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UeceporAssunto3 MODIFICADO

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UECE
assuntoassuntoassunto
@brenoic
BrenoUECEKarine@karinelivemedUECEUECE
feito por:
O melhor material 
disponível para o vestibular da UECE
3 ª E D I Ç Ã O
APOSTILA
Apresentação 
 Sejam bem vindos a terceira edição da apostila Uece por Assunto! 
Depois de muito trabalho e dedicação, trazemos a todos vocês a 
nova atualização desse material que ajuda cada vez mais novos 
estudantes. Nós mantivemos aquilo que já funcionava e adicionamos 
algumas novidades que esperamos que possam ajudá-los ainda mais.
 Essa apostila é fruto do trabalho dos amigos Breno Araujo 
(@brenoic) e Karine Oliveira (@karinelivemed), estudantes que 
objetivavam a UECE e que embarcam em uma aventura pela 
medicina. O Breno hoje estuda na Universidade Federal do Ceára 
(UFC) e a Karine é a mais nova aluna da Universidade Estadual do 
Ceará (UECE). Esse material foi criado a partir de uma demanda 
pessoal que resolvemos dividir com quem precisasse. Essa apostila 
mudoumudou as nossas vidas, realmente esperamos que ela também possa 
ajudar a mudar a de vocês.
 Todo esforço utilizado na construção desse material foi feito 
pensando em você, estudante. E claro, não estariamos aqui sozinhos, 
somos gratos a nossos amigos que sempre dão dicas de como 
melhorar a apostila e trazer mais qualidade ainda, então dedicamos 
um abraço especial a Naiza (@aprovanai) e ao Igor que ajudaram a 
construir a identidade visual dessa edição. 
 Dois abraços e bons estudos,
 Karine e Breno
 
9 UECE POR ASSUNTO - @KARINELIVEMED @BRENOIC 
LINGUAGENS 
PORTUGUÊS 
 
INTEPRETAÇÃO DE TEXTO ........................................ 6 
LITERATURA .............................................................. 60 
LINGUÍSTICA ........................................................... 67 
ESTRUTURA TEXTUAL ............................................. 71 
COESÃO TEXTUAL ................................................... 72 
DISCURSO E VOZES DO TEXTO ................................ 88 
ESTILÍSTICA E VÍCIOS DE LINGUAGEM .................... 93 
FIGURAS E FUNÇÕES DA LINGUAGEM ................... 94 
GÊNEROS TEXTUAIS ................................................ 106 
GRAMÁTICA ............................................................ 123 
MORFOLOGIA ......................................................... 146 
PONTUAÇÃO ........................................................... 150 
SEMÂNTICA ............................................................ 154 
SINTAXE .................................................................. 157 
VERBO .................................................................... 163 
EDUCAÇÃO FÍSICA 
 
SAÚDE ..................................................................... 174 
ESPORTE E MANIFESTAÇÕES CULTURAIS ............... 175 
CAUSAS SOCIAIS ..................................................... 176 
INGLÊS 
 
INTERPRETAÇÃO DE TEXTO .................................... 178 
GRAMÁTICA ............................................................ 212 
ESPANHOL 
 
INTERPRETAÇÃO DE TEXTO .................................... 236 
GRAMÁTICA ............................................................ 262 
EXATAS 
MATEMÁTICA 
 
ANÁLISE COMBINATÓRIA ....................................... 289 
CONJUNTOS ............................................................ 290 
FUNÇÃO E EQUAÇÃO DO 1 GRAU .......................... 291 
FUNÇÃO E EQUAÇÃO DO 2 GRAU .......................... 292 
FUNÇÕES ................................................................ 293 
GEOMETRIA ANALÍTICA .......................................... 295 
GEOMETRIA ESPACIAL ............................................ 298 
GEOMETRIA PLANA ................................................ 300 
PROGRESSÃO ARITMÉTICA ..................................... 305 
PROGRESSÃO GEOMÉTRICA ................................... 307 
MATEMÁTICA FINANCEIRA .................................... 308 
RAZÃO, PROPORÇÃO E SIST. UNIDADES ................. 309 
OPERAÇÕES BÁSICAS E DIVISIBILIDADE ................. 310 
SISTEMAS E SEQUÊNCIAS ....................................... 312 
LOGARITMO ........................................................... 313 
POLINÔMIOS E COMPLEXOS .................................. 314 
TRIGONOMETRIA ................................................... 317 
MATRIZES E DETERMINANTES ................................ 320 
EXPRESSÃO ALGÉBRICA .......................................... 321 
INEQUAÇÕES E IRRACIONAIS ................................. 322 
PRODUTOS NOTÁVEIS ............................................ 322 
NATUREZA 
BIOLOGIA 
 
ORIGEM DA VIDA ................................................... 324 
TAXONOMIA E SISTEMÁTICA .................................. 328 
MICROBIOLOGIA .................................................... 330 
SERES VIVOS E REPRODUÇÃO ................................ 333 
BIOQUÍMICA ........................................................... 335 
BOTÂNICA ............................................................... 339 
CITOLOGIA .............................................................. 345 
ECOLOGIA ............................................................... 349 
GENÉTICA ............................................................... 356 
PARASITOLOGIA ..................................................... 360 
ZOOLOGIA .............................................................. 362 
HISTOLOGIA E FISIOLOGIA ...................................... 366 
FÍSICA 
 
ANÁLISE DIMENSIONAL .......................................... 379 
CINEMÁTICA ........................................................... 381 
DINÂMICA .............................................................. 385 
ELETRODINÂMICA .................................................. 390 
TERMODINÂMICA .................................................. 394 
FÍSICA ELÉTRICA E CAPACITORES ............................ 496 
ENERGIA ................................................................. 398 
ESTÁTICA, ELETROSTÁTICA E TRABALHO ............... 399 
GRAVITAÇÃO .......................................................... 403 
HIDROSTÁTICA ....................................................... 405 
MAGNETISMO ........................................................ 407 
ONDULATÓRIA E ACÚSTICA .................................... 409 
ÓPTICA .................................................................... 411 
MOVIMENTO HARMÔNICO SIMPLES ..................... 414 
CALORIMETRIA, TERMOLOGIA E CALOR ................ 416 
MOMENTO LINEAR ................................................. 419 
ANÁLISE VETORIAL E ESCALAR ............................... 421 
QUÍMICA 
 
ANÁLISE DE ESPÉCIES QUÍMICAS ............................ 424 
ÁTOMO ................................................................... 427 
BIOQUÍMICA ........................................................... 431 
CINÉTICA QUÍMICA ................................................. 433 
QUÍMICA AMBIENTAL ............................................ 435 
PROPRIEDADES PERIÓDICAS .................................. 435 
COLOIDES ............................................................... 437 
 
9 UECE POR ASSUNTO - @KARINELIVEMED @BRENOIC 
ELETRÓLISE ............................................................. 437 
ELETROQUÍMICA .................................................... 438 
EQUILÍBRIO QUÍMICO ............................................ 440 
ESTEQUIOMETRIA .................................................. 442 
FORÇAS INTERMOLECULARES ................................ 443 
GASES ..................................................................... 444 
ISOMERIA ............................................................... 446MATERIAIS DE LABORATÓRIO ................................ 447 
LEIS PONDERAIS ..................................................... 448 
LIGAÇÕES QUÍMICAS .............................................. 449 
MÉTODOS DE SEPARAÇÃO DE MISTURAS .............. 451 
POLÍMEROS ............................................................ 453 
PROPRIEDADES COLIGATIVAS ................................ 453 
QUÍMICA E REAÇÕES INORGÂNICAS ...................... 454 
QUÍMICA E REAÇÕES ORGÂNICAS .......................... 459 
REAÇÕES QUÍMICAS ............................................... 469 
TERMOQUÍMICA ..................................................... 471 
HUMANAS 
HISTÓRIA 
 
HISTORIOGRAFIA E PRÉ-HISTÓRIA .......................... 475 
IDADE ANTIGA ........................................................ 477 
IDADE MÉDIA ......................................................... 481 
IDADE MODERNA ................................................... 484 
IDADE CONTEMPORÂNEA ...................................... 488 
ATUALIDADES ......................................................... 596 
BRASIL COLONIAL ................................................... 500 
PERÍODO REGENCIAL .............................................. 508 
PRIMEIRO REINADO ............................................... 509 
SEGUNDO REINADO ............................................... 511 
BRASIL REPÚBLICA .................................................. 513 
ERA VARGAS ........................................................... 523 
DITADURA .............................................................. 526 
HISTÓRIA DO CEARÁ ............................................... 531 
GEOGRAFIA 
 
AGRICULTURA ........................................................ 538 
CONCEITOS GEOGRÁFICOS ..................................... 540 
GEOPOLÍTICA .......................................................... 551 
GLOBALIZAÇÃO ...................................................... 557 
MEIO AMBIENTE ..................................................... 561 
POPULAÇÃO ........................................................... 562 
TRANSPORTE .......................................................... 564 
URBANIZAÇÃO ........................................................ 566 
CARTOGRAFIA ........................................................ 571 
CLIMATOLOGIA ...................................................... 574 
HIDROGRAFIA ......................................................... 588 
FONTES DE ENERGIA .............................................. 583 
REGIÕES .................................................................. 585 
RELEVO ................................................................... 587 
GEOLOGIA .............................................................. 592 
VEGETAÇÃO E BIOMAS ........................................... 595 
GEOGRAFIA DO CEARÁ ........................................... 498 
FILOSOFIA 
 
SURGIMENTO DA FILOSOFIA .................................. 604 
FILOSOFIA CLÁSSICA ............................................... 606 
CONTRATUALISMO ................................................. 614 
DIREITOS HUMANOS E MOVIMENTOS SOCIAIS ..... 617 
ESCOLA DE FRANKFURT .......................................... 620 
FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA ................................ 622 
FILOSOFIA E PODER ................................................ 626 
FILOSOFIA E POLÍTICA ............................................ 628 
FILOSOFIA MEDIEVAL ............................................. 632 
FILOSOFIA MODERNA ............................................. 635 
MITOLOGIA ............................................................. 641 
LIBERALISMO, SILOGISMO E MATERIALISMO 
HISTÓRICO .............................................................. 643 
INDÚSTRIA, CULTURA, ESTÉTICA E ARTE ................ 644 
RACIONALISMO E EPISTEMOLOGIA ........................ 646 
SOCIOLOGIA 
 
SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA .............................. 649 
DESIGUALDADE E PRECONCEITO ............................ 659 
ESCOLA DE FRANKFURT .......................................... 654 
GLOBALIZAÇÃO E CULTURA .................................... 655 
JUVENTUDE, DIVERSIDADE E VIOLÊNCIA ............... 660 
MOVIMENTOS E PROBLEMAS SOCIAIS ................... 663 
RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS .................................... 666 
MEIO AMBIENTE ..................................................... 671 
SOCIEDADE, ESTADO E PODER ............................... 672 
SOCIOLOGIA BRASILEIRA ........................................ 678 
TEÓRICOS DA SOCIOLOGIA ..................................... 681 
TRABALHO E CIDADANIA ........................................ 690 
REDAÇÃO 
 
DEPOIMENTO ......................................................... 693 
ARTIGO ................................................................... 696 
CARTA ABERTA ....................................................... 701 
NARRAÇÃO ............................................................. 705 
BIOGRAFIA .............................................................. 709 
EDITORIAL ............................................................... 712 
PLANNER 
 
MENSAL ............................................................... 713 
 
 
 
 
 
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P á g i n a | 6 
 
 
UECE POR ASSUNTO | @BRENOIC @KARINELIVEMED 
PORTUGUÊS 
INTERPRETAÇÃO DE TEXTO 
 
 
Texto para a próxima questão 
 
Uma Capitu Nordestina 
1 Cada novo livro de Josué Montello é um 
2 acontecimento em nossas letras. Sua 
3 fecundidade literária, aliás [...], nunca se fez 
4 com sacrifício de seu esmero na expressão 
5 verbal. Pelo contrário, esse esmero atingiu seu 
6 alto grau de perfeição com Aleluia, mas de forma 
7 alguma se esgotou na sua busca de concisão, 
8 outra meta constante em sua estilística pessoal. 
9 Ainda agora, o que o levou a reeditar esse quase 
10 primeiro livro de sua “maturidade literária”, 
11 como ele próprio assinalou, foi a preocupação 
12 estritamente estilística e não estrutural, junto ao 
13 cuidado de preservar o tipo de sua personagem 
14 central, a jovem Benzinho, e o ambiente 
15 maranhense de todos os seus romances. 
16 Aliás, se a paisagem maranhense desse 
17 romance nada tem a ver com a rude paisagem 
18 tipicamente nordestina dos romances de um José 
19 Lins do Rego ou de um José Américo, o caráter 
20 da jovem Maria de Lourdes Silva, apelidada 
21 Benzinho desde a infância, nada tem a ver com o 
22 tipo genuíno das jovens nordestinas, como aliás 
23 dos homens da região, onde a firmeza de caráter 
24 é a expressão mais representativa do 
25 temperamento nordestino, pela supremacia dos 
26 valores morais sobre os valores eróticos e 
27 sobretudo hedonísticos. Sendo esse romance dos 
28 seus vinte anos uma tentativa quase 
29 subconsciente de reação antirromântica, não é 
30 de espantar que essa adolescente dos subúrbios 
31 de São Luís, o bairro do Anil, se pareça mais com 
32 a sofisticada carioca Capitu do que com qualquer 
33 das Inocências, ou Moreninhas do romantismo 
34 de sua época. 
35 Benzinho, pela mão feiticeira de seu criador 
36 literário, que, aliás, colheu o modelo na vidareal, 
37 passa ao longo do romance sem que o autor se 
38 aprofunde em qualquer análise psicológica da 
39 passagem de uma condição de vítima inocente à 
40 de uma representante típica, embora 
41 inconsciente, de um fenômeno sociológico, o da 
42 ascensão social, que, ao contrário do tipo 
43 habitual da mulher nordestina, coloca 
44 inteiramente de lado as razões do coração ou da 
45 sensualidade para se dirigir exclusivamente pela 
46 razão. E pelo raciocínio rigorosamente 
47 interesseiro de promoção social ou de influência 
48 exterior. Quando, pela primeira vez, se entrega a 
49 um quase desconhecido, é levada 
50 exclusivamente por uma frase eventual de sua 
51 mãe, que lhe confidenciara a vontade de ter um 
52 neto. Pela segunda vez, o que a levou a fazer o 
53 mesmo foi simplesmente a ambição de casar 
54 com um vizinho rico. 
55 Em ambos os casos, absoluta ausência de 
56 sentimento passional e, no fundo, preocupações 
57 de tipo masculino mais que feminino. Não é a 
58 preocupação feminista de emancipação de seu 
59 sexo, mas a passividade em face de um desejo 
60 materno e o impulso masculino de ambição 
61 social. 
62 Aliás, na criação da personagem central 
63 dessa jovem Capitu nordestina, tocava Josué 
64 Montello em um fenômeno típico das sociedades 
65 modernas: a confusão ou o desencontro entre os 
66 sexos, em sua respectiva natureza biológica e 
67 psicológica. Já Aristóteles verificava haver 
68 homens de alma feminina e vice-versa. Assim 
69 como não há, entre as várias idades do ser 
70 humano, limites claros e positivos, assim 
71 também não existe, entre os sexos, uma 
72 psicologia respectivamente incompatível. O que é 
73 preciso é não confundir o desencontro de 
74 psicologias com a confusão, ou antes, a inversão 
75 das psicologias. Uma coisa é um homem de alma 
76 feminina e outra um homem efeminado. 
77 Naqueles, o que vemos é o predomínio de certas 
78 qualidades, que normalmente distinguem a alma 
79 feminina, sem que, entretanto, essa troca 
80 perturbe seus valores máximos. 
 
(Introdução. ATHAYDE, Tristão de. In: MONTELLO, Josué. 
Romances e novelas. V. 1. P. 109-111.) 
 
 
1) (UECE 2017.1 1º fase) Considerando o raciocínio do 
autor do texto, atente ao que se diz nas seguintes 
afirmações: 
I. A paisagem do romance “Janelas Fechadas”, de 
Josué Montello, está para a paisagem tipicamente 
nordestina dos romances de José Lins do Rego e de 
José Américo, assim como o caráter da jovem 
Benzinho está para o tipo genuíno das jovens 
nordestinas e, de maneira geral, dos homens dessa 
região. 
II. A adolescente da cidade de São Luís está para a 
sofisticada Capitu, assim como a mesma adolescente 
P á g i n a | 7 
 
 
UECE POR ASSUNTO | @BRENOIC @KARINELIVEMED 
está para qualquer das Inocências ou Moreninhas do 
romantismo da época. 
III. As razões do coração estão para Benzinho assim 
como o valor da ascensão social está para a mulher 
nordestina. 
Está correto o que se diz em 
A) I e III apenas. 
B) II e III apenas. 
C) I e II apenas. 
D) I, II e III. 
 
2) (UECE 2017.1 1º fase) A apresentação que Tristão 
de Athayde faz do romance Janelas Fechadas, do 
maranhense Josué Montello, tem como tópico, ou 
ponto principal, 
A) o confronto entre esse romance e os romances de 
José Lins do Rego e de José Américo. 
B) a exaltação do caráter do nordestino, que sobrepõe 
os valores morais a quaisquer outros valores. 
C) o paralelo entre Benzinho, a adolescente da 
periferia de São Luís, e a sofisticada carioca Capitu. 
D) a tentativa quase subconsciente de Josué Montello 
de reagir contra o Romantismo. 
 
3) (UECE 2017.1 1º fase) Releia o excerto que vai da 
linha 27 (“Sendo esse”) à linha 34, no qual Athayde diz 
que Montello tentou uma reação antirromântica ao 
escrever Janelas Fechadas. Pelo que consta no excerto 
destacado, só se pode afirmar que a reação 
antirromântica de Montello 
A) atingiu escritores como José de Alencar e Bernardo 
Guimarães. 
B) foi feita pela imitação do estilo romântico de 
escrever. 
C) realizou-se com a utilização de um humor 
sarcástico. 
D) produziu-se com a criação de uma protagonista 
não condizente com as heroínas românticas. 
 
4) (UECE 2017.1 1º fase) Considerando a índole de 
Benzinho, observe os seguintes itens: 
I. preocupações maiores com questões masculinas do 
que femininas; 
II. preocupação com a alienação da mulher; 
III. desambição de ascensão social. 
 
Está relacionado com o caráter de benzinho apenas o 
que consta em 
A) I. 
B) I e II. 
C) III. 
D) II e III. 
 
5) (UECE 2017.1 1º fase) Um dos fenômenos típicos da 
sociedade moderna, segundo palavras de Athayde, é 
“a confusão ou o desencontro entre os sexos”. 
Seguindo o raciocínio apresentado no texto, é correto 
afirmar que 
A) não existe imprecisão quanto aos limites entre a 
natureza masculina e a feminina. 
B) a inversão das psicologias masculina e feminina não 
pressupõe a efeminação. 
C) as naturezas masculina e feminina são capazes de 
conviver com harmonia. 
D) o desencontro de psicologias é fruto da inversão de 
psicologias. 
 
 GRITO 
Quadro que fundou o expressionismo nasceu de um 
ataque de pânico. 
 
 
 
6) (UECE 2017.1 2º fase) Assinale a opção que reduz o 
primeiro parágrafo do texto (linhas 01-10), às suas 5 
informações fundamentais. 
01 
02 
03 
04 
05 
06 
07 
08 
09 
10 
11 
12 
13 
14 
15 
16 
17 
18 
19 
20 
21 
22 
23 
24 
25 
26 
27 
28 
29 
30 
31 
32 
33 
34 
35 
36 
37 
38 
39 
40 
41 
42 
43 
Edvard Munch nasceu em 1863, mesmo 
ano em que O piquenique no bosque, de 
Édouard Manet, era exposto no Salão dos 
Rejeitados, chamando a atenção para um 
movimento que nem nome tinha ainda. Era o 
impressionismo, superando séculos de pintura 
acadêmica. Os impressionistas deixaram o 
realismo para a fotografia e se focaram no que 
ela não podia mostrar: as sensações, a parte 
subjetiva do que se vê. 
Crescendo durante essa revolução, Munch 
– que, aliás, também seria fotógrafo – achava a 
linguagem dos impressionistas superficial e 
científica, discreta demais para expressar o que 
sentia. E ele sentia: Munch tinha uma história 
familiar trágica: perdeu a mãe e uma irmã na 
infância, teve outra irmã que passou a vida em 
asilos psiquiátricos. Tornou-se artista sob forte 
oposição do pai, que morreria quando Munch 
tinha 25 anos e o deixaria na pobreza. O artista 
sempre viveu na boemia, entre bebedeiras, 
brigas e romances passageiros, tornando-se 
amigo do filósofo niilista Hans Jæger, que 
acreditava que o suicídio era a forma máxima 
da libertação. 
Fruto de suas obsessões, O Grito não foi 
seu primeiro quadro, mas o que o tornaria 
célebre. A inspiração veio do que parece ter 
sido um ataque de pânico, que ele escreveu em 
seu diário, pouco mais de um ano antes do 
quadro: “Estava andando por um caminho com 
dois amigos – o sol estava se pondo – quando, 
de repente, o sol tornou-se vermelho como o 
sangue. Eu parei, sentindo-me exausto, e me 
encostei na cerca – havia sangue e línguas de 
fogo sobre o fiorde negro e a cidade. Meus 
amigos continuaram andando, e eu fiquei lá, 
tremendo de ansiedade – e senti um grito 
infinito atravessando a natureza”. 
Ali nasceria um novo movimento artístico. 
O Grito seria a pedra fundadora do 
expressionismo, a principal vanguarda alemã 
dos anos 1910 aos 1930. 
(Aventuras na História) 
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UECE POR ASSUNTO | @BRENOIC @KARINELIVEMED 
A) A exposição de Piquenique no Bosque, em 1863, 
chamou a atenção para o impressionismo, que se 
iniciava explorando o lado subjetivo das sensações. 
B) A exposição de Piquenique no Bosque, quadro de 
Édouard Manet, chamou a atenção para o 
impressionismo, que se iniciava explorando o lado 
subjetivo das sensações. 
C) A exposição de Piquenique no Bosque, quadro de 
Édouard Manet, chamou a atenção para o 
impressionismo, superando a pintura acadêmica. 
D) A exposição de Piquenique no Bosque, quadro de 
Édouard Manet, exposto no Salão dos Rejeitados, 
chamou a atenção parao impressionismo, que 
explorava o lado subjetivo das sensações. 
 
7) (UECE 2017.1 2º fase) Pode-se assegurar, com base 
nas informações do texto, que 
A) Manet pintou o quadro O Grito ao mesmo tempo 
em que Munch escrevia o diário. 
B) antes de pintar O Grito, Munch escreveu um diário, 
onde diz ser a linguagem do Impressionismo 
insuficiente, fraca e insatisfatória para expressar os 
sentimentos de qualquer pintor. 
C) Manet pintou o famoso quadro Piquenique no 
bosque sob forte tensão psicológica. 
D) Munch mencionou em seu diário, antes de pintar O 
Grito, o abalo psicológico que pode ter sido a 
motivação do quadro. 
 
8) (UECE 2017.1 2º fase) Observe a diferença de 
sentido entre o verbo sugerir (dar a entender, 
insinuar, aventar) e o verbo afirmar (assegurar a 
veracidade ou a existência de algo; certificar, 
comprovar, atestar). Assinale a opção que 
corresponde ao único dado do primeiro parágrafo do 
texto, que foi apenas sugerido ou insinuado. 
A) Munch foi amigo de Hans Jæger, filósofo niilista 
(niilista é aquele que tem espírito destrutivo e 
entende não ter a vida valor nem utilidade). 
B) Edvard Munch nasceu no ano de 1863. 
C) Edvard Munch nasceu no ano em que Édouard 
Manet expôs o quadro O piquenique no bosque. 
D) Muito jovem, Munch teve de enfrentar a perda de 
parte da família. 
 
9) (UECE 2017.1 2º fase) Com base no que o texto diz 
sobre, O Grito, entre as linhas 26 a 34, marque a 
opção INCORRETA. 
A) O Grito foi pintado para reproduzir um grito de 
horror dado por Munch quando, no final de uma 
tarde, ele teve medo de um barulho que parecia o 
grito de um animal. 
B) O Grito nasceu de uma compulsão a que o pintor 
não pôde resistir e que o levou a praticar um ato 
irracional. 
C) As sombras do entardecer e os reflexos vermelhos 
dos raios do sol criaram uma paisagem que levou o 
impressionável pintor a entrar em pânico. 
D) Munch era um homem obsessivo, compulsivo, 
marcado por tragédias familiares. Embriagavase e 
tinha um amigo um filósofo niilista. O grito não foi 
emitido por ele, não foi nada natural. Provavelmente, 
fruto da imaginação alterada: “senti um grito infinito 
atravessando a natureza”. 
 
10) (UECE 2017.1 2º fase) O enunciado: “Crescendo 
durante essa revolução, Munch – que, aliás, também 
seria fotógrafo – achava a linguagem dos 
impressionistas superficial e científica” (linhas 11- 14) 
A) traz uma informação essencial para o leitor. 
B) apresenta um leve tom de ironia. 
C) indica que o locutor tem todas as informações 
sobre Munch. 
D) traz o vocábulo “aliás”, que pode ser substituído 
pela expressão “ou melhor”. 
 
Texto para a próxima questão 
 
Subsídio para a leitura do Texto 
Pedro Américo, pintor brasileiro nascido na Paraíba, 
foi um grande cultivador da arte acadêmica. Viveu 
sob a proteção de D. Pedro II, que lhe financiou 
cursos na Europa. O Imperador Brasileiro foi um 
verdadeiro Mecenas (indivíduo rico que protege 
artistas, homens de letras ou de ciências, 
proporcionando-lhes recursos financeiros para que 
possam dedicar-se, sem preocupações outras, às 
artes e às ciências). Foi por encomenda de D. Pedro II 
que ele pintou, em 1888, o quadro que homenageia 
D. Pedro I, pelo ato de proclamar a independência 
política do Brasil. A pintura recebeu o nome de 
Independência ou Morte, sendo mais conhecida, no 
entanto, como O Grito do Ipiranga. É um quadro que 
todo estudante brasileiro reconhece. 
 
 O GRITO 
Um tranquilo riacho suburbano, 
Uma choupana embaixo de um coqueiro, 
Uma junta de bois e um carreteiro: 
Eis o pano de fundo e, contra o pano, 
 
Figurantes – cavalos e cavaleiros, 
Ressaltando o motivo soberano, 
A quem foi reservado o meio plano 
Onde avulta solene e sobranceiro. 
 
P á g i n a | 9 
 
 
UECE POR ASSUNTO | @BRENOIC @KARINELIVEMED 
Complete-se a figura mentalmente 
Com o grito famoso, postergando 
Qualquer simbologia irreverente. 
 
Nem se indague do artista, casto obreiro, 
Fiel ao mecenato e ao seu comando, 
Quem o povo, se os bois, se o carreteiro. 
PAES, José Paulo. Poesia Completa. São Paulo: 
Companhia 
das Letras, 2008. P.105. 
 
11) (UECE 2017.1 2º fase) Atente ao que se diz sobre 
as duas primeiras estrofes do poema. 
I. A primeira estrofe, composta totalmente de frases 
nominais, descreve a paisagem humilde onde 
ocorrerá o episódio. Vê-se, no espaço chamado pano 
de fundo, a figura humilde de um carreteiro puxando 
uma junta de boi. 
II. A segunda estrofe, narrativa, contrasta com a 
primeira, porque introduz figuras humanas bem 
trajadas. São os figurantes: cavalos e cavaleiros, que 
representam as cortes de Lisboa, que estão ali para 
impedir o ato heroico. 
III. Na segunda estrofe, em um plano mais alto, já se 
anuncia a figura importante que será o centro do 
episódio. 
Está correto o que se diz somente em 
A) I. 
B) I e III. 
C) II e III. 
D) II. 
 
12) (UECE 2017.1 2º fase) Atente ao que se diz sobre 
as duas últimas estrofes do poema. 
I. A terceira estrofe convida o leitor a completar o 
episódio famoso que todos guardam na memória: o 
grito (conhecido como “O Grito do Ipiranga”), 
desprezando ou evitando qualquer desrespeito. 
II. A terceira estrofe é puramente crítica, de uma 
crítica sarcástica: critica-se a posição do artista 
beneficiado por um mecenas: se ele recebe dinheiro 
de alguém, é claro que fará a obra de acordo com os 
desejos desse alguém. Será que aconteceu algo assim 
com o quadro de Pedro Américo? O poeta refere-se 
ao artista como “casto obreiro”, ironizando o 
comportamento de quem recebe dinheiro de um 
mecenas. 
III. O último verso do poema traz uma crítica social 
partindo do quadro que representa o Grito do 
Ipiranga: “Quem o povo, se os bois, se o carreteiro”. 
Afinal, diante da situação em que se encontra o 
carreteiro (um homem), surge a dúvida sobre a 
situação do indivíduo. Estará o homem em uma 
situação inferior à dos bois? 
Está correto o que é dito em 
A) I, II e III. 
B) I e III apenas. 
C) I e II apenas. 
D) II e III apenas. 
 
13) (UECE 2017.1 2º fase) Leia com atenção o que se 
diz sobre os dois textos desta prova. 
I. Há um trabalho explícito de interdiscursividade 
entre “O Grito”, em prosa, e “O Grito”, em verso. 
II. O tipo de verso em que foi composto “O Grito” se 
adéqua ao tema explorado. 
III. O tipo de verso em que foi composto o poema “O 
Grito” constitui uma ironia: o tom que o autor 
imprime ao poema não condiz com a nobreza do 
verso escolhido. 
Está correto o que se diz somente em 
A) I e II. 
B) I e III. 
C) II. 
D) III. 
 
Texto para a próxima questão 
 
 Luciana 
1 Ouvindo rumor na porta da frente e os 
2 passos conhecidos de tio Severino, Luciana 
3 ergueu-se estouvada, saiu do corredor, 
4 entrou na sala, parou indecisa, esperando 
5 que a chamassem. Ninguém reparou nela. 
6 Papai e mamãe, no sofá, embebiam-se na 
7 palavra lenta e fanhosa de tio Severino, 
8 homem considerável, senhor da poltrona. O 
9 que ele dizia para a família tinha força de lei. 
10 Luciana quis aproximar-se das pessoas 
11 grandes, mas lembrou-se do que lhe tinha 
12 acontecido na véspera. Andara com mamãe 
13 pela cidade, percorrera diversas ruas, 
14 satisfeita. Num lugar feio e escorregadio, 
15 onde a água da chuva empoçava, resistira, 
16 acuara e caíra no chão, sentara-se na lama, 
17 esperneando e berrando. Em casa, antes de 
18 tirar-lhe a camisa suja, mamãe lhe infligira 
19 três palmadas enérgicas. Por quê? Luciana 
20 passara o dia tentando reconciliar-se com o 
21 ser poderoso que lhe magoara as nádegas. 
22 Agora, na presença da visita, essa criatura 
23 forte não anunciava perigo. 
24 Luciana aproximou-se do sofá nas 
25 pontas dos pés, imitando as mulheres que 
26 usam sapato alto. Convidava a irmã para 
27 brincar de moça, mas acabava arranjando-se 
28 só. E lá ia ela remedando um pássaro que se 
29 dispõe a voar, inclinada para a frente, os 
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UECE POR ASSUNTO | @BRENOIC @KARINELIVEMED 
30 calcanharesapoiados em saltos enormes e 
31 imaginários. Assim aparelhada, chamava-se 
32 D. Henriqueta da Boa-Vista. 
33 Tio Severino era notável: vermelho, 
34 tinha maçarocas brancas no rosto, o beiço e 
35 o queixo rapados, a testa brilhante, 
36 sobrancelhas densas e óculos redondos. 
37 Entre os dentes amarelos, a voz escorria 
38 pausada, nasal, incompreensível. Luciana 
39 percebia as palavras, mas não atinava com a 
40 significação delas. Rondou por ali um 
41 instante, mas fatigou-se. E ia esgueirar-se 
42 para o corredor, quando algumas sílabas da 
43 conversa indistinta lhe avivaram a recordação 
44 de outras sílabas vagas, largadas por um 
45 moleque na rua. Repetiu bem alto as 
46 palavras do moleque. 
47 – Esta menina sabe onde o diabo dorme. 
48 Luciana teve um deslumbramento. O 
49 coraçãozinho saltou, uma alegria doida 
50 encheu-a. Sentiu-se feliz e necessitou 
51 desabafar com alguém. Cruzou a sala. 
52 Espalhou as revistas e as bonecas, pôs-se a 
53 dançar em cima delas. Regressou, muito 
54 leve, boiando naquela claridade que a 
55 envolvia e penetrava. 
56 – Esta menina sabe onde o diabo dorme. 
57 Tio Severino tinha feito uma revelação 
58 extraordinária, e Luciana devia comportar-se 
59 como pessoa que sabe onde o diabo dorme. 
60 Voltou a caminhar nas pontas dos pés, de 
61 uma parede a outra, simulando não ver o 
62 sofá e a poltrona. Estava sendo observada, 
63 notavam nela sinais esquisitos, sem dúvida. 
64 – Foi tio Severino quem disse. 
65 – Ah! 
66 Papai e mamãe, silenciosos, refletindo 
67 na opinião rouca do parente grande, com 
68 certeza diziam “Ah!” por dentro e 
69 orgulhavam-se da filha sabida. 
70 A cena da véspera atravessou-lhe o 
71 espírito e importunou-a. Sentada numa poça 
72 de água suja, gritara, enlameara-se toda. 
73 Naquele despropósito não era D. Henriqueta 
74 da Boa Vista – Que vergonha! 
75 A culpada era a mamãe, que tivera a 
76 infeliz ideia de levá-la a lugares diferentes 
77 da calçada tranquila, do quintal sombrio. Na 
78 esquina do quarteirão principiava o mistério: 
79 barulho de carros, gritos, cores, movimentos, 
80 prédios altos demais. Talvez o diabo 
81 dormisse num deles. Em qual? Desanimada, 
82 confessou, interiormente, a sua ignorância. 
83 E, relativamente ao diabo só podia garantir 
84 baseada nas informações da cozinheira, que 
85 ele era preto, possuía chifres e rabo. Para 
86 quê? Admirou-se dessa extravagância. Que 
87 precisão tinha ele de chifres e rabo? Preto 
88 estava certo. No bairro moravam alguns 
89 pretos, sem chifres nem rabo. E se a 
90 cozinheira estivesse enganada? No espírito 
91 de Luciana, pouco inclinado a dúvidas, a 
92 pergunta esmoreceu, mas a indecisão 
93 momentânea descontentou-a: se privassem o 
94 diabo daqueles apêndices, ele ficaria reduzido 
95 a um brinquedo ordinário. Estremeceu 
96 maravilhada, num susto que encerrava 
97 prazer, uma visão patenteou-lhe a figura 
98 monstruosa. Certamente o diabo tinha gênio 
99 ruim, em horas de zanga batia nas pessoas 
100 com o rabo, espetava-as com os chifres. E 
101 retinto, da cor de Seu Adão carroceiro... 
102 – Esta menina tem parte com o diabo. 
103 E puxava as orelhas de Luciana. Por 
104 quê? Certamente o diabo também fugia de 
105 casa. Lisonjeada e medrosa com a terrível 
106 associação, Luciana persistia na 
107 desobediência. 
108 Seu Adão, apesar de negro, não tinha 
109 parte com o diabo, provavelmente um sujeito 
110 sisudo, triste, como tio Severino. O beiço 
111 franzido e o olho duro de tio Severino. 
112 – Esta menina tem parte com o diabo. 
113 A fala ranzinza feria-lhe os ouvidos. Dedos 
114 finos e nervosos agarravam-na. Um susto, a 
115 impressão de ter perdido qualquer coisa e 
116 achar-se em risco. Findo o sobressalto, 
117 imaginara-se protegida por entidades 
118 vigorosas e imortais. Agora a frase de tio 
119 Severino firmava-lhe a convicção. Com 
120 certeza possuía as qualidades necessárias 
121 para instruir-se e confirmar o juízo de tio 
122 Severino. Dona Henriqueta da Boa-Vista era 
123 um azougue: tinha jeito de quem sabe onde 
124 o diabo dorme. Ainda não sabia, mas haveria 
125 de saber. Descobriria o lugar onde o diabo 
126 dorme. Dona Henriqueta da Boa-Vista se 
127 largaria pelo mundo, importante, os 
128 calcanhares erguidos, em companhia de 
129 seres enigmáticos que lhe ensinariam a 
130 residência do diabo. Mais tarde seu Adão a 
131 embarcaria na carroça: – “Foi um dia uma 
132 princesa bonita que tinha uma estrela na 
133 testa”. Luciana recusava as princesas e as 
134 estrelas. Seu Adão coçaria o pixaim, 
135 encolheria os ombros. Levá-la-ia para a 
136 gaiola. Mamãe recebê-la-ia zangadíssima. E 
137 daria, quando seu Adão se retirasse, várias 
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UECE POR ASSUNTO | @BRENOIC @KARINELIVEMED 
138 chineladas em Dona Henriqueta da Boa-Vista. 
139 Sem dúvida. Mas isso ainda estava muito 
140 longe – e Luciana aborrecia tristezas. 
 
(Graciliano Ramos. Luciana. In: Insônia. Record 14ª Ed. Rio, 
São Paulo: 1978. p. 61-68. Texto adaptado.) 
 
14) (UECE 2017.2 1º fase) No conto “Luciana”, 
Graciliano Ramos focaliza uma das fases do 
desenvolvimento humano, a infância. Dentre os 
excertos abaixo, extraídos de obras que falam sobre a 
infância, assinale aquele cujo conteúdo é compatível 
com a visão de infância que Graciliano Ramos 
transmite no conto supracitado. 
A) “Deus é alegria. Uma criança é alegria. Deus e uma 
criança têm isso em comum: ambos sabem que o 
universo é uma caixa de brinquedos. Deus vê o 
mundo com os olhos de uma criança. Está sempre à 
procura de companheiros para brincar.” (Rubem 
Alves) 
B) “Todos sabem que a infância é a idade mais alegre 
e agradável. Ao ver esses pequenos inocentes, até um 
inimigo se enternece e os socorre.” (Erasmo de 
Roterdã) 
C) “Mostrei minha obra prima às pessoas grandes e 
perguntei se o meu desenho lhes dava medo. 
Responderam-me ‘Por que um chapéu daria medo?’ 
Meu desenho não representava um chapéu. 
Representava uma jiboia digerindo um elefante. 
Desenhei então o interior da jiboia, a fim de que as 
pessoas grandes pudessem entender melhor.” 
(Antoine de Sainte-Exupéry) 
D) “Quando crianças, nosso maior sonho é ver o 
tempo voar e finalmente nos tornarmos adultos. Ah, 
se soubéssemos, naquele tempo, o que significa ser 
criança...” (Internet. Autor não declarado.) 
 
15) (UECE 2017.2 1º fase) Assinale a opção que 
descreve corretamente quem era D. Henriqueta da 
Boa-Vista e o que ela representava para Luciana. 
A) D. Henriqueta da Boa-Vista era uma amiga da mãe 
de Luciana, considerada pela sociedade por ser culta e 
rica. 
B) D. Henriqueta da Boa-Vista era uma criação de 
Luciana, que representava para ela uma criança amiga 
com quem podia brincar. 
C) D. Henriqueta da Boa-Vista era uma senhora criada 
pela imaginação de Luciana, que compensava o mau 
relacionamento entre mãe e filha. 
D) D. Henriqueta da Boa-Vista era uma criação da 
imaginação de Luciana; era a voz que faltava à menina 
e que lhe permitiria ser considerada. 
 
16) (UECE 2017.2 1º fase) Que sentimentos 
experimentou Luciana quando ouviu, pela primeira 
vez, que era uma menina que sabia onde o diabo 
dormia? 
A) Sentiu orgulho e acreditou que devia continuar a 
proceder mal para justificar a afirmação do tio. 
B) Receou ter de viver em constante atrito com tio 
Severino. 
C) Teve medo da reação da mãe por causa das 
palmadas que ela lhe aplicaria. 
D) Sentiu-se mais próxima de D. Henriqueta da Boa-
Vista e guardou a certeza de que ela a ajudaria a achar 
a morada do diabo. 
 
17) (UECE 2017.2 1º fase) Caricatura é o desenho de 
uma pessoa ou de um fato exageradamente 
deformados. É um tipo de expressão grotesca ou 
jocosa, divertida, cômica. A caricatura também pode 
ser feita por meio dos recursos linguísticos. No conto, 
a personagem caricaturada é 
A) Luciana, que foi descrita pelo narrador com 
exagero, isto é, com expressões hiperbólicas, quefazem o leitor perceber a ironia do trecho. 
B) a serviçal da casa de Luciana, que não gostava da 
menina e contava à mãe dela tudo o que a garota 
inventava, exagerando no mau comportamento da 
menina. 
C) Tio Severino, cujos traços relevantes para o 
propósito do narrador foram apresentados 
metonimicamente, de forma a chamar atenção para o 
cômico. 
D) a mãe de Luciana, descrita por meio de metáforas 
como uma mulher má, que não ama a filha. 
 
18) (UECE 2017.2 1º fase) Releia com atenção o trecho 
que fica entre as linhas 17 e 23: “Em casa, antes de 
tirar-lhe a camisa suja, mamãe lhe infligira três 
palmadas enérgicas. Por quê? Luciana passara o dia 
tentando reconciliar-se com o ser poderoso que lhe 
magoara as nádegas. Agora, na presença da visita, 
essa criatura forte não anunciava perigo”. Nesse 
trecho aparecem três vocábulos e/ou expressões que 
se referem à mãe de Luciana. São expressões 
referenciais, com as quais podem ser construídas 
quatro diferentes sequências. Uma delas foi 
organizada de modo a formar uma gradação 
ascendente com um forte clímax. Essas expressões 
referenciais são responsáveis pelas mudanças que o 
referente sofre durante o desenvolvimento do 
discurso. A sequência que expressa a gradação 
ascendente é 
A) mamãe, criatura forte, ser poderoso. 
B) mamãe, ser poderoso, criatura forte. 
C) criatura forte, mamãe, ser poderoso. 
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UECE POR ASSUNTO | @BRENOIC @KARINELIVEMED 
D) ser poderoso, criatura forte, mamãe. 
 
Texto para a próxima questão 
 
 Moderna e Eterna 
01 Cem anos após inaugurar a primeira 
02 exposição modernista do Brasil, que serviu 
03 de embrião para a Semana de 1922, Anita 
04 Malfatti ganha uma grande mostra, em São 
05 Paulo, sobre seu legado. 
06 Uma semana após inaugurar aquela que 
07 seria a primeira exposição de arte moderna 
08 no Brasil, no dia 12 de dezembro de 1917, 
09 Anita Malfatti (1889-1964) teve cinco telas 
10 devolvidas por seus compradores, além de 
11 receber dezenas de bilhetes anônimos 
12 falando mal de suas obras. O motivo? A 
13 crítica feroz do influente escritor Monteiro 
14 Lobato (1882-1948), que comparou o 
15 trabalho da paulistana “aos desenhos de 
16 internos dos manicômios”. A mostra de 
17 Malfatti serviu de embrião para a revolução 
18 artística que culminaria na Semana de Arte 
19 Moderna de 1922, protagonizada por ela, 
20 Tarsila do Amaral, Mário de Andrade, Oswald 
21 de Andrade, Menotti Del Picchia – 
22 conhecidos como o Grupo dos Cinco. É em 
23 comemoração a essa emblemática exposição 
24 que o MAM de São Paulo inaugura no 
25 próximo dia 7 Anita Malfatti: 100 Anos de 
26 Arte Moderna. 
27 Graças à crítica de Lobato, Anita tornou- 
28 se a mártir do modernismo brasileiro”, 
29 explica a curadoura Regina Teixeira de 
30 Barros. Foi depois da publicação do artigo do 
31 escritor que começaram a se reunir em torno 
32 dela jovens poetas e artistas inconformados 
33 com a linguagem tradicional que dominava o 
34 cenário cultural da época. Apesar de ser mais 
35 discreta na forma de agir e se vestir que sua 
36 amiga Tarsila, Anita não deixou de ganhar 
37 notoriedade e reconhecimento em mercado 
38 ainda dominado por homens. 
39 Aos 20 anos mudou-se para a Alemanha, 
40 onde se apaixonou pelo expressionismo. 
41 Depois seguiu para os Estados Unidos, terra 
42 natal de sua mãe, pintora nas horas vagas e 
43 a primeira a incentivar a filha a seguir o 
44 sonho de ser artista. Casada com o 
45 engenheiro italiano Samuelli Malfatti, 
46 Elizabeth Krug viajava com a filha desde 
47 pequena pela Europa, não apenas para 
48 iniciá-la no mundo das artes, mas por causa 
49 de um problema congênito de Anita – uma 
50 atrofia no braço e na mão direita. Sem 
51 grandes resultados no tratamento, a pintora 
52 usava lenços coloridos para enconder a 
53 malformação na mão – o que a levou a ter 
54 uma bela coleção do acessório para diversas 
55 ocasiões. 
56 Ela não se deixou abater. Aprendeu a 
57 pintar com a mão esquerda, algo marcante 
58 em sua personalidade. Conforme crescia, 
59 experimentava voluntariamente a fome, a 
60 cegueira e a sede, na busca de sensações 
61 físicas de “superação do eu”, como ela 
62 mesma descrevia. Um dos fatos 
63 insuperáveis, no entanto, foi sua paixão nem 
64 tão secreta assim pelo grande amigo Mário 
65 de Andrade. Homossexual convicto, o 
66 modernista nunca correspondeu (sic) o amor 
67 de Anita. Após a Semana de 1922 (e apesar 
68 de sua profunda admiração pela amiga), 
69 Mário decidiu não apoiá-la quando, nas 
70 décadas de 30 e 40, a artista decidiu 
71 inspirar-se nas pinturas da academia em 
72 suas novas produções. “Ela fraquejou, sua 
73 mão, indecisa, se perdeu”, comentou ele à 
74 época. Mário recusou também as pinturas de 
75 Anita para o Salão de Belas Artes, o que 
76 provocou uma fissura na relação dos dois. 
77 “Ele foi um dos críticos que não assimilou 
78 que o modernismo não era apenas feito de 
79 ruptura à tradição, mas também [de] uma 
80 reflexão sobre o passado, algo que Anita 
81 conseguiu colocar de forma magistral em 
82 suas pinturas”, explica Regina. 
83 Entre as poucas obras que mostram a 
84 amizade do Grupo dos Cinco, a mais 
85 conhecida é certamente um desenho 
86 homônimo assinado por Anita, destaque da 
87 mostra de São Paulo. Nele a pintora e Mário 
88 aparecem tocando piano, enquanto Tarsila, 
89 Oswald e Menotti estão deitados. A cena 
90 mostra o ambiente genuíno no qual a 
91 Semana de Arte Moderna de 1922 nasceu, 
92 resume a curadora. 
 
(Ana Carolina Ralston. Vogue. Fevereiro de 2016.p. 
86-87.) 
 
19) (UECE 2017.2 2º fase) O objetivo do texto 
“Moderna e Eterna” é 
A) lembrar o centenário da Semana de Arte Moderna. 
B) destacar as mais importantes datas do Modernismo 
brasileiro. 
C) enfocar a primeira exposição de arte moderna no 
Brasil. 
P á g i n a | 13 
 
 
UECE POR ASSUNTO | @BRENOIC @KARINELIVEMED 
D) salientar as figuras mais importantes da literatura 
moderna no Brasil. 
 
20) (UECE 2017.2 2º fase) O texto centraliza-se 
A) na doença de Anita Malfatti. 
B) nos detalhes da vida íntima de Anita, como sua 
relação com Mário de Andrade. 
C) na falta de ética de Monteiro Lobato. 
D) na trajetória artística de Anita Malfatti. 
 
21) (UECE 2017.2 2º fase) Ensina Othon Moacyr Garcia 
(In: Comunicação em Prosa Moderna): “Se o fato 
determinante de outro é a sua causa, esse outro é a 
sua consequência. A consequência desejada ou 
preconcebida é o fim (propósito, objetivo)”. 
Considerando o que diz Othon M. Garcia, atente às 
seguintes afirmações: 
I. A devolução a Anita Malfatti de cinco telas e o 
recebimento, pela mesma Anita, de bilhetes anônimos 
falando mal de suas obras determinam a crítica feita 
por Moteiro Lobato à obra da pintora paulistana. Esse 
fato é consequência do outro. 
II. A crítica de Monteiro Lobato aos quadros de Anita 
Malfatti foi a causa do fracasso da exposição da 
pintora, em 1917. 
III. A consequência advinda da ação de Lobato 
(escrever um artigo posicionando-se contra a obra de 
Anita Malfatti) não foi preconcebida, portanto, não 
pode ser considerada o fim, propósito ou objetivo de 
sua ação. 
Está correto o que se diz em 
A) I e II apenas. 
B) II e III apenas. 
C) I e III apenas. 
D) I, II e III. 
 
22) (UECE 2017.2 2º fase) A real responsabilidade pelo 
fracasso da exposição de Anita Malfatti deve-se 
A) à própria Anita, que nunca chegou a ser uma 
grande pintora. 
B) ao público, que se negou a pagar pelas obras 
compradas, devolvendo-as. 
C) a Monteiro Lobato, que escreveu um artigo 
violento contra as obras de Anita. 
D) à doença, que tirou de Anita a possibilidade de 
crescer em sua arte. 
 
23) (UECE 2017.2 2º fase) Comentário de Mário de 
Andrade, quando nas décadas de 30 e 40 Malfatti 
decidiu inspirar-se nas pinturas da academia em suas 
novas produções: “Ela fraquejou, sua mão, indecisa, 
se perdeu” (linhas 72-73). Atente ao que se diz aseguir a respeito do comentário de Mário de Andrade. 
I. O poeta reporta-se, unicamente, à doença congênita 
que Anita sofria — uma atrofia no braço e na mão 
direita. Essa primeira leitura constrói o sentido literal. 
II. Mário de Andrade alude, somente, ao que, para ele, 
fora um retrocesso: a busca de inspiração, por Anita, 
na velha pintura acadêmica, a qual não introduz nas 
artes plásticas nada de novo, nada de revolucionário. 
III. O poeta constrói um jogo de palavras em que os 
mesmos vocábulos indicam a doença física da pintora 
e o que, para Mário de Andrade, foi um retrocesso 
artístico dela. Fazem-se, assim, ao mesmo tempo, 
leituras diferentes, mas que não se contradizem. 
Está correto o que se afirma somente em 
A) I. 
B) II e III. 
C) I e II. 
D) III. 
 
Texto para a próxima questão 
 
 Adeus, lentilha 
67 Sem a pressão de estar na praia certa 
68 e na festa exata, livre de superstições e dos 
69 fogos à meia-noite, o Réveillon longe do 
70 Brasil trouxe uma certeza: é preciso criar a 
71 cada segundo o sentido dos dias. 
72 Para nós, brasileiros, passar o 
73 Réveillon longe do calor é, à primeira 
74 sensação, começar o ano com o pé direito em 
75 terra de canhoto. Para variar e virar a casaca 
76 de vez, encarei de frente o dia 31 a curta 
77 distância da tímida Barcelona de dezembro – 
78 é na capital da Catalunha que vivo 
79 atualmente –, sem o relento tropical e o 
80 arder das multidões em chamas nas praias 
81 do Rio ou da Bahia. Perto do mar (afinal, 
82 cariocas e andorinhas nunca voam de costas 
83 para o Atlântico) para saudar Iemanjá, mas 
84 sem a menor chance de pular as sete ondas e 
85 congelar para sempre em 2016, graças a um 
86 desejo de sopro familiar passei a data em 
87 Lisboa, onde os abraços são mais acalorados, 
88 a comida faz as vezes de beijo de avó e a 
89 alma cá dentro se acalma sob o sol de um 
90 inverno generoso. 
91 A “passagem d’ano” na terrinha peca 
92 pela falta de excessos, mas é justamente na 
93 ausência de rompantes que se rompe com o 
94 passado sem grandes expectativas para o 
95 futuro, o que é libertador e alivia. Sem as 
96 mandingas que, dando resultados ou não, 
97 repetimos a cada virada com a mesma 
98 devoção que os portugueses têm na festa de 
99 Santo Antônio, e os catalães, no dia de São 
P á g i n a | 14 
 
 
UECE POR ASSUNTO | @BRENOIC @KARINELIVEMED 
100 João (quando, no solstício de verão, saem 
101 pelas ruas vestidos de branco) celebrei a 
102 chegada de 2017 à moda da casa. Ou quase: 
103 por mais que o preto seja o traje uníssono 
104 em Portugal, me dei a licença poética e 
105 mística de quebrar o protocolo ao vestir 
106 branco da cintura para cima (não quis violar 
107 a “regra” de todo, afinal nunca se sabe o dia 
108 primeiro de amanhã) e um par de meias 
109 novas da cor sugerida pelas astrólogas sem 
110 medo de parecer um alienígena. 
111 Para eles era evidente que eu não era dali; 
112 para mim, era uma dúvida se eu deveria 
113 estar ali. Ficou claro no look, nas gracinhas 
114 das dancinhas e no incessante refil das 
115 tacinhas que eu era o convidado trapalhão. E 
116 estava na minha cara a interrogação, cara de 
117 quem não viu uma lentilha sobre a mesa, 
118 cara de estranho no ninho que não viu o 
119 ninho de ovos envolvendo o pernil... cara de 
120 quem pergunta: “cadê as gemas e o açúcar 
121 que vocês comem o ano inteiro?” E nem o 
122 pernil havia!!! Sobreviver a um Réveillon sem 
123 pinta de Réveillon parecia tarefa impossível 
124 (a prova de fogo seria a falta de fogos) e eu 
125 precisava de um sinal qualquer que fizesse 
126 meus olhos enxergarem que se tratava de 
127 uma festa de Ano-Novo. E nada. 
128 Aparentemente nada mudaria ao meu redor 
129 de 31 de dezembro para 1º de janeiro. 
130 Ao mesmo tempo, estar livre da 
131 obrigação de ser feliz da porta (e do post) 
132 para fora, de estar na praia certa, na festa 
133 exata, no look preciso, no bronze ideal me 
134 soou perfeito para entrar 2017 sem a 
135 esperança travestida de ilusão, o otimismo 
136 disfarçado de alienação. A passagem 
137 suavemente se fez sem o rito, a quebra. E o 
138 Day after tornou-se um dia a mais, o 
139 primeiro do ano novo, mas com jeito da 
140 continuação de uma história sem pausa, sem 
141 pressa. Assim, no minuto 1 de 1º de janeiro, 
142 ficou entendido que é preciso criar a cada 
143 segundo o sentido dos dias. E num piscar de 
144 olhos e no passar ligeiro do tempo, eis que o 
145 ano-bom foi anunciado com a euforia de uma 
146 notícia extraordinária. Entre brindes e os 
147 adoráveis “beijinhos grandes” que os “tugas” 
148 tanto trocam e nos tocam, dei a noite por 
149 encerrada sem precisar explicar em 
150 português claro por que 2016 não vai deixar 
151 saudade. 
 (Débora ChodiK. Vougue. p. 122.) 
24) (UECE 2017.2 2º fase) O texto “Adeus, lentilha”, 
tem as características de uma crônica como a maioria 
das pessoas a veem hoje. Desde que a crônica surgiu 
como relato de acontecimentos históricos, que 
obedeciam à passagem do tempo, até os dias atuais, 
esse gênero discursivo sofreu inúmeras mudanças, 
principalmente a partir do século XIX. Hoje, os 
estudiosos reconhecem uma diversidade de tipos de 
crônica (a narrativa, a descritiva, a jornalística, a 
humorística, etc.). Não é, porém, o assunto o 
elemento decisivo na distinção de uma crônica, mas a 
linguagem empregada: é um texto curto, de 
linguagem simples, leve, agradável, que normalmente 
tem um tom de humor. Atente ao que se diz sobre o 
primeiro parágrafo da crônica. 
I. Funciona como uma espécie de apresentação do 
que vai ser explorado, trazendo, portando, estrutura 
de introdução. 
II. Esse parágrafo constrói-se de maneira inusitada: 
traz características de introdução, mas também um 
elemento comum à conclusão, que é a solução do 
problema. 
III. Cria um clima de expectativa para o leitor. 
Está correto o que se diz em 
A) I, II e III. 
B) II e III somente. 
C) I e II somente. 
D) I e III somente. 
 
25) (UECE 2017.2 2º fase) O trecho “é preciso criar a 
cada segundo o 
sentido dos dias” (linhas 168-169) sugere uma lição 
de vida que pode ser corretamente explicada da 
seguinte forma: 
A) Os dias passam rapidamente e não podemos 
ficar presos ao passado, querendo encontrar no 
presente o que ficou no passado. 
B) É preciso que encontremos, sempre, um motivo 
novo para viver. 
C) A cada dia devemos esperar pelo futuro que 
nos trará um novo motivo para viver. 
D) É precio que todo dia tenhamos um motivo para 
viver, mesmo que esse motivo nos deixe 
infelizes. 
 
 Não se zanguem 
01 A cartomancia entrou decididamente na vida 
02 nacional. 
 
03 Os anúncios dos jornais todos os dias 
04 proclamam aos quatro ventos as virtudes 
05 miríficas das pitonisas. 
 
06 Não tenho absolutamente nenhuma ojeriza 
07 pelas adivinhas; acho até que são bastante 
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UECE POR ASSUNTO | @BRENOIC @KARINELIVEMED 
08 úteis, pois mantêm e sustentam no nosso 
09 espírito essa coisa que é mais necessária à 
10 nossa vida que o próprio pão: a ilusão. 
 
11 Noto, porém, que no arraial dessa gente que 
12 lida com o destino, reina a discórdia, tal e qual 
13 no campo de Agramante. 
 
14 A política, que sempre foi a inspiradora de 
15 azedas polêmicas, deixou um instante de sê-lo 
16 e passou a vara à cartomancia. 
 
17 Duas senhoras, ambas ultravidentes, 
18 extralúcidas e não sei que mais, aborreceram- 
19 se e anda uma delas a dizer da outra cobras e 
20 lagartos. 
 
21 Como se pode compreender que duas 
22 sacerdotisas do invisível não se entendam e 
23 deem ao público esse espetáculo de brigas tão 
24 pouco próprio a quem recebeu dos altos 
25 poderes celestiais virtudes excepcionais? 
 
26 A posse de tais virtudes devia dar-lhes uma 
27 mansuetude, uma tolerância, um abandono 
28 dos interessesterrestres, de forma a impedir 
29 que o azedume fosse logo abafado nas suas 
30 almas extraordinárias e não rebentasse em 
31 disputas quase sangrentas. 
 
32 Uma cisão, uma cisma nessa velha religião de 
33 adivinhar o futuro, é fato por demais grave e 
34 pode ter consequências desastrosas. 
 
35 Suponham que F. tenta saber da cartomante X 
36 se coisa essencial à sua vida vai dar-se e a 
37 cartomante, que é dissidente da ortodoxia, por 
38 pirraça diz que não. 
 
39 O pobre homem aborrece-se, vai para casa de 
40 mau humor e é capaz de suicidar-se. 
 
41 O melhor, para o interesse dessa nossa pobre 
42 humanidade, sempre necessitada de ilusões, 
43 venham de onde vier, é que as nossas 
44 cartomantes vivam em paz e se entendam 
45 para nos ditar bons horóscopos. 
 
(BARRETO, Lima. Vida urbana: artigos e crônicas. 2ª 
ed. São Paulo: Brasiliense, 1961.) 
 
26) (UECE 2018.1 1º fase) A referenciação textual 
pode ser definida como a retomada de termos e 
ideias que garantem a coesão e a progressão de 
sentido do texto por meio de elementos linguísticos. 
Um exemplo desse procedimento, ao longo da crônica 
de Lima Barreto, se dá com o uso do termo 
“cartomantes”, que é retomado por alguns referentes 
textuais, estabelecendo diferentes sentidos com estes 
referentes. Atente ao que se diz a seguir a respeito 
disso: 
I. Ao substituir “cartomantes” pelo termo “pitonisas” 
(linha 05), o autor pretende mostrar que o trabalho da 
cartomancia tem uma longa tradição histórica. 
II. Ao afirmar, no terceiro parágrafo, que não tem 
“nenhuma ojeriza pelas adivinhas” (linhas 06-07), o 
autor recupera cartomantes pelo termo adivinhas, 
justificando que a prática de adivinhar o futuro 
cumpre sua função útil e necessária no cotidiano das 
pessoas, que é a função de iludir. 
III. Ao se referir às “cartomantes” pela expressão 
“dessa gente que lida com o destino” (linhas 11-12), o 
autor se apresenta numa relação afetuosa de muita 
proximidade com as cartomantes. 
IV. Ao empregar o referente “duas sacerdotisas do 
invisível” (linhas 21-22) para fazer alusão às “duas 
senhoras” (cartomantes) (linha 17), o autor procura 
salientar, ironicamente, a dimensão religiosa do ofício 
profético da cartomancia. 
Está correto o que se afirma em 
A) I, II, III e IV. 
B) I, II e IV somente. 
C) I, III e IV somente. 
D) II, e III somente. 
 
27) (UECE 2018.1 1º fase) Observando com atenção a 
linguagem empregada na crônica de Lima Barreto, é 
correto afirmar que ela revela fundamentalmente 
A) o uso da ironia como um recurso discursivo para 
satirizar o ofício da cartomancia. 
B) o uso de expressões e termos linguísticos próprios 
do registro formal culto da escrita da língua para se 
adequar ao gênero crônica. 
C) o emprego de um léxico arcaico para mostrar o 
caráter pomposo do estilo do autor. 
D) a utilização de conselhos e admoestações para 
resolver problemas cotidianos, como as brigas entre 
cartomantes. 
 
Texto para a próxima questão 
 
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UECE POR ASSUNTO | @BRENOIC @KARINELIVEMED 
 
28) (UECE 2018.1 1º fase) Levando em conta as 
relações de sentido presentes no texto de Manoel de 
Barros acima, é correto afirmar que o conteúdo 
temático geral do poema se estabelece na seguinte 
oposição semântica: 
A) humanização versus coisificação. 
B) riqueza versus pobreza. 
C) ação versus inércia. 
D) grandeza versus pequenez. 
 
29) (UECE 2018.1 1º fase) No poema de Manoel de 
Barros, é descrita a seguinte sequência de atividades 
cotidianas com as quais o enunciador não deseja 
construir sua identidade: “Não aguento ser apenas um 
sujeito que abre portas, que puxa válvulas, que olha o 
relógio, que compra pão às 6 da tarde, que vai lá fora, 
que aponta lápis, que vê a uva, etc. etc.” (linhas 118- 
125). Observe o que se diz a respeito disso. 
I. Há uma gradação da ação mais importante para a 
menos importante. 
II. As ações são descritas aleatoriamente, sem seguir 
uma linearidade lógica previamente explicitada. 
III. O enunciador lista atividades recorrentes do seu 
cotidiano que, isoladas, não constroem sua 
identidade. 
IV. A lista de ações poderia ainda ser estendida. 
É correto o que se afirma somente em 
A) I. 
B) I, II e IV. 
C) II, III e IV. 
D) III. 
 
Texto para a próxima questão 
 
 Fita métrica do amor 
 
131 Como se mede uma pessoa? Os 
132 tamanhos variam conforme o grau de 
133 envolvimento. Ela é enorme pra você quando 
134 fala do que leu e viveu, quando trata você 
135 com carinho e respeito, quando olha nos 
136 olhos e sorri destravado. É pequena pra você 
137 quando só pensa em si mesmo, quando se 
138 comporta de uma maneira pouco gentil, 
139 quando fracassa justamente no momento em 
140 que teria que demonstrar o que há de mais 
141 importante entre duas pessoas: a amizade. 
142 Uma pessoa é gigante pra você 
143 quando se interessa pela sua vida, quando 
144 busca alternativas para o seu crescimento, 
145 quando sonha junto. É pequena quando 
146 desvia do assunto. 
147 Uma pessoa é grande quando perdoa, 
148 quando compreende, quando se coloca no 
149 lugar do outro, quando age não de acordo 
150 com o que esperam dela, mas de acordo com 
151 o que espera de si mesma. Uma pessoa é 
152 pequena quando se deixa reger por 
153 comportamentos clichês. 
154 Uma mesma pessoa pode aparentar 
155 grandeza ou miudeza dentro de um 
156 relacionamento, pode crescer ou decrescer 
157 num espaço de poucas semanas: será ela 
158 que mudou ou será que o amor é traiçoeiro 
159 nas suas medições? Uma decepção pode 
160 diminuir o tamanho de um amor que parecia 
161 ser grande. Uma ausência pode aumentar o 
162 tamanho de um amor que parecia ser ínfimo. 
163 É difícil conviver com esta elasticidade: 
164 as pessoas se agigantam e se encolhem aos 
165 nossos olhos. Nosso julgamento é feito não 
166 através de centímetros e metros, mas de 
167 ações e reações, de expectativas e 
168 frustrações. Uma pessoa é única ao estender 
169 a mão, e ao recolhê-la inesperadamente, se 
170 orna mais uma. O egoísmo unifica os 
171 insignificantes. 
172 Não é a altura, nem o peso, nem os 
173 músculos que tornam uma pessoa grande. É 
174 a sua sensibilidade sem tamanho. 
 
MEDEIROS, Martha. Non-stop: crônicas do 
cotidiano. Rio de Janeiro: L&PM Editores. 2001. 
 
30) (UECE 2018.1 1º fase) O propósito principal da 
crônica resume-se pelo seguinte excerto do texto: 
A) “Uma pessoa é gigante pra você quando se 
interessa pela sua vida”. (linhas 142-143) 
B) “Uma mesma pessoa pode aparentar grandeza ou 
miudeza dentro de um relacionamento”. (linhas 154-
156) 
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UECE POR ASSUNTO | @BRENOIC @KARINELIVEMED 
C) “Uma ausência pode aumentar o tamanho de um 
amor que parecia ser ínfimo”. (linhas 161-162) 
D) “Não é a altura, nem o peso, nem os músculos que 
tornam uma pessoa grande. É a sua sensibilidade sem 
tamanho”. (linhas 172-174) 
 
Texto para a próxima questão 
 
 Envelhecer 
 Arnaldo Antunes 
 
1 A coisa mais moderna que existe nessa vida 
2 é envelhecer 
3 A barba vai descendo e os cabelos vão 
4 caindo pra cabeça aparecer 
5 Os filhos vão crescendo e o tempo vai 
6 dizendo que agora é pra valer 
7 Os outros vão morrendo e a gente 
8 aprendendo a esquecer 
9 Não quero morrer pois quero ver 
10 Como será que deve ser envelhecer 
11 Eu quero é viver pra ver qual é 
12 E dizer venha pra o que vai acontecer 
13 Eu quero que o tapete voe 
14 No meio da sala de estar 
15 Eu quero que a panela de pressão pressione 
16 E que a pia comece a pingar 
17 Eu quero que a sirene soe 
18 E me faça levantar do sofá 
19 Eu quero pôr Rita Pavone 
20 No ringtone do meu celular 
21 Eu quero estar no meio do ciclone 
22 Pra poder aproveitar 
23 E quando eu esquecer meu próprio nome 
24 Que me chamem de velho gagá 
25 Pois ser eternamente adolescente nada é 
26 mais démodé 
27 Com uns ralos fios de cabelo sobre a testa 
28 que não para de crescer29 Não sei por que essa gente vira a cara pro 
30 presente e esquece de aprender 
31 Que felizmente ou infelizmente sempre o 
32 tempo vai correr 
Disponível em 
https://www.vagalume.com.br/arnaldoantunes/envelh
ecer.html. Acesso: 22/9/17. 
 
31) (UECE 2018.1 2º fase) O autor do texto Envelhecer 
tem o propósito de 
A) mostrar que a velhice pode ser um período cheio 
de vivacidade no qual não é preciso se submeter às 
imposições físicas da idade. 
B) ressaltar que, na velhice, as pessoas ficam mais 
preguiçosas e, por isso mesmo, têm que se manter 
sempre estimuladas à pratica de exercícios 
domésticos. 
C) destacar que, ao chegarem à velhice, as pessoas 
temem a morte. 
D) sugerir que a velhice torna as pessoas mais sábias e 
mais experientes. 
 
32) (UECE 2018.1 2º fase) Os versos da canção “A 
coisa mais moderna que existe nessa vida é 
envelhecer (linhas 01 e 02); “Eu quero pôr Rita Pavone 
no ringtone do meu celular” (linhas 19 e 20); “Pois ser 
eternamente adolescente nada é mais démodé” 
(linhas 25-26) têm em comum 
A) a presença de definições sobre o que é envelhecer. 
B) a utilização de termos e ideias que ressaltam a 
relação entre o antigo e o novo. 
C) o emprego de noções que negam a velhice e 
afirmam a juventude. 
D) o uso de estrangeirismos como forma de mostrar 
um vocabulário arcaico próprio de pessoas idosas. 
 
Texto para a próxima questão 
 
Gestos amorosos 
 Rubem Alves 
 
33 Dei-me conta de que estava velho 
34 cerca de 25 anos atrás. Já contei o ocorrido 
35 várias vezes, mas vou contá-lo novamente. 
36 Era uma tarde em São Paulo. Tomei um 
37 metrô. Estava cheio. Segurei-me num 
38 balaústre sem problemas. Eu não tinha 
39 dificuldades de locomoção. Comecei a fazer 
40 algo que me dá prazer: ler o rosto das 
41 pessoas. 
42 Os rostos são objetos oníricos: fazem 
43 sonhar. Muitas crônicas já foram escritas 
44 provocadas por um rosto - até mesmo o 
45 nosso - refletido no espelho. Estava eu 
46 entregue a esse exercício literário quando, ao 
47 passar de um livro para outro, isto é, de um 
48 rosto para outro, defrontei-me com uma 
49 jovem assentada que estava fazendo comigo 
50 aquilo que eu estava fazendo com os outros. 
51 Ela me olhava com um rosto calmo e não 
52 desviou o olhar quando os seus olhos se 
53 encontraram com os meus. Prova de que ela 
54 me achava bonito. Sorri para ela, ela sorriu 
55 para mim... Logo o sonho sugeriu uma 
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UECE POR ASSUNTO | @BRENOIC @KARINELIVEMED 
56 crônica: "Professor da Unicamp se encontra, 
57 num vagão de metrô, com uma jovem que 
58 seria o amor de sua vida..." 
59 Foi então que ela me fez um gesto 
60 amoroso: ela se levantou e me ofereceu o 
61 seu lugar... Maldita delicadeza! O seu gesto 
62 amoroso me humilhou e perfurou o meu 
63 coração... E eu não tive alternativas. Como 
64 rejeitar gesto tão delicado! Remoendo-me de 
65 raiva e sorrindo, assentei-me no lugar que 
66 ela deixara para mim. Sim, sim, ela me 
67 achara bonito. Tão bonito quanto o seu avô... 
68 Aconteceu faz mais ou menos um mês. Era a 
69 festa de aniversário de minha nora. Muitos 
70 amigos, casais jovens, segundo minha 
71 maneira de avaliar a idade. Eu estava 
72 assentado numa cadeira num jardim 
73 observando de longe. Nesse momento 
74 chegou um jovem casal amigo. Quando a 
75 mulher jovem e bonita me viu, veio em 
76 minha direção para me cumprimentar. Fiz um 
77 gesto de levantar-me. Mas ela, delicadíssima, 
78 me disse: "Não, fique assentadinho aí..." Se 
79 ela me tivesse dito simplesmente "Não é 
80 preciso levantar", eu não teria me 
81 perturbado. Mas o fio da navalha estava 
82 precisamente na palavra "assentadinho". Se 
83 eu fosse moço, ela não teria dito 
84 "assentadinho". Foi justamente essa palavra 
85 que me obrigou a levantar para provar que 
86 eu era ainda capaz de levantar-me e 
87 assentar-me. Fiquei com dó dela porque eu, 
88 no meio de uma risada, disse-lhe que ela 
89 acabava de dar-me uma punhalada... 
90 Contei esse acontecido para uma 
91 amiga, mais ou menos da minha idade. E ela 
92 me disse: "Estou só esperando que alguém 
93 venha até mim e, com a mão em concha, 
94 bata na minha bochecha, dizendo: "Mas que 
95 bonitinha..." Acho que vou lhe dar um murro 
96 no nariz..." 
97 Vem depois as grosserias a que nós, 
98 os velhos, somos submetidos nas salas de 
99 espera dos aeroportos. Pra começar, não 
100 entendo por que "velho" é politicamente 
101 incorreto. "Idoso" é palavra de fila de banco 
102 e de fila de supermercado; "velho", ao 
103 contrário, pertence ao universo da poesia. Já 
104 imaginaram se o Hemingway tivesse dado ao 
105 seu livro clássico o nome de "O idoso e o 
106 mar"? Já imaginaram um casal de cabelos 
107 brancos, o marido chamando a mulher de 
108 "minha idosa querida"? 
109 Os alto-falantes nos aeroportos 
110 convocam as crianças, as gestantes, as 
111 pessoas com dificuldades de locomoção e a 
112 "melhor idade"... Alguém acredita nisso? Os 
113 velhos não acreditam. Então essa expressão 
114 "melhor idade" só pode ser gozação. 
 
Disponível em: 
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff270520
0804.h 
tm. Acesso em: 22/9/17 
 
33) (UECE 2018.1 2º fase) É correto afirmar que, no 
texto 2, o autor 
A) narra a história de pessoas velhas que são, 
comumente, desrespeitadas por pessoas mais jovens. 
B) mostra-se indignado com as precárias condições de 
transporte público e aéreo que a cidade grande, como 
São Paulo, oferece aos anciãos. 
C) sugere que a velhice é a fase da vida em que as 
pessoas costumam dar mais atenção às outras. 
D) reflete sobre como, em situações cotidianas, as 
atitudes gentis com as pessoas mais velhas podem, na 
verdade, revelar, para estas, um certo desprazer. 
 
Texto para a próxima questão 
 Velhice 
 
 Vinícius de Moraes 
115 Virá o dia em que eu hei de ser um velho 
116 Experiente 
117 Olhando as coisas através de uma filosofia 
118 Sensata 
119 E lendo os clássicos com a afeição que a 
120 minha mocidade não permite. 
121 Nesse dia Deus talvez tenha entrado 
122 definitivamente em meu espírito 
123 Ou talvez tenha saído definitivamente dele. 
124 Então todos os meus atos serão 
125 encaminhados no sentido do túmulo 
126 E todas as ideias autobiográficas da 
127 mocidade terão desaparecido: 
128 Ficará talvez somente a ideia do testamento 
129 bem escrito. 
130 Serei um velho, não terei mocidade, nem 
131 sexo, nem vida 
132 Só terei uma experiência extraordinária. 
133 Fecharei minha alma a todos e a tudo 
134 Passará por mim muito longe o ruído da 
135 vida e do mundo 
136 Só o ruído do coração doente me avisará de 
137 uns restos de vida em mim. 
138 Nem o cigarro da mocidade restará. 
139 Será um cigarro forte que satisfará os 
140 pulmões viciados 
141 E que dará a tudo um ar saturado de 
142 velhice. 
143 Não escreverei mais a lápis 
P á g i n a | 19 
 
 
UECE POR ASSUNTO | @BRENOIC @KARINELIVEMED 
144 E só usarei pergaminhos compridos. 
145 Terei um casaco de alpaca que me fechará 
146 os olhos. 
147 Serei um corpo sem mocidade, inútil, vazio 
148 Cheio de irritação para com a vida 
149 Cheio de irritação para comigo mesmo. 
150 O eterno velho que nada é, nada vale, nada 
151 Vive 
152 O velho cujo único valor é ser o cadáver de 
153 uma mocidade criadora. 
 
34) (UECE 2018.1 2º fase) Os versos “Virá o dia em 
que eu hei de ser um velho experiente/ Olhando as 
coisas através de uma filosofia sensata/ E lendo os 
clássicos com a afeição que a minha mocidade não 
permite” (linhas 115- 120) podem ser traduzidos pelo 
seguinte ditado popular: 
A) A velhice é a segunda meninice. 
B) Quanto mais idade, mais maturidade. 
C) A velhice é um tirano que castiga os prazeres com 
pena de morte. 
D) A juventude leviana faz velhice desolada. 
 
35) (UECE 2018.1 2º fase) Pela leitura atenta do 
poema Velhice, depreende-se que o autor, ao tratardo tema da velhice, constrói o seu texto com um tom 
A) melancólico. 
B) esperançoso. 
C) alegre. 
D) irônico. 
 
Texto para a próxima questão 
 
A imigrante italiana que se formou em nutrição 
aos 87 anos escreveu o TCC inteiro à mão 
 
154 Os cabelos brancos de Luísa Valencic 
155 Ficara contrastaram com a juventude dos 
156 colegas durante sua formatura. Nascida na 
157 Itália, Luísa imigrou para a América do Sul 
158 durante a Segunda Guerra Mundial, viveu 
159 em três países sul-americanos e se 
160 estabeleceu em Jundiaí, no interior de São 
161 Paulo. Aos 87 anos, ela acaba de se formar 
162 em nutrição. 
163 Dona Luísa, como é conhecida, vive 
164 na cidade há 40 anos. Após o 
165 falecimento do marido e de sua irmã, ela 
166 decidiu voltar a estudar para se manter 
167 ocupada. Foi assim que surgiu a ideia de se 
168 matricular no curso de nutrição do Centro 
169 Universitário Padre Anchieta. A graduação 
170 foi concluída após seis anos de estudos, 
171 com um TCC sobre a cana-de-açúcar no 
172 Brasil. Segundo informações do Grupo 
173 Anchieta, todo o trabalho foi escrito à mão. 
174 Colegas, professores e funcionários da 
175 instituição ajudaram com a parte da 
176 digitação, configuração e impressão do 
177 trabalho, para apoiar Dona Luísa. 
178 Mas a graduação não é o limite para 
179 a idosa. Ela, que também frequenta aulas 
180 de alemão, inglês e francês, já está 
181 pensando em ingressar em um curso de 
182 pós-graduação para continuar estudando, 
183 segundo contou ao G1. 
 
Disponível em: 
http://www.hypeness.com.br/2017/09/aimigrante- 
italiana-que-se-formou-em-nutricaoaos- 
87-anos-escreveu-o-tcc-inteiro-a-mao/. 
Acesso: 23/9/17. 
 
36) (UECE 2018.1 2º fase) O trecho “[...] Luísa imigrou 
para a América do Sul durante a Segunda Guerra 
Mundial, viveu em três países sul-americanos e se 
estabeleceu em Jundiaí, no interior de São Paulo” 
(linhas 157-161) caracteriza-se por 
 A) não obedecer à narração dos eventos na ordem 
cronológica em que ocorreram. 
B) encadear uma série de orações que se coordenam 
por um sentido de oposição entre as ações narradas. 
C) mostrar que a anciã viveu em vários lugares do 
mundo em busca de realizar o seu sonho de se formar 
em nutrição. 
D) associar, por meio, predominantemente, da soma 
de ideias, os eventos que se sucederam na vida de 
Dona Luíza desde quando saiu da Itália até chegar ao 
Brasil. 
 
Texto para a próxima questão 
 A velha contrabandista 
 Stanislaw Ponte Preta 
 
232 Diz que era uma velhinha que sabia andar 
233 de lambreta. Todo dia ela passava pela 
234 fronteira montada na lambreta, com um 
235 bruto saco atrás da lambreta. O pessoal da 
236 Alfândega – tudo malandro velho – 
237 começou a desconfiar da velhinha. 
238 Um dia, quando ela vinha na lambreta com 
239 o saco atrás, o fiscal da Alfândega mandou 
240 ela parar. A velhinha parou e então o fiscal 
241 perguntou assim pra ela: 
242 - Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa 
243 por aqui todo dia, com esse saco aí atrás. 
244 Que diabo a senhora leva nesse saco? 
245 A velhinha sorriu com os poucos dentes que 
246 lhe restavam e mais os outros, que ela 
P á g i n a | 20 
 
 
UECE POR ASSUNTO | @BRENOIC @KARINELIVEMED 
247 adquirira no odontólogo e respondeu: 
248 - É areia! 
249 Aí quem sorriu foi o fiscal. Achou que não 
250 era areia nenhuma e mandou a velhinha 
251 saltar da lambreta para examinar o saco. A 
252 velhinha saltou, o fiscal esvaziou o saco e 
253 dentro só tinha areia. Muito encabulado, 
254 ordenou à velhinha que fosse em frente. Ela 
255 montou na lambreta e foi embora, com o 
256 saco de areia atrás. 
257 Mas o fiscal ficou desconfiado ainda. Talvez 
258 a velhinha passasse um dia com areia e no 
259 outro com muamba, dentro daquele maldito 
260 saco. No dia seguinte, quando ela passo 
261 una lambreta com o saco atrás, o fiscal 
262 mandou outra vez. Perguntou o que é que 
263 ela levava no saco e ela respondeu que era 
264 areia, uai! O fiscal examinou e era mesmo. 
265 Durante um mês seguido o fiscal 
266 interceptou a velhinha e, todas as vezes, o 
267 que ela levava no saco era areia. 
268 Diz que foi aí que o fiscal se chateou: 
269 - Olha, vovozinha, eu sou fiscal de 
270 alfândega com 40 anos de serviço. Manjo 
271 essa coisa de contrabando pra burro. 
272 Ninguém me tira da cabeça que a senhora é 
273 contrabandista. 
274 - Mas no saco só tem areia! – insistiu a 
275 velhinha. E já ia tocar a lambreta, quando o 
276 fiscal propôs: 
277 - Eu prometo à senhora que deixo a 
278 senhora passar. Não dou parte, não 
279 apreendo, não conto nada a ninguém, mas 
280 a senhora vai me dizer: qual é o 
281 contrabando que a senhora está passando 
282 por aqui todos os dias? 
283 - O senhor promete que não “espaia”? – 
284 quis saber a velhinha. 
285 - Juro – respondeu o fiscal. 
286 - É lambreta. 
 
PRETA, Stanislaw Ponte. Primo Altamirando e 
elas. São Paulo: Agir, Martins Fontes, 2008. 
 
37) (UECE 2018.1 2º fase) Para conseguir o efeito de 
humor, o texto acima recorre em especial 
A) à apresentação de personagens bastante 
contrastantes que se diferenciam pela idade, sexo, 
classe social e profissão. 
B) à quebra de expectativa do sentido do texto para a 
qual a situação narrada se encaminha. 
C) as palavras cheias de ambiguidade para gerar duplo 
sentido ao que está sendo narrado. 
D) a uma cena pouco comum no nosso cotidiano para 
criticar a desatenção da fiscalização dos alfandegários. 
 
 
Texto para a próxima questão 
 
 Uma vela para Dario 
 Dalton Trevisan 
 
1 Dario vinha apressado, guarda-chuva no braço 
2 esquerdo e, assim que dobrou a esquina, 
3 diminuiu o passo até parar, encostando-se à 
4 parede de uma casa. Por ela escorregando, 
5 sentou-se na calçada, ainda úmida de chuva, e 
6 descansou na pedra o cachimbo. 
 
7 Dois ou três passantes rodearam-no e 
8 indagaram se não se sentia bem. Dario abriu a 
9 boca, moveu os lábios, não se ouviu resposta. 
10 O senhor gordo, de branco, sugeriu que devia 
11 sofrer de ataque. 
 
12 Ele reclinou-se mais um pouco, estendido 
13 agora na calçada, e o cachimbo tinha 
apagado. 
14 O rapaz de bigode pediu aos outros que se 
15 afastassem e o deixassem respirar. Abriu-lhe o 
16 paletó, o colarinho, a gravata e a cinta. 
17 Quando lhe retiraram os sapatos, Dario 
roncou 
18 feio e bolhas de espuma surgiram no canto da 
19 boca. 
 
20 Cada pessoa que chegava erguia-se na ponta 
21 dos pés, embora não o pudesse ver. Os 
22 moradores da rua conversavam de uma porta 
23 à outra, as crianças foram despertadas e de 
24 pijama acudiram à janela. O senhor gordo 
25 repetia que Dario sentara-se na calçada, 
26 soprando ainda a fumaça do cachimbo e 
27 encostando o guarda-chuva na parede. Mas 
28 não se via guarda-chuva ou cachimbo ao seu 
29 lado. 
 
30 A velhinha de cabeça grisalha gritou que ele 
31 estava morrendo. Um grupo o arrastou para o 
32 táxi da esquina. Já no carro a metade do 
33 corpo, protestou o motorista: quem pagaria a 
34 corrida? Concordaram chamar a ambulância. 
35 Dario conduzido de volta e recostado à 
parede 
36 – não tinha os sapatos nem o alfinete de 
37 pérola na gravata. 
 
P á g i n a | 21 
 
 
UECE POR ASSUNTO | @BRENOIC @KARINELIVEMED 
38 Alguém informou da farmácia na outra rua. 
39 Não carregaram Dario além da esquina; a 
40 farmácia no fim do quarteirão e, além do 
mais, 
41 muito pesado. Foi largado na porta de uma 
42 peixaria. Enxame de moscas lhe cobriu o 
43 rosto, sem que fizesse um gesto para espantá- 
44 las. 
 
45 Ocupado o café próximo pelas pessoas que 
46 vieram apreciar o incidente e, agora, 
comendo 
47 e bebendo, gozavam as delícias da noite. 
Dario 
48 ficou torto como o deixaram, no degrau da 
49 peixaria, sem o relógio de pulso. 
50 Um terceiro sugeriu que lhe examinassem os 
51 papéis, retirados – com vários objetos – de 
52 seus bolsos

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