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Monografia Mulheres, HIV/AIDS e a discriminação

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ESCOLA SUPERIOR BATISTA DO AMAZONAS 
CURSO DE PSICOLOGIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MULHERES QUE CONVIVEM COM O HIV/AIDS: UM OLHAR 
PARA A DISCRIMINAÇÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MANAUS 
 2018 
 
 
 
SIMARA DA COSTA CORRÊA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MULHERES QUE CONVIVEM COM O HIV/AIDS: UM OLHAR 
PARA A DISCRIMINAÇÃO 
 
 
 
Projeto do Curso de Psicologia da 
Escola Superior Batista do 
Amazonas, elaborado pela aluna: 
Simara da Costa Corrêa como 
requisito para obtenção da nota do 
Bimestre, sob a orientação do Prof. 
Me. Herbert Santana Garcia Oliveira. 
 
 
 
 
 
 
MANAUS 
 2018 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FICHA CATALOGRÁFICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FOLHA DE APROVAÇÃO 
 
Foi apresentado o Trabalho de Conclusão de Curso como requisito para 
aquisição do grau de bacharel em Psicologia. O trabalho tem como título: MULHERES 
QUE CONVIVEM COM O HIV/AIDS: UM OLHAR PARA A 
DISCRIMINAÇÃO elaborada pela discente Simara da Costa Corrêa. 
 
 
 
Aprovado em -----/-----/------ 
 
 
 
___________________________________________ 
Prof. Me. Herbert Santana Garcia de Oliveira 
Orientador 
 
 
 
____________________________________________ 
Profª. Claudia de Brito Bidinoto 
1º Membro 
 
 
 
____________________________________________ 
Profª. Neise Bezerra do Nascimento 
2° Membro 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A persistência é o caminho do êxito. 
-Charles Chaplin.
https://www.pensador.com/autor/charles_chaplin/
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Quero agradecer a Deus por ter me ajudado a superar as dificuldades e a 
tornar possível a realização de um sonho muito importante para mim. 
Aos professores reconheço e agradeço profundamente a confiança e a 
orientação. Sem eles não teria conseguido. 
À minha família e amigos tenho um agradecimento muito especial porque 
acreditaram em mim desde o primeiro instante. Sou quem sou porque vocês, 
estiveram e estão sempre ao meu lado. 
Por fim, mas não menos importante, deixo uma palavra de gratidão a todas as 
pessoas que de alguma forma tocaram meu coração e transmitiram força e 
confiança em mim. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO ................................................................................................ 10 
JUSTIFICATIVA ............................................................................................. 12 
Questões norteadoras: ................................................................................ 12 
Objetivos: ...................................................................................................... 13 
Geral: ........................................................................................................... 13 
Específico: ................................................................................................... 13 
REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................. 14 
MÉTODO ........................................................................................................ 36 
Tipo da Pesquisa ......................................................................................... 36 
Coleta de Dados .......................................................................................... 37 
Critérios de Inclusão .................................................................................... 38 
Análise de Dados ......................................................................................... 38 
DISCUSSÃO................................................................................................... 41 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 48 
REFERÊNCIAS .............................................................................................. 52 
APÊNDICE I ................................................................................................... 59 
APÊNDICE II .................................................................................................. 59 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
A pesquisa teve como tema mulheres que convivem com o HIV/AIDS: um olhar 
para a discriminação. O objetivo geral foi compreender o impacto psicossocial e 
seus fenômenos em mulheres nas produções acadêmicas que convivem com o 
HIV/AIDS no que diz respeito ao preconceito, discriminação e estigma. Os 
objetivos específicos foram: identificar nas produções acadêmicas os tipos de 
preconceitos, discriminação e estigmas que as mulheres que vivem com 
HIV/AIDS vivenciam; investigar aspectos psicossociais da vida de mulheres 
infectadas pelo HIV/AIDS e analisar a condição de mulher no combate ao 
preconceito, discriminação e estigma em relação ao HIV/AIDS. O referencial 
teórico foi composto por alguns tópicos que abordam a relação de preconceito 
e discriminação na questão do estigma; a feminização do HIV/AIDS no 
contexto da discriminação do uso do preservativo; a compreensão de mulheres 
estigmatizadas diante do diagnóstico positivo; representações sociais e 
aspectos psicossociais do HIV/AIDS; como essa mulher é vista no ambiente de 
trabalho e a questão de como essa mulher é inserida na sua relação familiar, 
trazendo ideias de Aroldo (2009), Garcia (2008), Paiva (1992), entre outros. O 
método de coleta de dados foi realizado através da análise de conteúdo 
trilhando a proposta de Bardin (1977) e Lakatos (2003), teve como tipo de 
pesquisa qualitativa em vista da pesquisa bibliográfica. O tratamento de dados 
foi realizado através de alguns fichamentos com dados extraídos de livros, 
artigos e sites utilizados nesta pesquisa. A partir de diversos dados do 
referencial teórico foram organizadas algumas categorias divididas em: 1) A 
vivência de mulheres com o HIV/AIDS: reflexões 2) A questão biopsicossocial 
do Ser mulher com HIV/AIDS e 3) O preconceito, a discriminação e o estigma 
junto a concepção de resiliência da mulher e o HIV/AIDS, desse modo a 
pesquisa serve como reflexo e discussão para que se olhe a mulher 
soropositiva de um modo pouco visto, um olhar mais humano, mais percebido 
tendo em vista o impacto que ocorre consigo (mulher) e com o meio social em 
que vive. 
 
Palavras-chave: HIV/AIDS. Condição de Mulher, Preconceito, Discriminação e 
Estigma. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
The research focused on women living with HIV / AIDS: a look at discrimination. 
The general objective was to understand the psychosocial impact and its 
phenomena in women in academic productions that coexist with HIV / AIDS 
regarding prejudice, discrimination and stigma. The specific objectives were: to 
identify in academic productions the types of prejudices, discrimination and 
stigmas that women living with HIV / AIDS experience; to investigate the 
psychosocial aspects of the life of HIV / AIDS-infected women and to analyze 
the status of women in combating prejudice, discrimination and stigma in 
relation to HIV / AIDS. The theoretical framework was composed of some topics 
that address the relationship of prejudice and discrimination in the issue of 
stigma; the feminization of HIV / AIDS in the context of discrimination in condom 
use; the understanding of stigmatized women in the face of positive diagnosis; 
social representations and psychosocial aspects of HIV / AIDS; as this woman 
is seen in the work environment and the question of how this woman is inserted 
in her family relation, bringing ideas of Aroldo (2009), Garcia (2008), Paiva 
(1992), among others. The method of data collection was carried out through 
the analysis of content, following the proposal of Bardin (1977) and Lakatos 
(2003), had as qualitative research type in view of the bibliographic research. 
Data processing was done through some fileswith data extracted from books, 
articles and websites used in this research. Based on several data from the 
theoretical framework, some categories were divided into: 1) The experience of 
women with HIV/AIDS: reflections 2) The biopsychosocial question of being a 
woman with HIV/AIDS; 3) Prejudice, discrimination and stigma along with the 
conception of women's resilience and HIV / AIDS, so the research serves as a 
reflection and discussion to look at the HIV-positive woman in an unseen way, a 
more human, more perceived view in view of the impact that occurs with you 
(woman) and with the social environment in which you live. 
 
Keywords: HIV/AIDS. Condition of Woman, Prejudice, Discrimination and 
Stigma. 
 
10 
 
TEMA: Mulheres, HIV/AIDS e a discriminação. 
Delimitação do Tema: Mulher convivendo com HIV/AIDS e a questão da 
discriminação. 
INTRODUÇÃO 
 
A AIDS é um grande problema de saúde pública no Brasil. Segundo 
dados estatísticos atuais, por mais que ainda haja mais casos notificados em 
homens, a velocidade de crescimento da epidemia é maior entre mulheres, 
apesar disso, vem ganhando menos proporção com o tempo (SANTOS et al, 
2002). 
É um aumento desse caso entre mulheres que pode ter em questão a 
razão de sexos (como o número de casos no sexo masculino dividido pelos 
casos no sexo feminino). Fazendo um comparativo dos anos 1989 com 2011, 
naquela época existia cerca de 6 casos da doença em homens para cada 1 
caso em mulheres, e já recentemente o número é visado em 1,7 caso no sexo 
masculino para cada 1 em mulheres. Dados que revelam que nas mulheres 
houve 86,8% de casos registrados no ano de 2012 foram ocorridos em 
relações heterossexuais por meio de pessoas infectadas pelo HIV. E já entre 
os homens 43,5% foram casos por relações heterossexuais, 24,5% por meio 
de relações homossexuais e 7,7% por bissexuais e os demais foram por 
transmissões sanguíneas e verticais. A proporção de infecção entre homens e 
mulheres vem diminuindo ao longo da história da doença no país, e permanece 
estável, sendo que mais da metade dos infectados pelo vírus da AIDS no 
mundo já é constituída por mulheres e garotas (Franco & Figueiredo, 2004). 
Ainda assim, as mulheres soropositivas para o vírus da imunodeficiência 
humana (HIV) parecem ter menor visibilidade social por parte das organizações 
não-governamentais de AIDS. Mesmo nos serviços públicos de saúde, o 
diagnóstico e o acesso ao tratamento acontecem em estágios mais tardios da 
doença quando comparados aos homens que chegam aos serviços (Santos et 
al, 2002). 
Em 1988, foi criada pela Constituição brasileira uma Declaração dos 
Direitos Fundamentais da Pessoa Portadora do Vírus da AIDS, que visa 
garantir os direitos do indivíduo, entre eles, o de dignidade humana e livre 
 
11 
 
acesso à saúde pública que lhes cabe. Houve um aumento por parte das 
pessoas do sexo feminino em relação ao crescimento da infecção pelo 
HIV/AIDS, em que se mostra essencial a urgência no que diz respeito à 
qualidade do atendimento assistencial na questão psicossocial a mulheres que 
vivem com o HIV/AIDS. 
A observância no que tange esta pesquisa é o enfoque no que diz 
respeito ao preconceito e discriminação social e familiar vivenciada por 
mulheres na cidade de Manaus, vislumbrando o contexto psicológico, muito 
além dos aspectos patológicos da doença, e formas conscientizadoras e 
prevencionistas exploradas de forma intensa por organizações humanitárias e 
governamentais. 
Em contexto histórico e questões relacionadas à sexualidade, as 
mulheres sofreram alguns processos de discriminação e que ao longo dos 
séculos e anos foram superando essa tangente por meio de suas conquistas: 
trabalhistas, sociais, eleitorais e sexuais. Nessa dimensão da sexualidade e da 
saúde produtiva, as questões da mulher, por suas escolhas, eram muito 
limitadas: não podiam escolher seu companheiro, não podiam decidir sobre 
quantos filhos queriam ter, nem quando queriam ter, eram mal vistas se 
passassem por divórcios, e até nos tempos atuais sofrem discriminações caso 
se mostrem ativas sexualmente de diversos modos. Nesse ponto da mulher 
ativa sexualmente, entra a questão do HIV/AIDS, pois o pensamento pautado 
socialmente é o de que toda mulher que convive com essa situação foi 
colocada nela por motivos de que ou é/era promíscua, pecadora ou não teve 
pudor suficiente, ou seja, uma vida indigna. 
É importante discutir a relação entre mulher, HIV/AIDS, preconceito, 
discriminação e estigma, pois, a congestão social da desigualdade guia a 
ações ou exclusões que vão danificar ou negligenciar o acesso de 
procedimentos das pessoas a determinados serviços, caracterizando-se assim 
o estigma de modo efetivado no que diz respeito ao campo do direito, o não 
tratamento igualitária e justiça diante da pessoa passa a ser a discriminação, 
definida como “tratamento injusto” sobre determinado grupo específico 
(Maluwa, Aggleton, & Parker, 2002). Assim, toda discriminação ligada ao 
HIV/AIDS passa a ser a manifestação simbólica do estigma em fatores como: 
palavras, gestos etc.
 
12 
 
JUSTIFICATIVA 
 
Foi ao longo de um trabalho em um hospital que atendia demanda de 
média e alta complexidade no hospital que comecei a pensar em como essas 
pessoas já portadoras são acompanhadas por psicólogos e que através de 
algumas pesquisas descobri que esse acompanhamento não é feito de forma 
adequada e foi aí que partiu a ideia do tema onde a temática abordada é 
resultado de uma inquietude a essa epidemia que se propaga gradativamente 
entre mulheres, onde o foco central é o controle dos sintomas físicos através 
de drogas/terapia antirretrovirais. Observa-se um temor exclusivo para o 
quadro de prevenção, com poucas ações de trabalho psicológico 
intervencionista, direcionados para mulheres com sofrimento psíquico em 
consequência do preconceito e da discriminação por serem portadoras do vírus 
HIV/AIDS. 
Em carácter social esta pesquisa preconiza cada vez mais o grau de 
importância do psicólogo nesse contexto, que vai muito além do cuidado dos 
sintomas fisiológicos. Analisar conflitos como medo, isolamento e negação, 
sentimentos vivenciados por essas mulheres no seu cotidiano, é abordar 
formas de enfrentamento eficazes para uma reconstrução de identidade e 
dignidade da pessoa que estão fragmentadas. Este trabalho implica também 
em mostrar que a Psicologia Social é importante para a compreensão das 
ações que se desvelam no comportamento humano. Servirá de contribuição da 
Psicologia dentro do campo da saúde, compreendido pelo profissional através 
de práticas que objetivam reduzir os danos na saúde física e mental, 
vislumbrando esse ser como um todo, e não meramente um vírus. 
No âmbito acadêmico é esperado que esta pesquisa, potencialize a 
importância do tratamento psíquico com métodos e técnicas adequadas no 
intuito de restabelecer a autoestima e, por conseguinte a inclusão social. O 
Problema da pesquisa: Como as Mulheres portadoras do vírus HIV/AIDS 
vivenciam o processo de enfrentamento do preconceito, da discriminação e do 
estigma? 
Questões norteadoras: 
- Como a resiliência pode ser desenvolvida nessas mulheres soropositivas? 
 
13 
 
- De que modo pode-se dar mais assistência em relação a prevenção, 
promoção e assistência as mulheres com HIV/AIDS gestantes ou com desejo 
de planejamento familiar? 
- De que forma o Ser mulher afeta o contexto social dessa mulher com 
HIV/AIDS? 
Objetivos: 
 
Geral: 
 
 Compreender o impacto psicossocial e seus fenômenos em mulheres 
nas produções acadêmicas que convivem com o HIV/AIDS no que diz 
respeito ao preconceito, discriminação e estigma. 
Específico: 
 
 Identificar nas produções acadêmicas os tipos de preconceitos, 
discriminação e estigmas que as mulheres que vivem com HIV/AIDS 
vivenciam. 
 Investigar aspectos psicossociais da vida de mulheres infectadas pelo 
HIV/AIDS. Analisar a condição de mulher no combate ao preconceito, 
discriminação e estigma em relação ao HIV/AIDS. 
 
14 
 
REFERENCIAL TEÓRICO 
Nessa parte, serão relatados alguns tópicos referentes ao trabalho de 
pesquisa que aborda a relação de preconceito e discriminação na questão do 
estigma; a feminização do HIV/AIDS no contexto da discriminação do uso do 
preservativo; a compreensão de mulheres estigmatizadas diante do diagnóstico 
positivo; fatores que influenciam positivamente no enfrentamento da infecção; 
saúde sexual, reprodutiva e planejamento familiar; representações sociais e 
aspectos biopsicossociais do HIV/AIDS; como essa mulher é vista no ambiente 
de trabalho e a questão de como essa mulher é inserida na sua relação 
familiar. 
 A relação de preconceito e discriminação na questão do estigma 
Segundo Aurélio (2009), o termo preconceito é definido como conceito 
ou opiniões criadas de modo antecipado, onde não é concebido ponderação, 
conhecimento dos fatos ocorridos ou pensamento preconcebido. Para coibir tal 
julgamento a Constituição Federal de 1988 consagrou em seu texto o princípio 
da isonomia, ao afirmar no caput de seu art. 5º que “Todos são iguais perante a 
lei, sem distinção de qualquer natureza...”. Essa lei se estende ao portador do 
HIV/AIDS, em defesa de sua integridade. 
Toda pessoa com HIV e AIDS tem direito a continuação de sua 
vida civil, profissional, sexual e afetiva. Nenhuma ação poderá 
restringir seus direitos completos à cidadania (Artigo XI da 
Declaração dos Direitos Fundamentais da Pessoa Portadora do 
vírus HIV da AIDS, 1989). 
Por discriminação, a Lei 12.984, de 2 junho de 2014 define como crime a 
conduta de discriminar o portador do vírus HIV e o doente de AIDS em razão 
de sua condição de portador ou de doente, com pena de reclusão de um a 
quatro anos e multa. 
Se tratando da lei que guia os direitos grupais que estão em questões 
vulneráveis ao preconceito e à discriminação, o país tem uma legislação 
específica onde se preservam os direitos humanos dos portadores do 
HIV/AIDS, trazendo planos com ações e objetivos, como por exemplo, um 
plano de políticas públicas para procurar combater a epidemia. Contudo, 
 
15 
 
pesquisas mostram indícios de pouca concretividade se tratando da exalação 
para a exclusão social. 
No contexto apresentado pelo diretor-presidente da ABIA – Associação 
Brasileira Interdisciplinar de AIDS. Parker (2010, p.24), ele fez um comparativo 
em 2010, recordando que já haviam se passado aproximadamente dez anos 
desde o discurso de Jonathan Mann desde 1989, sinalizando o que para ele 
era o maior entrave à prevenção e ao controle da doença, o que denominou de 
rejeição social, que infelizmente apesar da crescente atenção, mais uma 
década se passará com pouco progresso. 
De 1989 do discurso do Dr. Jonathan Mann fundador do Programa 
Global de AIDS, na Assembleia Geral das Nações Unidas, da Organização 
Mundial de Saúde (OMS) para a realidade atual do portador do vírus, quebrar a 
barreira do preconceito social ainda é algo a ser conquistado, talvez este seja o 
sintoma mais avassalador da doença. 
Segundo Jonathan Mann, a epidemia é composta por três fases: 
A primeira é a epidemia da infecção pelo HIV que 
silenciosamente penetra na comunidade e passa muitas vezes 
despercebida. A segunda epidemia, que ocorre alguns anos 
depois da primeira, é a epidemia da própria AIDS: a síndrome 
de doenças infecciosas que se instalam em decorrência da 
imunodeficiência provocada pela infecção pelo HIV. 
Finalmente, a terceira (talvez, potencialmente, a mais 
explosiva) epidemia de reações sociais, culturais, econômicas 
e políticas à AIDS, reações que, nas palavras do Dr. Mann, são 
“tão fundamentais para o desafio global da AIDS quanto à 
própria doença" (Herbert; Parker, 1991, p.13). 
Os estudos revelam que mesmo diante do avanço da medicina e toda 
informação das formas de transmissão da doença, ainda assim, não se 
consegue erradicar o estigma que induz ao preconceito e, por conseguinte a 
discriminação que norteia grande parte da população soropositiva (Mann, 
1989). 
O conceito de estigma é definido como uma marca ou mácula em 
alguém ou em um grupo de pessoas, que são encarados de forma negativa 
devido a características inerentes à sua pessoa, e por isso, são 
 
16 
 
frequentemente discriminadas. Como consequência desse fato, é comum que 
lhes sejam negados direitos básicos de todo cidadão, como direito ao trabalho, 
à educação, moradia e acesso aos serviços de saúde. Além disso, indivíduos 
que possuem uma relação social de proximidade com os pacientes 
soropositivos também estão sujeitos à estigmatização, sendo família, amigos e 
cuidadores destes alvos frequentes de preconceito (ABIA, 2013). 
Pessoas que pertencem a grupos associados com os fatores de risco de 
contaminação com o vírus, como migrantes pobres, profissionais do sexo e 
homens que têm o hábito de praticar sexo com outros homens, podem 
enfrentar o estigma e a discriminação apenas por estarem inclusos nesses 
grupos. Além de existir a discriminação externa, que ocorre por reações 
preconceituosas da sociedade em relação ao indivíduo soropositivo, há 
também a possibilidade de as vítimas desse estigma internalizarem essa visão, 
acreditando desse modo que merecem ser discriminadas e maltratadas, ou que 
esses percalços são situações normais com as quais é preciso se habituar, 
trazendo assim, consequências graves à sua saúde mental (ABIA, 2013). 
Após ter sido diagnosticado, sofri vários tipos de estigma e 
discriminação e achei que não poderia viver daquela maneira 
nem deixar que as pessoas falassem mal de mim... Por isso 
decidi levantar a voz e dizer, desculpe-me, mas eu não sou 
assim e esta não é a vida que eu quero para mim‟ Musa Njota 
(citado em Daily News, África do Sul, 14 de julho de 2000). 
 Existem várias maneiras que podem ser exploradas com o objetivo de 
diminuir o estigma social que cerca os portadores de HIV: Desenvolver os 
aspectos positivos em relação ao HIV, levando em conta o fato de que muitos 
indivíduos soropositivos relatam mudança de vida para melhor com o 
tratamento adequado, e mudanças de prioridades na vida, apesar das 
dificuldades financeiras, nas relações amorosas e na saúde; aumentando o 
acesso à informação sobre a doença na atenção primária, trazendo a 
conscientização de que o HIV afeta a todos os grupos - homens, mulheres e 
crianças - e enfatizando que com o apoio e tratamento adequados, as pessoas 
com HIV podem viver vidas positivas; reconhecendo a diversidade dos 
comportamentos sexuais e estimulando o respeito à opção e orientação sexual 
de cada pessoa, porquanto embora a maioria das sociedades considere o 
 
17 
 
comportamento sexual 'normal' como o sexo entre homem e mulher dentro do 
casamento, na realidade as pessoas praticam uma ampla gama de 
comportamentos sexuais, e isso deve ser respeitado por Lei, de acordo com a 
Constituição Brasileira. 
Os programas de prevenção visam reduzir a discriminação promovendo 
o acesso da população a informações sobre abordagens adequadas de sexo 
seguro entre diferentes grupos. Eles acabam se mostrando de extrema 
importância no sentido de empoderar os pacientes soropositivos e encorajar os 
grupos de apoio a pessoas infectadas, que os ajudam a desafiar o estigma e a 
discriminação crescentes. Também auxiliam diretamente na redução dos 
temores de membros da família e na orientação prática ao cuidado de pessoas 
com HIV, oferecendo aconselhamento com qualidade e resolução de dúvidas, 
e envolvendo ambos os parceiros sempre que possível em sessões antes e 
depois do teste. Se apenas um dos parceiros for testado, aconselhado e 
tratado, este pode ser considerado culpado de trazer o HIV para dentro do 
relacionamento (ABIA, 2013). 
Segundo Aroldo (2009), o preconceito carrega como base as crenças, 
onde há características pessoais que pode serdado a grupos ou determinada 
pessoa, chamado de estereótipos. Para os psicólogos sociais contemporâneos 
o estereótipo serve como base cognitiva do preconceito. Quando se trata de 
expressões verbais ruins ou condutas negativas diante de alguém, se vê a 
discriminação. 
O preconceito está ligado à agressividade que pode levar a 
discriminação que segundo Aroldo (2009) todos nós temos a nossa linha do 
preconceito, porém, cada um reage a ela de uma maneira diferente. Já Garcia 
(2008) relata que a maioria das consequências ruins da estigmatização de 
pessoas parte por conta da discriminação nos lugares públicos e instituições 
privadas que desse modo gera hostilidade, exclusão, dentre outras reações. 
De acordo com Garcia (2008) a estigmatização da AIDS se ligou aos 
primeiros casos da doença que aconteceram na década de 80, e assim a mídia 
alarmou a sociedade associando a doença a grupos populacionais específicos 
 
18 
 
como algo fatal e ruim. O estigma do HIV/AIDS continua de distintas formas de 
valor mundial quando se trata de campanhas públicas sobre o assunto. 
 A feminização do HIV/AIDS no contexto da discriminação do uso do 
preservativo 
De acordo com o Departamento de IST, AIDS e Hepatites Virais, o 
HIV/AIDS, a princípio, surgiu com a prerrogativa de ter sua origem nas relações 
de grupo de risco como homossexuais, usuários de drogas que 
compartilhavam a mesma seringa e os hemofílicos. Na atualidade essa ideia foi 
desconstruída, se reformulando para comportamento de risco. O reflexo dessa 
reconstrução é o alto índice da epidemia entre heterossexuais, principalmente 
em mulheres, pois as relações são pautadas na resistência por parte do 
parceiro em usar o preservativo. 
De acordo com Paiva (1992), o preconceito se faz presente no uso de 
preservativo por parte das mulheres, pois, se faz uso é porque poderá estar 
tendo uma vida sexual aberta/ativa, podendo pensar até em infidelidade por 
parte dela ao seu parceiro. Mulheres que dependem financeiramente e 
emocionalmente dos parceiros são mais suscetíveis a aceitar essa condição de 
submissão no ato sexual, tornando-se alvo de uma possível contaminação. 
A crença social e historicamente construída é de que as mulheres 
consideradas promíscuas são as que aumentam os índices de infecção 
feminina pelo HIV/AIDS. Porém, segundo a vigilância epidemiológica, a 
infecção feminina é alta entre as mulheres casadas que têm relações sexuais 
exclusivamente com seus maridos. Isso acontece porque as que mais estão se 
infectando são justamente aquelas que se acreditam estar fora de qualquer 
risco, o que as torna mais vulneráveis (Carvalho & Piccinini, 2008). 
Já Franco & Figueiredo (2004) relatam que as mulheres chegam a 
reconhecer os fatores de vulnerabilidade em outras mulheres, mas não 
consideram a si próprias em risco para infecção, o que contribui para não 
prevenção e para demora no diagnóstico. Outro fator que contribui para que 
muitas vezes elas não se percebam sob risco é o papel arraigado à mulher de 
 
19 
 
“cuidadora” do lar, que faz com que sua prioridade seja a saúde dos outros 
membros da família. 
Em estudo sobre reprodução e sexualidade em mulheres HIV positivas, 
Santos (2002) descreve que a média de idade do primeiro intercurso sexual foi 
de 17,5 anos; 22% das mulheres foram vítimas de abuso pelo menos uma vez 
(abuso como realização de sexo sob coerção ou pelo uso de violência); 27% 
tiveram até dois parceiros durante a vida; 27%, até quatro parceiros; 24%, de 
cinco a dez parceiros; e 22% referiram mais de dez parceiros. A mediana do 
número de parceiros na vida foi quatro, e estes eram, quase sempre, parceiros 
fixos (Santos et al, 2002). 
Dados apresentados pela organização internacional Engener Health 
(2008) e a UNFAP - Fundo de População das Nações Unidas (2008), o índice 
de mulheres brasileiras adultas, adolescentes e jovens infectadas aumentou de 
forma significativa desde o seu surgimento. Por volta de 1980 e junho de 2007, 
houve notificações de 314.294 relacionado ao sexo masculino e 159.793 
correlacionando para com o sexo feminino, onde o Brasil chegou a posição de 
país mais bem estruturado para controlar a epidemia, totalizando princípios do 
Sistema Único de Saúde (SUS): universalidade, equidade, integralidade, 
descentralização e participação social. Ligando com a criação de programas 
assistenciais e uniões com outras organizações não governamentais. 
Algumas suposições da Organização Mundial de Saúde trazem 
informações de que as mulheres são de duas a quatro vezes mais 
tendenciosas do que os homens sobre contrair a infecção de vírus da AIDS. 
Segundo pesquisas realizadas por órgãos específicos, isso seria ao fator 
vulnerabilidade biológica e socioeconômica. 
Grande parte de mulheres soropositivas fazem uso de preservativo no 
intuito de não engravidar e não necessariamente para proteção de uma 
possível reinfecção ou até mesmo de impedir a transmissão do HIV. Quando 
engravidam automaticamente interrompem o uso de preservativos, contudo, 
casais soropositivos também deverão fazer uso do mesmo para procurar evitar 
a reinfecção e até se proteger de um vírus de resistência mais forte que o seu 
(Kornfield, 2010). 
 
20 
 
Muitas mulheres não conseguem ter um diálogo apropriado com o seu 
parceiro em relação ao uso do preservativo. Ainda existem mitos tabus em 
cima da sexualidade, onde as relações amorosas não são construídas de 
respeito, igualdade, segurança afetiva e financeira, entre outros fatores pontos. 
O não uso do preservativo implica na ideia de negligência e subestimação dos 
riscos, onde a razão perde para a emoção. Pode-se dizer então que a 
emancipação feminina está longe de ser consolidada partindo do princípio de 
que é percebido nas oscilações dos graus de empoderamento que a implicam 
(Muhlen, Saldanha & Strey, 2014). 
Manaus conta com algumas unidades para assistência ambulatorial em 
IST/AIDS, e sua referência no país é a Fundação de Medicina Tropical Doutor 
Heitor Vieira Dourado FMT-HVD, prestando assistência a toda população do 
estado do Amazonas, por ações desenvolvidas através da Coordenação 
Estadual de IST e AIDS, com o atendimento ambulatorial médico e psicológico 
que atua em conjunto com as ONGs (Organizações não-governamentais) para 
dar sequência ao tratamento, como a Rede de Mulheres Positivas do Estado 
do Amazonas, que trabalha com ações sociais em prol das pessoas vivendo 
com HIV/AIDS, familiares e mulheres. 
O trabalho desenvolvido tanto por ações governamentais quanto em 
grupos sociais organizados, revelam que muito há de ser feito, em torno dos 
rótulos pejorativos e tratamento da doença, em especial o campo psicológico. 
Simonetti (2004) relata que diante da doença, o sujeito pode demonstrar suas 
subjetividades através de sentimentos, pensamentos, desejos e 
comportamentos, como também lembranças, crenças e o modo de adoecer, 
são conteúdos que surgem ao processo da doença. 
“De repente, eu fiquei gorda em cima e fina do quadril 
para baixo. Às vezes, ficava sem almoçar ou jantar para 
ver se perdia peso, mas nada disso resolve", desabafa a 
balconista Disney Diniz, 36 anos” (Extraído do - 
Departamento de IST, AIDS e Hepatites Virais). 
Na cidade de Manaus dados recentes do SINAN (Sistema de Informação 
de Agravos de Notificação) sistema de notificação, revelam através dos 
 
21 
 
gráficos abaixo, gradativamente os índices de infecção do vírus HIV/AIDS, por 
mulheres. Para ilustrar melhor os dados vejamos a figura 1 e figura 2: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ainda no contexto apresentado pela organização Engener Health (2008), 
que define o Brasil como detentor da melhor resposta à epidemia em 
decorrência da elaboração e implementação dos programas governamentais; 
apesar das ações do governo e do esforço em promover a saúde, na sua 
totalidade há muitos desafios no que se refere ao atendimento dasnecessidades de mulheres adultas, adolescentes e jovens, enfatizando o 
impacto causado pelo diagnóstico da doença no cotidiano, seja pela revelação 
da sorologia diante da família, parceiros ou desconhecer as formas de controle 
clínico da doença. 
Fig. 01 – Gráfico de dados coletados pelo SINAM 
(Sistema de Informação de Agravos de Notificação) casos 
de AIDS em Manaus ano 2009 a 2016. 
Fig. 02 – Gráfico de dados porcentagem 
 
22 
 
 Os danos causados em mulheres infectadas pelo vírus HIV/AIDS 
comprometem não só o sistema imunológico como causa sofrimento psíquico. 
Reforçando a importância da presença do profissional psicólogo nessa área, 
através de ações práticas de investimentos com estruturas necessárias para o 
desempenho. O acolhimento na fase inicial do diagnóstico é essencial, dado 
este que reforça a importância da presença de equipe multidisciplinar para 
atender as demandas no intuito de reduzir o abandono do tratamento (Engener 
Health, (2008). 
Segundo Araújo (2005), “as formas de abordagem utilizadas na grande 
parte dos serviços de saúde não favorecem, estimulam ou contribuem para a 
efetiva participação dos clientes” (p. 149). Existe uma preocupação exacerbada 
por parte das campanhas governamentais de forma terrorista alertando a 
população que a morte é evidente, no entanto, informações direcionadas aos 
serviços de assistência pós-infecção é de certa forma negligenciada, o que 
chega a ser irônico. 
Mulher jovem (21 anos), vivendo com HIV e AIDS: 
Os jovens poderiam ter um espaço para se reunir [...]. Assim 
enquanto esperávamos para ser atendidos poderíamos falar 
sobre várias temáticas [...] poderia ter um acompanhamento de 
uns jovens mais informados sobre várias situações juntamente 
com o psicólogo [...]. Assim fica mais divertido falar sobre 
coisas que às vezes nos afligem. Nunca também superproteger 
e nem culpabilizar mais sim trocar experiências. (Extraído da 
Organização Engener Health, 2008). 
Portanto, existem diversas formas diferentes em relação as respostas 
individuais, fatores como: as expectativas por um suposto resultado positivo, o 
conhecimento que a pessoa tem sobre a infecção por HIV e AIDS, o 
pensamento prévio frente à doença e à morte lado a lado, seu estado de 
saúde, a personalidade daquele indivíduo e os apoios seguidos de pressões 
sociais junto aos familiares que ele possa ter, e segundo Bayés (1995) apud 
Remor (1999) ainda introduzindo a situação socioeconômica da pessoa. 
Compreensão de mulheres estigmatizadas diante do diagnóstico 
positivo 
 
23 
 
Para compreender o processo de enfrentamento negativo de mulheres 
diante do diagnóstico positivo, é preciso ressignificar seu contexto atual. Paula 
Treichler (1999) se refere ao HIV/AIDS como uma epidemia de uma doença 
sexualmente transmissível e como epidemia de significações, 
simultaneamente. Assim, o HIV/AIDS produz inúmeros significados baseados 
em crenças errôneas veiculadas as formas de contágio, construções sociais 
deturbadas, como homossexualismo, promiscuidade e marginalidade, são 
imagens simbólicas que se produzem na sociedade. 
Moscovici (1982) em sua teoria sobre representações sociais busca 
elucidar os eventos inerentes do homem e como estes influenciam e interagem 
entre si. São construções simbólicas que são emanadas do cotidiano no 
decorrer de suas relações no grupo. Parte-se do princípio de que o HIV/AIDS 
está associado a um conjunto de significados, que dão sentido a algo que 
desconhecem, na qual, identidades são construídas por meio da condição 
sorológica. Porém, para Goffman essa teoria preconiza que o estigma tem sua 
representação na sociedade por: 
signos ... especialmente efetivos para despertar a atenção 
sobre uma degradante discrepância de identidade que quebra 
o que poderia, de outra forma, ser um retrato global coerente, 
com uma redução consequente em nossa valorização do 
indivíduo (Goffman, 1980, p. 53). 
Segundo Jo Phelan, Bruce Linck e colegas apud PARKER (2010, p. 27) 
Existem três funções, para assim definir o preconceito e o estigma expressados 
como formas de reprimir e excluir as pessoas, que seria através da exploração 
e dominação, cumprimento de normas sociais e controle social e evitar a 
doença. 
Parker e Aggleton (2010, p. 27) postulam que o estigma e preconceito 
construídos por meio da exploração e dominação, podem não ser extintos sem 
que haja mudanças na hierarquia do poder, da mesma forma que baseados no 
cumprimento de normas podem ser difíceis de serem erradicados sem 
mudanças nas normas sociais. 
Em um estudo a respeito da estigmatização, Goffman (1963) fornece 
bases para a compreensão de atos de discriminação que acontecem na 
 
24 
 
sociedade. Ao definir estigma como um atributo que pode ter um caráter moral, 
relata que seu significado depreciativo dificulta o convívio social pleno da 
pessoa que o detém. De acordo com o autor, as pessoas consideradas 
normais desenvolvem ideias que desqualificam o portador de uma determinada 
condição, desse modo tornando-o alvo de um estigma, e isso 
consequentemente torna o sujeito mais desumano, sendo a ele atribuídos 
defeitos, a maioria de caráter moral, ampliando sua suposta imperfeição. O 
autor afirma que a normalidade de um em relação ao outro estabelece uma 
hierarquia, sendo a estigmatização um reflexo das relações sociais, já que a 
imperfeição de alguém ratifica a normalidade do outro, o que autoriza o 
indivíduo considerado normal discriminar o portador do defeito. 
Desse modo, a compreensão que a pessoa discriminada possui de si 
mesma é a de alguém vivendo à margem da sociedade, sem os mesmos 
direitos que os considerados socialmente normais, o que se reflete direta e 
negativamente na construção e manutenção de sua autoestima, e acarreta 
prejuízos ao seu desempenho social. 
Ao comentar sobre a importância da autoestima, Psico Croizet e Martinot 
(2003) afirmam que esta é uma necessidade fundamental para o bem-estar, 
manutenção de relacionamentos positivos e apoio social, discutindo como a 
estigmatização pode acarretar déficits na autoestima, ao desqualificar uma 
pessoa ou grupo. O desconhecimento generalizado sobre os sintomas da 
AIDS, sobre o vírus, sobre o tratamento, a prevenção e principalmente sobre as 
formas de transmissão pode acarretar preconceitos e atitudes desfavoráveis e 
ofensivas em relação àqueles que foram infectados pelo HIV. 
É comum que a pessoa soropositiva, devidamente diagnosticada, se 
veja sem apoio social, fragilizada pelo medo da discriminação e dos rótulos que 
cercam a vida de uma pessoa portadora do vírus, uma vez que o próprio 
diagnóstico se transforma, até para o paciente, na “mácula” que justifica sua 
exclusão. Desde o surgimento da AIDS - apesar de na época, o contexto social 
e de saúde ser completamente diferente do atual, no que se refere a métodos 
de tratamento da doença e aceitação social - sua representação possui caráter 
discriminatório e estigmatizante. Diante desse fato, pessoas soropositivas 
 
25 
 
frequentemente optam pela não-revelação de sua condição sorológica como 
uma forma de proteção, o que na realidade é um direito do portador. 
Algumas pessoas, independente do sexo, ao se defrontarem com o 
diagnóstico de uma doença que ainda não oferece cura através dos métodos 
da medicina tradicional, se desestruturam emocional e psicologicamente e 
ficam aniquiladas, perdendo qualquer esperança diante da expectativa de 
finitude prematura da sua existência. Particularmente no caso da mulher, a 
situação de HIV/AIDS desestrutura suas inserções mais imediatas, como na 
família, no trabalho, nos grupos de amigos, e paulatinamente estende-se a toda 
a sociedade. Tanto para conscientização da população e redução da 
discriminação, quanto para tratamento biopsicossocial adequado do portador 
da AIDS, deve-se concentrar atenção não apenas no HIV/AIDS, mas também 
no contexto mais amplo no quala AIDS está inserida e dar enfoque às 
respostas sociais mais abrangentes, que são responsáveis por uma mudança 
de comportamento em relação ao preconceito. Cabe-nos descobrir, apontar e 
abrir caminhos, além de construir estratégias para o enfrentamento do medo 
que incluam a mulher, promovendo-a no seu contexto, como mãe, profissional 
e cidadã (Garcia e Koyama, 2008). 
No caso das mulheres, a revelação do diagnóstico carrega uma imagem 
social negativa, pois infelizmente a doença ainda hoje está relacionada ao 
comportamento sexual promíscuo. Essa relação traz receio quanto ao 
julgamento moral que a cercará, e consequentemente um sofrimento 
emocional, que eventualmente pode causar deterioração crescente de seus 
relacionamentos, desvalorização social em vários âmbitos e a inibição de sua 
atividade sexual, acrescentando a possibilidade de instabilidade psicológica, 
além da física (Jimenes, Gotlieb, Hardy, & Zaneveld, 2001). 
Seguindo os princípios dos autores, quanto às formas de exclusão e 
repressão e as razões pelas quais são produzidas, denota-se que estão 
subjugadas pelas relações que envolvem crenças culturais e o poderio. Tais 
relações são estabelecidas entre os grupos que se formam na sociedade, 
influenciando no comportamento do indivíduo com relação ao HIV/AIDS. 
 
26 
 
 Como essa mulher é vista no ambiente de trabalho 
Para preservar os direitos previdenciários e dignidade ao trabalho, o 
governo brasileiro sancionou a lei nº 12.984, de 2 de junho 2014 de acordo 
com Art. 1º que constitui crime punível com reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) 
anos, condutas discriminatórias contra o portador do vírus HIV/AIDS. Ele tem o 
direito de manter preservado o sigilo quanto a sua sorologia no ambiente de 
trabalho, assim como não deve ser exposto à realização de exame de 
testagem em processos de exames ocupacionais como admissão, periódicos 
ou demissionais. 
A exigência desses exames por parte do empregador é ilegal e 
caracteriza discriminação, logo crime. No entanto, essa lei só se aplica a 
servidores públicos federais (Portaria Interministerial 869, de 11/08/92); Auxílio 
doença caso necessite de afastamento superior a quinze dias, ressaltando que 
em se tratando de trabalhador portador do HIV/AIDS ou com hepatopatia 
grave, é dispensado o cumprimento do prazo mínimo de contribuição de doze 
meses e que tenha a qualidade de segurado, se não se considerar apto para o 
retorno ao trabalho e for comprovado pela perícia médica do INSS pode ter o 
benefício prorrogado, ou em se tratando de invalidez definitiva poderá solicitar 
recurso para aposentadoria; Na questão de negar emprego ou trabalho; assim 
como exonerar ou demitir de seu cargo ou emprego ou ainda segregar no 
ambiente de trabalho ou escolar. 
Na lei brasileira não há determinação que obrigue o empregador a não 
demitir o portador do HIV/AIDS, uma vez que o direito ao trabalho de acordo 
com o artigo 6º caput se estende a todos os trabalhadores, exceto em casos de 
dispensa arbitrária e discriminatória, caso seja comprovado que o motivo da 
demissão foi aplicado em virtude da condição sorológica. 
A organização Internacional do Trabalho (OIT) em meados de 2010 em 
uma conferência, fortaleceu o quanto é importante a redução do trabalho 
informal caracterizando geração de mão-de-obra plausível e desenvolvimento 
sustentável. Partindo de que a desigualdade social e econômica trazem 
prejuízos significativos quando se trata da qualidade de vida dos portadores da 
 
27 
 
doença e ainda deixa claro a importância do empoderamento das mulheres no 
lugar da vulnerabilidade vivente, ligando a inferioridade nas suas relações 
sociais e profissionais, onde todos esses fatores influenciam de modo negativo 
para o aumento da doença. 
O artigo da OIT (Organização Internacional do Trabalho) discorre 
discriminação como: 
Qualquer outra distinção, exclusão ou preferência que tenha 
por efeito destruir ou alterar a igualdade de oportunidades ou 
tratamento em matéria de emprego ou profissão, que poderá 
ser especificada pelo Membro Interessado depois de 
consultadas as organizações representativas de empregadores 
e trabalhadores, quando estas existam, e outros organismos 
adequados (Convenção nº 111 da OIT). 
Com base nas pesquisas (Ferreira & Figueiredo, 2006; Ferreira, 2008) o 
ambiente de trabalho é apontado por pesquisas como sendo um dos motivos 
pelos quais o trabalhador se sente motivado para enfrentar a doença. Isso se 
deve ao fato da troca e interação que há entre determinado grupo social. Mas 
estes grupos de trabalhadores soropositivos ainda encontram dificuldade para 
a manutenção de seus empregos, pois se deparam com a discriminação, 
preconceitos dos colegas e chefes no ambiente de trabalho. 
Segundo Carvalho et al. (2007) as mulheres portadoras do vírus 
HIV/AIDS são as que mais sofrem preconceitos no local de trabalho, e são 
também as que mais possuem dificuldades de se manter no emprego. Pois, as 
reações às medicações são fortes e causam efeitos colaterais que são fatores 
determinantes para atrasos, faltas e que contribuem bastante para as 
demissões produzindo desemprego, dificuldades financeiras, isolamento social 
e falta de subsídios para a continuação do tratamento. Sendo, que a sorologia 
positiva para o vírus não acarreta prejuízo da capacidade laborativa a estas 
mulheres e que as mesmas são capazes de trabalhar e de conviver 
naturalmente dentro do ambiente de trabalho. 
O trabalho ocupa um lugar importante na sociedade, pois, além 
de propiciar condições materiais para a sobrevivência, 
proporciona um ambiente de relacionamento com outras 
pessoas, favorece o sentimento de vínculo e pertencimento e 
 
28 
 
de ter algo a fazer, e dá sentido à vida das pessoas (Morin, 
2001). 
Com os avanços positivos no quadro clínico e com as melhorias nos 
tratamentos no uso da medicação, é possível possibilitar as mulheres com 
HIV/AIDS a dar continuidade a sua vida social. 
O trabalho, segundo Laurell e Noriega (1989), é o meio pelo qual a 
pessoa atribui sentido à própria vida, se esforçando para um ganho econômico 
e exercendo sua função e contribuição social, tendo assim, uma função útil e 
estruturante na vida das pessoas e na sua própria. Além disso, Almeida (2007) 
nos expõe aspectos de uma nova realidade social em que muitas mulheres 
trabalham para complementar a renda familiar, sendo, por vezes, a única 
provedora da família. Desta forma, a impossibilidade de fazê-lo gera mudanças 
significativas na vida familiar e socioeconômica da mulher, além de afetar as 
funções vinculadas aos papéis na sociedade. 
A impossibilidade do trabalho não advém da invalidez física adquirida 
pela doença, e sim pelos aspectos sociais discriminatórios e estigmas que 
cerceiam a AIDS. Cechim e Selli (2007) destacam que a entrada das mulheres 
no mercado de trabalho teve influência em um sentido maior de conquista de 
cidadania, além do sentimento de dignidade e de merecimento de pertencer à 
sociedade. O trabalho, seja formal ou informal, encontra-se associado à 
independência econômica que a mulher moderna, principalmente, visa adquirir 
para si, e ao sentimento de produtividade, contribuição e de possibilidade de 
sanar as necessidades da família. Além disso, Saldanha (2003), em seu 
estudo, refere que o fato da mulher se sentir ativa, produtiva, com capacidades 
para exercer atividades, tanto profissionais quanto atividades da vida diária, 
contribuem para o aumento e manutenção saudável da autoestima. 
Principalmente através de uma atividade remunerada, a mulher busca ser 
autônoma e responsável por sua vida, tendo um significado de poder de 
escolha e de decisão de extrema importância. 
A atividade laboral encontra-se intimamente relacionada à qualidade de 
vida e à saúde mental de qualquer indivíduo, sendo, portanto, de extrema 
importância se pensar sobre os sentidos produzidos no processo saúde-29 
 
doença no contexto de trabalho destas mulheres (Cechim e Selli, 2007). 
Corroborando tal aspecto, Seidl (2005) concorda que o trabalho representa um 
aspecto significativo e tem papel fundamental na melhoria da qualidade de vida 
e no enfrentamento das dificuldades de pessoas que convivem com HIV/AIDS. 
No geral, as dificuldades trabalhistas que essas mulheres enfrentam têm 
influências da estigmatização e do preconceito que acompanham a doença, 
dificultando a manutenção do trabalho, bem como gerando um sentimento de 
exclusão e menos valia nestas mulheres. Muitas portadoras omitem o 
diagnóstico no ambiente de trabalho por medo da discriminação, bem como 
pelo temor de que sua condição sorológica possa prejudicar sua permanência 
(Ferreira & Figueiredo, 2006; Cechim & Selli, 2007), o que se tornaria mais uma 
perda em sua vida. O processo de adoecimento também acaba levando ao 
abandono do trabalho, tanto por limitações físicas quanto situações psíquicas 
geradas pela doença. Algumas mulheres preferem até abandonar seu trabalho 
por temerem a descoberta do diagnóstico, evitando assim possíveis situações 
de humilhação (Cechim & Selli, 2007). 
Analisando de uma maneira mais ampla e integrada, o ambiente de 
trabalho poderia ser um local em que estas mulheres poderiam se sentir 
acolhidas, aceitas e compreendidas em suas necessidades, já que, segundo 
Ferreira e Figueiredo (2006), as interações sociais com outros indivíduos 
tendem a aumentar o amor-próprio, a autovalorização e a autoconfiança de 
pessoas que vivem com HIV/AIDS, auxiliando, portanto, no convívio com a 
doença. Neste sentido, o trabalho para o portador de HIV tem muita 
importância como uma fonte de suporte social, no qual o indivíduo sente-se 
seguro, aceito e não julgado pelos colegas e, assim consegue viver 
socialmente saudável. A maior frequência da ocorrência do trabalho 
humanizado sem discriminações, serviria como um caminho para se pensar 
sobre a realidade de portadores de HIV além do ambiente de trabalho, 
possibilitando uma modificação gradual do estigma social da AIDS. 
Desta forma, é importante ressaltar que o trabalho pode ser interpretado 
de formas diferentes pelas mulheres portadoras de HIV: para umas pode ser 
uma realização de projeto pessoal, carregado de sentimentos positivos e 
 
30 
 
mantenedor da autoestima, funcionando como uma fonte de equilíbrio e apoio; 
enquanto para outras pode ser fonte de sofrimento, seja atual ou futuro, de 
difícil convivência, relacionado a questões de preconceito e discriminação 
ainda muito presentes na sociedade e nesse caso, no trabalho. 
 A questão de como essa mulher é inserida na sua relação familiar 
O medo, a culpa, a angústia e o desespero são os sentimentos mais 
experienciados pelas mulheres com HIV/AIDS, e quando o positivo se torna 
evidente, surge à árdua e difícil tarefa, revelar ou não revelar para família, o 
processo de enfrentamento é complexo. Mediante toda informação científica 
em torno da forma de contágio, a sociedade ainda permanece arraigada ao 
mito da infecção (Botti; Waidman; Marcon e Scochi, 2009). 
O medo da rejeição é mais propenso em mulheres que veem na doença 
uma sentença de morte. Assim, como segundo Maliska et al (2009), quando se 
anuncia o resultado positivo para família, é doloroso pois a eminência da 
possibilidade do isolamento e do abandono por aqueles que considera 
importante na sua vida, se torna em sua maioria explícito. 
As figuras parentais podem mostrar sentimentos confusos e ações 
conflitantes, reagindo de diferentes maneiras em relação ao soro positividade, 
variando desde preocupadas, protetoras, sem apoio, desconhecimento, até o 
abandono. A convivência com um dos membros da família acometido pela 
AIDS vai além das fronteiras e barreiras físicas que a doença impõe, pois, o 
estigma que paira sobre a AIDS faz a família direcionar-se a um mundo de 
possibilidades e desconstruções em relação ao portador, carregando assim 
representações criadas a partir de interpretações e julgamentos individuais da 
situação vivenciada. Esse olhar traz à tona impressões positivas ou negativas 
sobre o doente e sua família, fazendo com que tanto a sociedade quanto o 
indivíduo se movimentem respectivamente, em direção à sua aproximação ou 
seu afastamento. 
É perceptível que a capacidade de uma estrutura familiar se acostumar à 
realidade de uma notícia de soro positividade está ligada de modo direto a 
como essa mulher está se relacionando com essa família, pois, quanto mais 
 
31 
 
acessível for esse relacionamento, melhor será a compreensão de quando for 
revelado a notícia de um membro da sua família, onde o acolhimento e apoio 
dos demais é tudo o que esse indivíduo precisará no momento (Castanha et 
al., 2006). Contudo, variando as situações, em alguns casos o próprio indivíduo 
soropositivo faz omissão dessa notícia (Maliska et al., 2009). 
Segundo Castanha et al. (2006), a omissão é vista com bastante 
preocupação, pois, seu ciclo familiar e de amizades são papéis fundamentais 
para uma instigante rede de apoio ao soropositivo. E ainda, quanto mais o 
clima familiar for ruim, maior será a dificuldade da mulher em revelar tal 
condição para o resto da família, pois, aí entra a questão do estigma que o HIV 
vive em nossa sociedade, que faz com que famílias reconheçam de modo ativo 
o membro soropositivo como merecedor da condição que se encontra, não 
aceitando de modo algum praticar o acolhimento daquela mulher e deixando de 
lado a compreensão familiar que serviria de ajuda para sua melhor qualidade 
de vida. 
O estereótipo do início da epidemia parte de alguns familiares que 
possam vir a se manifestar, de acordo com Maliska et al. (2009), onde se 
mantém no pensamento dos sujeitos, fazendo assim com que pensem que o 
soropositivo é alguém que a qualquer momento pode vir a morrer. É 
interessante refletir que o fato de haver uma incapacidade em perceber a AIDS 
como uma doença comum que atinge a todos os tipos de indivíduos e grupos 
da sociedade, faz com que muitas pessoas neguem sua vulnerabilidade 
perante o vírus. 
De acordo Pádua (1986) esse tipo de comportamento gerado das 
pessoas e da família parte do estigma é da noção cultural do início da doença. 
Seguindo este mesmo caminho de discursão sobre o estigma, Hanna (1994) 
relata em suas pesquisas que o que colabora para o distanciamento das 
pessoas é ainda existir o receio do contágio, enraizado na descrição do 
HIV/AIDS, que faz da doença ter esse caráter de contagiosidade. Desse modo 
as pessoas acabam procurando identificar o doente por sinais corporais, como 
perda de peso e manchas na pele. 
 
32 
 
Desse modo, a atitude da família, ou melhor, a expressão singular de 
cada um, carrega uma intensa ligação com a dinâmica social. Nessa mesma 
ideia, a construção feita sobre a doença deriva da conduta social. Aquela 
história de que a doença não existe, o não diálogo sobre a mesma, o 
ocultamento dela, que muitos sujeitos verbalizam em suas falas, deixam claro o 
muro que a família cria para continuar vivendo de uma maneira “normal”. As 
pessoas que estão passando por essa situação da doença emitem formas de 
fuga, criam mecanismos de defesa diante dela. A doença ganha um posto 
particular, onde os familiares e até mesmo a própria pessoa não a socializam, 
pois, carregam medo em relação à sociedade, de como ela vai ser vista e 
encarada por pela mesma (Sousa, 2008). 
A apresentação da AIDS no ciclo familiar atua como um recurso que 
trabalha a movimentação de quem está envolvido e assim direcionando a 
pluralidade de emoções que vem à tona, externalizando os medos e angústias 
que a doença carrega. A família acaba sendo influenciada tanto pelo contexto 
social criando em cima da doença quanto pela história construída internamente 
por ela. A partir disso, podem ser criadas várias significações do seu integrante 
portador e de simesma e desse modo acabar surgindo conflitos entre o grupo 
familiar. Por fim temos a ideia de que ter um portador do HIV/AIDS na família 
serve como referencial para um “problema”, quando na verdade, é uma pessoa 
que tem sentimentos e suas próprias vivências antes de qualquer coisa. 
(Sousa, 2008). 
Representações sociais e estereótipos sobre AIDS e como as 
mulheres convivem com isso 
Com a descoberta dos primeiros indícios dos casos de AIDS, os modos 
de infecção do vírus já eram vistos e portados em pontos de moralidade. A 
percepção que prevaleceu de imoralidade e transgressão foi “cuspida” pela 
mídia e absorvida pela população, estabelecendo desse modo uma 
representação social sobre as pessoas, e no caso, as mulheres que vivem com 
o HIV/AIDS (Jodelet, 2001; Labra, 2013; Seidl, Ribeiro, & Galinkin, 2010). Foi 
no século XX que a AIDS passou a ser enquadrada como uma doença e não 
como algo sem volta, que desse modo fez com que as representações sociais 
 
33 
 
das pessoas portadoras pudessem obter uma reflexão mais humanizada 
(Labra, 2013). 
As representações fazem parte da dinâmica e da comunicação de um 
grupo social, envolvendo fenômenos específicos que estão ligados de modo 
pessoal em compreender a realidade do outro e a comunicação com os 
demais. (Moscovici, 2012; Vala, 2006). Uma representação é social quando 
envolve um conjunto de sujeitos e grupalmente produzida, assim sendo 
consequência da atividade cognitiva de um grupo social. Serve como guia na 
forma de definir e nomear os vários aspectos da realidade, interpretando, 
impondo, se posicionando, criando uma identidade perante eles (Vala, 2006). 
Nos relatos de Abric (2003), as representações sociais são 
compreendidas da seguinte maneira: como um conjunto de interpretações da 
realidade, juntamente de suas crenças, ideias, atitudes, perante um propósito 
social. São divididas em prol de um duplo sistema: o núcleo central que 
envolve o afinamento social que vai definir a homogeneidade do grupo, e o 
sistema periférico, que leva em conta as experiências do cotidiano vividas pela 
pessoa. Esse núcleo central tem como dever ser avaliativo e pragmático por ter 
conteúdos normativos e funcionais, partindo dos valores dos indivíduos. Os 
elementos periféricos já são constituídos de elementos associados a 
representação, pois, concedem flexibilidade e expressão de modo individual 
das representações sociais. 
A teoria das representações sociais busca entender os fenômenos que 
são tanto psicológicos quanto sociais e suas relações, como as comunicações 
de massa, as influências sociais e os conhecimentos que são socialmente 
formulados e compartilhados (Moscovici, 2012). Esse conhecimento é 
conhecido como senso comum, e costuma ser transmitido através das relações 
sociais, da mídia, meios de comunicação em massa em geral, e principalmente 
pelas comunicações interpessoais, e é construído por meio dessas trocas, que 
têm sua base na moral e na cultura, já que a assimilação dessas informações 
orienta as práticas sociais (Jodelet, 2013). 
 
34 
 
As práticas sociais discriminatórias e preconceitos decorrentes do 
estigma que compõe a ideia da AIDS são consequências da concepção que 
perpetua as representações estereotipadas sobre a doença, cujo método de 
infecção denota práticas de transgressão às regras sociais. O preconceito é 
construído a partir de um pré-juízo ou pré-conceito de valor negativo que é 
elaborado sobre indivíduos e grupos. Um dos efeitos do preconceito é a 
discriminação, que se constitui na efetivação de um ato em forma de 
relacionamento desigual, desfavorável e ofensivo, dirigido a um grupo e/ou aos 
seus membros (Allport, 1979). 
Os preconceitos sociais são estruturas psicológicas complexas, 
porquanto dependem de determinada visão cultural e moral que constrói e 
molda estereótipos, e por isso têm sua base em crenças a respeito de 
comportamentos esperados e características pessoais ou de um grupo de 
pessoas que sejam aceitos ou não socialmente (Tajfel, 1982). A função dos 
estereótipos é introduzir simplicidade e ordem onde existe complexidade, 
através da abordagem de conjunto de semelhanças de pessoas e grupos em 
determinadas categorias, que são consideradas então, representativas dos 
estereótipos, características principais de cada grupo. (Allport, 1979). 
Os conceitos de estereótipo e representação social estão diretamente 
interligados, ambos se referindo às imagens que a sociedade constrói dos 
outros. Portanto, as representações sociais estereotipadas podem sustentar 
práticas de discriminação social (Moliner & Vidal, 2003). Apesar de terem 
havido mudanças em relação às representações sociais da AIDS, preconceitos 
e estereótipos relacionados aos portadores ainda continuam presentes na 
sociedade atual (Labra, 2013). 
A intervenção psicológica na descoberta da soropositividade 
A intervenção psicológica como parte do tratamento é necessária tanto 
durante o período de descoberta da soropositividade, quanto durante o período 
de adaptação à nova condição, sendo de extrema importância, uma vez que 
esse diagnóstico é, muitas vezes - devido ao estigma que carrega e à 
conhecida virulência mortal do vírus - percebido como traumático do ponto de 
 
35 
 
vista orgânico, psicológico e social. O processo de aceitação da realidade pode 
ser potencialmente mais difícil quando a infecção acontece em uma condição 
na qual o sujeito se identifica como hígido, sem vulnerabilidade (Selli e Cechin, 
2007). Quando a infecção pelo HIV acontece por parceiro um em união estável, 
é colocado em jogo muito mais do que a suposta infidelidade, abalando a 
relação através de dúvidas, falta de confiança e frustrações em relação às 
expectativas depositadas em tal parceiro (Zampieri, 2004). 
Em relação ao cuidado psicológico que se tem com as mulheres 
infectadas, e principalmente, com aquelas que se consideravam imunes ao 
vírus pelo fato de estarem inseridas em uma união estável, observam-se duas 
reações opostas: as que realmente precisam de ajuda para lidar com a 
mudança que a notícia trouxe para a sua vida por estarem em péssima 
condição psicológica, e as que estão, mesmo que lentamente, conseguindo 
aceitar a doença, com um prognóstico relativamente mais favorável. É 
recomendado o acompanhamento psicológico periódico para as pacientes que 
apresentam emoções não bem administradas advindas do diagnóstico e do 
tratamento da soropositividade ao HIV, para que sejam capazes de informar-
se, prevenir-se de outras doenças, combater a discriminação e adaptar-se e 
aceitar o tratamento. 
Para que o andamento seja o mais pertinente possível, é ideal que se 
identifique em quais casos há necessidade da presença de um profissional 
para acompanhamento desde o início do processo, podendo oferecer um apoio 
e escuta especializada aos anseios, aos medos e às incertezas dessas 
mulheres, propiciando, assim, suporte e entendimento. Quanto à percepção de 
aceitação da doença por parte de algumas mulheres, existem duas formas: 
conseguindo administrá-la psiquicamente do modo mais pertinente possível, ou 
submetendo-se a questões culturais e reprimindo aspectos de sua 
subjetividade. Então, é evidente que são necessários estudos sobre essa 
temática, com o objetivo de compreender os diferentes processos psíquicos 
que envolvem a doença, desde o diagnóstico até o viver com HIV/AIDS 
(Wagner, 2013). 
 
36 
 
MÉTODO 
Tipo da Pesquisa 
 
A atual pesquisa teve como enfoque a pesquisa qualitativa, onde é 
analisada a partir da visão dos sujeitos e também onde as definições evoluem 
a partir do estudo realizado. 
Denzin e Lincoln (2006) mencionam que a pesquisa qualitativa envolve 
uma abordagem interpretativa do mundo, onde seus pesquisadores estudam 
as coisas em seus cenários naturais, tentando entender os fenômenos em 
termos dos significados que as pessoas a eles conferem. 
Seguindo essalinha de raciocínio, Vieira e Zouain (2005) afirmam que a 
pesquisa qualitativa atribui importância fundamental aos depoimentos dos 
atores sociais envolvidos, aos discursos e aos significados transmitidos por 
eles que nesse sentido, esse tipo de pesquisa preza pela descrição detalhada 
dos fenômenos e dos elementos que o envolvem. 
Interligando essa linda de pensamento, Richardson (1999, p. 102) põe 
em destaque que “o objetivo fundamental da pesquisa qualitativa não reside na 
produção de opiniões representativas e objetivamente mensuráveis de um 
grupo; está no aprofundamento da compreensão de um fenômeno social por 
meio de entrevistas em profundidade e análises qualitativas da consciência 
articulada dos atores envolvidos no fenômeno”. Por conseguinte, essa 
pesquisa é validada não pela mensura do que se trabalha na pesquisa 
quantitativa, mas por meios mais minuciosos em como o estudo é 
concretizado. 
Nesse mesmo sentido de ideia, Trivinõs (2008) reforça que na pesquisa 
qualitativa algumas opções de recursos aleatórios podem ser manuseados 
para concretizar a amostra. Desse modo, tem-se como alternativas ao decidir 
intencionalmente a mensura do que se expõe, levando em conta diversas 
condições exemplificando sujeitos que partem de uma condição essencial para 
explicar o assunto que está em foco, de acordo com o que está sendo 
 
37 
 
proposto, em vista do investigador, facilitando a localização da pessoa, a 
marcação do tempo das pessoas para a entrevista e assim sucessivamente. 
Coleta de Dados 
 
Na coleta de dados da pesquisa teremos como seguimento a pesquisa 
bibliográfica que faz uso de todo tipo de bibliografia já existente, como: jornais, 
revistas, livros, teses, monografias etc., assim como também meios de 
comunicações orais: rádios, gravações até filmes e televisão. É uma pesquisa 
que faz com o que o pesquisador fique em contato direto com tudo o que foi 
colocado em prática sobre determinado assunto (Lakatos, 2003). 
Na pesquisa foram levantadas algumas buscas das bases de dados por 
meio de artigos, livros e revistas como PEPSIC, SCIELO e BDTD, onde foram 
selecionadas algumas palavras chaves para serem desenvolvidas: mulheres, 
discriminação, estigma, HIV/AIDS, preconceito, vulnerabilidade. 
Segundo Manzo (1971:32), a bibliografia em si oferece meios para 
definir, resolver, não somente problemas já conhecidos, como também explorar 
novas áreas onde os problemas não se cristalizaram suficientemente e que 
acaba tendo como ponto principal ceder ao pesquisador “o reforço paralelo na 
análise, de suas pesquisas ou manipulação de suas informações” (Trujilli, 
1974:230). Assim, a pesquisa bibliográfica não pode ser vista apenas por 
conteúdos já ditos ou escritos em relação a certo assunto, mas sim algo mais 
amplo, dispondo de novas ideias e conclusões que podem acarretar resultados 
surpreendentes. 
Tem como objetivo colocar o pesquisador em contato direto com todo o 
material já escrito sobre o assunto da pesquisa onde é importante que o 
pesquisador verifique a veracidade dos dados obtidos, observando as 
possíveis incoerências ou contradições que as obras possam apresentar. 
A pesquisa bibliográfica foi escolhida como procedimento para esta 
pesquisa por confirmar a importância que existe de esclarecer e de colocar em 
evidência o método e as formas metodológicas como o tipo de pesquisa, coleta 
de dados etc. Pois, servirão para a sua execução que será detalhada desde as 
 
38 
 
fontes, para que sirva de modo a apresentar os passos que guiaram todo o 
procedimento da pesquisa. 
 
Critérios de Inclusão 
 
Produções acadêmicas nas bases de dados SciELO, PEPSIC e BDTD 
referentes à temática HIV/AIDS, MULHERES, PRECONCEITO, 
DISCRIMINAÇÃO E ESTIGMA. 
Produção foi: artigos científicos, teses, dissertação e livros técnicos. 
Análise de Dados 
 
 Foi empregada a análise de conteúdo que segundo Bardin (1977/2010) 
é composta por regras lógicas de organização, categorização e tratamento de 
dados quantitativos/qualitativos. Na primeira observação da análise de 
conteúdo relaciona-se à pré-análise onde são determinados os documentos e 
papeladas a serem analisados, são verificados as hipóteses e os objetivos que 
terão critérios de análise que servirão de relevância a pesquisa. No segundo 
instante vem a chamada codificação, que será a transformação do dado bruto. 
 A análise de conteúdo é definida por Bardin pelo seguinte contexto: “não 
se trata de um instrumento, mas de um leque de apetrechos; ou, com maior 
rigor, será um único instrumento, mas marcado por uma grande disparidade de 
formas e adaptável a um campo de aplicação muito vasto: as comunicações” 
(Bardin, 1995: 31). A partir desta pesquisa foi possível analisar o conteúdo de 
cada ideia dos autores, colocando o pesquisador em contato direto com os 
dados. 
 Bardin construiu como âmbito epistemológico duas comunicações: 
De maneira grosseira, arrogamo-nos o direito de dizer que 
representacional significa que o ponto importante no que diz 
respeito à comunicação é o revelado pelo conteúdo dos itens 
léxicos nela presentes, isto é, que algo nas palavras da 
mensagem permite ter indicadores válidos sem que se 
considerem as circunstâncias, sendo a mensagem o que o 
analista observa. Grosso modo, „instrumental‟ significa que o 
 
39 
 
fundamental não é aquilo que a mensagem diz à primeira vista, 
mas o que ela veicula, dados o seu contexto e as suas 
circunstâncias” (Bardin, 1995: 20-1). 
Segundo Lakatos (2003), a partir do momento que os dados são 
manuseados e que se obtém os resultados, o passo a seguir passa-se a ser a 
análise e interpretação deles, são formadas no núcleo central da pesquisa. 
Quando se fala em análise o pesquisador trabalha com mais detalhes em 
relação aos dados referentes do trabalho estatístico, no intuito de obter 
respostas aos seus questionamentos, e assim tratará em estabelecer os 
vínculos necessários entre os dados coletados e as hipóteses formuladas. 
Onde são comprovadas ou retrucadas, conforme a análise. Portanto, mesmo 
com dados válidos, é o poder da análise e da interpretação que medirá o valor 
da pesquisa, pois, apesar de serem distintas, estão bastante relacionadas. 
A análise de dados foi feita através de planilhas no Excel 2017, 
separadas em Apêndice I e II, onde a primeira apresenta a quantidade de 
artigos selecionados com cores diferentes e ditadas como: artigos, livros, 
revistas, dissertações, jornais e websites, com o total de cada uma e no geral 
também. Logo ao lado uma outra tabela de palavras-chave utilizadas com 
algumas das combinações referidas e encontradas nas bases de dados. O 
Apêndice II foi constituído de uma tabela com os principais artigos utilizados, foi 
repartido em: artigos, livros, revistas, dissertações, jornais e websites com dois 
conteúdos, de cada, logo após foi feito fichamentos desses conteúdos e então 
inseridos ao texto. 
Sendo assim o material coletado foi em torno de pesquisas em livros, 
sites vinculados a artigos acadêmicos, teses, onde foram lidos, feito 
fichamentos para analisar os pontos mais importantes da visão dos autores. As 
categorias foram criadas a partir das ideias citadas no referencial teórico onde 
foram divididos tópicos para serem trabalhados e daí partiram as seguintes 
categorias: 1) A vivência de mulheres com o HIV/AIDS: reflexões; 2) A questão 
biopsicossocial do Ser mulher com HIV/AIDS e 3) O preconceito, a 
discriminação e o estigma junto a concepção de resiliência da mulher e o 
HIV/AIDS. 
 
40 
 
No seguinte capítulo apresentaremos e discutiremos as categorias que 
foram citadas aqui. As categorias seguirão uma ordem de ideias dos autores 
em forma de uma discussão construtiva e comentários da pesquisadora 
finalizando com o diálogo referido ao referencial teórico. 
 
41 
 
DISCUSSÃO 
 
Nesta parte serão comentadas algumas discussões da pesquisa, 
abordando as categoriascriadas ao longo de toda a pesquisa, trazendo 
conteúdos gerais. Desse modo as categorias apresentam-se assim: 
 
1) A VIVÊNCIA DE MULHERES COM O HIV/AIDS: REFLEXÕES. 
As reflexões podem ser feitas a partir de vários fatores que são 
vivenciados por mulheres com o HIV/AIDS, desde o seu ciclo familiar até o seu 
meio social externo tratando-se de um ambiente de trabalho, escolar, entre 
outros. 
Silva Waidman e Marcon (2009) explicam que dado o resultado reagente 
a mulher, sua vida dá início a um novo caminho onde exigirá mudanças em 
seus hábitos e atitudes. Há também a adesão ao tratamento que requer 
compromisso no uso dos antirretrovirais, assim causando alguns efeitos em 
seu organismo. 
O descobrimento do estado sorológico para várias mulheres, se dá na 
realização do pré-natal, na demonstração de doenças oportunistas e também 
quando o parceiro fica doente (Melo, 2013). A identificação da doença traz 
muitas implicações como a desconfiança de infidelidade do outro, a sensação 
de culpa por ter contraído a doença e o temor do preconceito, fatores que 
podem ser trabalhados por equipes multidisciplinares diante do 
acompanhamento da portadora. 
O exercício da sexualidade da mulher sofre mudanças que Santos et al. 
(2002) descreve a partir do momento que o diagnóstico é revelado e o fator da 
rejeição por sua condição sorológica vem à tona. Desse modo, cabe aos 
profissionais da saúde estarem atentos a essas questões e assim as 
praticarem no atendimento, pois a mulher encontra-se em uma vulnerabilidade 
constante e se essas questões forem bem trabalhadas com as mesmas poderá 
haver uma melhora na sua alta estima e em seu empoderamento. 
Apesar do Artigo XI da Declaração dos direitos Fundamentais da Pessoa 
Portadora do vírus HIV/AIDS (1989), a lei 12.984 que ampara a portadora do 
vírus não exclui a possibilidade dela sofrer algum tipo de discriminação ou 
 
42 
 
preconceito por parte das pessoas ao seu redor, assim como a mulher 
soropositiva pode internalizar essa visão do estigma, tomando para si que 
merece essa discriminação e viver dessa maneira (Desafiando o estigma e a 
discriminação, 2013). É aí que mora o perigo relacionado a sua saúde mental, 
pois ela não precisa dessa influência negativa diante do que tem, e sim de 
pessoas e caminhos que lhe mostrem que pode viver de uma maneira 
saudável e feliz. 
De acordo com o IBGE, no Censo Demográfico 2010, 37,3% das 
famílias brasileiras eram dirigidas por mulheres, o que inclui a tarefa de educar 
os filhos sendo responsáveis pela renda familiar, assim como pelas atividades 
domésticas, dentre outras. É importante entender que a mulher que vive com 
HIV/AIDS carrega de forma pesada a realidade do cotidiano, com dificuldades 
de mantê-lo e de se inserir no mercado devido à baixa escolaridade. Para 
completar, sente-se em meio à degradação, tendo que lidar com o isolamento 
social, o estigma que acompanha a doença, a falta de conhecimento sobre a 
doença e acesso aos serviços, sem o importante apoio familiar que é preciso. 
Como um todo, as reflexões que ficam da vivência da mulher com o 
HIV/AIDS são do modo como se portam diante da sociedade e de si mesma, 
acaba sendo um desafio diário dela como mulher, como mãe, como esposa e 
como cidadã. Um desafio que se dá desde o momento que ela recebe a notícia 
do diagnóstico e de como vai viver em meio ao seu ciclo familiar e social. A 
importância do tratamento, de acompanhamento, do apoio familiar, e dos 
demais serviços que possam fazer com que a mulher tenha uma qualidade de 
vida prolongada. 
 
2) A QUESTÃO BIOPSICOSSOCIAL DO SER MULHER COM O 
HIV/AIDS. 
De acordo com Castanha. et al (2006), em relação às consequências 
biopsicossociais da AIDS, pode-se verificar consequências em basicamente 
três categorias: físico-orgânicas, psicoafetivas e comportamentais. 
2.1 Físico-orgânicas 
Dentro dessa categoria, as alterações físicas e orgânicas dividem-se em 
3 pontos: 
 Perturbações fisiológicas 
 
43 
 
A diarreia e a insônia estão entre os sintomas mais comuns da AIDS, 
mas a fadiga e a insônia podem ser confundidas com perturbações fisiológicas 
em pacientes assintomáticos, quando na verdade estão relacionados a 
distúrbios psíquicos, como a depressão maior (Malbergier, 2000). 
 Capacidade física 
Como discutido, uma das consequências da doença é a perda 
progressiva da capacidade laborativa e com isso, é perdida também a 
credibilidade conquistada perante à sociedade capitalista como um ser 
produtivo, que é determinada pelo trabalho. Este, de acordo com Laurell e 
Noriega (1989), faz emergir os papeis sociais de utilidade, positividade, 
capacidade e força, que desse modo possibilitam as condições de 
sobrevivência própria e da família. Esse impedimento, então, significa a não 
correspondência das suas expectativas, da família e da sociedade, culminando 
na frustração e interrupção de um projeto de vida pessoal, familiar e 
profissional. 
 Efeitos colaterais do medicamento 
Esses efeitos chegam a prejudicar a adesão das mulheres aos cuidados 
de saúde, porque as consequências da doença e os efeitos colaterais do 
coquetel, (como a importante lipodistrofia nas mulheres) podem estar 
estigmatizados, segundo Tunala (2000), o fato destas acharem que os outros 
percebem sua condição através da aparência se dá principalmente devido à 
vinculação de estereótipos físicos aos doentes de AIDS, como magreza ou 
deficiência física. 
2.2 Psicoafetivas 
As consequências psicoafetivas mais comuns são decorrentes do 
preconceito, da depressão e da autoestima e auto percepção. 
 Preconceito 
Como descrito, pessoas com HIV/AIDS são ainda discriminadas, 
isoladas do convívio com outras pessoas e até na própria família, apesar de 
todo o conhecimento que se tem atualmente acerca das formas de 
transmissão, o que representa um prejuízo a toda a rede de apoio. 
Segundo Tura (1998), a doença causa nojo, distância, medo de ser 
contaminado, e isso ocorre mais intensamente com a AIDS por deixar sinais 
tão visíveis e impotências tão declaradas. Moriya (1992) aponta alguns dos 
 
44 
 
aspectos associados à AIDS, como o medo irracional, aspectos psicossociais 
desfavoráveis evidenciados por desinformações, discriminações e atitudes 
negativas. O preconceito atinge profundamente os indivíduos, influenciando-os 
na percepção de sua doença e no comportamento de outras pessoas frente a 
ela. 
 Depressão 
A AIDS, juntamente com sua repercussão social, em sua evolução é 
muito associada a transtornos psiquiátricos, e o mais comum destes é a 
depressão. Observa-se uma porcentagem de 11% a 30% de prevalência de 
transtornos depressivos (Rodin, Craven e Littlefield, 1991). 
No contexto da soro positividade, a depressão influencia diretamente na 
adesão ao tratamento, pois há uma menor aderência de pessoas com quadros 
depressivos e ansiedade: segundo Melchior (2000) e Malbergier (2001) um 
paciente deprimido tende a não tomar as medicações prescritas e a não aceitar 
as orientações médicas, além do risco aumentado de suicídio. O paciente 
soropositivo experimenta sentimentos de raiva, culpa, auto piedade e 
ansiedade. A baixa autoestima e o abandono por parte dos familiares e amigos 
podem levar a tentativas de suicídio. Desse modo, é notório que a depressão e 
o sentimento/pensamento de morte são comuns, porém de um lado está o alto 
índice de prevalência da depressão, e do outro, o baixo número de casos 
diagnosticados, o que torna o fato altamente preocupante. 
 Autoestima e auto percepção 
Levando em conta resiliência do indivíduo, ambiente e rede de apoio, 
podem ser relatadas, além das alterações negativas na autoestima - na qual 
estão presentes a auto depreciação e suas consequências -, as positivas. 
Relacionadas ao enfrentamento da AIDS e aos ganhos decorrentes da 
experiência, nas consequências positivas da infecção para o indivíduo, Franco 
FG & Figueiredo

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