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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA FACULDADE DE ENFERMAGEM Núcleo de Estudos em Infecções e Complicações Relacionadas à Assistência à Saúde – NEICAS Líder do grupo: Profa. Dra. Angélica da Conceição Oliveira Coelho 1 de 7 RESUMO INFORMATIVO SOBRE HANSENÍASE CAUSADA POR MYCOBACTERIUM LEPRAE1 Desenvolvido por: Cosme Rezende Laurindo, Sarah Lamas Vidal, Thayenne Barrozo Mota Monteiro | Em: 19/11/2016 Atualizado por: Cosme Rezende Laurindo (cosmelaurindo@outlook.com) | Em: 13/01/2023 SUSPEIÇÃO DIAGNÓSTICA: MANCHAS E SINAIS DE ALERTA Manchas hipocrômicas ou avermelhadas na pele Perda/diminuição da sensibilidade de mancha(s) na pele (ferimentos acidentais) Dormência e/ou formigamento de mãos/pés Edema ou nódulos na face ou nos lóbulos auriculares Dor ou hipersensibilidade em nervos Diminuição de força muscular HISTÓRICA CLÍNICA FRENTE À SUSPEITAÇÃO DIAGNÓSTICA (ENTREVISTA E EXAME FÍSICO) Olhos: inspecionar os olhos, verificado a existência de nódulos, infiltrações, secreção, vermelhidão (hiperemia), ausência de pelos (madarose), cílios invertidos (triquíase), eversão (ectrópio) e incapacidade total ou parcial da pálpebra se fechar (lagoftalmia), pupilas de tamanhos diferentes (anisiocóricas), opacidade da córnea. Nariz: registrar dificuldade para respirar, ressecamento, sangramento, comprometimento da cartilagem nasal. A mucosa deve ser examinada, verificando se há alteração na cor, na umidade, e se há crostas, atrofias, infiltração ou úlceras. Mãos e braços: verificar a existência de ressecamento, calosidades, fissuras, ferimentos, cicatrizes, atrofias musculares e reabsorções ósseas (perda de uma ou mais falanges dos dedos, ou parte de uma delas), ressecamento e formigamento nas mãos, fraqueza nos braços, derrubando objetos com frequência. Pés e pernas: sentir dor intensa nas pernas e tornozelos, ressecamento intenso e formigamento nos pés, sensação de fraqueza nas pernas, tropeçando com frequência ou perdendo o chinelo sem perceber. CRITÉRIOS DE CONFIRMAÇÃO DE CASO O diagnóstico se dá por meio do exame clínico e epidemiológico Um OU mais dos seguintes critérios, conhecidos como sinais cardinais da hanseníase: 1) Lesão(ões) e/ou áreas(s) da pele com alteração de sensibilidade térmica e/ou dolorosa e/ou tátil; 2) Espessamento de nervo periférico, associado a alterações sensitivas e/ou motoras e/ou autonômicas; 3) Presença do M. leprae, confirmada na baciloscopia de esfregaço intradérmico ou na biópsia de pele. SINAIS E SINTOMAS DERMATOLÓGICOS Máculas (manchas) pigmentares ou discrômicas: resultam da ausência, diminuição ou aumento de melanina na pele. Placa eritematosa favolar: lesão com bordos internos bem definidos, área central aparentemente poupada, bordos externos espraiados, infiltrados e imprecisos. Infiltração: aumento da espessura e consistência da pele, com menor evidência dos sulcos, limites imprecisos, acompanhando-se, às vezes, de eritema discreto. Pápula: lesão sólida da pele, elevada, com menos de 1 cm de diâmetro. Nódulo: lesão sólida, circunscrita, elevada ou não, de 1 a 3 cm de tamanho. É processo patológico que localiza-se na epiderme, derme e/ou hipoderme. Hansenomas: pápulas e nódulos cutâneos, assintomáticos e de consistência firme. SINAIS E SINTOMAS NEUROLÓGICOS Neuropatia periférica2: Tuberculoide = mononeuropatia ou mononeurite múltipla (nervos ulnar e fibular comum); Virchowiana = polineuropatia; Dimorfa = mononeurite assimétrica, podendo evoluir para polineuropatia Neurite: inflamação do nervo, sendo “dano neural” a avaria à estrutura ou à função do nervo. Pode ser aguda ou silenciosa. Dor neuropática: parestesias, disestesias, hiperestesia e alodínia ao longo dos nervos periféricos e no território por eles inervado. Pode ser aguda (perda sensorial) ou crônica (formigação/formigamento). 1 Apesar do M. lepromatosis ter sido reconhecido como um agente etiológico da doença, os estudos ainda são escassos, carecendo de investigações adicionais para que seja abordado adequadamente. 2 O padrão de apresentação depende da resposta imune. mailto:cosmelaurindo@outlook.com UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA FACULDADE DE ENFERMAGEM Núcleo de Estudos em Infecções e Complicações Relacionadas à Assistência à Saúde – NEICAS Líder do grupo: Profa. Dra. Angélica da Conceição Oliveira Coelho 2 de 7 OS PRINCIPAIS SINAIS E SINTOMAS DA NEURITE NA HANSENÍASE Dor e espessamento no trajeto dos nervos periféricos; Alteração da sensibilidade na área de correspondência dos nervos periféricos comprometidos; Alteração da força ou tônus muscular na área de correspondência dos nervos periféricos comprometidos. CLASSIFICAÇÃO CLÍNICA DA HANSENÍASE Forma inicial - discretas manifestações clínicas Forma clínica interpolar e instável Forma Indeterminada (PB) Áreas de hipo ou anestesia, parestesias, manchas hipocrômicas e/ou eritemo-hipocrômicas, com ou sem diminuição da sudorese (hipoidrose) e rarefação de pelos. Não há comprometimento de nervos, não ocorrendo problemas motores. Via de regra a baciloscopia é negativa. Forma Dimorfa (MB) Lesões cutâneas de número variável, acometendo diversas áreas, podendo se apresentar como manchas ou placas hipocrômicas, castanhadas ou violáceas. Predomínio do aspecto infiltrativo. Principalmente "lesões foveolares". Comprometimento dos nervos periféricos geralmente múltiplo e assimétrico, muitas vezes com espessamento, dor e choque à palpação. Polos estáveis e opostos da doença Forma Tuberculoide (PB) multiplicação bacilar limitada / baciloscopia não detectável Placas eritematosas, podendo ter centro hipocrômico. Geralmente lesão cutânea única, podendo chegar até 5 lesões, bem delimitadas, hipo ou anestésicas. Comum comprometimento da função das glândulas sudoríparas (hipo ou anidrose) e dos folículos pilosos (diminuição de pelos). Comprometimento dos nervos é mais precoce, localizado (apenas um tronco nervoso acometido) e intenso, com apresentação de “sinal da raquete” (espessamento dos filetes nervosos superficiais da pele adjacente às placas). Forma Virchowiana (MB) multiplicação bacilar intensa / baciloscopia detectável Eritema e infiltração difusos, placas eritematosas de pele infiltradas e de bordas mal definidas, tubérculos e nódulos, madarose, lesões das mucosas, com alteração de sensibilidade (espessamento difuso de nervos). Com a progressão, surgem hansenomas. Além das lesões dermatológicas e das mucosas, ocorrem também lesões viscerais e queixas neurológicas. Forma atípica - em média, 10% dos casos, podendo estar subestimado Hanseníase neural pura (ou neurítica primária) Apresentação clínica exclusivamente neural, sem lesões cutâneas e com baciloscopia negativa. Espessamento de nervo periférico, associado a alterações sensitivas e/ou motoras e/ou autonômicas no território do nervo3. Os pacientes com suspeita dessa forma clínica da hanseníase devem ser encaminhados para investigação em unidades de atenção especializada. 3 Há certa concordância entre os estudos de que os nervos ulnares sejam os mais frequentemente acometidos na hanseníase, embora qualquer nervo periférico possa ser afetado. UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA FACULDADE DE ENFERMAGEM Núcleo de Estudos em Infecções e Complicações Relacionadas à Assistência à Saúde – NEICAS Líder do grupo: Profa. Dra. Angélica da Conceição Oliveira Coelho 3 de 7 EXAME NEUROLÓGICO MEMBROS SUPERIORES PALPAÇÃO DE NERVOS Ulnar: Cotovelo a 90º, a mão da pessoa apoiada na mão do examinador, palpar ao nível da goteira epitrocleana. Mediano: Fazer percussão com as polpas dos dedos na face anterior do antebraço, ao longo do trajeto do nervo mediano. Radial: Palpar ao nível de torção do úmero, no terço médio do braço com o cotovelo em flexão. AVALIAÇÃO DA FORÇAMUSCULAR Abdutor do quinto dedo (ulnar) Abdutor do polegar (mediano) Extensor do punho (radial) MEMBROS INFERIORES Fibular Comum: Palpar o nervo na face posterior da fibula, na junção entre sua cabeça e o corpo. Tibial: Palpar o nervo atrás e logo abaixo do maléolo medial da tibia. Sural: AVALIAÇÃO DA FORÇA MUSCULAR Extensor do hálux (fibular comum) Dorsiflexão do pé (fibular comum) ALTERAÇÕES DE SENSIBILIDADE Aplicar os monofilamentos de 0,05 g (verde) e 0,2 (azul) em cada ponto específico por três vezes, e para os demais filamentos aplicar apenas uma vez. UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA FACULDADE DE ENFERMAGEM Núcleo de Estudos em Infecções e Complicações Relacionadas à Assistência à Saúde – NEICAS Líder do grupo: Profa. Dra. Angélica da Conceição Oliveira Coelho 4 de 7 AS ÁREAS ONDE AS LESÕES OCORREM COM MAIOR FREQUÊNCIA SÃO: Face, orelhas, nádegas, braços, pernas e costas, mas elas podem ocorrer, também, na mucosa nasal. DEFORMIDADES E INCAPACIDADES FACE: A maioria são decorrentes de ação do bacilo diretamente sobre as estruturas desta região. Questionar quanto a queixas: dor; hiperemia; ardência; prurido; alteração de sensibilidade NARIZ A mucosa nasal é um dos locais preferidos do bacilo. Comprometimento de fibras do SNA > ↓ produção de muco > Ressecamento. Infiltrações > ↑ Secreção nasal > Remoção de secreção e crostas > Ferimentos/úlceras > Infecção > Perfuração da cartilagem septal. OLHOS Madarose superciliar: por lesão dos bulbos pilosos; Madarose ciliar: nas bordas das pálpebras, ocorre pelo ataque do bacilo aos bulbos pilosos; Triquíase: Crescimento dos cílios em direção à córnea, por conta da alteração da posição dos bulbos devido ao processo inflamatório. Lagoftalmo: causado quando atinge o ramo zigomático do nervo facial, que inerva os músculos orbiculares. Incapacidade de fechar os olhos. Ectrópio: Eversão da margem palpebral. Redução ou perda da sensibilidade da córnea, Opacidade da córnea, Redução da acuidade visual, e Opacidade do cristalino (catarata): são causadas por lesões no nervo trigêmeo. MEMBROS SUPERIORES: Alterações Motoras Nervo ulnar: Garra, Sinal de Froment (Instabilidade da pinça do polegar com o segundo dedo), Atrofia do primeiro espaço interósseo. Nervo mediano: Perda da oponência do polegar. Nervo radial: Flexão de dedos e punhos (mão caída). Alterações Autonômicas Redução da secreções sebáceas e sudoríparas, com isso a pele se torna seca, inelástica e com facilidade de ocorrer fissuras. MEMBROS INFERIORES: Alterações Motoras Nervo fibular comum: Redução ou perda da dorsiflexão do pé (causando o pé caído) e perda da extensão dos dedos. Nervo tibial: Perda do sinergismo entre os músculos flexores e extensores dos dedos, adquirindo postura de garra. Alterações Autonômicas Disfunção das glândulas sudoríparas com consequente ressecamento dos pés, o que promove rachaduras e calosidades. TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO O impacto psicológico do diagnóstico pode ser grave e levar à depressão e até mesmo ao suicídio ou à sua tentativa, impactando na vida social e profissional. Os próprios profissionais de saúde podem reproduzir o comportamento aversivo e gerar barreiras para o atendimento. Suporte psicossocial: envolvendo uma rede que trabalha com o usuário no sentido de abordar sentimentos, emoções, pensamentos, crenças, comportamentos e relacionamentos associados ao diagnóstico e ao processo contínuo de viver com a hanseníase. Reabilitação psicossocial: ações articuladas com o território, o fortalecimento, a inclusão e o exercício de direitos de cidadania pelos pacientes e seus familiares. Estigma: se desenvolveu ao longo de muitos anos de superstições e enganos, estabelecendo discriminação e exclusão social. Discriminação: tratamento injusto ou negativo praticado em relação a uma pessoa ou grupo. Instrumentos para avaliar os impactos psicossociais da hanseníase: a) Escala de Estigma para Pessoas Acometidas pela Hanseníase (EMIC-AP) e b) Escala de Participação. Intervenções em nível coletivo: Apoio de pares e grupos. Prevenção de incapacidades físicas: conjunto de ações que englobam: o diagnóstico precoce, o tratamento e acompanhamento das reações hansênicas e da função neural, ações para promoção do autocuidado, fisioterapia e cirurgia (preventiva e reabilitadora), tratamento de úlceras, acesso a OPM, dentre outras. Reabilitação física: a partir das necessidades particulares de cada indivíduo, com vistas a promover e garantir melhor adaptação, qualidade de vida e autonomia. https://www.nhrbrasil.org.br/images/Guia-de-Aplicao-das-Escalas-de-Estigma.pdf https://www.nhrbrasil.org.br/images/Guia-de-Aplicao-das-Escalas-de-Estigma.pdf https://central.to.gov.br/download/101537 UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA FACULDADE DE ENFERMAGEM Núcleo de Estudos em Infecções e Complicações Relacionadas à Assistência à Saúde – NEICAS Líder do grupo: Profa. Dra. Angélica da Conceição Oliveira Coelho 5 de 7 TRATAMENTO FARMACOLÓGICO Poliquimioterapia Única – PQT-U (associação rifampicina + dapsona + clofazimina) PAUCIBACILAR casos com uma a cinco lesões cutâneas E baciloscopia obrigatoriamente negativa E, NO BRASIL, até um nervo periférico comprometido4 Interromper após administração de 06 doses mensais supervisionadas em até 09 meses MULTIBACILAR casos com mais de cinco lesões de pele E/OU baciloscopia positiva OU mais de um nervo periférico comprometido (evidência de consenso) Interromper após administração de 12 doses mensais supervisionadas em até 18 meses ADULTOS OU CRIANÇAS > 50KG PQT-U Adulto Dose mensal supervisionada: Rifampicina 600mg, Clofazimina 300mg, Dapsona 100mg Dose diária autoadministrada: Clofazimina 50mg, Dapsona 100mg ADULTOS OU CRIANÇAS 30KG a 50KG PQT-U Infantil Dose mensal supervisionada: Rifampicina 450mg, Clofazimina 150mg, Dapsona 50mg Dose diária autoadministrada: Clofazimina 50mg (dias alternados), Dapsona 50mg CRIANÇAS < 30KG Adaptação da PQT-U Infantil Dose mensal supervisionada: Rifampicina 10mg/kg de peso, Clofazimina 6mg/kg de peso, Dapsona 2mg/kg de peso Dose diária autoadministrada: Clofazimina 1mg/kg de peso/dia5, Dapsona 2mg/kg de peso/dia Na dose supervisionada, os doentes devem ser submetidos ao exame dermatológico, à avaliação neurológica simplificada e do grau de incapacidade física para receber alta por cura Os doentes MB que, excepcionalmente, não apresentarem melhora clínica, com presença de lesões ativas da doença, no final do tratamento preconizado de 12 doses (cartelas), devem ser encaminhados para avaliação em serviço de referência para verificar a conduta mais adequada para o caso DIFERENÇAS CLÍNICAS ENTRE REAÇÃO E RECIDIVA NA HANSENÍASE CARACTERÍSTICAS REAÇÃO RECIDIVA Casos tratados regularmente que receberam alta por cura e que voltam a apresentar novos sinais e sintomas clínicos de doença infecciosa ativa. Geralmente ocorrem em período superior a cinco anos após alta por cura. Período de ocorrência Frequente durante a PQT-U e/ou menos frequente no período de dois a três anos após término do tratamento Em geral, período superior a cinco anos após término da PQT-U Surgimento Súbito e inesperado Lento e insidioso Lesões antigas Algumas ou todas podem se tornar eritematosas, brilhantes, intumescidas e infiltradas Geralmente imperceptíveis Lesões recentes Em geral, múltiplas Poucas Ulceração Pode ocorrer Raramente ocorre Regressão Presença de descamação Ausência de descamação Comprometimento neural Muitos nervos podem ser rapidamente envolvidos ocorrendo dor e alterações sensitivo-motoras Poucos nervos podem ser envolvidos com alterações sensitivo-motoras de evolução mais lenta Resposta a medicamentos antirreacionais Excelente Não pronunciada 4 Desde que tenham sido avaliadosem unidades de saúde que contem com profissionais experientes no cuidado em hanseníase, os quais muitas vezes embasam essa decisão na avaliação clínica especializada e em exames complementares, como baciloscopia e biópsia cutânea. Os casos que suscitem dúvida sobre a classificação operacional devem ser tratados como MB. 5 A administração diária de clofazimina é dificultada, tendo em vista a sua disponibilidade apenas em cápsulas de 50 e 100mg. Desse modo, recomenda-se calcular a dose semanal e dividi-la em duas ou três tomadas. Por exemplo: uma criança com 15kg deverá receber 105mg de clofazimina ao longo de sete dias (1mg/kg x 15kg x 7 dias = 105mg), podendo receber uma cápsula de 50mg duas vezes por semana. UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA FACULDADE DE ENFERMAGEM Núcleo de Estudos em Infecções e Complicações Relacionadas à Assistência à Saúde – NEICAS Líder do grupo: Profa. Dra. Angélica da Conceição Oliveira Coelho 6 de 7 TRATAMENTO DE REAÇÕES HANSÊNICAS Se disponível, solicitar exames laboratoriais a partir da avaliação de necessidade: hemograma completo, TGO, TGP e creatinina REAÇÃO TIPO 1 OU REAÇÃO REVERSA: mais precoce (2º a 6º mês de tto) aparecimento de novas lesões dermatológicas (manchas ou placas), infiltrações, alterações de cor (eritemato- vinhosa) e edema nas lesões antigas, com ou sem espessamento e dor de nervos periféricos (neurite - acompanhada por comprometimento das funções sensitivas, motoras e/ou autonômicas) MB ou PB hipersensibilidade celular / sinais e sintomas mais restritos Prednisona a 1 mg/kg/dia, com redução gradual ou dexametasona 0,15 mg/ kg/dia em casos de doentes hipertensos ou cardiopatas, conforme avaliação clínica. Tratar neurite associando antidepressivo tricíclico em dose baixa (amitriptilina 25 mg/dia) com clorpromazina 5 gotas (5 mg) duas vezes ao dia, ou a carbamazepina 200 a 400 mg por dia. A dose de amitriptilina pode chegar a 75 mg por dia e a de clorpromazina até 50 mg por dia, em aumentos graduais. No início da corticoterapia, fazer a profilaxia da estrongiloidíase disseminada (albendazol 400mg/dia, dose única diária, por três dias consecutivos, ou, ainda, ivermectina em dose única de 200mcg/kg). REAÇÃO TIPO 2 OU ERITEMA NODOSO HANSÊNICO (ENH): aparecimento de nódulos subcutâneos dolorosos, acompanhados ou não de manifestações sistêmicas como: febre, artralgias, mialgias, dor óssea, edema periférico e linfadenomegalia, além do comprometimento inflamatório dos nervos periféricos (neurite), olhos (irite, episclerite), testículos (orquite) e rins (nefrite) Exclusivamente MB Agudo: menos de seis meses com tto eficaz e retirada progressiva de medicamentos não associada à recorrência de lesões Recorrente: pelo menos um 2º episódio de ENH até ou após 28 dias da interrupção do tto antirreacional Crônico: perduram por mais de seis meses ou periódos de remissão inferiores a 28 dias. síndrome mediada por imunocomplexos / quadro sistêmico A talidomida (≥ 18 anos) é o medicamento de escolha na dose de 100 a 400 mg/dia, conforme a gravidade do quadro. Na impossibilidade do seu uso prescrever prednisona na dose de 1 mg/kg peso/dia, ou dexametasona na dose equivalente. Na associação de talidomida e corticoide, usar AAS 100 mg/dia como profilaxia para tromboembolismo. Em crianças deve ser feito com clofazimina, na dose de 1,5 a 2mg/kg, três vezes ao dia no primeiro mês, 1,5 a 2mg/kg, duas vezes ao dia no segundo mês e 1,5 a 2mg/kg, uma vez ao dia no terceiro mês, não ultrapassando a dose máxima diária de 300mg. INDICAÇÕES DA CORTICOTERAPIA NOS CASOS DE REAÇÃO TIPO 2 (ENH) Em casos de contraindicações da talidomida (ex: gravidez); Para presença de lesões oculares reacionais, com manifestações de hiperemia conjuntival com ou sem dor, embaçamento visual, acompanhadas ou não de manifestações cutâneas; Para edema inflamatório de mãos e pés (mãos e pés reacionais); Para glomerulonefrite, orquiepididimite, artrite, vasculites, eritema nodoso necrotizante e neurite. ESQUEMA TERAPÊUTICO SUBSTITUTIVO PARA REAÇÃO TIPO 2 Pentoxifilina (≥ 18 anos) na dose de 1.200 mg/dia, dividida em doses de 400 mg de 8/8 horas, após alimentação, associada ou não ao corticosteroide. Iniciar com a dose de 400 mg/dia, com aumento de 400 mg a cada semana, no total de três semanas. TRATAMENTO CIRÚRGICO DAS NEURITES Este tratamento é indicado depois de esgotados todos os recursos clínicos para reduzir a compressão do nervo periférico por estruturas anatômicas constritivas próxima, reduzindo a necessidade de altas doses de corticosteroides. DOR NEURAL NÃO CONTROLADA Em geral, devem-se associar antidepressivos tricíclicos com neurolépticos e/ou anticonvulsivantes, pelo sinergismo de ação. ESQUEMA DE 2ª LINHA NA FALHA TERAPÊUTICA Devido às especificidades, deve-se fazer a leitura dos esquemas no Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Hanseníase de 2022 do Ministério da Saúde. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DE 2ª LINHA NA DETECÇÃO DE M. LEPRAE RESISTENTE UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA FACULDADE DE ENFERMAGEM Núcleo de Estudos em Infecções e Complicações Relacionadas à Assistência à Saúde – NEICAS Líder do grupo: Profa. Dra. Angélica da Conceição Oliveira Coelho 7 de 7 PRINCIPAIS EFEITOS ADVERSOS DO TRATAMENTO DA HANSENÍASE E CONDUTAS Medicamento Efeitos Adversos Conduta Dapsona Reações alérgicas como avermelhamento da pele, coceira e descamação, principalmente na face e antebraços. Interrompa a medicação e envie para o serviço de referência. Falta de ar com cianose de extremidades (metemoglobinemia), febre e dor de garganta (agranulocitose), ou dor abdominal com fraqueza e taquicardia e mucosas conjuntivais descoradas (hemólise), provavelmente devido à intolerância a Dapsona. Deve-se coletar sangue para avaliar o hemograma, a função renal e as transaminases. Se confirmar hemólise e/ou hepatopatia/comprometimento renal, a Dapsona deverá ser retirada do esquema. Agranulocitose (febre, dor de garganta e glóbulos brancos muito baixos). Enviar urgentemente para o serviço de referência. Rifampicina Efeitos adversos são raros. Mais comumente, a urina pode apresentar uma coloração avermelhada algumas horas após a ingestão da medicação. Orientar e informar que é um efeito esperado. Em casos de urticária, que ocorre cerca de meia hora após a ingestão da dose supervisionada. Corticoides e anti-histamínicos podem ser prescritos. Alteração do funcionamento de anticoncepcionais hormonais orais. Devem ser substituídos e/ou coadjuvados pela adoção de métodos contraceptivos adicionais Clofazimina Pode causar um aumento da pigmentação da pele (“aspecto bronzeado”), além de potencial ressecamento da pele. Prescrever hidratantes e orientar o uso de protetor solar. Desaparece dentro de seis a 12 meses após a interrupção da clofazimina, podendo perdurar por até 4 anos. Eventual caso de obstipação intestinal. Prescrever dieta laxativa, óleo mineral, ou laxantes leves. PROCEDIMENTOS APÓS O TÉRMINO DO TRATAMENTO Alta por cura Deve ser estabelecido segundo os critérios de regularidade ao tratamento: número de doses e tempo de tratamento, de acordo com cada esquema mencionado anteriormente, sempre com avaliação neurológica simplificada, avaliação do grau de incapacidade física e orientação para os cuidados pós-alta. Pacientes irregulares Deverão ser avaliados quanto à necessidade de reinício ou possibilidade de aproveitamento de doses anteriores. MB sem melhora clínica após 12 doses Primeiramente reavaliar os contatos na busca de uma fonte não diagnosticada e só após encaminhar para serviço de referência e avaliar novo ciclo. Possíveis causas: reinfecção, insuficiência de tratamento, ou resistência medicamentosa. Reações ou deficiências sensitivomotoras e/ou incapacidades Deve-se monitorar e agendar acompanhamento de acordo com o caso. Deverá serorientado para retorno imediato à unidade de saúde, em caso de aparecimento de novas lesões de pele e/ou de dores nos trajetos dos nervos periféricos e/ ou piora da função sensitiva e/ou motora. Saída por “abandono” PB que não compareceram ao serviço de saúde por mais de três meses consecutivos OU MB por mais de seis meses consecutivos, a partir da data do último comparecimento. Deve-se ter esgotado as estratégias, além de somente a unidade de saúde responsávelo pelo acompanhamento poder dar este desfecho. REFERÊNCIAS MINISTÉRIO DA SAÚDE (MS). Guia prático sobre a hanseníase. Brasília: Ministério da Saúde, 2017. MINISTÉRIO DA SAÚDE (MS). Guia de Vigilância em Saúde. 5. ed. rev. e atual. Brasília: Ministério da Saúde, 2022. MINISTÉRIO DA SAÚDE (MS). Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Hanseníase. Brasília: Ministério da Saúde, 2022. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_pratico_hanseniase.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_vigilancia_saude_5ed_rev_atual.pdf https://www.gov.br/aids/pt-br/centrais-de-conteudo/pcdts/2022/hanseniase/pcdt-hans-2022_eletronica_isbn.pdf/view
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