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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIAS, CONTABILIDADE E SECRETARIADO CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS Paulo José Moreira de Lima DIRETRIZES DE SUSTENTABILIDADE NAS OBRAS DE REFORMA DO ESTÁDIO GOVERNADOR PLÁCIDO CASTELO Fortaleza - CE 2012 DIRETRIZES DE SUSTENTABILIDADE NAS OBRAS DE REFORMA DO ESTÁDIO GOVERNADOR PLÁCIDO CASTELO Monografia apresentada à Faculdade de Economia, Administração, Atuária, Contabilidade e Secretariado para a obtenção de grau de bacharel em Ciências Econômicas. Orientadora: Sandra Maria dos Santos Fortaleza - CE 2012 Lima, Paulo José Moreira de Diretrizes de sustentabilidade nas obras de reforma do estádio Governador Plácido Castelo / Paulo José Moreira de Lima – Fortaleza, 2012. Monografia (Graduação em Ciências Econômicas) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade De Economia, Administração, Atuária, Contabilidade e Secretariado Executivo. Fortaleza-CE, 2012. 1. Sustentabilidade. 2. Estádio Governador Plácido Castelo e as Recomendações da FIFA. 3. Sustentabilidade nas Obras de Reforma do Castelão. 1. Título PAULO JOSÉ MOREIRA DE LIMA DIRETRIZES DE SUSTENTABILIDADE NAS OBRAS DE REORMA DO ESTÁDIO GOVERNADOR PLÁCIDO CASTELO Esta monografia foi submetida à Coordenação do Curso de Ciências Econômicas, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Bacharel em Economia, outorgado pela Universidade Federal do Ceará – UFC e encontra-se à disposição dos interessados na Biblioteca da referida Universidade. A citação de qualquer trecho desta monografia é permitida, desde que feita de acordo com as normas de ética científica. Data da aprovação: 01/08/2012 Prof(a). Sandra Maria dos Santos Prof. Orientador Prof. Maria Naiula Monteiro Pessoa Membro da Banca Examinadora Prof. Raimundo Eduardo Silveira Fontenele Membro da Banca Examinadora AGRADECIMENTOS A DEUS, que me deu vida e inteligência, e esteve comigo em todos os momentos. À minha mãe, Josélia Moreira de Lima, por ter sido a minha grande incentivadora. Ao meu pai, Paulo Neto Gomes de Lima, exemplo de retidão e honestidade. Ao meu irmão, Israel Moreira de Lima, pela amizade e companheirismo. À minha namorada e melhor amiga, Lorena Leitão Soares, pelo apoio incondicional em todos os passos decisivos da minha vida profissional e acadêmica, desde o momento em que ela começou a fazer parte da minha história. À minha orientadora, Professora Sandra Maria dos Santos, pelo seu incentivo e sugestões cruciais para a realização da monografia. E aos demais que, de alguma forma, contribuíram na elaboração desta monografia. RESUMO Com o passar dos anos, as empresas vêm se adequando a novas exigências do mercado como um todo. Nesse contexto, tem-se a preocupação dos empresários com o impacto socioambiental de suas ações nas atividades principais de seus empreendimentos, buscando a melhoria na imagem das corporações perante a sociedade. Sendo assim, tem-se como objetivo geral deste estudo analisar a adequação das obras de reforma do estádio Governador Plácido Castelo em relação às orientações da FIFA no que tange à questão da sustentabilidade. Como objetivos específicos, tem-se: identificar os itens de certificação LEED pretendidos nas obras de reforma do estádio Governador Plácido Castelo e verificar o estágio atual das diretrizes do selo LEED nessas obras. No aspecto metodológico, a pesquisa tem um caráter explanatório, analítico e descritivo. Foi realizada uma pesquisa documental no local sobre a situação geral e atual das diretrizes de sustentabilidade do selo LEED. Os dados revelam apenas as tarefas dentro dos limites mínimos para a obtenção da certificação LEED que a obra buscará atender, para que se obtenha a certificação. O estudo verificou que existe uma adequação das obras de reforma do referido estádio às exigências da FIFA em no que tange à sustentabilidade. Uma vez que tem buscado as metas mínimas de estabelecidas, especialmente no que tange à categoria de “sítios sustentáveis”. Essa categoria, no projeto de reforma do estádio, foi a que recebeu maior atenção e por parte dos gestores da obra de reforma, tendo a meta de atender 20 créditos dentre os 41 buscados. O estádio, portanto, receberá a certificação LEED. Dado que a conclusão da obra, segundo a Secretaria Especial da Copa, está prevista para dezembro de 2012, o estádio estará com a certificação já para o evento teste da FIFA, a Copa das Confederações, que ocorrerá em junho de 2013. Palavras-chave: Sustentabilidade, responsabilidade social corporativa, selo LEED, estádio Castelão. ABSTRACT Over the years, companies have been adjusting to new demands of the market as a whole. In this context, it has been the concern of entrepreneurs with the social and environmental impact of their actions on the main activities of their ventures, seeking to improve the image of corporations in society. Thus, as general objective of this study examine the appropriateness of the works to reform the Castelão Stadium against FIFA guidelines with respect to the issue of sustainability. Specific objectives: identify has LEED certification desired items in the works to reform the Castelão and check the current stage of the LEED guidelines in these works. On the methodological aspect, the search has an explanatory character, analytical and descriptive. A documentary research was carried out on the spot on the overall situation and current sustainability guidelines of LEED. The data show only the tasks within the minimum limits for obtaining LEED certification that the work will seek to meet, in order to obtain certification. The study found that there is an adaptation of the works of reform of that stadium at FIFA requirements in regard to sustainability. Since it has fetched the minimum targets established, especially in regard to the category of "sustainable sites". This category, in the reform project of the stadium, was the one that received greater attention and by the managers of the renovation work, having the goal to meet 20 credits among the 41 fetched. The stadium therefore receive LEED certification. Since the completion of the work, according to the Special Secretariat of Copa, is scheduled for December 2012, the stadium will be already certified for the test event, the FIFA Confederations Cup, which will take place in June 2013. Keywords: Sustainability, corporative social responsibility, certification LEED, Castelão. LISTA DE QUADROS E TABELAS QUADRO 1: Diretrizes – Pacto Global .......................................................................... 20 QUADRO 2: Diretrizes – Pacto Global de Sullivan ....................................................... 21 QUADRO 3: Diretrizes – Natural Step .......................................................................... 22 QUADRO 4: Selos LEED .............................................................................................. 25 QUADRO 5: Quesitos de Avaliação LEED ................................................................... 25 QUADRO 6: Critérios de Avaliação .............................................................................. 32 QUADRO 7: Diretrizes – Sítios Sustentáveis ................................................................33 QUADRO 8: Diretrizes – Consumo de Água ................................................................. 33 QUADRO 9: Diretrizes – Energia .................................................................................. 34 QUADRO 10: Diretrizes – Gestão de Materiais ............................................................ 34 QUADRO 11: Diretrizes – Qualidade do Ar Interno ..................................................... 35 QUADRO 12: Certificações ........................................................................................... 36 TABELA 1: Modernização do Estádio Castelão ............................................................ 37 LISTA DE SIGLAS ECO – Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento FIFA – Federação Internacional de Futebol Associada GBC-Brasil – Green Building Council-Brasil LEED – Leadership in Energy and Environmental Design ONU – Organização das Nações Unidas OTEC – Otimização Energética para a Construção SIGMA – Sustainability-Integrated Guidelines for Management USGBC – United States Green Building Council SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 12 2 SUSTENTABILIDADE ............................................................................................... 16 2.1 Sustentabilidade – Conceito ...................................................................................... 16 2.2 Projetos Norteadores de Sustentabilidade ................................................................. 18 2.3 Responsabilidade Social Corporativa ........................................................................ 22 2.4 Selo LEED – Leadership in Energy and Environmental Design .............................. 24 3 ESTÁDIO GOVERNADOR PLÁCIDO CASTELO E AS RECOMENDAÇÕES DA FIFA ................................................................................................................................ 27 3.1 Estádio Governador Plácido Castelo – Informações Gerais e Históricas .................. 27 3.2 Recomendações da FIFA para os Estádios – Green Goal ......................................... 27 4 SUSTENTABILIDADE NAS OBRAS DE REFORMA DO CASTELÃO ............... 31 4.1 Certificação LEED e o Castelão ................................................................................ 31 4.2 Diretrizes para a Obtenção do Selo LEED na Obra de Reforma do Castelão ........... 31 4.3 Selo LEED – Estágio Atual e Metas ......................................................................... 35 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 39 6 REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 41 12 1. INTRODUÇÃO Desde 2007, ano do anúncio do Brasil como sede da Copa do Mundo de futebol, realizada pela Federação Internacional de Futebol Associada (FIFA, 2012), os estádios brasileiros vêm sendo observados com mais cautela tanto por autoridades como por usuários em geral. As condições estruturais dos estádios brasileiros, principalmente os das doze subsedes escolhidas pela FIFA em 2009, exigem as reformas necessárias para que os mesmos se enquadrem aos padrões de conforto e segurança exigidos pela FIFA. Dentro dessas exigências está a adequação e respeito às questões de sustentabilidade contidas na certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design). O selo LEED, que certifica todas as edificações sustentáveis, deve estar em todos os estádios da Copa do Mundo de 2014, haja vista que o evento que está por vir tem por objetivo a consolidação deste como a “1ª Copa do Mundo Verde” da história, de acordo com a FIFA (FIFA, 2010). Portanto, a certificação LEED orienta e atesta o comprometimento de uma edificação com os princípios da sustentabilidade para a construção civil antes, durante e depois de suas obras. De acordo com a U.S. Green Building Council (USGBC), a ideia da certificação é a busca por medidas mais sustentáveis na construção civil em geral. Segundo a FIFA (2010), trata-se de um evento considerado o maior do mundo tanto em público, principalmente nas sedes dos jogos, seja nos estádios ou em audiência televisiva, como em mobilização de nações. Os impactos desse evento vão além das reformas estruturais dos estádios, como o aumento da capacidade da rede hoteleira, passando por melhorias na mobilidade urbana, bem como por melhorias e aumento de capacidade nos portos e aeroportos. Conforme o Balanço Geral da Copa do Mundo de 2014, divulgado pelo Ministério do Esporte (2011), os custos previstos com as reformas dos estádios das subsedes do evento representarão, aproximadamente, 23% do valor total investido para a realização do evento nas áreas que englobarão os projetos de infraestrutura (portos, aeroportos, estádios e mobilidade urbana). Baseados nesses critérios de sustentabilidade da certificação LEED, já estão sendo empreendidos estudos de sustentabilidade nas obras de construção e reforma de outros estádios nas subsedes da Copa do Mundo de 2014, como em Belo Horizonte por exemplo. Portanto se faz necessário, não só para Fortaleza, com também para todas 13 outras as subsedes, estudos pertinentes à questão da sustentabilidade nas obras de reforma e construção de seus estádios para o evento. Neste trabalho, particularmente, será abordada uma dessas áreas de infraestrutura que será impactada com a realização do evento, que serão os estádios. Mais especificamente, este estudo tem como foco uma das subsedes, o estádio Governador Plácido Castelo, inaugurado em 1973 em Fortaleza, no estado do Ceará. Sendo assim, tem-se como objetivo geral deste estudo analisar a adequação das obras de reforma do estádio Governador Plácido Castelo em relação às orientações da FIFA no que tange à questão da sustentabilidade. Como objetivos específicos, identificar os itens de certificação LEED pretendidos nas obras de reforma do estádio Governador Plácido Castelo e verificar o estágio atual das diretrizes do selo LEED nessas obras. O referencial teórico está baseado na sustentabilidade empresarial e na responsabilidade social corporativa. Segundo Kraemer (2003), o rápido crescimento demográfico, somado ao consumo cada vez maior dos recursos naturais e degradação acelerada do meio ambiente, exigiu da humanidade ações corretivas em relação ao modelo de crescimento econômico. Com isso surge a ideia de desenvolvimento sustentável, otimizando crescimento econômico e preservação ambiental. Segundo Morimoto, Ash e Hope (2003), só em 1987, ano em que a Comissão Mundial de Meio Ambiente publicou o Relatório Brundtland, tem-se a definição do desenvolvimento sustentável como sendo: “o desenvolvimento que permite que as gerações atuais atendam as suas necessidades, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atenderem às delas”. Portanto, diante desse enfoque de desenvolvimento sustentável, as corporações passam a ter foco, além do lucro, a igualdade social e proteção ao meio ambiente, ficando esses três elementos conhecidos como “tripé da sustentabilidade” (LEMME, 2005, apud GOMES, 2009, p.7). Segundo Caldelli e Parmigiani (2004), enquanto que o desenvolvimento sustentável representa a inclusão de elementos ambientais e sociais no processo de tomada de decisão da empresa, o conceito de responsabilidade social corporativa vai além. Ele engloba a predisposição de a empresa assumir a responsabilidade dos impactos gerados na sociedade. Atualmente, segundo Gomes (2009), a responsabilidade social nas empresas ganhou corpo e relevância como estratégia de negócios, sendocapaz de aumentar a capacidade competitiva das empresas que a adota e faz publicidade em seu entorno. Segundo Melo 14 Neto e Froes (1999), os ganhos para as empresas vão desde boa visibilidade com o governo, ganho de imagem, até o apoio, motivação e lealdade dos funcionários e parceiros. Portanto, o novo modelo de empresa, conhecida como empresa cidadã, mantém o objetivo primordial do capitalista que é a geração de riqueza. Porém, segundo Alves (2001), ela passa a perseguir este objetivo de forma sustentável e responsável, não assumindo obrigações alheias ao seu funcionamento, mas sim de não fazer, tais como emprego de mão de obra infantil, degradação ambiental, encobrir informações nocivas dos seus produtos etc. Com isso, a pesquisa tem um caráter explanatório, analítico e descritivo. Explanatório, pois foi feito um estudo preliminar de caráter bibliográfico, de modo a obter mais informações sobre o objeto da pesquisa escolhido. Analítica, pois foi feita uma análise objetiva dos dados em relação ao objeto de pesquisa. E, finalmente, é descritiva porque descreve o objeto de pesquisa. Além disso, para o estudo foi realizada uma pesquisa documental no estádio Governador Plácido Castelo sobre a situação geral e atual das diretrizes de sustentabilidade do selo LEED. Com relação aos procedimentos de coleta de dados tem-se a observação e a entrevista com o gestor responsável pela área de sustentabilidade na obra de reforma do estádio como ferramentas de obtenção das informações necessárias ao estudo. Foi feita uma visita local ao estádio Governador Plácido Castelo, para verificar como as diretrizes de sustentabilidade do selo LEED e responsabilidade social corporativa, estão sendo conduzidas nas obras de reforma do estádio. Os aspectos observados foram: uso racional da água; eficiência energética; redução, reutilização e reciclagem de materiais e recursos; qualidade dos ambientes internos da edificação; espaço sustentável; inovação e tecnologia; atendimento a necessidades locais, definidas pelos próprios profissionais da GBC (Green Building Council). O presente trabalho se desenvolverá, além desta introdução, em três seções adicionadas de uma conclusão final. A 2ª seção trata de definir a sustentabilidade e a responsabilidade social corporativa, abordando a definição, principais projetos associados a essas questões e a apresentação do selo LEED. A 3ª seção trata de abordar as informações gerais sobre o estádio Castelão, bem como as orientações da FIFA no que tange à sustentabilidade das obras de reforma para a Copa do Mundo de 2014. 15 A 4ª seção apresenta os critérios de sustentabilidade exigidas da empresa responsável por gerir a obra de reforma do estádio Governador Plácido Castelo. Por fim, têm-se as considerações finais e referências. 16 2. SUSTENTABILIDADE 2.1 Sustentabilidade - Conceito De acordo com Young, Lincoln e Hamshire (2000), sustentabilidade é uma característica de um processo ou de um sistema, que permite sua continuidade por prazo determinado em determinado nível de uso. Segundo Allen (1993), o conceito do que viria a ser sustentabilidade transformou-se em princípio, que orienta o consumo dos recursos naturais da geração atual de forma a não comprometer o consumo das gerações futuras. Baseado nisso, percebe-se como o tema sustentabilidade é complexo. Tanto que o conceito propriamente dito do que vem a ser sustentabilidade começou a ser delineado na década de 70. Essa “definição oficial” de sustentabilidade ganhou forma em 1972 na Conferência de Estocolmo, realizada pela ONU (Organização das Nações Unidas) através da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano. De acordo com o Report of the United Nations Conference on the Human Environment, referente à Conferência de Estocolmo, a reunião chamou a atenção internacional para questões como a degradação ambiental e a poluição crescente até aquele momento. Com isso a conferência lançou as bases das ações ambientais em nível internacional, traduzindo-se em um plano de ação, conhecido como “Declaração de Estocolmo”, que definiu princípios de preservação e melhoria do ambiente natural, destacando a necessidade de apoio financeiro e assistência técnica a comunidades e países mais pobres (ONU, 2012). Com a ECO-92, conhecida oficialmente como a “Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento”, realizada em 1992 no Rio de Janeiro, com foco no desenvolvimento sustentável, este conceito se consolida (GOMES, 2009). O termo “desenvolvimento sustentável” apareceu cinco anos antes do encontro do Rio de Janeiro. Foi usado pela primeira vez em 1987, no relatório Brundtland, publicado pela Comissão Mundial do Meio Ambiente (MORIMOTO, ASH e HOPE, 2003). Conforme o relatório Brundtland (1987, p. 54), o desenvolvimento sustentável pode ser definido como “O desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades”. Significa possibilitar que as pessoas, agora e no futuro, atinjam um nível satisfatório de desenvolvimento social e econômico e de realização humana e 17 cultural, fazendo, ao mesmo tempo, um uso razoável dos recursos da terra e preservando as espécies e os habitats naturais. De acordo com Gomes (2009), o desenvolvimento sustentável se divide em três componentes, que são: sustentabilidade ambiental, sustentabilidade econômica e sustentabilidade sociopolítica. Esses princípios decorrem do conceito do tripé da sustentabilidade (Triple Bot tom Line), que corresponde aos resultados de uma organização medidos em termos sociais, ambientais e econômicos e são apresentados nos relatórios corporativos das empresas comprometidas com o desenvolvimento sustentável. a) Sustentabilidade Ambiental Consiste basicamente na manutenção das funções e componentes do ecossistema de modo sustentável. De acordo com a ONU (2000), no seu documento intitulado de “Metas de Desenvolvimento do Milênio”, que indica as metas almejadas neste campo a serem alcançadas até 2015, para garantir a sustentabilidade ambiental, faz-se necessário se concentrar em quatro objetivos principais: integrar os princípios do desenvolvimento sustentável nas políticas e programas nacionais e reverter a perda de recursos ambientais; reduzir de forma significativa a perda da biodiversidade e reduzir para metade a proporção de população sem acesso a água potável e ao saneamento básico. b) Sustentabilidade Econômica Dentro do conceito de desenvolvimento sustentável, para Allen (1993) a sustentabilidade econômica pode ser definida como o conjunto de medidas e políticas que visam a incorporação de valores ambientais e sociais. Com isso, os lucros e os dividendos não são avaliados somente em caráter financeiro, mas também em caráter ambiental e social, potencializando, assim, o uso de recursos naturais e humanos. Este conceito ainda abrange a questão da gestão eficiente dos recursos naturais, garantindo sua exploração sustentável e não ocasionando seu esgotamento por completo, introduzindo parâmetros como nível ótimo de poluição, que também é chamado de “externalidades ambientais”, dando valores econômicos aos elementos naturais. http://pt.wikipedia.org/wiki/Desenvolvimento_sustent%C3%A1vel 18 c) Sustentabilidade Sociopolítica Segundo John Elkington (1988, apud SHMIDT, 2007), a sustentabilidade sociopolítica centra-se no equilíbrio social, tanto na sua vertente de desenvolvimento social como socioeconômica. É um veículo de humanização da economia, e, ao mesmo tempo, pretende desenvolver o tecido social nos seus componentes humanos e culturais. Portanto, a sustentabilidade social está baseada num processo de melhoria na qualidadede vida da sociedade via redução das disparidades entre a opulência e a miséria, utilizando diversos mecanismos, tais como nivelamento do padrão de renda, acesso a educação, moradia, alimentação, entre outros. Com isso, esses três componentes ilustram bem a complexidade do tema sustentabilidade, principalmente quando se aborda a sustentabilidade econômica. Isto porque, segundo Shmidt (2007), novos valores permeiam hoje a sociedade e, em consequência disso, o paradigma do mundo dos negócios passou e ainda vive uma fase de redefinições com o objetivo de incorporar práticas sustentáveis. Ainda segundo Shmidt (2007), existe na atualidade um movimento no mundo no intuito de modificar as políticas públicas, processos produtivos e o estilo de vida da sociedade em prol do desenvolvimento sustentável. No entanto, embora muito discutido teoricamente e divulgado pelas empresas em seus discursos para o mercado, o significado do termo ainda não parece claro para a maioria das pessoas, dificultando assim que mudanças significativas em prol da sustentabilidade sejam colocadas em prática e testadas pela sociedade de forma efetiva. 2.2 Projetos Norteadores de Sustentabilidade Segundo Vasques, Bernardo e Brito (2005), ao longo das discussões trazidas pelas diferentes conferências mundiais, foram mostrados cinco projetos norteadores da sustentabilidade. São eles: Natural Step, Agenda 21, Pacto Global, Projeto Sigma e Princípios globais de Sullivan. Esses cinco projetos serão definidos e explicitados a seguir. 19 a) Agenda 21 Segundo Vasques, Bernardo e Brito (2005), a Agenda 21 é um plano de ações a serem executadas de escala global a local, seja pelos Sistema de Nações Unidas, governos ou grupos locais que tenham impactos humanos no ambiente respectivo. De acordo com Mortensen (1997) Agenda 21 foi um dos principais resultados da conferência ECO-92, ocorrida no Rio de Janeiro, em 1992. É um documento que estabeleceu a importância de cada país a se comprometer a refletir, global e localmente, sobre a forma pela qual poderiam cooperar no estudo de soluções para os problemas socioambientais. A Agenda 21 se constitui em um instrumento de reconversão da sociedade industrial rumo a um novo paradigma, que exige a reinterpretação do conceito de progresso, contemplando maior harmonia e equilíbrio holístico entre o todo e as partes, promovendo a qualidade, não apenas a quantidade do crescimento. Segundo Mortensen (1997), a relevância da Agenda 21 e a cobertura de todos os aspectos do desenvolvimento sustentável são importantes para os indicadores com o intuito de monitorar o que estes realmente se desejam monitorar, em outras palavras, alcançar o progresso em um nível nacional de desenvolvimento sustentável. b) Pacto Global De acordo com Vasques, Bernardo e Brito (2005), o Pacto Global surgiu através da figura de Kofi Annan, secretário geral da ONU em 1999, ano da criação do pacto durante o Fórum Econômico mundial. A ideia, segundo Annan, era humanizar a globalização através da cooperação entre as grandes corporações mundiais. Portanto, em julho de 2000, época da oficialização do Pacto Global, embasado na Declaração Universal de Direitos Humanos, Declaração de Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho, Declaração do Rio sobre Ambiente e Desenvolvimento e a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, a meta primordial do Pacto Global foi lançada, que incluía inclusão social e economia mundial sustentável (VASQUES, BERNARDO e BRITO, 2005). O grande legado do Pacto global foi justamente quanto ao âmbito da responsabilidade social corporativa aos países que, de certa forma, não tinham dado a devida importância a esta nova metodologia de gerência de negócios (MORTENSEN, 1997). Diante disso, o Pacto Global se baseia em dez princípios já embasados nas declarações citadas no 2º parágrafo. Esses princípios estão elencados logo abaixo no quadro 1: 20 Quadro 1 – Diretrizes – Pacto Global Empresas devem apoiar e respeitar a proteção dos direitos humanos internacionalmente proclamados. Empresas devem certificar-se de que não são cúmplices em abusos dos direitos humanos. Empresas devem apoiar a liberdade de associação e o efetivo reconhecimento do direito à negociação coletiva. Empresas devem apoiar a eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou compulsório. Empresas devem apoiar a erradicação do trabalho infantil. Empresas devem apoiar a eliminação de discriminação relativa ao emprego e à ocupação. Empresas devem apoiar uma abordagem preventiva às questões ambientais. Empresas devem desenvolver iniciativas para promover maior responsabilidade ambiental. Empresas devem incentivar o desenvolvimento e a difusão de tecnologias ambientalmente amigáveis. Empresas devem trabalhar contra todas as formas de corrupção, incluindo extorsão e suborno. Fonte: UNIETHOS (2004). c) Projeto Sigma Segundo a entidade UNIETHOS (2004), o Projeto Sigma (Sustentability – Integrated Guidelines for Management) consiste em conjunto de diretrizes voltadas às empresas que buscam a sustentabilidade em seus negócios. O Projeto Sigma foi lançado em 1999 oriundo de uma parceria entre três organizações: Forum for the Future, AccountAbility e British Standards Institution. O projeto é composto basicamente por três partes: um guia de princípios, um outro guia com diretrizes de implementação da sustentabilidade nas atividades principais da empresa e um guia de ferramentas para o auxílio na implementação da sustentabilidade nas práticas da empresa. Com isso, pode-se concluir que o Sigma faz a junção de temas econômicos, sociais e ambientais, ao mesmo tempo em que incentiva a empresa a praticar essas áreas dentro do seu ambiente (UNIETHOS, 2004). Portanto, o projeto é baseado na compreensão da responsabilidade socioambiental para que funcione. Baseado neste princípio tem-se a relação de três pontos fundamentais para o sucesso do princípio norteador e, consequentemente, do Projeto Sigma: transparência, significando a obrigação de uma organização de prestar contas aos seus interessados; correspondência as necessidades dos interessados; e obediência a obrigação de cumprir 21 com padrões que a organização voluntariamente se compromete, além de regras e regulamentos que devem ser cumpridas por razões estatuídas (UNIETHOS, 2004). d) Projeto Global de Sullivan De acordo Vasques, Bernardo e Brito (2005), o Projeto Global de Sullivan “é um código de conduta que procura aumentar os direitos humanos, justiça social, proteção ambiental e econômica para todos os trabalhadores, em todas as indústrias, em todas as nações”. Os princípios foram elaborados para serem adotados voluntariamente, por todos os tipos de organizações no mundo, com espírito de troca de ideias para que toda a sociedade possa se beneficiar. No quadro 2 apresenta-se as diretrizes desse pacto, destacando no contexto dessas diretrizes a preocupação com a promoção das diretrizes de sustentabilidade. Quadro 2 – Diretrizes – Pacto Global de Sullivan Respeitar a liberdade voluntariados empregados de associação. Suporte aos direitos humanos universais, particularmente aos empregados, comunidades envolvidas e outras partes interessadas nos negócios da empresa em questão. Oportunidades igualitárias para funcionários de todas as hierarquias na empresa, com respeito em relação a cor, raça, credo, etnia, gênero ou idade e realizá-lo sem práticas inaceitáveis para o trabalhador como a exploração de crianças, punições físicas, abuso à mulher, trabalho forçado involuntário e outras formas de abuso. Compensar os funcionários para capacitá-los a fim de encontrar no mínimo as necessidades básicas e prover oportunidades para melhorar a habilidade e a capacidade para aumentar as oportunidades sociais e econômicas dos mesmos. Prover um ambiente de trabalhoseguro e sadio, bem como proteger a saúde humana e o ambiente, assim como promover o desenvolvimento sustentável. Promover uma competição justa incluindo respeito aos direitos intelectuais e de propriedade, não oferecendo, nem pagando subornos. Trabalhar com governos e comunidades em quais é feito o negócio para melhorar a qualidade de vida nessas comunidades. Promover a aplicação plena de todos esses princípios em todos os seus ambientes de negócios. Fonte: UNIETHOS (2004). e) Natural Step De acordo com Waage (2004), o Natural Step foi elaborado pelo oncologista sueco Karl-Henrik Robert em conjunto com outros cientistas como um documento que articulasse princípios básicos da sustentabilidade. O referido documento basicamente continha a descrição dos conhecimentos primários das funções da biosfera e interações humanas relativas à sustentabilidade da vida no planeta. A princípio, o natural step foi 22 concebido para gerar a abrangência necessária ao conceito de sustentabilidade. Com isso, sob uma ótica sistêmica com foco na sustentabilidade, foram desenvolvidas as condições sistêmicas propostas pelo documento, que estão evidenciadas no quadro 3: Quadro 3 – Diretrizes – Natural Step Na sociedade sustentável, a natureza não está sujeita a concentrações crescentes de substâncias extraídas da crosta terrestre. Na sociedade sustentável, a natureza não está sujeita a concentrações crescentes de substâncias produzidas pela sociedade. Na sociedade sustentável, a natureza não está sujeita a degradação sistemática dos meios físicos. Na sociedade sustentável, as necessidades humanas são satisfeitas em todo o mundo. Fonte: UNIETHOS (2004). 2.3 Responsabilidade Social Corporativa (RSC) Considera-se de interesse para esse estudo entender a relação entre os conceitos de responsabilidade social nas empresas e sustentabilidade empresarial. Apesar de se relacionarem por serem temas de áreas afins, a sustentabilidade empresarial, segundo Caldelli e Parmigiani (2004), é basicamente a inclusão de aspectos ambientais e sociais no processo de tomada de decisões nas empresas. Já o conceito de responsabilidade social corporativa, segunda a mesma fonte, representa a predisposição dos empresários em assumir e compensar os impactos causados na sociedade oriundos de suas ideias ou empreendimentos. Essa discussão inicial sobre a diferença de termos tão similares tem sua importância bem explicada por Van Marrewijk (2003). Segundo Van Marrewijk, a sustentabilidade teria o foco sobre conflitos de interesse oriundos da produção, ou seja, teria relações com aspectos da gestão ambiental e de recursos, por exemplo. Já a Responsabilidade Social Corporativa (RSC), focaria nas relações entre pessoas e corporações. Em termos de conceito moderno da RSC, Carrol (1999), data o conceito moderno sobre o tema em 1953, através da publicação “Responsabilidade Social dos Homens de Negócios”, escrita por Howard R. Bowen. Esta publicação abordava as responsabilidades que os homens bem-sucedidos no ramo empresarial teriam de arcar perante a sociedade, como forma de retribuição ou compensação dos impactos gerados por suas corporações e ideias. Com isso, Bowen (apud CARROL, 1999) definiu o conceito de responsabilidade social basicamente como um dever dos homens de 23 negócios adotarem diretrizes e ações desejáveis no âmbito dos objetivos e valores de nossa sociedade. A evolução do conceito moderno de RSC se deu, segundo Freeman (1984, apud GOMES, 2009), a partir da década de 70, ocasionada, principalmente, pelos diversos movimentos sociais que eclodiram naquela década, abordando desde questões ambientais, passando por direitos civis, chegando até movimentos anti-guerra. Segundo Costa (2007), a RSC, no conceito mais apropriado e específico para questões atuais do 3º milênio, tem que abordar o posicionamento das empresas sobre questões bem definidas, tais como direito das minorias, ética e filantropia corporativa. O ponto da filantropia corporativa, para alguns, não pode fazer parte do que viria a ser entendido como responsabilidade social corporativa. Como se sabe, na língua portuguesa, o termo filantropia significa "amor à humanidade", por isso, para alguns autores o termo tem muito mais em comum com a ideia de solidariedade do que de responsabilidade social. Atuando neste raciocínio, Wood (1991), dá ideia de que filantropia não está no âmbito da RSC, a não ser, para ela, em países em desenvolvimento, onde os ganhos empresariais, muitas vezes, são vistos com um caráter de ajuda ao desenvolvimento de comunidades desprovidas de recursos e bem-estar. Por fim, a abordagem da RSC no século XXI não poderia deixar de contemplar o estágio atual dessa questão sob o ponto de vista de estratégia de negócios. De acordo com Melo Neto e Froes (1999), “o conceito de responsabilidade social ganhou força como estratégia de negócios capaz de aumentar as vantagens competitivas para as empresas que as adota”. Dentre essas vantagens, destacam-se: ganho de imagem, melhor relacionamento com o governo, fidelidade dos clientes, marca e produtos mais conhecidos, maior disposição de fornecedores em realizar parcerias e maior apoio, motivação, lealdade e desempenho dos seus funcionários e parceiros. Para Botelho (2006), a visão da empresa não pode ser somente a maximização dos lucros. Para ele, as empresas não podem, nem devem abandonar sua verdadeira natureza, que é a de produção e gerar receitas que lhe permitam ter uma vida financeiramente saudável. Porém, devem buscar seguir essa natureza de forma sustentável e responsável. Seguindo essa mesma linha de raciocínio, Alves (2001), concebe um novo tipo de empresa, a empresa cidadã, que consiste em gerar lucros de forma socialmente responsável, adicionando às suas obrigações, os deveres de deixar de fazer, tais 24 como poluição ambiental, trabalho escravo, omitir informações nocivas dos seus produtos entre outros. 2.4 Selo LEED – Leadership in Energy and Environmental Design Nos subitens anteriores deste trabalho, foram apresentados princípios que norteiam o tema sustentabilidade e responsabilidade social das empresas. Neste subitem, será abordada a questão do selo LEED. De acordo com a USGBC (2012), o selo LEED é um protocolo de avaliação e certificação de edificações conhecido internacionalmente e amplamente aceito. Basicamente, ele orienta e carimba o comprometimento da edificação com os princípios da sustentabilidade da construção civil. Criado pela própria USGBC, com o objetivo primordial de incentivar a adoção de métodos sustentáveis na área de construção de edificações ecologicamente corretas. O selo LEED se tornou o principal selo para edificações no Brasil. De acordo com a Green Building Council – Brasil (GBC, 2012), que representa o selo LEED no nosso país, o selo é considerado a principal certificação de construção sustentável das edificações brasileiras. No Brasil, existem oito tipos de selo LEED diferentes, que variam de acordo com o tipo de obra. As categorias de certificação do selo LEED podem ser observados no quadro 4: Quadro 4 – Categorias de Certificação LEED LEED NC: Novas Construções. LEED ND: Projetos de desenvolvimento de bairro. LEED CS: Projetos na envoltória e parte central do edifício. LEED RETAIL NC e CI: Para lojas de varejo. LEED HEALTHCARE: Unidades de saúde. LEED EB_OM: Manutenção de edificações já existentes. LEED SCHOOL: Projetos para escolas. LEED CI: Edifícios comerciais. Fonte: GBC-Brasil (2011). 25 Segundo a GBC – Brasil (2011) sete quesitos são levados em conta na avaliação da obra para obtenção da certificação que podem ser observados no quadro 5. Quadro 5 – Quesitos de Avaliação LEED Uso racional da água. Eficiência energética. Redução, reutilização e reciclagem de materiais e recursos. Qualidadedos ambientes internos da edificação. Espaço sustentável. Inovação e tecnologia. Atendimento a necessidades locais, definidas pelos próprios profissionais da GBC. Fonte: GBC-Brasil (2011). Atualmente o Brasil ocupa a 4ª colocação mundial no ranking de países que possuem maior número de edificações em processo de certificação LEED, seja qual for a categoria. De acordo com a GBC – Brasil, até o final de 2011, havia cerca de 450 obras ou edificações já estabelecidas em processo de certificação no Brasil. Apesar de boa colocação no ranking, o Brasil ainda é superado por EUA, China e Emirados Árabes Unidos em obras em processo de certificação verde (USGBC, 2011). Embora a elaboração de um projeto sustentável não esteja necessariamente vinculada à certificação verde, a importância dessa busca cada vez mais acentuada da certificação ecologicamente correta para as construções civis brasileiras se traduz na busca obstinada, também, de minimizar impactos ambientais durante a execução das obras, bem como durante a operação das construções. A ideia principal da certificação é a busca por medidas construtivas mais antenadas aos padrões de sustentabilidade mundialmente aceitos, determinados através de critérios como: localização, inovação e processo do projeto, eficiência no uso da água e no tratamento de esgoto, redução no consumo de energia com o uso de fontes renováveis, o uso de materiais e recursos e a qualidade do ambiente interno (GUEDES, et al., 2010). 26 3. ESTÁDIO GOVERNADOR PLÁCIDO CASTELO E AS RECOMENDAÇÕES DA FIFA 3.1 Estádio Governador Plácido Castelo – Informações Gerais e Históricas O estádio Governador Plácido Castelo, popularmente conhecido como Castelão, foi inaugurado em 1973, durante a gestão do governador Plácido Aderaldo Castelo segundo a Secretaria de Esportes do estado do Ceará (SESPORTE, 2012). Ainda segundo o órgão, o estádio localizado em Fortaleza era, antes do início das obras de reforma visando a Copa do Mundo de 2014, o 4º maior do país em capacidade para expectadores presenciais, podendo abrigar até 60.326 pessoas, ficando atrás apenas dos estádios do Maracanã, Mineirão e Morumbi, localizados nas cidades do Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo respectivamente. Contudo, a capacidade do estádio ganhará um aumento após a conclusão das obras de reforma, passando a acomodar até 67.037 expectadores (SESPORTE, 2012). Segundo a SECOPA, o início das obras para a construção do estádio Castelão data do ano de 1968. Foi criada, para isso, a Federação de Assistência Desportiva do Estado do Ceará (FADEC), para gerenciar o trabalho de levantamento do estádio. A intenção do governador do estado no período, Plácido Castelo, era que o estádio fosse erguido no Bairro do Alagadiço, na zona oeste de Fortaleza. Contudo, custos elevados com as desapropriações tornaram a ideia inviável. Com isso, os executantes da construção do estádio passaram a analisar outras áreas na cidade de Fortaleza, mais especificamente nos bairros do Pici e Itaperi, localizados, também, na zona oeste da capital do estado. Finalmente, uma área de 25 hectares que pertencia à Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza foi adquirida pelo governo do estado do Ceará (SECOPA, 2012). 3.2 Recomendações da FIFA para os Estádios – Green Goal De acordo com o “Manual de Recomendações para a Segurança e Conforto nos Estádios de Futebol” (FIFA, 2010), elaborado pela FIFA, além de todo o aparato tecnológico e cumprimento das suas normas e recomendações para a segurança e o 27 conforto dos expectadores, o estádio tem de ser ambientalmente responsável. Essa iniciativa é viabilizada pelo Green Goal, uma ideia da FIFA que visa, dentre outros objetivos, reduzir o desperdício de água potável, impedir ou evitar a produção de lixo, criar sistemas mais eficientes de energia e ampliar o uso de transporte público para os eventos FIFA. Portanto, os edifícios ambientalmente sustentáveis, cada vez mais frequentes, se preocupam em acrescentar procedimentos ambientalmente responsáveis aos seus projetos, não somente durante sua construção, mas, principalmente, no decorrer de sua vida útil, estão se tornando cada vez mais uma importante contribuição para a construção do futuro comum. Com isso, os arquitetos e engenheiros responsáveis pelas obras na construção civil estão priorizando, cada vez mais, a criação de edifícios que protejam e melhorem, ou pelo menos não piorem as condições socioambientais da comunidade em geral (USGBC, 2011). Baseado no Manual de Recomendações (FIFA, 2010), a concepção do projeto do estádio ou da sua reforma para atender aos padrões da entidade terá que levar em consideração, portanto, a avaliação completa do seu ciclo de vida. Para a FIFA, esta recomendação é a mais importante de todas, pois resume, dentre todos os procedimentos relacionados à sustentabilidade da construção e funcionamento do estádio, o impacto para as gerações futuras. Como já mencionado, o objetivo principal do projeto Green Goal pode ser traduzido em três campos de atuação na questão da sustentabilidade nos estádios que serão as sedes dos jogos da Copa do Mundo de 2014. São eles: uso eficiente da água potável, eficiência energética e gestão estratégica dos resíduos. a) Uso Eficiente da Água Potável No projeto, deve se atentar ao fato de iniciativas que visem um uso responsável e sustentável da água potável para a irrigação dos gramados e área verdes do estádio e seu entorno. O programa sugere, principalmente, a adoção de um sistema que se utilize do recolhimento e acúmulo das águas pluviais visando atender a esta necessidade e também para ser usada para limpeza e descarga dos vasos sanitários (FIFA, 2010). 28 b) Eficiência Energética De acordo com a FIFA (2010), a gestão estratégica e bem empregada da geração de energia e seu uso no estádio são fundamentais para a redução de custos. Não apenas a procedência da energia em termos de matriz deve ser observada, mas também a sua utilização eficiente e o impacto socioambiental que a matriz energética gera. Sendo assim, as estratégias de eficiência energética são partes importantes a serem incorporadas para esta gestão eficiente de resíduos. A eficiência energética, portanto, é um dos aspectos mais importantes que o projeto do estádio deve considerar, já que quanto menos energia um edifício usa, menos recursos serão necessários para produzi-la. Para isso, a FIFA (2010) recomenda a consideração da possibilidade de uso do potencial energético da estrutura do edifício ou terreno. A possibilidade de utilização de fontes de energia natural, renováveis, como o vento e o sol, também deve ser investigada, e isso resultaria em uma redução do gasto em recursos finitos e os usos associados de energia nos processos de produção e construção (FIFA, 2010). c) Gestão Estratégica dos Resíduos Um dos maiores custos na manutenção dos estádios, segunda a FIFA (2010), é o processo de retirada do lixo acumulado durante o uso dos estádios. A quantidade de lixo produzida pelos espectadores é considerável em todo evento em que se utiliza o local e isto é um problema difícil de ser administrado. Quanto a essa questão, o programa Green Goal sugere a reutilização dos diversos tipos de recipientes de bebidas, a reciclagem através da separação na coleta do lixo e a introdução de embalagens de produtos que empreguem material reciclado que possa novamente ser reutilizado, em um ciclo de reciclagem posterior. Portanto, a gestão estratégica de resíduos é fundamental para a redução de custos de manutenção, não apenas no uso dos materiais, mas também em seu descarte e no impacto ambiental que produzem. Estes resíduos, portanto, devem ser analisados a partir da matéria-prima utilizada para sua produção e não apenas a partir do momento do seu consumo e descarte(FIFA, 2010). Portanto, o programa Green Goal ilustra bem o que se espera em relação aos estádios que serão palco dos jogos do evento da FIFA. Sendo esta Copa do Mundo que será 29 realizada em 2014 a primeira da história em que diretrizes de sustentabilidade deverão ser adotadas na construção e utilização dos estádios. Na seção seguinte, tem-se a análise das obras de reforma do estádio Governador Plácido Castelo em relação às orientações da FIFA no que tange à questão da sustentabilidade. 30 4. SUSTENTABILIDADE E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS OBRAS DE REFORMA DO CASTELÃO 4.1 Certificação LEED e o Castelão A certificação LEED orienta e atesta o comprometimento de uma edificação com os princípios da sustentabilidade para a construção civil antes, durante e depois de suas obras (USGBC, 2011). Nas obras de reforma do estádio Castelão, em Fortaleza, visando a realização da Copa do Mundo de 2014, a categoria de certificação LEED que foi atribuída à obra foi a LEED NC, que justamente representa a categoria de grandes obras ou grandes projetos de renovação (OTEC, 2012). Para fundamentar essa etapa do estudo foram feitas duas visitas ao local da reforma, ou seja, no estádio Castelão. A 1ª visita, realizada em 12 de junho de 2012 visou uma análise mais geral de como a obtenção da certificação LEED vem sendo gerida pela empresa responsável pela obra. A 2ª visita, ocorrida no dia 13 de junho de 2012, teve um caráter mais específico, abrangendo todos os pontos observados para a obtenção da certificação. A última visita consistiu, portanto, em coletar informações acerca de cada uma das categorias avaliadas pela USGBC para que a certificação LEED fosse conferida ao estádio. Além disso, a 2ª visita questionou qual a certificação almejada pelos responsáveis pela obra e pela empresa gestora encarregada de implementar as diretrizes necessárias à certificação. Esta seção se desdobrará em mais dois subitens. O primeiro abordará as ações práticas desenvolvidas na obra em todos os critérios de avaliação da USGBC. No 2º momento se apresentará os créditos buscados e as metas para créditos adicionais para a obtenção da certificação, segundo dados fornecidos pela OTEC (Otimização Energética para a Construção), empresa de consultoria responsável por implementar a busca pelo selo LEED na obra de reforma do estádio Castelão. 31 4.2 Diretrizes para a Obtenção do Selo LEED na Obra de Reforma do Castelão. Segundo a GBC - Brasil, os critérios a serem avaliados são os que podem ser vistos logo abaixo no quadro 6: Quadro 6 – Critérios de Avaliação Uso racional da água. Eficiência energética. Redução, reutilização e reciclagem de materiais e recursos. Qualidade dos ambientes internos da edificação. Espaço sustentável. Inovação e tecnologia. Atendimento a necessidades locais, definidas pelos próprios profissionais da GBC. Fonte: GBC-Brasil (2011). Nas obras do estádio Castelão essas diretrizes serão colocadas em cinco categorias que serão e estão sendo o foco da obra de reforma do Castelão sob a ótica da USGBC. Essas categorias são segundo a Secretaria Especial da Copa (SECOPA) são: sítios sustentáveis, consumo eficiente de água, energia e atmosfera, matérias e recursos e a qualidade do ar interno. a) Sítios Sustentáveis Esta categoria consiste, basicamente, ações de prevenção de poluição gerada pela obra. Segundo a OTEC (2012), esta categoria abrange as diretrizes que cuidam do espaço sustentável no entorno e dentro da obra e do atendimento das necessidades locais. Suas ações práticas consistem no disposto no quadro 7: 32 Quadro 7 – Diretrizes – Sítios Sustentáveis Proteção das “bocas de lobo” (proteção de bueiros) para reter os detritos e não obstruir a tubulação da rede pluvial municipal. Bacias de decantação (caixa de coleta) retêm os efluentes da água da chuva por um período de tempo mais longo, permitindo a homogeneização da fase líquida e a remoção de alguns compostos por decantação. Localizado na saída da obra, o “lava-rodas” evita que os sedimentos presos nas rodas dos caminhões sujem as vias públicas. Tapumes (vedação de madeira) bem fixados no solo contribuem para manter os sedimentos dentro do perímetro da obra. Aspersão de água com carros pipa ajudam a diminuir a poeira em suspensão na obra, melhorando a qualidade do ar. Local de lava-bicas para os caminhões betoneiras a fim de evitar contaminação do solo pela água resultante da lavagem desses veículos. 5% do total de vagas do empreendimento demarcadas como vagas preferenciais para prática da carona solidária que diminui emissão de poluentes, estimulando pessoas que fariam o mesmo trajeto separadamente a usar um único veículo. 5% do total de vagas do empreendimento demarcadas como vagas preferenciais para veículos de baixa emissão de poluentes. Instalação de bicicletário para os funcionários do estádio e da Secretaria de Esportes para estimular o uso de transportes não poluentes. Especificações de coberturas e pisos claros para evitar o efeito ilha de calor, reduzindo o impacto no micro clima, melhorando o conforto humano e para a vida selvagem da vizinhança. Fonte: OTEC (2012). b) Consumo Eficiente de Água Basicamente, o projeto de reforma no que diz respeito ao consumo responsável de recursos hídricos, é uma consequência de ações de prevenção da poluição. O grande objetivo desta diretriz é a preservação dos mananciais de água potável da cidade. As ações podem ser observadas no quadro 8: Quadro 8 – Diretrizes – Consumo de Água Uso de torneiras de fechamento automático, diminuindo a possibilidade de vazamentos e contribui para o uso racional da água potável no estádio. Instalação de um sistema de esgoto a vácuo no estádio ocasionando a diminuição do consumo de água e preservação dos mananciais, bem como redução do volume de esgoto gerado. Descargas de duplo acionamento (com a opção de descarga de 3l e 6l no mesmo componente) que gera também uma redução no consumo de água. Fonte: OTEC (2012). c) Energia e Atmosfera Essa é uma categoria que vai englobar duas diretrizes impostas pela USGBC para a obtenção do selo LEED pela obra de reforma do estádio Castelão, que são eficiência energética e inovação tecnológica na obra. 33 Esta categoria no projeto visa, através do desenvolvimento e da inovação tecnológica (OTEC, 2012), um aproveitamento mais consciente e eficiente do potencial energético necessário para a realização da obra de reforma. Suas ações práticas na referida obra são evidenciadas no quadro 9: Quadro 9 – Diretrizes – Energia Os sistemas de ar-condicionado projetados para o Estádio e Secretaria do Esporte tem que ser altamente eficientes e, ao demandar menos da nossa matriz energética, possibilita a preservação das reservas ecológicas. Iluminação feita com lâmpadas eficientes tanto no Estádio quanto na Secretaria de Esportes que além de menor consumo energético possuem maior vida útil. Portanto, quanto maior a durabilidade, menor é a necessidade de produtos de reposição ou de manutenção, menor será a quantidade de resíduos. Automação para desligamento programado de ar-condicionado e iluminação de áreas em que se esteja realmente havendo necessidade de uso. Todos os sistemas de instalações serão comissionados com o objetivo de determinar os padrões eficientes e garantir sua correta montagem e uso. Fonte: OTEC (2012). d) Materiais e Recursos Esta categoria diz respeito à diretriz de reciclagem e reutilização de materiais empregados na obra. O foco aqui é uso de materiais que tenham equilíbrio entre potencial de reciclagem e ciclo de vida durável. As ações do projeto consistem, portanto, no que está disposto no quadro10: Quadro 10 – Diretrizes – Gestão de Materiais Todos os materiais permanentes em madeira do projeto possuem o selo 100% FSC. Esse é um selo internacional e aprovado pelo Conselho Brasileiro de Manejo Florestal que garante a origem de florestas de manejo. Resíduos separados desde a sua geração em contêineres de coleta seletiva. Tudo que pode ser reutilizado ou reciclado ajuda a garantir a meta de não enviar para aterros sanitários ou industriais 75% dos resíduos gerados pela obra. Reciclagem do material da demolição de parte do estádio foi feito dentro da própria obra com uma recicladora de concreto. O material foi usado como sub-base do estacionamento. Tratamento da água proveniente da lavagem dos pincéis para diminuição da quantidade de resíduos tóxicos. Fonte: OTEC (2012). 34 e) Qualidade do Ar Interno Essa categoria no projeto de reforma do estádio abrange a diretriz que cuida da qualidade dos ambientes internos. Segundo a USGBC (2012), o foco dessa diretriz é o de se preocupar com as condições internas de trabalho do colaborador, conforme pode ser observado no quadro 11: Quadro 11 - Diretrizes – Qualidade do Ar Interno Proteção dos dutos durante a construção da obra para evitar o acúmulo de poeira que seria jogado no ambiente após seu acionamento. Uso de lixadeiras com aspirador para diminuir a quantidade de partículas suspensas na construção. Uso tintas, colas e pisos com baixos compostos orgânicos voláteis, garantindo a qualidade do ar nos ambientes tanto durante sua aplicação quanto ocupação. Fonte: OTEC (2012). Essas cinco diretrizes listadas, portanto, orientam as construções civis que desejam obter alguma das certificações LEED. Segundo a OTEC, as obras de reforma do Castelão irão ter um foco maior nas categorias de sítios sustentáveis e energia e atmosfera. Essa definição de prioridade dentre as categorias observadas pela USGBC vem atrelada à compreensão da metodologia de avaliação da entidade para que a obra obtenha qualquer uma das certificações. Essa metodologia será abordada no próximo subitem, mostrando com mais especificidade onde a empresa responsável pela obtenção da certificação LEEED na obra de reforma do Castelão manterá o foco para a obtenção dos créditos necessários para que o estádio tenha a certificação da USGBC. 4.4 Selo LEED – Estágio Atual e Metas Como já mencionado, a categoria de selo verde da USGBC que a obra de reforma do estádio Castelão está enquadrada é a LEED NC, destinada justamente para obras de grande impacto nas comunidades no âmbito socioambiental. Segundo a USGBC (2011), existem quatro tipos de selo LEED, enquadrando-se a obra de acordo com o número de créditos conquistados dentro dos parâmetros da USGBC em 110 créditos possíveis, que podem ser observados no quadro 12: 35 Quadro 12 – Certificações Selo LEED, conferido a empreendimentos que tiveram entre 40 e 50 pontos. Selo LEED Silver, para edificações com mais de 50 pontos e menos de 60. Selo LEED Gold, para empreendimentos com pontuação superior a 60 e inferior a 80. Selo LEED Platinum, para edificações que conquistaram mais de 80 pontos. Fonte: USGBC (2011. Como já mencionado, a OTEC é a empresa de consultoria de sustentabilidade e eficiência energética responsável pela consultoria para a obtenção da certificação LEED no estádio Castelão. Dentre algumas realizações na área de certificação ambiental LEED realizadas pela empresa no Brasil, destacam-se as certificações no Centro de Cultura Max Feffer, em Pardinho, localizada no interior do estado de São Paulo e do Centro de Distribuição da empresa Procter & Gamble, em Itatiaia, no estado do Rio de Janeiro. Portanto, de acordo com OTEC (2012), a obra de reforma do estádio no Ceará visando a Copa do Mundo de 2014, buscará a certificação mais simples, ou seja, o selo LEED. Em termos dessas diretrizes, a OTEC busca os 40 créditos necessários à certificação, porém trabalha com uma “margem de segurança”, buscando 45 créditos. Neste subitem, apresentam-se os planos da OTEC quanto a esses créditos necessários, focando exclusivamente nas áreas em que a empresa responsável pela implementação destas práticas decidiu atuar para certificar o estádio, bem como suas metas, ou seja, os pontos em que haverá a possibilidade de melhorias para que o número de créditos almejados seja alcançado. Na tabela 1, tem-se o detalhamento do plano de ação da empresa responsável pela implementação das ações que visam a obtenção da certificação LEED nas obras de reforma do estádio Governador Plácido Castelo. 36 Tabela 1 – Modernização do Estádio Castelão Categoria Créditos Sítios Sustentáveis Total de Pontos Atendidos Meta Escolha de Terreno 1 1 - Desenvolvimento da Conectividade com a Comunidade 5 5 - Transporte Alternativo - Transporte Público 6 6 - Transporte Alternativo – Bicicletas 1 - 1 Transporte Alternativo - Veículos de Combustível Alternativo 3 0 3 Transporte Alternativo - Capacidade de Estacionamento 2 1 1 Efeito Ilha de Calor - Áreas Externas – Pisos 1 - 1 Efeito Ilha de Calor - Áreas Externas – Coberturas 1 - 1 Total 20 13 7 Consumo Eficiente de Água Total de Pontos Atendidos Meta Tecnologias Inovadoras para o Controle de Efluentes 2 - 2 Redução no Consumo de Água 2 a 4 - 4 Total 6 - 6 Energia & Atmosfera Total de Pontos Atendidos Meta Otimização do Desempenho Energético 2 - 2 Medição e Verificação do Consumo de Energia 3 - 3 Fontes de Energia Limpa 2 - 2 Total 7 - 7 Materiais & Recursos Total de Pontos Atendidos Meta Reutilização de Edifício - 55% a 95% 1 - 1 Gerenciamento de Resíduos da Obra 2 - 2 Madeira Certificada 1 - 1 Total 4 - 4 Qualidade Ambiental no Interior do Edifício Total de Pontos Atendidos Meta Ventilação Intensificada 1 - 1 Qualidade do Ar em Ambientes Internos - Durante a Construção 1 - 1 Materiais de Baixa Emissão 2 - 2 Total 4 - 4 Fonte: OTEC (2012). 37 Portanto, o estudo mostra que com o sucesso esperado na implementação de todas as medidas descritas nas tabelas, o estádio Castelão receberá a certificação LEED. Dado que a conclusão da obra, segundo a SECOPA (2012), está prevista para dezembro de 2012, o estádio estará com a certificação já para o evento teste da FIFA, a Copa das Confederações, que ocorrerá em junho de 2013. No atual momento, apenas a diretriz de sítios sustentáveis tem condições de receber créditos da USGBC. De acordo com a OTEC (2012), a expectativa é que todas as cinco categorias e as ações práticas escolhidas para a obtenção dos créditos, escolhidas em conjunto pela empresa de consultoria responsável pela certificação ambiental e pela empresa responsável pelas obras de reforma em geral, estejam dentro das orientações da USGBC até dezembro de 2012 (OTEC, 2012). Essa previsão está associada ao processo de certificação em si. Logo após a empresa consultora responsável pelo selo LEED atestar o comprometimento da obra com as ações listadas por ela mesma no trabalho de consultoria, a empresa responsável pelas obras em geral irá solicitar a avaliação da USGBC visando a obtenção da certificação LEED pela construção. Como esse processo dura aproximadamente de três a cinco meses, dependendo se ocorrer necessidade de uma reavaliação pela USGBC, o estádio Castelão receberia oficialmente o selo LEED entre os meses de fevereiro e abril de 2013, portanto, em tempo hábil para o estádio ter o selo LEED para Copa das Confederações em julho de 2013, sendo este um evento teste da FIFA com o país sede da Copa do Mundo (OTEC, 2012). Vale lembrar que o que estes dados revelam são apenas as tarefas dentro dos padrões da USGBC para a certificação LEED que a obra buscará atender, para que se obtenha a certificação. Claro que para certificações superiores em excelênciana gestão ambiental e social das obras de construção civil no mundo inteiro da USGBC no padrão LEED, as exigências são maiores, bem como os critérios de avaliação são mais rigorosos. Por razões de escolha ou ausência de planejamento na gestão ambiental no início da confecção do projeto de reforma do estádio cearense, a escolha foi a da obtenção do selo LEED de graduação mais baixa. Porém, nada alheio a essas razões impediria que certificações mais graduadas da USGBC no padrão LEED fossem almejadas e conquistadas. 38 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do exposto neste trabalho, percebe-se que a questão da sustentabilidade vem despertando a atenção crescente nas empresas. Essa preocupação com os impactos socioambientais relativos às atividades produtivas das empresas também é uma preocupação da FIFA com relação ao seu maior evento, a Copa do Mundo de futebol. Baseados nas orientações da FIFA, os projetos de construção ou reforma dos estádios das doze subsedes do evento têm que objetivar e conseguir a certificação ambiental LEED, fornecida pela USGBC, de modo a atestar que aquela construção é ambientalmente responsável segundo os parâmetros de avaliação internacionais da USGBC. O objetivo geral deste estudo era analisar a adequação das obras de reforma do estádio Governador Plácido Castelo em relação às orientações da FIFA no que tange à questão da sustentabilidade. Como objetivos específicos, identificar os itens de certificação LEED pretendidos nas obras de reforma do estádio Governador Plácido Castelo e verificar o estágio atual das diretrizes do selo LEED nessas obras. Como objetivo mais específico, este estudo se concentrou na identificação dos itens da certificação LEED, bem como a verificação do estágio atual das diretrizes do selo no Castelão. Sugere-se que a temática deste abordada neste estudo pode ser estendida para todas as subsedes da Copa do Mundo de 2014, avaliando com detalhes como cada projeto cuida da questão da sustentabilidade nas suas obras de construção e reforma dos estádios. Comparando-se as ações desenvolvidas em cada obra desses estádios em relação ao selo LEED, poder-se-ia traçar um paralelo entre todos os doze estádios. Além disso, baseado no fato de esta ser a primeira “Copa do Mundo Verde” organizada pela FIFA, se poderia também comparar como foi feita a gestão da certificação LEED. O estudo verificou que existe uma adequação das obras de reforma do referido estádio às exigências da FIFA em relação à sustentabilidade. Uma vez que tem buscado as metas mínimas de estabelecidas, especialmente no que tange à categoria de “sítios sustentáveis”. Essa categoria, no projeto de reforma do estádio, foi a que recebeu maior atenção e por parte dos gestores da obra de reforma, tendo a meta de atender 20 créditos dentre os 41 buscados. Até o momento já se atenderam 13 pontos desses 20 planejados nesta categoria, principalmente no que tange aos meios alternativos de transporte por 39 parte dos funcionários engajados na obra, tendo o estacionamento do estádio uma capacidade maior quanto ao número de veículos alternativos e que usam combustível alternativo. Além disso, ainda nesta categoria, nas obras de reforma do estádio, todos os materiais permanentes em madeira do projeto possuem o selo 100% FSC. Esse é um selo internacional e aprovado pelo Conselho Brasileiro de Manejo Florestal que garante a origem de florestas de manejo. Baseado nisso, o trabalho mostrou de maneira bastante clara o lugar da sustentabilidade no novo estádio Governador Plácido Castelo. O panorama ideal seria que mais trabalhos de análise dessa questão tão importante também fossem empreendidos para os estádios das outras subsedes da Copa do Mundo de 2014 no Brasil. 40 6. REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, Roberto Cavalcanti. O Progresso Social do Nordeste: Um balanço de quase meio século. Revista Econômica do Nordeste (BNB), Fortaleza, v.28, n.4. ALVES, L. E. S. Governança e cidadania empresarial. Revista de Administração e Empresas, vol. 41, n.4, São Paulo, out./dez. 2001. BAUER, L. A. Falcão. Materiais de Construção. Volume I. 5ª Ed. Rio de Janeiro, 2000, 471 p. Livros Técnicos e Científicos. BERNAL, Cleide. A Metrópole Emergente. Fortaleza: 2004. UFC BOTELHO, T. Responsabilidade social e ambiental: reação do mercado de ações brasileiras. Dissertação (Mestrado em Administração), PUC - Rio, Rio de Janeiro, PUC, 2006. BOVESPA. Índice de Sustentabilidade Empresarial – ISE. Bolsa de Valores de São Paulo. Disponível em: <http://www.bovespa.com.br/pdf/Indices/ResumoISENovo.pdf>. 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