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SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS (SOP) Definição A síndrome dos ovários policísticos (SOP) - CID E28.2 - compreende uma forma de hiperandrogenismo acompanhada por anovulação crônica. É conhecida, também, como síndrome de Stein-Leventhal, por causa dos dois autores que a descreveram, em 1935, notando a associação entre amenorreia, hirsutismo, obesidade e ovários policísticos. Outra denominação mais recente, usada por alguns centros de referência, é síndrome da anovulação hiperandrogênica. Além disso, cursa com aumento do risco de diabetes e doença cardiovascular. Etiopatogenia Sua etiopatogenia exata não está definida, mas é aceitável uma desordem no processo normal de maturação folicular e ovulação, passando basicamente pelos seguintes processos: disfunção na produção de androgênios, anovulação, hiperinsulinemia e obesidade. Há uma disfunção primária na enzima CYP17 e no citocromo, com alteração na produção de androgênios, levando à atresia folicular prematura e anovulação. Portanto, não há pico na taxa de progesterona na fase lútea, mas há manutenção na produção estrogênica ovariana, culminando com alterações na produção de GnRH e aumento na produção de hormônio luteinizante (LH). “Cytochrome P450 17A1 (steroid 17α-monooxygenase, 17α-hydroxylase, 17-alpha- hydroxylase, 17,20-lyase, 17,20-desmolase) is an enzyme of the hydroxylase type that in humans is encoded by the CYP17A1 gene on chromosome 10. CYP17A1 is a protein that belongs to the cytochrome P450 family.” Basicamente, então, temos que o gene CYP17 codifica a proteína CYP17, que é de uma família de citocromos. Veja abaixo: O LH encontra-se aumentado em relação ao hormônio folículo-estimulante – FSH (relação > 2:1). Há aumento da produção androgênica pela hiperplasia das células tecais sob estímulo do LH. Os níveis relativamente baixos de FSH inibem a maturação folicular adequada e o fenômeno de dominância folicular, persistindo folículos em estágios iniciais da maturação e folículos atrésicos, o que forma o aspecto policístico. Na fase de maturação folicular: As células tecais internas que possuem baixa atividade da enzima aromatase, o LH estimula a produção de androgênios (testosterona e androstenediona). Estes, por sua vez, difundem-se para as células granulosas. Nas células granulosas, o FSH estimula proliferação celular e crescimento dos folículos (totalmente dependente de controle hormonal), induz a síntese da enzima aromatase (que converte os androgênios provenientes da teca interna em estrogênios). Com o estado hiperandrogênico, há diminuição da Sex Hormone Binding Globulin (SHBG) e aumento dos esteroides sexuais livres. O estrogênio livre aumentado age na hipófise, estimulando a secreção ainda maior de LH, perpetuando o ciclo vicioso. A produção excessiva de androgênios e a sua conversão em estrogênios constituem o substrato fisiopatológico da anovulação crônica. Figura 6.1 - Fisiopatologia da síndrome dos ovários policísticos Figura 6.2 - (A) Desenvolvimento folicular normal e (B) anovulação proposta em paciente devido à insulinemia O hirsutismo ocorre em 70% das pacientes com SOP, e sua manifestação depende da atividade cutânea da 5-alfarredutase. O diagnóstico pode ocorrer pela presença de sinais clínicos ou aumento androgênico em exames laboratoriais. O aumento anormal de androgênios leva a pelos na face, região cervical, tórax e abdome inferior, e a acne é intensamente causada pela DHT (dihidrotestosterona). A distribuição de pelos é tipicamente masculina, com índice de Ferriman-Gallwey ≥ 8. De 15 a 30% das mulheres com hirsutismo leve a moderado não apresentam alterações laboratoriais, sendo essa manifestação decorrente de hiperatividade da 5-alfarredutase na pele – transforma a testosterona em DHT, androgênio mais potente. Também se observam mulheres com sinais de hirsutismo e dosagens hormonais normais, podendo ser decorrentes da redução da SHBG com consequente aumento da fração livre de androgênio ou de aumento na sensibilidade do receptor. A redução na SHBG, por sua vez, aumenta a fração livre do androgênio e sua bioatividade nos receptores. #IMPORTANTE ↑ a vidade de 5-alfarredutase na pele + ↓ SHBG = hirsu smo sem aumento de androgênios totais séricos Vários mecanismos têm sido propostos para explicar esse desequilíbrio funcional. Atualmente, uma hipótese bastante defendida e aceita é a da hiperinsulinemia, por aumento da produção pancreática, diminuição da depuração hepática ou, principalmente, resistência dos tecidos periféricos à sua ação. No caso da síndrome, parece que a resistência periférica à ação da insulina – causada por diminuição dos receptores para insulina ou mecanismo defeituoso pós-receptor – é a hipótese mais provável. Hiperinsulinemia A hiperinsulinemia determina o estado anovulatório por ação direta e sinérgica com o LH nos ovários e por diminuição da produção hepática da SHBG. Pacientes com essa condição apresentam maior risco de doenças cardiovasculares por alteração do metabolismo lipídico – aumento do colesterol LDL e triglicérides, e doenças tromboembólicas por estímulo à coagulação. Figura 6.3 – Insulinemia Figura 6.4 - Resumo da ação da hiperinsulinemia e aumento na produção de androgênios Observam-se ainda, na obesidade, aumento na aromatização periférica, aumento na produção de insulina e redução na SHBG, culminando com elevada produção androgênica e maior fração de androgênios livres/biodisponíveis. Quadro clínico e diagnóstico A síndrome dos ovários policísticos apresenta as seguintes características clínicas: menstruações infrequentes ou amenorreia (83%); infertilidade; obesidade; hirsutismo (50%); acne; acantose nigricans (doença de pele caracterizada por manchas aveludadas e escuras em dobras e vincos do corpo); alopecia androgênica (perda permanente de cabelo do couro cabeludo, causando a calvície). A síndrome é a principal causa de infertilidade endócrina, responsável por cerca de 25% dos casos de infertilidade feminina. Além disso, é a principal doença endócrina da mulher na menacma, com prevalência de cerca de 8% nessa população. Em 2004, o Consenso de Rotterdam estabeleceu critérios para definir a doença, normatizando condutas e determinando a necessidade de controlar as pacientes com a síndrome, visando à regularização das funções menstrual e ovulatória, ao controle do hirsutismo e de outros aspectos do hiperandrogenismo e à reversão da infertilidade. Além disso, esse controle permite a diminuição da resistência à insulina e seus riscos associados, como diabetes mellitus tipo 2, dislipidemias e doenças cardiovasculares. Critérios do Consenso de Rotterdam, 2004: a presença de pelo menos dois dos critérios a seguir já define o diagnóstico, afastadas outras causas de anovulação hiperandrogênica: 1. Disfunção menstrual anovulatória – geralmente menstruações infrequentes e/ou amenorreia; 2. Sinais clínicos e/ou laboratoriais de hiperandrogenismo; 3. USG pélvica transvaginal evidenciando 12 ou mais folículos de 2 a 9 mm em cada ovário e/ou aumento do volume ovariano superior a 10 cm3. O critério já é considerado positivo se houver uma ou ambas as características em apenas um dos ovários. Observe que a ultrassonografia transvaginal comprovando o aspecto polimicrocístico do ovário não é mais imprescindível para o diagnóstico. Se a paciente apresentar a alteração menstrual característica e sinais de hirsutismo, já preencherá dois dos três critérios diagnósticos da síndrome, e a comprovação ultrassonográfica será desnecessária. O diagnóstico diferencial da síndrome dos ovários policísticos deve ser feito com outras causas frequentes de hiperandrogenismo, como hiperplasia suprarrenal de início tardio, neoplasia ovariana e de suprarrenal produtoras de androgênios, síndrome de Cushing e uso de androgênio exógeno. Exames laboratoriais 1. Exclusão de diabetes e pré-diabetes: devem sersolicitados glicemia de jejum, TTG (teste de tolerância à glicose) de 2 horas e hemoglobina glicada (Quadro 6.1): para diagnóstico de diabetes são necessários, pelo menos, dois testes alterados. Quadro 6.1 - Testes de diabetes mellitus 2. Lipidograma completo e triglicérides: perfil lipídico, devido à associação de SOP à síndrome metabólica e dislipidemia. Quadro 6.2 - Critérios de síndrome metabólica 3. USG transvaginal/pélvica – só indicada se houver apenas um dos outros dois critérios diagnósticos: 12 ou mais folículos de 2 a 9 mm em cada ovário e/ou aumento do volume ovariano superior a 10 cm3. Figura 6.5 - Ovários policísticos à ultrassonografia As concentrações séricas de andrógenos são altas em mulheres com SOP Fontes de andrógenos séricos em mulheres com SOP Concentrações séricas de estrogênio e gonadotrofina em mulheres com SOP Tratamento das síndromes hiperandrogênicas 1. Deve-se sempre orientar perda de peso para aumentar SHBG, melhorando a resistência à insulina e diminuindo a conversão periférica dos androgênios; 2. Utilizam-se anticoncepcionais orais para supressão da função ovariana. Dá-se preferência àqueles com progestogênios com ação antiandrogênica, como acetato de ciproterona e drospirenona; 3. São drogas antiandrogênicas: espironolactona e finasterida (antiandrógeno inibidor da 5-alfarredutase, a enzima que converte a testosterona em di-hidrotestosterona); 4. São indutores da ovulação: citrato de clomifeno ou gonadotrofinas, usados em pacientes que desejam engravidar; 5. Recorre-se à cauterização laparoscópica dos ovários (microperfurações) e ressecção “em cunha” dos ovários – cirurgia de Thaler; 6. Tratamento estético para hirsutismo com diversas técnicas de depilação – além dos tratamentos mencionados das causas; 7. Tratamento estético para acne e acompanhamento dermatológico; 8. É importante lembrar que as pacientes apresentam incidência aumentada de hipertensão, dislipidemia, diabetes e doenças cardiovasculares, o que aponta para a importância de acompanhamento multiprofissional. Além disso, entre as pacientes sem tratamento, os estímulos estrogênico e hiperandrogênico sem oposição da progesterona aumentam os riscos de câncer de endométrio, mama e ovário. Para as pacientes com indícios de aumento da resistência à insulina, deve-se indicar a metformina (glifage). A metformina é usada para diminuição da resistência à insulina e pode restaurar os ciclos ovulatórios. Esse medicamento é considerado excelente tratamento para pacientes com síndrome dos ovários policísticos. Complicações da síndrome dos ovários policísticos Figura 6.6 - Complicações relacionadas à síndrome dos ovários policísticos A pré-eclâmpsia (ou Doença hipertensiva específica da gravidez) é um novo diagnóstico de hipertensão arterial ou de piora de hipertensão arterial preexistente, que é acompanhada de um excesso de proteína na urina e que surge após a 20ª semana de gestação. Eclâmpsia são convulsões que ocorrem em mulheres com pré-eclâmpsia e que não apresentam outra causa. Três principais sintomas de pré-eclâmpsia: PA elevada; Sudorese excessiva nas mãos e nos pés; Proteinúria. Questão 1: Quais são os três critérios diagnósticos da SOP? A Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) é a patologia endocrinológica mais frequente em Ginecologia. Trata-se de um anovulação crônica com hiperandrogenismo associado. Os três critérios diagnósticos são: menstruações infrequentes e/ou amenorreia, hiperandrogenismo clínico ou laboratorial e ultrassonografia transvaginal evidenciando aspecto ovariano polimicrocístico. Se a paciente tiver dois destes três critérios o diagnóstico pode ser firmado.
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