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Licenciaturas Denise Puglia Zanon Maiza Taques Margraf Althaus pONTA gROSSA / pR 2010 EducAçãO A dISTÂNcIA DIDÁTICA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA Núcleo de Tecnologia e Educação Aberta e a Distância - NUTEAD Av. Gal. Carlos Cavalcanti, 4748 - CEP 84030-900 - Ponta Grossa - PR Tel.: (42) 3220 3163 www.nutead.uepg.br 2009 Todos os direitos reservados ao NUTEAD - Núcleo de Tecnologia e Educação Aberta e a Distância - Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, Paraná, Brasil. Colaboradores Financeiros Luiz Antonio Martins Wosiack Colaboradores de Planejamento Silviane Buss Tupich Colaboradores em Informática Carlos Alberto Volpi Carmen Silvia Simão Carneiro Adilson de Oliveira Pimenta Júnior Juscelino Izidoro de Oliveira Júnior Osvaldo Reis Júnior Kin Henrique Kurek Thiago Luiz Dimbarre Thiago Nobuaki Sugahara Colaboradores em EAD Dênia Falcão de Bittencourt Jucimara Roesler Colaboradores de Publicação Ceslau Tomaczyk Neto – Ilustração Edson Gil Santos Júnior – Diagramação Denise Galdino de Oliveira – Revisão Janete Aparecida Luft – Revisão Colaboradores Operacionais Edson Luis Marchinski Joanice de Jesus Küster de Azevedo João Márcio Duran Inglêz Maria Clareth Siqueira Mariná Holzmann Ribas cRÉdITOS Universidade Estadual de Ponta Grossa João Carlos Gomes Reitor Carlos Luciano Sant’ana Vargas Vice-Reitor VER COMO FICA XXXXx Língua Espanhola I / Kelly Cristini Gran- zotto Werner. Curso de Licenciatura em Português/Espanhol - modalidade a distância. Ponta Grossa : UEPG / NUTEAD, 2009. 104 p. ; il. (Língua Espanhola, I). 1. Português/Espanhol. 2. Língua Espanhola I. 3. Educação. I Werner, Kelly Cristini Granzotto. ISBN XX-XXXXX-XX-X CDD: XXX.X Ficha catalográfica elaborada pelo Setor de Processos Técnicos BICEN/UEPG. Pró-Reitoria de Assuntos Administrativos Ariangelo Hauer Dias – Pró-Reitor Pró-Reitoria de Graduação Graciete Tozetto Góes – Pró-Reitor Divisão de Programas Especiais Maria Etelvina Madalozzo Ramos – Chefe Núcleo de Tecnologia e Educação Aberta e a Distância Leide Mara Schmidt – Coordenadora Geral Cleide Aparecida Faria Rodrigues – Coordenadora Pedagógica Sistema Universidade Aberta do Brasil Hermínia Regina Bugeste Marinho – Coordenadora Geral Cleide Aparecida Faria Rodrigues – Coordenadora Adjunta Curso de Geografia – Modalidade a Distância Edu Silvestre de Albuquerque – Coordenador ApRESENTAçãO INSTITucIONAL Prezado estudante Inicialmente queremos dar-lhe as boas-vindas à nossa instituição e ao curso que escolheu. Agora, você é um acadêmico da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), uma renomada instituição de ensino superior que tem mais de cinqüenta anos de história no Estado do Paraná, e participa de um amplo sistema de formação superior criado pelo Ministério da Educação (MEC) em 2005, denominado Universidade Aberta do Brasil (UAB). O Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) não propõe a criação de uma nova instituição de ensino superior, mas sim, a articulação das instituições públicas já existentes, possibilitando levar ensino superior público de qualidade aos municípios brasileiros que não possuem cursos de formação superior ou cujos cursos ofertados não são suficientes para atender a todos os cidadãos. Sensível à necessidade de democratizar, com qualidade, os cursos superiores em nosso país, a Universidade Estadual de Ponta Grossa participou do Edital de Seleção UAB nº 01/2006-SEED/MEC/2006/2007 e foi contempladas para desenvolver seis cursos de graduação e quatro cursos de pós-graduação na modalidade a distância. Isso se tornou possível graças à parceria estabelecida entre o MEC, a CAPES e as universidades brasileiras, bem como porque a UEPG, ao longo de sua trajetória, vem acumulando uma rica tradição de ensino, pesquisa e extensão e se destacando também na educação a distância, A UEPG é credenciada pelo MEC, conforme Portaria nº 652, de 16 de março de 2004, para ministrar cursos superiores (de graduação, seqüenciais, extensão e pós- graduação lato sensu) na modalidade a distância. Os nossos programas e cursos de EaD, apresentam elevado padrão de qualidade e têm contribuído, efetivamente, para a democratização do saber universitário, destacando- se o trabalho que desenvolvemos na formação inicial e continuada de professores. Este curso não será diferente dos demais, pois a qualidade é um compromisso da Instituição em todas as suas iniciativas. Os cursos que ofertamos, no Sistema UAB, utilizam metodologias, materiais e mídias próprios da educação a distância que, além de facilitarem o aprendizado, permitirão constante interação entre alunos, tutores, professores e coordenação. Este curso foi elaborado pensando na formação de um professor competente, no seu saber, no seu saber fazer e no seu fazer saber. Também foram contemplados aspectos éticos e políticos essenciais à formação dos profissionais da educação. Esperamos que você aproveite todos os recursos que oferecemos para facilitar o seu processo de aprendizagem e que tenha muito sucesso na trajetória que ora inicia. Mas, lembre-se: você não está sozinho nessa jornada, pois fará parte de uma ampla rede colaborativa e poderá interagir conosco sempre que desejar, acessando nossa Plataforma Virtual de Aprendizagem (MOODLE) ou utilizando as demais mídias disponíveis para nossos alunos e professores. Nossa equipe terá o maior prazer em atendê-lo, pois a sua aprendizagem é o nosso principal objetivo. EQUIPE DA UAB/ UEPG SuMÁRIO PALAVRAS DO PROFESSO ■ R 7 OBJETIVOS & EMENT ■ A 9 cONTExTuALIzAçãO dA dIdÁTIcA 11 SEÇÃO ■ 1- A DIDáTICA EM SUAS OrIGENS: CONCEPçõES E PrESSUPOSTOS TEórICOS 13 SEÇÃO 2- ■ O ENSINO, OBjETO DA DIDáTICA E SEUS ELEMENTOS 16 SEÇÃO 3- ■ O TrABALhO DE ENSINAr: DESAfIOS CONTEMPOrâNEOS 19 O pROcESSO dIdÁTIcO 25 SEÇÃO ■ 1- AS DIMENSõES DO PrOCESSO DIDáTICO NA AçãO DOCENTE 27 SEÇÃO 2- ■ PLANEjAMENTO DO PrOCESSO ENSINO-APrENDIzAGEM 33 SEÇÃO 3- ■ NíVEIS DE PLANEjAMENTO, PLANOS DE ENSINO E O TrABALhO COM PrOjETOS: POSSIBILIDADES DIDáTICAS DE OrGANIzAçãO 36 SEÇÃO 4- ■ OBjETIVOS: SUA IMPOrTâNCIA E AS PrOPOSIçõES PArA O TrABALhO PEDAGóGICO ESCOLAr 49 SEÇÃO 5- ■ MOTIVAçãO E INCENTIVAçãO PArA A APrENDIzAGEM 60 SEÇÃO 6- ■ rELAçãO PEDAGóGICA NA SALA DE AULA E MEDIAçãO DOCENTE: QUESTõES DE DISCIPLINA E INDISCIPLINA 64 SEÇÃO 7- ■ AVALIAçãO DO PrOCESSO ENSINO-APrENDIzAGEM: CONCEITOS E MODALIDADES 75 SEÇÃO 8- ■ INSTrUMENTOS E PrOCEDIMENTOS AVALIATIVOS: OrIENTAçõES DIDáTICAS 80 METOdOLOgIAS dIdÁTIcAS 101 SEÇÃO ■ 1- ENSINO INDIVIDUAL, MúTUO E SIMULTâNEO: MéTODOS DE ENSINO NA DIDáTICA ESCOLAr 102 SEÇÃO 2- ■ A GESTãO DA SALA DE AULA E A OrGANIzAçãO DO SEU ESPAçO 108 SEÇÃO 3- ■ O TrABALhO EM GrUPOS NA SALA DE AULA 113 SEÇÃO 4- ■ MéTODOS E TéCNICAS DE ENSINO 119 PALAVRAS FINAI ■ S 137 REFERÊNCIAS ■ 139 NOTAS SOBRE O AUTO ■ R 151 pALAVRAS dOS pROFESSORAS Primeiramente, registramos a alegria com que iniciamos esta caminhada. Como professoras atuantes no ensino de Didática, as oportunidades para uma discussão teórica densa sobre questões de ensino na formação docente nos são muito caras. Na obra que agora lhe apresentamos, fundamental não é a escolha de uma didática meramente técnica e instrumental, mas sim uma reflexão acerca das questões do ensino presentes na prática pedagógica escolar. Pautadas na experiência da elaboração de livros de Didática para os programas Pró-Licenciatura e Universidade Aberta do Brasil (ALThAUS; zANON, 2009), respectivamente para os cursos de Licenciatura em história, Letras, Geografia e Pedagogia, organizamos esta obra, sobretudo a partir dos indicativos que as produções anteriores agregaram à nossa prática acadêmico-profissional. Estruturamos o presente livro em três unidades, que contemplam os conteúdos da ementa da disciplina Didática. Na unidade I, apresentamos de modo panorâmico algumas formas de pensar o conhecimento didático. Longede termos a pretensão de apontar a você uma única concepção sobre o tema, referenciamos vários estudiosos que se dedicam à Didática: diferentes abordagens, compreensões e significados que, certamente, contribuirão para a construção de sua prática docente. Ao tratarmos mais especificamente sobre o processo didático, na unidade II, você encontrará subsídios para seus estudos nos seguintes temas: planejamento, motivação, objetivos, avaliação do processo ensino- aprendizagem, relação pedagógica e atuação didática do professor como mediador. Na unidade III, discutimos as metodologias didáticas na gestão da sala de aula, que são tecidas no trabalho docente, considerando-se os diferentes métodos de ensino na didática escolar: individual, mútuo e simultâneo. Como acadêmico(a), ao se apropriar dos conteúdos que este livro apresenta, você deverá fazê-lo de forma interativa, através das atividades propostas na plataforma. Chega mais perto e contempla as palavras. Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível que lhe deres: Trouxeste a chave? Carlos Drummond de Andrade Aproveite ao máximo este material: observe atentamente as dicas, as indicações de pesquisas complementares em sites e também das obras apontadas ao final de cada seção. Para finalizarmos esta apresentação, lembramos as palavras de Gauthier (1999, p. 24), ao dizer que “[...] cada dispositivo do olhar e da observação modifica o objeto de estudo... por isso, nunca estudamos um objeto neutro, mas sempre um objeto implicado, caracterizado pela teoria e pelo dispositivo que permite vê-lo, observá-lo e conhecê-lo”. Bom estudo! Professora Denise zanon Professora Maiza Althaus . OBJETIVOS & EMENTA ObjetivOs Gerais Apresentamos os seguintes objetivos para os estudos que você desenvolverá nesse livro: Inferir do conhecimento didático desenvolvido na disciplina possibilidades para ■ o trabalho docente no contexto escolar. Identificar o objeto de estudo da Didática, destacando as relações existentes ■ entre seus elementos constitutivos na prática pedagógica escolar. Compreender a importância do estudo das relações pedagógicas para o ■ desenvolvimento do trabalho docente em sala de aula. Compreender as dimensões do processo didático na ação docente, ■ considerando o planejamento e a avaliação como elementos indispensáveis para a gestão do trabalho pedagógico na sala de aula. Analisar a necessidade de reestruturação de métodos e ■ técnicas de ensino para a gestão do trabalho docente na escola. ementa Reflexões sobre educação e o trabalho docente na escola. A Didática ■ como área de saber voltada ao processo ensino-aprendizagem e seu papel na formação do professor. Organização do trabalho pedagógico no cotidiano escolar: o planejamento educacional, seus níveis e elementos. Avaliação do processo ensino-aprendizagem. A educação como objeto da reflexão filosófica e das ciências da educação ObjetivOs De aPrenDiZaGem Conceituar Didática, avaliando sua importância para a atuação do educador. ■ Compreender a Didática no âmbito da Pedagogia e das práticas educativas. ■ Refletir sobre os desafios frente ao trabalho de ensinar, em sua ■ complexidade. rOteirO De estUDOs SEÇÃO 1 - A Didática em suas origens: concepções e pressupostos teóricos ■ SEÇÃO 2 - O ensino, objeto da Didática, e seus elementos ■ SEÇÃO 3 - O trabalho de ensinar: desafios contemporâneos ■ U N ID A D E I Li ce n ci a tu ra s U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 12 UNIDADE 1 13 UNIDADE 1 Li ce n ci a tu ra s U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 12 UNIDADE 1 13 UNIDADE 1 pARA INÍcIO dE cONVERSA Prezado(a) aluno(a)! A formação pedagógica para a docência tem sido objeto de estudos, apontando a necessidade de pesquisas constantes sobre práticas pedagógicas, as quais trazem questionamentos frequentes: didática para quê? Qual o seu sentido na formação e prática docente? Tais questões são desafios que impõem ao cotidiano escolar uma dinâmica própria, que lhe é peculiar. Nessa perspectiva, é importante fazer uma reflexão mais cuidadosa acerca das concepções teóricas da didática, considerando suas origens e sua história nos cursos de formação de professores. Apresentamos-lhe a primeira unidade de estudo, direcionada à compreensão do que é a Didática. Bom trabalho! Entendo como fundamental dizer que a didática é uma disciplina ‘pedagógica’. Pedagogia, na minha concepção, é a teorização sobre finalidades e formas de intervenção na prática educativa num determinado contexto socio-histórico. Algo é ‘pedagógico’ à medida que carrega uma intencionalidade, isto é, quando traduz uma ação intencional orientada para objetivos explícitos. Se a Didática é uma disciplina pedagogicamente orientada, então, o processo de ensino implica uma comunicação intencional entre professor e alunos voltada para fins sociais e para ações definidas destinadas à aprendizagem. (LIBâNEO, 2002, p.10). Li ce n ci a tu ra s U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 12 UNIDADE 1 13 UNIDADE 1 Li ce n ci a tu ra s U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 12 UNIDADE 1 13 UNIDADE 1 SEçãO 1 A dIdÁTIcA EM SuAS ORIgENS: cONcEpçõES E pRESSupOSTOS TEóRIcOS Para Veiga (2006, p.8), a Didática é um campo de estudo, uma disciplina de natureza pedagógica aplicada, orientada para as finalidades educativas e comprometida com as questões concretas da docência, com as expectativas e os interesses dos alunos. Para tanto, requer um espaço teórico-prático, a fim de compreender a multidimensionalidade da docência, entendida como ensino em ato. Segundo a autora, a compreensão do ensino como prática social concreta, complexa e laboriosa, leva a considerar a Didática como teoria da docência. Nessa ótica, Veiga afirma que o ensino – objeto nuclear da didática -, estendido para as outras dimensões em sua globalidade, confirma o significado e a projeção da docência como o ensino em ato. Assim, a didática fortalece o valor global de seu objeto – o ensino – ampliando seus marcos teóricos e fundamentando-se positivamente em outros temas emergentes. [...] O domínio do conhecimento da didática é essencial para o exercício da docência e apresenta-se como uma das disciplinas nucleares do campo pedagógico; é imprescindível para o processo de formação e desenvolvimento profissional de professores. (Id., p.8). Você conhecerá as origens de algumas palavras que envolvem a ação didática do professor. é tempo de parar e refletir sobre os termos Li ce n ci a tu ra s U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 14 UNIDADE 1 15 UNIDADE 1 Li ce n ci a tu ra s U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 14 UNIDADE 1 15 UNIDADE 1 que muitas vezes utilizamos, sem realmente aprofundarmos seus significados e sentidos. retomando o sentido etimológico do ato de ensinar, percebemos as marcas e os sinais que um professor um dia já imprimiu em nossa formação, ou aquilo que nós indicamos ou designamos aos nossos alunos através do contato que estabelecemos na prática pedagógica escolar. Instrução é outro termo que também revela vínculos com o ensino. Em latim, o verbo struere, agregado à preposição in, remete-nos para o verbo instruere, significando erguer, levantar, construir, pôr em ordem, formar, dispor. Quanto ao sentido dos verbos aprender e apreender, Anastasiou e Alves (2006, p.14) afirmam: Nessa perspectiva, freire (1996, p. 77) é quem muito contribui, ao dizer: “[...] aprender é uma aventura criadora, algo, por si mesmo, muito mais rico do que meramente repetir a lição dada. Aprender para nós é construir, reconstruir, constatar para mudar [...]”. Surge no século XI, na língua francesa (enseigner), e no século XIII, na língua portuguesa; do baixo latim insignare, alteraçãode insignire, que significa indicar, designar, e que pode chegar a ser compreendido como ‘marcar com um sinal’. Note que marcar pode transmitir uma ideia de imposição, mas pode, por outro lado, indicar o nascimento do caráter do estudante, uma vez que, em grego, sinal é Karakter. (LIMA et al., 2006, p.240). O apreender, do latim apprehendere, significa segurar, prender, pegar, assimilar mentalmente, entender, compreender, agarrar. Não se trata de um verbo passivo; para apreender é preciso agir, exercitar-se, informar-se, tomar para si, apropriar-se, entre outros fatores. O verbo aprender, derivado de apreender por síncope, significa tomar conhecimento, reter na memória mediante estudo, receber a informação de... Li ce n ci a tu ra s U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 14 UNIDADE 1 15 UNIDADE 1 Li ce n ci a tu ra s U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 14 UNIDADE 1 15 UNIDADE 1 QUAL O SIGNIFICADO DO TERMO DIDÁTICA? A etimologia da palavra didática indica que a sua essência está no ensinar, isto é, “na ação de fazer sinais, de comunicar. Comênio explicita essa posição ao afirmar que didática significa arte de ensinar, em que todos os termos dessa expressão trazem, entre seus vários sentidos, o de ação, exercício, atividade.” (GASPArIN, 1994, p. 64). “A didática possui uma história no processo de sua constituição como campo de saber, pois no século XVII este campo significou uma expressão e uma resposta às novas necessidades humanas emergentes.” (GASPArIN, 2004, p. 85-86). Leia a citação abaixo (Id., p.41) para compreender ainda melhor: A constituição da didática comeniana como uma expressão pedagógica da transição da Idade Média à Idade Moderna fundamenta-se, em ambos os períodos, ao mesmo tempo, traduzindo o término de um e o início de outro. Para sermos mais precisos, representa aquele momento específico em que do velho modo de ensinar se passa ao novo. Não significa, todavia, que Comênio deixe o velho e se utilize somente do novo, mas que na essência constitutiva da sua arte de ensinar há princípios de um e de outro concomitantemente. A concepção de homem subjacente à didática comeniana e à sua educação se traduz melhor na ideia de um ser criado à imagem e semelhança de Deus e dependente dele, mas igualmente como um ser que busca construir a si mesmo, pelo seu trabalho, sem dependência direta de Deus. Da mesma forma Li ce n ci a tu ra s U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 16 UNIDADE 1 17 UNIDADE 1 Li ce n ci a tu ra s U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 16 UNIDADE 1 17 UNIDADE 1 os princípios gerais da didática exprimem o espírito conservador e renovador do momento, ou seja, enquanto, por um lado, há ênfase na memorização, na diretividade total do professor, na exposição docente do conteúdo, na passividade do aluno a quem cabe apenas ouvir, destaca-se, por outra parte, como nova forma de ensino, a imitação da natureza, a observação e experimentação, os processos das artes mecânicas, os métodos da nova forma de trabalho e da ciência. Como você percebeu, o núcleo do pensamento didático-pedagógico de Comênio é o ENSINO. A partir do sentido etimológico, ensinar significa (Ibid., p. 66): Na próxima seção, você estudará questões relativas ao objeto de estudo da Didática. fazer sinais ou marcas; caracterizar; indicar; gravar; imprimir. SEçãO 2 O ENSINO, OBJETO dA dIdÁTIcA E SEuS ELEMENTOS Segundo Placco (2008), não temos o objetivo de esgotar as discussões sobre o que seja – ou deva ser – a Didática hoje, mas sim indicar algumas questões que consideramos essenciais que sejam feitas no campo didático, além de apontar relações possíveis e necessárias entre Didática e formação de Professores. Li ce n ci a tu ra s U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 16 UNIDADE 1 17 UNIDADE 1 Li ce n ci a tu ra s U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 16 UNIDADE 1 17 UNIDADE 1 Iniciamos esta seção trazendo algumas definições de Didática colhidas em pesquisas e publicações de autores que se dedicam à área: Candau (1988): Moura (2001): Azzi; Caldeira (1997): Castro (2001): Pimenta (2008): Para Cordeiro, a Didática discute um conjunto de problemas e questões comuns que envolvem quase todos os tipos de ensino, em especial o que se pratica nas escolas. São as chamadas “questões de ensino” (2007, p.33). Tais temas aparecem em todas as ocasiões em que se ensina, mas suas respostas não dependem apenas dos conteúdos. “O objeto de estudo da didática é o processo de ensino-aprendizagem. Toda proposta didática está impregnada, implícita ou explicitamente, de uma concepção do processo de ensino-aprendizagem”. “A Didática é um elemento da formação do professor. Regula, num sentido amplo, o comportamento de ser professor”. “A Didática é uma disciplina que, tendo como ponto de partida a reflexão sobre uma prática, ou, mais especificamente, o processo de ensino-aprendizagem, busca, na compreensão deste, elementos que subsidiem a construção de projetos de ação didática”. “Ensinar algo é sempre desafiar o interlocutor a pensar sobre algo. Toda a Didática apoia-se no conceito de ensino. A Didática tem como um dos seus propósitos a orientação do ensino e, para tal, necessita recorrer à reflexão de caráter teórico e à pesquisa científica”. “Sendo uma área da Pedagogia, a Didática tem no ensino seu objeto de investigação. O ensino é uma prática social complexa. Considerá-lo como uma prática educacional em situações historicamente situadas significa examiná-lo nos contextos sociais nos quais se efetiva”. Li ce n ci a tu ra s U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 18 UNIDADE 1 19 UNIDADE 1 Li ce n ci a tu ra s U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 18 UNIDADE 1 19 UNIDADE 1 Os sujeitos que são professores aprendem a lidar com pessoas colocando-se em posição de aprendizes. Desenvolvem atitudes de ensinadores. E a estes pode-se qualificar como os que têm ou não Didática. Isto é, existe um senso comum sobre o que pode ser considerado um bom professor: ter didática. Esta entendida como um certo modo de organizar o ensino que favorece a aprendizagem [...] para chegarmos a nos considerar professor de uma área de conhecimento, primeiramente, devemos nos identificar como professores. é por isso que inicialmente nos identificamos com uma categoria mais geral, que é a de professor. A Didática é este elemento comum. Poderíamos dizer ainda que a didática geral é o elo comum da profissão professor. (MOUrA. In: CASTrO; CArVALhO, 2001, p. 145). Outro aspecto importante refere-se à multidimensionalidade do processo de ensino e aprendizagem. O que isto significa? Significa que toda proposta didática contempla – implícita ou explicitamente – uma concepção de ensino e de aprendizagem (CANDAU, 1988, p.13), isto é, para ser adequadamente compreendido, o processo ensino-aprendizagem precisa ser analisado de tal modo que articule consistentemente as dimensões: Candau, na década de 80, ao criticar a visão exclusivamente instrumental da didática, afirmou que não se pode reduzir ou negar que a competência técnica é necessária. Porém, destacou que todas as dimensões se exigem reciprocamente, pois, “a prática pedagógica, exatamente por ser política, exige a competência técnica.” Procurava, então, apresentar o desafio do momento (CANDAU, 1988): superar a didática exclusivamente instrumental e construir uma didática fundamental. Porém, ainda hoje (século XXI) nos debatemos com os significados e a utilização desses conceitos, na formação de professores e na sala Li ce n ci a tu ra s U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 18 UNIDADE 1 19 UNIDADE 1 Li ce n ci a tu ra s U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 18 UNIDADE 1 19 UNIDADE 1 de aula. (PLACCO, 2008,p. 735). Veiga (1991; 2004) esclarece ao dizer que a Didática configura-se como a mediação entre “o quê”, “como” e o “para quê” do processo de ensino. A autora entende que, enquanto teoria geral do ensino, a Didática generaliza o que é comum e fundamental para a prática pedagógica. Vamos prosseguir nossos estudos, discutindo os desafios que se impõem ao trabalho de ensinar. Assim como você estudou na seção anterior, “o campo do didático é o ensino, isto é, investigar os nexos entre ensino e aprendizagem para propor princípios, formas, diretrizes que são comuns e fundamentais ao ensino de todas as matérias”. (LIBâNEO, 2002, p. 11). Nesta seção, iniciamos destacando a contribuição de Nadal e Papi (2007, p. 18; 19-20), ao afirmarem: SEçãO 3 O TRABALhO dE ENSINAR: dESAFIOS cONTEMpORÂNEOS Diferentemente do que se pensa, ensinar não é algo natural, uma tarefa simples. Ao contrário, o trabalho de ensinar é complexo, pois envolve o elemento humano em situações únicas, imprevisíveis [...] o ser professor constitui uma profissão complexa, pois é uma atividade imprevisível, realizada com seres humanos, cujas reações não podem ser cientificamente controladas, nem mesmo pressupostas. A ideia de ensino – atividade central da docência – é por si só contraditória, uma vez que ensinar é garantir a transmissão, a perpetuação do conhecimento, mas tal perpetuação não pode se fazer de modo apenas transmissivo. Na tentativa de retomar as bases dessa contradição, vale lembrar que sempre houve um certo consenso de que era tarefa da escola ensinar no sentido de transmitir, repassar os conhecimentos acumulados pela humanidade às novas gerações. A partir do momento em que esse papel da escola e, consequentemente, do professor, passou a ser questionado e criticado como tradicional e ultrapassado, novas pedagogias foram surgindo, sem que se desenvolvessem, no entanto, os processos de formação necessários para que os professores pudessem construir sua própria síntese em relação a elas. A mesma lacuna pode ser constatada em relação à organização da escola, que permaneceu inalterada. Usuario Realce Usuario Realce Li ce n ci a tu ra s U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 20 UNIDADE 1 21 UNIDADE 1 Li ce n ci a tu ra s U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 20 UNIDADE 1 21 UNIDADE 1 Consequentemente, esse processo de mudança levou muitos professores à falsa concepção de que ‘o professor hoje não ensina mais’, em função do mito da oposição entre transmissão e construção do conhecimento. Levou-os ao ‘temor’ de ensinar, pelo medo de serem tachados de tradicionais, como se a metodologia que privilegia a construção do conhecimento pelo aluno excluísse totalmente o momento da transmissão do conhecimento pelo professor. Tal distorção é agravada pela ‘falácia de que ninguém ensina nada a ninguém e que cada um deve construir o seu próprio conhecimento’. Diante disso, muitos professores perderam suas referências e não sabem mais o que é ensinar e, muito menos, como ensinar. frente às considerações das autoras, importa compreender que compete ao professor a transmissão dos conteúdos histórica e socialmente produzidos, necessários à formação dos alunos na escola. Ou seja, entendemos que é papel do professor transmitir aos alunos aquilo que não são capazes de aprender por si só, pois, atuando como mediador, o professor valoriza e interpreta a informação a transmitir. O professor atua como agente cultural externo, possibilitando aos educandos o contato com a realidade científica (GASPArIN, 2002, p. 108). Existe, portanto, uma mediação* intencional do saber. O trabalho de ensinar – num processo dialético – desenvolve- se através de ações intencionais que conduzem os alunos à reflexão sobre os conceitos que estão sendo propostos. A função do professor é apresentar, explicitar, explicar, demonstrar os conceitos científicos, social e historicamente elaborados. (Id., p. 120-121) Além disso, o trabalho de ensinar implica ao professor assumir o lugar de instigar e desafiar o aluno para que este avance, isto é, para que vá além do ponto em que está e aprenda, ou seja, o professor precisa alavancar o conhecimento do aluno (PLACCO, 2008) e, nesse contexto, os procedimentos didáticos em sala de aula expressam a intencionalidade de colocar o outro em situação de aprendizagem. Ser professor significa exercer uma profissão que tem um campo de atuação específico, que não se esgota na sala de aula, mas que tem nela o seu lugar privilegiado. Imaginar-se como o responsável por tudo o que afeta a vida dos alunos pode levar à tomada de decisões equivocadas. (COrDEIrO, 2007, p. 135). O trabalho do professor não se configura como uma atividade individual, que se limita à sala de aula e às interações com os alunos (AMIGUES, 2004, p.45), mas, ao contrário, o trabalho docente é um ofício como qualquer outro, sendo uma atividade regulada (explícita ou implicitamente), coletiva e também uma atividade contínua de invenção de soluções. * Na unidade II deste, livro, você estudará as relações pedagógicas e a ação do professor enquanto mediador. Usuario Realce Li ce n ci a tu ra s U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 20 UNIDADE 1 21 UNIDADE 1 Li ce n ci a tu ra s U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 20 UNIDADE 1 21 UNIDADE 1 E você, como percebe os desafios que se apresentam ao nosso ofício de ensinar? [...] o professor é, ao mesmo tempo, um profissional que prescreve tarefas dirigidas aos alunos e a ele mesmo; um organizador do trabalho dos alunos, que ele deve regular ao mesmo tempo em que os mobiliza coletivamente para a própria organização da tarefa; um planejador, que deve reconceber as situações futuras em função da ação conjunta conduzida por ele e por seus alunos, em função dos avanços realizados e das prescrições. (AMIGUES, p. 49). Pensando sobre as questões tratadas nesta seção, que referencia os desafios contemporâneos impostos ao processo de ensinar, observa-se a complexidade que caracteriza o ensino, que não corresponde a uma ação mecânica e marcada pela atividade em si. refletindo ainda sobre o ato de ensinar, Veiga (2006) aponta os desafios que se impõem à prática docente, vinculados aos escritos de Nadal e Papi (2007). O ensino é complexo e requer um marco teórico cada vez mais indagador e rigoroso para investigar os fundamentos e as práticas formativas. Desse modo, o ensino estabelece relações com os fatores contextuais ao refletir sobre os valores mais amplos da sociedade em que vivem os alunos, mas também aqueles que são mais próximos e localizados. Concebido dessa forma, o ensino responde a três desafios: em primeiro lugar, é uma tarefa humana, pelo fato de trabalhar com ‘seres humanos, sobre seres humanos, para seres humanos’, como afirmam Tardif e Lessard (2005, p. 31); tem em seguida o desafio da dimensão afetiva, do compartilhamento, da Usuario Realce Li ce n ci a tu ra s U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 22 UNIDADE 1 23 UNIDADE 1 Li ce n ci a tu ra s U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 22 UNIDADE 1 23 UNIDADE 1 interação; apresenta, enfim, o desafio de seu papel cognitivo, pelo fato de permitir que cada aluno construa seu conhecimento [...] Em suma, o ensino é carregado de razão e emoção, é o espaço para a vida, para a vivência das relações entre professores e alunos, para a ampliação da convivência socioafetiva e cultural dos alunos. (VEIGA, 2006, p. 31-32). A questão que norteou o estudo desta primeira unidade voltou-se para a especificidade da didática. Compreender as questões de ensino, presentes na prática pedagógica, implica necessariamente ter como horizonte maior a aprendizagem escolar, porque, como Placco acentua, e muito bem, “tenho entendido didática como a aproximação sistemática e circunstanciada aos processos deensino e aprendizagem”. (2008, p. 738). Reconhecer que o professor didático é aquele que articula as dimensões humana, técnica e política na prática pedagógica escolar implica assumir que, como docente, é, ao mesmo tempo um sujeito – com suas características pessoais -, um representante da escola e também um adulto encarregado de transmitir o patrimônio humano e também suas experiências às gerações mais novas. (CHARLOT, 2005, p. 77). “Ensinar, portanto, envolve uma disponibilidade para lidar com o outro e compreendê-lo. Ensinar envolve gosto e identificação com a docência. Ensinar pressupõe construção do conhecimento [...]”. (VEIGA, 2006, p. 24-25). 1) Acesse a obra Didática Magna, de Comênio: <http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/didaticamagna.pdf>. 2) Para ampliar seus conhecimentos sobre as origens da Didática e sobre seu desenvolvimento no Brasil, leia: SANTOS, L. L. C. P.; OLIVEIRA, M. R. N. S. Currículo e didática. In: OLIVEIRA, M. R. N. S. (Org.). Confluências e divergências entre didática e currículo. Campinas: Papirus, 1998, p. 9-32. 3) Assista ao documentário Pro dia nascer feliz, de João Jardim, que retrata o dia-a-dia de alunos em seis escolas brasileiras, testemunhando a complexidade e os desafios do ensino brasileiro. Veja também no endereço http://www.prodianascerfeliz.com/ o trailer do filme. 4) Sugestão de leitura: DUARTE, Newton. Concepções afirmativas e negativas sobre o ato de ensinar. Cad. CEDES, Campinas, v. 19, n. 44, abr. 1998. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0101-2621998000100008&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: jan. 2009. Li ce n ci a tu ra s U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 22 UNIDADE 1 23 UNIDADE 1 Li ce n ci a tu ra s U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 22 UNIDADE 1 23 UNIDADE 1 1. Elabore um conceito de Didática, destacando o papel desta disciplina em sua formação docente. 2. Interprete o texto: “Sendo uma área da Pedagogia, a didática tem no ensino seu objeto de investigação. O ensino é uma prática social complexa. Considerá-lo como uma prática educacional em situações historicamente situadas significa examiná-lo nos contextos sociais nos quais se efetiva”. (PIMENTA, 2008). Li ce n ci a tu ra s U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 24 UNIDADE 1 25 UNIDADE 1 Li ce n ci a tu ra s U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 24 UNIDADE 1 25 UNIDADE 1 ObjetivOs De aPrenDiZaGem rOteirO De estUDOs U N ID A D E IIO processo didático Reconhecer a inter-relação entre as dimensões do processo didático. ■ Compreender a concepção de professor mediador no que respeita ■ à relação pedagógica construída em sala de aula. Inferir que o planejamento, como estudo e prática didática, expressa ■ a concepção dos professores a respeito dos processos de ensino e de aprendizagem. Discutir as características e as possibilidades de elaboração de ■ diferentes planos de ensino, visando ao desenvolvimento do raciocínio didático para a organização da ação docente no cotidiano escolar. Caracterizar a avaliação do processo ensino-aprendizagem em suas ■ diferentes abordagens. SEÇÃO 1 - As dimensões do processo didático na ação docente ■ SEÇÃO 2 - Planejamento do processo ensino-aprendizagem ■ SEÇÃO 3 - Níveis de planejamento, planos de ensino e o trabalho com ■ projetos: possibilidades didáticas de organização SEÇÃO 4 - Objetivos: sua importância e as proposições para o trabalho ■ pedagógico escolar SEÇÃO 5 - Motivação e incentivação para aprendizagem ■ SEÇÃO 6 - Relação pedagógica na sala de aula e mediação docente: ■ questões de disciplina e indisciplina SEÇÃO 7 - Avaliação do processo ensino-aprendizagem: conceitos e ■ modalidades SEÇÃO 8 - Instrumentos e procedimentos avaliativos: orientações didáticas ■ U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 26 UNIDADE 2 pARA INÍcIO dE cONVERSA A ação docente, sendo direcionada aos alunos, revela sempre uma intenção. Certamente requer do professor especial atenção quanto aos conteúdos a serem desenvolvidos e também quanto à necessidade de conhecer os alunos. Para que isso se concretize, necessário se faz que, como professores, possamos compreender o processo didático que envolve: o ensino, a aprendizagem, a pesquisa e a avaliação. Percebemos que, para desenvolver a ação pedagógica, cada vez mais se faz necessário dominar conhecimentos didáticos que subsidiem o trabalho na escola, a fim de respaldar as ações, possibilitando a tomada de decisões. Ao discutir sobre o planejamento, organizamos duas seções, contemplando inicialmente as concepções, em sentido amplo, tendo como referencial diferentes teóricos que se dedicam ao estudo desse tema. Ainda que, do ponto de vista didático, a organização de planos de ensino venha sendo historicamente apresentada numa abordagem técnica e instrumental em muitos livros, manuais didáticos, sites e artigos, consideramos que tais “modelos” ou “formas” de planos oferecem dúvidas razoáveis. Isto porque, na abordagem que se propõe aqui desenvolver, o planejamento, tomado como mero exercício de “preenchimento” de “modelos” ou “fichas”, esvazia o sentido político e pedagógico do ato de planejar. Pretendemos que através deste estudo você conheça as concepções e conceitos que estão vinculados ao planejamento, de modo a permitir-lhe a construção do conhecimento de forma ampla, extrapolando a visão do planejar como produção rotineira, fragmentada, para entendê-lo em sua complexa dimensão de trabalho pedagógico escolar que expressa desde políticas de planejamento curricular até decisões advindas do próprio trabalho pedagógico desenvolvido no interior das escolas. Nesta unidade, você terá a oportunidade de compreender vários “[...] a ação educativa se dirige sempre a um ser humano singular (o educando), é dirigida por outro ser humano singular (o educador) e se realiza sempre em condições (materiais e não materiais) singulares.” (DUARTE, 1999). Li ce n ci a tu ra s 27 UNIDADE 2 SEçãO 1 AS dIMENSõES dO pROcESSO dIdÁTIcO NA AçãO dOcENTE Segundo freire (1996, p. 68), na docência o professor precisa mover-se com muita clareza em sua prática, sendo necessário: “[...] conhecer as diferentes dimensões que caracterizam a essência da prática, o que pode me tornar mais seguro no meu próprio desempenho”. As dimensões mencionadas por freire (1996) são tratadas com propriedade por Veiga (2004), quando enfatiza que o processo didático acontece de forma relacional, sem dicotomias entre ensinar, aprender, pesquisar e avaliar. conceitos relativos ao processo didático. Verá também que, mais do que conhecer os conteúdos a serem ensinados – condição fundamental -, é pertinente relacioná-los a objetivos e situações de aprendizagem. Enfatizar o processo didático sob a perspectiva relacional significa analisar suas características a partir de quatro dimensões: ensinar, aprender, pesquisar e avaliar. O processo didático, assim, desenvolve-se mediante a ação recíproca e interdependente das dimensões fundamentais. Integram-se, são complementares. O processo didático se explicita pela ação docente das quatro dimensões – ensinar, aprender, pesquisar e avaliar – considerando também a relação pedagógica, as estratégias de aprendizagem, de investigação e os caminhos didático e investigativo. (VEIGA, 2004, p. 13). Usuario Realce Usuario Realce U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 28 UNIDADE 2 Não basta ao professor ensinar, é necessário que se efetive a aprendizagem, porém somente os dois elementos do processo didático não são suficientes para dar conta da complexidade do trabalho pedagógico. é preciso, ainda, considerar a pesquisa e a avaliação. Veja o esquema a seguir: Evidenciamos a relaçãode interdependência entre as dimensões do processo didático, expressando a compreensão de cada uma delas, pois não se efetivam isoladamente no trabalho pedagógico. Lembramos que, na unidade I deste livro, você teve a oportunidade de analisar diferentes concepções de ensino, mas é preciso que conheça também as relações que são estabelecidas entre ensinar, aprender, pesquisar e avaliar. De acordo com Veiga (2004), a compreensão sobre o ensino não acontece quando somente observamos os fatores que são visíveis no ambiente de sala de aula, mas que o ensino é impulsionado, movido pela contradição, existente entre teorias e práticas que resultam dos Para a organização do processo didático é preciso compreender, analisar e valorizar cada dimensão do processo didático. (VEIGA, 2004). Usuario Realce Li ce n ci a tu ra s 29 UNIDADE 2 próprios processos de ensinar, aprender, pesquisar e avaliar. Além disso, é necessário considerar o nível de conhecimento que se revela nas aprendizagens dos alunos. O entendimento das relações perpassa pela concepção que o professor tem sobre o assunto, sendo preciso perceber que o ensino não existe isoladamente, mas adquire significação quando está diretamente vinculado à aprendizagem, ao processo de pesquisa e consequentemente à avaliação. Libâneo (1994, p. 80) esclarece: As contribuições do autor trazem para a docência a responsabilidade de garantia da unidade entre o ensino e a aprendizagem, pois constituem “duas facetas de um processo único”. E, como dizia freire (1996), não existe a docência sem a discência, sendo que as duas se explicam, e aquele que ensina, sempre ensina algo a alguém. Pensando nestas relações entre ensinar e aprender, Veiga (2004) ressalta que o ensinar envolve a interação com os denominados “pares didáticos”: ensinar a ensinar, ensinar a aprender, ensinar a pesquisar, ensinar a avaliar. Explica também que existem três características básicas no ensino, que realçam a tarefa principal dos professores: garantir que o processo de ensino seja orgânico e coerente, sendo conectado ao contexto social. Uma segunda característica do ensino é a sua vinculação à aprendizagem, pois são processos articulados (caráter de intencionalidade do ensino). já a terceira refere-se à visão de ensino enquanto prática social, que, sendo específica, delimita e determina o próprio desenvolvimento social e cognitivo dos alunos. Tal compreensão requer do professor compromisso e responsabilidade, pois através do ensino o aluno será instrumentalizado política e tecnicamente, constituindo-se como um sujeito social. Diante destas características do ensino, a contribuição de Gasparin O ensino tem um caráter bilateral em virtude de que combina a atividade do professor (ensinar) com a atividade do aluno (aprender). O processo de ensino faz interagir dois momentos indissociáveis: a transmissão e assimilação ativa de conhecimentos [...] Na transmissão o professor organiza os conteúdos e torna-os assimiláveis, prevê as condições e os meios para a aprendizagem, [...] entretanto, a transmissão supõe a assimilação ativa, pois ensina-se para que os alunos se apropriem de forma ativa e autônoma dos conhecimentos [...] Usuario Realce Usuario Realce U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 30 UNIDADE 2 (2005, p. 2) é significativa, quando afirma que os conhecimentos que serão assimilados pelos educandos se constituem em elemento fundamental para a compreensão da sociedade e sua consequente transformação. Em suma, Veiga (2004, p. 16) afirma: “[...] é necessário reforçar a ideia de que ensinar a ensinar significa construir, desencadear uma ação inovadora entre o professor e alunos”. No que respeita ao ensinar a aprender, romanowski (In: VEIGA, 2006) enfatiza que a finalidade central do trabalho de professores e alunos é a promoção da aprendizagem, e ao professor cabe a responsabilidade de orientar, conduzir o processo de ensinar, entendendo que a aprendizagem está associada ao ensino. Leia atentamente as contribuições de André (In: VEIGA, 2006, p. 125), sobre o sentido de ensinar a pesquisar: O ensinar a pesquisar traz a ideia da problematização do conhecimento, envolve a criatividade, o processo de investigação e análise. Diante dessa compreensão, Veiga (2004) chama a atenção para o fato de que a pesquisa, o ato investigativo, constitui-se em atividade que é inerente ao ser humano, traduzindo-se numa das formas de conhecer o mundo. Torna-se evidente a ideia de que ensino e pesquisa se compõem de atividades complementares. E como compreender o significado de “ensinar a avaliar”? Both (2005, p. 58), ao interpretar questões relativas ao ensinar a avaliar, aponta que a avaliação precisa ser incorporada ao ensino, ao mesmo tempo que o avaliar traz sentido e objetivo para o ensino e que avaliação e ensino constituem um processo que é interdependente, simultâneo e também permanente. Diante dos apontamentos do autor, entendemos que a avaliação, o processo avaliativo, vincula-se diretamente ao ensinar, compreendendo que, ao avaliar os alunos, o professor também avalia seu próprio trabalho, as formas de ensinar, as concepções que nortearam o ensino. Ensinar a pesquisar é [...] criar situações e atividades que propiciem aos alunos aprender a observar, a formular uma questão de pesquisa, a encontrar dados e instrumentais que lhes permitam elucidar tal questão e os tornem capazes de expressar os seus achados e suas novas dúvidas. Li ce n ci a tu ra s 31 UNIDADE 2 “Ensinar a avaliar significa compreender a avaliação direcionada para o diagnóstico da qualidade dos resultados a serem atingidos. [...] A avaliação significa acompanhar o processo de aprendizagem”. (VEIGA, 2004, p. 18). Como você percebeu, quando ensinamos também avaliamos, pois temos a responsabilidade de acompanhar o progresso dos alunos em relação à aprendizagem. “Aprender é um processo ativo que ocorre no aluno e que sofre sua influência. Aprender é compreender e interpretar a realidade”. (VEIGA, 2004). Como dimensão do processo didático, entendemos que o aprender está presente no trabalho docente, pois na escola organizamos condições específicas para que a aprendizagem aconteça, de forma sistemática e intencional. (LIBâNEO, 1994). Diante desses apontamentos, retomamos os pares didáticos sendo eles aprender a ensinar, aprender a aprender, aprender a pesquisar e aprender a avaliar. No que respeita ao aprender a ensinar, é importante trazer para a discussão as ideias de Gasparin (2005, p. 2), quando se refere ao professor e ao aluno no processo ensino-aprendizagem, afirmando que: Quanto ao aprender a pesquisar, são pertinentes as posições de André (In: VEIGA, 2006, p. 125), quando se refere ao papel do professor no processo de pesquisa: Ambos são coautores do processo ensino-aprendizagem. Juntos devem descobrir a que servem os conteúdos científico-culturais propostos pela escola. Nessa perspectiva, o novo indicador da aprendizagem escolar consistirá na demonstração do domínio teórico do conteúdo e no seu uso pelo aluno, em função das necessidades sociais a que deve responder. É o professor que coordena todo o processo; é dele que brotam os estímulos iniciais; é ele quem orienta os alunos na busca de fontes, na escolha de métodos e na seleção de informações relevantes, é ele que os ajuda a sistematizar os dados e a avaliar os resultados. Usuario Realce Usuario Realce Usuario Realce Usuario Realce U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 32 UNIDADE 2 A mesma autora destaca que, ao orientar e coordenar o trabalho de pesquisa, os alunos se desenvolvem ativamente no processo de construção e aprendem a pesquisar. Veiga (2004) aponta que aprender a pesquisar precisa fazer parte do próprio cotidiano da escola e da sala de aula, para que professores e alunos assumam o papel de protagonistas no processoensino-aprendizagem. E o aprender a avaliar, de que forma se configura no processo didático? Both (2005, p. 58) esclarece: Percebemos que a concepção de avaliação apresentada referencia que professores e alunos percebem o desenvolvimento da aprendizagem, avaliam e autoavaliam as construções relativas aos conteúdos escolares e também analisam as lacunas existentes na aprendizagem. Tal compreensão traz um significado relevante sobre o aprender a avaliar, entendendo que professores e alunos podem desenvolver a autoavaliação, tendo consciência de seus papéis no processo pedagógico. Com relação ao pesquisar, André (In: VEIGA, 2006, p. 126) esclarece que o processo de pesquisa em sala de aula requer uma mudança nas formas convencionais de trabalho, e aponta uma condição essencial para que a pesquisa tenha êxito no processo ensino-aprendizagem: “[...] que os alunos estejam intensamente envolvidos, motivados, interessados nas questões a serem investigadas e que os professores estejam realmente convencidos da sua relevância e da necessidade de assumir uma nova postura diante do ensinar e do aprender.” frente ao exposto, o processo didático não se constitui isoladamente, pois requer e solicita a inter-relação entre ensinar, aprender, pesquisar e avaliar. Em outras palavras, pressupõe que o professor precisa conhecer com clareza as concepções de cada dimensão do processo didático. A avaliação é um dos aspectos principais do processo de aprendizagem. Por isso, cabe levar firmemente em conta a avaliação como elemento que permite aos professores e estudantes perceberem o quanto foi apreendido e qual o hiato existente, porventura, entre o ensinar e o apreender bem e o avaliar com pertinência. Usuario Realce Usuario Realce Li ce n ci a tu ra s 33 UNIDADE 2 SEçãO 2 pLANEJAMENTO dO pROcESSO ENSINO-ApRENdIzAgEM Não se trata apenas de que os professores levem em conta como os alunos fazem seu trabalho na hora de planejar as atividades de instrução. [...] Trata-se de que os professores organizem e planejem suas atividades levando em conta não só como os seus alunos aprendem, mas principalmente, como querem que seus alunos aprendam. Pozo (2002, p.58). Para estudar o planejamento, é importante refletir sobre a escola como um espaço não somente de ensino, mas sobretudo como um local onde entramos diariamente para aprender. Sabemos que o planejamento não deve referenciar apenas a lógica daquilo que desejamos en- sinar, ou do conteúdo que deva ser ensinado. Isto porque, numa perspec- tiva didática, o planeja- mento só tem ressonância quando abre um espaço de oportunidades para aprender àqueles a quem se dirige. (rUé, 2003). Acompanhe agora a compreensão de alguns autores sobre o tema: a) rays (2000, p. 13-14): [...] o planejamento de ensino é um momento do trabalho pedagógico necessário para o processo de escolarização, pois é a instância de decisão e de previsão da organização de situações didáticas para um grupo de alunos situados num determinado momento histórico, visando evidentemente a colaborar na formação de um determinado profissional. É a partir dessa pressuposição que se pode dizer que o planejamento das atividades de ensino e de aprendizagem configuram-se não apenas como um ato pedagógico, mas também como um ato político. Em síntese, o ato de planejar o ensino revela sempre, por parte do educador, uma atitude axiológica, ética, política e pedagógica, que pode ou não contribuir para uma formação de qualidade dos educandos. U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 34 UNIDADE 2 b) Em sua dissertação de Mestrado, zanon (2004, p. 96) afirma: c) Segundo rué (2003, p.105), d) Saint-Onge (2001, p. 221) apresenta o ensino como um conjunto de atividades que contempla as fases pré-ativa, interativa e pós-ativa. Para o autor, e) Considerar o ensino como um processo de tomada de decisões, multidimensional, dinâmico, mutável e complexo exige atualizações rápidas e contextualizadas, podendo fazer uso de rotinas planejadas antecipadamente. Pérez Gómez (1983) também converge ao que Saint- Onge assinala, afirmando que tais exigências ocorrem ao longo do comportamento pré-ativo do professor (planejamento de ensino) e também ao longo do comportamento interativo (no próprio processo de ensino e aprendizagem). Apesar de serem processos vinculados, o autor destaca que há maneiras distintas de processar a informação e tomar decisões, além de dominar estratégias e habilidades específicas. Deste modo, o planejamento repercute a capacidade dos professores para antever, delinear situações didáticas. Para tal, recorre a fontes de informação, ou seja, ao conhecimento que possuem sobre: O planejamento constitui-se, pois, em um momento de organização do trabalho a ser desenvolvido junto aos educandos. Ou seja, não se deve consistir somente num processo em que são elencados conteúdos e definidas metodologias desvinculadas dos mesmos, que se caracteriza pela inexistência de uma sequência lógica ou pelo preenchimento de uma ficha padrão que é solicitada pela equipe pedagógica no início do ano. Diferentemente do processo descrito, a construção do planejamento docente constitui-se num trabalho conjunto, que inclui a tomada de decisões, a reflexão sobre as melhores formas de desenvolvimento do processo pedagógico junto aos alunos. [...] entendemos o planejamento de ensino como a previsão de um espaço de oportunidades para o desenvolvimento da aprendizagem por parte do aluno [...]. Nesse sentido, planejar o ensino não é apenas antecipar os conteúdos, e sim levar em conta o próprio caráter das experiências que esse ensino propiciará a seus destinatários. [...] durante a fase pré-ativa, a professora ou o professor deve planejar sua ação e preparar os instrumentos de que terá necessidade para realizá-la. Logicamente, essa fase é prévia às outras, e a qualidade das outras fases dela dependerá. [...] A fase pré-ativa exige um trabalho considerável. Dificilmente se pode considerar que uma professora ou um professor desenvolva sozinho todas as habilidades requeridas pela concepção de métodos, pelo planejamento e pela criação de material de ensino. Li ce n ci a tu ra s 35 UNIDADE 2 • os processos de ensino e aprendizagem; • os conteúdos que ensinam aos alunos; • o contexto em que a dinâmica do ensino ocorre. Com base nessas afirmações, imperativo se faz compreender que o planejamento é bastante complexo, pois envolve o trabalho do professor enquanto uma atividade instrumentada e direcionada. O professor é, concomitantemente, um profissional que prescreve tarefas dirigidas aos alunos e a si mesmo, além de ser um organizador do trabalho dos alunos, que ele deve regular ao mesmo tempo em que os mobiliza coletivamente para a própria organização da tarefa. Lembre que o professor é um planejador, que reconhece as situações futuras em função da ação conjunta conduzida por ele e também por seus alunos, considerando os avanços realizados e as prescrições. (AMIGUES, 2004, p. 49). No cotidiano escolar, professores comumente deparam-se com diferentes práticas de planejamento: planos de trabalho, planos de unidade, de aulas, etc. Mas o que configura um planejamento ou um plano? Existem diferenças conceituais? Veja o posicionamento trazido por Fusari (1988): Enquanto o planejamento do ensino é o processo que envolve ‘a atuação concreta dos educadores no cotidiano do seu trabalho pedagógico, envolvendo todas as suas ações e situações, o tempo todo, envolvendo a permanente interação entre os educadores e entre os próprios educandos’ [...] o plano de ensino é um momento de documentação do processo educacional escolar como um todo. Plano de ensino é, pois, um documento elaborado pelo(s) docente(s), contendo a(s) sua(s) proposta(s) de trabalho, numa área e/ou disciplina específica. Dessa forma, compreendemos o planejamento como uma reflexão e um estudo quefazemos na prática pedagógica escolar. Sua concretização se dá através dos diferentes planos (plano anual, semestral, de aulas, projetos), que, sendo documentos, registram as decisões e estudos feitos na ação do planejamento. Em outras palavras, enquanto o planejamento é uma ação sempre presente, os planos são provisórios. Usuario Realce U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 36 UNIDADE 2 Vamos à seção 3 para complementar os estudos sobre as múltiplas possibilidades do trabalho didático através do planejamento. SEçãO 3 NÍVEIS dE pLANEJAMENTO, pLANOS dE ENSINO E O TRABALhO cOM pROJETOS: pOSSIBILIdAdES dIdÁTIcAS dE ORgANIzAçãO Iniciamos esta seção apresentando o relato de um professor sobre sua prática de planejamento. Uma semana ensinando e aprendendo... (Althaus; zanon. 2009) Marcelo, professor da Escola Pitanga, participou de uma semana pedagógica e percebeu a importância de registrar suas práticas como valioso instrumento de reflexão e organização de ações futuras. O relato que segue, sinteticamente escrito, expressa o cotidiano vivido pelo professor durante uma semana de trabalho. “Nas primeiras aulas da semana, procurei trabalhar com minhas turmas seguindo o mesmo plano de aula que já tinha feito anteriormente, pois estava bastante exausto para planejar. Acontece que, ao entrar em cada turma, percebi que o mesmo plano acabava dando resultados totalmente diferentes. Nos horários destinados ao planejamento, sentei na sala dos professores e troquei ideias com uma colega, professora que trabalha comigo nas mesmas turmas. Interessante que muitos pontos convergiram, por exemplo: alunos que participam mais e outros que apresentam uma certa apatia pelas propostas que apresentamos. Também ouvi da colega que Li ce n ci a tu ra s 37 UNIDADE 2 quando ela iniciou a envolver os alunos nas práticas de planejamento, ou seja, quando começou a compartilhar as propostas didáticas, atribuindo funções aos alunos, a expectativa das próximas aulas tornou-se mais envolvente. Outro aspecto que permitiu repensar as fragilidades dos meus planos de aula foi a releitura do Projeto Político-Pedagógico da nossa escola, durante a Semana Pedagógica. Percebi que as concepções ali expressas confirmavam o que estava vivendo na sala de aula, mas ainda há muito que fazer, e sozinho não sei se consigo planejar como o PPP da escola aponta.Uma coisa é bem certa: as horas destinadas para planejar ainda são insuficientes, é preciso estudar e estudar sempre, e o PPP é o referencial que embasa o que fazemos no dia-a-dia”. A semana relatada pelo professor Marcelo nos indica que, se considerarmos que o planejamento é realmente um processo amplo, claro está que objetiva dar resposta a situações enfrentadas no cotidiano, sejam problemas, improvisações ou até estabelecimento de novas metas a partir do que foi vivido, diagnosticado e compartilhado. Avaliar e planejar são ações que não se separam. “A avaliação com um sentido significativo não é só avaliação dos alunos. É, sobretudo, contrastação das intenções da professora com sua prática. O resultado é sempre o início do planejamento da intervenção posterior”. (HERNÁNDEZ, 1988, p.1). fASES DA PráTICA DOCENTE (hErNáNDEz, 1998) Usuario Realce Usuario Realce Usuario Realce U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 38 UNIDADE 2 Considerando a inter-relação existente entre planejar e avaliar frente aos processos de ensino e aprendizagem, alguns questionamentos poderiam se fazer presentes no ato de elaborar planos de ensino, ou seja, planos como ponto de partida para dar respostas às seguintes questões: • Como saber se os seus alunos aprenderam o que foi trabalhado através dos planos elaborados? • O que os alunos aprenderam do que se pretendeu ensinar através dos “roteiros” planejados? hernández ressalta que no trabalho por projetos é possível identificar as três fases da prática docente, sendo: planejamento, ação e avaliação, as quais não podem ser entendidas senão enquanto um sistema de inter-relações e complementaridades (1988, p.91). Ou seja, planejar, agir e avaliar constituem- se num mesmo ciclo, o ciclo docente, cuja compreensão é importante neste momento do seu estudo, pois é possível vislumbrar a inter-relação já apontada, no que respeita ao planejar os processos de ensino e aprendizagem. Ao ensinar, professores não utilizam somente planos ou roteiros específicos de uma aula. há outros níveis mais amplos que também são objeto de planejamento e estudo. Veja agora a explicação abaixo. O planejamento ocorre em dimensões interligadas. Mesmo sabendo das limitações que quadros e esquemas muitas vezes expressam por não refletirem a dinâmica da realidade, neste trabalho optamos por organizar primeiramente o diagrama a seguir, construído e adaptado de livros de Didática (hAYDT, 2006; MASETTO, 1997) para que você visualize as várias dimensões (ou níveis) do planejamento e suas principais características. . . . . . . . . . Usuario Realce Usuario Realce Li ce n ci a tu ra s 39 UNIDADE 2 Pensar em planejamento como processo implica discutir várias dimensões: desde o projeto político-pedagógico até a proposta de docência. Este processo é chamado por Minguili & Daibem (s.d, p. 9) de Planejamento de Ensino-Aprendizagem: Visualize na sequência a página do Colégio Estadual Professor júlio Teodorico, que apresenta o roteiro onde constam os dados iniciais do Projeto Político-Pedagógico escolar. É o processo contínuo de pensar-querer-fazer a educação em dado momento e contexto humano-social. Processo que envolve a ação-reflexão-ação sobre o ensinar-e-aprender. Inicia com discussões para se ter clareza do que a Instituição pretende. A partir daí, vai abordando várias dimensões: a formação do profissional e ser humano que deseja (Projeto-Político-Pedagógico do Curso); a do conhecimento produzido em construção coletiva e socializada (plano de ensino) e a concretização das dimensões anteriores em sala de aula, na relação professor-aluno (plano de aula); entre essas dimensões, a articulação garante a ‘mão dupla’ de planejar, realizar, avaliar e replanejar. A fim de saber mais, acesse o endereço <http://www.pgojulioteodorico.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/ conteudo.php?conteudo=18> . A citada escola localiza-se no município de Ponta Grossa, no Estado do Paraná. pela Usuario Realce U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 40 UNIDADE 2 Para que a escola pudesse disponibilizar na Internet seu projeto político-pedagógico, foram necessárias reuniões de estudo e planejamento, ou seja, as ações cooperativas para definir metas em conjunto. A este respeito, Althaus et al. (2004, p.7) assinala: Assim, a partir da citação, organizamos o seguinte diagrama para apresentar a rede de ações em que estamos envolvidos no contexto escolar. Planejamos quando: Entendemos que um planejamento discutido cooperativamente permite conhecer as ações desenvolvidas pelos professores. O ato de compartilhar constitui um processo que contribui para que a escola se consolide como espaço de reflexão. O processo de elaboração do planejamento, no início do ano, em reuniões ou durante as horas- atividade, pode, a nosso ver, mobilizar as ações que serão desencadeadas. Porém, precisa constantemente de retroalimentação, além de articulações com outros níveis do planejamento: educacional, curricular, de ensino (anual, de unidade e de aulas). O que significa planejar na prática dos que ensinam? Li ce n ci a tu ra s 41 UNIDADE 2 Na tentativa de responder a essa pergunta, apresentaremos relatos extraídos de pesquisas desenvolvidas (ALThAUS, 2004; zANON, 2004) com professores atuantes em escola pública. Conforme você já estudou no início deste texto, o ensino contempla fases (pré-ativa, interativa e pós-ativa) que, embora relacionadas, possuem funções distintas. Asatividades e tarefas planejadas na fase pré-ativa atuam como roteiros, planos ou rotinas para a ação didática do professor, conduzindo o ensino (na fase interativa). No cotidiano escolar, professores consultam, utilizam as rotinas e planos como apoio e constante possibilidade de registro e avaliação das práticas desenvolvidas. Ao ensinar seus alunos (ShAVELSON; STErN, 1981), os professores buscam, então, indicadores sobre os planos elaborados, pois a interação docente-discente, por ser não linear, requer constantes tomadas de decisões. Exemplificando: quando o professor percebe que há alunos que não compreenderam o que foi proposto, é preciso tomar decisões: Continuar com o plano previsto? replanejar a situação didática? Utilizar recursos que oportunizaram um resultado positivo em situações similares? O trabalho docente deve estar vinculado ao PPP, caso contrário, não há razão para o mesmo existir, levando-se em consideração que o professor também é construtor do projeto [...] A supervisão deve dar suporte ao planejamento e ação, com reuniões, propostas de trabalho e de projetos. (ZANON, 2004, p. 115; 141). Planejo em casa e também na hora da aula. (ALTHAUS, 2004, p. 5). Por que elaborar planos? Porque ao praticarem a escrita constroem a própria docência. Porque desejam compor uma outra maquinaria, um outro dispositivo pelos quais seja possível ver e dizer outras coisas, outros saberes. (CHIQUITO, 2007, p. 123). Reveja o quadro apresentado anteriormente, que trata das dimensões do planejamento, especialmente no que se refere ao planejamento didático ou de ensino. Usuario Realce U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 42 UNIDADE 2 Como você percebeu através das atividades já desenvolvidas, o planejamento didático ou de ensino é organizado nas escolas contemplando, comumente, as seguintes modalidades: a) Plano de Curso b) Plano de Unidade c) Plano de Aula d) Projetos UMA IDEIA IMPOrTANTE QUE é PrECISO GUArDAr! a) Plano de Curso Penteado (2002, p.79) afirma: Assim compreendido, o Plano de Curso, enquanto roteiro organizado das unidades didáticas para o trabalho pedagógico de uma disciplina (para um ano ou semestre), tem como premissa os objetivos dos alunos em relação ao que será estudado. Isto não significa dizer que o professor não apresenta objetivos* previamente organizados para o período que abrange o Plano de Curso. Ao contrário, “é papel específico do professor convencer os seus alunos da importância dos objetivos propostos, posto que é ele quem conhece a matéria [...] Porém, convencer significa adesão e não imposição”. (Idem, p. 73). Planejar supõe coisas diferentes para diferentes professores e equipes. Em lugar de pretender a homogeneização nos instrumentos que se utilizam, convém progredir no caráter inteligente do planejamento, como uma previsão que permite identificar as intenções educativas e os meios para alcançá-las. (BASSEDAS, 1999, p.127). Tomar, observar os objetivos do aluno, enquanto objetivo do curso, é imprescindível, por razões de ordem psicológica, pedagógica, epistemológica e social. Avançar para além deles, aliás, só é possível a partir deles. Tomá-los como ponto de partida é imprescindível. * Nas próximas seções, você estudará especificamente o conteúdo dos objetivos. Usuario Realce Li ce n ci a tu ra s 43 UNIDADE 2 As escolas (ou instituições) organizam-se de diferentes maneiras (roteiros diferenciados) com práticas também diferenciadas. Via de regra, os aspectos presentes na organização de um Plano de Curso são: a) Dados: disciplina / série / número de aulas b) justificativa da disciplina c) Objetivos gerais d) Conteúdos (organizados em unidades didáticas) e) Encaminhamento metodológico f) Avaliação g) Bibliografia As redes de ensino (nos diversos Estados da Federação), têm autonomia para definir as formas de organização de seus planos, diferenciando as nomenclaturas. No Estado do Paraná, por exemplo, a rede pública estadual de ensino adota a denominação Plano de Trabalho Docente que corresponde, em sua estrutura, ao plano de curso. Observe, no quadro abaixo, as orientações extraídas do endereço <http://www.pedagogia.seed. pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=23>, para que você perceba a estrutura didático- pedagógica de um Plano de Trabalho Docente: Inicialmente, as orientações da SEED/Pr indicam como dimensão legal para a organização do plano de trabalho docente o teor do Artigo 13, II e IV da LDB, justificando o termo Plano de Trabalho Docente. já na dimensão conceitual do plano, registram-se os seguintes aspectos: - é um documento que registra o que se pensa fazer, como fazer, quando fazer, com que fazer e com quem fazer. - Plano é a formalização dos diferentes momentos do processo de planejamento. - Implica no registro escrito e sistematizado do planejamento do professor. - Antecipa a ação do professor, organizando o tempo e o material de forma adequada. - Permite uma avaliação do processo de ensino e aprendizagem. - Possibilita compreender a concepção de ensino e aprendizagem e avaliação do professor. - Orienta /direciona o trabalho do professor. - requer conhecimento prévio da Proposta Pedagógica Curricular. - Pressupõe a reflexão sistemática da prática educativa. U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 44 UNIDADE 2 A seguir, estruturamos um roteiro de Plano de Trabalho Docente, pautado nas orientações que você observou no quadro anterior. b) Plano de Unidade Consiste na organização curricular dos conteúdos em unidades didáticas (para o ano letivo, semestre ou período em que se pretende trabalhar com a disciplina). Para tal, é imprescindível o estudo do Planejamento Curricular da Escola, além da articulação com o Plano de Curso (já explicado anteriormente) e os Planos de Aulas (pois uma unidade contempla um número específico de aulas). Uma unidade didática caracteriza-se por ser uma organização dos conteúdos por temas afins, com objetivos que se relacionam e que são mais específicos do que os objetivos previstos no Plano de Curso. c) Plano de Aula Considero que um projeto de organização didática da aula significativa, que ultrapasse a concepção mecanicista de planejamento de ensino, é resultante de Li ce n ci a tu ra s 45 UNIDADE 2 um processo integrador entre a instituição educativa e o contexto social, efetivado de forma colaborativa pelos professores e seus alunos. A aula, lugar privilegiado da vida pedagógica, refere-se às dimensões do processo didático – ensinar, aprender, pesquisar e avaliar – preparado e organizado pelo professor e seus alunos. (VEIGA, 2008, p. 267). Antes de discutirmos a organização didática da aula, leia atentamente o que Araújo (2008, p. 60; 62) estabelece sobre ela: é feita de prévias e planejadas escolhas de caminhos, que são diversos do ponto de vista dos métodos e técnicas de ensino; também se constrói, em sua operacionalização, por percalços, que implicam correções de rota na ordem didática, bem como mudanças de rumo; também está sujeita a improvisos, porque ocorrem situações imprevistas, mas não pode constituir-se por improvisações. Como você percebeu, a aula, mesmo sendo planejada antecipadamente, é replanejada, feita e refeita com alunos (fErNANDES, 2008, p. 161), é sempre movimento com recuos, contradições e seus recomeços. Ao mesmo tempo que o professor dirige o processo didático, também compartilha com seus alunos a responsabilidade da boa aula, negociando coletivamente, estabelecendo critérios definidos para as atividades e avaliações previstas. Veja agora o que Araújo (2008) aponta sobre o planejamento das aulas e sua relação com outros níveis/dimensões de planejamento de ensino: Veiga (2006) apresenta os elementos estruturantes da organização didática da aula, os quais envolvem alguns questionamentos entre professores e alunos: A aula exprime a operacionalizaçãode um curso, que se traduz em disciplinas escolares, que se desenham por um conjunto de aulas, que não podem ser compreendidas como se fossem ilhas à margem do currículo ou dele isoladas. E para isso tudo, o planejamento é inerente. Usuario Realce U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 46 UNIDADE 2 Assim compreendido, o esboço ou o roteiro de um plano de aula poderia contemplar, em sua organização, a seguinte visualização didática. (fArIAS, 2009, p. 126): Dados de identificação do plano de aula Instituição Disciplina Professor(a) Série/Ano/Ciclo Tempo de duração Data Os elementos constitutivos do plano Objetivos geral e específicos1. - Conteúdo programático e seu detalhamento em tema central e subtemas - Desenvolvimento metodológico da aula com explicitação das estratégias adequadas aos momentos de iniciação, aprofundamento e síntese/culminância - recursos didáticos - Critérios e instrumentos de avaliação da aprendizagem - referências bibliográficas 1 Os objetivos são as expectativas de aprendizagem para os alunos. Trataremos mais adiante das questões didáticas que envolvem o delineamento dos objetivos. E Li ce n ci a tu ra s 47 UNIDADE 2 Também é importante observar, segundo a autora, a redação do plano de aula: objetividade (texto sucinto e preciso), clareza das idéias e correção do texto. d) Projetos O tema projetos tem levantado inúmeros questionamentos entre os professores. Muitas escolas adotam, em suas propostas pedagógicas: Pedagogia de projetos, Projetos didáticos, Metodologia de projetos. O que será que caracteriza o trabalho didático-pedagógico desenvolvido através de projetos? Projetos: de onde vem esta expressão? Muitos são os teóricos que desencadearam as concepções que hoje conhecemos por projetos, no contexto escolar. Pesquisadores identificam desde clássicos da educação até pesquisadores que hoje se dedicam a este estudo. Leia atentamente as citações abaixo: Ao desenvolver uma pesquisa sobre a Pedagogia de Projetos com professores e alunos das séries iniciais do ensino fundamental, Girotto (2005, p. 2), professora do Departamento de Didática da faculdade de filosofia e Ciências (UNESP – Campus de Marília), explicita que: Segundo Michel Huber (1999), a pedagogia de projetos dos alunos começa a se delinear na obra de Jean-Jacques Rousseau, quando ele deseja que seu personagem Emile aprenda não através dos livros, mas através das coisas, tudo aquilo que é preciso saber, sugerindo que uma hora de trabalho valha mais que um dia de explicações. Ainda segundo Huber, a estruturação do conceito de projeto passa também por Karl Marx e a importância da praxis sublinhada por este autor, pelos mentores da escola ativa alemã, como Kerchensteiner, pelo filósofo e psicólogo americano John Dewey, pelo educador francês Celestin Freinet, pelos pesquisadores Henri Wallon e Jean Piaget, até chegar ao educador brasileiro Paulo Freire que deu uma dimensão de emancipação social ao aprendizado. (VENTURA, 2002, p.1). A expressão Pedagogia de Projetos pertence ao conjunto de elaborações teóricas difundidas, principalmente, pela francesa Josette Jolibert e seus colaboradores, engajados ao Instituto Nacional de Pesquisas Pedagógicas da França (INRP), e por Fernando Hernández, pesquisador espanhol da Universidade de Barcelona, ambos referenciados constantemente pelos pesquisadores da área da prática de ensino do Ensino Fundamental [...] A hipótese básica, norteadora da pesquisa, é a de que o processo ensino-aprendizagem, a partir dessa via metodológica alternativa, poderia corroborar e superar o processo de ensinar e aprender fragmentado, disciplinar, descontextualizado, U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 48 UNIDADE 2 unilateral, direcionador que se constata na maioria das escolas. Defendemos a tese de que a apropriação dessa perspectiva dos projetos, nas reformas educacionais dos governos neoliberais, como também a propagação indevida dessa via metodológica, por secretários da educação, dirigentes da educação, diretores de escola, supervisores, coordenadores pedagógicos, professores, estagiários, enfim, por todos os envolvidos no processo, tem transformado o seu conceito em um mero termo, ‘expressão de moda’, à medida que a despe de sua potencial dimensão político-pedagógica. A argumentação apresentada por hernández a respeito da organização do Currículo por projetos de trabalho fundamenta-se Nadal e ribas (2005, p. 66) destacam o quadro de cognição, que contempla o estabelecimento das seguintes questões, que devem ser respondidas por professores e alunos, ao planejarem o projeto: Estes questionamentos compõem a organização didática do projeto, que é planejado cooperativamente, envolvendo os alunos nas decisões e atividades propostas. Os projetos, enquanto unidades de trabalho, ou conjuntos de situações didáticas que permitem aos educandos a aproximação aos conteúdos curriculares, podem ter duração diferenciada, ou seja, podem [...] em algumas das concepções atuais sobre o aprender, sobretudo daquelas que tendem a favorecer a criação de contextos de ensino que, partindo dos níveis de desenvolvimento dos alunos, lhes apresente situações de aprendizagem caracterizadas por sua significatividade e funcionalidade, de maneira que cada estudante possa ‘aprender a aprender’. Li ce n ci a tu ra s 49 UNIDADE 2 durar dias, semanas, meses, bimestres, etc. Tudo depende da situação em que o projeto é desencadeado. A definição do tema do projeto é essencial para que ele se torne significativo, além de garantir a atuação dos alunos como sujeitos e responsáveis pelas suas aprendizagens. Assim sendo, é importante que o projeto responda às necessidades, interesses e possibilidades dos professores e alunos. Lembre-se: quando os alunos respondem por suas escolhas, tornam- se responsáveis! Veja a seguir o quadro que indica as possibilidades de organização de projetos, pelos seus atores... . Na seção 4 você acompanhará as discussões sobre objetivos educacionais e de ensino. Vamos lá! SEçãO 4 OBJETIVOS: SuA IMpORTÂNcIA E AS pROpOSIçõES pARA O TRABALhO pEdAgógIcO EScOLAR Gil (2008, p.123,124), ao discutir sobre as vantagens e limitações na formulação de objetivos, aponta que existem argumentos favoráveis e desfavoráveis com relação a esta produção. Observe no quadro alguns argumentos que o autor nos apresenta: Usuario Realce Usuario Realce Li ce n ci a tu ra s U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 50 UNIDADE 4 51 UNIDADE 4 Li ce n ci a tu ra s U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 50 UNIDADE 4 51 UNIDADE 4 Li ce n ci a tu ra s U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 50 UNIDADE 4 51 UNIDADE 4 Li ce n ci a tu ra s U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 50 UNIDADE 4 51 UNIDADE 4 Agora que você conheceu diferentes posturas em relação aos objetivos de ensino, é importante saber a diversidade de pontos de vista sobre o assunto. Diversos pesquisadores (MAGEr; BLOOM; GAGNé) estabeleceram categorias para a elaboração de objetivos, que adotamos até os dias atuais em nossas práticas. Principalmente na década de 70, observamos a presença de trabalhos como os de Mager – Medindo objetivos de ensino (1977), - ou de Bloom – Taxionomia dos objetivos educacionais. (PENTEADO, 2002; GIL, 2008). Benjamin Bloom é certamente o autor mais citado nos trabalhos referentes à formulação de objetivos educacionais. Sua principal contribuição ao estudo deste tema é a taxionomia dos objetivos educacionais, cujos trabalhos se iniciaram em 1948, durante a convenção da Associação Americana de Psicologia, em que se discutiu a conveniência do estabelecimento de um quadro teórico de referência que facilitasse a comunicação entre examinadores. Os planos originais previam uma taxionomia completa em três grandes partes:
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