Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
O periódico International Higher Education, editado pelo Center for International Higher Education (CIHE), publicou três artigos dos professores da Unicamp Leandro Tessler, Renato Pedrosa, Cibele Yahn e José Roberto Perez. Os textos compõem a seção “Brazilian Perspectives” da edição nº 63 (primavera 2011, Hemisfério Nor- te). Os quatro pesquisadores são membros do Grupo de Estudos em Ensino Superior (GEES) do Centro de Estudos Avançados (CEAv). Vinculado ao Boston College (EUA), o CIHE é re- ferência mundial nos debates sobre ensino superior. Em “A busca de equidade no ensino superior brasileiro”, Tessler, professor associado do Instituto de Física Gleb Wataghin e coordenador de Rela- ções Internacionais da universidade, afirma que o sucesso das ações afirmativas de acesso às uni- versidades demonstra que a seleção de estudantes baseada apenas no desempenho em uma bateria de exames vestibulares “está longe de ser um pro- cesso justo, imparcial, democrático e equitativo”. Tessler pondera que o fato de um grande nú- mero de contemplados pelas ações serem oriun- dos de escolas secundárias de baixa qualidade não implica que lhes falte o talento ou as compe- tências necessárias para concluir bons cursos uni- versitários. “Dadas as condições certas, estudan- tes de ponta vindos de contextos desvantajosos superam seus colegas após um ou dois semestres na universidade. Sua taxa de abandono pode ser maior que a média em algumas instituições, mas não supera a dos candidatos que eles substituem. Como um benefício secundário, as instituições tornam-se mais diversificadas, proporcionando um ambiente mais favorável à educação.” Em breve histórico, o professor situa o início das ações afirmativas em uma decisão da Univer- Perspectivas brasileiras no ‘International Higher Education’ PERIóDICO DO CIHE/BOSTON PUBLICA TRêS ARTIGOS DOS PROFESSORES DA UNICAmP LEANDRO TESSLER, RENATO PEDROSA, CIBELE YAHN E JOSé ROBERTO PEREz Por Ricardo Munizx sidade de Brasília, tomada em 2003, que reservou 20% de suas vagas para negros, pardos e indíge- nas. Desde então várias universidades instituíram suas políticas de acesso, seja por decisão própria ou em obediência a leis estaduais. mas em 2009, o DEm entrou com ação no Supremo Tribunal Fe- deral (STF) argumentando que as cotas raciais da UnB violariam não menos que nove preceitos cons- titucionais. Independentemente da decisão final do STF, avalia, todo o modelo de admissão ao ensino superior deverá ser revisto nos próximos anos. AvAlIAção No texto “Avaliando resultados do ensino su- perior no Brasil”, Pedrosa, professor do Departa- mento de matemática do Instituto de matemática, Estatística e Computação Científica e coordenador da Comvest, afirma que, a despeito de suas limita- ções, o Sistema Nacional de Avaliação da Educa- ção Superior (Sinaes), estabelecido por lei federal em 2004, já se consolidou como um componente relevante do cenário brasileiro de educação su- perior: “[O sistema] cumpre um papel central em processos de credenciamento [de cursos e de ins- tituições] e em outros programas federais.” Entre as principais limitações do Sinaes – ba- seado em um programa anterior, de 1996, e ad- ministrado pelo ministério da Educação (mEC) –, Pedrosa menciona a falta de desenvolvimento, até o momento, de uma análise de validade de seus resultados. “Na realidade, algumas questões foram levantadas indicando que o sistema pode demandar algumas modificações antes que seja considerado válido para as aplicações pretendi- das”, escreve. Primeiramente, a metodologia de pontuação é aplicada de modo uniforme para todas as áre- 8 Revista Ensino Superior Unicamp Notas as e formas de graduação – desde pedagogia até engenharias –, e os mesmos princípios regem a análise de todo tipo de instituição. Em segundo lu- gar, há quem considere os 30 itens utilizados para avaliar a proficiência do estudante ao concluir o curso em uma área específica como inadequados para abranger o conhecimento relevante desen- volvido na graduação. A terceira preocupação é a distorção decorrente de boicotes discentes, con- siderando que, ainda que as notas do Enade não constem de seus regis- tros escolares, ainda há resistência de entidades estudantis ao exame. A última objeção reside no ciclo de três anos para avaliação de proficiência dos alunos: em alguns cursos, particularmen- te aqueles com poucos matriculados, seria um período muito longo, re- sultando na necessidade de muitas “rodadas” até a produção de resultados significativos. Pedrosa saúda a ini- ciativa do mEC de no- mear uma comissão per- manente de revisão para analisar o Sinaes e fazer recomendações. “Espe- ra-se que o comitê ajude a estimular um debate extremamente necessário sobre suas caracterís- ticas e sobre como os resultados são utilizados.” PlANEjAMENto EstRAtégIco No artigo “Gestão estratégica de universidades brasileiras”, Cibele Yahn de Andrade, pesquisa- dora do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas da Unicamp (NEPP), e José Roberto Rus Perez, coordenador do NEPP e professor da Faculdade de Educação, apontam a importância de as uni- versidades pensarem e agirem estrategicamente em um contexto global dinâmico. “As universi- dades brasileiras, todo o sistema de educação superior e a infraestrutura de inovação científica e tecnológica devem enfrentar os novos desafios empregando técnicas sofisticadas de gestão e pla- nejamento”, escrevem. mas, “sem tradição nesse tipo de planejamen- to estratégico efetivo”, tanto o ensino superior público quanto o privado enfrentam numerosos obstáculos: “Poucas ins- tituições desenvolveram uma cultura de planeja- mento; poucos funcioná- rios têm o treinamento ou as habilidades necessá- rias para participar de pla- nejamento estratégico; os sistemas de informação são inadequados; poucos sistemas e profissionais são capazes de monitorar e controlar a execução de um plano estratégico.” Ressalvando que di- versas universidades do País estão conduzindo e publicando pesquisas de nível internacional, os au- tores avaliam que “o ama- dorismo quase sempre prevalece na gestão das finanças, na engenharia institucional e na tomada de decisões”. Para suprir tais lacunas, os pesquisadores apontam a fundamental importância de centros de formação de especialistas em gestão universitária. “O Brasil precisa entrar em contato com modelos bem-sucedidos implementados em outros países. melhor gestão, planejamento estratégico, super- visão efetiva e coordenação são avanços cruciais para melhorar a qualidade do ensino superior no País, de modo que possa acompanhar o ritmo ace- lerado de crescimento da economia brasileira.” Poucas instituições desenvolveram uma cultura de planejamento; poucos funcionários têm o treinamento ou as habilidades necessárias para participar de planejamento estratégico 9Revista Ensino Superior Unicamp PrOfessOras De CiênCias DO MiT núMerO De DOCenTes Mulheres na sChOOl Of sCienCe DO MiT (1960-2010)(Revisado a partir de Hopkins, MIT Faculty News Letter, nº 4, vol. XVIII, 2006) n ú M er O De D OC en Te s M u lh er es 55 268 homens 264 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 259 229 240 Desigualdades de gênero no MIt NA SCHOOL OF SCIENCE, A PARTICIPAçãO DAS mULHERES NO CORPO DOCENTE SUBIU, ENTRE 1999 E 2011, DE 8% PARA 19% Por guilherme gorgulho no final da década de 1990, um estudo mostrou que a participação das mulheres no corpo docente da School of Science do massachusetts Institute of Technology (mIT) estava estacionada na faixa de 8% havia quase 20 anos. Uma década depois, um novo relatório feito pela universidade revela que aumentou a presença feminina na instituição, mas ainda há problemas de gênero a serem solucionados. O estudo divulgado em março sobre a Scho- ol of Science e a School of Engineering — duas das cinco escolas que compõem o mIT — destaca que quase dobrou o totalde professoras com es- tabilidade no cargo e que as mulheres já ocupam cargos de chefia dentro do instituto. Além disso, as desigualdades salariais, de recursos, de espaço de laboratórios e das cargas horárias de ensino foram em grande parte eliminadas. Um primeiro estudo feito em 1999 apenas na School of Science teve repercussão em âmbito nacional nos EUA na época ao apontar o nível de desigualdade e os principais problemas enfrenta- dos pelas mulheres em uma das principais insti- tuições acadêmicas norte-americanas. Em 2002, outro estudo feito na School of En- gineering apontou resultados muito similares sobre a situação desvantajosa das professoras do instituto. Depois disso, o mIT criou comissões para avaliar o problema e apontar soluções, com a indicação de mulheres para cargos adminis- trativos e a procura por novas profissionais para pesquisar e lecionar. “Apesar de altamente efetivas, ficou claro que soluções institucionais adicionais seriam necessá- rias para garantir que o processo continuasse e se tornasse parte das práticas e da cultura do mIT”, informa o novo relatório. Dentro das comemora- ções dos 150 anos do mIT, completados em 10 de abril, foi lançado o estudo que incluiu levantamen- tos estatísticos e entrevistas com as mulheres que pertencem ao corpo docente da universidade, em grupos e individualmente. 10 Revista Ensino Superior Unicamp Notas Na School of Science, a participação das mulheres no corpo docente subiu, entre 1999 e 2011, de 8% para 19%. Na School of Engine- ering, o percentual cresceu de 10% para 17% entre 2001 e 2011. “Apesar desse progresso, os problemas con- tinuam, e surgiram novos problemas que podem provocar impactos negativos nas carreiras das do- centes”, ressalta o documento. Entre esses proble- mas estão: a dificuldade de lidar com as responsabi- lidades de trabalho e família e a percepção negativa de que as ações afirmativas de gênero possam estar favorecendo as mulheres, independentemente do mérito, em contratações, promoções e premiações. Além disso, a exigência de que todo comitê te- nha em sua composição uma mulher, apesar da proporção menor em relação aos homens, sobre- carregou as docentes e as privou do tempo que antes era dedicado à pesquisa. A primeira aluna do mIT, Ellen Swallow Richar- ds, formou-se em química em 1873. Apenas em 1952 o instituto contratou a sua primeira docente, Elspeth Rostow, que foi professora assistente no departamento de economia e ciência social. a revista inglesa Times Higher Education (THE) divulgou em março de 2011 o pri-meiro ranking relacionado à reputação das universidades. A liderança ficou com a Univer- sidade de Harvard, seguida pelo massachusetts Institute of Technology (mIT), ambas dos Estados Unidos, e pela Universidade de Cambridge, da Inglaterra. mais de 13 mil professores de todo o mundo foram consultados para a elaboração do ranking, cuja pesquisa foi feita em parceria com a empresa Ipsos media TC. Os professores deviam citar as universidades que consideravam mais fortes em ensino e pesquisa em suas res- pectivas áreas de conhecimento. A lista traz 100 instituições de ensino superior. Entre as dez primeiras colocadas, sete univer- sidades são dos EUA, duas são do Reino Unido e uma é do Japão. Harvard foi a única a obter 100 pontos no índice de reputação. O mIT conseguiu 85 pontos e Cambridge ficou com 80,7 pontos. Os pontos de reputação são baseados no número de vezes em que uma instituição foi citada pelos professores como sendo “a melhor” nas áreas de especialidade dos entrevistados. Cada professor poderia nomear no máximo de 10 instituições. Entre os chamados países BRICs, a Rússia aparece melhor posicionada, na 33ª posição, obtida pela Lomonosov, de moscou. A China co- locou três universidades entre as 50 primeiras colocadas: Tsinghua (35ª posição), Hong Kong (42ª) e Pequim (43ª). Outro país que chama a atenção no ranking é Cingapura: a Universidade Nacional aparece em 27º lugar, uma posição à frente da prestigiada Carnegie mellon University, dos EUA. O Japão tem cinco representantes: Tó- quio, Kyoto, Osaka e Tohoku, além do Instituto de Tecnologia de Tóquio. A pontuação no ranking é uma combinação de dados sobre a reputação das instituições para a pesquisa e ensino. Os dois pontos são combina- dos em uma proporção de 2:1. O maior peso para o quesito pesquisa foi justificado pela THE porque os professores teriam maior confiança na sua ca- pacidade de analisar a qualidade da pesquisa feita pelas instituições do que do ensino. Harvard foi selecionada com mais frequência em ambos os quesitos avaliados - ensino e pes- quisa. A pontuação das demais instituições na Novo ranking lista universidades por reputação ENTRE OS CHAmADOS PAíSES BRICS, A RúSSIA APARECE mELHOR POSICIONADA, NA 33ª POSIçãO, OBTIDA PELA LOmONOSOV, DE mOSCOU Por janaína simões 11Revista Ensino Superior Unicamp as Dez universiDaDes COM MelhOr rePuTaçãO nO MunDO Harvard University – Estados Unidos Massachusetts Institute of Technology – Estados Unidos University of Cambridge – Reino Unido University of California Berkeley – Estados Unidos Stanford University – Estados Unidos University of Oxford – Reino Unido Princeton University – Estados Unidos University of Tokyo – Japão Yale University – Estados Unidos California Institute of Technology – Estados Unidos 100.0% 85.0% 80.7% 74.7% 71.5% 68.6% 36.6% 33.2% 28.3% 23.5% 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. Financiamento de universidades europeias NO qUESITO ‘AUTONOmIA FINANCEIRA’, AS UNIVERSIDADES OUVIDAS ATRIBUíRAm A SI A méDIA 2,81 Em UmA ESCALA DE 1 A 5 Por guilherme gorgulho O financiamento público é a mais importante fonte de recursos para a manutenção das universidades da Europa, representando 72,8% da receita total das instituições, segundo pesquisa feita pela European University Association (EUA). O estudo sobre a sustentabilidade finan- ceira das mais de 5 mil universidades da Europa ressalta a necessidade de se buscar novas fontes de financiamento para o ensino superior face ao aumento no volume de estudantes no continente e os cortes orçamentários ocorridos em vários países como consequência da crise econômica mundial. O documento, publicado em fevereiro, mostra que as contribuições de estudantes (como anuida- des, bolsas ou créditos estudantis) somam 9,1%; os contratos com empresas representam 6,5%; os recursos de entidades filantrópicas totalizam 4,5%; a receita de prestação de serviços (como consul- torias, fornecimento de infraestrutura para even- tos e comercialização de resultados de pesquisas) contribui com 4,1%; e o financiamento público internacional abrange 3% das receitas totais. O tabela foi calculada de acordo com o percentual da pontuação obtida por Harvard, fixada em 100. Por exemplo, o mIT recebeu 88,4% do número de citações como instituição de referência, observan- do-se apenas a área de pesquisa, das recebidas por Harvard Este sistema de pontuação é diferente do utilizado na THE World University Rankings, le- vantamento publicado em setembro de 2010. O ranking geral leva em conta mais critérios – são 13 no total –, como relação estudante/pro- fessor, quantidade de alunos e professores estran- geiros, número de trabalhos científicos publica- dos, ênfase em pesquisa. A intenção desse novo ranking divulgado pela THE é medir o prestígio da universidade entre professores universitários ex- perientes. A pesquisa foi distribuída entre março e maio de 2010, em oito línguas: japonês, chinês simpli- ficado, espanhol, francês, alemão, português bra- sileiro, português europeu e inglês. Dos questio- nários respondidos, 13.388 contiveram respostas consideradas válidas, dadas por acadêmicos de 131 países. Na média, os consultados têm expe- riência de 16 anos no trabalho em instituições de ensino superior e publicaram mais de 50 trabalhos de pesquisa ao longo de suas carreiras. 12 Revista Ensino Superior Unicamp Notas exPeCTaTivas DOsgesTOres Das universiDaDes sObre finanCiaMenTO PúbliCO nOs PróxiMOs 5 anOs rá menos dinheiro público para pesquisa. Um dos objetivos do estudo foi explorar a re- lação entre o grau de autonomia institucional das universidades e sua capacidade de obter receita de fontes diversas. “As universidades apenas se- rão capazes de procurar fluxos adicionais de recei- tas se a estrutura regulatória em que elas operam possibilite isso. Universidades que possam fazer convênios com parceiros privados, que tenham a habilidade de criar instituições com fins lucrativos ou que possam emprestar ou angariar recursos no mercado financeiro serão mais bem-sucedidas na busca e desenvolvimento de fluxos de financia- mento adicionais”, afirma o documento. Para a EUA, a autonomia é um “pré-requisito” para a adoção de estratégias de sucesso que permi- tem a diversificação orçamentária. Em uma escala de 1 a 5 — sendo que o 5 representa “total liberdade” —, as universidades ouvidas atribuíram a si a nota média de 2,81 no quesito “autonomia financeira”. Já na categoria “autonomia para contratação” (tanto de professores quanto de pessoal administrativo), a média foi significativamente superior, de 3,91. estudo da EUA considera como fontes de recursos adicionais aquelas que não sejam financiamento público nacional e regional e nem contribuição de estudantes; na pesquisa, as fontes adicionais tota- lizam 18,1% das receitas das universidades. “A EUA acredita que a sustentabilidade finan- ceira futura depende de recursos públicos suficien- tes e seguros e da autonomia e do apoio necessário para explorar de maneira bem-sucedida as opções de financiamento complementares”, diz o texto. As conclusões são baseadas em uma pesqui- sa online com mais de 150 universidades de 27 países, além de visitas a instituições e workshops. quase a metade das universidades ouvidas espera que as fontes adicionais de financiamento aumen- tem nos próximos cinco anos. Em contrapartida, há uma preocupação com os recursos públicos destinados para o ensino: 53,2% estimam que haverá queda, enquanto 29,8% acreditam que ficarão estáveis. Nas previsões das verbas públi- cas para pesquisa, o temor é menor: 41,3% das instituições acham que o financiamento ficará no atual patamar e apenas 30,4% apostam que have- financiamento público para pesquisa vai: financiamento público para pesquisa vai: fonte: Pesquisas com participantes de seminários na universidade de ghent (junho de 2010) e universidade de bolonha (setembro de 2010) Estudo sobre sustentabilidade financeira das mais de 5 mil universidades da Europa ressalta a necessidade de se buscar novas fontes de financiamento diante dos cortes orçamentários 28.3% CresCer 41.3% PerManeCer esTável 30.4% DiMinuir 53.2% DiMinuir 29.8% PerManeCer esTável 17% CresCer 13Revista Ensino Superior Unicamp
Compartilhar