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Cotidiano da Mulher com HIV/AIDS

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO 
ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA 
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE 
DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM 
PROGRAMA DE QUALIFICAÇÃO INSTITUCIONAL PQI/CAPES 
 
 
 
 
 
 
 
STELA MARIS DE MELLO PADOIN 
 
 
 
 
O COTIDIANO DA MULHER COM HIV/AIDS DIANTE 
DA (IM)POSSIBILIDADE DE AMAMENTAR: um 
estudo na perspectiva heideggeriana 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RIO DE JANEIRO, RJ, Brasil. 
2006
STELA MARIS DE MELLO PADOIN 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O COTIDIANO DA MULHER COM HIV/AIDS DIANTE 
DA (IM)POSSIBILIDADE DE AMAMENTAR: um 
estudo na perspectiva heideggeriana 
 
 
 
Tese de Doutorado apresentada ao Programa 
de Pós-Graduação em Enfermagem, Escola 
de Enfermagem Anna Nery, Universidade 
Federal do Rio de Janeiro, como parte dos 
requisitos necessários à obtenção do título de 
Doutora em Enfermagem. 
Área de concentração: a Enfermagem no 
contexto social brasileiro. 
Linha de Pesquisa: Enfermagem em Saúde 
da Mulher. 
 
 
 
Orientadora: Dra. ÍVIS EMÍLIA DE OLIVEIRA SOUZA 
 
 
 
 
RIO DE JANEIRO 
Maio, 2006.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Padoin, Stela Maris de Mello 
 O cotidiano da mulher com HIV/aids diante da (im)possibilidade de 
amamentar: um estudo na perspectiva heideggeriana / Stela Maris de Mello 
Padoin. - Rio de Janeiro: UFRJ/EEAN, 2006. 
 xiii, 195f. 
 Orientadora: Drª Ívis Emilia de Oliveira Souza 
 Tese (doutorado) – UFRJ/ Escola de Enfermagem Anna Nery/ Programa de 
Pós Graduação em Enfermagem, 2006. 
 Referências bibliográficas: f. 175 – 184. 
 
 1. Enfermagem. 2. Síndrome de Imunodeficiência Adquirida. 4. Saúde da 
 Mulher 5. Amamentação I. Souza, Ívis Emília de Oliveira II. Universidade 
 Federal do Rio de Janeiro, Escola de Enfermagem Anna Nery, Pós-Graduação 
 em Enfermagem. III. Título 
 
 CDD: 610.73 
STELA MARIS DE MELLO PADOIN 
 
O COTIDIANO DA MULHER COM HIV/AIDS DIANTE DA 
(IM)POSSIBILIDADE DE AMAMENTAR: UM ESTUDO NA 
PERSPECTIVA HEIDEGGERIANA 
 
Tese submetida à Banca Examinadora da Escola de Enfermagem Anna Nery, da Universidade 
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau 
de Doutora em Enfermagem. 
 
Aprovada em: 25 de maio de 2006 por: 
 
 
_______________________________________________ 
Profª Ívis Emília de Oliveira Souza – Orientadora 
Doutora em Enfermagem 
Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ - RJ 
 
_________________________________________ 
Profª Lúcia Beatriz Ressel 
Doutora em Enfermagem 
Departamento de Enfermagem/UFSM - RS 
 
_______________________________________ 
Profª Olga Rosaria Eidt 
Doutora em Ciências da Saúde 
Escola de Enfermagem/UFRGS - RS 
 
__________________________________________________ 
Prof João Aprígio Guerra de Almeida 
Doutor em Saúde da Mulher e da Criança 
Instituto Fernandes Figueira/FIOCRUZ - RJ 
 
_________________________________________________ 
Profª Dra Maria Antonietta Rubio Tyrrell 
Doutora em Enfermagem 
Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ - RJ 
 
______________________________________________ 
Profª Dra Elisabete Pimenta Araújo Paz 
Doutora em Enfermagem 
Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ - RJ 
 
______________________________________________ 
Profª Dra Maria Inês Couto de Oliveira 
Doutora em Saúde Coletiva 
Instituto de Saúde da Comunidade da 
 Faculdade de Medicina/UFF - RJ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Acredito que desenvolvi meu modo de ser em meio ao 
carinho, respeito, persistência, solidariedade e amor, 
energias que vêm especialmente de minha mãe, Marlene 
Freitas de Mello, e de meu pai, José Antônio Teixeira de 
Mello; a eles dedico este trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Penso que só foi possível concluir este trabalho devido à 
ajuda, paciência e consideração de meu companheiro, 
Ailson José Padoin e de nossos filhos, Ailson José Padoin 
Júnior e Letícia de Mello Padoin, família que construí e 
a que dedico todos os momentos de meu existir. 
AGRADECIMENTOS 
 
 
E agora . . . é tempo de agradecer as pessoas significantes que 
acompanharam a realização deste trabalho. É hora de terminar, porque foi 
possível iniciá-lo. Por isso, primeiramente, agradeço aos dirigentes da 
Instituição onde desenvolvo minhas atividades de docente, a Universidade 
Federal de Santa Maria – UFSM, o Centro de Ciências da Saúde e a todas as 
colegas do Departamento de Enfermagem que, de uma forma ou outra, 
colaboraram para que o PQI (Programa de Qualificação Institucional) e 
também este trabalho fosse possível, possibilitando-me espaço, tempo e subsídios 
para reflexão. 
Começo minhas lembranças desde o momento em que eu e minhas 
colegas do departamento iniciamos, o processo de construção do PQI e 
agradeço o empenho do Professor Dr. Fernando Molinos Pires Filho, na época 
professor visitante em nosso Departamento. Sua ajuda, dedicação e 
competência foram fundamentais para o sucesso desse projeto. 
Ao desenvolvermos a Cooperação Técnica com a Escola de Enfermagem 
Anna Nery– UFRJ, conhecemos a Profa. Dra. Ivone Evangelista Cabral, naquele 
momento diretora da escola. Na pessoa dela agradeço a todas/os as/os 
docentes e funcionárias/os que, de algum modo, foram importantes no processo 
de implantação e implementação do PQI, em especial a Sônia Xavier e o Jorge 
Anselmo, que, na secretaria da Pós-Graduação, desenvolvem suas atividades 
sempre prontos para ajudar-nos. 
Iniciou-se o momento de participar da seleção para o Curso de 
Doutorado. São muitos papéis, documentos, anseios e preocupações. Então 
pessoas como a Jaqueline Ferreira de Mello, minha cunhada, que organizou e 
digitou meu currículo, e como a colega e grande amiga Cristiane ,estavam lá. 
Agradeço a sua presença e dedicação neste momento. 
Cara colega Eliane Tatsch Neves Vernier, lá vamos nós, mais de trinta 
horas de viagem, muito choro e outras preocupações. Não poderíamos 
 vi
imaginar o que nos esperava na cidade maravilhosa. Depois desse tempo, certa 
vez somei, já tínhamos percorrido 40 mil Km. Entendo por que foi você a minha 
companheira do dia a dia, das viagens, dos momentos de muita saudade, de 
choro, de passeios, de aulas e de lidas domésticas. Foi você porque você é 
especial, mediadora, sensível, terna, aquela com quem foi possível 
compartilhar sonhos, realidade familiar, frustrações e alegrias. Lembrarei 
sempre com muita emoção de nosso conviver. Também lembrarei da Dona 
Otília, a quem agradeço por partilhar sua morada. 
Conquistei muitos amigos no Rio de Janeiro e agradeço o acolhimento, 
as discussões e reflexões compartilhadas com os colegas da turma Doutorado 
2004/1 da EEAN, especialmente a Angelina, que me acolheu em sua casa. 
Lembrarei com carinho de todos/as: Laisa, Almir, Denise, Elza, Roberto, 
Jurema, Elizabete Rose e também da Angélica, do Sérgio, do Marcos, colegas de 
outras turmas. Acredito que cada um, com seu modo de ser, trouxe sua 
contribuição para a construção deste trabalho, assim como cada docente desta 
escola. 
No entanto, foi muito importante para minha formação a contribuição 
da Profa. Dra. Ivone Evangelista Cabral, seu acolhimento, e os momentos de 
discussão no Núcleo de Pesquisa de Enfermagem em Saúde da Criança 
(NUPESC) foram fundamentais, assim como as reuniões no Núcleo de Pesquisa 
de Enfermagem em Saúde da Mulher (NUPESM). 
Acredito que vivenciar o movimento de integração entre os estudantes e 
docentes da graduação, pós-graduação e os profissionais dos serviços de saúde 
na EEAN foi fundamental em minha formação. Foi também importante 
conhecer a dinamicidade e a flexibilidade do Programa de Pós-Graduação 
dessa Escola. 
Nesta experiência, agradeço de modo singular a Professora Dra. Ívis 
Emília de Oliveira Souza, orientadora deste trabalho, você é uma pessoa muito 
especial. Sua dedicaçãoà graduação e à pós-graduação da EEAN e à 
Enfermagem Brasileira é um exemplo de compromisso profissional. Agradeço a 
possibilidade de compartilhar com você este trabalho, de conviver e reconhecer 
o que significa respeitar o tempo de cada um para crescer e amadurecer. O 
 
 vii
significado da escuta e do cuidado solícito .... compreendi na convivência com 
você. Muito abrigada. 
No momento da produção dos dados para esta tese, encontrei muitas 
pessoas. Agradeço o acolhimento dos profissionais do Hospital Universitário de 
Santa Maria - HUSM, em especial a Dona Irene, enfermeira no ambulatório de 
pré-natal, a Maria Clara Valadão, médica no serviço de doenças infecciosas 
pediátricas e as estudantes da Enfermagem e da Psicologia, companheiras de 
trabalho há tantos anos. 
Não poderia deixar de lembrar dos momentos vividos com as mulheres 
soropositivas para o HIV. Agradeço a confiança que depositaram em mim e a 
contribuição possível a partir da reflexão daquilo que é vivido por elas no dia-
a-dia e no enfrentamento das mais variadas e adversas situações do conviver 
humano. 
Foi também este um dos momentos pouco tranqüilos que tive durante este 
curso; ouvir as mulheres e sua luta diária mobilizou muitos sentimentos em 
mim e lembro com muito carinho que o ombro amigo que me acolheu, me 
ouviu e me consolou foi o da colega Cristiane Cardoso de Paula. Agradeço a 
possibilidade de trabalharmos lado a lado, sermos companheiras na luta 
contra a aids, junto com o Diego Schaurich e com a Vaneza de Andrade da 
Fontoura pessoas especiais. E também com tantas/os outras/os profissionais e 
estudantes participantes do Programa Aids educação e cidadania. Cris, saber 
que posso contar contigo, com sua atenção, carinho, dedicação e também sua 
competência profissional me faz pensar que sua presença tem sido muito 
significativa. 
Creio que para chegar a este momento foram necessários muito esforço e 
dedicação, pois manter-me ausente e distante de minha família foi uma 
tarefa um tanto difícil, porém um aprendizado. Acredito que foi possível morar 
no Rio de Janeiro porque divido com a Izodar dos Santos as lidas domésticas 
há 15 anos e, por isso, sou muito grata a ela. 
Mas, principalmente, foi possível porque tenho uma “grande família”, 
desenvolvi meu modo de ser em meio a muito carinho, respeito, persistência, 
solidariedade e amor, energias que vêm especialmente de minha mãe, Marlene 
 
 viii
Freitas de Mello, e de meu pai, José Antônio Teixeira de Mello. Sou muito grata 
a tudo que eles já me proporcionaram nesta vida e que ainda proporcionam. 
Agradeço a eles a minha vida e a possibilidade de conviver com meus 
queridos irmãos e cunhadas – João Baptista-Andréa e Cleber Antônio-
Jaqueline; irmãs e cunhados – Maristela-Luciano e Lucíola-Cristiano, e meus 
queridos sobrinhos/as e afilhado/a – Casio, Harrieth, Missiani, Leopoldo, 
Bibiana, Antônio, Stéfani, Cleber, Luizi, Laura, Mateus e Nicolas, todos 
maravilhosos. 
Também agradeço ao Seu Anacleto Padoin, meu sogro, e à Dona 
Arlinda Jorge Padoin, minha sogra, pessoas solidárias e com quem sei que 
posso contar em todos os momentos, bem como minhas cunhadas e cunhados, 
Auristela-Carlos; Maristela-Breno e Marcelo-Sabrina, e meus queridos 
sobrinhos/a, Bruno, Guilherme, Julia, Pedro, Lourezo e Enrico. 
Agradeço de modo muito especial ao meu esposo Ailson, que foi pai e mãe 
neste período, que respeita meu tempo de estudar, de trabalhar, de conviver 
com a família, de amar, é dedicado e companheiro, te amo. Chego ao final 
deste trabalho e olho para os nossos filhos, Ailson Júnior e Letícia, e agradeço a 
existência de cada um, conviver e aprender com vocês a cada dia tem sido a 
possibilidade de compreender o que é ser e estar-no-mundo com quem amamos. 
Então, finalizando, manifesto minha gratidão e carinho a todos/as 
os/as participantes componentes da banca do projeto, da qualificação e da 
defesa desta tese, pela atenção, disponibilidade e especialmente pela 
possibilidade de compartilhar nestes momentos acadêmicos o conhecimento e 
as experiências acumuladas de cada um/a. 
Enfim a todos/as meus amigos/as, colegas de profissão ou no trabalho e 
na luta contra a aids que, de uma maneira ou outra, me possibilitaram 
espaço e tempo para as inquietações, para as indignações e a tranqüilidade 
para pensar, além do entusiasmo necessário para prosseguir nesta caminhada 
. . . agradeço. 
 
 
RESUMO 
PADOIN, Stela Maris de Mello. O cotidiano da mulher com HIV/aids diante da 
(im)possibilidade de amamentar: um estudo na perspectiva heideggeriana. Rio de Janeiro, 
2006. Tese. 195f. (Doutorado em Enfermagem) - Escola de Enfermagem Anna Nery, 
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006. 
 
Este estudo está inserido nas situações de cuidado em Enfermagem à mulher e sua criança, 
destacando suas experiências e vivências como ser lançado no mundo-com-o-outro. A 
pesquisa foi desenvolvida na abordagem fenomenológica a partir do pensamento de Martin 
Heidegger, com o objetivo de compreender o sentido do ser da mulher com HIV/aids no 
cotidiano da (im)possibilidade de amamentar. Como contexto da problemática estudada, 
consideraram-se não só as circunstâncias individuais e sociais, os condicionantes da 
feminilidade e da masculinidade e a situação da mulher-mãe portadora do HIV/aids, como 
também a convivência da criança com a aids e as controvérsias em relação à alimentação 
infantil, em meio à evolução do movimento pró-amamentação e à produção do conhecimento 
da Enfermagem. O cenário para a produção dos dados foi o Hospital Universitário de Santa 
Maria/RS. Foram utilizadas para análise 12 entrevistas, das 16 realizadas no período de 
setembro de 2004 a março de 2005. Na análise compreensiva, as mulheres mostram-se com 
necessidade de entender como chegaram à condição de portadoras do HIV, fato que as deixou 
desesperadas; com vivências e experiências em amamentar, mas com estranheza, dificuldade, 
dor e tristeza pela (im)possibilidade. Sentem-se sozinhas e escondem a sorologia, pelo medo 
do que os outros vão dizer, porém refletem que um dia terão que contar. No dia-a-dia como 
mães, são cuidadosas e preocupadas com os/as filhos/as, conformadas com sua condição de 
ser esposa, de ser portadora do HIV/aids. Mostram-se com necessidade de ajuda da família, 
dos amigos e dos profissionais de saúde; têm medo da doença que as faz pensarem na morte e 
naquilo que pode acontecer com seus/suas filhos/as; falam em esperança e na força que vem 
dos/as filhos/as, motivo pelo que fazem o tratamento. Na análise interpretativa, a mulher 
mostra suas possibilidades existenciais na cotidianidade, seu mundo da vida, sua 
historicidade, seu modo de ser-no-mundo vivenciando a impessoalidade. Este ser-em-meio-
aos-outros mostra o modo de ser da inautenticidade. Mantém-se temerosa e regida pelo 
falatório, ocupando-se com a síndrome. Nesta ocupação, mantém uma luta cotidiana na busca 
de ajuda, mostra as circunstâncias e o social em que vive. Ela de-cai e se mantém nesta de-
cadência como um modo tentador, tranqüilizante e alienante. Sendo-si-mesma, em algum 
momento a temporalidade foi importante na singularidade, o tempo próprio que emergiu, 
como possibilidade da autenticidade, se deu na convivência com os/as filhos/as. Para algumas, 
a aids ainda é algo só seu, quando se mantém no não dito; porém, na maioria das vezes, a aids 
deixou de ser algo que é só seu e passou a ser algo que diz respeito à sua família, sendo parte 
do mundo-da-família. A mulher contribui neste estudo mostrando a necessidade de um 
cuidado que a possibilite sair do “a gente” para ser si mesma. Será preciso apontar na 
implementação de políticas públicas, seja no controle da aids, seja no aleitamento materno, o 
desenvolvimento de um cuidado solícito, pautado na relação do ser-com autêntico, que 
possibilite à mulher a compreensão de com o que e para que se ocupar em seu cotidiano. Traz 
à luz um cuidado quepossibilita a recuperação da escolha, que devolve a singularidade de ser, 
que ajuda a tornar-se, que liberta, que permite colocar-se antes da situação para poder 
escolher ou decidir por si mesma, que indica a anteposição libertadora. 
 
Palavras-chave: Enfermagem; Saúde da Mulher; Amamentação; HIV/aids 
ABSTRACT 
 
PADOIN, Stela Maris de Mello. The daily routine of the woman with HIV/aids before of the 
(im)possibility to breastfeed: a study in the perspective heideggeriana. Rio de Janeiro, 2006. 
Theory. 195f. (Doctorate in Nursing) - School of Enfermagem Anna Nery, Federal University of 
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006. 
 
This study is inserted in the care situations in Nursing to the woman and her child, detaching their 
experiences and existences how being thrown in the world-with-the-other. The research was 
developed in the phenomenological approach starting from Martin Heidegger's thought, with the 
objective of understanding the woman's being's sense with HIV/aids in the daily routine of the 
(im)possibility of breastfeeding. As a context of the problematic studied, it was considered not 
only the individual and social circumstances, the conditions of the femininity and masculinity and 
the woman-mother carrying of HIV/aids situation, as well as the child's coexistence with aids and 
the controversies in relation to the infantile feeding, amid the evolution of the movement for-
breast-feeding and the production of the knowledge of the Nursing. The scenery for the 
production of the data was Santa Maria/RS's Academical Hospital. It was used for analysis 12 
interviews, 16 of them were accomplished from September 2004 to March 2005. In the 
understanding analysis, the women seemed to have the necessity of understanding how they got 
the condition of being an HIV carrying, this fact made them feel desperate; with existences and 
experiences in breastfeeding, but with strangeness, difficulty, pain and sadness for the (im) 
possibility. They feel alone and they hide the serology, they feel afraid about what other people 
will say, however they contemplate that one day they will have to tell. In the day by day as 
mothers, they are careful and concerned with their children, conformed with their condition of 
being wife, of being HIV/aids carrying. They seem to need help from their families, their friends 
and the professionals of health; they are afraid of the disease that makes them think in death and 
in what can happen with their children; they talk about hope and about the force that come from 
their children, the reason why they follow the treatment. In the interpretative analysis, the women 
show their existential possibilities in their routine, their world of the life, their historicity, their 
way to see the world living the impersonality. This human being among the other ones shows the 
way of being of the falsity. They are fearful and governed by the gossip, being in charge with their 
syndrome. In this occupation, they maintain a daily fight searching for some help, it shows the 
circumstances and the social in that they live. She falls and keeps herself in this decadence as a 
tempting way, tranquilizer and alienating. Being herself in some temporality moment which was 
important in the singularity, the time in which she emerged, as possibility of the authenticity, 
happened in the coexistence with her children. For some women, aids is still something that 
belongs to their own, when it is kept in the not said; however, most of the time, aids is not 
something that belongs to their own and it started to be something that concerns their families, it 
started being part of the family world. The woman contributes in this study showing the necessity 
of a care to make possible to get out of "us" and to be herself. It will be necessary to point in the 
implementation of public politics, be in the aids control or in the maternal breastfeeding, the 
development of a helpful care, ruled in the relationship of the being with authentic, that makes 
possible the woman the understanding what and from which she is in charge of in her daily 
routine. It brings to light a care that makes possible the recovery of the choice, that can give back 
the singularity of being, the one that helps to turn, the one that sets free, the one that allows to put 
in front of the situation to choose or to decide for herself, the one that indicates the ante-position 
liberating. 
 
Word-key: Nursing; The Woman´s Health; Breastfeeding; HIV/aids 
 
RESUMEN 
 
 
PADOIN, Stela Maris de Mello. El cotidiano de la mujer con HIV/SIDA delante de la 
(im)posibilidad de amamentar: un estudio en la perspectiva heideggeriana. Rio de Janeiro, 
2006. Tese 195f. (Doctorado en Enfermería) – Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade 
Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006. 
 
Este estudio está insertado en las situaciones de cuidado en Enfermería a la mujer y su niño, 
destacando sus experiencias y vivencias sobre un ser proyectado en el mundo con el otro. La 
investigación fue desarrollada en el abordaje fenomenológico a partir del pensamiento de Martin 
Heidegger, con el objeto de comprender el sentido de ser de la mujer con HIV/SIDA en el 
cotidiano de la (im)posibilidad de amamentar. Como contexto de la problemática estudiada, 
fueron consideradas no solamente las circunstancias individuales y sociales, los condicionantes de 
la feminilidad y de la masculinidad y de la situación de la mujer-madre portadora de HIV/SIDA, 
sino también la convivencia del niño con el SIDA y las controversias con relación a la 
alimentación infantil, en medio a la evolución del movimiento pro-amamentación y a la 
producción del conocimiento de Enfermería. El escenario para la producción de los datos fue el 
Hospital Universitario de Santa Maria/RS. Para el análisis fueron utilizadas 12 de las 16 
entrevistas realizadas durante el período de septiembre de 2004 a marzo de 2005. En el análisis 
comprensivo, las mujeres se han mostrado con necesidad de entender cómo llegaron a la 
condición de portadoras de HIV, hecho que las dejó desesperadas; con vivencias y experiencias en 
amamentar, pero con asombros, dificultad, dolor y tristeza por la (im)posibilidad. Se sienten solas 
y ocultan la sorología, por el miedo de lo que dirán los otros, sin embargo admiten que un día 
tendrán que contar. En el día a día como madres, son cuidadosas y preocupadas con sus hijos/as, 
conformadas con su condición de ser esposa, de ser portadora de HIV/SIDA. Se muestran con 
necesidad de ayuda de la familia, de los amigos y de los profesionales de salud; tienen miedo de la 
enfermedad, que las hace pensar en la muerte y en aquello que puede suceder con sus hijos/as; 
hablan en esperanza y en la fuerza que viene de los hijos/as, motivo por el cual realizan el 
tratamiento. En el análisis interpretativo, la mujer muestra sus posibilidades existenciales en lo 
cotidiano, su entorno, su historia, su modo de ser en el mundo, vivenciando la impersonalidad. 
Este ser rodeado de otros muestra el modo de ser de la inautenticidad. Se mantiene temerosa y 
regida por el discurso, ocupándose con el síndrome. En esta preocupación, se sostiene una lucha 
diaria en la búsqueda de ayuda, muestra las circunstancias y el entorno en que vive. Ella se decae 
y se mantiene en esta decadencia como un modo tentador, tranquilizante y alienante. Siendo ella 
misma, en algún momento la temporalidad fue importante en la singularidad, el tiempo propio que 
emergió, como posibilidad de autenticidad, se dio en la convivencia con sus hijos. Para algunas 
mujeres, el SIDA además es algo sólo suyo, cuando se conserva en lo no dicho; aunque en la 
mayoría de las veces, el SIDA dejó de ser algo que es sólo suyo y pasó a ser algo compartido con 
su familia, siendo parte del mundo de la familia. La mujer contribuye con este estudio 
evidenciando la necesidad de un cuidado que le posibilite salir de “la gente” para ser si misma. 
Será necesario señalar en la implementaciónde políticas públicas, sea en el control del SIDA o en 
la lactancia materna, el desarrollo de un cuidado solícito, basado en relación del ser-con auténtico, 
que posibilite a la mujer la comprensión de con lo qué y para qué ocuparse en su cotidiano. 
Destaca a la luz un cuidado que posibilita la recuperación de la elección, que devuelva la 
singularidad de ser, que ayuda a tornarse, que libra, que permite ponerse antes de la situación para 
poder elegir o decidir por si misma, que indica la anteposición libertadora. 
 
Palabras llave: Enfermería; Salud de la Mujer; Lactancia; HIV/SIDA. 
 
SUMÁRIO 
 
 
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ____________________________________________ 14 
1.1 Justificativa ___________________________________________________________ 17 
1.2 Organização do estudo __________________________________________________ 19 
 
2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA TEMÁTICA __________________________________ 22 
2.1 A mulher no contexto da epidemia da aids: circunstâncias individuais e sociais que 
emergem das notificações___________________________________________________ 23 
a) Condicionantes da feminilidade e masculinidade: sendo-no-mundo-com-o-outro _____________ 30 
b) Sendo mulher-mãe com HIV/aids: possibilidades assistenciais ____________________________ 38 
2.2 As crianças que (con)vivem com o HIV e a epidemia da aids: implicações para seu 
mundo da vida____________________________________________________________ 46 
a) Controvérsias acerca da alimentação infantil no contexto da aids __________________________ 51 
2.3 O movimento pró-amamentação no Brasil _________________________________ 58 
2.4 O Aleitamento Materno e a contribuição da Enfermagem_____________________ 65 
a) Tendência metodológica e natureza das pesquisas: como temos buscado respostas às inquietações 
no cotidiano do processo assistencial ____________________________________________________ 66 
b) O modo-de-ser-profissional: o dito e o não dito em relação ao aleitamento materno___________ 71 
 
3 ABORDAGEM METODOLÓGICA________________________________________ 80 
3.1 O cenário do estudo ____________________________________________________ 81 
3.2 A trajetória do estudo __________________________________________________ 84 
a) Considerando as questões éticas na pesquisa ___________________________________________ 84 
b) Realizando a aproximação ao cenário da pesquisa e a ambientação ________________________ 86 
c) Ampliando o cenário da pesquisa ____________________________________________________ 91 
3.3 As participantes do estudo: desvelando o quem______________________________ 92 
 
4 ANÁLISE COMPREENSIVA ____________________________________________ 97 
4.1 A compreensão vaga e mediana de mulheres com sorologia positiva para o HIV 
diante da (im)possibilidade de amamentar ____________________________________ 97 
 xiii
4.2 O conceito de ser______________________________________________________ 129 
 
5 ANÁLISE INTERPRETATIVA __________________________________________ 132 
5.1 O mundo da vida da mulher com HIV/aids diante da (im)possibilidade de 
amamentar _____________________________________________________________ 134 
5.2 A impessoalidade no cotidiano da mulher com HIV/aids_____________________ 140 
5.3 A temerosidade no cotidiano da mulher com HIV/aids ______________________ 144 
5.4 A ocupação da mulher com a síndrome ___________________________________ 149 
5.5 A de-cadência como modo de ser da cotidianidade da mulher com HIV/aids ____ 154 
 
6 CONSIDERAÇOES FINAIS _____________________________________________ 163 
 
REFERÊNCIAS _________________________________________________________ 175 
 
APÊNDICE A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido _________________________ 185 
ANEXO 1 – PARECER CONSUBSTANCIADO DE PROJETO DE PESQUISA E CARTA DE 
APROVAÇÃO _________________________________________________________________ 187 
ANEXO 2 – PROTOCOLO DE REGISTRO E ACOMPANHAMENTO DE PROJETOS___ 191 
ANEXO 3 – PARECER DOS SERVIÇOS DE INFECTOLOGIA _______________________ 194 
 
 
 
 
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS 
 
 
O interesse pelo desenvolvimento de estudos e pesquisas na busca de um cuidar 
em Enfermagem que contemple o ser na sua existencialidade tem acompanhado minha 
trajetória profissional. Motivada pela realização do Curso de Mestrado, na Universidade 
Federal de Santa Catarina – UFSC, iniciei uma vivência, em 1997, com o ser-familiar e o ser-
com portador do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) e da Síndrome da 
Imunodeficiência Adquirida (SIDA) ou Adquired Immunity Deficiency Syndrome (AIDS), 
descrita na dissertação, que objetivava a busca do estar melhor1 do ser-familiar e do ser com 
aids2 (PADOIN, 1998). 
A partir deste estudo mediado pelo encontro vivido e dialogado, percebi que a 
família é compreendida como um valor e com responsabilidades compartilhadas nessa 
vivência. O estudo possibilitou-me desvelar que, tanto para o ser com HIV/aids, como para os 
seus familiares, os laços sangüíneos são vínculo familiar, mas não o único a se revelar no 
atendimento de um chamado3. 
Também percebi que a família adoece, que precisa se organizar para experienciar 
essa vivência e para desenvolver o processo de estar melhor, o qual poderá ser possibilitado 
pelas ações em Enfermagem. Esse é um momento em que o familiar se percebe como um ser 
que está-no-mundo-com-o-outro e que vive uma luta constante entre a razão e a emoção 
(PADOIN, 1998). 
 
1 Condição ou processo, capaz de ser alcançado pelo ser, por meio de escolhas responsáveis, livres e 
compartilhadas, da soma de possibilidades e da ajuda da Enfermagem (PATERSON; ZDERAD, 1979; PADOIN, 
1999). 
2 Segundo Houaiss (2001), pode-se grafar, em língua portuguesa, a palavra de três formas: SIDA, AIDS e aids. 
Neste trabalho, optei pela terceira forma, que é tomada como substantivo que remete ao contexto da epidemia, 
não somente a sigla de uma doença. 
3 O chamado para Paterson e Zderad (1979) refere-se à manifestação de um ser que necessita de ajuda, o 
paciente, e outro que está disposto a ajudar, o/a enfermeiro/a, no encontro vivido mediado pela relação dialógica. 
 
 15
Para além do desvelado, surgiram outras inquietações. Foi quando percebi que o 
contexto que envolve a temática da transmissão do HIV e da aids é mais amplo do que 
poderia imaginar na fase inicial de estudos dessa doença. Essa síndrome, depois de ter sido 
percebida como um problema de saúde, passa a mostrar-se também como um problema social, 
nas dimensões individual e coletiva, exigindo respostas interdisciplinares. 
Assim, desencadeou-se minha inserção como coordenadora e orientadora em 
projetos de ensino, pesquisa e extensão, resultado dos trabalhos acadêmicos na graduação e na 
pós-graduação, no âmbito da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande 
do Sul (RS), onde, desde 1996, desenvolvo atividades como Docente no Departamento de 
Enfermagem. A demanda inicial indicou a necessidade de atividades em grupo no âmbito da 
extensão tanto como prática assistencial quanto como ensino e pesquisa; nesse período 
implantei no Centro de Ciências da Saúde (CCS) o Programa aids, educação e cidadania: uma 
proposta de promoção à saúde e a qualidade de vida4; como conseqüência, deu-se minha 
inclusão no Grupo de Estudos e Pesquisa em Enfermagem e Saúde (GEPES), formado em 
1994, nesse Departamento. 
Entre as atividades desenvolvidas na UFSM, destaco a participação no Serviço de 
Doenças Infecciosas Pediátricas do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) e no 
projeto de extensão e pesquisa no ambulatório de pediatria. Essas participações são 
decorrentes dos resultados de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) para o Curso de 
Graduação em Enfermagem da UFSM, que teve como objetivo acompanhar as crianças que 
(con)vivem com HIV/aids e seus familiares e/ou cuidadores (PEREIRA, 1998), o que tem 
sido uma vivência muito especial para nossaexistencialidade como ser-no-mundo5 e ser-no-
mundo-com-o-outro (LOPES; SOUZA, 1997). 
 
4 Este programa aglutina os projetos desenvolvidos na temática da aids e suas interfaces, considerando a 
extensão, pesquisa e ensino. 
5 Neste estudo, a grafia em itálico refere-se a termos ou palavras-chave do referencial filosófico de Martin 
Heidegger (1997), que permeará todo o texto. 
 
 16
Este projeto de extensão e pesquisa desenvolve-se a partir de um grupo operativo 
que, desde seu início em 1998, foi denominado, pelos participantes, pais, familiares e/ou 
cuidadores das crianças, de Grupo “Anjos da Guarda”6. Nesse cenário, passei a conviver com 
a mulher que foi infectada pelo HIV ou que é doente de aids, a qual muitas vezes não se 
percebe vulnerável à infecção, tampouco percebe a possibilidade e necessidade de adotar 
práticas de prevenção à infecção viral ou à aids. Tal situação é consoante aos achados de 
Gonçalves (2000, p. 70) no que se refere à compreensão que as mulheres têm acerca da aids, 
de ser “uma doença dos outros”. 
Nos encontros com os participantes do grupo, mediados pelo diálogo, pela 
solicitude e cumplicidade, emergem temas como os direitos do ser-com portador do HIV/aids, 
discussões acerca do preconceito e da discriminação, da cidadania, sentimentos de esperanças 
e desesperanças, reflexões sobre a (im)possibilidade de amamentar e como alimentar o recém-
nascido, cuidado de si e do outro, bem como encaminhamentos para outros serviços e 
solidariedade entre os participantes (PAULA et al, 2001; SCHAURICH; FONTOURA; 
PADOIN, 2002). 
Percebo que, durante os encontros, revelou-se o sendo-no-mundo, que diz respeito 
às várias maneiras de que o existir humano está possibilitado a viver. Para Heidegger (1981), 
o ser-no-mundo indica caráter peculiar e distinto da existência humana. Nesse sentido, a cada 
instante ele se manifesta com seu ser, em seu modo se ser, na vivência cotidiana. 
Assim, acredito que uma proposta de estudo deva partir do entendimento do modo 
essencial de o homem existir no mundo. Antes de pensar e falar, o homem vive uma relação 
com as coisas, com os outros e com o mundo, ele é ser-existindo-aí, é ser-no-mundo, é Dasein 
(HEIDEGGER, 1997), e a capacidade de conhecer é uma das suas expressões privilegiadas. 
Ser-no-mundo não significa apenas um encontrar-se do homem em meio à natureza; dá-se 
 
6 Parte de um projeto de extensão e pesquisa, desenvolvido no Serviço de Doenças Infecciosas Pediátricas do 
HUSM, desde 1998. Projeto de “Acompanhamento multidisciplinar de crianças que (con)vivem com HIV/aids e 
seus familiares e/ou cuidadores”. 
 
 17
através de uma consciência de mundo, deve ser entendido em sua essência que está na sua 
existência. Será, então, na cotidianidade do ser que se encontra a estrutura da existencialidade 
que, ao ser desvelada, anuncia o sentido ontológico do ser. 
É nesse sentido, partindo de minhas experiências e vivências com os familiares 
e/ou cuidadores, principalmente com a mulher que tem sorologia positiva para o HIV, e 
entendendo que é necessário compreender os sentimentos, as emoções e os significados que o 
ser humano confere às situações experienciadas e às suas vivências, que me propus a estudar 
o cotidiano da mulher com sorologia positiva para o HIV ou doente de aids diante da 
(im)possibilidade da amamentação, sendo este o objeto desta investigação. 
O cotidiano é de onde Heidegger (1981) parte para mostrar os fenômenos ônticos 
e seus aspectos ontológicos. A dimensão cotidiana do ser é percebida como “o modo de ser 
em que a pre-sença se mantém, na maior parte das vezes e antes de tudo” (HEIDEGGER, 
1997, p. 168). Para ele, é na análise do modo de ser que se deve buscar a resposta à questão 
do quem da pre-sença cotidiana (p. 169). Assim, pautada no referencial teórico e 
metodológico de Heidegger, tracei como objetivo: compreender o sentido do ser da mulher 
com HIV/aids no cotidiano da (im)possibilidade de amamentar. 
 
 
1.1 Justificativa 
 
 
Para pontuar a relevância deste estudo, cabe ressaltar os avanços nas políticas 
públicas em relação ao Aleitamento Materno (AM) a partir da década de 1980, quando houve 
um novo esforço mundial que mobilizou as equipes de saúde dos serviços obstétricos e 
pediátricos. Esse esforço focalizava o incentivo à amamentação pautada nas vantagens 
oferecidas pelo leite materno em seus múltiplos aspectos, sejam eles biológicos, nutricionais, 
socioeconômicos e familiares. 
 
 18
Na década de 1990, surge um movimento que vem prevendo ações assistenciais 
na área da saúde, envolvendo a promoção, a proteção e o apoio ao AM. Considera-se nesse 
movimento que, embora seja um ato natural, a amamentação é, também, um comportamento 
aprendido. Além disso, estudos apontavam as dificuldades apresentadas pelas mulheres nesse 
processo. 
Assim, as estratégias e as ações passaram a responsabilizar os governos no 
desenvolvimento e na implementação de uma ampla política referente à alimentação do 
lactente e da criança pequena, acesso de todas as mães à assistência profissional para iniciar e 
manter o aleitamento materno exclusivo (AME) e capacitação de profissionais acerca do 
aconselhamento como mediador da assistência prestada, entre outras medidas (OMS, 2003). 
Porém, nesse mesmo período, surge, no mundo e no Brasil, uma nova doença 
transmissível e letal relacionada a grupos e comportamentos de risco. Falava-se da aids como 
uma doença dos homossexuais, usuários de drogas injetáveis e homens com hemofilia. Não se 
esperava que as mulheres (mães em potencial) fossem se inserir nas notificações, pois não se 
percebiam, e também não foram consideradas, entre os grupos e os comportamentos de risco. 
Entretanto, por sua formação biológica e pelos condicionantes de sua feminilidade, passaram 
a se aproximar da possibilidade de infecção pelo HIV e foram envolvidas pela epidemia. 
Como conseqüência, surge a possibilidade da transmissão materno-infantil (TMI) desse vírus 
de maneira progressiva e, em princípio, sem controle. 
Tal situação acarreta para as diversas áreas do conhecimento grandes desafios, 
como: reconhecer o agente causador, desenvolver um tratamento adequado e uma vacina, 
compreender as relações de homens e de mulheres e entre si, bem como discutir a 
sexualidade, a fidelidade, os valores, a moral, a ética e a finitude humana. Para a área da 
saúde, um impasse: lidar com a mulher que até então podia e devia amamentar e agora não 
deve, embora possa. 
 
 19
Entende-se que pode amamentar7 porque tem possibilidades biológicas de nutrir 
seu filho com vantagens não só já comprovadas cientificamente, como também relacionadas 
ao contexto socioeconômico e de vínculo afetivo. Mas não deve porque amamentar, para a 
mulher com sorologia positiva para o HIV, incorre na possibilidade de transmissão do vírus 
para a criança, o que implica um problema social e de saúde que é considerado por Della 
Negra (1997) e Rubini (1997) como AIDS Pediátrica. 
Então, no serviço onde desenvolvo atividades de ensino, pesquisa e extensão, um 
hospital universitário no interior do RS, que é referência para o tratamento de aids, tenho 
acompanhado o crescente número de casos de mulheres com sorologia positiva para o HIV. 
Essa condição vem sendo considerada como o processo de feminização da aids (BRASIL, 
2003a) e conseqüente aumento no número de casos de crianças expostas ao vírus. 
Nesse cenário, estão presentes os desafios impostos à Enfermagem quando se 
cuida de alguém que é singular em sua existência, tem possibilidade de escolhas e que é livre. 
Assim, percebo a necessidade de dar voz a essa mulher para que possamos compreendê-la, 
para, a partir de sua expressão como ser-no-mundo, ter a possibilidade de ajuda no modo 
positivo do cuidado. Isso significa um agir profissionalcaracterizando a preocupação com o 
outro, pautado em um cuidado solícito (HEIDEGGER, 1981), como forma da Enfermagem no 
cuidado autêntico, e este como modo de proceder e estar-com à mulher no seu cotidiano. 
 
 
1.2 Organização do estudo 
 
 
Além deste capítulo, esta tese apresenta a seguir o capítulo da contextualização da 
temática, no qual estão apresentadas algumas considerações acerca da situação da mulher e da 
criança no contexto da epidemia da aids. 
 
7 Neste estudo está se considerando amamentação e aleitamento materno como sinônimos. 
 
 20
Neste capítulo foi lançado um olhar atento às circunstâncias individuais e sociais 
que emergem das notificações e aos condicionantes da feminilidade e masculinidade como 
nexos que aproximam as mulheres e os homens da possibilidade de infecção pelo HIV. São 
apontadas as possibilidades assistenciais diante do sendo mulher-mãe portadora do HIV/aids, 
é feita uma reflexão acerca da convivência da criança com a aids, das implicações para seu 
mundo e da complexidade das controvérsias em relação à alimentação infantil no contexto da 
epidemia. Além disso, é dada atenção para o desenvolvimento do movimento pró-
amamentação no Brasil, para a contribuição da produção do conhecimento da Enfermagem, 
considerando suas omissões, e para o desafio de convivência das possibilidades assistenciais 
de tais políticas públicas. 
Assim, lanço um olhar a este estudo e ao referencial teórico, com inserção nas 
situações de cuidado em Enfermagem à mulher com HIV/aids e sua criança, valorizando suas 
experiências e vivências como ser lançado no mundo-com-o-outro. Para tanto, este trabalho 
se desenvolveu na abordagem fenomenológica e a partir do pensamento de Martin Heidegger, 
filósofo alemão que viveu entre os anos de 1889 a 1976. 
A opção por buscar nas idéias de Heidegger o referencial teórico e metodológico 
se justifica pela possibilidade de compreender o ser da mulher e apreender suas vivências e 
sentidos, uma vez que Heidegger traz a proposta de uma investigação sob os modos de ser do 
ente que somos e a fundamental busca da compreensão do ser, o sentido de existir e o 
cotidiano do ser (HEIDEGGER, 1981). O pensamento desse filósofo permeia a situação 
estudada, em todas as partes do estudo, buscando estabelecer os nexos com a dimensão 
existencial. Por isso, não se detém à formação de um capítulo à parte. 
Ao descrever a trajetória deste estudo, apresento o cenário do trabalho de campo, 
os aspectos éticos envolvidos, como se deu a produção dos dados e uma síntese sobre cada 
 
 21
mulher participante da pesquisa que mostra um pouco do quem são elas, o que representa a 
etapa preliminar da análise compreensiva. 
Na análise compreensiva da descrição do fenômeno tal como ele se mostra, 
apresento como esta se deu, mediada pelo esforço da suspensão de juízo ou de pré-conceitos, 
primeiro momento metódico, o qual Heidegger denomina compreensão vaga e mediana. 
Seguida da análise interpretativa, o sentido do ser da mulher com sorologia positiva para o 
HIV ou com aids, aquilo que se articula na interpretação e que já foi originariamente 
articulado no discurso, que é a articulação em significações as quais sempre têm sentido 
(HEIDEGGER, 1997). 
Concluo este estudo com a apresentação das considerações finais não só para 
valorizar a discussão das circunstâncias individuais e sociais e do condicionantes da 
feminilidade e da masculinidade, como também, valorizar a interpretação do cotidiano quanto 
à possibilidade de sua inclusão na proposição e implementação de políticas públicas de saúde. 
 
 
 
2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA TEMÁTICA 
 
 
A epidemia da aids surge no Brasil em 1980, sendo descrita pelo Center Disease 
Control (CDC), nos EUA, como uma doença associada a grupos de risco, ressaltando-se a 
participação dos homens, em especial dos homens que fazem sexo com homens, dos usuários 
de drogas injetáveis (UDIs) e dos portadores de hemofilia. Aqui, como em outros países, a 
doença se expandiu rapidamente, tornando-se uma epidemia global, apresentando focos de 
disseminação em todos os continentes. 
Desde então, têm-se profissionais que buscam somar esforços para compreender 
as formas de evolução dessa epidemia. Vale ressaltar que a resposta brasileira à epidemia da 
aids envolveu a participação efetiva da sociedade civil e a organização das pessoas vivendo 
com HIV/aids, contribuindo com a construção coletiva de uma política nacional para 
enfrentamento da epidemia, por meio do Programa Nacional de controle das DSTs e aids – 
PN DST/aids (BRASIL, 1999). 
Somados aos bons resultados, tem-se a participação dos organismos e das 
agências internacionais com contribuição significativa para o aporte de recursos adicionais e 
suporte técnico para o desenvolvimento dos programas (BRASIL, 2002). Esses programas 
apontam avanços no que diz respeito à implantação de uma política pública que contemple os 
aspectos da promoção, da proteção e da prevenção, bem como do diagnóstico e da assistência 
e, ainda, do desenvolvimento institucional e da gestão com vistas ao controle das doenças 
sexualmente transmissíveis (DSTs) e aids no Brasil. Esse movimento alcança o 
reconhecimento nacional e internacional em face dos resultados dessa política (BRASIL, 
1999; 2002). 
 23
No PN DST/aids concentram-se, então, as medidas de acompanhamento da 
evolução dessa epidemia no Brasil, observadas na apresentação periódica de um boletim 
epidemiológico, do qual são extraídos alguns dos subsídios para a discussão da inserção da 
mulher nessa epidemia. 
 
 
2.1 A mulher no contexto da epidemia da aids: circunstâncias individuais e sociais que 
emergem das notificações 
 
 
As notificações em âmbito nacional apontam que, desde seu surgimento (1980) 
até junho de 2005, foram diagnosticados 370.499 casos de aids, sendo esses dados 
acumulados (BRASIL, 2005). Considera-se necessário o esclarecimento de que os números 
acumulados de notificações obscurecem a dinâmica da epidemia e, assim, será importante 
dar-se atenção ao cálculo de incidência, número de casos por ano, pois este aponta o 
parâmetro dinâmico da epidemia e as tendências da epidemia nas regiões ou em regiões dos 
diferentes Estados. 
Dessa forma, tem-se que no ano de 2004 foram notificados no Brasil 18.213 
novos casos de aids no sexo masculino e 12.305 no sexo feminino (BRASIL, 2005). Quando 
voltamos nosso olhar para as notificações no Estado do RS, este apresenta estabilização da 
incidência em torno de 2.800 casos novos por ano, desde 2000 (RS, 2005). 
No RS, tem-se o somatório de 28.986 casos de aids, de 1983 a agosto de 2005; 
diminuição da taxa de letalidade estimada em 4%; também, estabilização da distribuição 
proporcional de casos entre os sexos em torno de 40% de casos femininos e 60% de casos 
masculinos nos últimos cinco anos. São exceções na estabilização os dados das 
Coordenadorias Regionais de Saúde (CRS), da Região Metropolitana (2ª CRS), Caxias do Sul 
 
 24
(5ª CRS), Santa Cruz do Sul (13ª CRS) e Osório (18ª CRS), onde há tendência de aumento da 
epidemia (RS, 2005). 
Observando as tendências em nosso Estado, encontram-se, nos dados da 4ª CRS, 
648 casos acumulados. Em Santa Maria, têm-se 145 casos notificados em mulheres e 420 em 
homens, no período de 1987 a dezembro de 2005, sendo que, de 1993 a 2005, têm-se 160 
gestantes notificadas na mesma regional, das quais 119 fizeram o pré-natal, recebendo 
assistência em serviço de referência no município, o HUSM (SANTA MARIA, 2005). 
No entanto, observa-se que a epidemia da aids, no Brasil, está num processo de 
estabilização, notadamente apenas entre os homens, uma vez que se mantém a tendência, 
apontada desde o início de crescimento da epidemia entre mulheres, com o registro 
acumulado de 118.520 mulheres com aids no Brasil (BRASIL, 2005). 
Tais documentos, mais especificamenteo boletim epidemiológico do RS, 
destacam que da análise das notificações, bem como do perfil e da alteração deste, emergirão 
subsídios aos gestores e definidores da política pública para o desenvolvimento de estratégias 
de prevenção, a médio e longo prazos. Para esses especialistas, da leitura e análise dos 
cálculos de prevalência poder-se-á propor uma definição, em curto prazo, da assistência em 
relação às consultas, aos leitos hospitalares, aos medicamentos e à necessidade de educação 
em serviço de profissionais de saúde, bem como aos benefícios sociais, entre outros. 
Ainda, mesmo que seja considerada a situação de subnotificação e nem todos os 
aspectos relacionados às questões sociais que envolvem o contexto da aids estejam 
relacionados nos boletins epidemiológicos, estes apresentam grande importância ao deixarem 
emergir as circunstâncias individuais e sociais que envolvem vida das pessoas com aids. 
Nesse sentido, as notificações apontam as circunstâncias da pobreza, ou a questão 
da pauperização das pessoas que se infectaram com o HIV. Para se chegar a essa 
compreensão, utiliza-se como indicador a escolaridade, como um dos indicadores mais 
 
 25
importantes para mensurar o nível socioeconômico associado à saúde da população, além da 
renda e da ocupação dos membros da família (FONSECA et al, 2000). 
Assim, ao olharmos para as circunstâncias individuais e sociais, devemos 
compreender que a situação educacional de cada um expressa as diferenças entre pessoas, no 
que diz respeito principalmente ao acesso à informação e às perspectivas e possibilidades de 
se beneficiar com os novos conhecimentos. 
Então, quando se apresentam as questões de renda, percebe-se que esta poderá 
representar o acesso aos bens materiais, à moradia, aos meios de transporte, à escolarização, 
aos recursos sanitários, incluindo-se o acesso aos serviços de saúde. Ainda, a análise da 
ocupação das pessoas inclui os aspectos relacionados ao acesso à bens materiais e somam-se 
as oportunidades de acessar os serviços para atenção à sua saúde. 
Acredito que isso nos reporta às circunstâncias de vida das pessoas, individuais e 
sociais, e ao fato de que a epidemia vem atingindo populações em desvantagem 
socioeconômica em um país marcado pelas diferenças sociais. Os dados epidemiológicos da 
aids no Brasil apresentam que o adoecimento é maior em pessoas de baixa escolaridade, com 
um (01) a sete (07) anos de estudos, tanto nas pessoas do sexo masculino como feminino 
(BRASIL, 2003a), tornando tais circunstâncias interdependentes. 
Então, das notificações dos casos de aids e dos estudos de perfil das pessoas com 
sorologia positiva para o HIV, emergem as situações imersas nos contextos sociais e nas 
vivências das pessoas infectadas ou doentes de aids, ou seja, as circunstâncias individuais e 
sociais. Dos boletins epidemiológicos, têm-se conclusões da evolução da epidemia no Brasil, 
como a feminização (aumento do número de notificações entre as mulheres), a pauperização 
(aumento do número de casos de aids em pessoas mais pobres) e a juvenilização (a cada dia 
mais jovens se infectam), entre outras – todas com implicações determinantes e 
interpedendentes de um contexto socioeconômico-cultural e de uma política pública. 
 
 26
A partir desse contexto e das notificações epidemiológicas, que mostravam a 
tendência de estabilização da epidemia nos chamados grupos de risco e a crescente e veloz 
inserção das mulheres, seguidas de suas crianças, os estudiosos voltaram seus olhares para a 
possibilidade de as pessoas terem um comportamento que foi chamado arriscado. Este estaria 
associado à chance ou ao risco de transmissão do vírus entre homens e mulheres, 
considerando, além da possibilidade da transmissão sangüínea por contaminação no uso de 
drogas injetáveis, suas relações heterossexuais. 
Porém, de imediato, com a inserção das crianças, filhos e filhas de mulheres com 
HIV, questionou-se: que comportamento levaria um feto a ter mais ou menos chances de se 
infectar durante a gestação? Em meio a outras discussões, qual seria o comportamento de 
risco das mulheres que se infectaram e relataram sua fidelidade conjugal? 
Desse modo, mostravam-se as limitações que o referencial de comportamento de 
risco apresentava e, na tentativa de encontrar respostas, (re)surge o conceito de 
vulnerabilidade, o qual é associado aos estudos acerca da epidemia do HIV, como nos de 
Mann, Tarantola e Netter (1993), Ayres, França Jr e Calazans (1997; 1998), Ayres (1998), 
Osimani (2001), Figueiredo e Ayres (2002), Silveira et al (2002), Herrera e Campero (2002), 
Saldanha e Figueiredo (2003), entre outros. 
Com o avanço da epidemia, percebe-se que as pessoas são susceptíveis ao vírus 
devido à sua formação biológica; porém, existem outros fatores que a aproximam da 
possibilidade de infecção. Estes partem das circunstâncias que envolvem a pessoa no seu dia-
a-dia, como já vimos, partem de sua inserção social e econômica que possibilitará o acesso à 
escolaridade, a qual lhe aproxima ou afasta de informações e do acesso aos serviços de saúde, 
o que Mann, Tarantola e Netter (1993) pontuam como fatores relacionados à vulnerabilidade 
individual e social. 
 
 27
Destaco que o acesso aos serviços de saúde se dá de forma distinta para homens e 
mulheres e também nas diferentes fases do desenvolvimento. Os homens pouco procuram os 
serviços, pois cabe às mulheres a responsabilidade da saúde reprodutiva. Por isso, elas os 
procuram durante a gestação e para o parto. Já para os jovens e adolescentes não há espaços 
para a discussão de suas necessidades. E as pessoas maduras, fora da fase reprodutiva, 
chegam aos serviços já doentes de aids. 
Além dessas, há outras questões a serem consideradas na análise das 
circunstâncias que aproximam ou afastam as pessoas da infecção pelo HIV. Aqui farei 
referência àquelas que apontam a relação da possibilidade das pessoas se infectarem com a 
distribuição e o acesso aos recursos financeiros, o que para Mann, Tarantola e Netter (1993) é 
considerado vulnerabilidade programática. 
Essa vulnerabilidade decorre da disponibilidade de recurso da Federação, do 
Estado e do Município, que provêm ou não os insumos e recursos de pessoal para o 
desenvolvimento de condições de implantação e implementação das ações de prevenção da 
epidemia e de assistência às pessoas já infectadas. Nesse sentido, será necessário, também, 
conhecer as ações promovidas pelos órgãos governamentais, considerando-se aquelas que 
chegam a essas pessoas e fazem sentido para elas. 
Com essa perspectiva, para os mesmos autores citados anteriormente, serão a 
inter-relação e a inter-dependência da vulnerabilidade nos planos individual, social e 
programático que levarão as pessoas a desenvolverem a possibilidade de ter maior ou menor 
contato com a infecção pelo HIV ou com a chance de desenvolver a síndrome. 
No entanto, considera-se relevante destacar que será a relação entre as 
circunstâncias de vida e de seu estar-lançado no mundo com-o-outro, em um mundo 
circundante e familiar, movido pela circunvisão e dotado de potenciais tanto individual, como 
 
 28
social e das políticas públicas, que tornará possível a pessoa afastar-se ou aproximar-se da 
infecção pelo HIV ou do adoecimento de aids. 
Quando se destaca a diminuição da chance de uma pessoa com sorologia positiva 
ao HIV desenvolver aids, dá-se atenção à possibilidade de se incluírem nas políticas de 
prevenção e assistência também aquelas que já estão infectadas. Convém lembrar que essa 
situação implica o acesso aos serviços de referência e a existência de uma assistência com 
qualidade. Implica também a possibilidade de os profissionais da saúde analisarem e 
compreenderem seu modo de ser no mundo e as circunstâncias que envolvem suas 
possibilidades individuais e sociais para ter uma vida com melhor qualidade. 
Permanecendo na busca de respostas aos inúmerosquestionamentos que emergem 
no cotidiano do mundo do trabalho, observa-se a necessidade dos pesquisadores de 
conhecerem o perfil das pessoas infectadas, em especial das mulheres que têm o HIV ou que 
estão com aids. Alguns desses trabalhos estão focalizados nas maternidades e nos serviços de 
pré-natal, provavelmente porque o momento da gestação é aquele em que, muitas vezes, a 
mulher procura o serviço de saúde pela primeira vez (TAKAHASHI; SHIMA, 1998; 
SPINDOLA; ALVES, 1999). Acredito que, isso aponta a fragilidade do modelo assistencial 
vigente e da política pública no que se refere às ações preventivas voltadas às mulheres. 
Quando se aponta esse resultado, percebo os nexos com as circunstâncias de vida 
da mulher que a aproximam da possibilidade de exposição à infecção pelo HIV e a 
importância do profissional de saúde compreender a possibilidade de intervenção e prevenção 
da TMI do HIV no espaço do pré-natal, do parto e do puerpério. Isso faz emergir outra 
questão: a avaliação e o desenvolvimento da prática educativa e do conhecimento que as 
usuárias do serviço possuem, em consonância com a necessidade da discussão do cotidiano 
profissional. 
 
 29
Ao avaliar a prática educativa, Araújo (1997) traz para reflexão a necessidade de 
melhoria na qualidade da assistência de Enfermagem por meio de educação em serviço, uma 
vez que o desafio de prevenir e controlar a epidemia surgiu após a conclusão do curso de 
graduação da maioria dos profissionais que estão nos serviços. Com esse resultado, entendo 
que se mostra a exigência de esforços políticos na educação continuada e formação de 
recursos humanos para o Sistema Único de Saúde (SUS). 
Uma vez que foram os profissionais dos serviços de saúde que receberam as 
mulheres, observo que por eles a feminização da epidemia foi de imediato percebida, trazendo 
implicações para seu cotidiano de trabalho, entre elas o aumento de consultas no pré-natal de 
alto risco e na ginecologia, pressionando a criação de novas agendas de atendimento, como 
pude acompanhar nos serviços do HUSM. 
Considera-se, ainda, que a pobreza, como um condicionante social que implica as 
desigualdades de acesso aos serviços de saúde, ao trabalho, à educação e aos demais bens de 
consumo, bem como a desigualdade entre a condição feminina e masculina e a abrangência da 
política pública preventiva e assistencial são questões que emergem das notificações e das 
pesquisas como interdependentes. Ressalto, no entanto, que tais condições postas em nosso 
país antecedem a epidemia de aids e já foram marcas e estigmas em outras epidemias, como a 
da tuberculose e da hanseníase. 
Acredito que será necessário compreender a interdependência ou os nexos 
teóricos entre as circunstâncias de vida dos indivíduos, de cada sociedade e das políticas 
públicas. Na prática, essa interdependência aponta a relação das pessoas com a possibilidade 
de desenvolver suas potencialidades e, a partir daí, aproximar-se ou afastar-se da 
possibilidade de infecção pelo HIV, e da pessoa com sorologia ao HIV ter maior ou menor 
chance de adoecimento. 
 
 30
Esses componentes dizem respeito às condições individuais da pessoa, como ser 
biologicamente homem ou mulher, e principalmente às circunstâncias individuais e sociais 
referentes à formação da masculinidade e feminilidade, de seu estar lançado no mundo, em 
um mundo circundante e familiar. Ainda, desenvolvem socialmente um modo-de-ser e estar-
no-mundo-com-o-outro, com a possibilidade de ter escolhas condicionadas pelo dia-a-dia, em 
suas e por suas relações com o outro, na família, na escola, no trabalho e na sociedade. Tudo 
isso é marcado pela tradição patriarcal, pela situação econômica, pelo capitalismo e pelas 
políticas públicas, mediados pela cultura, desenvolvendo a historicidade de cada ser. 
Essas discussões apontam uma percepção para além do biológico, relacionando a 
complexidade da situação e a necessidade de ampliação da visão do pesquisador e dos 
profissionais da área da saúde (SCHAURICH; PADOIN, 2004). Destacam-se os nexos e a 
interdependência das circunstâncias individuais, como coletivas ou sociais, considerando os 
condicionantes na formação da feminilidade e masculinidade, e as circunstâncias de 
implantação e implementação das políticas públicas. 
Estou me referindo à necessidade da busca da compreensão do ser do humano, em 
especial no cotidiano do ser da mulher como um ser-no-mundo-com-os-outros, e da 
possibilidade de se contemplar a mulher como uma pessoa que pode se afastar ou se 
aproximar da infecção pelo HIV, para também buscar a compreensão do que é ser mulher 
com sorologia positiva para o HIV. 
 
 
a) Condicionantes da feminilidade e masculinidade: sendo-no-mundo-com-o-outro 
 
 
Entendo que compreender as relações entre o homem e a mulher requer perceber 
que, para além dos aspectos biológicos, temos as condições históricas, sociais, culturais e 
psicológicas da feminilidade e da masculinidade. Assim, compreende-se que o ser humano 
 
 31
está-no-mundo-com-o-outro e que suas relações estão permeadas da subjetividade de sua 
historicidade e que esta poderá determinar uma condição associada à feminilidade e à 
masculinidade. 
Para essa discussão, apóio-me nas idéias de Martin Heidegger, que buscou 
resgatar na filosofia a questão do ser. Suas idéias ajudam a compreender que o ser humano se 
manifesta a sua maneira, ele é um ser-no-mundo-com-os-outros e que o mundo no qual o ser 
humano existe é anterior ao mundo espacial e topográfico. Este também possui condições 
históricas, sociais e econômicas em que cada pessoa se situa e interage como extensão de si 
mesma (HEIDEGGER, 1997). 
Para o mesmo autor, esse ser-no-mundo são “as múltiplas maneiras que o homem 
vive e pode viver, os vários modos como ele se relaciona e atua com os entes que encontra e a 
ele se apresentam” (HEIDEGGER, 1981, p. 16). Seu modo de ser implica interações externas 
com os entes com quem se relaciona e também internas, objetivas e subjetivas, que se 
manifestam em suas atitudes e decisões e são apreendidas no dia-a-dia de forma significativa. 
Nesse sentido, o humano, ao estar lançado num mundo que é seu, possui 
familiaridade e relacionamento com os entes com quem se encontra, ou o fato de estar-no-
mundo-com-o-outro possibilita o desenvolvimento de condicionantes em sua maneira de ser. 
Assim, temos como uma das fontes de aprendizado e condicionantes o dia-a-dia na família, 
considerando-se desde as situações que antecedem a chegada de uma criança, as expectativas 
dos progenitores de ter uma menina ou um menino, o seu nascimento e o seu 
desenvolvimento mediado pelas interações com o outro. Essas interações, em breve, se 
expandem para o dia-a-dia na escola e, logo mais, no trabalho e na sociedade em geral. 
A possibilidade de a família ser uma das fontes de aprendizado do modo de ser 
está apoiada na transmissão de normas de como agir e se comportar em casa, na rua, na 
escola, sozinho e no mundo-com-os-outros. Também a transmissão dos valores da cultura, 
 
 32
marcada pela inserção geográfica dessa família, ou seja, a família do sul e do norte de nosso 
país, o Brasil, desenvolve valores culturais distintos, assim como as famílias africanas ou 
européias. 
Serão os valores e as normas imersos no mundo da família que poderão estar 
condicionando a maneira de ser mulher e de ser homem. Para Monteiro (2005), os símbolos 
que se traduzem como predicados, como, por exemplo, ser forte e decidido, ou, ao contrário, 
ser meigo, frágil e dependente, se perpetuam na esfera doméstica e destinam às meninas as 
tarefas que se realizam dentro da casa (limpar, cozinhar) e aos meninos as tarefas fora de casa 
(lavar o carro, limpar o pátio). 
Percebe-se que outras regras e normas são apreendidas também no agir entre um 
homem e uma mulher. Têm-se, então, condicionantes para a formação de um comportamento 
que se espera de cadaum em uma relação conjugal (MARODIN, 1997), tornando-se 
relevantes, principalmente, nos modos de relacionamentos sexuais entre homens e mulheres; 
mediados pela construção de uma relação assimétrica de poder entre eles. 
Nesse modo de ser no mundo-com-o-outro, percebe-se que as regras para 
definição de ser homem têm sido desenvolvidas em contraposição às da mulher, estando 
associada a um conjunto de práticas que convergem à virilidade, à força física e ao poder 
associados à sua constituição biológica e sexual (SOUZA, 2005). Assim, nas relações no 
mundo-com-o-outro, para ser homem não pode ter medo, chorar ou demonstrar sentimentos; o 
menino cresce compreendendo que pode arriscar-se diante do perigo, na maioria das vezes 
poderá resolver seus problemas com agressividade, considerando que, em suas relações 
conjugais e fora delas, será o detentor do poder, sendo outras atitudes inadequadas ou 
inferiores. 
Nesse sentido, estão os homens e as mulheres prisioneiros das heranças patriarcais 
da família tradicional, a despeito das inúmeras mudanças nas sociedades ocidentais modernas, 
 
 33
nos contextos sociocultural, econômico, científico, legal ou jurídico, religioso e psicológico 
que influenciam e estruturação das famílias. Essas mudanças são atribuídas, em parte, aos 
movimentos feministas originários nos Estados Unidos, bem como aos avanços alcançados no 
Brasil a partir da Constituição de 1988. 
Para Heidegger, os fatos históricos apenas compõem uma parte da compreensão 
do ser, sendo importante compreender que o ser também possui sua historicidade, a qual se 
constitui na relação do ser-com-o-outro em um mundo que lhe é próprio, familiar, conhecido, 
o qual está lançado no seu cotidiano, um mundo que é sempre compartilhado com os outros. 
Entende-se que o mundo compartilhado vivido é marcado pela desigualdade entre 
os seres humanos, questão que nos reporta às condutas de agressividade veladas ou não nas 
famílias, como nos apresenta Monteiro (2005), que desenvolveu seu estudo com 12 mulheres, 
na Delegacia Especializada da Mulher, em Teresina (Piauí). Nesse estudo, a mulher vivencia 
no interior de seu lar um cotidiano de brigas, xingamentos e humilhação, que a aproximam do 
temor e da angústia. Percebo que, em tal situação, apresenta-se uma diferença de valoração, 
pontuo, a do homem em detrimento da mulher. 
Outra questão que se relaciona à formação da masculinidade e feminilidade se 
reflete nos modos de recreação, também percebidas no dia-a-dia. À guisa de exemplos temos 
que para os homens, desde a mais tenra idade, são toleradas as condutas de agressão, os jogos 
esportivos violentos e o uso de bebidas alcoólicas, o que, por vezes, vem associado ao uso do 
automóvel, implicando, inclusive, em sua morte precoce e muitas vezes violenta, como 
apresenta a caracterização dos pacientes dos Hospitais da Rede SARAH (2005), em Brasília. 
Nessa pesquisa, acerca de agressões por arma de fogo, tem-se que a maioria das 
pessoas que internaram nesse hospital são adultos jovens (86,9%), do sexo masculino, 
solteiros, na faixa etária de 20 a 24 anos. Na mesma pesquisa, tem-se que do total de pacientes 
 
 34
investigados 71,7% são adultos jovens/homens vítimas de acidentes de trânsito, os quais 
possuem no máximo o ensino fundamental (SARAH, 2005). 
Esses dados nos levam a pensar e buscar compreender a existência de 
condicionantes da masculinidade que aproximam os jovens de situações vividas no dia-a-dia, 
como de violência, uso e abuso de drogas, adoecimento, exposição ao HIV e outras DSTs. 
Para Souza (2005), há uma associação entre o modelo hegemônico de construção da 
masculinidade, calcado nos valores patriarcais e machistas, e certa relação com a competição 
e a violência, o que tem trazido conseqüências para a saúde e vida dos homens. Refere-se, 
inclusive, à dificuldade de adoção de medidas preventivas às DSTs, incluindo-se mais 
recentemente a aids, discutindo que o corpo masculino é aquele que se expõe ao risco como 
forma de obter respeito. 
Percebe-se, assim, que na fase da adolescência, quando se abrem para o mundo, os 
jovens envolvem-se em circunstâncias que os aproximam da violência, sejam como autores ou 
como vítimas dela, e também se aproximam da possibilidade de exposição ao vírus da aids. 
Então, se considerarmos que, na adolescência, o seu modo de ser e estar-no-mundo-com-o-
outro toma outras proporções, perceberemos que suas interações perpassam a relação com os 
pares, que envolve a relação sexual, ou seja, inicia-se a experimentação da virilidade. 
Já nesse momento, percebe-se a presença de condicionantes tanto de 
masculinidade como de feminilidade, como, por exemplo, na norma sexual apreendida. Nesta, 
cabe à mulher se ocupar com a sua saúde reprodutiva, com o uso de anticoncepcional e a 
possibilidade da gravidez precoce ou indesejada, e ao homem cabe provar a sua 
masculinidade e, diante disso, poderá ser o uso do preservativo um empecilho. 
Nesse mesmo mundo da vida para as mulheres, o prazer que a recreação possa 
trazer é apreendido em lidas domésticas, reproduzindo a tradição no modo de ser mulher que 
cuida da casa, dos filhos e do companheiro. À mulher é permitida a manifestação do medo, 
 
 35
ela pode chorar e demonstrar seus sentimentos. Observa-se, então, que os condicionantes da 
feminilidade, mediados pela tradição e pela cultura, geram o modo de ser da mulher no 
mundo-com-o-outro no dia-a-dia. O mundo dos homens e o mundo das mulheres são 
distintos. Um se distingue em mundo privado, destinado ao feminino, e o outro é público, 
destinado ao masculino. 
Nesse sentido, a religião também acompanha o movimento dos espaços públicos e 
privados ocupados por homens e mulheres na sociedade. Mesmo se considerando a 
diversidade de religiões em todo o mundo e o uso e sentido do termo, sua definição mais 
aceita, segundo Silva (2004), é de que religião é um sistema comum de crenças e práticas 
relacionadas a seres sobre-humanos dentro de universos históricos e culturais específicos. 
Para Woodhead (2002), o desenvolvimento da religião foi marcado pelos 
movimentos culturais e sociais ocidentais. A autora refere que a religião é patriarcal, 
planejada por homens, executada por homens, que, nesse caso, acabam legitimando os 
interesses masculinos e subjugando as mulheres material e ideologicamente. Apresenta a 
participação diferenciada das mulheres na religião com variantes em relação ao grau de 
diferenciação social, estrutural e funcional da sociedade. 
Em sua análise, a religião tornou-se uma questão privada, considerando as 
sociedades altamente diferenciadas e industrialmente avançadas, ou a maioria das sociedades 
ocidentais, sendo, portanto da esfera da mulher, como espaço social aberto para a mulher, 
além da família. Surge como guardiã da vida privada e dos valores da família, desenvolvendo 
virtudes consideradas femininas, como o amor, a suavidade, a compaixão e a abnegação. 
Contudo, quando se busca a compreensão acerca da participação da mulher na 
política, tem-se que a ocupação de cargos públicos foi conquistada após a Conferência de 
Beijing, IV Conferência Internacional da Mulher, promovida pela Organização das Nações 
Unidas (ONU), em 1995. Movidas pelos acordos provenientes da conferência, mulheres 
 
 36
parlamentares brasileiras conseguiram aprovar emenda à legislação eleitoral de 20% de 
mulheres candidatas para cargos legislativos nas eleições municipais de 1996 (PETERSEN, 
1997). 
Nessa mesma conferência, aponta-se a necessidade de desenvolver e engajar os 
homens jovens para melhorar as condições de saúde sexual das mulheres, dadas as 
características de formação e da construção das atitudes esperadas de cada um. Entram em 
cena a discussão da saúde sexual e reprodutiva dos homens e das mulheres, a violência 
associada ao modo de ser homem e mulher e as relações de poder, com referencial na noção 
polarizada de serhomem e ser mulher e de opressão e submissão entre os seres humanos. 
No que se refere às implicações disso, encontra-se nas reflexões de Guimarães 
(2001) que a percepção reprodutora que a mulher tem de si e a aceitação dos códigos morais 
constroem sua identidade de “mulher de respeito” e “rainha do lar” (p. 33). Em nosso 
entendimento, essas implicações incluem a influência dos condicionantes da feminilidade que 
envolvem a aceitação das normas sexuais, dos valores de esposa sexualmente passiva, 
romanticamente amorosa, a fidelidade da mulher e até mesmo a tolerância de relações extra-
conjugais dos homens. 
Tais questões têm determinado sua condição feminina nesse mundo e aproximado 
a mulher da possibilidade de infecção pelo HIV. Associa-se, ainda, a tradição apreendida de 
ser a mulher responsável pelos cuidados de mãe e a abnegação como modo de ser, o que leva 
as mulheres a cuidarem do companheiro e dos filhos que adoecem de aids, 
independentemente de como se infectou. 
Ao ser explorado o mundo do trabalho, por exemplo, tem-se que, entre outras 
questões, a ocupação de cargos de chefia será feita preferencialmente por homens, os quais 
recebem salários melhores (LOPES, 1997). Na educação, mais especificamente nas escolas e 
universidades, há presença predominante de mulheres. Para Petersen (1997), essa questão 
 
 37
passa pela naturalização do processo de educar feito por mulheres. Então, à mulher cabe a 
educação dos filhos, o cuidado com as tarefas escolares e a extensão desse cuidado no mundo 
profissional da Educação e também da Enfermagem. 
Percebo tais circunstâncias como de grande relevância para uma sociedade e não 
em detrimento da mulher, porém reforçam as desigualdades. Assim, percebem-se os nexos 
entre a tradição ocidental na formação do modo de ser homem e de ser mulher, mesmo que 
inúmeras mudanças possam já ter ocorrido. Estas são percebidas inicialmente no que Souza 
(2005) considera como uma crise na identidade masculina em que o novo homem já pode 
chorar e expressar suas emoções, demonstrar sua sensibilidade e estar mais próximo à mulher 
e às crianças. 
Há também uma diminuição entre a distinção do mundo público e do mundo 
privado, pois a casa vem se tornando o local de trabalho, e o trabalho tornando-se a casa. A 
religião/espiritualidade está sendo trazida para o domínio público como componente de 
reflexão ética (WOODHEAD, 2002) e novos padrões de trabalho – alguns já privilegiam a 
criatividade e a individualidade, antes relacionados exclusivamente à feminilidade. 
Entretanto, o modelo hegemônico de constituição do masculino e do feminino 
ainda tem sua contribuição decisiva para aumentar a exposição dos homens e das mulheres às 
infecções sexualmente transmissíveis, devido, principalmente, à dificuldade de adoção de 
medidas preventivas, mediadas pela interação social, pelo ser e estar-no-mundo-com-o-outro 
em uma relação marcada pela desigualdade. 
Assim, os condicionantes da masculinidade e da feminilidade formam nexos e 
fronteiras embaraçadas com a discussão das circunstâncias individuais e sociais. Somados às 
circunstâncias de implantação e implementação de políticas públicas na área da saúde, da 
educação e economia. Todas carregam a possibilidade de aproximar ou afastar homens e 
mulheres da saúde ou da doença, da infecção pelo HIV ou do adoecimento de aids, trazendo 
 
 38
certa complexidade à temática. Nesse sentido, dadas as relações e a interdependência, 
passamos a olhar atentamente a possibilidade de ter a mulher sorologia positiva ao HIV. 
 
 
b) Sendo mulher-mãe com HIV/aids: possibilidades assistenciais 
 
 
Durante minha experiência assistencial no HUSM, tenho percebido a 
interdependência das circunstâncias individuais e sociais, com nexos relacionados aos 
condicionantes da masculinidade e da feminilidade e, também, as circunstâncias que 
envolvem a implantação e implementação de políticas públicas. A partir daí, tenho 
compreendido que foram envolvidos pela epidemia, inicialmente, os homens e depois as 
mulheres e as crianças. 
Mulheres, na década de 1980 e até meados de 1990, descobriam que estavam 
infectadas, em meio a desespero, surpresa e decepção, quando seu marido ou companheiro 
adoecia ou morria de aids, ou seja, durante o desenvolvimento do cuidado ao outro. Era desse 
modo que mulheres/mães/cuidadoras dos filhos/as infectados/as ou do companheiro se 
descobriam infectadas, em meio ao silêncio do não dito, do diagnóstico velado pelo sigilo, ou 
mesmo diante do diagnóstico, mas envolto no pacto de silêncio existente entre os seres e na 
família (PADOIN, 1998), ou diante do exame reagente para o HIV de seu recém-nascido. 
Ao final da década de 1990, dada a ampliação das políticas públicas e a inserção, 
mesmo que modesta, das mulheres nelas, a mulher, na busca do cuidado à sua saúde, descobre 
a infecção pelo HIV, na maioria das vezes durante a assistência ao parto ou durante o pré-
natal. Quando observo essa situação, destaco que o modelo assistencial vigente reserva pouco 
espaço para atenção à saúde da mulher adolescente ou jovem que se encontre fora do período 
grávido-puerperal. Ou seja, percebo que é quando tem acesso ao serviço de saúde, ou quando 
está grávida, que a mulher se descobre infectada pelo HIV. 
 
 39
Assim, a prevenção primária que busca diminuir a chance de a mulher se infectar 
está longe de alcançar bons resultados, a despeito dos inúmeros desafios postos em relação à 
compreensão dessa mulher como um ser-no-mundo-com-os-outros e dos condicionantes da 
feminilidade. A prevenção secundária tem se iniciado depois da infecção instalada. Tenta-se 
prevenir a transmissão do HIV da mãe para a criança e minimizar a possibilidade do 
adoecimento da mulher com sorologia para o HIV. Nesse cenário, será possível o encontro da 
mulher/mãe com HIV/aids com o profissional da equipe de saúde. 
Com a inserção da nova doença no cenário dos serviços de saúde de infectologia, 
ginecologia e obstetrícia, entre outros, e a partir do encontro com os profissionais das equipes 
de saúde, inúmeras inquietações do cotidiano do trabalho moveram a realização de 
investigações. Destaco os estudos de Pereira (1997), Paiva (2000), Ruggiero (2000), Moura 
(2002) e Carmo (2002), observando que têm como sujeitos da pesquisa as mulheres com 
HIV/aids e estão ancorados na abordagem qualitativa. 
Pereira (1997) tem como objetivos a compreensão do significado de estar com 
aids e ser mãe e as representações sociais acerca de sua situação, na perspectiva da Psicologia 
Social. O estudo foi desenvolvido em Fortaleza/Ceará, em duas instituições, com mulheres 
portadoras do HIV que tiveram filhos e que não haviam transmitido o vírus para eles. Esse 
estudo mostra como as emoções e os sentimentos como ansiedade, castigo, condenação e 
medo, o isolamento social, a discriminação, a morte e o morrer em vida, a polaridade do bem 
e do mal estão associadas ao cristianismo. Mostra, ainda, o conflito de “ser mãe” e “estar 
com” aids, além dos modos de enfrentamento, como a fuga, a negação, a compensação e o 
filho como a maior motivação. 
Já o estudo de Westrupp (1997), desenvolvido em Florianópolis-SC, no 
ambulatório de ginecologia do hospital universitário, apresenta a busca de respostas em 
relação a comportamentos sexuais das mulheres e a situação de infectadas ou que tenham 
 
 40
parceiros infectados. A autora discorre acerca da perspectiva da vida sexual revelada, ao 
considerá-la diferente da que “tradicionalmente se espera de uma mulher”. Dada a gravidade 
da doença e as campanhas de prevenção, a autora esperava que as mulheres tivessem outros 
comportamentos. 
Nesse sentido, compreendo que provavelmente as primeiras campanhas de 
prevenção não estavam atingindo as mulheres, ou nem as tinham como alvo, uma vez que, em 
meados da década de 1990, as medidas preventivas e as políticas públicas apontavam a 
tendência de procurar

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