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Unidade I Comunicação Corporativa e Qualidade Textual Português Instrumental Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria RAFAELLA FÉLIX WILLIAM AUGUSTO SILVA AUTORIA Rafaella Félix Sou formada em Letras. Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! William Augusto Silva Graduado em Letras (português e espanhol) e mestre em Letras - Teoria Literária e Literatura Comparada pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo pesquisa de doutorado na mesma instituição. Tenho experiência com ensino de língua portuguesa, literatura e redação. ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova competência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de apresentar um novo conceito; NOTA: quando necessárias observações ou complementações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamento do seu conhecimento; REFLITA: se houver a necessidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou discutido; ACESSE: se for preciso acessar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso fazer um resumo acumulativo das últimas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de autoaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando uma competência for concluída e questões forem explicadas; SUMÁRIO A importância da comunicação escrita na organização ............... 12 Os níveis de linguagem .............................................................................................................. 13 A escrita eficiente no mundo corporativo ..................................................................... 15 O que é necessário para uma redação técnica de qualidade? .................... 18 Os elementos de comunicação .......................................................................................... 20 Qualidades de um texto ................................................................................22 Características de qualidade textual .................................................................................22 Simplicidade ....................................................................................................................22 Objetividade .....................................................................................................................23 Precisão ...............................................................................................................................23 Impessoalidade .............................................................................................................23 Formalidade .....................................................................................................................24 Coesão .................................................................................................................................24 Naturalidade ....................................................................................................................27 Harmonia ............................................................................................................................27 Clareza .................................................................................................................................27 Coerência ...........................................................................................................................28 Concisão .............................................................................................................................28 “Queísmo” ...........................................................................................................................28 Correção .............................................................................................................................29 Opositores Textuais ......................................................................................... 31 Os opositores às qualidades textuais ............................................................................... 31 Barbarismo acidental ................................................................................................33 Obscuridade textual ...................................................................................................33 Rebuscamento ...............................................................................................................34 Prolixidade .........................................................................................................................35 Subjetividade...................................................................................................................37 Cacofonia ...........................................................................................................................37 Expressões de mau gosto .................................................................................... 38 Ambiguidades ............................................................................................................... 38 Tautologias ....................................................................................................................... 40 Vícios de linguagem e organizadores textuais..................................42 Vícios de linguagem .....................................................................................................................42 Prolixidade ........................................................................................................................ 46 Plebeísmo ......................................................................................................................... 46 Gerundismo ..................................................................................................................... 46 Clichê ....................................................................................................................................47 Chavões .............................................................................................................................. 49 Os organizadores textuais ........................................................................................................ 50 9 UNIDADE 01 Português Instrumental 10 INTRODUÇÃO Escrever bem é uma competência cada vez mais escassa entre os jovens profissionais que buscam uma colocação no mercado de trabalho. A deficiência do sistema nacional de ensino, aliada a uma cultura cibernética que prioriza os vídeos e demais objetos multimídia à boa e velha leitura, vêm transformando as novas gerações em verdadeiros analfabetos funcionais. Algumas profissões, como as relacionadas à gestão, comunicação e direito, exigem do profissional uma maior fluência verbal e escrita da língua portuguesa. Nosso desafio nesta unidade será capacitar você a utilizar algumas técnicas e dicas de linguagem para tornar a sua comunicação mais eficiente no seu ambiente de trabalho. Preparado para uma viagem rumo ao conhecimento? Então, aperte o cinto. Português Instrumental 11 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vinda (o). Nosso propósito é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes objetivos deaprendizagem até o término desta etapa de estudos: 1. Interpretar a comunicação no contexto organizacional e a importância do uso eficiente da língua portuguesa nesta comunicação. 2. Identificar as qualidades de um texto eficiente. 3. Reconhecer os opositores textuais e como devem ser evitados. 4. Identificar os vícios de linguagem mais comuns e os organizadores textuais. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Português Instrumental 12 A importância da comunicação escrita na organização OBJETIVO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender a comunicação no contexto organizacional e a importância do uso eficiente da língua portuguesa nessa comunicação. Dependendo da área em que se trabalhe, errar um texto pode ser algo imensamente comprometedor. Imagine, por exemplo, que você trabalha em uma faculdade, no departamento de Letras, e comete alguns “errinhos” de português em uma mensagem publicada na página oficial da instituição em uma grande rede social. Vexatório, não é? Dia após dia, as empresas vão passando por situações como esta. E-mails, postagens, cartazes, banners e folders eletrônicos, de um modo geral, necessitam de um revisor de língua portuguesa para filtrar possíveis erros na redação desses textos. Mas, nem sempre isso é possível. Assim, cada profissional deve buscar seu melhoramento no que tange ao seu modo de escrever, procurando se utilizar do formato e estilo mais adequado à comunicação com seu público alvo. Um aspecto importante a ser esclarecido a quem deseja melhorar seu desempenho na elaboração textual é o fato de que há uma diferença entre a linguagem escrita e oral. A primeira só surgiu depois da segunda, como já sabemos. A língua escrita é uma tentativa de reproduzir a linguagem oral. No entanto, ela não é por si só capaz de representar total e completamente a linguagem oral, visto suas inúmeras variações de sentido oferecidas pela entonação ou a complementação por um gesto, por exemplo. Não é raro que a comunicação entre duas pessoas possa ser até mesmo por um simples olhar ou um gesto com o corpo, aspectos dificilmente reproduzidos adequadamente pela língua escrita. Uma coisa é falar com nosso interlocutor, outra coisa é tentar escrever o que seríamos capazes de falar. Português Instrumental 13 Assim, é importante ter consciência de que a língua escrita tem suas próprias dificuldades, exigindo treino incessante, concentração e domínio de um vocabulário suficientemente extenso, entre outros fatores. Escrever um texto claro e bem redigido é sempre resultado de várias tentativas e do esforço em torna-lo mais e mais adequado, seja simplesmente trocando uma palavra pela outra ou reformulando períodos etc. Não é difícil perceber que as pessoas não falam de uma mesma forma. O uso que fazemos da língua varia de acordo com fatores como a idade, instrução, região e a situação em que ocorre o ato da fala. Portanto, verificamos que uma criança não fala como um adulto, e a forma como falamos no trabalho não é a mesma que falamos junto à nossa família. Inclusive, você certamente já deve ter observado que a língua portuguesa não é falada do mesmo modo em todas as regiões do país, por todas as classes sociais e passou por muitas modificações no decorrer do tempo. O português não é estático ou imutável, mas consiste em um conjunto de variedades. Essas variedades e diversidades do idioma implicaram no surgimento de níveis de linguagem, como consequência de vários fatores como o sociocultural, por exemplo. Podemos reconhecer, portanto, que existem níveis de linguagem. De forma simplista, podemos agrupá-los basicamente em dois grupos: o coloquial ou informal ou o culto ou formal. Os níveis de linguagem Os níveis de linguagem também são chamados de níveis de fala e consistem dos diferentes registros em que a linguagem pode ser usada pelos falantes, de acordo com o contexto de comunicação, o nível de escolaridade, a interação, idade, entre outros fatores. Os idiomas sofrem influências de algum tipo de evolução até mesmo dentro de um próprio país. A língua portuguesa não é diferente e vai se adaptando à condições culturais, políticas, econômicas, geográficas e sociais. Português Instrumental 14 VOCÊ SABIA? Dialeto é uma variação de uso regional da língua que pode ser verificada na entonação, no vocabulário e algumas estruturas da sintaxe, caracterizando uma dada comunidade dentro de um certo espaço geográfico. Registros são as variações que decorrem de ajustes de situações contextuais e do destinatário. Em consequência, é possível separar várias modalidades e níveis de língua: escrita, falada, jurídica, dos internautas, etc. De forma generalizada, temos que: • O nível culto é caracterizado pelo uso da linguagem normativa (que é o ramo da gramática que estabelece as regras que são seguidas pelos que desejam escrever corretamente), que faz uso da língua considerada padrão. Esse nível é utilizado em situações formais e também é usado na literatura de forma geral. • O nível comum, despreocupado ou coloquial é intermediário entre o culto e o popular. É uma linguagem mais espontânea e familiar. • O nível popular é o considerado subpadrão, pois faz uso de um vocabulário restrito a certos grupos e situações e apresenta o uso de gírias. • Já o nível técnico ou científico é próximo ao nível culto, embora apresente uma linguagem peculiar, usada por comunidades específicas, com vocabulário preciso, rigoroso e caracterizado pela ausência de emoção. Quadro 1 – Modalidades e níveis da língua Fonte: Elaborado pela autora com base em Gold e Segal (2008, p.14) Português Instrumental 15 Embora a língua escrita esteja sujeita a menos variações que a oral, essas observações também podem ser aplicadas a ela. Quando vamos escrever um texto, temos que ter em mente as características de quem o recebe e a natureza do tema. Se quisermos escrever um e-mail para um amigo, certamente o nível de fala a ser usado não será o mesmo que usaremos para nosso chefe, por exemplo. REFLITA: Com essa diversidade de níveis, é coerente se perguntar: mas o que é certo e o que é errado ou, ao menos, adequado? A verdade é que o grau de liberdade de quem redige está relacionado com a adequação da linguagem à situação comunicativa e ao assunto a ser tratado. Levando em consideração todos esses fatores, devemos escolher a forma mais adequada de estabelecer a comunicação em um dado momento e local, pois é fato que falamos de uma maneira e escrevemos de outra e cada uma tem suas características próprias. Não há superioridade de uma em detrimento de outra. São somente modalidades diferentes realizadas em diferentes contextos. Linguagem é a faculdade do homem de expressar seus pensamentos. A linguagem envolve sons e sinais que podem ser usados para transmitir suas ideias, sensações, experiências etc. A linguagem, como foi visto, pode ser falada ou escrita, ou ainda, gesticulada. Língua é quando um sistema de sons e sinais passa a representar um código compartilhado por um povo. Podemos dizer que a língua é a linguagem articulada. A escrita eficiente no mundo corporativo A verdade é que nunca se escreveu tanto como hoje em dia. A tecnologia aumenta o uso da linguagem escrita, como também causa uma revolução na maneira como os textos são escritos e também lidos. Com a comunicação baseada na Internet, um enorme volume de Português Instrumental 16 informações passa a ser disponibilizada de forma instantânea para milhões de pessoas no mundo todo. Por isso, a clareza e a coerência e o emprego adequado da linguagem escrita, precisa mais do que nunca ser livre de entendimentos imprecisos e de erros, garantindo o sucesso comunicativo. A comunicação tem que ser dotada de agilidade e precisão. Comunicar é buscar a compreensão, o entendimento e a corretatroca de ideias e sensações. Em sua essência mais simples, comunicar é permitir que alguém transponha a mensagem que deseja a alguém que recebe essa informação usando uma determinada forma. Linguagem, por sua vez, deveria ser o exercício da elaboração do pensamento. Nesse sentido, ao mesmo tempo que vemos uma maior produção textual no mundo, temos também a degradação na manifestação escrita em certos textos na Internet através de uma linguagem mais reduzida ou praticamente abreviada, sobretudo pelos mais jovens. Figura 1 - Foto ilustrativa fazendo referência à redação técnica Fonte: Freepik É possível perceber que na atualidade, há uma mudança no estilo das comunicações na forma escrita. Os textos se tornaram menos prolixos e muito mais inteligíveis em termos de comunicação da mensagem. No entanto, ainda lidamos com alguns problemas no que tange à clareza. Português Instrumental 17 A produção textual escrita é uma atividade que, para ser eficaz, deve estar apoiada no domínio compreensivo de uma série de estratégias e habilidades, além de conhecimentos específicos. Muitos pensam que simplesmente seguir as regras da gramática à risca através de fórmulas prontas de “colocação” de ideias no papel perfazem um bom texto. Na prática, temos que produzir textos e não é fazer redações. Textos esses, dos mais diferentes tipos para as mais diversas necessidades e que também venham a atender os mais diversos objetivos. A linguagem escrita não é simplesmente a transposição da linguagem oral e não decorre da interação face a face em contextos comunicativos, onde ambos os interlocutores estão presentes. A linguagem escrita vai além disso: ela permite a comunicação sem depender de tempo e lugar. Isso se reflete na sua estrutura e nas suas necessidades de explicitação. A produção de um bom texto envolve certamente um bom domínio da norma culta da língua, mas também necessita de um bom conhecimento de outros tantos mecanismos necessários à estruturação do texto, como a organização de parágrafos, a construção textual, a clareza na forma de expressão das ideias que se deseja passar e o conhecimento de outros meios de estruturação na composição desse texto. Acima de tudo, o texto deve ter o elemento essencial: a clareza. É a clareza que objetivamos ao elaborar um texto escrito. Mas, obviamente, a tarefa de redigir em uma determinada língua impõe o domínio dos elementos do léxico, os quais trazem consigo informações sintáticas, semânticas e fonológicas, bem como das possíveis combinações entre eles, o que resulta no conhecimento da boa ou má- formação (sintática, fonológica e semântica) de sequências. De fato, todas as variedades linguísticas têm o seu valor e a sua importância, desde que sejam empregadas na situação adequada. Podemos dizer que “escrever bem” é o mesmo que “falar no papel”. Por isso, devemos redigir de maneira simples (simplicidade) e organizada (organização). Ao escrever, temos por obrigação “juntar” todas Português Instrumental 18 as informações de que dispomos, para que a nossa mensagem seja compreendida com a maior clareza possível (clareza, correção, coesão e coerência). No contexto profissional, a redação técnica é aquela utilizada para fins objetivos (objetividade). Difere da redação literária, carregada de valores artísticos e, até mesmo, subjetivos (impessoalidade). Para se escrever uma redação técnica, é necessário que certos cuidados sejam observados, como: o tipo de linguagem, a estrutura do texto, o espaçamento, a forma de iniciar ou finalizar o texto, entre outras (formalidade e padronização). Dessa maneira, a redação técnica difere da literária pelas suas finalidades e pela sua forma: é uma comunicação objetiva, obedecendo a uma padronização que facilita o trabalho e dá ao redator mais segurança de sua eficiência. Caracteriza-se pelo texto em nível culto, gramaticalmente correto, claro, objetivo e com vocabulário adequado à área de atuação. (TOLEDO; NADOLSKIS, 2002, p.119) O que é necessário para uma redação técnica de qualidade? Por ser impessoal, a redação técnica não admite que o redator se expresse de maneira própria e individual, como se faz na comunicação de cunho pessoal. Por isso, existem requisitos essenciais que devem ser observados. Na correspondência oficial poderíamos mencionar os seguintes requisitos: 1. Linguagem/registro – o texto sempre deverá usar o padrão culto da língua; 2. Simplicidade – o texto deve possuir uma linguagem simples, sem palavras rebuscadas ou repetidas; 3. Impessoalidade – linguagem impessoal, sem intimidades; Português Instrumental 19 4. Objetividade/precisão – texto objetivo, utilizando-se todas as informações conhecidas, de maneira objetiva, visando-se um objetivo central, sem os famosos “rodeios”; 5. Coesão – resulta da perfeita relação de sentido que deve haver entre as partes de um texto; 6. Clareza – o texto deve ser claro, como forma de evitar múltiplas interpretações, o que prejudica os comunicados; 7. Concisão – no texto, deve-se mencionar apenas, o estritamente necessário, revelando o maior número de ideias com o mínimo possível de palavras; 8. Correção – o texto deve sempre estar de acordo com as regras da nossa Gramática Normativa; 9. Harmonia – o texto deve primar por ser harmônico e fiel àquilo que seu relator procura exprimir; 10. Formalidade – o texto oficial deve ser expresso de maneira formal; 11. Padronização – inclui uma boa digitação e uma correta diagramação do texto; 12. Organização – refere-se à estrutura do texto, que deve ser formado de três partes distintas: introdução, desenvolvimento e conclusão; 13. Fecho ou término adequado – antes, existiam muitas maneiras de se terminar uma correspondência oficial. Atualmente, usam- se maneiras bem mais simples, como: “Respeitosamente” ou “Atenciosamente”. Português Instrumental 20 VOCÊ SABIA? O fecho das comunicações oficiais possui, além da finalidade óbvia de arrematar o texto, a de saudar o destinatário. Os modelos que vinham sendo utilizados foram simplificados para somente dois fechos diferentes para todas as modalidades de comunicação oficial: • Para autoridades superiores, inclusive o Presidente da República: “Respeitosamente”; • Para autoridades de mesma hierarquia ou de hierarquia inferior: “Atenciosamente”. Sempre se coloca a vírgula após o advérbio. Os elementos de comunicação Os seres humanos têm a necessidade de externar suas ideias, vivências e emoções. O processo de comunicação consiste em alguém que envia uma mensagem a alguém que a recebe usando uma determinada linguagem. Em meados do século XX foi criado o modelo de comunicação humana onde estão presentes seis elementos: • A mensagem que é o conjunto de informações a ser transmitido. • O emissor ou remetente que é aquele de quem parte a mensagem. • O receptor ou destinatário eu é aquele a quem a mensagem se destina. • O código que é um sistema que o emissor e o receptor compartilham, como a língua. • O canal - é o meio físico pelo qual a comunicação se dá (como por exemplo, a televisão). • O referente ou contexto que é o assunto da mensagem. Aquilo a que ela se refere. Português Instrumental 21 Importante: Vale lembrar que em uma situação dinâmica como uma conversa que se instaura pessoalmente, face a face, o emissor e o receptor trocam o tempo todo de lugar, de acordo com aquele que está falando e quem está recebendo a mensagem. Figura 2 – Emissor e receptor uma via de duas mãos Fonte: Pixabay Figura 3 – Elementos de comunicação Fonte: Wikimedia commons RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Vamos então recapitular o que estudamos neste capítulo. A língua escrita tem peculiaridades próprias que a diferem da língua falada. A tarefa de redigir em uma determinada língua impõe o domínio dos elementos gramaticais, como o léxico e a organização sintática.No contexto profissional, a redação técnica é aquela utilizada para fins objetivos. Daí decorre sua necessária objetividade. Por isso, alguns requisitos são essenciais, como, por exemplo, a linguagem, a simplicidade, a impessoalidade, a coesão, a clareza, a concisão e correção, entre outros. Português Instrumental 22 Qualidades de um texto [Objetivo]: O objetivo deste capítulo é fazer você entender e aplicar as características que conferem qualidade a um texto usado para comunicação organizacional. O que faz um texto ser facilmente compreendido pelo receptor da mensagem? Que características adicionam qualidade a um texto? Ao término deste capítulo, esperamos que você tenha compreendido as principais características de um texto bem escrito. Características de qualidade textual Figura 4 - Foto de estudantes fazendo uma redação Fonte: Wilimedia commons Simplicidade Escrever com simplicidade é uma das coisas mais difíceis que existem. A tendência natural dos que se consideram eruditos parece levá-los a complicar um pouco o texto, usar palavras difíceis, citações excessivas, como se isso significasse valorizar o que escrevem. Português Instrumental 23 Objetividade Escrever com objetividade significa: • Identificar a ideia principal; • Identificar as ideias secundárias; • Identificar quais as ideias que interessam ser expressas e quais as que devem ser dispensadas. Precisão A precisão é obtida pelo uso de substantivos e verbos, em lugar de adjetivos, advérbios e outras expressões vagas e vazias. A precisão da linguagem técnica também envolve o uso adequado das expressões próprias, que devem ser adotadas na redação, usando-se sinônimos no lugar de palavras estranhas ao vocabulário técnico. Assim, escrever com precisão significa empregar a forma ideal para expressar o pensamento de modo preciso. Obtém-se a precisão: • Procurando encontrar a palavra certa, consultando, frequentemente o dicionário; • Evitando palavras desgastadas pelo uso e fórmulas feitas; • Revendo criteriosamente o texto e, se necessário, reescrevendo-o. Impessoalidade A finalidade da língua é comunicar-se, quer pela fala, quer pela escrita. Para que haja comunicação, são necessários: • Alguém que comunique; • Algo a ser comunicado. • Alguém que receba essa comunicação. No caso da redação oficial, quem comunica é sempre a Instituição; o que se comunica é sempre algum assunto relativo às atribuições do Serviço Público; o destinatário é o público ou outro órgão da administração. Português Instrumental 24 O tratamento impessoal dado aos assuntos que constam das comunicações administrativas decorre: • Da ausência de impressões individuais de quem comunica: embora se trate, por exemplo, de um expediente assinado pelo Chefe de determinada Seção, é sempre em nome do Órgão que é feita a comunicação; • Da impessoalidade de quem recebe a comunicação, com duas possibilidades: ela pode ser dirigida ao público, ou a outro Órgão. Nos dois casos, temos um destinatário concebido de forma homogênea e impessoal; • Do caráter impessoal do próprio assunto tratado: não cabe qualquer tom particular ou pessoal. Dessa forma, não há lugar, na redação administrativa, para impressões pessoais, como as que, por exemplo, constam de uma carta a um amigo, ou de um artigo assinado de jornal, ou mesmo de um texto literário. A redação administrativa deve ser isenta da interferência de quem a elabora. Formalidade As comunicações administrativas devem ser sempre formais, isto é, obedecer a certas regras de forma, além das já mencionadas exigências de impessoalidade e de utilização do padrão culto da linguagem. Também é necessário certa formalidade ao se dirigir a uma autoridade. Empregar corretamente o pronome de tratamento expressa a civilidade requerida pelo tipo de situação comunicativa instaurada. Coesão A construção de um texto pressupõe que os seus segmentos se sucedem em uma progressão constante e, por essa razão, cada parte deverá ir acrescentando novas informações ao que foi dito anteriormente, formando uma continuidade, uma unidade, tornando o texto coeso. Português Instrumental 25 Dessa maneira, produzir um texto coeso e coerente é muito mais do que emitir palavras em cadeia, frases interligadas ou aglomeradas. Num texto que possui harmonia e coerência, encontra-se um fio condutor, no qual uma ideia deve suceder a outra. Por coesão entende-se a conexão interna entre vários enunciados presentes no texto; enunciados esses que devem estar articulados e concatenados entre si por elementos linguísticos. Cria-se uma espécie de ligação que dá ao texto unidade de sentido ou unidade temática. Um texto tem coesão quando as palavras, frases e parágrafos são interligados de forma correta, oferecendo continuidade um ao outro. Os elementos de coesão oferecem a transição correta das ideias através das frases e parágrafos. A coesão pode ser referencial, lexical e sequencial. Exemplo: 1. Ele comeu muito mas não passou mal. A palavra mal oferece uma ideia de oposição que liga as duas ideias. 2. Dei para a caridade um sofá que não usava mais. A palavra que oferece uma retomada à palavra sofá. A coesão promovendo essa continuidade do texto garante a sua interpretação, por meio da noção de conjunto que se cria entre os vários segmentos interligados entre si. EXEMPLO: a inflação é a maior inimiga da Nação. É meta prioritária do governo eliminá-la = A inflação é a maior inimiga da Nação; logo, é meta prioritária do governo eliminá-la. Elementos De Coesão Textual - Ideias / Palavras / Expressões: • Adição: e; nem e não; não só... mas também; tanto...como; não apenas...como. • Alternância: ou... ou; ora...ora; quer...quer; seja...seja. • Causa: porque; pois; porquanto; que; dado; visto; por; como; devido a; graças a; por causa de; em vista de; em face de; já que; visto que; uma vez que; em razão de; em virtude de; dado que; etc. Português Instrumental 26 • Comparação: como; qual tal; como assim; do mesmo modo que; como se; etc. • Condição: se; caso; sem; salvo; mediante; a menos que; contanto que; exceto se; etc. • Conformidade: como; conforme; consoante; segundo; em conformidade com; de acordo com; etc. • Consequência imprevista: tão; tal; tanto; tamanho... que; de modo que; de forma que; de sorte que; de maneira que; tanto que; etc. • Consequência lógica: assim; logo; portanto; etc. • Finalidade: para que; porque; a fim de que; a fim de; com o fito de; com a intenção de; com o propósito de; com o intuito de; etc. • Oposição: embora; conquanto; muito embora; apesar de; não obstante; a despeito de; sem embargo de; mesmo que; ainda que; em que pese; posto que; se bem que; por muito que; por mais que; etc. • Oposição/adversidade: mas; porém; contudo; todavia; entretanto; no entanto. • Proporção: à proporção que; à medida que. • Tempo: quando; enquanto; apenas; mal; então; enfim; sempre; imediatamente; agora; anteriormente; afinal; raramente; finalmente; agora; hoje; nunca antes que; logo que; sempre que; assim que; depois que; desde que; toda vez que; cada vez que; logo depois; logo após; a princípio; pouco antes; pouco depois; às vezes; por vezes; não raro; ao mesmo tempo; nesse ínterim; nesse meio tempo; enquanto isso; etc. • Outros elementos de coesão textual: ainda, da mesma forma, finalmente, a propósito, aliás, também, daí, em resumo, por fim, dessa forma, por isso, pouco depois, além do mais, em seguida, pelo contrário, além disso, então, assim, em primeiro lugar, enquanto isso. Português Instrumental 27 Naturalidade A escrita deve correr simples e espontânea, sem que se perceba o esforço da arte e a preocupação do estilo. Para se alcançar a naturalidade, deve-se evitar o artificialismo e a afetação, como, por exemplo, emprego de vocábulos inacessíveis para a maioria das pessoas e de expressões empoladas(extravagantes). Harmonia A prosa harmônica prima pela adequada escolha e disposição dos vocábulos, pelos períodos não muito longos e pela ausência de cacofonias (união não harmônica dos sons da fala). Clareza Uma das qualidades de um bom texto é a clareza. Expressar o pensamento sem obscuridade é uma arte, que exige muito exercício, até que o redator se acostume a escrever de forma simples, com frases curtas e objetivas e de fácil compreensão para o leitor. Obtém-se a clareza ao: • Ordenar as ideias e as palavras; • Evitar os períodos longos e as intercalações excessivas; • Escolher adequadamente o vocabulário • Fugir da gíria e do coloquialismo; • Utilizar os termos técnicos somente quando forem indispensáveis; • Evitar ambiguidades e cacofonia; • Pontuar adequadamente o texto; • Evitar acúmulo ou excesso de fatos, opiniões ou aspectos; • Ter cuidado especial com o uso do adjetivo e do advérbio; • Preferir períodos curtos, coordenados; fugir dos períodos subordinados longos e vagos. Português Instrumental 28 Coerência Não podemos falar em coesão, contudo, sem explicar a sua “irmã gêmea”, a coerência. O texto é coerente quando existem possibilidades dele funcionar como peça comunicativa, como meio de interação verbal. As relações entre coesão e coerência, portanto, são bastante estreitas e interdependentes, não podendo haver uma separação entre elas, visto que a coesão existe em função da coerência. Coerência é a harmonia semântica entre as partes de um texto, em dado contexto que leva à compreensão do sentido. É a junção de fatos e ideias oferecendo nexo ou lógica na composição como um todo. Concisão Escrever de forma concisa, ou escrever com concisão, quer dizer ser objetivo, direto, não repetir ideias ou palavras, não alongar o texto desnecessariamente. Ser conciso é ser exato, não abusar das palavras para exprimir uma ideia. Logo, ao produzirmos um texto, devemos ir diretamente ao assunto, evitando rodeios, divagações, rebuscamentos, frases feitas e redundâncias. “Queísmo” O excesso de “quês” é um empecilho sintático extremamente comum à concisão. Ele é ocasionado pela transposição, para a escrita, de um fluxo ininterrupto do pensamento, sem que haja o devido cuidado com a estrutura frasal daquilo que é transmitido. O excesso de “quês” pode ser facilmente corrigido com algumas substituições, de uso comum na língua. Português Instrumental 29 EXEMPLOS: • Espero que me respondas a fim de que se esclareçam as dúvidas que dizem respeito ao assunto que foi discutido. • Espero (sua) resposta a fim de esclarecer as dúvidas a respeito do (sobre o) assunto discutido. • Redator que não se cuida produz textos confusos. • Redator descuidado produz textos confusos. • Um diretor, que detinha pouco conhecimento, foi exonerado • Um diretor, detentor de pouco conhecimento, foi exonerado. • Quero que saibam que chegarei dia 10 • Quero que saibam da minha chegada dia 10. • É necessário que se obedeça às leis • É necessário obedecer às leis. • Aguardo seu pronunciamento sobre o material que foi remetido para análise • Aguardo seu pronunciamento sobre o material remetido para análise. • O pedido que foi entregue não está de acordo com o que nosso setor de compras solicitou. • O pedido entregue não está de acordo com o solicitado pelo setor de compras. Correção Significa expressar-se segundo a norma culta da língua. Obtêm-se correção: • Dando especial atenção à morfologia, à sintaxe e à semântica; • Obedecendo aos padrões ortográficos vigentes; • Fugindo dos vícios de linguagem e da estereotipia; • Revendo criteriosamente o texto. Português Instrumental 30 SAIBA MAIS: Quer se aprofundar no tema deste capítulo? Recomendamos o acesso à fonte de consulta e aprofundamento disponível clicando aqui. RESUMINDO: Neste capítulo, você compreendeu melhor algumas das qualidades de um bom texto escrito. Conheceu os conceitos de coesão e coerência e aprendeu maneiras de conferir objetividade e impessoalidade às suas comunicações escritas. Aprendeu, ainda, técnicas para se obter um texto claro e conciso e como evitar o uso exagerado de “quês” numa frase (o “queísmo”). Português Instrumental https://youtu.be/Ze4e3n5GOpU 31 Opositores Textuais OBJETIVO: Ao término deste capítulo você será capaz de reconhecer os opositores da qualidade textual e como devem ser evitados. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Da mesma forma que existem características favoráveis à qualidade textual, há também aquelas que depõem contra essa qualidade: são os opositores textuais, ou seja, a antítese das qualidades estudadas no capítulo anterior. Os opositores às qualidades textuais Todas as vezes que o ato comunicativo não se processa da forma como deveria entre o emissor e o receptor, causando problemas na compreensão da mensagem, dizemos que ocorre com ruído. Os ruídos não são somente os sons que interferem na comunicação oral como logo nos vem à mente, mas, na linguagem escrita, são desvios na sintaxe, falhas na forma de empregar uma palavra, ambiguidade no sentido entre muitos outros problemas. Esses desvios não são intencionais e irrompem a norma padrão da língua, portando-se como opositores às qualidades textuais. O ruído é toda interferência indesejável ao transmitir uma mensagem. Na linguagem oral pode ser a sirene de uma ambulância ou na forma escrita pode até ser um borrão, assim como pode ser uma falha na construção da mensagem, fugindo à norma culta. Os desvios são o fruto do uso de opositores às qualidades textuais. São situações em que escrevemos falhando com a norma culta da língua portuguesa. Essas falhas compreendem problemas de gramática, acentuação, concordância verbal e nominal, pontuação, crase, entre outros. Português Instrumental 32 Os opositores à qualidade textual ficam ainda mais evidentes em situações em que precisamos usar uma linguagem mais formal. Assim, é importante verificar se o que estamos escrevendo está de acordo com a situação, pois algumas situações não permitem desvios. O uso ou não das normas gramaticais impacta na qualidade do texto. Os desvios ocorrem na fala e na escrita. As escrita sofre interferência da forma como falamos, portanto temos que cuidar tanto da produção oral quanto da escrita. Os opositores à qualidade podem tomar conta do texto por descuido ou por desconhecimento das normas da língua. Um dos opositores à qualidade do texto é a entropia. Ela é uma desorganização na construção da mensagem como em “eu um homem sou”. Outro opositor à qualidade do texto é a redundância exagerada que consiste da repetição que fazemos ao objetivar clareza, como em: “aqui, neste mesmo lugar, onde eu estou e que você também está, aqui fiquei”. O quadro 2 traça um paralelo entre algumas qualidades de um texto e alguns de seus respectivos opositores. Quadro 2 - Qualidades textuais e seus respectivos opositores Fonte: Elaborado pela autora (2022) Português Instrumental 33 Barbarismo acidental O barbarismo acidental é o emprego errado de vocábulos por sua acentuação, forma ou significado. Rubríca - rubrica Geito – jeito Adevogado – advogado Cidadões – cidadãos Mamãos – mamões Gratuíto - gratuito Figura 5 – Alusão ao barbarismo acidental em gratuito Fonte: Freepik Obscuridade textual A obscuridade textual está presente quando o texto não tem clareza, apresenta escrita confusa, não tem coesão nem tampouco coerência, objetividade, correção e exatidão. Para que o texto não fique obscuro, Português Instrumental 34 essencialmente, é preciso organizar a linha de raciocínio, sabendo como estabelecer a prioridade das informações, fazendo uso correto da norma culta no momento da escrita. Figura 6 – Clareza textual Fonte: Pixabay Rebuscamento O rebuscamento excessivo de um texto pode levar a uma grande faltade naturalidade. Em algumas profissões ou situações esse rebuscamento é desejável, mas em um texto comum, o rebuscamento é sinônimo da mais completa falta de naturalidade. O rebuscamento pode tornar um texto obscuro, sem clareza, desviando-o de seu objetivo principal que é comunicar uma mensagem. Os advogados, por exemplo, fazem uso de uma linguagem rebuscada que remonta uma postura tradicional em seu papel. Alguns textos acadêmicos também são produzidos idealmente com rebuscamento. No entanto, na prática diária de nosso trabalho, por exemplo, o rebuscamento pode ser motivo de distanciamento entre quem emite a mensagem e quem a recebe. Português Instrumental 35 Figura 7 – Alusão ao rebuscamento na área jurídica Fonte: Freepik Prolixidade O oposto da concisão é a prolixidade. Ser prolixo é utilizar mais palavras do que o necessário para exprimir uma ideia. O redator prolixo adora delongas. Costuma dar voltas e voltas até chegar ao ponto crucial de uma questão, usando, frequentemente, expressões redundantes e palavras em desuso. É prioritário termos argumentos suficientes para sustentar a elaboração de uma mensagem. No entanto, ao abusar dos argumentos, escrevendo em demasia, com muitos rodeios, podemos fazer com que o texto se torne prolixo. A prolixidade é quando protelamos demais a conclusão do discurso, prorrogando-o, escrevendo demasiadamente sobre o tema. O texto tende a ficar enfadonho e confuso quando abusamos dos argumentos. Português Instrumental 36 Figura 8 – Alusão à fala prolixa Fonte: Freepik EXEMPLO: informamos que a entrada, a frequência e a permanência nas dependências desta seção são terminantemente proibidas, seja qual for o pretexto, a pessoas que não fazem parte de seu quadro de funcionários. A melhor redação seria: É proibida a entrada de pessoas estranhas. Sempre é possível tornar um texto mais conciso. Vejamos alguns outros exemplos de como melhorar: • O acordo foi assinado porque assim pediram todos • O acordo foi assinado a pedido de todos • Atos de guerra • Atos bélicos • Pessoa sem discrição • Pessoa indiscreta • Fazer uma viagem • Viajar Português Instrumental 37 • Pôr as ideias em ordem • Ordenar as ideias Subjetividade A falta de objetividade em um texto comercial, por exemplo, revela informações desnecessárias ao contexto comunicativo a que se destina, talvez até demonstrando um certo caráter pessoal. As informações devem estar presentes em número suficiente para que a mensagem seja passada de forma objetiva. Um texto subjetivo carrega as opiniões do emissor da mensagem e abarca valores diversos. Figura 9 – Alusão à objetividade desejada Fonte: Pixabay Cacofonia A palavra cacofonia vem do grego: (KAKÓS = do grego MAU) + (FONÓS = do grego SOM) = CACOFONIA = MAU SOM. Trata-se de um som desagradável, seja em razão de alguma sugestão de sentido, seja em razão da dificuldade de pronúncia. Resulta da junção de duas ou mais palavras na cadeia da frase: • Ora veja como ela (moela) está!; • O tijuca ganhou (caga) o jogo; Português Instrumental 38 • O jogador marca o gol (cagol); • Herói da nação (danação); • Ela tinha (latinha) muito dinheiro; • Senti que a boca dela (cadela) se aproximava; • Meu coração por ti gela (tigela); • Mande-me já (mejá) isso; • Já não posso amar ela (amarela); • Na vez passada (vespa assada) falei com você; • Já nela não penso mais (janela). Expressões de mau gosto Existem expressões e termos usados, tanto na língua falada quanto na escrita, que comprometem a vida social e as pretensões profissionais de qualquer pessoa. Esses vocábulos em um texto escrito, além de empobrecê-lo, com formas vazias de conteúdo, deixam-no repleto de erros – os chamados (pecados redacionais). Vejamos alguns exemplos: • Aproveitamos o ensejo; • Certos de sua compreensão; • Renovamos nossos protestos de grande estima e consideração; • Sem mais para o momento; • Tomamos a liberdade de...; • Conforme o acordado; • Ficamos à sua inteira disposição. Ambiguidades Ambiguidade consiste em redigir um período que poderá ser tomado em mais de um sentido, isto é, a frase admite mais de uma interpretação: Português Instrumental 39 • Marcos sentou no sofá e quebrou o braço (Marcos sentou e o braço do sofá quebrou); • Para todos aqueles que têm filhos e não sabem, nós temos uma creche no segundo andar; • Quinta-feira, às cinco horas, haverá reunião no Clube das Jovens Mamães que estão amamentando. Todas aquelas que quiseram se tornar uma jovem mamãe, devem contatar Padre Cavalcante em seu escritório; • Sendo este o domingo de Páscoa, chegue cedo à missa, pois, pediremos à Sra. Jandira que ponha um ovo no altar; • Eliana viu o incêndio do seu prédio; • Muitos políticos fazem na vida pública o mesmo que fazem na privada; • Alugam-se quartos para moças de fundos amplos e ventilados; • O postulante não foi encontrado porque morreu, porém a viúva continua com o negócio aberto; • Penhorei uma mesa de comer velha de quatro pés... • Tragam prendas para a próxima venda para beneficência. Uma boa ocasião para livrar-se das coisas inúteis em casa. Tragam seus maridos; • Vende-se este apartamento com o proprietário; • Família muda vende tudo. • Maurício vendia meias para a freguesia de baixa qualidade; • Ontem, saí atrasado da empresa e peguei o ônibus correndo; • O gerente escreveu um relatório da nossa firma que não vale nada; • O presidente da empresa e seu diretor operacional se desentenderam por causa da sua má administração; • Não deixe a preocupação acabar com você. Deixe que nosso serviço social ajude. Português Instrumental 40 Tautologias Ocorre tautologia ou pleonasmo, quando a repetição do termo ou expressão for considerada DESNECESSÁRIA, inútil à frase. • entrar para dentro; • subir para cima; • descer para baixo; • sair para fora; • certeza absoluta; • afta na boca; • prazo limite; • fato real; • encarar de frente; • amanhecer o dia; • gritar bem alto; • exceder em muito; • comparecer pessoalmente; • conviver junto; • detalhes minuciosos; • Elo de ligação; • Surpresa inesperada; • Escolha opcional; • Monopólio exclusivo; • Reenviar novamente; • Adiada para depois; • Acabamento final; Português Instrumental 41 • A seu critério pessoal; • Abertura inaugural; • Duas metades iguais; • Empréstimo temporário. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos aqui. Você aprendeu a se prevenir contra os opositores da qualidade textual. Você estudou os vícios de linguagem, o conceito de cacofonia e conheceu algumas expressões ambíguas, tautológicas ou tidas como de mau gosto. Português Instrumental 42 Vícios de linguagem e organizadores textuais OBJETIVO: O objetivo deste capítulo é fazer com que você não cometa mais os vícios de linguagem e utilize, de forma eficiente, os organizadores textuais. Alguns elementos que se opõem às qualidades textuais são conhecidos como vícios de linguagem, a exemplo da prolixidade, do plebeísmo, entre outros. Vícios de linguagem Figura 10 - Os operadores de telemarketing e call center normalmente incorrem em vícios de linguagem Fonte: Wikimedia commons Os vícios de linguagem são desvios que se opõem à qualidade textual. São incorreções no uso da língua falada ou escrita. Expressões e estruturas linguísticas que não condizem com a norma culta e surgem por descuido por parte do emissor da mensagem ou por seu desconhecimento da forma correta. Português Instrumental 43 Figura 11 – Alusão ao vícios de linguagem que não levam ao lugar desejado Fonte: Pixabay Mas esses vícios são mais comuns do que se pensa. Entre eles, podemos citar: • Ambiguidade – defeito da frase que apresenta duplo sentido,podendo comprometer a mensagem. Exemplo: Convence, por fim, a namorada o namorado apaixonado. (quem convence?) • Barbarismo – São todos os erros que atentam contra a forma das palavras, como erros de pronúncia, de grafia, de flexão, palavras mal formadas etc. Exemplo: Os homens estavam até sentindo ância (em vez de ânsia). Os barbarismos mais frequentes são a cacoépia e a cacografia, bem como a silabada. • Cacoépia é qualquer erro de pronúncia pelo deslocamento do acento tônico que pode ser reproduzido também na forma escrita por consequência. Exemplo Abóboda – abóbada Areoporto – aeroporto Acumpuntura – acupuntura Esteje – esteja Português Instrumental 44 Mendingo – mendigo Metereologia – meteorologia Mortandela – mortadela • Cacografia é qualquer erro de grafia como troca de letras. Exemplos: Magestoso – majestoso Excessão – exceção Xuxú – chuchu geito – jeito fraze – frase • Silabada ou prosódia - se refere aos erros na pronúncia e acentuação das palavras. Exemplo: rúbrica ao invés de rubrica. • Cacofonia ou cacófato – som desagradável gerado pela contiguidade de palavras de certas palavras na frase. Exemplo: a boca dela, janela não penso mais, entre muitos outros como visto no capítulo anterior. • Estrangeirismo – uso de palavras, expressões ou construções que pertencem a línguas estrangeiras. Exemplos: Menu – cardápio, Apartheid – segregação racial, Software – programa, Penalty – penalidade máxima. Show – espetáculo, exibição Hall –vestíbulo Outdoor – painel publicitário Performance – desempenho Glamour – fascínio, encanto App – aplicativo Português Instrumental 45 As palavras estrangeiras, idealmente, devem se limitar aos casos em que não existe correspondente no português. Estrangeirismos incorporados à nossa língua devem ser usadas na forma vernácula. Exemplo: Record – recorde Short - xorte Shampoo - xampu Figura 12 - Penalty Fonte: Freepik • Colisão – sucessão desagradável de consoantes iguais ou idênticas. Exemplo: viaje já; o rato roeu a roupa do rei de roma. • Eco – concorrência de vocábulos que têm a mesma terminação sem que seja com a finalidade de fazer um poema, por exemplo. Exemplo: O ardor não tem odor, sabor nem sabor. • Obscuridade – sentido obscuro ou duvidoso em decorrência de uma construção enredada da frase, impropriedade de termos, má colocação de vocábulos, pontuação defeituosa ou estilo empolado. Português Instrumental 46 • Pleonasmo vicioso ou tautologia – redundância, existência de palavras supérfluas como vimos no capítulo anterior. Exemplo: entrar para dentro e sair para fora. • Solecismo – Falha de sintaxe, regência, concordância ou colocação. Exemplo: Falta nove palitos na caixa. Amanhã começa as aulas em minha escola. • Rebuscamento ou preciosismo – linguagem artificial, vazia de sentido. • Plebeísmo – uso de palavras ou expressões vulgares. Exemplo: Vou dar um jeito nesse troço (coisa, objeto etc.) Prolixidade Um texto não deve possuir períodos longos e cansativos. Mesmo quando o assunto pode ser tratado em poucas linhas, o redator utiliza estratégias de preenchimento para seu texto mais extenso e valorizado. Entretanto, essa ideia está ultrapassada para a linguagem comercial. Em nome da objetividade, o redator, sempre que possível, deve fazer um texto conciso, enxuto. Plebeísmo Palavras vulgares ou gírias não devem ser usadas na redação administrativa, em que é exigida a linguagem padrão e a correção gramatical. O redator deve observar seu vocabulário para se expressar de forma precisa e clara. EXEMPLOS: • Ele é um advogado bacana. • Fiquei besta com a sentença. Gerundismo É um problema recente. Surgiu primeiramente no atendimento telefônico e se espalhou para todos os tipos de atendimento, sendo que agora entrou também na redação dos Órgãos Públicos e Privados. Português Instrumental 47 Consiste em uma estranhíssima locução verbal formada por três ou mais verbos; parece ter sido gerada da soma de uma má tradução do inglês com uma enorme vontade de não se comprometer perante o cliente. Figura 13 – Alusão ao gerundismo no telemarketing onde se faz muito presente Fonte: Freepik EXEMPLO: • Nosso gerente vai estar entrando em contato com o senhor e vai estar resolvendo o seu problema; • Trocar por: “Nosso gerente entrará em contato com o senhor para resolver o problema”. • Eu vou estar cuidando para que isso não aconteça e vou estar ligando para o senhor a fim de passar uma posição. • Trocar por: “Estarei cuidando para que isso não aconteça e ligarei para o senhor a fim de passar uma posição”. Clichê Assim são denominados os lugares-comuns, os modismos, as fórmulas estereotipadas, desgastadas pelo uso excessivo, frequentemente Português Instrumental 48 utilizadas na comunicação verbal. Muitos redatores lançam mão de clichês, acreditando que tais palavras representam qualidade ou erudição. Na realidade, a estereotipia representa pobreza vocabular, devendo ser rejeitada por todos aqueles que pretendem imprimir ao texto precisão e clareza. Muitos modismos, aliás, contrariam a norma culta e, por serem demasiadamente empregados no uso coloquial, são aceitos como corretos pela maioria dos usuários do idioma. EXEMPLOS: • Tecer considerações; • Grata satisfação; • Lamentável equívoco; • Dirimir dúvidas; • A nível de; • Deixar a desejar; • Chegar a um denominador comum; • Otimizar; • Problemática; • Face a; • Fazer uma colocação; • Operacionalizar; • Enquanto; • Junto a; • Por intermédio de. A comunicação escrita, dependendo da área a que pertence, apresenta fórmulas feitas, amplamente utilizadas, que fazem parte do jargão profissional. Condena-se, no entanto, o uso abusivo de clichês, que comprometem a mensagem e dificultam sua compreensão, não se justificando, consequentemente, o apego exagerado de alguns redatores Português Instrumental 49 a tais formas. Expressões desse tipo devem ser substituídas por outras mais elegantes e criativas que personalizem a redação. Chavões Chavão é um vício de estilo já incorporado como linguagem em um texto administrativo. Alguns chavões contêm erros gramaticais ou impropriedades semânticas, mas outros são apenas expressões que, de tanto uso, tornaram-se acessórios que convém evitar, uma vez que nada acrescentam ao texto. Os chavões ou frases feitas indicam falta de imaginação e de vocabulário, causando perda de tempo na redação do texto e na leitura. Eles não significam nada em termos de informação e, às vezes, têm até conotações negativas. EXEMPLOS: • Acusamos o recebimento de... → Use: Em resposta a..., Em atenção a..., Em referência a... • O corrente mês..., O mês em curso... → Diga: este mês... Ou: repita o nome do mês. • Como dissemos acima... → Se já dissemos, por que repetir e ainda avisar que estamos repetindo? • Na certeza de...; Contando com...; Agradecemos antecipadamente...; • Devidas providências...; Providências cabíveis...; • Solicito providências no encaminhamento do processo tal; • Venho através desta...; Vimos pela presente...; Tem a presente a finalidade de...; • Sem mais para o momento...; Limitados ao acima exposto...; • Sendo só o que se nos apresenta no momento. Português Instrumental 50 Os organizadores textuais Para facilitar a redação, tornando-a clara e coerente, oferecemos agora algumas indicações que devem ser utilizadas, os chamados ORGANIZADORES TEXTUAIS (conectivos), os quais expressam melhor as relações que queremos estabelecer ao redigirmos. São eles, de acordo com suas funções: • Conectivos que indicam adição de ideia: • não só... mas também; • Conectivos que indicam contraste entre ideias ou argumentos contrários: • entretanto, embora, ainda que, no entanto, contudo, apesar de, mesmo que, mas; • Conectivos que indicam explicação/constatação/confirmação • de fato, comefeito; • Conectivos que introduzem conclusões: • assim, por isso, assim sendo, portanto; • Conectivos que introduzem argumentos, causas ou justificativas • já que, uma vez que, devido a, como, isso posto, pelo fato de, porque, pois, visto que. SAIBA MAIS: Quer se aprofundar no tema deste capítulo? Recomendamos o acesso à seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Blog: “Dicas de Português” (Esquadrão do Conhecimento, 2017), acessível clicando aqui. RESUMINDO: Vamos recapitular tudo o que você acabou de aprender? Este capítulo foi dedicado a lhe ensinar como evitar os vícios de linguagem, como o gerundismo e os clichês. Além disso, aqui você também aprendeu a utilizar os organizadores textuais de forma eficiente. Esperamos que tenha aproveitado! Português Instrumental https://esquadraodoconhecimento.wordpress.com/linguagens-codigos/dicas-de-portugues/ 51 REFERÊNCIAS GOLD, M.; SEGAL, M. Português instrumental para cursos de direito: Como elaborar textos jurídicos. São Paulo: Pearson, 2008 MEDEIROS, J. B. Português Instrumental. São Paulo: Atlas, 1995. MENDES, M. L. Manual de Redação de Documentos Comerciais. Belo Horizonte: Centro Universitário Newton Paiva, 2014. TOLEDO, M. P., & NADÓLSKIS, H. Comunicação Jurídica. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2002. Português Instrumental _Hlk44523654 _Hlk44523732 _Hlk44523775 _GoBack A importância da comunicação escrita na organização Os níveis de linguagem A escrita eficiente no mundo corporativo O que é necessário para uma redação técnica de qualidade? Os elementos de comunicação Qualidades de um texto Características de qualidade textual Simplicidade Objetividade Precisão Impessoalidade Formalidade Coesão Naturalidade Harmonia Clareza Coerência Concisão “Queísmo” Correção Opositores Textuais Os opositores às qualidades textuais Barbarismo acidental Obscuridade textual Rebuscamento Prolixidade Subjetividade Cacofonia Expressões de mau gosto Ambiguidades Tautologias Vícios de linguagem e organizadores textuais Vícios de linguagem Prolixidade Plebeísmo Gerundismo Clichê Chavões Os organizadores textuais
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