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Vitória Farias SÍNDROMES ICTÉRICAS ANATOMIA, HISTOLOGIA, METABOLISMO DA BILIRRUBINA, COLESTÁTICAS E NÃO COLESTÁTICAS Anatomia e histologia do pâncreas Anatomia e histologia do fígado e vesícula biliar Corpo Cabeça Cauda o Glândula retroperitoneal 12-15x2,5cm o Posterior à curvatura maior do estômago o Se comunica com o intestino por 2 ductos: → Acessório = ducto de Santorini → Pancreático = ducto de Wirsung. Ampola hepatopancreática ou ampola de Vater → A ampola se abre em uma elevação da túnica mucosa duodenal conhecida como papila maior do duodeno, que se situa aproximadamente 10 cm inferior ao óstio pilórico do estômago. A passagem do suco pancreático e biliar por meio da ampola hepatopancreática para o duodeno do intestino delgado é regulada por massa de músculo liso que circunda a ampola conhecida como músculo esfíncter da ampola hepatopancreática ou esfíncter de Oddi. o Histologicamente: Possui aglomerados de células epiteliais glandulares, das quais: → 99% = ÁCINOS = Porção exócrina = Secretam líquidos e enzimas digestivas = SUCO PANCREÁTICO. → 1% = ILHOTAS PANCREÁTICAS ou DE LANGERHANS = Porção endócrina: Glucagon + insulina + somatostatina + polipeptídio pancreático SUCO PANCREÁTICO Líquido claro, incolor, formado por água, sais, bicarbonato de sódio, enzimas. o HCO3-: Dá pH alcalino, tampona o suco gástrico ácido no quimo, interrompe ação da pepsina do estômago e cria pH adequado para ação das enzimas digestórias no intestino delgado. o Amilase pancreática o Tripsinogênio (forma inativa) é ativado pela enteroquinase presente na borda em escova do intestino e forma a tripsina (forma ativa), a qual ativa as outras enzimas o Quimotripsina, carboxipeptidase, elastase o Lipase pancreática: Principal p/ triglicerídeos. o Ribonuclease, desoxirribonuclease o Inibidor de tripsina: Se liga à tripsina formada acidentalmente para evitar digerir as próprias cél. o Glândula mais pesada do corpo o 2º maior em tamanho o Inferior ao diafragma, ocupa maior parte do HD e parte da região epigástrica o Tem 2 lobos: hepático direito (maior) e o hepático esquerdo (menor) o Hepatócitos: Principais células funcionais, com funções metabólicas, secretoras e endócrinas. 80% do volume do fígado. Formam lâminas hepáticas → placas de hepatócitos limitadas por espaços vasculares revestidos por células endoteliais = sinusoides hepáticos. Os sulcos nas membranas celulares entre hepatócitos vizinhos fornecem espaços para os canalículos, por onde é secretada a bile. o Saco em forma de pera, com 7-10cm o Fica na depressão da face posterior do fígado, pendendo da margem inferior anterior. o Canalículos de bile: São pequenos ductos entre os hepatócitos que coletam a bile produzida pelos hepatócitos. A bile passa dos canalículos para os dúctulos biliares e, em seguida, para os ductos biliares, os quais se unem formando os ductos hepáticos esquerdo e direito que formam o ducto hepático comum, o qual se junta ao ducto cístico da vesícula biliar e formam o ducto colédoco que é por onde a bile chega ao duodeno. o Sinusoides hepáticos: São capilares sanguíneos altamente permeáveis entre fileiras de hepatócitos que recebem sangue oxigenado de ramos da artéria hepática e sangue venoso rico em nutrientes de ramos da veia porta do fígado. Os sinusoides hepáticos convergem e entregam o sangue a uma veia central. A partir das veias centrais, o sangue flui para as veias hepáticas, que drenam para a veia cava inferior. Em contraste com o sangue, que flui em direção à veia central, a bile flui na direção oposta. Nos sinusoides hepáticos também estão presentes fagócitos fixos chamados células estreladas do fígado, que destroem eritrócitos e leucócitos envelhecidos, bactérias e outros materiais estranhos do sangue venoso que drena do canal alimentar. Juntos, o ducto biliar, um ramo da artéria hepática e um ramo da veia hepática são chamados tríade portal. Vitória Farias Metabolismo da bilirrubina As hemácias têm uma meia-vida de ± 90-120 dias, logo, quando envelhecem, passam pelo processo de degradação no baço, chamado: hemocaterese. As hemácias são degradas por macrófagos e o ferro contido na hemoglobina é reciclado de volta ao organismo. Durante a degradação da porção heme da hemoglobina, há: A bilirrubina direta produzida é armazenada na vesícula biliar, onde a partir daí é excretada pelo ducto cístico. Do ducto cístico vai para o ducto colédoco até chegar na ampola de Vater (junção do ducto pancreático principal com o colédoco). Uma vez no intestino, ao nível do íleo terminal e cólon, a bilirrubina sofre degradação pela ação da flora bacteriana local, transformando-se principalmente em urobilinogênio, cuja maior parte é reabsorvida pela mucosa intestinal, ganha a circulação êntero-hepática e retorna ao fígado, enquanto pequena fração é eliminada juntamente com as fezes. Exames diagnósticas Clinicamente, a colestase caracteriza-se classicamente pela TRÍADE: icterícia, colúria e hipocolia ou acolia fecal. Porém, a presença da icterícia não é uma condição obrigatória para o seu diagnóstico, sendo, muitas vezes, diagnosticada somente pela elevação de enzimas hepáticas canaliculares: fosfatase alcalina (FA) acima de 1,5 x limite superior da normalidade (LSN) e gama-glutamil transferase (GGT), acima de 3 x LSN e elevação sérica de sais biliares. A colestase é considerada crônica quando está presente há mais de seis meses. Diante de um quadro colestático, devemos diferenciar se a causa é extra ou intra-hepática. Uma anamnese detalhada deve incluir a pesquisa de antecedentes cirúrgicos e doenças extra-hepáticas associadas e histórico de doenças colestáticas em familiares, além do uso de medicações até seis semanas antes do início do quadro. 1. A USG abdominal é o primeiro passo a seguir na escala de investigação diagnóstica, para identificar ou excluir dilatação de vias biliares, presença de litíase coledociana ou textura e existência de lesões expansivas do parênquima hepático, vesícula biliar ou ampola de Vater. 2. A tomografia computadorizada, por sua vez, é a segunda opção à USG e permite definir com maior precisão lesões parenquimatosas presentes no fígado, vesícula biliar e pâncreas. 3. Colangiografia por ressonância magnética (CRM) é uma opção segura e de maior sensibilidade para avaliar a árvore biliar. É um método não invasivo, fornece imagens similares às obtidas pela colangiografia endoscópica retrógrada ou transparieto-hepática, sem que seja necessário uso de contraste oral ou intravenoso. Revela elevada acurácia na detecção de dilatação biliar ductal, com sensibilidade de diagnóstico de coledocolitíase variando entre 71 e 100%. Tem importância na identificação de estenoses não inflamatórias do dueto biliar comum, colelitíase, tumores pequenos do pâncreas, colangiocarcinoma, ampulites, tumores de papila de Vater, estenoses inflamatórias de colédoco terminal, além de esclarecer a situação precisa da árvore biliar intra-hepática na colangite esclerosante primária ou doença de Caroli 4. A ecoendoscopia é uma opção alternativa à CRM para avaliação de obstrução distal das vias biliares. É útil no diagnóstico e estadiamento de tumores de colédoco e na detecção de pequenos tumores dos canais biliares, pâncreas e da papila de Vater. 5. Nos casos duvidosos, ou nos quais um procedimento é necessário para desobstrução da via biliar, a colangiografia retrógrada endoscópica, CRE, pode ser necessária. É realizada através da injeção de contraste na via biliar após cateterização da papila de Vater por via endoscópica. Tem indicação no diagnóstico diferencial da colestase, da dor abdominal alta de origem desconhecida, da síndrome pós-colecistectomia e no estudo das pancreatites agudas e crônicas.Sua indicação torna-se cada vez menor, suplantada pela acurácia e ausência de invasividade da CRM. Mostra-se, no entanto, útil para tomada de atitudes terapêuticas como papilotomia, retirada de cálculos na coledocolitíase, implante de dreno nasobiliar ou de próteses metálicas autoexpansíveis. 6. Se os métodos de imagem não mostrarem dilatação de vias biliares, compatível com CEH, causas intra-hepáticas devem ser pesquisadas. • Conversão do heme em biliverdina Ação da hemeoxigenase • Formação da bilirrubina indireta: BI ou não conjugada • BI: muito lipossolúvel = ligação à albumina = circulação sanguínea Ação da biliverdina redutase • Glucoronidação : Formação da bilirrubina direta (BD) ou conjugada (hidrossolúvel) Ação da glucoronil transferase no fígado Vitória Farias SÍNDROMES ICTÉRICAS NÃO COLESTÁTICAS → NÃO COLESTÁTICAS são causadas pela maior oferta de bilirrubina ao fígado, por deficiência de captação pelo hepatócito, ou por defeito no seu transporte extracelular e/ou na conjugação, caracterizando-se por hiperbilirrubinemia indireta. De forma inversa, quando ocorre por déficit na excreção hepatocitária, existe predomínio da bilirrubina direta. ➢ Diminuição da capacidade de conjugação da bilirrubina, como na icterícia neonatal (a partir de 20 mg/dL, a impregnação da bilirrubina lipossolúvel no cérebro pode ocasionar alterações neurológicas; em seu estágio mais grave, a encefalopatia bilirrubínica (kernicterus), os danos são irreversíveis ou letais. ➢ As síndromes de Gilbert e de Crigler-Najjar tipos 1 (nula) e 2 (10%) são formas hereditárias de icterícia por bilirrubina indireta, que resultam de diferentes mutações no gene UGT1A1, levando à diminuição da enzima UDP-glicuroniltransferase que faz a conjugação hepática. A Crigler-Najjar tipo 1 é autossômica recessiva e a tipo 2 e a síndrome de Gilbert são dominantes. ➢ Das causas secundárias, destacam-se a inibição parcial da UGT1A1 por medicamentos, como pregnanediol, novobiocina, cloranfenicol, gentamicina, inibidores da protease do HIV, benzoato de estradiol e rifampicina. Na prescrição de tais drogas, os médicos devem atentar aos portadores de síndrome de Gilbert, que estão mais suscetíveis à hiperbilirrubinemia acentuada nessas condições. ➢ Algumas doenças metabólicas traduzem-se por hiperbilirrubinemia à custa da elevação da fração conjugada, tal como ocorre nas síndromes de Dubbin-Johnson e Rotor. Apesar desse comportamento bioquímico, não são consideradas como colestáticas, pois, caracteristicamente, são normais os níveis séricos de fosfatase alcalina e gamaglutamiltransferase ➢ Nas síndromes não colestáticas, os pacientes podem ser assintomáticos, apenas apresentando leve icterícia em algum momento da vida, como na maioria dos defeitos hereditários e nas causas metabólicas. No entanto, podem apresentar quadros gravíssimos, com acometimento neurológico (kernicterus), consequente à impregnação dos núcleos de base, e morte neonatal, como na síndrome de Crigler- Najjar tipo I e na beta-talassemia grave, traduzida pela hidropisia fetal, causando elevados índices de mortalidade nos recém-natos. Não cursam com colúria, acolia fecal ou prurido. A hepatomegalia em geral é observada nos quadros hemolíticos, nos quais, Síndromes ictéricas não colestáticas produção de bilirrubinas HEMÓLISE: Anemias hemolíticas, autoimune, talassemia, falciforme, malária captação de bilirrubina Drogas competitivas com a albumina (rifampicina, contrastes) transporte da bilirrubina Deficiências nutricionais: Hipoalbuminemia ICC, choque, hipóxia, desidratação, nutrição parenteral prolongada conjugação: Icterícia neonatal - Saturação dos hepatócitos Doenças genéticas Síndromes de Gilbert e de Crigler-Najjar tipos 1 e 2 Síndromes de Dubbin-Johnson e Rotor = excreção de bilirrubina Não colestática = pré-hepático ou intra-hepático. Vitória Farias caracteristicamente, os doentes também podem exibir úlceras maleolares, cálculos biliares, dores articulares, deformidades ósseas e anemia. SÍNDROMES ICTÉRICAS COLESTÁTICAS → COLESTÁTICAS, por sua vez, consiste em uma alteração da formação e excreção da bile, alteração que pode estar localizada desde o hepatócito até a ampola de Vater. Compreende a grande maioria das síndromes ictéricas, e há importância na realização precoce do diagnóstico etiológico e introdução da terapêutica adequada. A colestase é classificada em intra-hepática e extra-hepática. → Colestase intra-hepática: Ocorre um desequilíbrio entre os gradientes osmóticos que participam do processo de secreção biliar, levando à alteração na fluidez da membrana plasmática, redução da atividade da Na+, K+-ATPase, com consequente aumento de síntese das enzimas aí localizadas, tais como fosfatase alcalina, gamaglutarniltransferase e 5-nucleotidase. Em geral, relaciona-se com ALTERAÇÃO NOS SISTEMAS DE TRANSPORTE E SECREÇÃO DA BILE PELOS HEPATÓCITOS OU COM UM PROCESSO OBSTRUTIVO DAS VIAS BILIARES INTRA-HEPÁTICAS. → Colestase extra-hepática (CEH): Significa obstrução mecânica ao fluxo normal da bile, localizada em algum ponto entre a emergência do ducto hepático comum e a ampola de Vater. Pode originar-se na própria árvore biliar ou ser extrínseca a ela, ter caráter benigno ou maligno, instalação aguda ou crônica, como se observa nos casos de tumores ou estenose benigna de colédoco, ou, ainda, ser transitória, a exemplo do que ocorre nos casos de migração de cálculos. Síndromes ictéricas colestáticas Colestases intra-hepáticas Recorrente benigna Familiar progressiva Cirrose biliar primária Colangite esclerosante primária S/ lesão hepatocitária: Gravidez Período pós-operatório Drogas, álcool, medicações Ex.: acetaminofeno, penicilina, ACO, estrógenos, anabolizantes, clorpromazina Infecções parasitárias Hepatite viral/autoimune Amiloidose, Linfoma Sarcoidose, Tuberculose Tumor primário e metastáses Colelitíase Coledocolitíase Tumores de vias biliares ou compressão por tumores extrínsecos, como de cabeça de pâncreas Extra-hepáticas congênitas Colangite esclerosante primária Cistos de colédoco Atresia das vias biliares Colangiopatia por AIDS Estenoses pós-cirúrgicas Pancreatite aguda e crônica Vitória Farias ▪ Tríade de Charcot: Dor abdominal + febre + icterícia → Muito comum em COLANGITE! ▪ Síndrome de Mirizzi: É uma complicação da colecistite, provocada pela obstrução do ducto hepático comum ou do colédoco. Essa obstrução pode ser causada tanto por compressão extrínseca quanto por processo inflamatório no ducto, ambos gerados pela impactação de cálculos presentes no infundíbulo vesicular ou no ducto cístico. Quadro clínico = Tríade de Charcot. Podem estar presentes também queixas de náuseas, vômitos, colúria, acolia fecal, prurido, hepatomegalia e, menos frequentemente, perda ponderal. Tem que fazer USG, TC ou CPRM. Nos exames laboratoriais, há aumento da bilirrubina às custas da fração direta e o aumento da fosfatase alcalina, indicando colestase. As icterícias por hiperbilirrubinemia indireta ocorrem quando essa fração atinge níveis superiores a 1,2 mg/dL, e corresponde a mais de 80% das bilirrubinas totais. As causas mais comuns de hiperbilirrubinemia indireta são aumento da produção de bilirrubina, síndrome de Gilbert e icterícia neonatal. Icterícias por hiperbilirrubinemia direta ou mista sinalizam a existência de disfunção hepatobiliar, que pode ser aguda ou crônica. Mais raramente, podem decorrer de distúrbios isolados do metabolismo da bilirrubina, sem repercussão em outros aspectos das funções do fígado. As hepatopatias, associadas às hiperbilirrubinemias diretas ou mistas, podem ser hepatocelulares (que resultam de inflamação e necrose lobular) ou colestases (cujas características centraissão a inibição do fluxo biliar e a retenção de ácidos biliares tóxicos). Nas obstruções das vias biliares, a hiperbilirrubinemia é mista. As bilirrubinas podem sofrer glicuronidação reversa e difusão ou transporte de volta para o plasma por meio de uma ATPase MRP. Elevados níveis de bilirrubina direta e fosfatase alcalina sugerem (mas não definem) obstrução do fluxo biliar. O diagnóstico diferencial das obstruções de vias biliares depende da idade do paciente. Nos adultos, inclui colelitíase, tumores intrínsecos e extrínsecos, colangite esclerosante primária, infecções parasitárias, linfoma, colangiopatia da aids, pancreatite aguda e crônica e estenoses pós- cirúrgicas. Nas crianças, cistos coledocianos e colelitíases são mais frequentes, e também podem ocorrer compressões extrínsecas por tumores. Na pancreatite aguda, ou na forma crônica exacerbada, a icterícia decorre de compressão extrínseca da via biliar por edema e/ou pela formação de pseudocistos volumosos. Neoplasias pancreáticas também podem comprimir a via biliar comum, impedindo a drenagem da bile para os intestinos. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Suspeita-se clinicamente de colestase na presença de icterícia, hipocolia/acolia fecal e prurido, associados à elevação dos níveis séricos de fosfatase alcalina, gamaglutarniltransferase e 5- nucleotidase, em desproporção com os níveis séricos das aminotransferases. Paralelamente, elevam-se os valores da fração conjugada da bilirrubina, mais acentuados nas formas crônicas. A colestase pode ser de instalação abrupta ou insidiosa e, quando associada a dor, febre, calafrio, perda ponderal e idade avançada, sugere neoplasia maligna. A dor praticamente inexiste na colestase intra-hepática. Quando está presente, é do tipo surda, em peso e constante. É mais comum na colestase extra-hepática, dor tipo cólica, localizada preferencialmente em hipocôndrio direito, podendo irradiar-se para dorso e ombro direitos e epigástrio, como ocorre na colelitíase, coledocolitíase e nas doenças pancreáticas. Quando se associa a febre e calafrio, caracterizando a tríade de Charcot, é sinal patognomônico de colangite. A hepatomegalia é mais frequente na colestase extra-hepática, sendo o fígado de consistência endurecida à palpação e, por vezes, doloroso, sobretudo na coexistência de colangite e abscessos. A vesícula palpável, distendida e tensa, pode significar tumor da região periampolar, sinal clássico de Courvoisier-Terrier, consequência de uma vesícula hidrópica, devido a cálculo impactado no seu infundíbulo ou síndrome de Mirizzi EXAMES LABORATORIAIS → As icterícias não colestáticas traduzem-se, em geral, por hiperbilirrubinemia indireta, exceção feita às síndromes de Dubbin- Johnson e Rotor. Quando está associada a anemia, reticulocitose, fragilidade eritrocitária, aumento do ferro sérico, da concentração da fração 2 da desidrogenase láctica, elevada contagem de reticulócitos e baixa dos valores de haptoglobina, traduz ocorrência de doença hemolítica. → Nas icterícias colestáticas, há hiperbilirrubinemia à custa da fração conjugada, e esta é acompanhada de aumento dos níveis séricos das enzimas canaliculares, fosfatase alcalina, gamaglutamiltransferase e 5- nucleotidase. Na presença de lesão hepatocelular, há: 1. Elevação das aminotransferases (TGO e TGP) 2. Diminuição da atividade de protrombina 3. Hipoalbuminemia. → A leucocitose é frequente nas colangites e neoplasias. O colesterol sérico total está elevado nas colestases extra-hepáticas e diminuído nas icterícias hemolíticas. Vitória Farias PANCREATITE O principal sintoma da PA é dor, independentemente da etiologia do quadro pancreático, pois ocorrem inflamação e edema da glândula, o que gera ativação direta dos receptores da dor em resposta à lesão tecidual. A dor típica da PA é intensa, insuportável, de início súbito, incessante. Em geral, apresenta caráter contínuo pelo edema do órgão e pela hemorragia, que resultam no estiramento do peritônio que envolve a glândula ou em peritonite. Pode ser também em cólica, intermitente, seja pela possibilidade da presença de distensão abdominal e intestinal ou íleo paralítico, seja pela presença de obstrução do ducto biliar comum por cálculo. A localização usual da dor é na região do epigástrio e pode se manifestar no quadrante superior direito do abdome e se irradiar para o dorso na região dos flancos. Seu alívio ocorre na posição genupeitoral e há agravamento com posição supina e com esforço. Em 90% dos casos, a dor é acompanhada de náuseas e vômitos, possivelmente relacionados à intensidade da dor ou à inflamação da parede posterior do estômago. O exame físico desses pacientes varia conforme a gravidade do quadro. Na doença leve, revela desconforto abdominal à palpação do epigástrio e andar superior do abdome, em que pode ser notado “plastrão” inflamatório. Nas formas graves, há sinais de toxemia, abdome doloroso, distendido, com respiração superficial em virtude da irritação frênica pelo processo inflamatório, e evidências de irritação peritoneal. Outros sinais de gravidade incluem: hipotensão, taquicardia, febre e íleo paralítico. Hipotensão não é infrequente nessa situação. Alterações sensoriais podem ser notadas, caracterizando a chamada encefalopatia pancreática. Até 25% dos pacientes encontram-se ictéricos por causa de litíase biliar, seja por coledocolitíase com ou sem colangite aguda, seja pela passagem do cálculo biliar pela via biliar principal associada a edema da papila duodenal. Causas: A maioria das crises se relaciona a cálculos biliares ou alcoolismo. o Mecânicas: Cálculos biliares, lama biliar, ascaridíase, neoplasias pancreáticas, neoplasias periampulares (na ampola de Vater), disfunção no esfíncter de Oddi. o Tóxicas: Álcool (30% das pancreatites), metanol, veneno de escorpião, inseticida, organofosforados. o Metabólicas: Hipertrigliceridemia (os pacientes geralmente apresentam soro lipêmico em virtude de níveis de triglicérides plasmáticos maiores que 1.000 mg/dL, havendo claro predomínio de VLDL), hiperquilomicronemia, hipercalcemia. A hipertrigliceridemia pode ser causada por medicamentos, hipotireoidismo, DM, síndrome nefrótica, alcoolistas. o Infecções: Caxumba, varicela-zoster, HSV, HIV, Leptospira, mycoplasma, salmonella, toxoplasmose, hepatite B. o Iatrogenia: Pós-CPRE, pós-cirurgia. o Anormalidades congênitas: Coledococele tipo V. o Vasculares: Isquemia, vasculites (LES). o Miscelânea: Gravidez, traumas contusos, transplante renal, úlcera péptica perfurada, doença de Crohn, fibrose cística. Apesar de a litíase biliar ser a principal causa de pancreatite aguda, apenas 3 a 7% dos pacientes portadores de cálculos desenvolvem pancreatite aguda. Os principais fatores de risco para sua ocorrência são sexo masculino e cálculos menores que 5 mm. É relevante mencionar que a pancreatite biliar é mais comum em mulheres, pois a litíase é muito mais comum entre elas que entre homens. Fisiopatologia: Pancreatites agudas têm como evento inicial a ativação prematura do tripsinogênio no interior das células pancreáticas em quantidades suficientes para superar os mecanismos de defesa capazes de proteger o pâncreas da tripsina ativada. O resultado disso é a ativação seriada dos demais zimogênios e da fosfolipase A2, promovendo autodigestão do parênquima pancreático. Exames diagnósticos: O diagnóstico é feito a partir dos seguintes clínicos: dor abdominal persistente, forte, localizada em andar superior do abdome, com irradiação para dorso e associada a náuseas e vômitos + amilase/lipase 3x o limite superior de normalidade + achados tomográficos compatíveis com PA. o Outros achados laboratoriais podem ser: leucocitose, hiperbilirrubinemia, elevação das escórias nitrogenadas, elevação de FA, distúrbios de coagulação, hipocalcemia, hemoconcentração, altos níveis de PCR, proteinúria, hiperglicemia, hipertrigliceridemia. SE LIGA: Lipase é mais ESPECÍFICA queamilase, a qual, por sua vez, é mais sensível. 1. US mostra alguns sinais associados à PA. O seu papel reside no fato de determinar a presença de cálculos no interior da vesícula (sensibilidade elevada) e no interior do colédoco com acurácia inferior a 25%. No caso do raio-X, observa-se o sinal de “cut off” colônico, um sinal comum da pancreatite aguda, em que se observa um congestionamento do trânsito intestinal na altura da flexura esplênica. Vitória Farias 2. TC é o método primário por imagem em pacientes com PA. Se PA leve, a US em tempo real pode ser um excelente instrumento de rastreamento para o diagnóstico de cálculos biliares. Na PA moderada, a TC revela aumento difuso da glândula pancreática com limites imprecisos. Na severa, o foco principal é a necrose pancreática (necrose de áreas do parênquima ou de áreas da gordura adjacente). A TC e a RM são os melhores métodos de imagem para demonstrá-la, vista como área hipoatenuante que não realça após administração de meio de contraste endovenoso. 3. RM tem importante papel no diagnóstico precoce da PA e suas complicações. O uso combinado da RM à colangiopancreatografia por ressonância magnética (CPRM) permite a identificação de cálculos ou de outros problemas causadores do episódio de PA. 4. EE – Ecoendoscopia, além de auxiliar no diagnóstico, permite a identificação de complicações locais ou a distância, avaliando a gravidade do quadro e definindo a causa de alguns episódios de PA. Ela se apresenta como método de referência para o diagnóstico da litíase biliar, seja vesicular ou coledociana. Além de permitir boa visualização do pâncreas com imagens de alta definição, a EE tem a vantagem de ser móvel, e minimamente invasiva, não expondo o paciente à radiação ionizante ou ao contraste, podendo ser repetida. O seu papel na PA pode ser dividido em duas partes: no diagnóstico das alterações do parênquima encontradas na PA e para a investigação etiológica dos casos ditos “idiopáticos” (sem causa definida). 5. CPRE está formalmente indicada na vigência de episódios de PA biliar detectados por métodos de imagem como o US e a CPRM. Na deterioração do quadro clínico do paciente, na evidência de cálculos impactados, na presença de colestase extra-hepática e/ou na vigência de colangite ela é excelente método de tratamento e desobstrução da via biliar principal por meio da papilotomia endoscópica. A CPRE é considerada o exame padrão-ouro para o diagnóstico e o planejamento terapêutico em doentes com PC. Escalas de prognóstico: Foram desenvolvidos diversos escores prognósticos e identificados parâmetros clínicos e laboratoriais capazes de predizer a gravidade. o Escore de Ranson é o mais tradicional, mas tem como desvantagem principal a necessidade de pelo menos 48 horas de observação após a admissão para a definição do prognóstico. Uma pontuação ≥ 3 indica quadros graves. o Escore APACHE II avalia uma série de parâmetros clínicos e laboratoriais, sendo mais trabalhoso para ser calculado, mas permitindo a avaliação dos pacientes de forma mais rápida que o escore de Ranson, não sendo necessárias 48 horas. Na verdade, esse escore pode ser calculado várias vezes ao longo do dia para avaliar a resposta do paciente ao tratamento instituído. Escore APACHE II ≥ 8 sugere quadros graves. o Escore de Balthazar-Ranson baseia-se nos achados da tomografia de abdome para predizer gravidade, não considerando parâmetros clínicos ou laboratoriais. Pontuação total ≥ 6 indica quadros graves. Importante para o reconhecimento entre as formas pancreatite agudo intersticial e pancreatite aguda necrotizante. Tem maior precisão entre o 3º-5º dia. o Critérios de Marshall estabelecem pontuação >2 para determinar a falência de um órgão. o Classificação de Atlanta é importante para estratificar a pancreatite aguda em leve, moderadamente grave e grave. - Leve: ocorre na ausência de disfunção orgânica, sistêmica ou complicações locais. - Moderadamente grave envolve o surgimento de complicações sistêmicas e/ou locais associadas à disfunção orgânica transitória (duração < 24 horas). - Grave é classificada como aquela na qual há presença de disfunção orgânica persistente (com duração maior do que 48 horas), ou falência múltipla de órgãos. Idade avançada (≥ 55 anos), obesidade (IMC ≥ 30 kg/m2) e presença de disfunções orgânicas à admissão sem reversão por mais de 48 horas são parâmetros clínicos simples que sugerem quadros mais graves. Tratamento: 1) Avaliação dos sinais vitais (frequência cardíaca, pressão arterial, frequência respiratória, saturação periférica de oxigênio, temperatura e diurese) deve ser realizada de 4 em 4 horas nas primeiras 24 horas. Oxigênio suplementar deve ser fornecido se narcóticos forem SINAL DE CUT-OFF Vitória Farias administrados ou se houver queda da saturação de oxigênio. Gasometria arterial deve ser realizada se houver saturação de oxigênio ≤ 95%, se houver hipotensão ou alteração do parâmetro respiratório. 2) Começa a reposição volêmica precoce e agressiva, para manter estabilidade hemodinâmica, diurese > 0,5 a 1 mL/Kg/hora e normalização do hematócrito. De modo geral, nas primeiras 24 horas, infundem-se 30 a 40 mL/kg de cristaloides, sendo metade desse volume nas primeiras 6 horas de observação. 3) Analgésicos opioides por via venosa são preferíveis, pois a via subcutânea não é recomendada, sobretudo em pacientes com instabilidade hemodinâmica não revertida. A meperidina foi tradicionalmente favorecida em relação à morfina por causa do conceito de que esta última poderia promover espasmo do esfíncter de Oddi e agravamento da pancreatite, mas esse é apenas um risco teórico sem confirmação prática. 4) Repouso pancreático por meio de jejum oral por 3 a 7 dias até que seja possível reintroduzir a dieta. De modo geral, recomenda-se a realimentação quando houver melhora da dor, presença de ruídos hidroaéreos e redução dos níveis de amilase/lípase < 3x o limite superior da normalidade. 5) Em pacientes com necrose maior que 30% do tecido pancreático e disfunções orgânicas clinicamente importantes pode-se introduzir antimicrobianos profiláticos. Quando iniciados, devem ser mantidos por 7 a 14 dias ou até que tenha sido totalmente descartada a possibilidade de infecção. 6) Colangiopancreatogra!a retrógrada endoscópica (CPRE) com esfincterotomia é indicada para remoção de cálculos biliares em pacientes com colangite associada a pancreatite aguda, pancreatites agudas graves, colecistectomizados com pancreatite aguda biliar, pacientes com evidências de obstrução biliar importante e naqueles que não são bons candidatos à colecistectomia. Idealmente, deve ser realizada nas primeiras 48 a 72 horas do início do quadro. NÃO ESQUEÇA!!!!! → Sempre CPRM como pré-requisito antes da CPRE → De forma geral, a USG resolve a maioria dos casos, se não resolver faz TC, se não resolver faz CPRM e, se não resolver, CPRE (também é terapêutica, retira cálculos do colédoco, ou seja, serve para diagnóstico e tratamento) → Colelitíase: USG → Tumores periampolares: CPRM e, em outras situações, TC → Coledocolitíase: CPRM e depois CPRE → Pancreatite: TC o Colelitíase é o cálculo na vesícula que leva a cólica biliar sem, no entanto, provocar inflamação peritoneal. o Colecistite é a inflamação da vesícula por impactação de cálculo em ducto cístico ou infundíbulo. o Colangite ocorre quando o cálculo impacta no colédoco e gera um processo inflamatório. Quadro clássico: Tríade de Charcot. o Coledocolitíase ocorre quando há impactação do cálculo no colédoco ou na ampola de Vater. Essa impactação pode levar à cólica biliar, obstrução biliar, pancreatite biliar ou colangite.