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1 2 ARRAS 1. Arras É o sinal que se dá por ocasião da celebração do contrato, quando uma das partes oferecer, à título de arras, dinheiro ou outro bem móvel, com a finalidade de garantir o cumprimento do contrato. As arras podem ser dividias em arras confirmatórias e arras penitenciais. • Arras confirmatórias: possuem uma tríplice função: confirmar o contrato que passa a ser obrigatório, antecipar o pagamento e fixar, previamente, eventuais perdas e danos. A parte inocente pode pedir indenização suplementar, se provar maior prejuízo, valendo as arras como taxa mínima. • Arras penitenciais: ocorrem sempre que as partes, no contrato preliminar concederam-se o direito de se arrepender. Assumem, portanto, uma função de pena pelo arrependimento injustificado de uma das partes. Nestes casos, as arras terão função unicamente indenizatória, assim, quem as deu perdê-las-á em benefício da outra parte; e quem as recebeu devolvê-las-á, mais o equivalente. Em ambos os casos, não haverá direito a indenização suplementar. Quando o contrato é cumprido integralmente, as arras poderão ser devolvidas ou compensadas do valor a ser pago pela execução da prestação. Por outro lado, se descumprido o contrato por parte de quem ofereceu as arras, a parte prejudicada poderá retê-la em seu benefício. Na eventualidade de o contrato ser descumprido por quem recebeu as arras, a parte inadimplente deverá restitui-la, em dobro, a quem as pagou. O STJ entende que se a proporção entre a quantia paga inicialmente e o preço total ajustado evidenciar que o pagamento inicial englobava mais do que o sinal, não se pode declarar a perda integral daquela quantia inicial como se arras confirmatórias fosse, sendo legítima a redução equitativa do valor a ser retido. 3 CLÁSULA PENAL 1. Cláusula penal Também, chamada de pena convencional, trata-se de obrigação acessória que as partes poderão estipular pena ou multa destinada a evitar o inadimplemento da obrigação principal (inadimplemento absoluto) ou o retardamento (inadimplemento relativo) do seu cumprimento. Há duas funções, portanto, para a cláusula penal: intimidação ou ressarcimento. A função ressarcitória serve de indenização para o credor no caso de inadimplemento culposo do devedor. Por sua vez, a função coercitiva (de intimidação) intimida o devedor a cumprir a obrigação, considerando que este já sabe que, se for inadimplente, terá que pagar a multa convencional. • Cláusula penal moratória É estipulada para sancionar o devedor quando houver mora no cumprimento da obrigação ou pelo descumprimento de alguma cláusula isolada ou específica do contrato. É mais simples e de valor menor. Neste caso, o credor poderá exigir o cumprimento da obrigação e a cláusula moratória. Contudo, de acordo com novo entendimento do STJ em 2019, a regra é que essa cláusula não pode mais ser cumulada com perdas e danos. Somente em situações excepcionais, nas quais, se comprove que o valor do montante da multa moratória não é suficiente para cobrir o prejuízo, poderá haver a cumulação. • Cláusula penal compensatória As partes acordam que, no caso de inadimplemento total da obrigação, a parte devedora será responsabilizada pelo pagamento da cláusula penal compensatória, que tem o intuito exatamente de compensar o inadimplemento ou substituir o adimplemento quando descumprida parcialmente a obrigação. Neste caso, a cláusula não poderá ser exigida com a cumulação de indenização suplementar decorrente da mora, pois esta já é a sua natureza, sendo enriquecimento ilícito a 4 “dupla cobrança”. Do mesmo modo, não poderá o credor exigir tanto o cumprimento da obrigação inadimplida, como a cláusula compensatória. Em um contrato no qual foi estipulada uma CLÁUSULA PENAL, caso haja o inadimplemento, é possível que o credor exija o valor desta cláusula penal e mais as perdas e danos? • Se for cláusula penal MORATÓRIA: NÃO (com base em MUDANÇA DO ENTENDIMENTO DO STJ). • Se for cláusula penal COMPENSATÓRIA: NÃO. A cláusula penal também pode ser chamada de multa convencional, multa contratual ou pena convencional. • Natureza jurídica: trata-se de uma obrigação acessória, referente a uma obrigação principal. Pode estar inserida dentro do contrato (como uma cláusula) ou prevista em instrumento separado. • Finalidades da cláusula penal: a cláusula penal possui duas finalidades: • Função ressarcitória: serve de indenização para o credor no caso de inadimplemento culposo do devedor. Ressalte-se que, para o recebimento da cláusula penal, o credor não precisa comprovar qualquer prejuízo. Desse modo, a cláusula penal serve para evitar as dificuldades que o credor teria no momento de provar o valor do prejuízo sofrido com a inadimplência do contrato. • Função coercitiva ou compulsória (meio de coerção): intimida o devedor a cumprir a obrigação, considerando que este já sabe que, se for inadimplente, terá que pagar a multa convencional. • Multa moratória = obrigação principal + multa. • Multa compensatória = obrigação principal ou multa. Em um contrato no qual foi estipulada uma cláusula penal MORATÓRIA, caso haja o inadimplemento, é possível que o credor exija o valor desta cláusula penal e mais as perdas e danos? NÃO. Atenção: mudança do entendimento do STJ: A cláusula penal moratória tem a finalidade de indenizar pelo adimplemento tardio da obrigação, e, em regra, estabelecida em 5 valor equivalente ao locativo, afasta-se sua cumulação com lucros cessantes (Info 651 – julgado em sede de recurso repetitivo). Por que a tese fixada fala “em regra”? Porque o Min. Luis Felipe Salomão disse que, a depender do caso concreto, a parte poderá demonstrar que sofreu algum dano especial, além daqueles regularmente esperados da inadimplência, e que a cláusula penal moratória seria insuficiente para reparar esse dano. Assim, nesses casos excepcionais, seria possível a cobrança tanto da cláusula penal moratória como também da indenização. É o caso, por exemplo, da situação em que a cláusula penal moratória se mostre objetivamente insuficiente, em vista do tempo em que veio a perdurar o descumprimento contratual, a atrair a incidência do princípio da reparação integral, insculpido no art. 944 do CC. Em um contrato no qual foi estipulada uma cláusula penal COMPENSATÓRIA, caso haja o inadimplemento, é possível que o credor exija o valor desta cláusula penal e mais as perdas e danos? NÃO. Não se pode cumular multa compensatória prevista em cláusula penal com indenização por perdas e danos decorrentes do inadimplemento da obrigação. Enquanto a cláusula penal moratória manifesta, com mais evidência, a característica de reforço do vínculo obrigacional, a cláusula penal compensatória prevê indenização que serve não apenas como punição pelo inadimplemento, mas também como prefixação de perdas e danos. A finalidade da cláusula penal compensatória é recompor a parte pelos prejuízos que eventualmente decorram do inadimplemento total ou parcial da obrigação. Não é possível, pois, cumular cláusula penal compensatória com perdas e danos decorrentes de inadimplemento contratual. Com efeito, se as próprias partes já acordaram previamente o valor que entendem suficiente para recompor os prejuízos experimentados em caso de inadimplemento, não se pode admitir que, além desse valor, ainda seja acrescido outro, com fundamento na mesma justificativa – a recomposição de prejuízos. Assim, importante lembrar: 6 MORATÓRIA (compulsória) COMPENSATÓRIA (compensar o inadimplemento) Estipulada para desestimular o devedor a incorrer em mora ou para evitar que deixe de cumprir determinada cláusula especial da obrigação principal. É a cominação contratual de uma multa para o caso de mora. (multa contratual) Estipulada para servir como indenização no caso de total inadimplementoda obrigação principal (adimplemento absoluto). Funciona como punição pelo retardamento no cumprimento da obrigação ou pelo inadimplemento de determinada cláusula. Funciona como uma prefixação das perdas e danos. Ex1: em uma promessa de compra e venda de um apartamento, é estipulada multa para o caso de atraso na entrega. Ex2: multa para o caso de o produtor de soja fornecer uma safra de qualidade inferior ao tipo “X”. Ex: em um contrato para que um cantor faça um show no réveillon, é estipulada uma multa de 100 mil reais caso ele não se apresente. A cláusula penal moratória é cumulativa, ou seja, o credor poderá exigir o cumprimento da obrigação principal mais o valor da cláusula penal (poderá exigir a substituição da soja inferior e ainda o valor da cláusula penal). A cláusula penal compensatória não é cumulativa. Assim, haverá uma alternativa para o credor: exigir o cumprimento da obrigação principal ou apenas o valor da cláusula penal. Art. 411. Quando se estipular a cláusula penal para o caso de mora, ou em segurança especial de outra cláusula determinada, terá o credor o arbítrio de exigir a satisfação da pena cominada, juntamente com o desempenho da obrigação principal. Art. 410. Quando se estipular a cláusula penal para o caso de total inadimplemento da obrigação, esta converter-se-á em alternativa a benefício do credor.
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