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Sistema Prisional Brasileiro | Sistema de Justiça Criminal www.faculdadefocus.com.br | 1 PÓS-GRADUAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA DISCIPLINA Sistema Prisional Brasileiro Prof. Marcelo Adriano Ferreira Sistema Prisional Brasileiro | Sistema de Justiça Criminal www.faculdadefocus.com.br | 2 A Faculdade Focus se responsabiliza pelos vícios do produto no que concerne à sua edição (apresentação a fim de possibilitar ao consumidor bem manuseá-lo e lê-lo). A instituição, nem os autores, assumem qualquer responsabilidade por eventuais danos ou perdas a pessoa ou bens, decorrentes do uso da presente obra. É proibida a reprodução total ou parcial de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico ou mecânico, inclusive através de processos xerográficos, fotocópia e gravação, sem permissão por escrito do autor e do editor. 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Coliseo - Centro Cascavel - PR, 85801-050 Tel: (45) 3040-1010 www.faculdadefocus.com.br Este documento possui recursos de interatividade através da navegação por marcadores. Acesse a barra de marcadores do seu leitor de PDF e navegue de maneira RÁPIDA e DESCOMPLICADA pelo conteúdo. http://www.faculdadefocus.com.br/ mailto:secretaria@faculdadefocus.com.br. http://www.faculdadefocus.com.br/ Sistema Prisional Brasileiro | Sistema de Justiça Criminal www.faculdadefocus.com.br | 3 Palavra do Diretor Prezado Acadêmico da Faculdade Focus! Aprender requer organização e disciplina. O estudo a distância pode ser ainda mais proveitoso que o presencial, desde que você se dedique, crie o hábito de estudo e mantenha uma rotina diária, com horário específico, em local silencioso e que garanta boa concentração. A liberdade de poder estudar onde e como quiser é, de fato, um diferencial para sair na frente e alcançar as suas metas. 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Ruy Wagner Astrath Diretor Geral da Faculdade Focus Sistema Prisional Brasileiro | Sistema de Justiça Criminal www.faculdadefocus.com.br | 4 Coordenador do Curso Olá, acadêmicos da Faculdade Focus! Os cursos de pós-graduação da Faculdade Focus são resultado da união entre a solidez acadêmica de uma das melhores Faculdades privadas do Brasil e a experiência de profissionais do mercado que são referência nas suas áreas de atuação. Os cursos de especialização foram desenvolvidos a partir das principais tendências e temáticas da atualidade e do futuro, sendo que nosso modelo oferece alto padrão de ensino, corpo docente de grande relevância, plataforma intuitiva e materiais de apoio atrativos e diferenciados, aliados a um excelente custo-benefício. E mais, com a modalidade online inovadora, é uma excelente opção de desenvolvimento profissional e acadêmico, o que permite que aquele que não tenha tempo disponível possa estudar no horário e local de sua escolha, de forma 100% online. 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Prof. Helton Kramer Lustoza Coordenador do Curso Sistema Prisional Brasileiro | Sistema de Justiça Criminal www.faculdadefocus.com.br | 5 Sumário Palavra do Diretor ----------------------------------------------------------------------------------------------- 3 Coordenador do Curso ------------------------------------------------------------------------------------------ 4 Sumário ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 5 1 Sistema de Justiça Criminal ----------------------------------------------------------------------------- 6 1.1 Órgãos preventivos: ----------------------------------------------------------------------------------------------------- 6 1.1.1 A origem do sistema prisional -------------------------------------------------------------------------------------------------- 6 1.2 Fatores sociais e culturais que influenciaram a evolução do sistema prisional ------------------------- 8 1.2.1 Aglomeração nas cidade e alto índice de pobreza ------------------------------------------------------------------------ 8 1.2.2 O iluminismo ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 8 2 Síntese histórica do sistema punitivo brasileiro -------------------------------------------------- 11 2.1 Ordenações Afonsinas ------------------------------------------------------------------------------------------------ 11 2.2 Ordenações Manuelinas --------------------------------------------------------------------------------------------- 11 2.3 Ordenações Filipinas -------------------------------------------------------------------------------------------------- 12 2.4 Brasil Império ----------------------------------------------------------------------------------------------------------- 13 2.5 Brasil República --------------------------------------------------------------------------------------------------------- 15 3 Sistema prisional brasileiro a partir do século XX ----------------------------------------------- 16 3.1 Origem da Execução Penal ------------------------------------------------------------------------------------------ 17 3.2 Estrutura do Sistema Prisional Brasileiro ------------------------------------------------------------------------ 19 3.3 Órgãos da execução penal segundo a 7.209/84 --------------------------------------------------------------- 20 3.4 Espécies de unidades prisionais segundo a 7.209/84 -------------------------------------------------------- 20 3.4.1 Penitenciárias --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 20 3.4.2 Colônia Agrícola, Industrial ou Similar -------------------------------------------------------------------------------------- 21 3.4.3 Casa do Albergado--------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 21 3.4.4 Centro de Observação ---------------------------------------------------------------------------------------------------------- 21 3.4.5 Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico ------------------------------------------------------------------------- 22 3.4.6 Cadeia Pública -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 22 3.5 Situação atual do sistema prisional brasileiro ----------------------------------------------------------------- 22 3.5.1 Dados ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 24 3.5.2 Medidas alternativas previstas no CPP – Código de Processo Penal ------------------------------------------------ 33 3.6 Duas possíveis soluções de ordem prática ---------------------------------------------------------------------- 36 3.6.1 Efetiva fiscalização na aplicação das medidas alternativa ------------------------------------------------------------- 36 3.6.2 Redução dos custos do encarceramento (sociais e financeiros). ---------------------------------------------------- 37 3.6.3 Efetivo isolamento das grandes lideranças criminosas ----------------------------------------------------------------- 38 4 Referências Bibliográficas ------------------------------------------------------------------------------ 39 Sistema Prisional Brasileiro | Sistema de Justiça Criminal www.faculdadefocus.com.br | 6 1 Sistema de Justiça Criminal O sistema de justiça criminal é o conjunto de órgãos que se articulam com o objetivo de viabilizar a prevenção e o processamento dos conflitos classificados como delitos (crimes ou contravenções) nas leis penais existentes no país. No Brasil, o sistema de justiça criminal abrange órgãos dos Poderes Executivo e Judiciário em todos os níveis da Federação. O sistema se organiza em três frentes principais de atuação: segurança pública, justiça criminal e execução penal. Esse sistema abrange a atuação do poder público desde a prevenção das infrações penais até a aplicação de penas aos infratores. As três linhas de atuação relacionam- se estreitamente, de modo que a eficiência das atividades da Justiça comum, por exemplo, depende da atuação da polícia, que por sua vez também é chamada a agir quando se trata do encarceramento – para vigiar externamente as penitenciárias e se encarregar do transporte de presos, também à guisa de exemplo. O sistema prisional é parte do sistema de justiça criminal, configurando-se como um conjunto de mecanismos de controle social que uma sociedade mobiliza para punir a transgressão da lei. 1.1 Órgãos preventivos: 1.1.1 A origem do sistema prisional Na História da humanidade sempre estiveram presentes os sistemas de punições, sendo que, com o passar do tempo, esse sistema foi se transformando até chegar ao modelo predominante atual que, em regra, tem a privação da liberdade com principal pena, seguindo os princípios da privação de liberdade com caráter dual, como modelo de punição coercitiva e regenerativa. Sistema Prisional Brasileiro | Sistema de Justiça Criminal www.faculdadefocus.com.br | 7 Na idade antiga um longo período da História que se estende, aproximadamente, do século VIII a.C. à queda do Império Romano do ocidente no século V d.C; o chamado cárcere é marcado pelo emprego do ato de aprisionar não como caráter da pena, e sim como garantia de manter o sujeito sob o domínio físico para se exercer a punição. Assim, a prisão não era a punição em si, mas o meio garantidos de aplicação da pena. Segundo Carvalho Filho (2002), a descrição que se tem daqueles locais revela sempre lugares insalubres, sem iluminação, sem condições de higiene e “inexpugnáveis”. As masmorras são exemplos destes modelos de cárcere infectos nos quais os presos adoeciam e podiam morrer antes mesmo de seu julgamento e condenação, isso porque, as prisões, quando de seu surgimento, se caracterizavam apenas como um acessório de um processo punitivo que se baseava no tormento físico. A prisão foi um modelo, inicialmente, acessório de repressão encontrado pela humanidade para punir aqueles indivíduos que violam o contrato social entre a sociedade e o Estado. A máxima "olho por olho, dente por dente" é encontrada no Código de Hamurabi (1780 a.C.), no reino da Babilônia. Por ele, qualquer indivíduo poderia aplicar pessoalmente a pena destinada a outro, desde que da mesma classe social. As primeiras leis penais na Idade Média, entre os séculos X e XV baseavam-se na tortura, adotando uma punição ilimitada e desregrada. Até a idade média as prisões serviam como forma de concentração do indivíduo a fim de até o momento do julgamento e execução das verdadeiras penas – mutilações, torturas e, também, penas de morte. Os indivíduos pagavam sua pena com seu próprio corpo, os chamados suplícios. A ideia de restrição de liberdade como pena específica surge inicialmente na igreja, destinada aos clérigos rebeldes que ficavam trancados nos mosteiros, para que, por Sistema Prisional Brasileiro | Sistema de Justiça Criminal www.faculdadefocus.com.br | 8 meio de penitência, se arrependessem do mal e obtivessem a correção. Neste momento surge o termo “penitenciária” que tem precedentes no Direito Penal Canônico, que é a fonte primária das prisões. 1.2 Fatores sociais e culturais que influenciaram a evolução do sistema prisional A partir do século XVIII fatores e sociais culturais passaram a mudar esse cenário: 1.2.1 Aglomeração nas cidade e alto índice de pobreza Com o aumento da pobreza, as pessoas passaram a cometer um número maior de delitos patrimoniais. Como a pena de morte e o suplício não respondiam mais aos anseios da justiça e seu caráter de exemplaridade da pena falhava, o processo de domesticação do corpo já não atemorizava, surgindo então a pena privativa de liberdade, como uma grande invenção que demonstrava ser o meio mais eficaz de controle social. 1.2.2 O iluminismo O Iluminismo foi um movimento intelectual ‘que se desenvolveu na Inglaterra, Holanda e França, nos séculos XVII e XVIII, um movimento que defendia o uso da razão contra o antigo regime e pregava maior liberdade econômica e política. Ele marcou uma mudança de pensamento em relação à pena. Nessa época, o desenvolvimento intelectual, que vinha ocorrendo desde o Renascimento, deu origem a ideias de liberdade política e econômica, defendidas pela burguesia. Os pensadores Iluministas tinham como ideal promover conhecimento crítico a todos os campos do mundo humano e contribuir para o progresso da humanidade. Esse movimento proporcionou uma mudança significativa no que diz respeito à pena criminal, fazendo surgir figuras que marcariam a história da humanização das penas. O iluminismo fez surgir, pela primeira vez, uma perspectiva dual, levando em conta a punição e uma possível recuperação social do preso, pois, com o passar do tempo e devido ao afastamento social, acreditava-se que seria propiciado ao indivíduo refletir acerca do crime cometido e buscar regeneração. Sistema Prisional Brasileiro | Sistema de Justiça Criminal www.faculdadefocus.com.br | 9 Michel Foucault em Vigiar e Punir narra sobre o período: “O protesto contra os suplícios é encontrado em toda parte na Segunda metade do século XVIII: entre os filósofos e teóricos do direito; entre juristas, magistrados, parlamentares; e entre os legisladores das assembleias. É preciso punir de outro modo: eliminar essa confrontação física entre soberano e condenado; esse conflito frontal entre a vingança do príncipe e a cólera contida do povo, por intermédio do supliciado e do carrasco (pag. 63). ” Vale aqui citar Cesare Beccaria(1738-1794), o principal representante do iluminismo penal e da Escola Clássica do Direito Penal Cesare foi um aristocrata milanês que difundiu valores e ideais iluministas, tornando- se reconhecido por contestar a triste condição em que se encontrava a esfera punitiva de Direito na Europa dos impiedosos governantes. A obra intitulada "Dos Delitos e Das Penas", que é considerada uma das bases do direito penal moderno, o autor projeta princípios como igualdade perante a lei, abolição da pena de morte, erradicação da tortura como meio de obtenção de provas, instauração de julgamentos públicos e céleres, penas consistentes e proporcionais, dentre outras críticas e propostas que visaram a humanizar o direito. Além de vários outros fatores históricos e culturais, sua obra foi também foi base para o início de uma revisão no caráter das leis penais e das penas, com uma base na análise filosófica, moral e econômica da natureza do ser humano e da ordem social. A partir de então, começaram a surgir instituições que se destinavam a restringir a liberdade de pessoas que cometiam ilícitos onde essa restrição seria a própria pena. A natureza e a finalidade destas instituições foram modificadas a partir do século XVIII quando então as prisões tornaram-se a essência do modelo punitivo, assumindo um caráter de estabelecimento público de privação de liberdade. Como explica Carvalho Filho (2002) rigor, severidade, regulamentação, higiene e intransponibilidade do ponto de vista institucional e com uma dinâmica capaz de reprimir o delito e promover a reinserção social de quem os comete foram as Sistema Prisional Brasileiro | Sistema de Justiça Criminal www.faculdadefocus.com.br | 10 prerrogativas que passaram a caracterizar as instituições penais a partir do século XVIII. Carvalho Filho (2002) vincula o surgimento da pena de privação de liberdade ao surgimento do capitalismo, concomitante a um conjunto de situações que levaram ao aumento dos índices de pobreza em diversos países e o consequente aumento da criminalidade, a distúrbios religiosos, às guerras, às expedições militares, às devastações de países, à extensão dos núcleos urbanos, à crise das formas feudais e da economia agrícola, etc Foi neste contexto que se transformou as prisões e os sistemas de punições para o que é na atualidade, por meio de um movimento que promoveu as mais significativas mudanças na concepção das penas privativas de liberdade, na criação e construção de prisões organizadas para a correção dos apenados. A partir dessa nova concepção, a punição passou a constituir-se em um método e uma disciplina. Eliminou-se da prisão o seu caráter de humilhação moral e física do sujeito. A lei penal passou a se propor a uma função de prevenção do delito e da readaptação do criminoso. Para Foucault (1998) a finalidade da prisão deixou de ser então o de causar dor física e o objeto da punição deixou de ser o corpo para atingir a alma do infrator. A prisão torna-se como pena privativa de liberdade e constitui em uma nova tática da arte de fazer sofrer. O autor também em seus estudos volta-se para as prisões observada sobre o prisma no qual coloca que para o Estado torna-se mais favorável vigiar do que punir, pois, vigiar pessoas e mantê-las conscientes desse processo é uma maneira para que estas não desobedeçam a ordem, as leis e nem ameacem o sistema de “normalidade”. A prisão passa a fundamentar-se teoricamente no que hoje é: privar o indivíduo de liberdade para que ele possa aprender através do isolamento, retirá-lo da família, e de Sistema Prisional Brasileiro | Síntese histórica do sistema punitivo brasileiro www.faculdadefocus.com.br | 11 outras relações socialmente significativas, para levá-lo a refletir sobre seu ato criminoso, tornando então o reflexo mais direto de sua punição. 2 Síntese histórica do sistema punitivo brasileiro 2.1 Ordenações Afonsinas As Ordenações Afonsinas foram promulgadas em 1446, por D. Afonso V, constituindo o primeiro código completo de legislação a aparecer na Europa depois da Idade Média. Esta legislação vigorou por quase 70 anos, sendo substituído por uma nova codificação empreendida por D. Manuel, O Venturoso, que queria ajuntar aos seus títulos, o de legislador e divulgar pela imprensa, que então começava a generalizar-se em Portugal, um código mais perfeito. 2.2 Ordenações Manuelinas Em 1514, foram editadas as Ordenações Manuelinas, e de cuja codificação foram incumbidos os juristas Rui Bato, Rui da Grã e João Cotrim. Durante sete anos, recebeu reformas, sendo finalmente publicada em 1521. Estas Ordenações foram a real e efetiva legislação do início do regime colonial no Brasil. Nas condições primitivas da colônia, não era fácil se ter um rigoroso ajustamento às leis da metrópole, porque pessoas que vinham para o Brasil estavam cheias de ambições, e em nenhum momento se preocupavam com o que estava prescrito juridicamente, ou com o que a sociedade metropolitana considerava moralmente correto. Sistema Prisional Brasileiro | Síntese histórica do sistema punitivo brasileiro www.faculdadefocus.com.br | 12 Essa legislação não era apropriada para reger a sociedade dos primeiros tempos coloniais, pois era uma legislação que representou a evolução de uma velha sociedade às necessidades da mesma, ao nela se acolher. Na realidade, sobretudo no regime das capitanias, o que interessava era o arbítrio do donatário, representado por um direito informal e personalista, com o qual se pretendia manter a ordem social e jurídica, em núcleos de homens ambiciosos ou de delinquentes que longe da metrópole, não se sentiam presos às limitações jurídicas e morais desta. Já no tempo dos governos gerais, tornou-se um pouco mais efetivo o império da lei, por se ter um quadro de funcionários destinados à aplicação e execução e medidas penais. Entretanto, na prática, os abusos e injustiças continuaram existindo. 2.3 Ordenações Filipinas As Ordenações Filipinas foram a mais longa das Ordenações, vigorando do tempo colonial até os primeiros anos do Império. Essas ordenações foram marcantes pela exorbitância das penas, que alcançavam com extremo rigor fatos às vezes insignificantes; pela desigualdade de tratamento entre os infratores; pela confusão entre direito, moral e religião, e por muitos outros vícios. As execuções efetivaram-se na forca, na fogueira, e em alguns casos ocorria a amputação dos braços ou das mãos do condenado. Essas penas ficaram reservadas para os casos de homicídio, latrocínio e insurreição de escravos, configurando uma mudança importante, pois no antigo regime, a pena de morte era prevista para mais de setenta infrações. Em 1835, como reação ao levante de negros muçulmanos ocorrido na Bahia, uma lei draconiana ampliaria as hipóteses de pena capital para escravos que matassem, tentassem matar ou ferir gravemente seu senhor ou feitor. Sistema Prisional Brasileiro | Síntese histórica do sistema punitivo brasileiro www.faculdadefocus.com.br | 13 Tivemos no Brasil o caso de Tiradentes que, acusado de crime de lesa- majestade (traição cometida contra a pessoa do Rei, ou seu Real Estado), foi enforcado e esquartejado, demonstrando a crueldade excessiva da época. A permanência da Corte Portuguesa no Brasil, por mais de 13 anos, não trouxe nenhuma alteração à nossa legislação penal, nem o fato da independência do país veio marcar o início de novo período na história do nosso Direito Penal. A evolução, entretanto, foi se operando com o passar dos tempos, e em plena vigência das Ordenações Filipinas, em Portugal, espíritos adiantados propugnaram pela renovação das leis. 2.4 Brasil Império Com a independência e a Carta Constitucional de 1824, veio a necessidade de se substituir a legislação do Reino. O espírito que dominou oCódigo Criminal do Império estava antecipado na Constituição de 1824. Este código estabelecia as relações do conjunto da sociedade, cuidando dos proprietários de escravos, da “plebe” e dos cativos. Estabelecia três tipos de crimes: 1) Públicos: entendidos como aqueles contra a ordem política instituída, o Império e o imperador - dependendo da abrangência seriam chamadas de revoltas, rebeliões ou insurreições; 2) Particulares: praticados contra a propriedade ou contra o indivíduo; 3) Policiais, contra a civilidade e os bons costumes. Nestes últimos incluíam-se os vadios, os capoeiras, as sociedades secretas e a prostituição. O crime de imprensa era também considerado policial. Sistema Prisional Brasileiro | Síntese histórica do sistema punitivo brasileiro www.faculdadefocus.com.br | 14 Em todos os casos o governo imperial poderia agir aplicando as penas que continham no código como, por exemplo, prisão perpétua ou temporária, com ou sem trabalhos forçados, banimento ou condenação à morte. As características mais importantes desse código são: a) a exclusão da pena de morte para os crimes políticos; b) a imprescritibilidade das penas; c) a reparação do dano causado pelo delito; d) ser considerado agravante o ajuste prévio entre duas ou mais pessoas, para a prática do crime; e) a responsabilidade sucessiva nos crimes de imprensa. Este código transformou-se em lei, a 16 de dezembro de 1830, sendo o primeiro Código Penal autônomo da America Latina. Na época, as idéias liberais encontravam-se no seu ápice. A propaganda individualista, desenvolvida quase simultaneamente na França e nos Estados Unidos, estava em ebulição. Era natural que, nos princípios em foco, se fundamentasse a Constituição Federal, revelando-se uma das mais adiantadas. Assim dispunha outros incisos do art. 179, referentes, a matéria penal: Inciso 4.º: “Ninguém pode ser perseguido por motivo de religião, uma vez que respeite a do Estado, e não ofenda a moral pública”; Inciso 5.º: “Ninguém poderá ser preso sem culpa formada, exceto nos casos declarados na lei; e nestes, dentro de 24 horas, contadas da entrada na prisão, sendo em cidades, vilas, ou outras povoações próximas aos lugares da residência do juiz; e nos lugares remotos dentro de um prazo razoável que a lei marcará, atenta a extensão do território, o juiz, por uma nota por ele assinada, fará constar ao réu o motivo da prisão, os nomes dos seus acusadores, e os das testemunhas, havendo-as”; Inciso 6.º: “Ninguém será sentenciado senão pela autoridade competente, por virtude de lei anterior, e na forma por ela prescrita”; Inciso 7.º: “Nenhuma pena passará da pessoa do seu delinquente. Portanto, não haverá em Sistema Prisional Brasileiro | Síntese histórica do sistema punitivo brasileiro www.faculdadefocus.com.br | 15 caso algum confiscação de bens, nem a infâmia do réu se transmitirá aos parentes, em qualquer grau que seja”; Inciso 8.º: “As cadeias serão seguras, limpas e bem arejadas, havendo diversas casas para separação dos réus, conforme suas circunstâncias e natureza dos seus crimes”. O Código Criminal do Império revelou o acolhimento dado às idéias liberais. Depois do Código Criminal de 1830, adveio o Código de Processo de 1832, também imbuído do espírito liberal, sendo este estatuto de suma importância para a legislação brasileira, porque constituiu, até o fim de 1941, a sua lei processual em matéria repressiva. 2.5 Brasil República Proclamada a República em 1889, intensificou-se a necessidade de se promover reforma na legislação criminal, mesmo porque já haviam se passado 60 anos da promulgação do Código do Império, e as suas leis ficaram envelhecidas por não mais acompanhar a realidade. Um projeto foi estruturado e rapidamente entregue ao Governo, sendo submetido ao juízo de uma comissão presidida pelo próprio Ministro da Justiça. Por decreto de 11 de outubro de 1890 foi aprovado, transformando-se em lei passando o Brasil a ter um novo código penal. Como foi feito às pressas, apresentava vários defeitos técnicos, sendo por isso objeto de críticas, que contribuíram para abalar seu prestígio, o que dificultou a aplicação do novo Código. Para solucionar o problema, o Poder Executivo fez um projeto para um novo Código. Depois de inúmeras tentativas, em 1940 o projeto definitivo foi apresentado, sendo promulgado em 7 de dezembro do mesmo ano. Entrou em vigor em 1º de janeiro de 1942. Sistema Prisional Brasileiro | Sistema prisional brasileiro a partir do século XX www.faculdadefocus.com.br | 16 Para fazer o Código de 1940, o legislador brasileiro inspirou-se em um Código Italiano, de 1930, chamado Código de Rocco, e também seguiu, como exemplo, o Código Suíço de 1937, para inúmeras soluções adotadas. Em 1961, o governo decidiu fazer uma reforma na legislação criminal, e solicitou a Nelson Hungria, mestre de Direito Penal Brasileiro, para que a fizesse. 3 Sistema prisional brasileiro a partir do século XX No início do século XX, com elaboração de novas legislações, surgiram tipos modernos de prisões adequadas à qualificação do preso segundo categoriais criminais: contraventores, menores, processados, loucos e mulheres. Os asilos de contraventores tinham por finalidade o encarceramento dos ébrios, vagabundos, mendigos, em suma, os antissociais. Os asilos de menores buscavam empregar um método corretivo à delinquência infantil. Acreditando-se na possibilidade de inocência do réu, foi proposta uma prisão de processados, considerando-se não conveniente misturá-los com delinquentes já condenados ou provavelmente criminosos. Os manicômios criminais foram idealizados para aqueles que sofriam alienação mental e requeriam um regime ou tratamento clínico, enquanto que os cárceres de mulheres, seriam organizados de acordo com as indicações especiais determi- nadas por seu sexo. Assim, é possível identificar com esta forma de distribuição, uma tentativa de racionalização do espaço, considerando o tipo do crime tendo por critério o grau de infração e periculosidade do réu. Sistema Prisional Brasileiro | Sistema prisional brasileiro a partir do século XX www.faculdadefocus.com.br | 17 Outro fator a ser considerado quanto à separação do réu na prisão era o fato de que deveria levar-se em conta a índole, antecedentes e grau de criminalidade do condenado. A observação com relação à índole do indivíduo revela a preocupação com o caráter, inclinação, tendência, temperamento e propensão ao crime, estipulado por meio do prejulgamento da personalidade do preso pela análise de sua fisionomia. Apenas com a criação da Comissão Penitenciária Internacional, que se transformou na Comissão Penal e Penitenciária (1929), que deu origem à elaboração das Regras Mínimas da ONU, e depois da II Guerra Mundial, surgem em vários países a Lei de Execução Penal (LEP), como na Polônia, Argentina, França, Espanha, Brasil, e outros estados-membros da ONU (MAGNABOSCO, 1998). Com a reforma no Código Penal, pela Lei n. 7.209/84, foi abandonada a distinção entre penas principais e acessórias. Dessa forma, com a nova lei existem somente as penas comuns (privativas de liberdade), as alternativas (restritivas de direitos) e a multa. 3.1 Origem da Execução Penal Em 1933 o jurista Cândido Mendes de Almeida presidiu uma comissão que visava elaborar o primeiro código de execuções criminais da República, que já tinha como princípio a individualização e distinção do tratamento penal, como no caso dos toxicômanos e dos psicopatas. No entanto, o projeto não chegou nem mesmo a ser discutido, em virtude da instalação do regime do Estado Novo, em 1937, que acabou por suprimir as atividades parlamentares. Em 1951, o deputado Carvalho Neto percebendo a carência de uma legislação que viesse a dispor sobre a matéria penitenciária,produziu um projeto. No entanto, não se convertera em lei. Em 1957, foi sancionada a Lei nº 3.274, que dispunha sobre normas gerais de regime penitenciário. Portanto, pela insuficiência da lei, o ministro da justiça fez o pedido para o Professor Oscar Stevenson que elaborasse um projeto de um novo código penitenciário. Sistema Prisional Brasileiro | Sistema prisional brasileiro a partir do século XX www.faculdadefocus.com.br | 18 Em 1970, o professor Benjamim Moraes Filho, apresentou o projeto o qual teve a colaboração de juristas como José Frederico Marques, e inspirava-se numa Resolução das Nações Unidas, datada de 30 de agosto de 1953, que dispunha sobre as Regras Mínimas para o Tratamento de Reclusos. Cotrim Neto apresentou inovações às questões da previdência social e do regime de seguro contra os acidentes de trabalho sofridos pelo detento. O projeto baseava-se na ideia de que a recuperação do preso deveria basear-se na assistência, educação, trabalho e na disciplina. No entanto, os projetos apresentados não se convertiam em lei. Finalmente em 1983 é aprovado o projeto de lei do Ministro da Justiça Ibrahim Abi Hackel, o qual se converteu na Lei nº 7.210 de 11 de julho de 1984, a atual e vigente Lei de Execução Penal, que preceitua em seu artigo 1º: “A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado”. É considerada como meio para aplicação da pena ou da medida de segurança que foi fixada na sentença penal, o Estado exerce seu direito de punir castigando o criminoso e inibindo o surgimento de novos delitos. Com a certeza de punição, mostra para a sociedade que busca por justiça e reeducação, e readapta o condenado socialmente. A execução penal brasileira não se preocupou tão somente com as questões relativas ao cárcere, mas buscou estabelecer medidas que tenham como finalidade a reabilitação do condenado. Assim, a execução penal é “a disciplina que rege o processo e cumprimento da sentença penal e seus objetivos. ” (AVENA, 2016, p. 1). No que tange às instituições responsáveis pela execução penal, cada estado seguiu um caminho diferente, o que gerou uma grande desconformidade entre eles. Diferente das instituições relacionada à Segurança Pública, não houve preocupação ou padronização em relação à execução penal no Brasil ficando a responsabilidade Sistema Prisional Brasileiro | Sistema prisional brasileiro a partir do século XX www.faculdadefocus.com.br | 19 para os estados. Em cada um a execução penal foi tratada de forma diversa, grande desconformidade em todo país. 3.2 Estrutura do Sistema Prisional Brasileiro Dentre os entes federativos, os estados se colocaram como grandes responsáveis pela execução penal, ficando União e Municípios com papéis diminutos. A união ficou com a responsabilidade pelo fomento e municípios em apoio aos estados, principalmente onde não há estrutura estadual detenção de presos. A partir de 2006, com a criação do Sistema Penitenciário Federal a União passou a executar a pena de presos de alta periculosidade que não podiam ser contidos pelo sistema estadual. Serão incluídos em estabelecimentos penais federais de segurança máxima aqueles para quem a medida se justifique no interesse da segurança pública ou do próprio preso, condenado ou provisório. Para a inclusão ou transferência, o preso deverá possuir, ao menos, uma das seguintes características: ✓ Ter desempenhado função de liderança ou participado de forma relevante em organização criminosa; ✓ Ter praticado crime que coloque em risco a sua integridade física no ambiente prisional de origem; ✓ Estar submetido ao regime disciplinar diferenciado - RDD; ✓ Ser membro de quadrilha ou bando, envolvido na prática reiterada de crimes com violência ou grave ameaça; ✓ Ser réu colaborador ou delator premiado, desde que essa condição represente risco à sua integridade física no ambiente prisional de origem; ou Sistema Prisional Brasileiro | Sistema prisional brasileiro a partir do século XX www.faculdadefocus.com.br | 20 ✓ Estar envolvido em incidentes de fuga, de violência ou de grave indisciplina no sistema prisional de origem. 3.3 Órgãos da execução penal segundo a 7.209/84 São órgãos da execução penal: ✓ O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária; ✓ O Juízo da Execução; ✓ O Ministério Público; ✓ O Conselho Penitenciário; ✓ Os Departamentos Penitenciários; ✓ O Patronato; ✓ O Conselho da Comunidade. ✓ A Defensoria Pública. 3.4 Espécies de unidades prisionais segundo a 7.209/84 3.4.1 Penitenciárias Art. 87. A penitenciária destina-se ao condenado à pena de reclusão, em regime fechado. Parágrafo único. A União Federal, os Estados, o Distrito Federal e os Territórios poderão construir Penitenciárias destinadas, exclusivamente, aos presos provisórios e condenados que estejam em regime fechado, sujeitos ao regime disciplinar diferenciado, nos termos do art. 52 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 10.792, de 2003) Art. 88. O condenado será alojado em cela individual que conterá dormitório, aparelho sanitário e lavatório. Parágrafo único. São requisitos básicos da unidade celular: a) salubridade do ambiente pela concorrência dos fatores de aeração, insolação e condicionamento térmico adequado à existência humana; b) área mínima de 6,00m2 (seis metros quadrados). Art. 89. Além dos requisitos referidos no art. 88, a penitenciária de mulheres será dotada de seção para gestante e parturiente e de creche para abrigar crianças maiores de 6 (seis) meses e menores de 7 (sete) anos, com a finalidade de assistir a criança desamparada cuja responsável Sistema Prisional Brasileiro | Sistema prisional brasileiro a partir do século XX www.faculdadefocus.com.br | 21 estiver presa. (Redação dada pela Lei nº 11.942, de 2009) Parágrafo único. São requisitos básicos da seção e da creche referidas neste artigo: (Incluído pela Lei nº 11.942, de 2009) I – atendimento por pessoal qualificado, de acordo com as diretrizes adotadas pela legislação educacional e em unidades autônomas; e (Incluído pela Lei nº 11.942, de 2009) II – horário de funcionamento que garanta a melhor assistência à criança e à sua responsável. (Incluído pela Lei nº 11.942, de 2009) Art. 90. A penitenciária de homens será construída, em local afastado do centro urbano, à distância que não restrinja a visitação. 3.4.2 Colônia Agrícola, Industrial ou Similar Art. 91. A Colônia Agrícola, Industrial ou Similar destina-se ao cumprimento da pena em regime semi-aberto. Art. 92. O condenado poderá ser alojado em compartimento coletivo, observados os requisitos da letra a, do parágrafo único, do artigo 88, desta Lei. Parágrafo único. São também requisitos básicos das dependências coletivas: a) a seleção adequada dos presos; b) o limite de capacidade máxima que atenda os objetivos de individualização da pena. 3.4.3 Casa do Albergado Art. 93. A Casa do Albergado destina-se ao cumprimento de pena privativa de liberdade, em regime aberto, e da pena de limitação de fim de semana. Art. 94. O prédio deverá situar-se em centro urbano, separado dos demais estabelecimentos, e caracterizar-se pela ausência de obstáculos físicos contra a fuga. Art. 95. Em cada região haverá, pelo menos, uma Casa do Albergado, a qual deverá conter, além dos aposentos para acomodar os presos, local adequado para cursos e palestras. Parágrafo único. O estabelecimento terá instalações para os serviços de fiscalização e orientação dos condenados. 3.4.4 Centro de Observação Art. 96. No Centro de Observação realizar-se-ão os exames gerais e o criminológico, cujos resultados serão encaminhados à Comissão Técnica de Classificação. Parágrafo único. No Centro poderão ser realizadas pesquisascriminológicas. Art. 97. O Centro de Observação será instalado em unidade autônoma ou em anexo a Sistema Prisional Brasileiro | Sistema prisional brasileiro a partir do século XX www.faculdadefocus.com.br | 22 estabelecimento penal. Art. 98. Os exames poderão ser realizados pela Comissão Técnica de Classificação, na falta do Centro de Observação. 3.4.5 Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico Art. 99. O Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico destina-se aos inimputáveis e semi- imputáveis referidos no artigo 26 e seu parágrafo único do Código Penal. Parágrafo único. Aplica-se ao hospital, no que couber, o disposto no parágrafo único, do artigo 88, desta Lei. Art. 100. O exame psiquiátrico e os demais exames necessários ao tratamento são obrigatórios para todos os internados. Art. 101. O tratamento ambulatorial, previsto no artigo 97, segunda parte, do Código Penal, será realizado no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico ou em outro local com dependência médica adequada. 3.4.6 Cadeia Pública Art. 102. A cadeia pública destina-se ao recolhimento de presos provisórios. Art. 103. Cada comarca terá, pelo menos 1 (uma) cadeia pública a fim de resguardar o interesse da Administração da Justiça Criminal e a permanência do preso em local próximo ao seu meio social e familiar. Art. 104. O estabelecimento de que trata este Capítulo será instalado próximo de centro urbano, observando-se na construção as exigências mínimas referidas no artigo 88 e seu parágrafo único desta Lei. 3.5 Situação atual do sistema prisional brasileiro O modelo de gestão prisional vigente hoje Brasil mostre-se ultrapassado, ineficiente e, principalmente, um risco crescente à sociedade e ao Estado Brasileiro. Como resultado desse modelo, estamos vivendo um verdadeiro caos prisional e social que, apesar de ser extremamente oneroso, tende a se agravar, gerando reflexos para toda sociedade, inclusive nas ruas. Vale aqui lembrar que os sinais dessa crise atual se mostraram com clareza já a mais de uma década, quando em 2004 uma grande facção criminosa, oriunda do próprio sistema prisional, promoveu ataques a toda sociedade, sitiando o Estado de São Paulo com atentados dos mais diversos, inclusive a agentes de segurança pública. Sistema Prisional Brasileiro | Sistema prisional brasileiro a partir do século XX www.faculdadefocus.com.br | 23 Isso mostra que as políticas adotadas nos últimos anos foram completamente equivocadas, pois o resultado está claramente definido na situação insustentável pela qual toda sociedade brasileira hoje passa no que tange a sistema carcerário. Tal situação demanda uma mudança radical de paradigmas, com a adoção de um modelo completamente novo, que garanta uma execução penal mais humana, mais rígida em alguns aspectos, menos onerosa para o Estado, que “prenda menos e com mais qualidade”, com soluções racionais e aplicáveis à realidade nacional, trazendo soluções viáveis para problemas que o atual modelo jamais contemplará, como a superpopulação prisional, os massacres em rebeliões e o crescimento desenfreado das organizações criminosas que surgem e tem por base o próprio encarceramento que o modelo atual fortalece. Continuando nesse mesmo caminho, o sistema prisional brasileiro, que já está insustentável, tornar-se-á uma das maiores fragilidades sociais em nosso país, sendo fonte de massacres cada vez maiores, tanto nas prisões quanto nas ruas, a exemplo da crise de 2004 ocorrida, principalmente, em São Paulo. Segundo Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias INFOPEN1, população penitenciária brasileira chegou a 702.069 mil presos em 2020. 1 http://www.justica.gov.br/noticias/populacao-carceraria-brasileira-chega-a-mais-de-622-mil-detentos Sistema Prisional Brasileiro | Sistema prisional brasileiro a partir do século XX www.faculdadefocus.com.br | 24 3.5.1 Dados O gráfico abaixo (1) apresenta a série histórica das pessoas privadas de liberdade entre os anos de 1990 e 2017. Entre o segundo semestre de 2016 e o primeiro semestre de 2017, podemos destacar um aumento de 0,59%, ou ainda 4.234 pessoas custodiadas. Sistema Prisional Brasileiro | Sistema prisional brasileiro a partir do século XX www.faculdadefocus.com.br | 25 Segundo o INFOPEN, o Brasil conta com a terceira maior população penitenciária do mundo, atrás apenas de Estados Unidos (2.217.000), China (1.657.812). Aqui serão apresentados aos leitores informações relacionadas a natureza da prisão e o tipo de regime penal ao qual o custodiado está submetido. Os dados serão analisados segundo as unidades da federação para cada tipo de regime, como também a série histórica das populações prisional e provisória. Sistema Prisional Brasileiro | Sistema prisional brasileiro a partir do século XX www.faculdadefocus.com.br | 26 Outro ponto que nos salta aos olhos, é que a população carcerária mais que sextuplicou, enquanto a população nacional cresceu apenas 1/3 (um terço). Sistema Prisional Brasileiro | Sistema prisional brasileiro a partir do século XX www.faculdadefocus.com.br | 27 Diante de um crescimento tão vertiginoso, torna-se evidente a impossibilidade de o Estado suprir a necessidade de vagas que surgem, o que, por sua vez, inviabiliza a construção de uma execução penal que seja constitucionalmente voltada para a dignidade da pessoa humana. Pesquisa realizada em parceria entre o DEPEN (Departamento Penitenciário Nacional) e o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) mostrou que há um déficit de 206.307 no número de vagas, não somados a esse déficit, os mandados de prisão ainda não cumpridos. Segundo este estudo, temos as seguintes características no sistema penitenciário brasileiro: ✓ Dos presos recolhidos em estabelecimentos prisionais, 41% são provisórios, sem julgamento definitivo, acobertados pela presunção de inocência. O referido estudo aponta ainda, que em 37,2% dos casos em que ocorre a decretação da segregação cautelar, não ocorre a confirmação da referida medida quando da decisão final, e mesmo quando há condenação, estas são menores que a própria cautelar a que foram submetidos. 41% 59% SITUAÇÃO GERAL PRESOS PRESOS PROVISÓRIOS - 41% PRESOS CONDENADOS - 59% Sistema Prisional Brasileiro | Sistema prisional brasileiro a partir do século XX www.faculdadefocus.com.br | 28 ✓ Os crimes que mais motivam prisões são patrimoniais e drogas, que somados atingem cerca de 70% das causas de prisões. Crimes contra a vida motivam 12% das prisões; ✓ As penas atribuídas são na maioria inferiores a 8 anos, seguidas das penas inferiores a 4 anos, sendo que uma grande quantidade dos presos tem condição provisória (isto é, ainda não foram julgados). Isto indica que o policiamento e a justiça criminal não têm foco nos crimes mais graves, mas atuam principalmente nos conflitos contra o patrimônio e nos delitos de drogas; ✓ O perfil socioeconômico dos detentos mostra que 55% têm entre 18 e 29 anos e 75,08% têm até o ensino fundamental completo; 37,20% 62,80% SITUAÇÃO PRESOS PROVISÓRIOS NÃO CONDENADOS OU CONDENADOS A PERÍODOS MENORES AO ENCARCERAMENTO INICIAL - 37,20% 70% 12% 18% PANORAMA GERAL CRIMES CRIMES PATRIMONIAIS E DROGAS - 70% CRIMES CONTRA A VIDA - 12% OUTROS CRIMES - 18% Sistema Prisional Brasileiro | Sistema prisional brasileiro a partir do século XX www.faculdadefocus.com.br | 29 ✓ Sobre a natureza dos crimes pelos quais estavam presos, 28% dos detentos respondiam ou foram condenados por crime de tráfico de drogas, 25% por roubo, 13% por furto e 10% por homicídio. Diante deste cenário, que depõe flagrantemente contra o modelo adotado na atualidade, podemos afirmar que o crescimento da população penitenciária brasileira nos últimos anos não significou redução nos índicesde violência. Pelo contrário, mesmo com o aumento dos encarceramentos, a sensação de insegurança não 55% 45% PERFIL SOCIOECONÔMICO IDADE ENTRE 18 E 29 ANOS - 55% MAIS DE 29 ANOS - 45% 75,08% 24,92% PERFIL SOCIOECONÔMICO ATÉ ENSINO FUNDAMENTAL COMPLETO - 75,08% ENSINO MÉDIO E SUPERIOR - 24,92% 28% 25%13% 10% 24% NATUREZA DOS CRIMES TRÁFICO DE DROGAS - 28% ROUBO - 25% FURTO - 13% HOMICÍDIO - 10% OUTROS CRIMES - 24% Sistema Prisional Brasileiro | Sistema prisional brasileiro a partir do século XX www.faculdadefocus.com.br | 30 diminuiu. Isso significa que é preciso se repensar a prisão como instrumento de política pública para combater a criminalidade. Com este cenário caótico, a sociedade brasileira sofre suas consequências, dentre algumas podemos citar: ✓ Segundo dados do Ministério da Saúde, pessoas privadas de liberdade têm, em média, chance 28 vezes maior do que a população em geral de contrair tuberculose. A taxa de prevalência de HIV/Aids entre a população prisional era de 1,3% em 2014, enquanto entre a população em geral era de 0,4%; ✓ Alto custo operacional gerado pelos gastos envolvendo o encarceramento, que, de forma totalmente ineficiente, drenam recursos que poderiam ser utilizados em outras áreas; Além de geração de custos com o encarceramento em si, temos uma superpopulação carcerária que, por condições sanitárias precárias e de atendimentos à saúde deficientes, geram um custo financeiro e social exorbitante; ✓ É importante ressaltar os danos que a prisão acarreta não apenas para as pessoas encarceradas, como também para seu círculo familiar. O crescimento de mulheres presas superou o crescimento de homens presos: a população prisional masculina cresceu 70% em sete anos enquanto a população feminina cresceu 146%. Muitas destas mulheres promovem o provento de suas famílias, POPULAÇÃO EM GERAL PESSOAS PRIVADAS DE LIBERDADE (CHANCE 28 VEZES MAIOR) SAÚDE - CHANCE DE CONTRAIR TUBERCULOSE Sistema Prisional Brasileiro | Sistema prisional brasileiro a partir do século XX www.faculdadefocus.com.br | 31 sendo comum em populações de baixa renda, a mulher ser a única responsável pela criação de seus filhos. ✓ De acordo com o Informe Regional de Desenvolvimento Humano (2013-2014) do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) o percentual de reincidência no Brasil é um dos mais altos no mundo, chegando a um percentual de 47,4%; ✓ Embora o sistema carcerário não seja o único fator que influencia na reincidência do delito, as exposições às redes criminosas nos cárceres tornam difícil a ressocialização de presos que cometem crimes de menor potencial, uma vez que estas organizações criminosas agem em espaços deixados pelo Estado, de assistências à pessoa presa; ✓ Os estados que desenvolveram programas de repressão qualificada, visando principalmente redução de homicídios, tiveram crescimento de presos acima da média, acusados por crimes patrimoniais e delitos de drogas. Entre os custos sociais destes programas que reforçam o encarceramento está a vulnerabilização de jovens, que recebem a punição em presídios superlotados, com a presença de organizações criminosas; ✓ No Brasil, até junho de 2013, apenas 11% da população carcerária estava em atividade educacional; Sistema Prisional Brasileiro | Sistema prisional brasileiro a partir do século XX www.faculdadefocus.com.br | 32 ✓ No que tange às atividades laborais, apenas 22,2% dos encarcerados no Sistema Penitenciário Nacional estava envolvida em alguma atividade laboral, entre trabalhos internos (17,6%) e externos (4,6%); ✓ Soma-se a essa situação caótica, as decisões judiciais recentes do Supremo Tribunal Federal que vem reconhecendo o direito de indenização ao preso que cumprir pena em condições desumanas e degradantes. 1. O problema do encarceramento massivo É imprescindível encarcerar menos Além do todo exposto, o aumento constante de crises no sistema carcerário do país, bem como a proliferação de organizações criminosas que atuam dentro dos estabelecimentos penais, gera alarme e inquietação social e requer um combate definitivo, profissional e imediato. 11% 89% ATIVIDADE EDUCACIONAL EM ATIVIDADE EDUCACIONAL - 11% SEM ATIVIDADE EDUCACIONAL - 89% 17,60% 4,60% 77,80% ATIVIDADES LABORAIS NO SISTEMA PENITENCIÁRIO NACIONAL TRABALHO INTERNO - 17,6% TRABALHO EXTERNO - 4,6% SEM ATIVIDADES LABORAIS - 77,8% Sistema Prisional Brasileiro | Sistema prisional brasileiro a partir do século XX www.faculdadefocus.com.br | 33 É fundamental o investimento em soluções penais mais sofisticadas, como alternativas penais, programas de trabalho e educação, entre outras, que promovam uma real reinserção desse indivíduo à sociedade. O Brasil é o 16º país mais violento do planeta, segundo o Instituto Avante Brasil. A violência epidêmica (conforme a OMS) está gerando desespero nacional. A cadeia, sobretudo em países com poucos recursos para as áreas sociais, deveria ser reservada exclusivamente para criminosos violentos, ou seja, os que oferecem concreto perigo para a convivência em sociedade. Todos os demais criminosos deveriam ser punidos com outros tipos de pena (penas alternativas). Carecemos aqui de uma reengenharia social e penitenciária. O encarceramento justifica-se frente aos criminosos violentos, especialmente os que ostentam perversidade. Num sistema superlotado, percentual significativo dos presos não precisaria estar encarcerado, pois estão no perfil para o qual o Código de Processo Penal prevê cumprimento de penas alternativas. Quem pratica crime não violento necessita de educação, de penas alternativas, eventualmente a pena de empobrecimento (indenizatório, por exemplo), não de encarceramento. O equívoco da política encarceradora massiva, vem sempre acompanhado do abandono da educação e da assistência social, a quem necessita desse tipo de atenção. O Estado Brasileiro como um todo, deve cumprir seu papel educativo e social, jogando toda energia na repressão à crimes com grave violência à vida e hediondo. Estes representam uma potencial mão de obra trabalhadora brasileira, que poderiam gerar crescimento na economia e prover o pagamento de impostos. Assim gerariam PIB ao invés de consumi-lo. 3.5.2 Medidas alternativas previstas no CPP – Código de Processo Penal Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para Sistema Prisional Brasileiro | Sistema prisional brasileiro a partir do século XX www.faculdadefocus.com.br | 34 informar e justificar atividades; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infrações;(Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave ameaça, quandoos peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). IX - monitoração eletrônica. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). O modelo precisa mudar Surgiu então a premente necessidade de se recuperar a soberania estatal frente à execução penal no âmbito do sistema penitenciário brasileiro, notadamente no interior de grandes penitenciárias estaduais. Como exposto acima, atualmente o modelo de execução penal não cumpre os objetivos que lhe foram propostos, tais como efetivar as disposições da sentença e proporcionar as condições para a harmônica integração social da pessoa presa. A responsabilidade do Estado em garantir aos presos os seus direitos fundamentais, como vida, integridade física, moral e de individualização da pena é objetiva, impondo o dever de reparação dos prejuízos causados pela execução penal da forma Sistema Prisional Brasileiro | Sistema prisional brasileiro a partir do século XX www.faculdadefocus.com.br | 35 degradante como hoje ocorre, tornando o sistema penitenciário brasileiro uma potencial fonte de gastos com indenizações. O crescimento exponencial do encarceramento na última década, em muitos casos feito de forma desnecessária, numa lógica inversamente proporcional à criação de vagas, gerou o avanço desenfreado de organizações criminosas que tem como origem o próprio sistema penitenciário. Esse mesmo crescimento infrene da população carcerária acaba por resultar num sistema de autopoiese, em que o encarceramento massivo se torna fonte de “mão de obra” para tais organizações, fortalecendo-as, gerando assim um o alto impacto social e econômico provocado por essas organizações criminosas e por esse modelo atual de encarceramento. A fragilização da sociedade civil frente às sucessivas crises penitenciárias, crises essas que expõem toda a barbárie empregada pelas organizações criminosas que atuam a partir das cadeias, tende a ultrapassar os já frágeis “muros” segregadores e atingir a sociedade, o que revela a ineficiência do atual sistema de política criminal no que concerne a esse novo perfil de organizações criminosas, uma vez que apenas prender, diante do modelo atual, acaba por agravar o problema. Depõe ainda contra esse caótico sistema de execução penal vigente, o alto custo do encarceramento que, aliado à sua ineficiência, torna-o um verdadeiro reduto de grandes organizações criminosas financiado pelo Estado. Onde o estado prende muito e prende mal, na via quantitativa em detrimento a qualitativa. Todo esse cenário requer uma mudança radical na execução penal brasileira que passa, necessariamente, pela análise mais criteriosa do encarceramento, cuja segregação total de liberdade deveria existir e ser destinada aos criminosos que agem com maior lesividade social, notadamente, com violência ou grave ameaça. Aos demais, seriam aplicadas as medidas cautelares diversas da prisão, cuja fiscalização, com a utilização de monitoração eletrônica por uma instituição policial penal capacitada e especializada, que permitiria uma execução penal mais Sistema Prisional Brasileiro | Sistema prisional brasileiro a partir do século XX www.faculdadefocus.com.br | 36 humanizada e menos onerosa, enfraquecendo, como consequência, as organizações criminosas que hoje protagonizam as sangrentas rebeliões. 3.6 Duas possíveis soluções de ordem prática 3.6.1 Efetiva fiscalização na aplicação das medidas alternativa Para que sejam positivos os reflexos de uma política voltada para um encarceramento menor, qualitativo e não quantitativo, que dê ênfase a aplicação de medidas diversas da prisão, faz-se necessária também uma rigorosa fiscalização do cumprimento das obrigações impostas por essas medidas, ou o efeito de tal política poderia ser inverso. A Polícia Penal torna-se a melhor alternativa por ser uma instituição que estará mais próxima da execução penal, agindo de forma condizente com suas peculiaridades e necessidades, já que as policias civis, militares, Federal e Rodoviária Federal já tem suas missões definidas e específicas, buscando abertamente um distanciamento dessa atividade, por entenderem que as mesmas não fazem parte do seu rol de suas atribuições. Serve de exemplo os conflitos de atribuições gerados com as parcas tentativas de implementação de monitoração eletrônica, onde, em diversas situações, as detecções de descumprimento das obrigações impostas pelas medidas cautelares sequer foram apuradas, isso pela recusa das instituições policiais em atender ao chamado do sistema prisional, sendo, na maioria das vezes, com total razão. Tal recusa se dá por vários motivos, desde a falta de efetivo, concorrência com outras ocorrências policiais, até a discussão sobre qual instituição deveria atender à solicitação. Outro conflito de atribuição que tem ganhado notoriedade no âmbito da Segurança Pública, está na questão da condução para audiências de custódia. Esse instituto de realização obrigatória, trata-se da apresentação do autuado preso em flagrante delito perante um juiz, permitindo-lhes o contato pessoal, de modo a assegurar o respeito aos direitos fundamentais da pessoa submetida à prisão. Decorre da aplicação dos Tratados de Direitos Humanos ratificados pelo Brasil. Em caso de prisão realizada pela Polícia Federal, por exemplo, muito se questiona qual instituição deve conduzir e apresentar preso nessa audiência, já que as atividades de Sistema Prisional Brasileiro | Sistema prisional brasileiro a partir do século XX www.faculdadefocus.com.br | 37 escolta e custodia não estão dentre as atribuições de nenhum cargo hoje existente na estrutura de polícia. Essa atividade deve ficar claramente a cargo de uma instituição com qualificação e atribuição para tanto, uma Polícia Penal Federal. Essa nova polícia já foi criada na Constituição Federal e está em fase de regulamentação. Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I - polícia federal; II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias civis; V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. VI - polícias penais federal, estadual e distrital. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 104, de 2019) 3.6.2 Redução dos custos do encarceramento (sociais e financeiros). Como explicitado, os custos do encarceramento são altos, tanto financeiros quanto sociais. Levantamento detalhado do setor financeiro do Departamento Penitenciário do Estado do Paraná, por exemplo, aponta que o custo mensal de um preso no estado chegou a R$ 3.016,40 em julho de 2016, levantamento que não é preciso e que, provavelmente, é muito maior. Com uma instituição policial especializada, seria possível um índice de encarceramento muito menor, gerando redução de todos os custos diretos advindos do atual modelo. Uma possível geração de custos com a implementação de uma instituição policial, seria rapidamente suplantada financeiramente com a redução do custo com a menor quantidade de encarcerados, além dos custos com construções e manutenção de unidades prisionais para geração de infindáveis novas vagas. Sistema Prisional Brasileiro | Sistema prisional brasileiro a partir do século XX www.faculdadefocus.com.br | 38 A título de exemplo, seguem as projeções de impacto financeiro de uma eventual aplicação da monitoração eletrônica por uma pela polícia federal de Execuções Penais:Uma equipe com dois Agentes Federais de Execução Penal é capaz de custodiar no mínimo 100 (cem) pessoas monitoradas eletronicamente. Essas mesmas pessoas presas gerariam para o Estado um custo mínimo de aproximadamente R$ 301.600,00/mês (trezentos e um mil e seiscentos e quarenta reais por mês). Com a implementação da polícia penal, esses custos se resumiriam à remuneração dos servidores, instalações que serviriam de base para monitoramento, custo do monitoramento, viaturas e outros meios. No que tange ao custo social, os benefícios são imensuráveis, já que haveria ganho para praticamente todos os setores da sociedade. 3.6.3 Efetivo isolamento das grandes lideranças criminosas Um dos grandes motivadores do fortalecimento das grandes organizações criminosas que surgem dentro do sistema prisional é a capacidade de coordenação e controle por parte de suas lideranças que, mesmo encarceradas, conseguem comandar suas respectivas facções, determinando, desde atividades de gestão, como a organização das atividades ilícitas nas ruas e estrutura para arrecadação de recursos de forma ilícita, a ataques à sociedade (atentados), a agentes de segurança e seus familiares (assassinatos e sequestros) e a outras facções criminosas, promovendo verdadeiros massacres que são transmitidos por todos os meios de comunicação como espetáculos de horror. Para que se possa romper o vínculo de comando que une os grandes líderes criminosos encarcerados com suas organizações, além de outras medidas, é imprescindível um efetivo isolamento dos mesmos. Isso só será possível com uma Sistema Prisional Brasileiro | Referências Bibliográficas www.faculdadefocus.com.br | 39 mudança legislativa em que contemple um tratamento diferenciado nas prisões de segurança máxima. Nesse contesto, torna-se essencial o aprimoramento das leis de execução penal para líderes de organizações criminosas, com o efetivo isolamento que propicie a quebra da cadeia de comando, uma vez que, no atual modelo, as prisões de segurança máxima, por imposição legal, não conseguem cumprir com eficácia esse desiderato. Minimamente, a alteração da lei de execuções penais deve ser alterada para contemplar: ✓ Proibição, na penitenciária de Segurança Máxima, de visitas íntimas e sociais não monitoradas e com contato físico; ✓ Supressão do tempo máximo de internação no RDD (Regime de Disciplinar Diferenciado); 4 Referências Bibliográficas BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. 11ªed. São Paulo: Hemus, 1998. CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 24ªed. Rio de Janeiro: LUMEN JURIS, 2002. CARVALHO, FL. A Prisão. Publifolha. São Paulo, 2002. FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 5ªed. Petrópolis: Vozes, 1987. GOFFMAN, E. Manicômios, prisões e conventos. 6ºed. São Paulo: Perspectiva, 2006. LEAL, César Barros. Prisão: Crepúsculo de uma Era. Belo Horizonte: Editora Del Rey, 2001. LEITE, Christina Laurroudé de Paula. Mulheres além do teto de vidro. São Paulo: Editora Atlas, 1994. Monografia (Bacharelado em Serviço social) – Faculdades Integradas “Antônio Eufrásio de Toledo”, Presidente Prudente, 2003. Sistema Prisional Brasileiro | Referências Bibliográficas www.faculdadefocus.com.br | 40 MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais: teoria geral, comentários aos arts. 1º a 5º da Constituição da República Federativa do Brasil, doutrina e jurisprudência. 5 ed. São Paulo : Atlas, 2003. MOREIRA, Licione; SANTOS, Alexandra Maria dos; OLIVEIRA, Maria Ivonete de; FERREIRA, Silvia Aline Silva. Mulheres no Cárcere. 2003. SANTA RITA, Rosangela Peixoto. Mães e crianças atrás das grades: em questão o princípio da dignidade da pessoa humana. Brasília, 2007. Sistema Prisional Brasileiro | Referências Bibliográficas www.faculdadefocus.com.br | 41 Palavra do Diretor Coordenador do Curso Sumário 1 Sistema de Justiça Criminal 1.1 Órgãos preventivos: 1.1.1 A origem do sistema prisional 1.2 Fatores sociais e culturais que influenciaram a evolução do sistema prisional 1.2.1 Aglomeração nas cidade e alto índice de pobreza 1.2.2 O iluminismo 2 Síntese histórica do sistema punitivo brasileiro 2.1 Ordenações Afonsinas 2.2 Ordenações Manuelinas 2.3 Ordenações Filipinas 2.4 Brasil Império 2.5 Brasil República 3 Sistema prisional brasileiro a partir do século XX 3.1 Origem da Execução Penal 3.2 Estrutura do Sistema Prisional Brasileiro 3.3 Órgãos da execução penal segundo a 7.209/84 3.4 Espécies de unidades prisionais segundo a 7.209/84 3.4.1 Penitenciárias 3.4.2 Colônia Agrícola, Industrial ou Similar 3.4.3 Casa do Albergado 3.4.4 Centro de Observação 3.4.5 Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico 3.4.6 Cadeia Pública 3.5 Situação atual do sistema prisional brasileiro 3.5.1 Dados 3.5.2 Medidas alternativas previstas no CPP – Código de Processo Penal 3.6 Duas possíveis soluções de ordem prática 3.6.1 Efetiva fiscalização na aplicação das medidas alternativa 3.6.2 Redução dos custos do encarceramento (sociais e financeiros). 3.6.3 Efetivo isolamento das grandes lideranças criminosas 4 Referências Bibliográficas
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