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Ética, Bioética e Deontologia Aplicada à Radiologia Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª M.ª Evelyn Rosa de Oliveira Revisão Textual: Prof. Me. Luciano Vieira Francisco Ética de Posicionamento e Parâmetros Técnicos Ética de Posicionamento e Parâmetros Técnicos • Conhecer os conceitos de radioproteção e controle de qualidade, assim como as suas influên cias na prática profissional; • Refletir sobre a importância de um bom posicionamento e seleção correta dos parâmetros de exposição como fatores essenciais para um diagnóstico e tratamento adequados ao paciente. OBJETIVOS DE APRENDIZADO • Princípios de Radioproteção; • Exposição de Pacientes Gestantes; • Programa de Garantia da Qualidade; • Fatores Técnicos: como Afetam a Perda de Informações Diagnósticas; • Negligência em Posicionamento e Procedimentos. UNIDADE Ética de Posicionamento e Parâmetros Técnicos Princípios de Radioproteção Segundo o Código de Ética dos Profissionais de Técnicas Radiológicas, Artigo 19: “O tec- nólogo, técnico e auxiliar em radiologia, no desempenho de suas atividades, devem observar rigorosa e permanentemente as normas de proteção radiológicas, objetivando a preservação de sua saúde e a do cliente/paciente” (CONSELHO NACIONAL DE TÉCNICOS EM RA- DIOLOGIA, 2011). Deste modo, é fundamental que o tecnólogo em radiologia conheça os princípios de radioproteção para que possa aplicá-los e seguir com um trabalho ético. As radiações ionizantes, como o próprio nome sugere, causam o efeito de ionização nos átomos do corpo humano, que por alterar a estrutura dos átomos, pode gerar uma mutação. Muitas vezes o corpo humano possui a capacidade de reparar os danos cau- sados por essas mutações; mas ocasionalmente isso pode não acontecer: são os efeitos determinísticos ou estocásticos. Efeitos determinísticos: diretamente relacionados à dose de radiação absorvida, de modo que a gravidade do efeito aumenta à medida que a dose aumenta. Efeitos estocásticos: ocorrem por acaso, sem nível limite de dose. Segundo o Ministério da Saúde (MS) (BRASIL, 1998), existem quatro princípios de pro- teção radiológica: justificação, otimização, limitação de dose e prevenção de acidentes. Com exceção da prevenção de acidente, veremos um pouco sobre cada um e que postura adotar. As questões éticas a respeito da proteção radiológica durante os exames radiográficos não é um tema muito abordado, pelo fato de a realização dos mesmos ser aceita de bom grado pela sociedade e pela falta de conhecimento da população. Importante! Durante o procedimento você será o(a) responsável pela proteção radiológica e seguran ça do seu paciente, então é imprescindível que trabalhe com responsabilidade e ética, seguindo estes princípios sempre. Justificação Como acabamos de relembrar, as radiações ionizantes podem ser maléficas para a saúde, não podendo haver uso indiscriminado. Desta maneira, todas as exposições em medicina/odontologia devem ser justificadas: • Antes da escolha da modalidade o médico solicitante deve levar em conta outros meios diagnósticos alternativos e mais seguros – por exemplo, exames laborato- riais, ultrassonografia, ressonância magnética, entre outros; • A exposição deve fornecer ao paciente maior benefício que o possível detrimento que lhe possa ser causado; • No caso de exames radiológicos para empregar um novo funcionário: só pode ser so- licitado quando as informações provenientes também forem úteis à saúde do indivíduo. 8 9 Você Sabia? É comum observar solicitações de radiografias de tórax ou coluna em exames admissionais. Importante! Realizar exame radiológico sem pedido médico constitui infração de acordo com o Códi go de Ética, podendo causar a cassação do direito de exercer a profissão. Otimização Todas as práticas radiológicas devem ser otimizadas para que o paciente sempre receba a menor dose possível e sem prejudicar a qualidade do exame. Lembre-se do princípio Alara – As Low As Reasonably Achievable (tão baixo quanto razoavelmente exequível). Para seguir este princípio, devemos adotar alguns cuidados, tais como selecionar os: • Parâmetros técnicos (kVp e mAs) de acordo com o padrão de paciente e região anatômica – por exemplo, um idoso e um jovem de mesma altura e peso realizarão radiografia de tórax, de modo que sendo a mesma região anatômica e altura/peso, a composição corporal de ambos é diferente, tendo em vista que o idoso provavel- mente terá menor massa muscular e óssea; assim, precisará de redução no mAs; • Equipamentos e acessórios adequados, incluindo as proteções plumbíferas, que de- vem ser utilizadas sempre que possível. Deve-se sempre proteger regiões que não necessitam ser irradiadas durante os exames – por exemplo, em uma radiografia de coluna cervical, não podemos usar protetor de tireoide ou algum avental para proteger o tórax do paciente, já que cobrirá a região de interesse; porém, podemos usar um avental na região da pelve. Proteção plumbífera: equipamento de proteção individual com chumbo (Pb) em sua com posição, a fim de evitar que determinada região seja irradiada. Figura 1 – Modelo com proteção plumbífera Fonte: Getty Images 9 UNIDADE Ética de Posicionamento e Parâmetros Técnicos Limitação de Doses Individuais As limitações de doses individuais não se referem às exposições médicas, mas aos próprios trabalhadores (IOE). De acordo com a Portaria MS n.º 453/98, a dose efetiva média anual não deve exceder 20 mSv em um período de 5 anos seguidos, não poden- do passar de 50 mSv em nenhum ano. IOE – Indivíduo Ocupacionalmente Exposto: É o profissional que trabalha diretamente com radiação ionizante, como é o caso dos tecnólogos em radiologia. É importante que IOE gestantes reportem a gestação tão logo quanto souberem, a fim de se tomar as medidas restritivas de segurança. É recomendável que a gestante utilize um avental plumbífero no abdome com um dosímetro, pois a dose na superfície do abdome não pode exceder 2 mSv durante o período da gestação. Exposição de Pacientes Gestantes Já sabemos que as radiações ionizantes têm a capacidade de alterar características físico-químicas de moléculas, sendo que algumas células são mais radiossensíveis que outras (células com maior taxa de reprodução ou indiferenciadas, tais como embrioná- rias ou da medula). Dessa maneira, o feto/embrião é mais radiosensível. Esta sensibili- dade varia de acordo com a dose de radiação absorvida e a idade gestacional, de modo que os efeitos da radiação podem incluir: • Óbito intrauterino; • Malformações; • Distúrbios do crescimento e desenvolvimento; • Efeitos mutagênicos e carcinogênicos. A paciente grávida ou com suspeita de gravidez deve sempre informar a sua condição ao profissional que realizará o seu exame. Importante! É fundamental que o profissional pergunte a todas as pacientes em idade fértil sobre a possibilidade de gestação antes de realizar o exame. Caso a paciente não tenha certeza se está gestante ou não, e o médico solicitante não souber quando da requisição do exame, é aconselhável não realizar o exame com radiação ionizante até que a paciente tenha certeza de que não esteja em gestação. A indicação de exames radiológicos deve considerar o benefício obtido pela gestante (princípio da justificação). O médico solicitante deve levar em conta a idade gestacional, condição física da paciente e os distúrbios gestacionais associados – porém, lembre-se: esta é uma decisão do médico solicitante. 10 11 É preciso tomar alguns cuidados ao realizar exames em pacientes grávidas, por exemplo, fazer uso de protetores de chumbo sobre o abdome, realizar uma colimação cuidadosa, fazer uso de equipamentos que sejam sempre aferidos e calibrados. Exames de raios X simples de abdome e coluna lombar podem ser realizados sem risco para o feto, procurando-se reduzir a dose ao mínimo necessário para obter a ima- gem diagnóstica. Em exames de tomografia do tórax, abdome, pelve e coluna lombar a dose de radiação absorvidapode ser reduzida, diminuindo o campo de visão, tensão (kV) e corrente pelo tempo de exposição (mAs) ao mínimo necessário para o diagnós- tico, assim como o número de cortes e o intervalo entre estes. Entretanto, pelo nível de exposição fetal relativamente alto associado à tomografia computadorizada pélvico- -abdominal, esse procedimento não é recomendado no início da gravidez, assim como não são indicadas radiografias na bacia ou no abdome, neste caso. Para maior entendimento sobre os períodos críticos de irradiação e a quantidade de dose recebida pelo feto/embrião de acordo com o exame, veja as seguintes tabelas: Tabela 1 – Períodos críticos para a irradiação fetal Dose de radiação Desordem/problema 100 a 500 cGy 500 a 1.000 cGy Morte do embrião – 0 a 1 semana Malformação 1 a 8 semanas 1 a 8 semanas Microcefalia 1 a 15 semanas 1 a 15 semanas Retardo mental 8 a 15 semanas 8 a 25 semanas Retardo de crescimento 1 a 15 semanas 1 a 25 semanas Câncer de início tardio – 1 a 39 semanas Fonte: Adaptada de GOLDMAN e AUSIELLO, 2005 Tabela 2 – Dose fetal estimada de procedimentos diagnósticos comuns por radiografi a Exame Dose fetal em cGy (RAD) Tórax (PA/perfi l) 0,00006 Abdome 0,150,26 Coluna lombar 0,65 Pelve 0,20,35 Quadril 0,130,2 Pielografi a intravenosa 0,470,82 Trato gastrintestinal superior 0,170,48 Enema baritado 0,821,14 Mamografi a Não detectável Tomografi a computadorizada do crânio 0,007 Tomografi a computadorizada do abdome (gravidez precoce) 0,04 Tomografi a computadorizada da pelve 2,5 Cintilografi a óssea com 99 mTc-MDP 0,15 Fonte: Adaptada de GOLDMAN e AUSIELLO, 2005 11 UNIDADE Ética de Posicionamento e Parâmetros Técnicos Para maior segurança da paciente, a Portaria MS n.º 453/98 impõe que: • Devem haver cartazes com avisos de advertência sobre as pacientes informarem caso estejam grávidas ou com suspeita de gravidez (link a seguir); Aviso na entrada da sala de exame, disponível em: https://bit.ly/3euuY11 • Deve-se evitar realizar exames radiológicos com exposição do abdome ou pelve de mulheres grávidas ou com suspeita de gravidez, a menos que existam fortes indica- ções clínicas; • Caso a paciente relate menstruação atrasada e não houver nenhuma justificativa plausível, deverá ser considerada gestante. Programa de Garantia da Qualidade Todos os serviços de radiodiagnóstico devem possuir um programa de garantia de qualidade, uma exigência da Portaria MS n.º 453/98. Os profissionais devem trabalhar sempre seguindo os preceitos desse programa, a fim de garantir ao paciente uma expo- sição mínima com a qualidade diagnóstica necessária. Dessa forma agiremos eticamente em relação ao nosso paciente, garantindo seu direito de ser bem atendido e de ter o seu exame realizado da melhor maneira possível, com segurança e qualidade. O objetivo do programa de controle de qualidade é garantir que o médico radiologista tenha disponível a melhor imagem possível, produzida a partir do bom desempenho de equipamentos e com exposição mínima do paciente. O controle de qualidade se inicia nos equipamentos utilizados para produzir as imagens médicas e continua com uma avaliação de rotina dos equipamentos de processamento de imagem, concluindo com uma análise particular de cada imagem para identificação de deficiências e artefatos (associados à sua causa), com o intuito de diminuir a repetição de exames. Artefatos: se referem a quaisquer artifícios que aparecem na imagem radiológica e que não provêm da anatomia/fisiologia/patologia relacionada ao paciente. Várias dessas rotinas de controle de qualidade são de responsabilidade da equipe técnica, tais como a limpeza dos cassetes, da câmara escura (em sistemas convencio- nais), das placas de fósforo (no caso de sistema computadorizado), dos negatoscópios e monitores, assim como a realização de imagens com simuladores para verificar a qualidade de imagem. Essa rotina pode variar de acordo com a orientação da equipe de controle de qualidade e de física médica, tornando-se essencial que seja realizada com a frequência necessária. Cuidados pessoais também fazem parte dessa rotina: não se deve utilizar unhas com- pridas com esmalte (pois podem danificar o filme durante a sua manipulação, e até mesmo machucar o paciente durante o exame); os cabelos devem estar bem presos e 12 13 penteados; uniforme e sapatos devem estar limpos; não utilizar brincos grandes, colares ou anéis, entre outros cuidados. Imagine que durante a manipulação de um filme radiográfico na câmara escura, o profissio nal não esteja com o cabelo bem penteado e preso, de modo que sem que perceba um fio de seu cabelo cai no filme, o qual aparecerá na imagem radiográfica, gerando um artefato e a repetição do exame: o paciente, então, receberá maior dose de radiação devido à falta de cuidado desse profissional. Quando o monitoramento periódico mostrar que o sistema não está funcionando como pretendido, uma manutenção ou reparo se fará necessário. Manutenções pre- ventivas são também realizadas com o intuito de evitar a ocorrência de problemas e a necessidade de reparos posteriores. Assim, o profissional deverá sempre estar atento a quaisquer mudanças na qualidade da imagem, relatando ao supervisor caso perceba alguma alteração. Fatores Técnicos: como Afetam a Perda de Informações Diagnósticas Para a aquisição da imagem radiográfica são selecionados vários fatores técnicos, tais como tensão (kVp) e corrente (mAs) geradas pelo tubo de raios X; distância entre o paciente e o tubo de raios X, e entre o receptor de imagem; seleção da área a ser irradiada (colimação); entre outros fatores que dependem do tipo de exame radiográfico a ser realizado. Além disso, após a exposição do paciente, a imagem será processada de acordo com a modalidade disponível: analógica (chamada também de convencional), Computado- rizada (CR) ou Digital (DR). kVp: quilovoltagem pico, sendo a tensão gerada: representa a energia dos fótons emitidos pelo tubo de raios X. mAs: microamperes por segundo, sendo a corrente gerada: representa a quantidade de fótons emitidos. CR: Radiologia Computadorizada. DR: Radiologia Digital. Quando os fatores técnicos não são selecionados de modo correto, podem resultar em imagens ruidosas, ou seja, sem qualidade diagnóstica, devendo ser repetidas e ge- rando maior dose absorvida pelo paciente e gasto de insumos. Quando essas imagens não são repetidas, podem ainda ser laudadas pelo médico radiologista com falta de informações diagnósticas, prejudicando o paciente. 13 UNIDADE Ética de Posicionamento e Parâmetros Técnicos Em relação à colimação incorreta, temos duas situações: • Na primeira, a área colimada pode ser menor que a região de interesse, “cortando” estruturas (fazendo com que não apareçam no exame); • Na segunda, a área colimada é maior, irradiando áreas que não precisariam ser irradiadas (Figura 2), fazendo com o que o paciente receba uma dose maior e pre- judicando a qualidade da imagem através da radiação secundária. Figura 2 – Radiografia de tórax mal colimada: o retângulo vermelho indica a colimação correta Fonte: Acervo do conteudista Nos sistemas convencionais, a imagem será revelada na câmara escura, onde o pro- fissional deverá se atentar para não gerar artefatos e para não velar a imagem, dado que tais problemas resultam na repetição do exame. Mencionamos que a imagem foi velada na câmara escura quando a mesma é exposta à luz du rante o procedimento de revelação, tornando o filme escuro e perdendo a imagem radiográfica. Em sistemas CR e DR a imagem pode ser processada em um computador após ser adquirida, evitando-se, assim, algumas repetições. No software de manipulação das imagens, podemos realizar o janelamento (a alteração na escala de contraste, enegre- cendo ou clareando a imagem), cortando-a. Essas ferramentas podem ser úteis, porém, afetam diretamente o histograma e a qualidade da imagem e provocam, consequente- mente, lesões com baixo contraste, podendoser camufladas e não diagnosticadas. Por isso, mesmo que existam ferramentas de manipulação de contraste e seleção da região de interesse, é indispensável a seleção adequada dos parâmetros técnicos, pois é a única maneira de garantir uma imagem com qualidade. 14 15 Um fator técnico específico do exame de mamografia é a compressão da mama, fazendo com que a espessura da mama diminua, resultando em menor dose recebida; espalha as estruturas da mama, diminuindo sobreposições de tecido e reduz a chance de borramento da imagem por movimentação da paciente. Os valores de compressão recomendados variam de acordo com a literatura, porém, podemos dizer que na maioria das situações é necessário, pelo menos, 80 N para ter- mos uma compressão adequada. Quando esse valor não é atingido, pequenas lesões podem ser camufladas pela sobreposição dos tecidos mamários, e assim não diagnosti- cadas; e a paciente também recebe uma dose maior do que seria necessário. Figura 3 – Mama comprimida durante exame de mamografi a Fonte: Getty Images Percebeu quão fundamental é o papel do tecnólogo em radiologia aos pacientes durante a realização de exames? E o quanto a seleção dos fatores técnicos define a veracidade dos resultados? Um profissional com conduta ética deve sempre ser crítico consigo a respeito de estar cumprindo os seus afazeres corretamente, mesmo quando não há ninguém olhando. Negligência em Posicionamento e Procedimentos O posicionamento do paciente para a aquisição da imagem é de única competência do técnico/tecnólogo em radiologia. Junto com a adequada seleção dos fatores técnicos, é o bom posicionamento que garantirá um exame de qualidade. 15 UNIDADE Ética de Posicionamento e Parâmetros Técnicos Figura 4 – Paciente sendo posicionado para um exame radiográfico Fonte: Getty Images Muitas vezes, por estarem com a agenda cheia ou mesmo por desleixo, os profissio- nais acabam não se atendo a detalhes no posicionamento do paciente, de modo que algumas estruturas são “cortadas” da imagem – ou seja, não aparecem na imagem. Caso esse exame não seja repetido, o paciente terá um exame e, consequentemente, um diagnóstico incompleto. Considere uma paciente que realiza mamografias de rastreamento anuais. Durante a realização do exame, a profissional não se atentou e um pequeno pedaço da mama não apareceu na ima gem, por estar com a agenda atrasada, acabou não repetindo o exame, de modo que a paciente foi embora e o médico laudou de acordo com o que estava na imagem radiográfica. No ano seguinte, ela voltou para realizar o exame rotineiro e o posicionamento foi feito de maneira cor reta, mostrando a região que não havia sido incluída no exame anterior, e eis que naquela região havia uma lesão maligna. Resultado: a paciente teve de ser submetida a uma cirurgia. Será que se no ano anterior o exame fosse feito de maneira completa e essa lesão fosse diagnosticada precocemente a paciente teria que passar por essa cirurgia? Ou poderiam haver alternativas menos invasivas para o seu tratamento? Outro problema comum em mamografia, por ser um exame desconfortável, é que muitas pacientes, quando não são tratadas de modo humanizado, acabam não realizan- do mais o rastreamento do câncer de mama por medo da compressão, ou até mesmo por vergonha do próprio corpo. Nesse ponto é indispensável que o tecnólogo em radio- logia atue de maneira mais ética possível, respeitando e explicando todas as etapas do exame para a paciente, a fim de que fique mais tranquila e consciente. 16 17 Do mesmo modo que podemos ter problemas com pacientes de mamografia que acabam não voltando após realizarem um exame traumático, consequência parecida pode ocorrer com outras modalidades de exame. Por exemplo, infelizmente não são raros os casos de haver hemorragia após a realização de angiografias, infecções causadas por biópsias guiadas por imagens mal realizadas e até mesmo a perfuração do cólon durante exames de enema baritado – ações causadas em decorrência de problemas de atuação da equipe técnica. Em Síntese Sem a visualização de todas as estruturas necessárias, através de um posicionamento bemsucedido, o paciente não terá um laudo completo e, consequentemente, poderá ter um diagnóstico errado. Enquanto estiver realizando um exame ou procedimento radiográfico nunca se esqueça, como tecnólogo(a) em radiologia, de que o diagnóstico/tratamento correto do paciente também depende de seu trabalho. Realização de Exames Radiográficos Diários em Pacientes de Leito A realização de exames radiográficos de tórax diariamente em pacientes internados em Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) é uma prática adotada na maioria dos hos- pitais. Por esses pacientes estarem acamados, é realizado um AP de tórax em leito com um equipamento de raios X portátil (Figura 5); como a UTI é um ambiente controlado, é fundamental que haja a higiene dos cassetes (antes e após o exame) e o uso de luvas pelo tecnólogo ou técnico em radiologia. Figura 5 – Equipamento de raios X portátil Fonte: holycrossmedicalcenter.org 17 UNIDADE Ética de Posicionamento e Parâmetros Técnicos Por ser um ambiente diferente da sala de exames, o paciente, ao invés de receber so- mente a própria dose proveniente do seu exame, acaba recebendo radiação secundária proveniente dos pacientes ao seu lado, uma vez que em UTI existem vários pacientes no mesmo ambiente, sem blindagem entre eles. Segundo Ruza, Moritz e Machado (2012), já foi comprovado que ainda não existe uma relação estatística que justifique a realização de radiografias diárias em pacientes internados em unidades de terapias intensivas, independentemente do caso clínico. Isso nos faz refletir até que ponto é necessário realizar essas radiografias de maneira indis- criminada, lembrando que o paciente absorve a dose proveniente do seu exame e dos exames realizados ao seu lado, e não podemos nos esquecer da própria dose absorvida pelo profissional, uma vez que não há um biombo para se proteger durante a exposição (sendo as únicas medidas protetivas a distância e proteção plumbífera). Outro hábito muito comum que observamos na prática profissional é que no come- ço da carreira os profissionais de técnicas radiológicas costumam utilizar os Equipa- mentos de Proteção Individual (EPI) adequadamente, porém, com o passar do tempo, por costume ou falta de condições do ambiente de trabalho, vão deixando de fazer uso desses equipamentos. O estudo de Costa, Vinco e Machado (2015) apresenta dados preocupantes a res- peito do uso de EPI: em entrevistas com profissionais de técnicas radiológicas, 96% relataram se esquecer de usar o dosímetro e 92% disseram que não usam luvas durante a realização dos exames em UTI. Como o hábito de não utilizar o dosímetro, as proteções plumbíferas e demais EPI pode trazer malefícios para a saúde do trabalhador (além de violar a Portaria n.º 453 e o Código de Ética) e do paciente, a longo prazo? 18 19 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Efeitos biológicos da Radiação Ionizante/Proteção Radiológica – Seminário CRTR-SP Vídeo sobre os efeitos biológicos da radiação ionizante/proteção radiológica. https://youtu.be/dBYdaXqmzXU Leitura Radioproteção e dosimetria: fundamentos Leia o sétimo capítulo do livro Radioproteção e dosimetria: fundamentos. https://bit.ly/3l9Ktgp Plano de proteção radiológica e responsabilidade ética https://bit.ly/38BbHax Radiografia de tórax de rotina em terapia intensiva: impacto na tomada de decisão https://bit.ly/3qBn2xy 19 UNIDADE Ética de Posicionamento e Parâmetros Técnicos Referências BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância Sanitária. Portaria n.º 453, de 2 de junho de 1998 – regulamento técnico. Diretrizes de proteção radiológica em ra- diodiagnóstico médico e odontológico. Brasília, DF, 1998. CONSELHO NACIONAL DOS TÉCNICOS EM RADIOLOGIA. Código de Ética dos Profissionais de Radiologia. 2011. Disponível em: <http://www.conter.gov.br/uploa-ds/legislativo/codigodeetica.pdf>. Acesso em: 10/12/2020. COSTA, A. S.; VINCO, Y. C.; MACHADO, C. P. A biossegurança dos raios X no leito. Brazilian Journal Of Radiation Sciences, v. 8, n. 1, p. 1-8, mar. 2015. Disponível em: <http://www.conter.gov.br/uploads/trabalhos/514501pb.pdf>. Acesso em: 02/01/2021. GOLDMAN, L.; AUSIELLO, D. Cecil: tratado de medicina interna. 22. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. RUZA, G. C.; MORITZ, R. D.; MACHADO, F. O. Radiografia de tórax de rotina em tera- pia intensiva: impacto na tomada de decisão. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, v. 3, n. 24, p. 252-257, jun. 2012. Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/rbti/ v24n3/v24n3a08.pdf>. Acesso em: 02/01/2021. 20
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