ECG é possível graças aos biopotenciais gerados no coração durante o ciclo sístole-diástole (contração/relaxamento). Para a obtenção do ECG foram convencionados locais pré-determinados onde os eletrodos devem ser aplicados no paciente. Figura 2.4 – Pontos de obtenção do ECG normal. Fonte: www.ecg.utah.edu Normalmente, são colocados 5 eletrodos na superfície corporal sendo: um em cada punho, um em cada tornozelo e um móvel, o qual pode ser colocado na superfície torácica sucessivamente em seis posições diferentes, que estão ilustradas na Figura 2.4 abaixo. A partir destes eletrodos são medidas diferenças de potencial elétrico do músculo cardíaco ao longo do ciclo de contração realizado pelo coração [1]. O ECG normal apresenta as seguintes ondas características: P, Q, R, S e T. Tais ondas correspondem aos eventos elétricos responsáveis pela ativação do miocárdio e seus três elementos principais são: a onda P, que corresponde à ativação elétrica dos 9 átrios (câmaras menores e superiores do coração); o complexo QRS, que corresponde à despolarização dos ventrículos (câmaras maiores e inferiores do coração); e, finalmente, a onda T, que corresponde à repolarização dos ventrículos. Ou seja, o eletrocardiograma representa um ciclo de funcionamento do coração [6]. Figura 2.5 – Ilustração de um sinal de ECG normal. Fonte: www.med.muni.cz A medição do ECG não necessita de qualquer preparação especial do paciente, além de não ter quaisquer complicações possíveis. Contudo, eventualmente, podem ocorrer reações dermatológicas em função do gel eletrolítico utilizado nos eletrodos para melhorar a qualidade do exame. O eletrocardiograma é um exame auxiliar amplamente utilizado na prática clínica por ser de fácil execução, não invasivo e barato. Não há passagem de corrente elétrica do equipamento de medição (eletrocardiógrafo) para o corpo, tão pouco emissões de radiação. Por conseguinte, o exame pode se repetido diversas vezes sem qualquer risco para qualquer tipo de paciente. O ECG permite obter informações acerca do estado do coração, tais como: • orientação anatômica; • o tamanho relativo das câmaras cardíacas e a espessura das paredes; • alterações do ritmo (arritmias); • alterações da condução (bloqueios na sequência do estímulo elétrico); • extensão, localização e progressão de lesões isquêmicas (irrigação insuficiente) do miocárdio; 10 • efeitos de determinados fármacos. 2.4 – Eletrodos Biopotenciais ocorrem devido ao fato dos organismos vivos serem compostos de diferentes concentrações de íons. A condução iônica envolve a circulação de íons – átomos carregados negativamente e positivamente – através de uma região. Já a condução elétrica ou eletrônica envolve o fluxo de elétrons sobre a influência de um campo elétrico. Em soluções eletrolíticas os íons se encontram facilmente disponíveis, e a diferença de potencial nessas soluções ocorre quando a concentração de íons é maior em um ponto que em outro. Figura 2.6 – Eletrodos biomédicos. Fonte: Introduction to Biomedical Equipment Technology [1]. Bioeletrodos são uma classe de sensores que transformam condução iônica em condução elétrica para que o sinal possa ser transformado e adquiridos por um circuito eletrônico. Os eletrodos realizam a interface do organismo ao sistema eletrônico de captação e fazem a transdução dos sinais com baixos níveis de ruído e livres de artefatos. 11 Figura 2.7 – Modelo de circuito do eletrodo biomédico. Fonte: Introduction to Biomedical Equipment Technology [1]. A maioria dos sinais de biopotenciais podem ser adquiridos por um dos três tipos de bioeletrodos: macroeletrodos de superfície, macroeletrodos de agulha, microeletrodos. No caso do eletrocardiograma usa-se macroeletrodos de superfície. Figura 2.8 – Vista de perfil do eletrodo de superfície utilizado no ECG. Fonte: Introduction to Biomedical Equipment Technology [1]. Eletrodos de superfície são aqueles que são colocados em contato com a pele do paciente. A interface da pele humana com o eletrodo possui uma impedância muito alta 12 quando comparada com outras fontes de tensão pois esta pode variar de 0,5 kΩ (para peles suadas) até 20 kΩ (em caso de peles secas). Ou seja, os eletrodos de superfície devem ser considerados como uma fonte de tensão com altíssima impedância interna nos projetos dos circuitos amplificadores de biopotenciais. Geralmente deve-se escolher um amplificador com impedância de entrada pelo menos 10 vezes maior que a impedância dos eletrodos, isso significa que ele deve ter 5 MΩ ou mais de impedância de entrada. Normalmente uma pasta ou gel eletrolítico é usada para diminuir a impedância da interface eletrodo-pele, fazendo com que os valores possam ficar na faixa 100 a 2 k. Figura 2.9 – Eletrodo adesivo de gel. Fonte: www.cirurgicabiotechydobrasil.com.br Problemas comuns enfrentados com eletrodos de superfície condutivos como o da Figura 2.9 são a perda de gel ao longo do tempo, o que altera bastante o sinal. Além disso, outros fatores podem alterar a qualidade final do sinal captado, como a movimentação do eletrodo na pele do paciente mudando os pontos de medição a cada vez que ele se mexe, irritação da pele a longo prazo devido à cola e ao gel e baixa vida útil do eletrodo. Para alguns pacientes esses problemas podem gerar problemas consideráveis durante a medição e até mesmo dificultar as interpretações médicas do sinal de ECG do paciente. 2.5 – Amplificadores Amplificadores utilizados em processamento de biopotenciais devem, acima de tudo, ter uma altíssima impedância de entrada. Isso é necessário porque quase todas as fontes de biopotenciais que existem possuem uma impedância elevada, normalmente 13 entre 10³ e 107 . Por essa razão, os amplificadores de instrumentação são, normalmente, utilizados como estágio de entrada para o projeto de circuitos amplificadores de biopotenciais. 2.5.1 – Amplificador de Instrumentação Uma das características mais atrativas dos amplificadores de instrumentação é a alta rejeição a sinais de modo comum, ou, common mode rejection (CMR). Entretanto, a implementação desse amplificador com componentes discretos pode fazer com que a rejeição a sinais de modo comum não funcione tão bem quanto esperado, já que a CMR é dependente da precisão dos componentes externos. Por essa razão a utilização de versões integradas do amplificador de instrumentação (ex. INA118) é sempre preferível à implementação discreta. A topologia de um amplificador de instrumentação com três amplificadores operacionais, dois ligados como não-inversorese o terceiro é conectado como um simples amplificador diferencial, é mostrada na Figura 2.10. Figura 2.10 – Amplificador de Instrumentação (INA). Fonte: Introduction to Biomedical Equipment Technology [1]. Para chegar ao ganho do amplificador vamos considerar R2 = R3, R4 = R6 e R5 = R7. Aplicando o princípio da superposição para descobrir os valores de E3 e E4 14 𝐸3 = 𝐸2 ( 𝑅3 𝑅1 + 1) − (𝐸1 𝑅3 𝑅1 ) (2.1) 𝐸4 = 𝐸1 ( 𝑅2 𝑅1 + 1) − (𝐸2 𝑅2 𝑅1 ) (2.2) Agora fazendo R2 = R3 e (Equação 2.1 – Equação 2.2): 𝐸𝑜𝑢𝑡 = 𝐸3 − 𝐸4 = (𝐸1 − 𝐸2) (2 𝑅2 𝑅1 + 1) → 𝐴𝑣 = 𝐸𝑜𝑢𝑡 𝐸1−𝐸2 = 2 𝑅2 𝑅1 + 1 (2.3) Finalmente, como os amplificadores se encontram em cascata, o ganho total do amplificador de instrumentação será: 𝐴𝑇𝑂𝑇𝐴𝐿 = (2 𝑅2 𝑅1 + 1) ( 𝑅5 𝑅4 ) (2.4) Na configuração com três AMP-OPs vista acima, o primeiro estágio é responsável pelo ganho e o segundo estágio é responsável pelo CMRR, e como já mencionado, para que este valor seja elevado o amplificador de instrumentação é comercializado em um único circuito integrado (CI) maximizando o casamento entre os resistores. Os CI’s de amplificadores de instrumentação alcançam CMRR maiores do que 100 dB (CMRR > 105), porém esse valor decai com a frequência. Exemplos clássicos de amplificadores de instrumentação integrado são o AD620, AD8221 da Analog Devices, o INA118 e o INA103 da Texas Instruments. 2.5.2 – Topologia Básica de Amplificadores de ECG Um exemplo de amplificador de ECG está ilustrado na Figura 2.11, onde o amplificador de instrumentação (INA 128) pode ser ligado diretamente ao paciente através dos eletrodos. Essa topologia utiliza apenas três eletrodos, sendo dois deles usados para se obter a tensão diferencial e o outro conectado a uma tensão referencial. De maneira simples, uma estimativa da tensão de modo comum (VG) pode ser derivada da topologia interna do INA, sendo posteriormente isolada por um buffer e reinjetada no 15 paciente por meio de um amplificador inversor, maximizando a rejeição da tensão de modo comum [1]. A tensão de modo comum do ECG é formada basicamente por duas componentes: o potencial DC de offset dos eletrodos e a interferência de 50 ou 60 Hz induzida pela rede elétrica. Figura 2.11 – Amplificador básico de ECG com drive de perna direita. Fonte: Introduction to Biomedical Equipment Technology [1]. 2.6 – Circuito Drive de Perna Direita (DRL) A reinjeção da estimativa da tensão de modo comum anteriormente mencionada é conhecida como driver de perna direita (DRL). A voltagem de modo comum (CMV) é invertida pelo amplificador operacional OPA2131 (Figura 2.11) e a voltagem resultante é aplicada a perna direita do paciente. Esse circuito age como um loop de realimentação (paciente e circuito) para diminuir a tensão de modo comum no paciente. Já que a voltagem do DRL é a inversão da CMV (fase oposta), o ruído de 60Hz nas entradas do INA se torna menor. No entanto, por se tratar de uma espécie de realimentação, o ganho do DRL pode tornar o sistema instável, gerando oscilação no sinal de ECG. 16 Capítulo 3 Estado da arte Neste capítulo serão ilustrados trabalhos de pesquisa referentes a essa área de eletrodos têxteis que estão sendo realizados em outros países para comparação com o trabalho desenvolvido pela autora. Foram escolhidos dois artigos científicos que serviram de inspiração e base para o desenvolvimento do projeto do Sistema de Monitorização de ECG. 3.1 – Metodologia dos artigos presentes na Literatura Primeiramente vamos analisar os eletrodos têxteis condutivos que foram feitos em outras pesquisas da área de Engenharia Biomédica. A Figura 3.1 abaixo ilustra os eletrodos desenvolvidos no artigo [2]. Nele é possível observar que os eletrodos foram confeccionados com um tecido condutivo envolto em um disco de espuma, que possui a função de se adaptar as sinuosidades corpóreas da pele do paciente, bem como aumentar o contato elétrico em áreas corpóreas com grande quantidade de pelos. Figura 3.1 – Vista superior (a) e vista explodida do eletrodo seco de EEG proposto (b), que foi coberto com um tecido condutivo em todas as faces. Fonte: Novel Dry Polymer Foam Electrodes for Long-Term EEG Measurement [2]. 17 Em outro artigo utilizado como inspiração do projeto, [3], o autor desenvolveu uma cinta para a medição do ECG de longa duração nos pacientes através de eletrodos têxteis também. Na Figura 3.2, encontra-se a ilustração retirada do artigo citado, que mostra detalhadamente o diagrama de blocos do sistema desenvolvido pelo autor do artigo. Figura 3.2 – Cinta de medição de ECG encontrada na Literatura. Fonte: Textile electrodes in a body belt to capture and process ECG signals [3]. A cinta representa um sistema de obtenção de ECG de longa duração wearable, onde eletrodos têxteis foram costurados no lado da cinta que faz contato com a pele do paciente. Os eletrodos são ligados a um pequeno conector de celular, que contém um amplificador e filtro de biopotenciais. Todo esse sistema envia sinais condicionados para um conector ADC, onde o sinal é digitalizado e processado. 3.2 – Resultados dos artigos presentes na Literatura No primeiro artigo analisado [2], os eletrodos secos têxteis foram utilizados para captar o Eletroencefalograma (EEG) do paciente. Mesmo se tratando de um biopotencial diferente do estudado no presente projeto, seus resultados e metodologia nos serviram de inspiração e base para o desenvolvimento dos eletrodos. Na Figura 3.3 está ilustrado o resultado comparativo do artigo na obtenção de EEG com eletrodos molhados convencionais e eletrodos secos têxteis. O artigo concluiu que os eletrodos secos funcionam na obtenção do EEG de longa duração, mesmo sem a preparação da pele do paciente e aplicação de qualquer gel condutivo. Além disso, os eletrodos são capazes de se adaptar a diferentes superfícies cranianas e mesmo a partes peludas para 18 manter a baixa impedância eletrodo-pele. Outra grande vantagem encontrada nesse tipo de eletrodo é que o seu processo de fabricação tem baixo custo, e os resultados mostram sinais com excelente qualidade clínica. Figura 3.3 – Resultado do EEG medido na área da testa do paciente. Fonte: Novel Dry Polymer Foam Electrodes for Long-Term EEG Measurement [2]. As Figuras 3.4 e 3.5 mostram os resultados encontrados no artigo [3], onde é feita a comparação entre o ECG medido com os eletrodos secos têxteis e os eletrodos convencionais de gel condutivo em aparelhos comerciais de medição de ECG, bem como no sistema completo de cinta e processamento digital desenvolvido pelos autores. 19 Figura 3.4 – Comparação de ECG com eletrodos convencionais e têxteis em monitores comerciais. Fonte: Textile electrodes in a body belt to capture and process ECG signals [3]. Figura 3.5 – Comparação de ECG com eletrodos convencionais e têxteis no sistema completo de cinta. Fonte: Textile electrodes in a body belt to capture and process ECG signals [3]. Os autores do artigo concluíram que os eletrodos têxteis desenvolvidos obtiveram uma boa qualidade na detecção em termos de ECG. Foi concluído, também, que os eletrodos têxteis mostraram um resultado promissor por exibirem uma baixa impedância eletrodo-pele e alta relação SNR para sinais de longa duração. 20 Capítulo 4 Materiais e Métodos 4.1 – Visão Geral Inicialmente as atividades do projeto se concentraram em criar o circuito eletrônico de captação de ECG e aperfeiçoá-lo, a fim de reduzir as interferências; mas, ainda, usando nos testesos eletrodos descartáveis com gel. Após a razão sinal/ruído do sinal de saída ser considerada satisfatória (maior que 10), começou-se a analisar os resultados utilizando os eletrodos têxteis. Por se tratar de um eletrodo seco, que por mais que se tente ainda possui uma camada de ar entre o eletrodo e a pele, acontece um efeito capacitivo que torna a captação do sinal mais ruidosa. Além disso, foram testadas várias topologias de cinta e eletrodos diferentes a fim de se encontrar a melhor configuração do sistema que maximizasse a razão sinal/ruído. A Figura 4.1 ilustra o Diagrama de Blocos do sistema, onde os quatro grandes blocos estão destacados e separados: Eletrodos Têxteis, Eletrônica de Frontend, Sistema de Aquisição de Dados e Software de Monitoramento. Figura 4.1 – Diagrama de blocos do sistema. 21 Várias medidas foram tomadas a fim de se maximizar a SNR, indo desde filtros analógicos a filtros digitais no software de monitoramento após o sinal ser digitalizado. Esse processo será melhor explicado nas seções que se seguem. 4.2 – Eletrodos Têxteis A captação de ECG é geralmente realizada com eletrodos descartáveis adesivos que contém um gel condutivo. Entretanto, na monitorização de ECG de longa duração, o chamado exame Holter [1], e também na monitorização de pacientes em estágio pós- operatório, a utilização desses eletrodos pode se tornar inconveniente para o bem-estar e mobilidade do paciente. Figura 4.2 – Visão frontal dos eletrodos têxteis na cinta usada no sistema de captação de ECG desenvolvido. Visando um melhor conforto dos pacientes, eletrodos secos têxteis têm sido pesquisados em várias partes do mundo, como já foi discutido no Capítulo 3 deste texto [2] e [3]. Esses eletrodos são confeccionados com um tipo de tecido condutor especialmente fabricado para apresentar boa condutividade elétrica. Sua fabricação é feita por tecelagem, tricô ou bordado com fios condutores (geralmente de prata) atrelados a estrutura do tecido. Normalmente eles possuem uma base sintética, como, por exemplo, poliéster ou poliamida que são maleáveis e laváveis. A Figura 4.2 mostra a cinta de eletrodos têxteis desenvolvida no presente trabalho com o tecido condutor MedTex™ P-130, cujas especificações técnicas são descritas no Quadro 1. Quadro 1: Especificação do tecido condutor usado para confeccionar os eletrodos têxteis. 22 Propósito: Cuidado de feridas, produto e vestuário antimicrobial Descrição: Alta liberação de prata iônica nas duas faces da malha elástica de nylon Resistência da superfície: Média <5 Ω Galvanização: 99.9% prata pura Resistência à abrasão: 10,0000 ciclos Faixa de temperatura: -30°C à +90ºC Espessura total: 0.45mm Peso: 140 g /m2 Alongamento: Direção de estendimento duplo (trama e fio) Tamanho do rolo: 50 LY em média Largura do rolo: 135cm 78% Nylon + 22% elastormer Não obstante, os eletrodos têxteis apresentam uma significativa desvantagem quando comparados aos eletrodos de gel: possuem uma elevada impedância na interface eletrodo-pele (1 a 5 MΩ/cm²) [1], enquanto que os eletrodos de gel possuem uma baixa impedância (10 kΩ/cm²) [1]. Por causa dessa característica, o circuito amplificador do ECG deve ser projetado cuidadosamente a fim de maximizar a razão sinal/ruído do sistema. Depois de se ter otimizado o circuito eletrônico e a razão sinal/ruído ainda para eletrodos com gel, começaram os testes com os eletrodos têxteis. Os eletrodos foram costurados a uma cinta elástica que possui um fechamento de velcro, pois ela deve se adaptar e funcionar para diferentes biótipos (Figura 4.4). Esses eletrodos foram confeccionados de tecido com um recheio de espuma. A importância da espuma é se moldar as curvas da superfície cutânea do paciente, preenchendo, assim, a maior parte do espaço entre o eletrodo e a pele do paciente, de modo a diminuir a impedância da interface. 23 Figura 4.3 – Diagrama dos eletrodos na Cinta de ECG. Primeiramente o circuito amplificador foi conectado aos eletrodos através de trilhas feitas de linha condutiva costuradas na cinta. Entretanto, como o objetivo é criar um dispositivo completamente independente (wearable) e que possa ser reaproveitado por diversos pacientes, sendo lavável, a maneira mais adequada é tornando o circuito destacável da cinta com os eletrodos têxteis, para que a mesma possa ser lavada e reutilizada sem danificar os componentes eletrônicos. Para tornar o circuito destacável utilizamos botões magnéticos condutivos, que fazem contato elétrico direto com o eletrodo condutivo. Como o botão é magnético, o circuito pode ser preso à cinta de maneira eficaz durante o exame, através da peça macho do botão e solto facilmente para que a cinta possa ser higienizada. Na Figura 4.4 estão ilustrados os três eletrodos têxteis que se encontram na parte interna da cinta, ou seja, a parte que ficará em contato com a região cutânea do paciente. Já os botões magnéticos condutivos se encontram na região externa da cinta, ou seja, o local onde o circuito eletrônico será acoplado para captar o sinal de ECG. Figura 4.4 – Vista de perfil da cinta usada no sistema de captação de ECG desenvolvido. 24 4.3 – Eletrônica de Frontend Nessa seção desdobraremos cada bloco que compõe o circuito eletrônico do sistema de ECG desenvolvido neste trabalho. A Figura 4.5 mostra o diagrama de blocos da eletrônica de frontend que é composta por três blocos: circuito de buffers, circuito amplificador e circuito de DRL. Figura 4.5 – Diagrama de blocos da eletrônica de Frontend. A Figura 4.6 mostra o esquemático do sistema eletrônico completo do circuito amplificador de ECG, que nos tópicos a seguir será desmembrado e melhor explicado. Figura 4.6 – Esquemático do Sistema Eletrônico completo. 25 4.3.1 – Circuito de Buffers Como, eventualmente, a cinta de eletrodos poderia ficar distante do circuito de amplificação, a função dos buffers era transmitir o sinal de ECG dos eletrodos para o circuito amplificador de instrumentação usando-se um circuito de baixa impedância de saída, reduzindo a introdução de ruídos de interferência da rede elétrica. O circuito desenvolvido contém dois buffers feitos com amplificadores operacionais LF353 que possuem impedância de entrada de 1012 Ω, sendo um para cada entrada diferencial. 4.3.2 – Circuito Amplificador Já que o sinal de ECG geralmente possui uma amplitude entre 1 a 5 mV é necessário amplificá-lo. Realizamos essa operação através de 3 estágios básicos: amplificador de instrumentação e dois amplificadores de entrada simples, que também limitam a banda passante apenas para a faixa de interesse do ECG. O circuito responsável pela amplificação do sinal de ECG é formado por: um amplificador de instrumentação INA128, que é um amplificador de entrada diferencial que mais se aproxima do ideal para esta aplicação, e que devido à escolha dos resistores de entrada possui um ganho 𝐴𝐼𝑁𝐴 = 20 V/V; dois estágios de amplificação, que contêm amplificadores operacionais LF353, que podem ser tratados como ideais para essa aplicação, sendo que o primeiro e o segundo possuem ganho 𝐴𝐴𝑀𝑃1 = 𝐴𝐴𝑀𝑃2 = 10 V/V. Além do mais, estes estágios possuem filtros capacitivos de primeira ordem, sendo o primeiro, com 𝐶1 = 1000µF, um filtro passa altas de frequência de corte f1 e o segundo, com 𝐶2 = 150nF, um filtro passa baixas de frequência de corte f2. O cálculo das frequências teóricas de corte é mostrado nas equações abaixo. 𝑓1 = 1 2𝜋𝐶1𝑅3 = 1 2𝜋. 1,2. 1031000. 10−6 = 0,133 𝐻𝑧 𝑓2 = 1 2𝜋𝐶2𝑅4 = 1 2𝜋. 12. 103150. 10−9 = 88,419 𝐻𝑧 O ganho total teórico do sistema pode ser calculado facilmente, já que os três estágios de amplificação estão cascateados e se encontra exemplificado abaixo.26 𝐴𝑉 = 𝐴𝐼𝑁𝐴. 𝐴𝐴𝑀𝑃1. 𝐴𝐴𝑀𝑃2 = 20.10.10 = 2000𝑉/𝑉 4.3.3 – Circuito de Drive de Perna Direita (DRL) O circuito DRL fornece um potencial de referência que é aplicado ao eletrodo conectado à perna direita do paciente. Na ausência de tal circuito este eletrodo é normalmente conectado ao terra do circuito do pré-amplificador. Nesta técnica, reinjeta- se no indivíduo uma voltagem que é uma estimativa do sinal de modo comum do amplificador (a média entre as entradas diferenciais) invertida em fase de 180º. Este é o sinal aplicado no chamado eletrodo de referência (Figura 4.3) de nosso conjunto de eletrodos de captação. Pode ser mostrado que tal técnica reduz a magnitude da tensão efetiva de modo-comum, elevando a razão sinal/ruído do sistema [1]. Como os eletrodos têxteis fornecem geralmente sinais mais ruidosos que aqueles obtidos com eletrodos com gel condutivo justifica-se a utilização da técnica do circuito de DRL. O valor do ganho do circuito de DRL que gera a melhor razão SNR foi pesquisado de forma heurística, desde a primeira etapa do projeto, e os resultados e cálculos empregados podem ser vistos no Capítulo 5. 4.4 – Sistema de Aquisição de Dados Um Sistema de Aquisição de Dados – Data Acquisition System (DAQ) – é um sistema que realiza a amostragem de um sinal elétrico gerado a partir de algum fenômeno físico e faz a conversão dessas informações para um formato digital para posteriores visualizações, análises, armazenamento e processamento. A partir desse sistema é possível monitorar e supervisionar as variáveis e os dispositivos de sistemas de controle conectados por meio de controladores ou computadores. Para adquirir os dados do presente trabalho foi utilizada uma placa de baixo custo USB-6009 (Figura 4.7) e um software desenvolvido em LabVIEW, ambos da National Instruments (EUA). A placa USB-6009 é uma placa de aquisição de dados básica que usa comunicação serial através do USB. Possui oito entradas analógicas para o modo RSE (Reference Single-Ended), resolução de 13 bits para a faixa de amplitude 27 do sinal de entrada, captando ao máximo a faixa entre -10V e +10 V e mínimo de -1 a +1 V. Ela também possui duas saídas analógicas, 12 canais de entrada/saída digital e um contador de 32 bits. Sua taxa de amostragem máxima é de 48000 amostras por segundo e é compatível com LabVIEW, LabWindows/CI e Measurement Studio for Visual Studio. Figura 4.7 – Placa NI USB-6009 de aquisição de Dados. Fonte: www.brasil.ni.com 4.5 – Software de Monitoramento Foi desenvolvido um programa em LabVIEW com funções para adquirir o sinal da eletrônica de frontend do sistema que recebe e trata os dados do ECG. Essa aplicação recebeu o nome de Sistema de Monitorização de ECG. Nela o sinal passa por um processamento digital para melhorar ainda mais a SNR do ECG, sendo posteriormente implementada uma rotina para a detecção automática da frequência cardíaca (FC), bem como 2 alarmes para a FC calculada: um de taquicardia (caso a frequência seja maior que 100 bpm) e um de bradicardia (caso a frequência seja menor que 60 bpm). A plataforma LabVIEW é uma boa opção para o desenvolvimento de aplicativos que simulam instrumentos virtuais, incluindo a representação do seu painel frontal. O desenvolvimento do código fonte é feito em diagrama de blocos de execução, onde o usuário tem a possibilidade de programar através de uma interface gráfica, utilizando funções já existentes chamadas de virtual instruments (vi). É permitido ao programador personalizar o painel frontal, escolhendo opções como botões e chaves para alterar parâmetros de entrada no sistema e indicadores numéricos, assim como caixas de textos e gráficos para exibir informações. 28 Figura 4.8 – Aplicação completa desenvolvida em LabVIEW. O primeiro bloco importante a ser destacado da aplicação em LabVIEW desenvolvida é o de acesso a placa de aquisição e aos dados do sistema acoplado na mesma. Nele são utilizadas funções de leitura de placa de aquisição, onde alguns parâmetros para a digitalização do sinal são definidos pelo projetista. Nesse caso, o mais importante a ser destacado é frequência de amostragem escolhida para a digitalização do sinal, que foi no presente caso de fa=1000 amostras/s. Os dados amostrados e digitalizados são armazenados num buffer digital circular e lidos de 10 em 10 amostras dentro do while loop para tornar o processamento mais eficiente e para dar uma impressão de tempo real no gráfico de exibição de dados. As 10 amostras lidas em cada passagem do loop são concatenadas no final de um vetor de 2000 amostras (que equivalem a uma janela temporal de 2s para a frequência de amostragem utilizada) ao mesmo tempo que as 10 amostras no começo do vetor são descartadas. Este buffer de 2000 amostradas contém, então, os últimos 2s do sinal de ECG. O sinal do buffer passa posteriormente por um filtro rejeita-banda Butterworth de 4ª ordem com frequências de corte: fh = 62 Hz e fl = 58 Hz. A função desse filtro é 29 tirar ainda mais o ruído da rede de 60 Hz do ECG, só que agora através de uma filtragem digital de sinais. Figura 4.9 – Gráfico dos ECG’s normal e sem linha de base. Para realizar o cálculo automático da frequência cardíaca foi preciso gerar um sinal de ECG intermediário que será chamado de ECG sem linha de base. Esse novo sinal de ECG foi obtido ao se passar o sinal resultante do ECG por um filtro passa-alta Butterworth de 2ª ordem, com frequência de corte fl = 7 Hz. Uma consequência da aplicação deste filtro de remoção da flutuação da linha de base é a distorção das ondas P e T do ECG. Entretanto para o cômputo da FC só nos interessa a manutenção dos picos do complexo QRS. A Figura 4.9 ilustra os 2 sinais de ECG e suas diferenças. Finalmente, o bloco responsável pelo detector de frequências cardíacas é ilustrado na Figura 4.10. Esse bloco é composto por um for loop que compara elemento a elemento do vetor que contém o ECG sem linha de base com os limiares 0,7 V e 0 V. Para ficar mais claro o funcionamento desse bloco, três saídas booleanas foram assinaladas com os números 1, 2 e 3. A variável booleana 2 representa o resultado da operação lógica ilustrada na Figura 4.10, que é a comparação do valor do ECG sem linha de base com o limiar escolhido em projeto (0,7 V) para identificar onde começa o complexo QRS. Ou seja, se o valor atual do ECG for maior que 0,7 V, considera-se que começou o pico e a variável 2 recebe TRUE. Entretanto, a comparação deve considerar também o valor anterior do limiar, senão pequenas oscilações de amplitude dentro do complexo QRS em torno do limiar escolhido podem ser detectadas como falsos picos. 30 Figura 4.10 – Detalhe da aplicação que calcula a frequência cardíaca. Por isso existe a variável 1, que é o NOT da variável 2, e serve para guardar o valor da operação anterior que vai considerar também o limiar 0V e, dessa maneira, a variável 1 só terá valor TRUE nos lugares onde o ECG passou de valores menores que 0V para maiores que 0,7V em uma amostra, que é o verdadeiro pico. Com isso, transformamos o sinal de ECG em um sinal lógico de amplitude 1, onde cada pulso está localizado na amostra onde o complexo QRS do ECG cruza o nível de comparação. Tal pulso é usado na estratégia para se calcular a frequência cardíaca automaticamente do paciente. Finalmente, a saída 3 representa a transformação dos pulsos em impulsos de amplitude 1 que marcam o início de cada complexo QRS, chamado de ECG binário no gráfico da Figura 4.11. Ou seja, o vetor formado pelos valores que saem da variável 3 é um vetor que contém diversos FALSES e apenas um TRUE isolado entre eles, que representa cada ciclo do sinal de ECG do paciente. E esse valor será a condição do case loop que faz o cálculo numérico da frequência cardíaca.31 Figura 4.11 – Gráficos do ECG normal e do ECG sem linha de base. Para guardar os valores das amostras que contêm os picos, foram criados os shift registers auxiliares M1, M2 e AMOSTRA, que podem ser vistos na Figura 4.10. A função de M1 é guardar o valor da amostra que continha o pico anterior achado, M2 muda imediatamente para o valor do pico atual e a variável AMOSTRA conta o loop que o programa que representa a amostra atual. Dessa maneira a lógica em pseudo- algoritmo que está implementada no LabVIEW de maneira gráfica se encontra abaixo, onde D é a distância entre 2 picos: M1 = 0; M2 = 0; IF M1[n] = 0 M1[n+1] = AMOSTRA[n+1]; ELSE M1[n+1] = M2[n]; M2[n+1] = AMOSTRA[n+1]; D[n] = AMOSTRA[n+1] – M1[n]; Com isso, a distância entre 2 picos de ECG é encontrada na variável D em número de amostras. Agora, basta converter em batimentos por minuto que é a unidade de frequência usual dos sinais de eletrocardiograma clínicos. Essa conta é mostrada graficamente na Figura 4.10, e obtida dividindo-se D pela frequência de amostragem 32 utilizada (1000 amostras/s) e multiplicando-se o resultado por 60, para passar de Hz para bpm (batimentos por minuto). O processo acima explicado fornece a frequência instantânea do paciente. Entretanto, não interessa clinicamente analisar frequências calculadas em intervalos de tempo tão pequenos. Por esse motivo, o valor final de frequência exibido no monitor será a média móvel de 5 batimentos consecutivos do paciente. Finalmente, o último recurso do algoritmo desenvolvido é um alarme de bradicardia (FC menores que 60bpm) e taquicardia (FC maiores que 100bpm). Essas condições de frequências são perigosas para o funcionamento do coração, portanto devem ser alarmadas assim que detectadas, para que alguma providência seja tomada e se possa restaurar a normalidade cardíaca do paciente acompanhado. A implementação em LabVIEW desse recurso é bastante simples uma vez que se tem o valor da FC, basta ter 2 comparadores que acionam um LED no painel do medidor caso quaisquer uma das condições sejam atingidas, chamando assim imediatamente a atenção do profissional de saúde responsável pelo acompanhamento do paciente em questão. 33 Capítulo 5 Resultados O projeto do Sistema para Monitorização de ECG foi desenvolvido ao longo de 2 anos de Iniciação científica realizada pela autora no LIB (Laboratório de Instrumentação Biomédica) do PEB (Programa de Engenharia Biomédica). Foram várias etapas de projeto e muitos testes realizados com a finalidade de isolar variáveis e definir os casos que gerariam a melhor razão SNR do sistema. A sessão 5.1 isola esses testes em 4 etapas de projeto, no sentido cronológico, e elucida detalhadamente o que foi concluído de cada um dos testes feitos, apresentando gráficos e cálculos de SNRs para chegar às conclusões e escolhas de projeto. Ao longo do projeto foram realizados vários testes até se chegar à configuração atual. Abaixo estão listados de maneira cronológica os testes e conclusões de cada um deles para o próximo passo do projeto. É importante ressaltar que os cálculos de ganho para cada uma das configurações testadas foram feitos seguindo as equações abaixo: Sinal 𝑉𝑝𝑖𝑐𝑜 = 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟𝑒𝑠 𝑑𝑒 𝑝𝑖𝑐𝑜 𝑑𝑜 𝑠𝑖𝑛𝑎𝑙 𝑄𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑝𝑖𝑐𝑜𝑠 𝑉𝑣𝑎𝑙𝑒 = 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟𝑒𝑠 𝑑𝑒 𝑣𝑎𝑙𝑒 𝑑𝑜 𝑠𝑖𝑛𝑎𝑙 𝑄𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑣𝑎𝑙𝑒𝑠 ∆𝑉𝑠𝑖𝑛𝑎𝑙 = 𝑉𝑝𝑖𝑐𝑜 − 𝑉𝑣𝑎𝑙𝑒 Ruído 𝑉𝑝𝑖𝑐𝑜 = 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟𝑒𝑠 𝑑𝑒 𝑝𝑖𝑐𝑜 𝑑𝑜 𝑟𝑢í𝑑𝑜 𝑄𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑝𝑖𝑐𝑜𝑠 𝑉𝑣𝑎𝑙𝑒 = 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟𝑒𝑠 𝑑𝑒 𝑣𝑎𝑙𝑒 𝑑𝑜 𝑟𝑢í𝑑𝑜 𝑄𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑣𝑎𝑙𝑒𝑠 ∆𝑉𝑟𝑢í𝑑𝑜 = 𝑉𝑝𝑖𝑐𝑜 − 𝑉𝑣𝑎𝑙𝑒 Resultado 𝑆𝑁𝑅 = ∆𝑉𝑠𝑖𝑛𝑎𝑙 ∆𝑉𝑟𝑢í𝑑𝑜 34 5.1. Com eletrodo de gel 5.1.1. Testes para o ganho do circuito de DRL: Esses testes foram feitos em placas de cobre pré-prontas e o circuito foi soldado nela e tirado da protoboard, que era apenas para os testes iniciais. A Figura 5.1 ilustra os três ECGs obtidos com os três valores de ganho (G) de circuito de DRL (quando R7 = 1kΩ): G=1,5 (quando R8 = 1,5kΩ), G=2,2 (quando R8 = 2,2kkΩ) e G=10 (quando R8 = 10kΩ). Figura 5.1 – Gráficos para comparação do ganho do circuito de DRL. 𝑆𝑁𝑅(𝐺 = 1,5) = 25,49 𝑉/𝑉 𝑆𝑁𝑅(𝐺 = 2,2) = 20,79 𝑉/𝑉 𝑆𝑁𝑅(𝐺 = 10) = 4,75 𝑉/𝑉 Os cálculos mostram que, para o ganho G=10, o circuito é absurdamente ruidoso e não há mais qualidade clínica na leitura do mesmo. Já para os ganhos G=1,5 e G=2,2 os ganhos são bem próximos, entretanto o sinal com G=2,2 tem uma excursão 35 levemente maior do sinal, mas a escolha entre os dois ganhos realmente não faz tanta diferença. Acabou-se optando por ganho G=2,2, que gera uma SNR=20,79 V/V que foi atingido ao escolher R8 = 2,2 kΩ no circuito da Figura 3.6. 5.1.2. Testes com adição de buffer: Agora comparando a topologia escolhida acima com a mesma, só que com adição de buffer em uma placa PCB feita por processo artesanal. Os resultados comparativos com o ganho escolhido acima e o novo circuito se encontram na Figura 5.2. Figura 5.2 – Gráficos para comparação do ECG sem e com circuito de Buffers. 𝑆𝑁𝑅(𝑠𝑒𝑚 𝑏𝑢𝑓𝑓𝑒𝑟) = ∆𝑉𝑠𝑖𝑛𝑎𝑙 ∆𝑉𝑟𝑢í𝑑𝑜 = 2,64 0,127 = 20,79𝑉/𝑉 𝑆𝑁𝑅(𝑐𝑜𝑚 𝑏𝑢𝑓𝑓𝑒𝑟) = ∆𝑉𝑠𝑖𝑛𝑎𝑙 ∆𝑉𝑟𝑢í𝑑𝑜 = 3,32 0,206 = 16,12𝑉/𝑉 Apesar do ganho com a adição do circuito de buffer ter resultado em um SNR um pouco menor, houve grandes mudanças na placa, e a primeira versão era um pouco instável, por isso o sinal mais ruidoso. Além disso, vemos pela Figura 5.2 que o ECG com circuito de buffers teve uma excursão bem maior que o sem buffers, o que é bastante positivo. Portanto, optou-se por deixar o circuito de buffers na topologia do 36 circuito, pois nessa etapa do projeto ainda tinham muitos outros detalhes para melhorar no futuro. 5.2. Com eletrodo têxtil 5.2.1. Teste para distância dos eletrodos na cinta Outro fator muito importante no desenvolvimento do projeto é a cinta que contém os eletrodos têxteis. O afastamento relativo dos eletrodos também pode influenciar no sinal. Portanto, foram confeccionadas duas topologias de cintas: uma com os eletrodos afastados uns dos outros (aproximadamente 12 cm entre os eletrodos de captação) e outra com os eletrodos bem próximos (aproximadamente 2 cm entre os eletrodos de captação). Figura 5.3 – Gráficos de comparação da distância dos eletrodos na cinta de ECG. 𝑆𝑁𝑅(𝑎𝑓𝑎𝑠𝑡𝑎𝑑𝑜𝑠) = ∆𝑉𝑠𝑖𝑛𝑎𝑙 ∆𝑉𝑟𝑢í𝑑𝑜 = 4,18 0,115 = 36,35𝑉/𝑉 𝑆𝑁𝑅(𝑗𝑢𝑛𝑡𝑜𝑠) = ∆𝑉𝑠𝑖𝑛𝑎𝑙 ∆𝑉𝑟𝑢í𝑑𝑜 = 2,19 0,135 = 16,22𝑉/𝑉 Percebemos que os eletrodos afastados na cinta geram uma melhor SNR. Entretanto, nessa fase do projeto tem que ser considerada a implicação física de eletrodos afastados. Quanto mais afastados os eletrodos, mais longe de um dispositivo wearable ficamos, pois aumentaria a quantidade de fios de contato entre a placa e os eletrodos na cinta. Portanto, optou-se por uma topologia com eletrodos juntos, pois 37 mesmo que tenha uma relação SNR menor que a outra, ainda nos produz uma boa SNR que seria melhorada nas próximas etapas do projeto. 5.3. Com a placa PCB verde 5.3.1. Testes para o ganho do circuito de DRL Como melhorou-se consideravelmente a placa do circuito, foram escolhidos novamente os resistores para o ganho de DRL. Na Figura 5.4 é possível se ver os três ECGs obtidos com os três valores de ganho de circuito de DRL (quando R8 = 1 kΩ): G=1,47 (quando R7 = 820 Ω), G=1,83 (quando R7 = 1,2 kΩ) e G=2,68 (quando R7 = 1,5 kΩ). Figura 5.4 – Gráficos para comparação do ganho de DRL com a placa verde. 𝑆𝑁𝑅(𝐺 = 1,47) = ∆𝑉𝑠𝑖𝑛𝑎𝑙 ∆𝑉𝑟𝑢í𝑑𝑜 = 2,62 0,135 = 19,41𝑉/𝑉𝑆𝑁𝑅(𝐺 = 1,83) = ∆𝑉𝑠𝑖𝑛𝑎𝑙 ∆𝑉𝑟𝑢í𝑑𝑜 = 2,74 0,075 = 36,53𝑉/𝑉 𝑆𝑁𝑅(𝐺 = 2,68) = ∆𝑉𝑠𝑖𝑛𝑎𝑙 ∆𝑉𝑟𝑢í𝑑𝑜 = 2,56 0,112625 = 22,73𝑉/𝑉 38 Depois dos cálculos acima podemos ver que o melhor ganho para o circuito de DRL, ou seja, o ganho que produz a melhor relação sinal ruído (SNR) do sinal de ECG é quando o ganho vale G =1,83, que gera uma SNR=36,53 V/V que foi atingido ao escolher R7 = 1,2 kΩ no circuito da Figura 4.6. 5.3.2. Testes para tamanho dos eletrodos nas cintas Nessa etapa do projeto desejava-se testar o tamanho e forma dos eletrodos na cinta e como isso impactava na relação sinal ruído do sistema. Para isso foram usadas 5 topologias de cinta diferentes. Cinta 1: Possui 3 eletrodos retangulares pequenos (3x1,6 cm) orientados na horizontal. Cinta 2: Possui 3 eletrodos retangulares pequenos (1,6x3 cm) orientados na vertical. Cinta 3: Possui 3 eletrodos quadrados médios (2,5x2,5 cm) centralizados na cinta. Cinta 4: Possui 3 eletrodos retangulares grandes (5x2,3 cm) orientados na horizontal. Cinta 5: Possui 3 eletrodos retangulares grandes (2x6,5 cm) orientados na vertical. Para ficar ainda mais claro como os eletrodos foram distribuídos nas cintas, na Figura 5.5 encontra-se a foto das 5 cintas utilizadas no projeto. Note também, que para tornar a compreensão mais didática, foram utilizadas as mesmas cores para sinalizar o gráfico e a imagem da mesma cinta. 39 Figura 5.5 – Fotografia das 5 topologias de cinta testadas. Figura 5.6 – Gráficos de comparação das cintas 1 a 5. 40 𝑆𝑁𝑅(𝑐𝑖𝑛𝑡𝑎 1) = ∆𝑉𝑠𝑖𝑛𝑎𝑙 ∆𝑉𝑟𝑢í𝑑𝑜 = 3,535 0,1025 = 34,49𝑉/𝑉 𝑆𝑁𝑅(𝑐𝑖𝑛𝑡𝑎 2) = ∆𝑉𝑠𝑖𝑛𝑎𝑙 ∆𝑉𝑟𝑢í𝑑𝑜 = 4,11 2,81 = 1,46𝑉/𝑉 𝑆𝑁𝑅(𝑐𝑖𝑛𝑡𝑎 3) = ∆𝑉𝑠𝑖𝑛𝑎𝑙 ∆𝑉𝑟𝑢í𝑑𝑜 = 2,37 0,0725 = 32,69𝑉/𝑉 𝑆𝑁𝑅(𝑐𝑖𝑛𝑡𝑎 4) = ∆𝑉𝑠𝑖𝑛𝑎𝑙 ∆𝑉𝑟𝑢í𝑑𝑜 = 3,125 0,195 = 16,03𝑉/𝑉 𝑆𝑁𝑅(𝑐𝑖𝑛𝑡𝑎 5) = ∆𝑉𝑠𝑖𝑛𝑎𝑙 ∆𝑉𝑟𝑢í𝑑𝑜 = 2,515 0,0325 = 77,38𝑉/𝑉 Depois dos cálculos, constatamos que a cinta 5 é consideravelmente melhor que as outras 4 testadas, já que apresenta uma relação SNR muito acima das outras (SNR=77,38 V/V). Além disso, foi observado experimentalmente uma outra vantagem da cinta 5: maior estabilidade na obtenção do ECG. Enquanto as outras 4 cintas apresentavam grandes oscilações e perda total de ECG em momentos de movimentos ou inspirações bruscas do paciente, a cinta 5 se mostrou mais robusta às oscilações causadas por esses movimentos. Assim sendo, a cinta 5 foi a escolhida como topologia ideal dos eletrodos têxteis para a captação de ECG do sistema. 5.3.3. Testes para ganho total do sistema Nesse teste iremos avaliar o ganho total real atingido pelo sistema, que foi calculado teoricamente na seção 4.3.2 como sendo 𝐴𝑉 = 2000 𝑉/𝑉. Para fazer isso utilizamos uma onda senoidal de frequência f = 30 Hz. Os gráficos da entrada e saída podem ser vistos na Figura 5.7, bem como o cálculo ganho total sistema de amplificação. 41 Figura 5.7 – Gráficos de entrada e saída para cálculo do ganho total do sistema. O cálculo do ganho total do sistema foi de: 𝐴𝑉 = ∆𝑉𝑠𝑎í𝑑𝑎 ∆𝑉𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎 = 1833,67𝑉/𝑉 Portanto, pelo resultado acima, concluímos que o sistema desenvolvido possui um ganho total do sistema próximo ao projetado inicialmente. 5.3.4. Testes da resposta em frequência Também foram feitos testes para medir a resposta em frequência do sistema de monitoramento de ECG. Para isso, foram medidas as entradas e saídas para 13 valores diferentes de frequência: 0,5, 1, 1,5, 2, 2,5, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 15, 20, 25, 30, 35, 40, 45, 50, 55, 60, 65, 70, 75, 80, 85, 90, 95, 100, 150, 200, 250, 500 e 1kHz. Com isso, para cada valor de frequência o ganho do sistema foi calculado e então geramos o gráfico abaixo da Figura 5.8, que relaciona o ganho do sistema com a frequência do sinal. 42 Figura 5.8 – Gráfico da resposta em frequência do sistema. Como foi discutido no Capítulo 4, o sistema foi projetado para ter uma frequência de corte superior de f = 88,419𝐻𝑧. Por isso os valores escolhidos para medir a resposta em frequência do sistema estão entre 30Hz e 1kHz. Na Figura 5.8 acima fica claro que os melhores ganhos do sistema estão nas frequências abaixo de 100Hz, como foi projetado. 5.4. Com a placa de aquisição de dados e LabVIEW Após definir todos os parâmetros variáveis do ganho de circuito de DRL, proximidade e topologia dos eletrodos na cinta, a eletrônica de frontend foi conectada ao sistema de aquisição de dados para digitalizar o ECG e adicionar uma última etapa de filtragem e processamento digital no sinal. Toda metodologia e técnicas de processamento utilizadas foram discutidas na sessão anterior, nessa sessão serão exibidos os resultados obtidos. 5.4.1. Testes para comparar o sinal com eletrodo de gel x têxtil O primeiro teste foi feito para comparar os sinais de ECG medidos com eletrodos de gel condutivo adesivo (que é o usual do mercado) e o eletrodo têxtil desenvolvido nesse projeto. O objetivo dessa comparação é mostrar que mesmo com a 43 problemática impedância de entrada no caso do eletrodo têxtil, ainda assim fomos capazes de gerar um sinal de ECG com qualidade clínica. Figura 5.9 – Gráficos de comparação dos eletrodos de gel e têxtil. 𝑆𝑁𝑅(𝑔𝑒𝑙) = ∆𝑉𝑠𝑖𝑛𝑎𝑙 ∆𝑉𝑟𝑢í𝑑𝑜 = 2,2644 0,065 = 34,84𝑉/𝑉 𝑆𝑁𝑅(𝑡ê𝑥𝑡𝑖𝑙) = ∆𝑉𝑠𝑖𝑛𝑎𝑙 ∆𝑉𝑟𝑢í𝑑𝑜 = 0,1137 0,003 = 37,9𝑉/𝑉 O resultado dos cálculos nos mostra que conseguimos garantir uma relação SNR para os eletrodos têxteis bem próxima à relação dos eletrodos de gel. Entretanto, como era de se esperar, o sinal de ECG obtido a partir dos eletrodos de gel têm uma excursão de sinal 20 vezes maior que a dos eletrodos têxteis. 5.4.2. Teste com o resultado final do ECG em 2 pacientes Foram coletados sinais de ECG obtidos em 2 voluntários: Luciane (sexo feminino e com alto índice de gordura corporal) e Alex (sexo masculino e com baixo índice de gordura corporal). No gráfico da Figura 5.10 abaixo estão ilustrados os ECGs obtidos nos 2 voluntários, provando que o sistema desenvolvido funciona em biótipos bastante diferentes um do outro. 44 Figura 5.10 – Gráficos de comparação dos ECGs em 2 pacientes distintos. Observando os gráficos vemos que ECG do paciente Alex, que apresenta baixo índice de gordura corporal, teve o dobro de excursão de sinal da paciente Luciane. Isso acontece porque a gordura corporal atua como atenuador e filtro para diversos biopotenciais. Quadro 2: todos os resultados de ganho obtidos em todas as etapas do projeto. Testes com eletrodo de gel Ganho do circuito de DRL G = 1,5 25,49 V/V G = 2,2 20,79 V/V G = 10 4,75 V/V Adição do circuito de Buffer Sem Buffer 20,79 V/V Com Buffer 16,12 V/V Testes com eletrodo têxtil Distância dos eletrodos na cinta Afastados 36,35 V/V Juntos 16,22 V/V Testes com a placa PCB verde Ganho de circuito de DRL G = 1,47 19,41 V/V G = 1,83 36,53 V/V G = 2,68 22,73 V/V Tamanho dos eletrodos na cinta Cinta 1 34,49 V/V Cinta 2 1,46 V/V Cinta 3 32,69 V/V Cinta 4 16,03 V/V Cinta 5 77,38 V/V Testes com a placa de aquisição Comparação dos dois eletrodos Eletrodo de Gel 34,84 V/V Eletrodo Têxtil 37,90 V/V 45 Discussão O objetivo do projeto era desenvolver eletrodos secos têxteis capazes de garantir uma captação de ECG com qualidade clínica para o monitoramento do paciente. Como foi discutido anteriormente, hoje em dia esse processo é realizado apenas com eletrodos que possuem um gel condutivo, que apesar de apresentarem baixa impedância de entrada e bons resultados para exames de curta duração, podem se tornar incômodos e ineficazes (pelo ressecamento do gel) em aplicaçõesde longo prazo. Comparando a Figura 3.1 com a Figura 4.4 é possível notar que presente projeto foi inspirado no design de um eletrodo têxtil presente na literatura, pois apresentava fácil confecção e produzia bons resultados. Entretanto, nosso projeto deu um passo a mais no aperfeiçoamento da tecnologia: em vez de contato apenas por fios com a eletrônica de frontend, foi desenvolvido um contato magnético destacável que possibilita a higienização e reutilazação da cinta sem grandes dificuldades. Ao se comparar com a Figura 3.2 com a Figura 4.3, vemos também que o conceito de se utilizar os eletrodos têxteis em uma cinta elástica, em vez de soltos individualmente como na Figura 3.1, também foi aproveitado em nosso projeto, pois assim a posição relativa entre os eletrodos fica fixa na cinta e a mesma se adapta a diferentes biotipos, por ter sido confeccionada de material elástico. Nossos resultados da comparação da captação do ECG com os eletrodos têxteis e eletrodos com gel condutor corroboram resultados encontrados na literatura, e que serviram de inspiração no projeto, onde também foram obtidos excelentes sinais de EEG e ECG quando compararam os eletrodos têxteis com os eletrodos de gel. Além disso, o resultado final comparativo entre os dois tipos de eletrodos de captação de ECG, ilustrado na Figura 5.9, mostra que as características do sinal de ECG foram preservadas e o sinal possui o mesmo valor clínico que aquele captado com eletrodo com gel. Ou seja, as mesmas conclusões clínicas que poderiam ser tiradas a partir do sinal proveniente do eletrodo de gel também podem ser obtidas agora de maneira menos penosa e incômoda ao paciente que, em muitos casos, já se encontra em estado de extremo desgaste físico e emocional. 46 Conclusões Os resultados e avanços verificados ao longo do projeto nos permitem avalizar que é possível desenvolver tecnologia nacional para a obtenção de sinais de ECG com qualidade clínica através de eletrodos têxteis secos. Tal método de obtenção de ECG, se implementado em hospitais, poderia melhorar consideravelmente a qualidade de recuperação e acompanhamento de pacientes em processo de pós-operatório. Além disso, exames necessários e inconvenientes como o Holter (onde o indivíduo permanece com eletrodos no corpo por até 24h) se tornariam menos desconfortáveis para o paciente. Mais ainda, o sistema automático de monitoramento permitiria um acompanhamento do paciente permite otimizar o trabalho da equipe de enfermeiros e médicos do hospital já que o sistema poderia comunicar variações perigosas na frequência cardíaca do paciente instantaneamente a uma central de monitoramento do hospital. 47 Bibliografia [1] CARR, J. JOSEPH, BROWN, JOHN M., Introduction to Biomedical Equipment Technology. Upper Saddle River, Columbus, Prentice Hall, 2001. [2] CT LIN, LD LIAO, YH LIU, IJ WANG, BS LIN, JY CHANG, “Novel dry polymer foam electrodes for long-term EEG measurement”, IEEE Transactions/ Biomedical Engineering, v. 58, pp. 1200-1207, 2011. [3] K MANKODIYA, YA HASSAN, UG Holfmann, “Textile electrodes in a body belt to capture and process ECG signals”. In: Ubicomp'10, Copenhagen, 2010. [4] Texas Instruments., “LF353-N Wide Bandwidth Dual JFET Input Operational Amplifier”, http://www.ti.com/lit/ds/symlink/lf353-n.pdf, (Acesso em 07 de Junho de 2016). [5] Texas Instruments., “INA12x Precision, Low Power Instrumentation Amplifiers”, http://www.ti.com/lit/ds/symlink/ina128.pdf, (Acesso em 07 de Junho de 2016). [6] TODA MATÉRIA, “Sistema Cardiovascular”, www.todamateria.com.br/sistema- cardiovascular, 2016, (Acesso em 07 de Junho de 2016). [7] AULA DE ANATOMIA, “Sistema Cardiovascular”, http://www.auladeanatomia.com/cardiovascular/angiologia.htm, 2016, (Acesso em 07 de Junho de 2016).