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Educação Bilíngue para Surdos em Escola Municipal de Campinas

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XXX Congresso de Iniciação Científica da UNICAMP – 2022 1 
A PROPOSTA DE EDUCAÇÃO BILÍNGUE PARA SURDOS 
EM UMA ESCOLA MUNICIPAL DE CAMPINAS 
Palavras-Chave: SURDEZ; EDUCAÇÃO DE SURDOS; FONOAUDIOLOGIA 
Autores/as: 
GABRIELA VIEIRA DOS SANTOS [FCM/UNICAMP] 
Prof.ª Dr.ª NUBIA GARCIA VIANNA (orientadora) [DDHR/FCM/UNICAMP] 
INTRODUÇÃO: 
Ao longo da história, a educação dos surdos foi mediada por divergentes visões, desde o oralismo 
ao bilinguismo. Assim, as propostas pedagógicas estiveram associadas às diferentes formas de com-
preender a surdez, seja por meio dos modelos clínico-terapêutico ou socioantropológico. Simultanea-
mente, as discussões a respeito dos modelos educacionais para surdos se entrecruzaram às discussões 
sobre educação para crianças com deficiências, sendo influenciadas pelos modelos de “escola especial”, 
“escola inclusiva” e “escola bilíngue”. 
No Brasil, com o reconhecimento da Libras, por meio da Lei 10.436/2002 regulamentada pelo 
Decreto 5.626/2005 (BRASIL, 2014), foi introduzida a pedagogia bilíngue, também considerada bicultural 
e que, no Brasil, promove o uso da Língua de Sinais como língua de instrução da criança surda e o 
ensino da modalidade escrita do português. Entretanto, a educação bilíngue não pode ocorrer de qual-
quer maneira, assim como não se reduz a qualquer espaço educacional. O bilinguismo só é possível 
quando está associado ao biculturalismo, pois há uma necessidade comunicacional dos surdos de se 
agruparem e, ainda, é preciso que ele seja bicultural para que os surdos tenham acesso a comunidade 
ouvinte, mas também seja participante da comunidade surda (ALVES et al., 2015). Assim, para a forma-
ção bicultural e bilíngue de surdos, é necessário considerar a importância da Língua de Sinais e outros 
aspectos da prática pedagógica, por exemplo, a pedagogia de imagem, alternativas estratégicas para o 
desenvolvimento pedagógico, a formação de educadores surdos, entre outros (SILVA C; SILVA D, 
2016). Logo, mais relevante do que uma Educação bilíngue na qual a língua de sinais é estimulada nas 
relações de aprendizagem dos alunos surdos, é proporcionar que essa língua seja intensificada cotidia-
namente, nas avaliações, nas salas de aula, nas relações com alunos ouvintes, possuindo, assim, um 
espaço nas negociações da escola como é a língua portuguesa para os ouvintes (MARTINS et al., 2015). 
A organização do sistema educacional de modo a atender os pressupostos da educação bilíngue 
para surdos ainda é um grande desafio para os poderes públicos e para profissionais que atuam nesta 
área. Diante do exposto, este trabalho visa descrever e analisar a organização de uma Escola Municipal 
de Campinas no que se refere à educação bilíngue para surdos. 
METODOLOGIA: 
Trata-se de uma pesquisa qualitativa que apresenta parte dos resultados da pesquisa de inicia-
ção científica intitulada “A proposta de educação bilíngue para surdos em uma Escola Municipal de 
Campinas.” 
 
XXX Congresso de Iniciação Científica da UNICAMP – 2022 2 
Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com profissionais de uma Escola Municipal de 
Campinas (Escola Júlio de Mesquita Filho), que fazem parte da equipe escolar: direção da escola, pro-
fessores, professores bilíngues e intérpretes de Libras. As entrevistas tiveram duração de aproximada-
mente 45 minutos e foram realizadas por meio de plataforma virtual GoogleMeet, com o auxílio de roteiro 
com perguntas norteadoras, sendo gravadas para posterior transcrição e análise. O conjunto do material 
coletado foi analisado segundo a técnica da Análise de Conteúdo proposto por Laurence Bardin, carac-
terizando-se pela descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo extraído das comunicações, 
bem como de sua respectiva interpretação (SANTOS, 2012). O projeto foi aprovado pelo CEP sob 
nº48731921.6.0000.5404 e parecer nº5.043.880. 
As entrevistas foram realizadas dezembro/2021 e janeiro/2022 com 7 profissionais, sendo 5 mu-
lheres e 2 homens, com idades entre 28 e 65 anos e com tempo de atuação na Escola Municipal entre 
3 e 12 anos (Tabela 1). Foi utilizado um roteiro de perguntas norteadoras com o seguinte conteúdo: 
identificação do profissional (nome, data de nascimento, profissão e formação, tempo de atuação na 
escola e no ensino de estudantes surdos, conhecimento e fluência na Libras); organização e funciona-
mento da escola; especificidades da organização para o estudante surdo; materiais didáticos; relação 
da escola com a família; relação da escola com profissionais da saúde (fonoaudiólogos, outros) que 
acompanham o estudante surdo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESULTADOS E DISCUSSÃO: 
A Escola Municipal Júlio de Mesquita Filho funciona no período da manhã e da tarde, sendo que 
no período da manhã atende alunos do 1º ao 5º ano e, no período da tarde, do 6º ao 9º ano. A equipe 
escolar conta com 27 Professores da Educação Básica (PEB), sendo 11 na PEB II - professores poliva-
lentes dos anos iniciais (1º ao 5º anos) e 16 na PEB III - professores especialistas das disciplinas espe-
cíficas (6º ao 9º anos); 12 professores bilíngues; três professores de Educação Especial; quatro intér-
pretes de Libras; diretora e vice-diretora; duas orientadoras pedagógicas, sendo uma no período da 
Profissão 
Idade 
Tempo de atuação na Educação 
Bilíngue na Escola Municipal 
Dados da 
Formação 
Professora bilíngue 46 anos 9 anos 
Pedagoga com pós-gradua-
ção em Libras 
Professora bilíngue 34 anos 5 anos 
Pedagoga com pós-gradua-
ção em Libras 
Diretora 56 anos 3 anos e meio 
Profissional do Magistério e 
Pedagoga 
Professora bilíngue 39 anos 5 anos 
Profissional do Magistério e 
Pedagoga com pós-gradua-
ção em Educação Especial 
Professor de Ciên-
cias 
65 anos 12 anos 
Biólogo especialista em se-
xualidade humana e recur-
sos humanos 
Intérprete 46 anos 10 anos 
Ensino médio e cursa gra-
duação em Matemática. 
Proficiência em Libras pelo 
FENEIS 
Professora de 
Português 
28 anos 7 anos Formada em Letras 
Tabela 1 – Perfil dos entrevistados 
 
XXX Congresso de Iniciação Científica da UNICAMP – 2022 3 
manhã e outra à tarde e, até a fase de coleta de dados, não havia instrutores de Libras, assim como 
nenhum profissional da escola era surdo. 
A sua organização enquanto Escola Bilíngue tem se transformado ao longo dos anos. Até 2016, 
a Escola se organizava em salas bilíngues denominadas multisseriadas, ou seja, salas de aulas forma-
das exclusivamente por alunos surdos, do 1º a 5º ano, conduzidas por um professor bilíngue, em que a 
língua de sinais era língua de instrução dos conteúdos ministrados. Enquanto os alunos surdos de 6º a 
9º ano, estavam inseridos em salas de aula regular com ouvintes, com a presença de intérprete de Libras 
nas aulas de todas as disciplinas, com exceção das aulas de Língua Portuguesa, que eram oferecidas 
por um professor bilíngue em outro espaço, com uma metodologia diferenciada, já que o português é 
considerado segunda língua para eles. 
A partir de 2017, a organização da escola mudou, deixando de existir as salas de aula multisse-
riadas em que os alunos surdos se concentravam em uma sala exclusiva com seus pares passando a 
funcionar uma nova organização até os dias de hoje, em que os estudantes surdos e ouvintes perma-
necem na mesma sala de aula, com dois professores atuando simultaneamente em docência comparti-
lhada - o professor regente e o professor bilíngue. Na docência compartilhada, o trabalho do docente 
acontece com dois professores que compartilham uma sala de aula e seus saberes (KLEIN; AIRES, 
2020). 
Entretanto, os professores regentes que fazem docência compartilhada com os professores bi-
língues, assim como os professores que possuem intérpretes em salas de aula, não possuem domínio 
da Libras. Consequentemente, é muito difícil que se construa uma relação professor regente-aluno, uma 
vez que os processos que envolvem a Librasacabam sendo de responsabilidade dos professores bilín-
gues e intérpretes 
Atualmente, com a organização em docência compartilhada do 1º ao 5º ano no período da ma-
nhã, há 2 professoras por sala, sendo uma bilíngue e outra não. No período da tarde, a organização é 
diferente. A docência compartilhada ocorre apenas nas aulas de português, ou seja, a professora bilín-
gue e a professora de português atuam conjuntamente. Para as demais matérias, os alunos, surdos e 
ouvintes, estão distribuídos nas salas de aula e existe a presença do profissional intérprete de Libras 
naquelas turmas em que existe aluno surdos, do 6º ao 9º ano. 
Na visão dos entrevistados, a atual organização da escola, especificamente a docência compar-
tilhada, tem prós e contras. O aspecto positivo é que o planejamento é feito de maneira conjunta entre 
o professor regente e o professor bilíngue. Contudo, não basta apenas planejar conjuntamente pois, 
muitas vezes, não se consegue executar aquilo que foi planejado, porque estudantes surdos e ouvintes 
têm processos de aprendizagem diferentes, o que exige do professor escolhas pedagógicas distintas. 
Alguns professores relataram ainda outros aspectos negativos da docência compartilhada, parecendo 
haver exclusão dos alunos surdos em um espaço supostamente inclusivo – a sala de aula regular onde 
coexistem ouvintes e surdos. 
Esta problemática tem sido denunciada pelo movimento surdo que aponta que a inclusão, como 
tem sido oferecida até hoje, não tem sido eficiente para alunos surdos. Dessa forma, é preciso pensar 
na inclusão para além de um de espaço de aprendizagem formal dos conteúdos escolares, precisa-se 
promover atividades simbólicas de representação que reivindique uma língua em comum, no caso, a 
Libras, que contemple a presença de pares surdos para que a língua se desenvolva e potencialize as 
brincadeiras em suas complexidades simbólicas, pois, é na Educação Infantil que o processo de aquisi-
ção e desenvolvimento tem grande relevância (MARTINS et al., 2015). 
O modelo da escola inclusiva inseriu o aluno surdo dentro das salas de aula juntamente com 
outras crianças ouvintes sem que, muitas vezes, fossem dadas as condições adequadas para a 
 
XXX Congresso de Iniciação Científica da UNICAMP – 2022 4 
promoção do seu ensino-aprendizagem. Na prática, o que se faz comumente é oferecer um intérprete 
que tem a função de traduzir a fala do professor e a fala do aluno quando este quer interagir e manifestar 
a sua opinião (OLIVEIRA et al., 2015), como é o que caso dos estudantes surdos do 6º ao 9º ano da 
escola estudada. 
Este modelo, muitas vezes, acaba segregando o aluno surdo dentro da própria escola, na medida 
em que a interação do aluno fica restrita ao intérprete, visto que existe uma barreira linguística clara-
mente definida que o impede de se comunicar com outras pessoas na escola. 
CONCLUSÕES: 
A escola, mesmo sendo considerada uma escola de educação bilíngue, ainda está longe do ideal. 
Apesar da importante presença e atuação de professores bilíngues e de intérpretes de Libras, os estu-
dantes surdos, muitas vezes, têm sua interação restrita a estes profissionais e aos surdos, não havendo, 
de fato, interação com profissionais e estudantes ouvintes. A docência compartilhada foi pensada para 
possibilitar a inclusão dos alunos na sala de aula regular, porém, na prática o que ocorre é uma exclusão 
dentro de uma sala de aula supostamente inclusiva. 
 
BIBLIOGRAFIA 
ALVES, Francislene Cerqueira; SOUZA, Jorgina de Cássia Tannus; LIMA, Maria Eugenia de; CASTA-
NHO, Montes. Educação de surdos em nível superior: desafios vivenciados nos espaços acadê-
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KLEIN, Madalena; AIRES, Rubia Denise Islabão. Bidocência na educação bilíngue para surdos: um 
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SILVA, Carine Mendes. SILVA, Daniele Nunes Henrique. Libras na educação de surdos: o que dizem 
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OLIVEIRA, Verônica Rosemary; PIRES, Elocir Aparecida Corrêa; ENISWELER, Kely Cristina; MALA-
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