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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO DOCAGEM EM ESTALEIRO DE PEQUENO PORTE PHILIPE FERNANDES DOS SANTOS RIO DE JANEIRO 2019 ii DOCAGEM EM ESTALEIRO DE PEQUENO PORTE Philipe Fernandes dos Santos Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Naval e Oceânica da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientadora: Marta Cecília Tapia Reyes Rio de Janeiro Fevereiro 2020 iii DOCAGEM EM ESTALEIRO DE PEQUENO PORTE Philipe Fernandes dos Santos PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE ENGENHARIA NAVAL E OCEÂNICA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO NAVAL E OCEÂNICO. Examinado por: __________________________________ Prof. Alexandre Teixeira de Pinho Alho ___________________________________ Prof. José Márcio do Amaral Vasconcellos ___________________________________ Eng. Isaias Quaresma Masetti RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL FEVEREIRO 2020 iv Santos, Philipe Fernandes dos Docagem em Estaleiro de Pequeno Porte/ Philipe Fernandes dos Santos. – Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2020. X, 38 p.: il.; 29,7 cm. Orientadora: Marta Cecília Tapia Reyes Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso de Engenharia Nava e Oceânica, 2020. Referências Bibliográficas: p. 38 1.Reparo Naval 2.Docagem 3.Estaleiro de Pequeno Porte. 4.Operacionalidade I. Tapia Reyes, Marta Cecilia. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia Naval e Oceânica. III. Docagem em Estaleiro de Pequeno Porte. v DEDICATÓRIA Dedico aos meus pais pelo incondicional apoio às minhas decisões ao longo desses anos e por colocarem meus pés no chão quando necessário. À minha fiel e amada companheira Isabele por me acompanhar, lado a lado, ao longo de muitas jornadas e jamais desacreditar dos meus objetivos. Ao meu querido irmão pelo incansável apoio, conselhos e por servir de maior inspiração em meu desejo por me tornar engenheiro. vi AGRADECIMENTOS Agradeço aos meus amados pais por todo suporte incondicional, dentro do possível e do impossível, desde meus primeiros anos de vida até hoje e, sem dúvidas, no futuro, sempre visando o melhor para todas as esferas da minha vida, tentando me guiar para os caminhos menos tortuosos à minha completitude pessoal e profissional. Especial agradecimento à minha companheira, Isabele, por me ajudar a enfrentar os adversos obstáculos, durante as mais importantes e difíceis fases da minha vida, ao longo dos últimos 12 anos. Ao meu irmão que, após a distância física, se tornou ainda mais próximo mentalmente, prestando todo apoio e oferecendo incansáveis conselhos. Aos meus queridos e amados sogros, Eduardo e Claudia, por se colocarem em minha vida como segundos pais, dando amparo o emocional quando precisei, apoiando e acreditando nas decisões tomei, ajudando profissionalmente e, inclusive, me aconselhando e repreendendo quando necessário. Aos colegas de curso da Engenharia Naval pelas impagáveis ajudas ao longo da graduação. Sem isso o caminho seria muito mais difícil e demora. Aos colegas de Engenharia Elétrica que, apesar de não mais terem feito parte do meu caminho acadêmico, foram essenciais para momentos de descontração alívio da carga emocional da graduação. Aos que me deram oportunidades profissionais ao longo da graduação e permitiram tão deseja experiência e um impagável crescimento profissional. vii Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Naval e Oceânico. Docagem em Estaleiro de Pequeno Porte Philipe Fernandes dos Santos Fevereiro/2020 Orientadora: Marta Cecilia Tapia Reyes Curso: Engenharia Naval e Oceânica Docagens, independentemente do método, são operações inevitavelmente presentes no cenário da indústria naval ao redor do mundo, seja para atividades de reparo, manutenção ou construção de estruturas inteiramente ou parcialmente novas. Isto faz com que tornem-se algo de extrema importância para qualquer empresa do ramo, seja ela de pequeno, médio ou grande porte, porém, detentora de embarcações próprias ou afretadas. Visando o panorama citado, esse Projeto de Graduação realiza um estudo detalhado a respeito da viabilidade operacional de um sistema de docagem em carreira e utilizará como modelo um já existente, localizado na base marítima da empresa de pequeno porte “Locar Guindastes e Transportes Intermodais”. Contudo, a análise feita e as soluções podem ser aplicadas a qualquer sistema do mesmo tipo. A empresa modelo possui uma frota marítima própria, constituída por balsas e embarcações de apoio, entretanto, este estudo tem como objetivo mostrar a viabilidade da docagem da maior embarcação presente em sua frota marítima, cujo cenário apresenta-se como o mais crítico. São abordados e analisados os fatores de influência direta e indireta que viabilizam a operação de docagem na carreira. Fatores como movimento das marés, posicionamento da embarcação, dimensionamento dos equipamentos necessários e disposição espacial nos arredores da estrutura da carreira. Ademais, também são viii estudadas soluções operacionais e no sistema mecânico, a fim de viabilizar e/ou facilitar a docagem. Palavras-chave: Reparo Naval, Docagem, Estaleiro de Pequeno Porte, Operacionalidade. ix Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/ UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Nava and Oceanic Engineering. Docking in Small Size Shipyard Philipe Fernandes dos Santos February/2020 Advisor: Marta Cecilia Tapia Reyes Graduation: Naval and Oceanic Engineering Docking, regardless the method, are inevitably present in the naval industry scenario around the world for repairing activities, maintenance or even the construction of whole or partial brand-new structures. This turns it into something extremely important for any company of the naval industry, be it small, medium or large, however, owner of own or charted vessels. Aiming the aforementioned panorama, the present Graduation Project conducts a study regarding the operational feasibility of a career docking system and a, existing one, constructed on the maritime base of the small size company “Locar Guindastes e Transportes Intermodais”, will be used as a model. However, the analysis and the solutions can be applied to any system of this type. The company owns an own maritime fleet, consisting of barges and support vessels. However, this study aims to show the feasibility of docking the largest vessel present it its fleet, whose scenario presents itself as the most critical. Factors of direct and indirect influence, that enable the docking operation in the career, are approached and analyzed. Factors like tides movements, the vessel positioning, dimensioning of the necessary equipments and spatial layout in the surroundings of the career structure. In addition, operational and mechanic system solutions are also studied in order to turn viable and/or facilitate the docking. Keywords: Ship Repair, Docking, Small Size Shipyard,Operability. x ÍNDICE 1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................1 2. DOCAGEM EM CARREIRAS ..............................................................................3 2.1 POSSIBILIDADES DE DOCAGEM EM CARREIRA .....................3 3. ANÁLISE DO PROJETO DA CARREIRA............................................................10 3.1 DISPOSIÇÃO ESPACIAL DO LOCAL ..........................................10 4. A INFLUÊNCIA DO MOVIMENTO DAS MARÉS NA OPERAÇÃO .....................17 4.1 ESTUDO DA MARÉ LOCAL .........................................................17 5. PROCEDIMENTO DE SUBIDA/DESCIDA DA EMBARCAÇÃO NA CARREIRA 22 5.1 SELEÇÃO DO GUINCHO .............................................................22 5.2 SISTEMA DE CADERNAL ............................................................31 6. POSICIONAMENTO DA BALSA .........................................................................35 7. CONCLUSÃO ......................................................................................................37 8. BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................38 xi LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Picadeiros sobre um carrinho e sob uma embarcação docada .................. 4 Figura 2 - Vista superior de um carrinho ..................................................................... 5 Figura 3 - Imagem de uma parte da estrutura de um carrinho .................................... 5 Figura 4 - Vista superior de uma carreira com vigas de aço, paralelas, para balsas de fundo chato.................................................................................................................. 7 Figura 5 - Vista superior de uma carreira com vigas de concreto armado, paralelas, para balsas de fundo chato e trilho para embarcações de fundo convencional, com utilização de carrinho .................................................................................................. 7 Figura 6 - Exemplo de olhal na linha de centro, para passagem do cabo ................... 8 Figura 7 - Vista superior da região delimitada para carreira ...................................... 11 Figura 8 - Modelo bidimensional na vista frontal da carreira com a balsa na posição final ............................................................................................................................ 12 Figura 9 - Vista tridimensional da região da carreira ................................................. 13 Figura 10 - Dimensões principais das plataformas de lança articulada modelos JLG- 600A e 600AJ ............................................................................................................ 14 Figura 11 - Dimensões principais do maior modelo de andaime da empresa Portátil Andaimes e Escoramentos........................................................................................ 14 Figura 12 - Modelo bidimensional da vista lateral da carreira com a balsa docada de proa ........................................................................................................................... 16 Figura 13 - Modelo bidimensional da vista lateral da carreira com a balsa docada de popa .......................................................................................................................... 16 Figura 14 - Estudo batimétrico da região próxima à rampa de acesso à carreira ..... 18 Figura 15 - Vista lateral da região de acesso à carreira, com os níveis dos principais referenciais de maré .................................................................................................. 19 Figura 16 - Dados sobre a condição de carregamento para a embarcação leve (todos os tanques sem carga), obtidos através do Folheto de Trim e Estabilidade ............. 20 Figura 17 - Dados sobre a condição da embarcação em peso leve, obtidos através do Folheto de Trim e Estabilidade .................................................................................. 21 Figura 18 - Imagem do modelo de guincho que será utilizado (HTM 80 toneladas) . 23 Figura 19 - Da esquerda para a direita: vista superior da base do guincho; vista lateral do guincho; vista superior do guincho ....................................................................... 24 Figura 20 - Especificações do guincho que será utilizado (HTM 80 toneladas) ........ 25 Figura 23 - Esquematização do diagrama de blocos simulando a balsa no plano xii inclinado da carreira .................................................................................................. 26 Figura 24 - Imagem da Regra da DNV “DNV-GL ST N001”, com a tabela de coeficientes de atrito mais usuais .............................................................................. 27 Figura 21 - Catálogo de cabos de aço da classe 6x41 com 3’’, da empresa CIMAF (com destaque para o cabo utilizado) ....................................................................... 29 Figura 22 - Referencial dos elementos do carretel do guincho, utilizados na planilha .................................................................................................................................. 30 Figura 25 - Ilustração de um moitão/cadernal com 2 (duas) polias móveis e 2 (duas) polias fixas................................................................................................................. 32 Figura 26 - Sistema de moitão/cadernal com 10 Polias Móveis e 10 Polias Fixas .... 33 Figura 27: Detalhamento das polias móveis do moitão/cadernal .............................. 34 Figura 28 - Modelo bidimensional da vista frontal da carreira, com a balsa na posição final, casando seus principais elementos estruturais longitudinais ............................ 35 xiii LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Dados de entrada para cálculos de tensão em cada camada de cabo do carretel do guincho .................................................................................................... 30 Tabela 2 - Tensão em cada camada de cabo do carretel do guincho ....................... 31 1 1. INTRODUÇÃO O procedimento de docagem consiste em colocar o casco da embarcação “em seco” para realização de reparos simples ou emergenciais, manutenções, modificações ou quaisquer serviços que exijam a retirada da embarcação da água. Estes procedimentos podem ser realizados em diques secos, diques flutuantes ou carreiras, e visam garantir a operacionalidade segura das embarcações, além de serem obrigatórios a cada ciclo de vida da mesma, para que sejam emitidos ou renovados diversos tipos de certificados. O ciclo de vida da embarcação é completado a cada 5 anos, e a emissão de certificados é um dos requisitos indispensáveis para que possa operar de forma legal e assegurada. Tanto o seguro quanto os certificados são de suma importância para que seja garantida a confiabilidade da embarcação perante contratantes de serviços, afretadores e companhias de seguro envolvidas em operações pontuais. Contudo, docagens, independentemente do modo como são realizadas (diques secos, diques flutuantes, carreiras, dentre outros), são demasiadamente onerosas para a empresa. O custo de uma simples diária para a embarcação docada, desconsiderando serviços a serem realizados, atinge, facilmente, altas cifras, da ordem de dezenas de milhares de reais, além de ser um serviço sujeito à disponibilidade de espaço dentro do período desejado. Por este motivo, a disponibilidade de um sistema próprio pode reduzir, de forma substancial, os custos da empresa, além de permitir a oferta do serviço a terceiros, tornando-se um gerador de receita. Visando a significativa facilidadelogística e, consequentemente financeira, com docagens eventuais de reparos e/ou obrigatórias, o estudo a seguir abordará a viabilidade operacional de um sistema próprio de docagem em carreira de uma empresa com frota de embarcações próprias. Para isso, utilizará a empresa Locar Guindastes e Transportes Intermodais como modelo de análise das diversas etapas, pois a mesma possui já construída toda parte estrutural de uma carreira, porém, inativa devido à falta de estudos operacionais. Devido a isso, objetivo deste trabalho é realizar um estudo a fim demonstrar a viabilidade operacional do sistema para sua operação mais crítica, dentro do panorama desta empresa: a docagem da maior embarcação disponível em sua frota. 2 Esta embarcação possui dimensões de 75 metros de comprimento, 25 metros de boca e 4,85 metros de pontal. Este projeto destinar-se-á a adentrar, de forma elucidada, nos fatores de influência direta e indireta que viabilizam a operação na carreira, podendo ser analogamente aplicado à qualquer sistema do mesmo tipo. Serão abordados os seguintes tópicos: Disposição espacial nos arredores da carreira e possíveis interferências; Influência do movimento das marés no calado da região, a fim de evitar encalhe ou possíveis danos à estrutura da balsa; Procedimento de subida e descida da balsa na carreira, bem como seu posicionamento; Soluções operacionais para docagem da balsa; Dimensionamento dos equipamentos e seus acessórios; Soluções para o sistema mecânico, com os equipamentos e acessórios; 3 2. DOCAGEM EM CARREIRAS Carreiras são estruturas construídas sobre planos inclinados, que saem da água para terra. Possuem uma rampa e estruturas em formato de vigas paralelas, que servem de trilhos por onde desliza a embarcação ou um carrinho com uma embarcação em cima, durante o procedimento de subida ou descida da carreira. A docagem consiste na retirada da embarcação da água e, no sistema de uma carreira, o método de retirada apresenta uma pequena diferença para dois grupos de embarcação, devido ao formato do casco: fundo chato e casco tradicional de fundo quinado. No decorrer deste tópico, serão explicadas, brevemente, as peculiaridades deste sistema específico para os dois grupos supracitados, e será aprofundado para o caso embarcação de maiores dimensões, disponível na empresa que será utilizada como modelo: uma balsa de fundo chato. 2.1 POSSIBILIDADES DE DOCAGEM EM CARREIRA Como mencionado anteriormente, existem, basicamente, duas formas de docagem em carreiras, que diferem, basicamente, devido ao formato do casco da embarcação. Para o caso de embarcações com casco tradicional, de fundo quinado, são necessários picadeiros (utilizados para apoiar a embarcação, e evitar seu tombamento, e para não avariar o fundo da mesma), que são posicionados sobre um carrinho, de forma a coincidir com os principais elementos estruturais da embarcação para evitar avarias ao casco e/ou à estrutura. 4 Na Figura 1, pode-se observar os picadeiros devidamente posicionados para que seja iniciada a docagem da embarcação. Figura 1 - Picadeiros sobre um carrinho e sob uma embarcação docada O carrinho é uma estrutura plana, construída com vigas de aço, que desliza sobre trilhos e/ou outras vigas. O mesmo dispõe de um ponto de amarração em sua extremidade (geralmente na linha de centro), por onde passa o cabo que será tracionado por um guincho, localizado no topo da carreira, e realizará a subida/descida do carrinho no plano inclinado. No carrinho são posicionados os picadeiros que servirão de suporte para a embarcação a ser docada. 5 Na Figura 2 abaixo, é ilustrada vista superior de um modelo típico de carrinho usado em carreiras. Já na Figura 3 temos a imagem de uma parte da estrutura de um carrinho já construído. Figura 2 - Vista superior de um carrinho Figura 3 - Imagem de uma parte da estrutura de um carrinho 6 O procedimento, para este primeiro caso, pode ser suscintamente resumido nas seguintes etapas: Um cabo é amarrado numa posição pré-definida do carrinho (à vante e, geralmente, na linha de centro); Ainda flutuando, a embarcação é posicionada sobre o carrinho, com os picadeiros devidamente posicionados; Um guincho, localizado na extremidade superior da carreira, traciona o cabo, através de um sistema de polias em arranjo de moitão (cadernal), e inicia o processo de subida da balsa no plano inclinado da carreira; Após atingir a altura necessária na carreira, o carrinho e o guincho são travados para que, então, podem ser iniciados os procedimentos de manutenção/vistoria/reparo; Finalizado(s) o(s) procedimento(s), o guincho alivia, lentamente, a tensão do cabo para que o carrinho deslize ao longo no plano inclinado da carreira, até que a embarcação esteja completamente na água e flutuando; Para caso de embarcações com casco de fundo chato (balsas, por exemplo), o procedimento é similar, porém, sem a utilização do carrinho. Neste caso, vigas paralelas (aço, concreto armado ou combinação dos dois) acompanham o plano inclinado da carreira, no sentido longitudinal, até a água. Ao invés de ser posicionada sobre carrinhos com picadeiros, a embarcação de fundo chato é posicionada sobre tábuas de madeira localizadas sobre as vigas da carreira, de forma a coincidir seus principais elementos estruturais longitudinais (longarinas) com estas vigas, apoiando- se da mesma forma como feito em embarcações que utilizam o sistema de carrinho e picadeiros. A finalidade das tábuas de madeira é permitir o deslizamento da embarcação sobre as vigas, sem avarias a ambos. 7 Figura 4 - Vista superior de uma carreira com vigas de aço, paralelas, para balsas de fundo chato Figura 5 - Vista superior de uma carreira com vigas de concreto armado, paralelas, para balsas de fundo chato e trilho para embarcações de fundo convencional, com utilização de carrinho 8 O procedimento, para este segundo caso, pode ser suscintamente resumido nas seguintes etapas: Um cabo é amarrado em um olhal, numa posição pré-definida na extremidade longitudinal de vante ou de ré (geralmente, na linha de centro); Figura 6 - Exemplo de olhal na linha de centro, para passagem do cabo Ainda flutuando, a embarcação é posicionada sobre as vigas da carreira, com as tábuas devidamente posicionadas entre eles; Um guincho, localizado na extremidade superior da carreira, traciona o cabo, através de um sistema de polias em arranjo de moitão (cadernal), e inicia o processo de subida da balsa, sobre as vigas, no plano inclinado da carreira; Após atingir a altura necessária na carreira, a balsa e o guincho são travados para que, então, possam ser iniciados os procedimentos de manutenção/vistoria/reparo; 9 Finalizado(s) o(s) procedimento(s), o guincho alivia, lentamente, a tensão do cabo para que a balsa deslize ao longo das vigas até que a embarcação esteja completamente na água e flutuando; O sistema de carreira analisado ao longo deste trabalho oferece a alternativa de docagem para os dois grupos supracitados (carrinho e sobre vigas), o que abre a possibilidade de trabalhar com embarcações de fundo chato ou tradicional quinado. No entanto, como desejamos analisar o cenário mais extremo dentro do panorama da empresa, será estudado o caso da balsa com fundo chato e dimensões 75m x 25m x 4,85m (comprimento, boca e pontal, respectivamente). 10 3. ANÁLISE DO PROJETO DA CARREIRA Como citado em tópico anterior, a carreira utilizada como modelo para exemplificar o presente estudo localiza-se na empresa Locar Guindastes e Transportes Intermodais, que possui suabase marítima no bairro da Ribeira, na Ilha do Governador – RJ, Brasil. Para que este tipo de sistema tenha a maior utilidade possível, dentro das demandas necessárias, deve atender qualquer uma das embarcações da frota. Devido a isso, a análise aqui apresentada será direcionada à maior delas, disponível na frota em questão, utilizada como modelo: uma balsa de fundo chato com 75 metros de comprimento, 25 metros de largura e 4,85 de pontal. Este tópico tem como objetivo estudar a disposição espacial no entorno do sistema, bem como as dificuldades operacionais devido à possíveis interferências durante realização da subida/descida da embarcação e as limitações de espaço no entorno. 3.1 DISPOSIÇÃO ESPACIAL DO LOCAL A empresa possui uma logística de operação que envolve grande trânsito de funcionários, equipamento e movimentações de carga em baixas alturas ou mais altas, através da utilização de guindastes. A carreira objeto de análise tem como objetivo principal atender as demandas de docagem de todas as embarcações da frota da empresa, principalmente para casos emergenciais de avaria ou janelas de vistoria, sem que haja qualquer interferência com construções próximas ou atrapalhe a logística de operação. Um dos principais fatores que podem limitar ou até mesmo inviabilizar a operacionalidade de uma carreira é a disposição espacial em seu entorno, pois deve haver espaço suficiente não apenas para o trânsito de pessoas e equipamentos em sim, mas de forma satisfatória e segura. A região da empresa utilizada como modelo dispõe de uma área total de, aproximadamente, 12.000 metros quadrados e quase 250 metros de extensão costeira. Entretanto, apenas cerca 25 metros dessa extensão costeira é destinada à região da carreira, pois o restante é estritamente utilizado para a atracação das embarcações, devido ao posicionamento estratégico próximo ao pátio de 11 movimentação de carga, o que torna a logística menos trabalhosa. O principal fator limitante, como citado anteriormente, é o espaço disponível para utilização do sistema. Na imagem de satélite abaixo, está destacado, em vermelho, a região onde se encontra a estrutura e o espaço de operação da carreira. Como podemos observar, as dimensões da rampa são de, aproximadamente, 58 metros de comprimento, 17 metros de largura e a entrada suporta embarcações com até 25 metros de boca. Na Figura 7, temos a imagem de satélite da área total, como destaque para a região da carreira e do galpão construído ao lado. Figura 7 - Vista superior da região delimitada para carreira O limitante de largura máxima da embarcação (boca) se dá devido a dois fatores: a interferência com construções no perímetro da carreira e a necessidade de espaço para trânsito de pessoas e equipamentos. Como podemos observar na imagem acima, existe um galpão muito próximo à carreira, que limita a boca máxima 12 seja por motivos operacionais (trânsito de funcionários e/ou equipamentos) ou interações diretas com essas construções. Abaixo temos um modelo bidimensional da vista frontal que melhor ilustra as distâncias, em metros, entre as colunas estruturais da carreira, a balsa utilizada como exemplo a ser docada, devidamente na posição final, e o galpão. Figura 8 - Modelo bidimensional na vista frontal da carreira com a balsa na posição final As distâncias são medidas em metros e, como pode ser observado, é necessária a demarcação de um caminho seguro, para trânsito de pessoas, com 1 metro de largura. Este caminho tem como finalidade a circulação de pessoas de forma segura, fora do risco de acidentes devido as operações e também serve como rota de fuga em eventuais emergências, portanto, é terminantemente proibida qualquer interferência ou obstrução. Entre a extremidade lateral da balsa e o caminho seguro, existe um espaço livre de 3,66 metros, que pode ser destinado à atividade de manutenção da balsa (trânsito de plataformas com lança arituclada ou eventual instação de andaimes) bem como a circulação de equipamentos e funcionários, devido à logistica da empresa. 13 Abaixo, também temos uma das vistas do modelo tridimensional, a fim de gerar melhor compreensão da geometria espacial da região. Figura 9 - Vista tridimensional da região da carreira Afim de ilustrar dois possíveis cenários e demonstrar o limite máximo de boca que uma embarcação pode ter, caso seja docada neste sistema, abaixo temos as dimensões de uma plataforma de lança articulada (modelos JLG-600A ou 600AJ, muito utilizados nestas ocasiões) e um andaime (maior modelo disponível no catálogo da empresa Portátil Andaimes e Escoramentos), ambos de vista lateral, como estariam posicionadas no local, entre a balsa e o galpão. 14 Figura 10 - Dimensões principais das plataformas de lança articulada modelos JLG- 600A e 600AJ Figura 11 - Dimensões principais do maior modelo de andaime da empresa Portátil Andaimes e Escoramentos 15 Os dois modelos de plataforma possuem 2,49 metros de largura cada e o andaime 1,5 metros. Como podemos observar, a largura de todos os equipamentos apresentrados cabem, com ampla margem, no espaço entre o caminho seguro e a extremidade da balsa. Após a análise feita acima, é fácil observar que, neste sistema, não podem haver docanegens de embarcações que excedam 27 metros de boca, pois acarretaria em uma interferência com o braço da plataforma de lança articulada ou com o andaime e a área de circulação. Importante ressaltar que este estudo de disposição espacial pode ser realizado em qualquer estaleiro cuja disponilidade de espaço devido à possíveis interferências seja um fator limitante. No caso da outra extremidade lateral da balsa, não há interferências com construções ou circulação de pessoas e/ou equipamentos pois a área é uma parte vazia do pátio, portanto, não há necessidade de análise detalhada desta região. Porém, caso houvesse qualquer possível interferência, o procedimento seria o mesmo. Já a dimensão longitudinal (comprimento) da maior balsa disponível não é um impeditivo para que seja efetuada a docagem, entretanto, exige uma atenção especial na operação de subida/descida da mesma na carreira, pois, conforme apresentado anteriormente, a carreira apresenta cerca de 58 metros de comprimento enquanto a balsa possui 75 metros. Este problema é contornado realizando a docagem em 2 etapas: 1ª Etapa – é feita a docagem mantendo-se parte da balsa à ré ou à vante na água, enquanto é feito o procedimento na outra parte; 2ª Etapa – retira-se a balsa da carreira, efetua-se um giro de 180º e coloca-se, novamente, a balsa na carreira para que sejam realizados os procedimentos na outra metade de vante ou ré que havia permanecido na água; 16 Abaixo podemos ilustrar os procedimento supracitados, em uma vista lateral: Figura 12 - Modelo bidimensional da vista lateral da carreira com a balsa docada de proa Figura 13 - Modelo bidimensional da vista lateral da carreira com a balsa docada de popa As distâcias delimitadas nas duas imagens acima referem-se ao comprimento do fundo e costado da balsa, na região efetivamente docada em cada etapa. No primeiro caso, cerca de 44,55 metros da balsa encontram-se apoiados sobre as vigas de concreto na parte seca e no segundo caso, após girada a balsa, cerca de 35,66 metros se encontram em seco. Já o convés e o interior dos tanques podem ser tratados em qualquer um das etapas, pois permanecem acessíveis durante qualquer etapa. 17 4. A INFLUÊNCIA DO MOVIMENTO DAS MARÉS NA OPERAÇÃO O movimento das marés é um fator de grande influência durante qualquer procedimento de docagem num sistema de carreira, pois altera muito o calado da região, podendo tornar a operação menos segura e, em casos mais extremos, até operacionalmentee logisticamente inviável. Portanto, torna-se um ponto muito importante e que será analisado no decorrer deste tópico. A fim de minimizar os esforços nas estruturas da carreira e da balsa, e, consequentemente, proporcionando maior segurança à operação, a maré mais alta da região torna-se vantajosa, pois permite o posicionamento da balsa sobre as vigas da carreira, o que pode ser impossível em algumas marés baixas. Outro fator de extrema importância, que atua em conjunto com o estudo das marés, são os dados mais detalhados da própria embarcação a ser docada, como, por exemplo, a condição de carregamento no momento da operação. Estes dados podem ser obtidos através de um estudo de estabilidade para uma condição específica ou consultando-se o Folheto de Trim e Estabilidade. Como, em maior parte dos casos, a docagem é realizada com a embarcação em condição de peso leve, o Folheto de Trim e Estabilidade fornece todos os dados necessários. 4.1 ESTUDO DA MARÉ LOCAL Para que seja realizado o procedimento de docagem em carreiras, é de suma importância o estudo da maré local, pois fornecerá informações sobre a profundidade do mar na região, que será um dos fatores viabilizadores da operação. A imagem abaixo representa um estudo batimétrico detalhado e atualizado, datado de 2019, realizado pela empresa “Datum Serviços Hidrográficos Ltda.”, que apresenta todas as profundidades da região onde se localiza a carreira que está sendo utilizada para análise. Vale ressaltar que as profundidades medidas são reduzidas ao nível de redução da DHN (Diretoria de Hidrografia e Navegação – Marinha do Brasil) para a estação Ponta da Armação, ou seja, são reduzidas ao nível que corresponde à média das baixa-mares de sizígia. Isso torna a batimetria mais segura, pois a probabilidade de que seja encontrada profundidade mais baixa do que a registrada, em cada ponto, seja extremamente pequena. 18 Figura 14 - Estudo batimétrico da região próxima à rampa de acesso à carreira Como pode-se observar, o calado mínimo, na região de início das vigas (destacadas em verde) que dão acesso à carreira, é de pouco mais de 2 metros. Através da análise das marés da região, dados pelo “Tábua de Maré – Porto do Rio de Janeiro - Ilha Fiscal”, em conjunto com os dados do Banco Nacional de Dados Oceanográficos, observamos que podem oscilar, em média, de 0,2 a 0,7 metro e de 0,1 a 1,3 metros, em casos mais atípicos. Isso nos leva a concluir que, na região de acesso à carreira, o movimento da maré fará com que o calado oscile entre 2,4 e 2,9 metros, em condições normais, e 2,3 e 3,5 metros em condições atípicas. Ilustrado abaixo, temos a vista de lateral da região de acesso à carreira para visualizar o nível do mar nos principais referenciais e, assim, melhor compreender as próximas etapas do processo de docagem. 19 Figura 15 - Vista lateral da região de acesso à carreira, com os níveis dos principais referenciais de maré Contudo, apenas o estudo batimétrico local não nos fornece dados suficientes para avaliar o panorama todo e garantir a viabilidade da operação. Para isso, é necessária a consulta de informações mais detalhadas sobre a balsa, como, por exemplo, as contidas no “Folheto de Trim e Estabilidade”. Este documento fornece dados sobre condições diversas de carregamento e, principalmente, o calado na condição leve e intacta, pois é a condição na qual será realizada a operação para docagem. 20 Figura 16 - Dados sobre a condição de carregamento para a embarcação leve (todos os tanques sem carga), obtidos através do Folheto de Trim e Estabilidade 21 Figura 17 - Dados sobre a condição da embarcação em peso leve, obtidos através do Folheto de Trim e Estabilidade Os dados acima, retirados de um documento oficial, carimbado por uma entidade classificadora, nos mostram que o calado leve da balsa é 0,907 m na perpendicular de vante e 0,448 m perpendicular de ré, sendo, estes, muito inferiores à profundidade mínima local, o que torna viável todo o procedimento, sem qualquer risco de encalhe ou avarias devido a contatos entre o fundo da balsa e o leito marinho. 22 5. PROCEDIMENTO DE SUBIDA/DESCIDA DA EMBARCAÇÃO NA CARREIRA Os tópicos anteriores nos ajudaram a compreender o panorama no qual se dará a operação como um todo e avaliaram sua viabilidade perante os fatores espaciais e profundidade local. Com todo o cenário favorável e viável, até os tópicos anteriormente analisado, este será destinado à operação mais crítica, que é a subida da balsa na carreira. Para isso, são essenciais 3 etapas prévias: seleção do guincho, dimensionamento dos cabos e posicionamento da balsa. 5.1 SELEÇÃO DO GUINCHO Impreterivelmente, o primeiro passo é a definição do guincho que será utilizado, pois ele será o principal elemento do sistema e, através dele, será desenvolvida a base de cálculos para todo os outros acessórios do sistema. A seleção da capacidade do guincho, dentro de um cenário qualquer, pode se dar por critérios associados de capacidade requerida, verba disponível para aquisição do equipamento, espaço físico disponível ou prevista existência de um guincho no sistema. Para que seja feita a demonstração dos cálculos neste tópico, será utilizado o guincho HTM (fabricação chinesa) de tambor duplo, com capacidade máxima de 80 toneladas de tração e mínima de 20 toneladas de tração. Abaixo, temos uma imagem do mesmo e algumas de suas principais informações técnicas: 23 Figura 18 - Imagem do modelo de guincho que será utilizado (HTM 80 toneladas) 24 Figura 19 - Da esquerda para a direita: vista superior da base do guincho; vista lateral do guincho; vista superior do guincho 25 Figura 20 - Especificações do guincho que será utilizado (HTM 80 toneladas) Quando se trabalha em operações com guinchos, algumas particularidades são de suma importância. A principal e mais importante delas é a não constância da sua capacidade de tração, ou seja, quando enrolados os cabos nos tambores sua capacidade de tração varia em função da quantidade de camada de cabos, sendo máxima em sua última camada e mínima na primeira camada. Essa relação de aumento/decréscimo da capacidade de tração pode ser descrita como uma relação linear crescente em função da quantidade de camadas de cabo nos tambores, ou seja, quanto mais camadas de cabo, a capacidade de tração aumenta até o limite máximo do guincho. Para descrever a relação linear, é necessário saber a espessura do cabo que será utilizado. O diâmetro do cabo de aço é dado através da escolha de um modelo presente em catálogos de fabricantes, porém, de forma com que suas especificações de 26 resistência à tração suportem o peso da embarcação na condição de subida/descida e à tração exercida pelo guincho. Como observado no tópico anterior, foram apresentados os dados do Folheto de Trim e Estabilidade da balsa, e nele consta que seu peso leve é 1140 toneladas (equivalente a, aproximadamente, 11183,4 kN). Contudo, a mesma, nesta condição, encontra-se sobre o plano inclinado da carreira e, utilizando essas informações anteriores, podemos iniciar a análise da força exercida pela balsa no cabo. O plano inclinado, onde se encontra a carreira modelo, possui angulação de, aproximadamente, 4º, o que permite recorrer ao elementar modelo físico de um diagrama de blocos, com a finalidade de representar todas as forças atuantes no sistema e modelar, matematicamente, da seguinte forma: Figura 21 - Esquematização do diagrama de blocos simulando a balsa no plano inclinado da carreira As forças no diagrama são interpretadas da seguinte forma: 𝑃 sin 4° 𝑁 = 𝑃 cos 4° 27 𝐹𝑎𝑡 𝑚á𝑥 = 𝜇 𝑁 𝑇 = 𝐹𝑎𝑡 𝑚á𝑥 + 𝑃 sin 4° Onde, 𝑃 = 𝑃𝑒𝑠𝑜 𝑑𝑎 𝐵𝑎𝑙𝑠𝑎 = 𝟏𝟏𝟏𝟖𝟑,𝟒 𝒌𝑵 𝑁 = 𝑁𝑜𝑟𝑚𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝐶𝑜𝑛𝑡𝑎𝑡𝑜 𝐸𝑛𝑡𝑟𝑒 𝑎 𝐵𝑎𝑙𝑠𝑎 𝑒 𝑜 𝑃𝑙𝑎𝑛𝑜 𝐼𝑛𝑐𝑙𝑖𝑛𝑎𝑜 𝐹𝑎𝑡 𝑚á𝑥 = É 𝑎 𝐹𝑜𝑟ç𝑎 𝑑𝑒 𝐴𝑡𝑟𝑖𝑡𝑜 𝑀á𝑥𝑖𝑚𝑜 𝐸𝑛𝑡𝑟𝑒 𝑎 𝐵𝑎𝑙𝑠𝑎 𝑒 𝑜 𝑃𝑙𝑎𝑛𝑜 𝐼𝑛𝑐𝑙𝑖𝑛𝑎𝑑𝑜 𝜇𝑒 = 𝐶𝑜𝑒𝑓𝑖𝑐𝑖𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑑𝑒 𝐴𝑡𝑟𝑖𝑡𝑜 𝐸𝑠𝑡á𝑡𝑖𝑐𝑜 𝐸𝑛𝑡𝑟𝑒 𝑎 𝐵𝑎𝑙𝑠𝑎 𝑒 𝑜 𝑃𝑙𝑎𝑛𝑜 𝐼𝑛𝑐𝑙𝑖𝑛𝑎𝑛𝑑𝑜 (𝑎ç𝑜 /𝑚𝑎𝑑𝑒𝑖𝑟𝑎 𝑒𝑛𝑔𝑟𝑎𝑥𝑎𝑑𝑎) = 0,28 𝜇𝑐 = 𝐶𝑜𝑒𝑓𝑖𝑐𝑖𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑑𝑒 𝐴𝑡𝑟𝑖𝑡𝑜 𝐶𝑖𝑛é𝑡𝑖𝑐𝑜 𝐸𝑛𝑡𝑟𝑒 𝑎 𝐵𝑎𝑙𝑠𝑎 𝑒 𝑜 𝑃𝑙𝑎𝑛𝑜 𝐼𝑛𝑐𝑙𝑖𝑛𝑎𝑛𝑑𝑜 (𝑎ç𝑜 /𝑚𝑎𝑑𝑒𝑖𝑟𝑎 𝑒𝑛𝑔𝑟𝑎𝑥𝑎𝑑𝑎) = 0,15 𝑇 = 𝐹𝑜𝑟ç𝑎 𝑑𝑒 𝑇𝑟𝑎çã𝑜 𝑀í𝑛𝑖𝑚𝑎 𝑁𝑒𝑐𝑒𝑠𝑠á𝑟𝑖𝑎 𝑃𝑎𝑟𝑎 𝑀𝑜𝑣𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑎𝑟 𝑎 𝐵𝑎𝑙𝑠𝑎 Os coeficientes de atrito foram obtidos da Regra da DNV “DNV-GL ST N001”, página 119, que trata especificamente de reboques, içamentos ou procedimentos que envolvam atividades desta natureza. Figura 22 - Imagem da Regra da DNV “DNV-GL ST N001”, com a tabela de coeficientes de atrito mais usuais Utiliza-se o coeficiente de atrito estático para os cálculos, pois apresenta maior valor e, consequentemente, oferecerá maior resistência, tornando os cálculos mais conservadores, além de ser a força de resistência que primeiro se opõe ao movimento desejado da balsa. 28 Logo, temos as relações: 𝑃 sin 4° = 𝟕𝟖𝟎, 𝟏𝟏𝟏 𝒌𝑵 𝑁 = 𝑃 cos 4° = 𝟏𝟏𝟏𝟓𝟔, 𝟏𝟓𝟖 𝒌𝑵 𝐹𝑎𝑡 𝑚á𝑥 = 𝜇 𝑁 = 0,28 ∗ 1126,204 = 𝟑𝟏𝟐𝟑, 𝟕𝟐𝟎 𝒌𝑵 A força mínima necessária a ser feita para mover a balsa para cima da carreira deve ser, pelo menos, minimamente maior do que a componente de atrito estático somada à componente horizontal da força peso, também já calculada. Desta forma, temos: 𝑇 > 𝐹𝑎𝑡 𝑚á𝑥 + 𝑃 sin 4° = 3123,720 + 780,111 = 𝟑𝟗𝟎𝟑, 𝟖𝟑𝟏 𝒌𝑵 De posse do valor da força necessária para mover a balsa para cima da carreira, foi utilizado o catálogo de cabos de aço do fabricante CIMAF para escolher um modelo que satisfaça a condição de carga da tração requerida, acrescido de um fator de segurança de 2. Foi, então, selecionado o modelo da classe 6x71, de 4.1/2’’ (114,0 mm), com alma de aço, como mostrado abaixo: 29 Figura 23 - Catálogo de cabos de aço da classe 6x71 com alma de aço, da empresa CIMAF (com destaque para o cabo selecionado) Observa-se que a carga mínima de ruptura do modelo de cabo de aço escolhido é 806,0 tf (equivalente a, aproximadamente, 7904,160 kN). Portanto, suporta carga de tração a qual será submetido na extremidade ligada à balsa, ainda com margem superior a do fator de segurança, como mostrado abaixo: 𝐹 = 𝟑𝟗𝟎𝟑, 𝟖𝟑𝟏 𝒌𝑵 𝟑𝟗𝟎𝟑, 𝟖𝟑𝟏 𝒌𝑵 < 𝟕𝟗𝟎𝟒, 𝟏𝟔𝟎 𝒌𝑵 (carga mínima de ruptura do cabo) Após selecionado o cabo de aço que satisfaz a resistência à tração requerida, é possível determinar a quantidade máxima de camadas no tambor do guincho e a capacidade de tração em cada uma delas. Para isso, utiliza-se uma planilha na qual são inseridas as principais dimensões do tambor (diâmetro interno e externo) e os 30 dados do cabo para calcular a quantidade máxima de camadas de cabo suportada pelos tambores, e, assim, aplicar a relação linear para definir a tração em cada uma dessas camadas, como demonstrado abaixo. Figura 24 - Referencial dos elementos do carretel do guincho, utilizados na planilha Tabela 1 - Dados de entrada para cálculos de tensão em cada camada de cabo do carretel do guincho Dc Diâmetro do Cabo 114 mm d Diâmetro do Tambor 650 mm D Diâmetro Externo do Tambor 2200 mm a Altura Tambor 775 mm L Comprimento do Tambor 1150 mm Lc Comprimento Total do Cabo 1350.0 m O número de voltas de cabo em cada camada é definido da seguinte forma: 𝑖 = 𝐿 𝐷𝑐 = 1150 76,2 𝑚𝑚 ≈ 10,09 Como o número de voltas deve ser um número inteiro, temos 10 voltas. 31 Já o número de camadas é dado da seguinte forma: 𝑁 = 𝑎 𝐷𝑐 = 775 76,2 ≈ 6,798 Da mesma forma como o número de voltas de cabo, o número de camadas também é um número inteiro, logo é arredondado para 6 camadas. Após calculada a quantidade máxima de camadas, é possível calcular a carga de tração em cada uma delas, de forma linear, sendo a primeira camada 20 ton (equivalente a, aproximadamente, 196,2 kN) e última 80 ton (equivalente a, aproximadamente, 784,8 kN), conforme as especificações técnicas do equipamento, apresentadas anteriormente. Tabela 2 - Tensão em cada camada de cabo do carretel do guincho Tensão Máxima Por Camada 1ª 196.200 kN 2ª 313.920 kN 3ª 431.640 kN 4ª 549.360 kN 5ª 667.080 kN 6ª 784.800 kN 5.2 SISTEMA DE CADERNAL Através dos cálculos feitos anteriormente, é possível observar que a força mínima necessária para puxar a balsa é 3903,831 kN. Entretanto, como explicitado anteriormente, a força mínima de tração do guincho, na primeira camada de cabo, é de, apenas, 196,2 kN. Para solucionar este problema, recorre-se ao princípio mecânico básico de um sistema de polias associadas, chamado “Moitão” ou “Cadernal”. Essa configuração combina a mesma quantidade de polias fixas e móveis, em pares, onde as polias móveis são fixadas no olhal da balsa e as fixas são fixadas bem próximas à extremidade do guincho (morto). Para cada polia móvel, a força necessária para realizar o trabalho é reduzida pela metade, como pode ser exemplificado na imagem e explicado matematicamente nas equações: 32 Figura 25 - Ilustração de um moitão/cadernal com 2 (duas) polias móveis e 2 (duas) polias fixas 𝐹 = 𝑃 2𝑁 Onde: 𝐹 = 𝐹𝑜𝑟ç𝑎 𝐹𝑖𝑛𝑎𝑙 𝑁𝑒𝑐𝑒𝑠𝑠á𝑟𝑖𝑜 𝑃𝑎𝑟𝑎 𝑀𝑜𝑣𝑒𝑟 𝑜 𝑂𝑏𝑗𝑒𝑡𝑜 = 𝑇 = 𝐹𝑜𝑟ç𝑎 𝑑𝑒 𝑇𝑟𝑎çã𝑜 𝑀í𝑛𝑖𝑚𝑎 𝑁𝑒𝑐𝑒𝑠𝑠á𝑟𝑖𝑎 𝑃𝑎𝑟𝑎 𝑀𝑜𝑣𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑎𝑟 𝑎 𝐵𝑎𝑙𝑠𝑎 𝑁 = 𝑁ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑃𝑜𝑙𝑖𝑎𝑠 𝑀ó𝑣𝑒𝑖𝑠 𝑃 = 𝐹𝑜𝑟ç𝑎 𝐸𝑥𝑒𝑟𝑐𝑖𝑑𝑎 𝑃𝑒𝑙𝑜 𝑂𝑏𝑗𝑒𝑡𝑜 Logo, 196,2 = 3903,831 2𝑁 𝑁 = 3903,831 392,4 ≈ 9,9486 O número de polias precisa ser um valor inteiro. Como preza-se sempre pela segurança, o valor é arredondado para cima, obtendo-se, então, a seguinte quantidade de polias móveis: 𝑁 = 𝟏𝟎 33 A seguir, temos o desenho esquemático do sistema de moitão com 10 polias móveis presas à balsa e as 10 polias fixadas na extremidade do guincho. Figura 26 - Sistema de moitão/cadernal com 10 Polias Móveis e 10 Polias Fixas 34 Figura 27: Detalhamento das polias móveis do moitão/cadernal 35 6. POSICIONAMENTO DA BALSA A última etapa é o posicionamento da embarcação no sistema, para que seja efetuada a subida na carreira. Embora seja um procedimento simples, a forma de posicionar a balsa é de extrema importância, pois, caso seja feito de forma errada, pode danificar gravemente a estrutura da embarcação. Como citado em tópico anterior, é necessário que a embarcação seja posicionada de forma a coincidir seus principais elementos estruturais com as vigas estruturais da carreira, de forma a apoiar-se nas mesmas. Isso garante que todo o conjunto suporte seu próprio peso sem danos ao fundo da balsa e às estruturas. A imagem deste posicionamento pode ser vista abaixo. Figura 28 - Modelo bidimensional da vista frontal da carreira, com a balsa na posição final, casando seus principais elementos estruturais longitudinais Como pôde ser observado acima, temos o perfil estrutural da Seção-Mestra (seção transversal), que mostra a topologia estrutural predominante na balsa. Observa-se também que as vigas de concreto armado da carreira coincidem 36 longitudinalmente com alguns dos principais elementos estruturais longitudinais gigantes da balsa, mostrando que há suporte estrutural para que não haja colapso do fundo e das estruturas internas da balsa, durante o procedimento de docagem.37 7. CONCLUSÃO Ao longo desse estudo, pode-se observar relativa simplicidade na operação da carreira, para docagem de embarcações de fundo chato. Exigindo, neste caso, apenas, prévio conhecimento de princípios físicos básicos para dimensionamento de sistemas mecânicos, bem como análises de maré, análises de disponibilidade espacial e conhecimento da topologia estrutural da embarcação. Em regiões de difícil acesso ou inacessíveis para reparo, quando a embarcação está flutuando, a docagem pode se tornar emergencial devido à gravidade do problema. Isso torna a docagem emergencial e, consequentemente, mais onerosa à empresa, caso seja necessária a contratação do serviço por terceirizados. Outro fator positivo e de extrema relevância, é a possibilidade de utilização do sistema para docagem de embarcações de outros armadores. Isto abre uma vantajosa possibilidade para geração de receita, que pode ter diversos destinos, inclusive o de manutenção e futura modernização do sistema. Todos os exemplos citados, ao longo deste trabalho, apenas consolidam ainda mais a ideia de que um sistema de docagem prório, para uma empresa com frota marítima própria, é muito vantajoso, pois viabiliza a operação para docagem de qualquer embarcação que atende os requisitos limítrofes do sistema como um todo. 38 8. BIBLIOGRAFIA MACKIE, K .P. The Pratice of Dry Docking Ships. Uma série de cinco artigos publicados durante o Dock and Harbour Authority. Londres: Julho/Dezembro de 1999 a Maio/Junho de 2000. MACKIE, K. P. Small Mechanical Dry Docking Systems. Quinta Conferência Internacional durante a Coastal and Port Engineering in Developing Countries. Cape Town: 1999. MAZURKIEWICZ, B. K. Design & Constructions of Dry Docks. Trans Tech Pub. 1980 MACKIE, K. P. Ways & Rails for Slipways for Dry Docking Ships. PIANC – World Congress. Panama: 2018. British Standards Institution. Code of Practice for Maritime Structures – Part 3: Design of Dry Docks, Locks, Slipways and Shipbuilding Berths, Shiplifts and Dock and Lock Gates. Londres, 1988. Marinha do Brasil – Diretoria de Hidrografia e Navegação. Tábuas de Maré, Porto do Rio de Janeiro – Ilha Fiscal. Rio de Janeiro: 2019. DNV-GL. Full Version of Standard DNVGL-ST-N001 & DNVGL-ST- N002: Marine Operations and Mritime Warranty, Edition 2016-06. CIMAF. Manual Técnico de Cabos: Cabos de Aço, Catálogo CIMAF 2014 Completo. Datum Serviços Hidrográficos Ltda. Estudo Batimétrico – Base Locar. Rio de Janeiro: 2019. HIBBELER, R.C. Mecânica Para Engenharia: Estática. 7ª edição. São Paulo: PEARSON, 2009.
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