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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO PAULO ROBERTO DO AMARAL FERREIRA O PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO DO VAREJO DE MASSA E AS LUTAS COMPETITIVAS: O caso do setor supermercadista no Brasil Rio de Janeiro 2013 PAULO ROBERTO DO AMARAL FERREIRA O PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO DO VAREJO DE MASSA E AS LUTAS COMPETITIVAS: O caso do setor supermercadista no Brasil Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração, Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Administração. Orientador: Prof. Dr. Luís Antônio da Rocha Dib Rio de Janeiro 2013 F Ferreira, Paulo Roberto do Amaral A evolução do varejo de massa no Brasil: estudo de caso do setor supermercadista / Paulo Roberto do Amaral Ferreira – Rio de Janeiro: UFRJ, 2013. 250 f: il,; 31 cm Orientador: Luís Antônio da Rocha Dib. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto COPPEAD de Administração, Rio de Janeiro, 2013. 1. Internacionalização. 2. Varejo. 3. Supermercados Teses. I. Dib, Luís Antônio da Rocha. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto COPPEAD de Administração. III. Título. CDD: PAULO ROBERTO DO AMARAL FERREIRA O PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO DO VAREJO DE MASSA E AS LUTAS COMPETITIVAS: O caso do setor supermercadista no Brasil Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração, Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Administração. Aprovada em: Prof. Dr. Luís Antônio da Rocha Dib, COPPEAD / UFRJ – Orientador Prof. Dr. Otávio Henrique dos Santos Figueiredo, COPPEAD / UFRJ Prof. Dr. Jorge Manoel Teixeira Carneiro, PUC / RJ Aos meus pais, Paulo Ferreira e Eliane Ferreira e à minha esposa Daniele, às minhas irmãs Michele Pinho e Liliane Ferreira e ao meu sobrinho Nicolas Pinho, pelo amor e apoio incondicional, mesmo nos momentos em que precisei estar ausente para realizar este sonho. Agradeço a Deus por me dar forças e sabedoria para concluir mais um ciclo na minha vida. Agradeço também por estar presente ao meu lado em todos os momentos da minha vida. Agradeço ao meu orientador, professor Luís Antônio Dib, por aceitar a orientação e por acreditar no meu trabalho. Agradeço também todo seu apoio nos meses de pesquisa, que me possibilitou crescer e aprender muito no percurso desta pesquisa. Agradeço aos professores Otávio Figueiredo e Jorge Carneiro, que com sua sabedoria e dedicação ajudaram a observar e corrigir inúmeros pontos de melhoria neste trabalho. Agradeço à minha família, por me ensinar a lutar pelos meus objetivos, de forma ética e com determinação. Agradeço à minha esposa pela paciência e pelo amor nos períodos de ausência e dificuldades que tive enquanto fazia essa pesquisa. Por fim, agradeço à Instituição COPPEAD pela excelência no ensino, que me fez crescer como pessoa, trabalhando minhas limitações e me capacitando para competir de forma agressiva num mercado de trabalho altamente competitivo. RESUMO FERREIRA, Paulo Roberto do Amaral. O Processo de Globalização do Varejo de Massa e as Lutas Competitivas: O caso do Setor Supermercadista no Brasil. Dissertação (Mestrado em Administração de Empresas) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto COPPEAD de Administração, Rio de Janeiro, 2013. A pesquisa que originou este trabalho analisou, por meio de um amplo estudo de caso, as peculiaridades do setor supermercadista no Brasil. O principal objetivo foi estudar os impactos da globalização sobre o setor, com foco na atuação das grandes redes internacionais, como Walmart, Carrefour e Casino no mercado brasileiro. Para dar suporte teórico à pesquisa, foi feita revisão da literatura sobre globalização, internacionalização de empresas e lutas competitivas. Buscou-se fatos relevantes pertinentes ao setor supermercadista brasileiro, no período de 2000 a 2012, que tivessem relação direta com variáveis do setor com impacto nas barreiras de entrada do ambiente de negócio brasileiro, no poder de barganha dos fornecedores, no poder de barganha dos consumidores, na oferta de produtos substitutos e na concorrência. Foi consultada uma ampla gama de fontes sobre o setor supermercadista, tais como revistas especializadas, além de matérias publicadas em jornais, outras revistas e em meio eletrônico para contextualizar a evolução do setor no período desejado. Na etapa da análise, foram mapeadas oportunidades e ameaças inerentes ao setor, que auxiliaram na definição de fatores críticos de sucesso, que serviram de base para análise do processo de internacionalização dos varejistas internacionais. Na conclusão, percebeu-se dois momentos relevantes no setor supermercadista: um período de grande influência dos varejistas internacionais sobre a indústria, sobre os hábitos de compra dos consumidores e sobre a concorrência, que foi de 2000 a 2004, e outro que caracterizou o amadurecimento do setor nacional, influenciado pelo grande potencial de consumo das classes mais baixas da população. A partir desta etapa, que vai de 2004 a 2012, é o mercado brasileiro que influencia a estratégia das redes globais que atuam no país. Palavras-chave: Internacionalização. Varejo. Concorrência. ABSTRACT FERREIRA, Paulo Roberto do Amaral. O Processo de Globalização do Varejo de Massa e as Lutas Competitivas: O caso do Setor Supermercadista no Brasil.. Dissertação (Mestrado em Administração de Empresas) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto COPPEAD de Administração, Rio de Janeiro, 2013. The research originated by this work, analyzed through an extensive case study, the peculiarities of the supermarket sector in Brazil. The main objective was to study the impacts of globalization on the sector, with focus on performance of large international chains such as Walmart, Carrefour and Casino in the Brazilian market. To support the theoretical research was done a literature review on globalization, internationalization of companies and competitive fights. It was sought to facts relevant to the Brazilian supermarket sector in the period 2000-2012, which had a direct relationship with the variables that impact the industry entry barriers of the business environment in Brazil, the bargaining power of suppliers, the bargaining power of consumers, on offering substitutes and competition. It was also consulted a wide range of sources on the supermarket sector, such as trade journals, and articles published in newspapers, magazines and other electronic means to contextualize the evolution of the industry at the time requested. In the analysis phase, were mapped opportunities and threats inherent in the sector, which helped in defining critical success factors, which served as the basis for analysis of the internationalization process of international retailers. In conclusion, it was realized two important moments in the supermarket sector: a period of great influence from international retailers about the industry, about the buying habits of consumers and competition, which was from 2000 to 2004, and another that characterized the maturation the domestic industry, influenced by the great consumption potential of the lower classes of the population.From this stage, going from 2004 to 2012, the Brazilian market is influencing the strategy of global networks that operate in the country. Keywords: Internationalization. Retail. Competition. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Estrutura e Níveis de Canais no Varejo .................................................. 23 Figura 2 – Classificações e Formatos Varejistas ..................................................... 24 Figura 3 – Internacionalização da Firma: enfoque econômico ................................ 33 Figura 4 – Modelo de Uppsala ................................................................................. 39 Figura 5 – Impulsionadores da Internacionalização do Varejo ................................ 48 Figura 6 – Opções de Entrada em Novos Negócios ................................................ 50 Figura 7 – Modelo de Macroambiente com Seis Segmentos ................................... 55 Figura 8 – O Modelo de Porter ................................................................................. 58 Figura 9 – Coleta de Dados por Categoria ............................................................... 66 Figura 10 – Identificando Oportunidades e Melhorias .............................................. 67 Figura 11 – Identificando Fatores Críticos de Sucesso ............................................ 68 Figura 12 – Histórico do Varejo Alimentar ................................................................ 72 Figura 13 – Concentração do Setor Varejista de 1994 a 1999 ................................ 78 Figura 14 – IDE no Brasil de 1994 a 1999 ............................................................... 79 Figura 15 – Inflação (IPCA) no período de 2000 a 2003 .......................................... 85 Figura 16 – Consumo das Famílias de 2000 a 2003 ................................................ 85 Figura 17 – Volume de IDEs no Brasil de 2000 a 2003 ........................................... 86 Figura 18 – Concentração dos Seis Maiores Supermercadistas de 2000 a 2003.... 90 Figura 19 – Fusões e Aquisições no Setor de 1999 a 2003 .................................... 86 Figura 20 – Fusões e Aquisições na Indústria de Alimentos (1994 a 2004) ............ 94 Figura 21 – Concentração das 10 maiores Indústria de Alimentos no Brasil ........... 95 Figura 22 – IDE no Mundo (Em US$ Bilhões) ........................................................ 113 Figura 23 – Fluxo de IDEs no Brasil (Em US$ Bilhões) ......................................... 115 Figura 24 – Lucros e Perdas no Setor (% do Faturamento) .................................. 117 Figura 25 – Investimentos no Setor Supermercadista ........................................... 120 Figura 26 – Cadeia de Valor do Setor Supermercadista ....................................... 124 Figura 27 – Exportações e Importações no Brasil de 2000 a 2012 ....................... 154 Figura 28 – Investimentos Diretos no Brasil de 2000 a 2012 ................................ 157 Figura 29 – Desembolsos do BNDES (Em R$ bilhões) ......................................... 158 Figura 30 – Desemprego no Brasil ........................................................................ 159 Figura 31 – Aumento da Massa Salarial no Brasil .........................................,....... 160 Figura 32 – Faturamento do Setor Supermercadista de 2004 a 2012 ................... 162 Figura 33 – Alta Real em Vendas, de 2006 a 2012 ............................................... 164 Figura 34 – Faturamento dos Supermercados e Hipermercados .......................... 165 Figura 35 – Consumo das Famílias Brasileiras ...................................................... 166 Figura 36 – Perdas x Lucro no Setor Supermercadista ......................................... 168 Figura 37 – Investimentos no Setor de 2000 a 2012 ............................................. 169 Figura 38 – Concentração dos seis maiores varejistas, de 2000 a 2012 .............. 170 Figura 39 – Participação das Regiões no Faturamento do Setor .......................... 171 Figura 40 – Variação do formato de lojas no Setor ............................................... 173 Figura 41 – Supermercados x Atacado ................................................................. 174 Figura 42 – Ruptura no Setor Supermercadista em 2011 ..................................... 175 Figura 43 – Evolução do Ticket Médio no Setor (Em R$) ...................................... 183 Figura 44 – Evolução da população Idosa no Brasil .............................................. 185 Figura 45 – Concentração dos Gigantes no Setor Supermercadista .................... 187 Figura 46 – Evolução do Faturamentos das Redes CBD, Walmart e Carrefour ... 188 Figura 47 – Faturamento do CBD de 2007 a 2012 (Em R$ bilhões) ..................... 191 Figura 48 – Evolução de Geração de Empregos, de 2010 a 2014 ........................ 198 Figura 49 – Cenário Tendencial para o Setor de Supermercados ......................... 199 Figura 50 – Perspectiva de Faturamento para o Setor .......................................... 199 Figura 51 – Distribuição das Classes de Renda no Brasil ..................................... 211 Figura 52 – Consumidores do setor Supermercadista ......................................... 231 Figura 53 – Evolução do Faturamento x Fatos relevantes no Setor .................... 241 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Formatos de Lojas no Varejo ................................................................ 25 Quadro 2 – Características da Composição e do Estudo do Macroambiente ......... 54 Quadro 3 – Os Seis Elementos do Macroambiente e seus elementos críticos ....... 56 Quadro 4 – Varejistas Estrangeiros no Brasil e Estratégias de Entrada .................. 79 Quadro 5 – Impacto da Ruptura nos Supermercados e Fornecedores ................. 129 Quadro 6 – As maiores queixas do Varejo em relação aos fornecedores ............. 177 Quadro 7 – As maiores queixas dos Fornecedores em relação aos Varejistas .... 178 Quadro 8 – Estratégia Utilizada por formatos de 2 a 5 lojas ................................. 195 Quadro 9 – Tendência do Consumidor ................................................................. 203 Quadro 10 – Ambiente Demográfico Brasileiro no Século XXI ............................. 205 Quadro 11 – Oportunidades e Ameaças do Ambiente Demográfico Brasileiro .... 208 Quadro 12 – Oportunidades e Ameaças do Ambiente Econômico ....................... 212 Quadro 13 – Oportunidades e Ameaças do Ambiente Político-Legal ................... 214 Quadro 14 – Oportunidades e Ameaças do Ambiente Sociocultural .................... 217 Quadro 15 – Oportunidades e Ameaças do Ambiente Tecnológico ..................... 220 Quadro 16 – Análise das Barreiras de Entrada .................................................... 226 Quadro 17 – Análise do Poder de Barganha do Consumidor ............................... 231 Quadro 18 – Análise do Poder de Barganha do Fornecedor ................................ 235 Quadro 19 – Análise da Concorrência no Setor ................................................... 241 Quadro 20 – Histórico de Internacionalizações no Brasil ..................................... 246 Quadro 21 – Síntese da Análise do Impacto da Globalização no Setor ............... 273 Quadro 22 – Síntese da Análise do Impacto da Mercado no setor ...................... 274 Quadro 23 – Síntese das Sugestões de Pesquisas Futuras Propostas ............... 276 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Faturamento e Market Share do Setor Varejista em 1999 ..................... 77 Tabela 2 – Participação dos Estados no Faturamento do Setor em 1999 ............... 80 Tabela 3 – Eficiência no Setor Supermercadista em 1999 ...................................... 81 Tabela 4 – Faturamento no Setor Supermercadistade 2000 a 2003 ...................... 88 Tabela 5 – Investimentos no Setor Supermercadista de 2000 a 2003 .................... 89 Tabela 6 – Participação Média das Seções no Faturamento de 2000 a 2003 ........ 92 Tabela 7 – Mapa do Consumidor Brasileiro de 2000 a 2003 .................................. 98 Tabela 8 – Variação no Faturamento Real das empresas ......................................100 Tabela 9 – Mapa da Concorrência no Setor de Supermercados (2000 a 2003)..... 103 Tabela 10 – Carga Tributária no Brasil e no Mundo ............................................... 107 Tabela 11 – Evolução do PIB no Brasil e no Mundo .............................................. 108 Tabela 12 – Taxa média de Juros no mundo de 1995 até 2005 ............................ 109 Tabela 13 – Renda Média x Gasto Médio .............................................................. 111 Tabela 14 – Formas de Pagamento no Setor Supermercadista ............................ 112 Tabela 15 – Fluxo de IDEs recebidos (% IDE Mundial) ......................................... 114 Tabela 16 – Faturamento do Setor de 2000 a 2007 .............................................. 116 Tabela 17 – Participação por Estado e por Região no Faturamento ..................... 119 Tabela 18 – Evolução (%) nos Formatos de Lojas de 2000 a 2007 ...................... 120 Tabela 19 – Setor Industrial Brasileiro em 2007 .................................................... 122 Tabela 20 – Participação (%) Regional no Faturamento do Setor Industrial ......... 123 Tabela 21 – Cenário de Rupturas Pelo Mundo em 2002 ....................................... 128 Tabela 22 – Participação por Classe Econômica na População Brasileira ........... 131 Tabela 23 – Ranking do Setor Supermercadista de 2002 a 2007 ......................... 139 Tabela 24 – Mapa das Principais Redes Supermercadistas de 2004 a 2007........ 141 Tabela 25 – Crescimento do PIB no Mundo de 2003 a 2012................................. 153 Tabela 26 – Carga Tributária no Brasil de 2005 a 2012......................................... 155 Tabela 27 – Taxa SELIC x IPCA no Brasil, de 2000 a 2012................................... 156 Tabela 28 – Composição das Classes Sociais Brasileiras...................................... 161 Tabela 29 – Configuração do Setor no Período Pós-Crise..................................... 163 Tabela 30 – Formas de Pagamento no Setor Varejista.......................................... 172 Tabela 31 – Variação de vendas nas cestas........................................................... 173 Tabela 32 – Mapa da Rede Carrefour no período pós-crise................................... 190 Tabela 33 – Mapa da Rede CBD no período pós-crise.......................................... 192 Tabela 34 – Mapa da Rede Walmart no período pós-crise.................................... 194 Tabela 35 – Mapa do Setor para os próximos anos............................................... 200 Tabela 36 – Perspectiva de crescimento por departamento até 2020................... 202 Tabela 37 – Mapa de Consumidores no Brasil....................................................... 227 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABRAS Associação Brasileira de Supermercados IDE Investimento Direto Estrangeiro IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística FGV Fundação Getúlio Vargas BNDES Banco Nacional do Desenvolvimento CBD Companhia Brasileira de Distribuição GPA Grupo Pão de Açúcar IBPT Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário BRF Brasil Food AmBev American Beverage Company PIB Produto Interno Bruto IPCA Índice de Preços ao Consumidor Amplo PT Partido dos Trabalhadores BRIC Brasil, Rússia, Índia e China (Países Emergentes) IPCA – A Índice de Inflação dos Alimentos CADE Conselho Administrativo de Defesa Econômica FHC Fernando Henrique Cardoso SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 17 1.1 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA ...................................................... .............. 17 1.2 RELEVÂNCIA DO TEMA ............................................................................. 19 1.3 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO .................................................................... 20 2 VAREJO DE ALIMENTOS NO BRASIL ............................................................... 22 2.1 COMÉRCIO VAREJISTA ............................................................................ 22 2.2 PAPEL DO VAREJO E NÍVEIS DE CANAIS ............................................... 22 2.3 ESTRUTURA E NÍVEIS DE CANAIS .......................................................... 22 2.4 CLASSIFICAÇÕES E FORMATOS VAREJISTAS ...................................... 23 2.5 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE SUPERMERCADOS ............................... 25 3 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................... 27 3.1 GLOBALIZAÇÃO E INTERNACIONALIZAÇÃO .......... ............................... 27 3.2 TEORIAS DE INTERNACIONALIZAÇÃO ................................................... 30 3.2.1 Teorias Econômicas ........................................................................... 33 3.2.1.1 Teoria dos Custos de Transação ......................................... 34 3.2.1.2 Teoria da Internalização ....................................................... 34 3.2.1.3 Paradigma Eclético da Produção Internacional ................... 36 3.2.1.4 Discussões e Limitações das Abordagens Econômicas ...... 38 3.2.2 Teorias Comportamentais ................................................................. 38 3.2.2.1 Teoria de Uppsala ................................................................ 39 3.2.2.2 Teoria das Redes ................................................................. 42 3.2.2.3 Limitações das Teorias Comportamentais ........................... 43 3.3 INTERNACIONALIZAÇÃO DO VAREJO ................................................... 44 3.3.1 Estratégia de Internacionalização do Varejo ...................................... 49 3.3.1.1 A Escolha de Mercados Internacionais ................................ 51 3.4 CONCORRÊNCIA DENTRO DE UM SETOR ............................................. 52 3.4.1 Análise do Macroambiente .......................... ...................................... 54 3.4.2 O Modelo de Porter ............................................................................ 56 3.4.2.1 Ameaça de Novos Entrantes ............................................... 59 3.4.2.2 Ameaça de Produtos Substitutos ......................................... 60 3.4.2.3 Poder de Barganha de Consumidores e Fornecedores ..... 60 3.4.3 Fatores Críticos de Sucesso .............................................................. 61 4 MÉTODO DA PESQUISA ..................................................................................... 62 4.1 PROBLEMA E PERGUNTA DA PESQUISA ........................... .............. 62 4.2 MÉTODO DA PESQUISA ........................................................................ 63 4.3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................................ 64 4.3.1 Seleção do Caso ............................................................................ 64 4.3.2 Coleta de Dados ............................................................................ 64 4.3.3 Análise de Dados ........................................................................... 65 4.3.3.1 Coleta de Dados por Categoria ....................................... 65 4.3.3.2 Identificação de Oportunidades e Ameaças ....................66 4.3.3.3 Mapeando Fatores Críticos de Sucesso (FCS) ............... 67 4.3.3.4 Correlação dos FCS com Internacionalizações .............. 69 4.4 LIMITAÇÃO DO MÉTODO ...................................................................... 69 5 DESCRIÇÃO DO CASO ....................................................................................... 70 5.1 INTRODUÇÃO ......................................................................... .............. 70 5.2 HISTÓRICO E EXPECTATIVAS PARA O NOVO MILÊNIO ................... 71 5.2.1 O Setor Supermercadista de 1950 a 1999 .................................... 71 5.2.2 A Modernização do Setor .............................................................. 72 5.2.3 Dados do Setor em 1999 ............................................................... 77 5.3 O SÉCULO XXI, A ERA DO CONSUMIDOR (2000 a 2003) ................... 84 5.3.1 O Macroambiente .......................................................................... 84 5.3.2 O Setor Supermercadista .............................................................. 87 5.3.3 Os Fornecedores ........................................................................... 91 5.3.4 Os Consumidores .......................................................................... 95 5.3.5 A Concorrência .............................................................................. 99 5.4 O BRASIL NA PRÉ-CRISE (2004 a 2007) ............................................ 106 5.4.1 O Macroambiente ........................................................................ 106 5.4.2 O Setor Supermercadista ............................................................ 115 5.4.3 Os Fornecedores ......................................................................... 122 5.4.4 Os Consumidores ........................................................................ 130 5.4.5 A Concorrência ............................................................................ 138 5.5 O BRASIL NO PÓS-CRISE (2008 a 2012) ............................................ 152 5.5.1 O Macroambiente ........................................................................ 152 5.5.2 O Setor Supermercadista ............................................................ 162 5.5.3 Os Fornecedores ......................................................................... 175 5.5.4 Os Consumidores ........................................................................ 181 5.5.5 A Concorrência ............................................................................ 182 5.6 PERSPECTIVAS DO SETOR PARA OS PRÓXIMOS ANOS .............. 197 6 ANÁLISE DO CASO ........................................................................................... 204 6.1 ANÁLISE DO MACROAMBIENTE ......................................... .............. 204 6.1.1 O Ambiente Demográfico ............................................................ 204 6.1.2 O Ambiente Econômico ............................................................... 208 6.1.3 O Ambiente Político-Legal ........................................................... 212 6.1.4 O Ambiente Sociocultural ............................................................ 215 6.1.5 O Ambiente Tecnológico .............................................................. 217 6.2 ANÁLISE DO SETOR SUPERMERCADISTA ......................... ............. 220 6.2.1 Barreiras de Entrada ................................................................... 221 6.2.2 Poder de Barganha dos Consumidores ....................................... 227 6.2.3 Poder de Barganha dos Fornecedores ........................................ 232 6.2.4 A Competitividade Entre as Empresas......................................... 236 6.3 ANÁLISE DAS INTERNACIONALIZAÇÕES NO SETOR ..................... 242 6.3.1 Levantamento dos Fatores Críticos de Sucesso ........................ 242 6.3.2 Análise da Estratégia dos Varejistas Internacionais .................... 245 6.3.3 Varejistas Estrangeiros no Brasil ................................................. 251 6.3.3.1 Carrefour ........................................................................ 252 6.3.3.2 Walmart .......................................................................... 253 6.3.3.3 Sonae ............................................................................. 255 6.3.3.4 Jerônimo Martins ............................................................ 256 6.3.3.5 Royal Ahold .................................................................... 257 6.3.3.6 Cencosud ....................................................................... 258 6.3.3.7 Casino ............................................................................ 259 7 CONCLUSÃO ..................................................................................................... 261 7.1 SUMÁRIO DO ESTUDO ........................................................ .............. 261 7.2 CONCLUSÃO ........................................................................................ 262 7.3 SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS ...................................... 275 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 277 REFERENCIAL TEÓRICO ..................................................................... .............. 277 CASO ..................................................................................................................... 282 17 1 INTRODUÇÃO 1.1 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA O contexto onde as empresas atuam se transformou consideravelmente nos últimos 50 anos e elas tiveram de mudar seu comportamento para sobreviver e prosperar na competitividade acirrada e no ambiente globalizado. Nota-se particularmente o surgimento de uma economia global, o crescimento de uma economia de serviços, de uma economia dirigida pela internet, de mercados de alta tecnologia e baseados no conhecimento das redes e dimensões da economia de valor (AXINN, MATTHYSSENS, 2002; DUNNING, 2005). Os compradores na economia de hoje, especialmente os empresariais, esperam pacotes de valor de seus fornecedores e, ao mesmo tempo, vasculham os mercados mundiais em busca de menores preços. Também os consumidores esperam melhores pacotes de valor por menor preço. Os consumidores estão preferindo produtos ambientalmente responsáveis ou serviços de empresas que claramente os valorizam como indivíduos. Esses desafios criam um novo tipo de tensão nas firmas que se expandem internacionalmente e requerem novos tipos de solução (AXINN, MATTHYSSENS, 2002). A pesquisa descrita nesta dissertação estudou o caso do setor supermercadista brasileiro para compreender o impacto da globalização de grandes redes internacionais em sua estrutura. Entende-se como estrutura, a relação das empresas com fornecedores, consumidores e concorrência. Buscou-se responder às questões de pesquisa propostas abaixo: Qual o impacto da globalização em indicadores do setor, tais como, faturamento, margem, concentração, automatização e atuação geográfica? Qual o impacto da globalização na indústria de alimentos, no que diz respeito à cooperação entre varejistas e fornecedores, concentração industrial e rupturas? 18 Qual o impacto da globalização no comportamento do consumidor, no que diz respeito ao comportamento de compra, aos hábitos de compra, satisfação de clientes e sensibilidade à preços? Qual o impacto da globalização na concorrência entre as grandes, médias e pequenas redes do setor? Qual a diferença nas motivações e nos modos de entrada dos processos de internacionalização de redes varejistas que ocorreram de 2000 a 2012, quando comparados com os ocorridos entre 1975 e 2000 no Brasil? O motivo de escolha dos períodos discriminados na última questãoproposta se deve ao fato de que seis das sete internacionalizações de redes internacionais para o Brasil na história do setor supermercadista brasileiro ocorreram de 1975 até 2000, caracterizando, portanto, apenas um único caso de internacionalização no período de 2000 a 2012. Para responder às questões da pesquisa, o primeiro objetivo da pesquisa foi compreender as peculiaridades do ambiente de negócios no Brasil. Para isso, recorreu-se à autores que disponibilizam ferramentas e métodos de análise do macroambiente. Como o objeto de estudo desta pesquisa foi o Setor supermercadista, como está fortemente ligado ao mercado de consumo local, priorizou-se a análise de indicadores macroeconômicos que estivessem relacionados com o poder de compra da população, tais como, índice de desemprego, massa salarial, taxa de juros, disponibilização de crédito e taxa de inflação. Após a análise do macroambiente brasileiro, deu-se inicio ao segundo objetivo proposto na pesquisa, que foi compreender as peculiaridades do setor supermercadista no Brasil. Para isso, recorreu-se à autores, como Porter (1986), para investigar a estrutura da concorrência no setor, a relação entre as redes supermercadistas e as indústrias de alimentos, a relação entre as redes supermercadistas e o consumidor final e as barreiras de entrada existentes no mercado domésticos que impactam na estratégia de internacionalização de redes estrangeiras para o país. 19 Por fim, o terceiro e principal objetivo da pesquisa foi entender se as internacionalizações que ocorreram no setor supermercadista influenciaram, de alguma forma, em sua estrutura atual. Para a análise deste ponto, foi recorreu-se à literatura sobre internacionalização, tanto a teoria econômica como comportamental, como também a aplicação de teorias genéricas de internacionalização no setor varejista, destacando, em especial, o que os teóricos escreveram sobre motivações que levam à internacionalização, bem como os modos de entrada dos varejistas. 1.2 RELEVÂNCIA DO TEMA O setor de auto-serviço, no qual está incluído o setor supermercadista, mostrou ser de grande importância para o Brasil no século XXI. Neste período, o País enfrentou inúmeras crises externas e internas, como a crise da Argentina, a crise do apagão no Brasil, e, principalmente, a crise financeira mundial, em 2008, que afetou principalmente as exportações brasileiras, que tinham participação relevante no Produto Interno Bruto nacional. Por várias vezes o país precisou recorrer ao mercado interno para amortecer os efeitos de crises. E foi justamente o que aconteceu na crise de 2008, cuja influência na economia dos Estados Unidos e da Zona do Euro perdurou por vários anos. De 2000 a 2012, o mercado consumidor no Brasil sofreu grandes alterações, influenciadas pelo aumento do poder de compra da população. A estabilização da inflação no governo Fernando Henrique Cardoso somada ao aumento do salário mínimo, a queda nos níveis de desemprego da população, o aumento na concessão de crédito e de programas de subsídios às famílias de baixa renda, propiciadas pelos governos Lula e Dilma, fez com que a classe média no país crescesse, representando a maioria da população, fruto da melhoria na massa salarial das pessoas pertencentes às classes mais baixas. Esse fenômeno afetou positivamente o comércio no Brasil e o país tornou-se um dos que mais consomem no mundo. É o terceiro maior mercado de cosméticos do mundial, o quarto maior mercado de carros, o segundo maior mercado de cartões do mundo, quarto em consumo de bebidas, quinto em consumo de alimentos. E o 20 setor de auto-serviço, ao qual pertence os supermercados, é protagonista nesta conquista, uma vez que na cadeia de valor da indústria de alimentos, ele é que está em contato direto com o consumidor, disponibilizando produtos industriais nas gôndolas dos supermercados. De 2000 a 2012, o setor supermercadista respondeu por cerca de 5% do PIB brasileiro, com faturamento crescendo de R$ 69 bilhões em 2000, para R$ 243 bilhões em 2012. Após a crise financeira mundial de 2008, enquanto o setor industrial e agropecuário brasileiro amargavam quedas em seus faturamentos, muito em função da redução das operações de exportações, o setor supermercadista crescia continuamente, impulsionado pelo mercado interno brasileiro, caracterizado por consumidores com poder de compra cada vez maior. Outra característica relevante do setor é o fato de que as cinco maiores empresas do setor – CBD, Carrefour, Walmart, Cencosud e Zaffari – representam cerca de 42% do faturamento, o que mostra um perfil de pulverização quando comparado com a Zona do Euro, onde Inglaterra, França e Alemanha contemplam concentrações acima de 80% considerando a participação das cinco maiores empresas supermercadistas. Dada a relevância do setor de auto-serviço para a economia brasileira e as oportunidades de crescimento existentes, chama atenção a questão de que as quatro principais empresas tenham passado a ser conglomerados internacionais, como é o caso da Companhia Brasileira de Distribuição (Grupo Pão de Açúcar), que pertence ao grupo francês Casino, do grupo americano Walmart, do grupo francês Carrefour e do grupo chileno Cencosud. Buscou-se saber até que ponto a globalização influenciou e ainda pode influenciar no mercado varejista de alimentos e de que forma o governo vem regulando o grau de internacionalização do setor supermercadista. 1.3 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO O estudo foi elaborado em seis capítulos, explicados a seguir: 21 O primeiro capítulo contém a definição do problema, a relevância do tema e esta seção, que expõe como está organizado o trabalho; O segundo capítulo descreve a estrutura do setor supermercadista, os níveis de canais, classificações e formatos varejistas e varejo alimentício com lojas; O terceiro capítulo traz a revisão da literatura que abrange, basicamente, teorias de internacionalização e teorias sobre competitividade dentro de setores, fundamentais para dar embasamento à etapa de análise do caso; O quarto capítulo apresenta a metodologia da pesquisa. Neles estão descritas as perguntas de pesquisa, a motivação e vantagens de se utilizar o método do caso, a descrição do método de coleta de dados e as limitações intrínsecas à metodologia adotada; O quinto capítulo contempla o caso estudado. Foi descrita a situação do setor supermercadista antes do século XXI, de 2000 a 2003, de 2004 a 2007, de 2008 a 2012 e foi descrito, no final do caso, as perspectivas do setor para os próximos anos; O sexto capítulo traz a análise do caso, onda há um confronto entre fatos relevantes do caso e a teoria abordada no referencial teórico em pontos-chaves da análise, tais como, análise do macroambiente, análise do setor, fatores críticos de sucesso e análise das internacionalizações; O sétimo capítulo traz a conclusão sobre o assunto estudado, sugerindo temas para próximas pesquisas. Ao final do trabalho, estão disponíveis as referências bibliográficas pesquisadas para a elaboração desta dissertação. 22 2 O VAREJO DE ALIMENTOS NO BRASIL 2.1 COMÉRCIO VAREJISTA Varejo consiste em todas as atividades que englobam o processo de vendas de produtos e serviços para atender a uma necessidade pessoal do consumidor final. O varejista difere do atacadista, pois o atacado consiste no processo de venda para clientes institucionais que compram produtos e serviços para revendê-los ou como insumo para suas atividades empresariais (PARENTE, 2009). 2.2 PAPEL DO VAREJO E NÍVEIS DE CANAIS O varejista faz parte dos sistemas de distribuição entre o produtor e o consumidor, desempenhando um papel de intermediário, funcionando como um elo de ligação entre o nível de consumo e o nível do atacado ou da produção. Os varejistas compram,recebem e estocam produtos de fabricantes ou atacadistas para oferecer aos consumidores a conveniência de tempo e lugar para a aquisição de produtos. Apesar de exercerem uma função de intermediários, assumem cada vez mais um papel proativo na identificação das necessidades do consumidor e na definição do que deverá ser produzido para atender às expectativas do mercado (PARENTE, 2009). 2.3 ESTRUTURA E NÍVEIS DE CANAIS Entre o fabricante e o consumidor existem estruturas com diferentes níveis de intermediários, conforme ilustrado abaixo: 23 Figura 1 – Estrutura e Níveis de Canais no Varejo Fonte: Parente (2009) No nível 2, não existem intermediários, e o fluxo de produtos vai diretamente do fabricante para o consumidor. É o caso das vendas diretas realizadas por empresas como Avon ou Natura. Na estrutura nível 3, existe um tipo de intermediário, que é o varejista. No nível 4, atacadistas e varejistas desempenham o papel de intermediários. A relação entre fabricantes e grandes redes varejistas costuma ser direta. Porém, a distribuição para varejistas menores normalmente é feita por atacadistas, e, em regiões remotas, pode existir mais de um nível de atacadista (nível 5). Os varejistas são parte de uma cadeia de valor. São componentes importantes, mas não únicos. Portanto, dependem da participação e da integração dos outros participantes da cadeia. O comportamento de cada player afeta todos os participantes. Daí a necessidade de cooperação e trabalho em equipe, num trabalho integrado (PARENTE, 2009). A cooperação é fundamental para maximizar os resultados tanto do fornecedor como do varejista em um ambiente de grande concorrência como o do setor supermercadista no Brasil, cujas margens são pequenas. 2.4 CLASSIFICAÇÕES E FORMATOS VAREJISTAS As instituições varejistas podem ser classificadas segundo vários critérios, conforme ilustrado na figura abaixo: 24 Figura 2 – Classificações e Formatos Varejistas Fonte: Parente (2009) Analisaram-se apenas as classificações pertinentes à pesquisa. Os varejistas independentes têm apenas uma loja. São pequenos empresários, com administração familiar, que em geral utilizam baixo nível de recursos tecnológicos Se por um lado não há complexidade em administrar esse formato de lojas, já que são lojas de pequeno e médio porte, a grande desvantagem desse formato é sua limitação de recursos e de poder de barganha com fornecedores (PARENTE, 2009). As redes operam mais de uma loja, sob a mesma direção. À medida que o número de unidades aumenta, a rede começa a exercer um maior poder de barganha sobre seus fornecedores a fim de conseguir melhores condições de compra. Economias de escala também ocorrem em muitas outras atividades, como na propaganda, nos investimentos em tecnologia e gestão, na logística e nas pesquisas de marketing. As redes, entretanto, enfrentam alguns desafios, tais como, dificuldades no controle das operações, na flexibilidade e na adequação às diferentes características de mercado de cada unidade. 25 O varejo alimentício no Brasil apresenta-se muito desenvolvido. As empresas que operam no Brasil têm acompanhado as tendências mundiais, apresentando uma variedade muito completa de modelos e formatos de lojas, que atendem às diversas características e necessidades do mercado. Os formatos de lojas no varejo de alimento são: Quadro 1 – Formatos de Lojas no Varejo Fonte: Parente (2009) 2.5 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE SUPERMERCADOS (ABRAS) A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) é uma entidade que atua com a missão de representar, defender, integrar, impulsionar e desenvolver o setor supermercadista no País. com sede em São Paulo e escritório em Brasília, representa o setor de autosserviço no Brasil, que responde por cerca de 6% do Produto Interno Bruto (PIB) do País. Criada em 11 de novembro de 1968, ao longo de 40 anos a entidade criou uma ampla rede de relacionamento com a sociedade, com órgãos de governo e diversas instituições nacionais e internacionais, agindo de forma participativa com as 27 Associações Estaduais filiadas, com foco na evolução das lojas; no estímulo intercâmbio com os fornecedores; além do esforço dirigido ao melhor atendimento aos consumidores e à evolução do mercado de consumo no País. A ABRAS tem assumido papel cada vez mais relevante no ambiente econômico e político brasileiro, uma vez que o setor supermercadista vem crescendo a nove anos seguidos, mesmo diante de uma fraca expansão da 26 economia nacional. Em 2012, apesar de as vendas do segmento terem expandido abaixo da média dos últimos nove anos, a participação dos supermercados no PIB chegou a 5,5%, contra 5,4% de 2011, aumento de 0,1 ponto percentual. Dentro dos dois grandes grupos, o varejo tradicional, formato caracterizado por um check-out, e os supermercados, com dois ou mais check-outs, destaque para o segundo grupo, que cresceu em 2012 8,3% nominalmente (2,5% deflacionado), contra 7,9% do tradicional (1,9%). O desempenho comparado entre os dois grupos confirma o que acontece há onze anos: os supermercados, que há muito tempo respondem pela maior parte da receita, continuam a crescer numa razão superior à do formato tradicional. Em 2012, os supermercados passaram a responder por 92,5% das vendas do autosserviço contra 7,5% das lojas tradicionais. Anualmente, a instituição publica no mês de abril o Ranking Abras, onde é discutido o histórico dos principais indicadores do setor supermercadista por especialistas do mercado. Também são feitas análises macroambientais do cenário brasileiro, assim como perspectivas para os próximos anos. Os indicadores macroeconômicos e setoriais utilizados, pelo autor, para análise do setor supermercadista e do ambiente de negócios no Brasil foram retirados do Ranking ABRAS. 27 3 REFERENCIAL TEÓRICO 3.1 GLOBALIZAÇÃO E INTERNACIONALIZAÇÃO Este tópico tem por objetivo compreender as razões que levam empresas a buscar mercados internacionais, como também refletir sobre os pontos negativos da globalização. O século 21 relaciona-se com o fenômeno da interconectividade entre povos e as organizações do mundo, promovendo interesses pessoais ou organizacionais e atingindo objetivos econômicos, culturais e políticos. O resultado principal desse fenômeno, segundo MADEIRA (2009), é uma interdependência crescente entre ambientes humanos e físicos segmentados geograficamente. Embora o comércio eletrônico e a internet sejam os grandes indicadores dessa globalização, há outros indicadores como as viagens, os meios de comunicação, a tecnologia, os fluxos financeiros e o movimento dos povos. Porém, poucas organizações públicas e privadas são inteiramente globais em suas atividades. O panorama atual é marcado por (HITT, 2002; DUNNING, 2005): Aumento da interconectividade entre seres humanos e organizações, já que a interconectividade oferece um potencial para o progresso econômico e o relacionamento social entre os povos do mundo; Turbulência econômica e política, sendo a mudança, a volatilidade e a complexidade características gerais que vão além das regionais; Avanços contínuos em todos os tipos de conhecimento, com custos de comunicação em queda, fenômeno que tem reconfigurado a economia e a vida diária; Aumento das tensões, uma vez que a globalização traz em si a convergência e a divergência, a uniformidade e a diversidade, a competição e a cooperação, a centralização e a descentralização, o individual e o comunitário, tudo ao mesmo tempo; Reavaliação dos objetivos e índice de desenvolvimento humano, de modo que, comparando-se com o passado, mais atenção está sendo dada agora ao bem- 28 estar social, cultural e ideológico dos indivíduos e das comunidades e também aos critérios de geração de riqueza; Posiçãodas corporações globais e dos países cada vez mais dependentes de seu sucesso no estabelecimento de parcerias estratégicas, no aprendizado fruto dessas parcerias e da participação em uma rede global de atividades; Influência cada vez maior das estruturas de incentivo dos países e das empresas nas atitudes societárias, no sentido de se criarem estratégias para o desenvolvimento econômico e a responsabilidade social de entidades privadas e públicas; Papel crescente dos múltiplos shareholders, tais como entidades do consumidor, união de trabalhadores, que vêm influenciando a maneira de agir das organizações públicas e privadas; Propagação geográfica da democracia econômica de mercado variando em intensidade, pois há graus distintos de intervenção governamental de ordem nacional e/ou internacional para proteção econômica, política e social. Segundo AXINN, MATTHYSSENS (2002) e DUNNING (2005), nos últimos anos as empresas vinham enfrentando uma competição cada vez maior em função do surgimento de uma economia global. Isso provocou grande reestruturação na estratégia das empresas, que passaram a direcionar suas ações para fatores de sucesso que lhe confeririam vantagens competitivas no novo cenário, como internet, mídias sociais e mercados de alta tecnologia. A globalização da economia resulta da convergência de um grande número de outras mudanças que impulsionam o fenômeno da internacionalização (AXINN, MATTHYSSENS, 2002): (1) com origem na tecnologia, houve avanços em telecomunicações, promovendo comunicação mais rápida e efetiva dentro da firma e entre firmas, avanços nos transportes facilitando o deslocamento de bens e pessoas dentro dos continentes e entre eles, avanços nos processos de produção facilitando a adaptação dos custos de produção; (2) significativa redução das barreiras de comércio com a criação de blocos econômicos, tais como MERCOSUL, Nafta, Zona do Euro; (3) internacionalização dos estilos de vida, que teve origem nos processos de globalização; (4) os negócios pela internet estão alterando o formato dos mercados e dos controles, o que leva ao questionamento das abordagens de marketing, administração e internacionalização, pois a internet permite que 29 comerciantes internacionais tenham economia nos custos, penetração mais rápida nos mercados e transporte mais ágil de bens e serviços; (5) por meio da internet, muitas empresas de pequeno e médio porte podem vencer as tradicionais barreiras à exportação ou participação nos negócios internacionais, uma vez que as empresas desse porte que não possuem canais de distribuição no exterior podem usar a internet para vender em novos mercados; (6) outro impacto da internet se verifica nos processos internos da firma, pois a rede mundial possibilita o desenvolvimento de times virtuais e facilita o compartilhamento de conhecimento dentro das firmas e entre elas, o que impacta na colaboração e na concorrência global. Os compradores na economia de hoje, especialmente os empresariais, esperam pacotes de valor de seus fornecedores e, ao mesmo tempo, vasculham os mercados mundiais em busca de menores preços. Também os consumidores esperam melhores pacotes de valor por menor preço. Os consumidores estão preferindo produtos ambientalmente responsáveis ou serviços de empresas que claramente os valorizam como indivíduos. Esses desafios criam um novo tipo de tensão nas firmas que se expandem internacionalmente e requerem novos tipos de solução (AXINN, MATTHYSSENS, 2002). A disseminação de pequenas e médias empresas foi bastante facilitada não apenas pelo processo de globalização, mas também pela popularização da internet e por outras tendências contemporâneas (KNIGHT; MADSEN; SERVAIS, 2004). O modelo de estágios lento e gradual, não explica mais a nova realidade econômica (que trazia novidades como o e-commerce), na qual as relações nos mercados internacionais eram feitas e modificadas em uma velocidade muito grande (AXINN; MATHYSSENS, 2002). Muitas empresas já estariam nascendo globais hoje em dia. Os empreendedores não estariam comprando mais matéria-prima automaticamente de fornecedores locais. Eles estariam buscando as melhores oportunidades no mundo todo. A internet seria um facilitador para este objetivo (ISENBERG, 2008). No entanto, MAIA (2003) salienta uma série de críticas ao processo de globalização, tais como a falha em realizar a promessa de um crescimento mais rápido, o crescimento da corrupção em países com baixos graus de desenvolvimento e os diversos protestos direcionados à OMC alegando que a 30 expansão das corporações era vista como algo que ocorre à custa dos pobres e do meio ambiente. Portanto, no mundo atual, o fator humano e o ambiente físico têm de fazer parte das estratégias das corporações e das políticas de governo. O panorama econômico, político, social e cultural acaba por forçar mudanças nas estruturas empresariais. Essa é a realidade das empresas que atuam no mercado nacional ou internacional, ou que iniciarão suas atividades neste contexto (MADEIRA, 2009). 3.2 TEORIAS DE INTERNACIONALIZAÇÃO Neste tópico, serão apresentadas as teorias de internacionalização de empresas de modo geral, servindo de base para a análise das estratégias de internacionalização das principais empresas pertencentes ao setor varejista brasileiro no século XXI. Pode-se definir internacionalização como o processo por meio do qual a empresa começa a operar fora do seu mercado de origem (HITT, 2002). A internacionalização pode ser entendida como diferentes modos de atuar no exterior, que abrangem desde a exportação indireta, exportação direta, passando por licenciamento, joint ventures, alianças e aquisições, até investimento direto estrangeiro (ROOT, 1998). Trata-se de um processo que pode ser classificado em dois tipos: (1) para dentro (inward), tais como processos de importação, obtenção de franquias e aquisição de tecnologias e; (2) para fora (outward), tal como as exportações, concessão de licenças e franquias investimento direto no exterior (BARRETO, ROCHA, 2003). BARRETO e ROCHA (2003) argumentaram com base em HYMER (1976) que as razões para a internacionalização seriam a neutralização dos concorrentes, a exploração de vantagens competitivas e a necessidade de se diversificar. Ainda segundo os autores, a tomada de decisão aconteceria como resultado da avaliação realizada pela firma em uma condição de racionalidade limitada. Já para RICUPERO e BARRETO (2007), as causas das tendências de internacionalização são: (1) 31 buscar recursos, mercados e tecnologias; (2) enfrentar as condições de concorrência em uma economia mundial cada vez mais unificada; (3) manter os mercados internos; (4) expandir os negócios no mercado internacional; (5) fortalecer o poder de competição por estar próximo do mercado consumidor; (6) aproveitar as vantagens dos blocos econômicos; (7) usufruir as fontes internacionais de financiamento; (8) ultrapassar barreiras protecionistas; e (9) acessar rede de fornecedores. Os autores argumentam ainda que há possibilidades de resultados negativos no processo de internacionalização como exportação de empregos, prejuízo na balança de pagamentos em função da saída de divisas e redução dos níveis de investimento doméstico. CYRINO e BARCELLOS (2007) defendem que os benefícios do processo de internacionalização estão relacionados com a expansão de mercados, à melhoria de eficiência e ao processo de aprendizagem. Por outro lado, ainda segundo os autores, existem custos e riscos inerentes ao processo de internacionalização, tais como custos de coordenação e governança e riscos políticos e econômicos. A literatura acadêmica sobre internacionalização, segundo IETTO-GILLIES (1997), tem buscado esclarecer alguns pontos em comum, conforme mostrado abaixo: A escolha entre produção internacional, exportação,franquia ou licenciamento para fornecer a determinados mercados; Por que, em alguns casos, a penetração de um mercado pode requerer o uso de joint ventures em lugar de uma sole venture; A escolha entre investimentos de crescimento orgânico (greenfield) ou fusões e aquisições como estratégias de crescimento; Em relação à organização da produção: a expansão interna ou o uso de terceirização de componentes e subcontratados; Os diferentes padrões observáveis entre indústrias e entre empresas nas mesmas indústrias; Finalmente, no nível macro, é necessário explicar o padrão industrial e geográfico do investimento estrangeiro direto através do tempo. 32 As teorias tradicionais de internacionalização foram desenvolvidas por vários autores com diferentes perspectivas. BORINI, COELHO, RIBEIRO E PROENÇA (2004) agrupam as teorias em dois blocos. O primeiro bloco traz as teorias econômicas e o outro, as teorias comportamentais: I – Teorias Econômicas a) Internalização (P. Buckley; M. Casson; A. Rugman); b) Custos de Transação (O. Williamson); c) Paradigma Eclético (J. Dunning); d) Organização Industrial (S. Hymer; R. Caves); e) Ciclo de Vida do produto (R. Vernon); f) Teoria da Vantagem Competitiva (M. Porter); II – Teorias Comportamentais a) Escola de Uppsala (J. Johanson; J-E. Vahlne); b) Teoria de networks (U. Anderson; M. Forsgren; U. Holm; J. Johanson; G. Mattson). De acordo com ALMEIDA (2005), as bases das teorias econômicas da internacionalização da firma provêm dos modelos de organização industrial da Economia, que buscam entender os movimentos das firmas em situações onde há barreiras à competição, propondo imperfeições de mercado que afetam diretamente as decisões de internacionalização. Decidir por produzir externamente resultaria da possibilidade de uma empresa utilizar a seu favor as imperfeições de mercado em outro país. Por sua vez, as teorias comportamentais, segundo WEISFELDER (2001), dirigiram-se mais a explicar não os motivos que levam as empresas a investir no exterior, como no caso das teorias econômicas, mas sim o processo de internacionalização da firma e as forças que atuam no decorrer deste processo. A escola de Uppsala propõe que o movimento na direção de mercados estrangeiros e a escolha do modo de entrada se dariam como resultado de uma série de decisões incrementais que resultariam em envolvimento crescente da empresa com as operações internacionais (JOHANSON; VAHLNE, 1977). O acúmulo de experiência 33 internacional permitiria a uma firma assumir níveis crescentes de comprometimento de recursos, levando-a a escolher sequencialmente modos de entrada de maior nível de propriedade e controle. Pelo fato da presente pesquisa dar enfoque ao setor de varejo e não ao setor industrial, discutiremos a seguir a teoria dos custos de transação, a teoria da internalização e o Paradigma Eclético, representando a abordagem econômica. Ambas as teorias comportamentais – Escola de Uppsala e a teoria de networks – também serão discutidas no próximo tópico, o qual discute a abordagem comportamental. 3.2.1 Teorias econômicas Na abordagem econômica, a internacionalização é analisada a partir de aspectos econômicos e da ótima alocação de recursos. Por terem sido as primeiras análises realizadas a cerca dos processos de internacionalização de empresas, as teorias econômicas focalizaram-se na questão do investimento externo, levando em consideração o nível de agregação da macroeconomia, das indústrias e das empresas. A abordagem econômica considera que as decisões tomadas em relação ao processo de internacionalização são predominantemente racionais e objetivas. Tais teorias econômicas privilegiam o enfoque macroeconômico, considerando teorias de comércio, a localização, o balanço de pagamentos e as taxas de câmbio (HEMAIS e HILAL, 2004). Figura 3 - Internacionalização da Firma: enfoque econômico Fonte: HEMAIS e HILAL (2004) 34 3.2.1.1 Teoria dos custos de transação Baseando-se no trabalho de COASE (1937) e WILLIAMSON (1971), HENNART (1982) é considerado o responsável pela aplicação da teoria dos custos de transação aos negócios internacionais. A fim de compreender a Teoria dos Custos de Transação, deve-se levar em conta que a empresa, ao se instalar em um mercado, incorrerá em custos. São os chamados custos de transação. Os custos de transação são custos de trocar, capturar e proteger direitos de propriedades e resultam da elaboração e negociação dos contratos, da mensuração e fiscalização de direitos de propriedades, do monitoramento do desempenho, da organização das atividades, da adaptação às mudanças no sistema econômico, do monitoramento das transações e do desempenho dos agentes envolvidos (SAES, 2007). No caso da empresa optar por entrar no mercado estrangeiro por meio da exportação, enfrentará os custos relacionados à busca de informações e ao cumprimento de contratos. Já no caso de a empresa optar por entrar no mercado de forma mais comprometida, como por meio de aliança estratégica, subsidiária ou aquisição de outra empresa, incorrerá nos custos de obtenção de conhecimento do mercado, instalação da empresa no exterior, controle e coordenação das atividades, entre outros. São os chamados custos de internalização (BORINI, COELHO, RIBEIRO, PROENÇA, 2004). Esta teoria encontra-se ancorada na lógica de eficiência. Sugere-se que uma estrutura adequada de governança para dada transação seria aquela que minimizasse os custos totais de transação e produção. A firma deveria realizar as atividades que ela pudesse executar a custos mais baixos e confiar no mercado para as atividades que outros fornecedores pudessem realizar de forma mais competitiva (Pan; TSE, 2000). 3.2.1.2 Teoria da internalização A teoria de internalização pode ser vista como uma variante da teoria dos custos de transação aplicada aos negócios internacionais (MADHOK, 1997). A 35 origem desta teoria é atribuída a artigo seminal de COASE (1937). Segundo o autor, a firma possuiria limites, sendo seu tamanho máximo definido pelas dificuldades de coordenação e pelos custos que voltassem a crescer. Uma firma se tornaria maior conforme transações adicionais (entende-se por transações desde os produtos até a tecnologia, passando pelas formas de gestão e, principalmente, o conhecimento) fossem organizadas pelos gestores, e ficaria menor conforme ele abandonasse a organização de tais transações. Coase se referia desta forma ao grau de internalização das atividades de uma firma. Todas as mudanças que melhorassem as técnicas de gerenciamento tenderiam a aumentar o tamanho da firma (DIB, 2008). Segundo ALMEIDA (2005), um elemento importante das teorias de internacionalização seriam as falhas de mercado. Quando elas ocorressem, em virtude de fatores como custos de informação ou oportunismo, estariam criadas as condições para que uma empresa optasse pelo investimento direto em lugar, por exemplo, de licenciamento, como modo de entrada em um mercado externo. Segundo a teoria de internalização, a escolha dos locais obedece a um critério de oferta de custos menores para as atividades e implica internalização do mercado até os custos das trocas se igualarem. Há tendência de internalização quando o volume de trocas entre firmas é intenso. A firma internalizará a produção quando os custos de produção no mercado e a especificidade dos ativos forem grandes. A externalização da produção acontece na medida em que os custos das transações no mercado sejam inferiores aos de produção dentro da firma ou quando os ativos exigidos tendam a ser pouco específicos, ou, ainda, para vencer barreiras de entradas e incertezas de mercados (HEMAIS, HILAL, 2004). A sequência dos modos de entrada em mercados internacionais seria: exportação, investimento direto e licenciamento. Entretanto, o padrãode evolução não é único. As formas adotadas para a expansão da firma estão relacionadas, assim, à estrutura de custos e ao padrão de crescimento do mercado. O investimento direto no exterior, por exemplo, ocorreria quando os custos da internalização fossem menores que os benefícios advindos para a empresa (FINA; RUGMAN, 1996). 36 3.2.1.3 Paradigma Eclético da Produção Internacional Dunning, em seu artigo publicado em 1988, em que procura responder, esclarecer e ajustar seu Paradigma Eclético da Produção Internacional, diz que sua intenção com o mesmo era “oferecer um framework holístico através do qual é possível identificar e avaliar a importância dos fatores que influenciam tanto o ato inicial de produção no exterior por corporações como também o crescimento da referida produção”. Para o autor, o Paradigma Eclético não é uma teoria, mas um arcabouço para analisar a produção internacional. Sua intenção é delinear uma explicação ampla para a teoria de produção internacional da firma com base em vários ramos da teoria econômica (HEMAIS, HILAL, 2004). O ponto de partida da teoria eclética reside na própria firma nacional servindo seu mercado doméstico. Essa firma teria diversas opções de crescimento horizontal ou vertical, podendo adquirir outras firmas nacionais, ou expandindo-se para explorar mercados estrangeiros. O Paradigma Eclético (ou teoria OLI) determina que a firma, ao decidir iniciar uma produção internacional, precisa ter alguma vantagem sobre seus concorrentes. Quando isso acontece, a firma internaliza a produção. Este modelo está estruturado sobre três conjuntos de vantagens que podem ser percebidas por uma empresa, propriedade (ownership), localização (location) e internalização (internalisation) (HEMAIS, HILAL, 2004). DUNNING (1997) identificou três tipos de vantagens associadas à propriedade (também conhecidas como vantagens monopolísticas ou vantagens competitivas): aquelas de posse ou acesso a ativos geradores de receitas, aquelas relativas a uma planta instalada e aquelas referentes à diversificação geográfica ou multinacionalidade. Este tipo de vantagem inclui os aspectos relacionados aos ativos tangíveis e intangíveis, como marcas, capacitação tecnológica e qualificação de mão-de-obra. A empresa, ao atuar no estrangeiro, pode e deve aproveitar suas competências como um diferencial para disputar com os novos concorrentes. Essas competências essenciais seriam, sobretudo, desenvolvidas na matriz e transmitidas para as subsidiárias (HEMAIS, HILAL, 2004; FLEURY, 2006). As vantagens de localização, ainda segundo o autor, estão associadas aos ganhos que se pode obter através da produção em determinado país. Isso parece envolver a possibilidade de se instalar em um país para ganhar acesso (ou 37 competitividade) em outro. As vantagens de localização são aquelas oferecidas pelos países – como recursos naturais, mão-de-obra, infraestrutura e tamanho do mercado. É um caso de vantagem de localização a busca por matérias-primas e mão-de-obra mais barata do que no país de origem, o que viabiliza a produção destinada a outros mercados a custos mais competitivos em nível internacional (HEMAIS, HILAL, 2004; FLEURY, 2006). Finalmente, as vantagens de internalização podem ser interpretadas como a transferência de ativos e conhecimentos para o país desejado. Essa vantagem apoia-se na Teoria da Internalização e na Teoria dos Custos de Transação. Assim, as vantagens da internalização advêm da diminuição dos custos de câmbio, da propriedade da informação e redução da incerteza, do maior controle da oferta e dos mercados e, sobretudo, da maior possibilidade de acordos contratuais e de negócios (HEMAIS, HILAL, 2004; FLEURY, 2006). Em trabalho posterior, DUNNING (1997) sugeriu a incorporação de novos aspectos ao Paradigma Eclético, em particular a consideração de alianças estratégicas e redes de relacionamento entre as vantagens proprietárias. Sugeriu, também, que se desse maior peso às vantagens de localização decorrentes de concentração geográfica de ativos imobilizados interdependentes, à integração espacial de atividades econômicas e aos impactos de alianças em termos de vantagens de localização. Para MTIGWE (2006), a principal contribuição do paradigma foi aumentar a consciência de que uma empresa precisa construir e manter vantagens competitivas para ser bem sucedida em mercados internacionais. Entretanto, o autor apontou limitações no poder preditivo do modelo e em sua ênfase no custo geral de se conduzir negócios internacionais, ênfase esta atribuída à premissa de que tais negócios seriam exclusivos de grandes empresas multinacionais, capazes de possuir vantagens de propriedade significativas. Entretanto, o mundo já assiste a um grande crescimento no volume de negócios internacionais conduzidos por empresas pequenas que podem ou não possuir as vantagens de propriedades e que não recebem séria consideração no Paradigma Eclético. 38 3.2.1.4 Discussões e Limitações das Abordagens Econômicas Abordagens Econômicas têm sido comumente utilizadas para o estudo de firmas de grande porte (JONES, 2003), bem como para analisar a alocação de recursos dentro de empresas multinacionais. MCDOUGALL, SHANE E OVIATT (1994) consideraram que tais teorias falham no estudo de novos empreendimentos internacionais, pois elas assumem que as empresas tornam-se internacionais muito tempo depois de sua formação, e focam apenas empresas grandes e maduras. As autoras defendem a utilização de uma perspectiva de empreendedorismo para enriquecer a análise do processo de internacionalização. De acordo com DIB (2008), RIALP E RIALP (2001) seguiram a mesma linha crítica em relação às abordagens econômicas, defendendo que tais teorias se concentram em grandes empresas ou em empresas com grande penetração internacional, como sua única referência empírica válida. Logo, ao analisar cenários contemplados por empresas de porte menor em processos de internacionalização, essas teorias falhariam. Para ETEMAD (2004), essa abordagem tem pouca relevância quando para empresas de menor porte que buscam internacionalizar-se. Essa também é a opinião de MITGWE (2006), para quem, por muitas décadas, os negócios globais foram considerados como exclusivos das grandes multinacionais e a teoria mais tradicional de negócios internacionais era desenvolvida para explicar o comportamento de tais empresas. 3.2.2 Teorias Comportamentais A abordagem comportamental de internacionalização da firma originou-se na escola de Uppsala, onde foram realizados diversos estudos que se encontram na base dos desenvolvimentos teóricos que dão suporte à esta teoria, buscando-se, principalmente, superar as limitações expostas anteriormente das abordagens econômicas, principalmente no que se refere ao processo de internacionalização de empresas de menor porte. Sendo o modelo de Uppsala o modelo mais citado e testado empiricamente (BELL, 1995; PETERSEN E PEDERSEN, 1997) na literatura sobre internacionalização, ele será tomado nesta dissertação como representativo da abordagem comportamental. Além disso, o modelo de Uppsala não se refere a 39 algum tipo particular de empresa (JOHANSON E VAHLNE, 2003). Para WEISFELDER (2001), a preocupação dos teóricos de Uppsala dirigiu-se mais a explicar não os motivos que levam as empresas a investir no exterior, como no caso das teorias econômicas, mas sim o processo de internacionalização da firma e as forças que atuam no decorrer deste processo. 3.2.2.1 Teoria de Uppsala Na década de 70, pesquisadores da Universidade de Uppsala (JOHANSON, WIEDERSHEIM-PAUL, 1975; JOHANSON, VAHLNE, 1977) focalizaram seu interesse no processo de internacionalização das firmas suecas manufatureiras e desenvolveram um modelo de como essas firmas escolhiam mercados e formas de entradas quando decidiam se internacionalizar.A Universidade de Uppsala é a mais antiga universidade na Escandinávia, fundada em 1477 destaca-se nas áreas da investigação e ensino superior. Oito dos seus professores e investigadores foram galardoados com o Prémio Nobel e no total quinze pessoas, que de alguma forma estão relacionadas com a universidade, também receberam o prémio. Figura 4 – Modelo de Uppsala Fonte: HEMAIS e HILAL (2004) 40 A principal contribuição da Escola de Uppsala é o fato de trazer para o centro do debate a perspectiva da Teoria do Comportamento Organizacional, além do enfoque econômico (HEMAIS, HILAL, 2004). O modelo baseia-se no desenvolvimento da firma individual, na aquisição gradual, na integração e no uso do conhecimento sobre operação e mercados estrangeiros como explicação para a existência de um comprometimento crescente nos mercados internacionais. Para JOHANSON E VAHLNE (1977), a internacionalização acontece por meio de uma série de decisões incrementais. É um processo gradual. Um dos pressupostos da escola é que a internacionalização da firma, seja por meio de exportações, seja por meio de investimentos diretos, é uma decorrência do seu crescimento. Quando o mercado doméstico está saturado e, consequentemente, o número de oportunidades lucrativas diminui até o ponto de impedir a ampliação da firma, devem-se buscar novos locais para se expandir. Dado que as novas alternativas geralmente parecem ser mais incertas do que as velhas fórmulas familiares, supõe-se que a expansão seja dirigida para locais os mais possíveis similares àqueles das operações existentes (HILAL, HEMAIS, 2003). O modelo emprega uma primeira variável, a distância psíquica, para definir os padrões de internacionalização. Segundo esse conceito, as firmas se expandem primeiro para mercados psiquicamente próximos e depois para mercados mais distantes, à medida que desenvolvem conhecimento. De acordo com HEMAIS E HILAL (2004), a distância psíquica pode ser definida como a soma de fatores que não permitem ou dificultam o fluxo de informações entre determinados mercados. As diferenças podem ser de cultura, idioma, educação, práticas de negócios e desenvolvimento industrial. Por essa razão, as firmas escolhem como mercados internacionais os países com menor distância psíquica em relação ao país da matriz. Segundo o modelo de JOHANSON E VAHLNE (1977), a seleção de países para a internacionalização seguiria uma relação inversa com a distância psíquica entre o país-alvo e o país de origem. Além disso, o modelo propunha que o desenvolvimento se daria através de estágios sequenciais em ordem incremental de comprometimento de recursos. ARENIUS (2005) concluiu que o conceito de distância psíquica ainda seria válido, mas que deveria ser considerada a importância do empreendedorismo individual e do capital social, este último oriundo dos networks, onde a empresa busca fatores capazes de suprir a sua limitação de 41 recursos próprios, como conhecimento de mercados externos, ou fatores capazes de diminuir o risco percebido dos empreendimentos internacionais, como reputação, credibilidade e confiança. A segunda variável justifica o gradualismo do processo de internacionalização: é a falta de conhecimento (ou dificuldade de obtê-lo) sobre o mercado para o qual pretende se deslocar. Identificam-se dois tipos de conhecimento. O primeiro é chamado de conhecimento objetivo, ou seja, aquele que pode ser ensinado; o segundo é o conhecimento experimental, que se desenvolve por meio da vivência pessoal de cada indivíduo. O conhecimento experimental é avaliado como crítico no processo de internacionalização, já que é adquirido gradativamente, à medida que a empresa vai tendo experiências internacionais (HEMAIS E HILAL, 2004). Desta forma, o processo de internacionalização não seria o resultado de uma alocação ótima de recursos de acordo com a perspectiva macroeconômica dos países ou a perspectiva macroeconômica das dinâmicas industriais entre empresas, mas sim de um processo incremental decorrente da racionalidade limitada e de objetivos de redução de risco. Assim, as empresas primeiramente iriam explorar seus mercados domésticos e depois, lentamente, começariam a exportar. A atividade inicial de exportação poderia ser indireta, através de agentes. Com o passar do tempo, seriam estabelecidas subsidiárias de vendas. O aumento do comprometimento com o mercado internacional teria seu ápice com o estabelecimento de unidades de produção no estrangeiro. No entanto, haveria três exceções ao processo de comprometimento crescente feito em pequenos passos (JOHANSON E VAHLNE, 1990): Quando as firmas possuíssem muitos recursos, as consequências do comprometimento seriam pequenas; Quando as condições de mercado fossem estáveis e homogêneas, conhecimento de mercado relevante poderia ser adquirido de outras maneiras; Quando a firma possuísse experiência considerável em mercados com condições similares, poderia generalizar sua experiência para outro mercado específico. 42 3.2.2.2 Teoria das Redes A terceira variável é o relacionamento com outras entidades do mercado estrangeiro, ou a network industrial (industrial network). Para melhor capturar o que ocorre, principalmente nas fases iniciais da internacionalização, JOHANSON E VAHLNE (2003) buscaram compatibilizar seu modelo tradicional com a perspectiva de networks. Os autores ainda apontaram similaridades entre os processos de internacionalização e de empreendedorismo, pois ambos poderiam ocorrer sob grande incerteza. Pela teoria das redes as empresas desenvolvem, em suas diversas ações, seja na cadeia de suprimentos ou para gerar valor para seus produtos e serviços, uma série de relações que podem ser duradouras ou não. As companhias podem participar de várias redes, ou apenas de uma, e a estrutura dessas firmas pode conter vários tipos de vínculo diferentes, como legais, sociais e técnicos. As ligações dentro dessas redes podem ser mais ou menos fortes e, ainda, formais ou informais (MIRANDA, 2012). Na teoria de redes, na qual os seus participantes acumulam interdependências, a rede passaria a ser o próprio mercado. A companhia deixa de ser um participante independente, para integrar grupos de interesses semelhantes ou complementares (WEISFELDER, 2001). Essa proposta vai de encontro com o que se entende tradicionalmente por mercado, que é algo de fora, externo à empresa. Redes nacionais e internacionais poderiam estar conectadas por empresas que se relacionam com atores estrangeiros, o que as transforma em nó que liga redes locais com redes internacionais. Desta forma, as redes poderiam não só instigar, como facilitar a internacionalização (PRASHANTHAM, 2004). A partir de algum tipo de intenção estratégica, muitas ações seriam tomadas para diminuir a incerteza percebida. De modo análogo à internacionalização, o processo empreendedor estaria ligado a aprendizado por experiência e a fazer uso de alguns relacionamentos previamente existentes (networks). Nos mercados industriais as firmas estabelecem, desenvolvem e mantêm relacionamentos com outras entidades. Esses relacionamentos formam redes de networks. Fazem parte dessas redes os clientes, fornecedores, concorrentes, distribuidores, agentes ou agências reguladoras. Os atores que compõem a rede estão ligados por técnicas, de 43 maneira social, cognitiva, administrativa, legal e econômica. Como resultado, o modelo demonstra que o processo de internacionalização acontece no interior da organização e entre organizações. 3.2.2.3 Limitações das Teorias Comportamentais Segundo PETERSEN E PEDERSEN (1997), poucos teóricos contestaram a afirmação do modelo de Uppsala de que a internacionalização de uma empresa deveria ser associada a um processo, ao menos a um processo cognitivo que ocorresse dentro da mente do tomador
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