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1 Interação entre formigas e Guayaquila xiphias (Homoptera: Membracidae) em Didymopanax vinosum (Araliaceae) GIOVANNA TREVIZAN1,2, MARIA CAROLINA DE BARROS GRASSI1,3, RENÊ ALVAREZ ROCHA1,4, SUZANA DINIZ1,5, TALITA NOGUEIRA TERRA1,6, VINICIUS UMAKI MORITA1,7 & ANDRE VICTOR LUCCI FREITAS8 1 Curso de Graduação em Ciências Biológicas, Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, São Paulo 2 g030037@dac.unicamp.br 3 m034534@dac.unicamp.br 4 r035631@dac.unicamp.br 5 s036046@dac.unicamp.br 6 t036081@dac.unicamp.br 7 v010058@dac.unicamp.br 8 Museu de História Natural, Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas, CP6109, 13083-970 Campinas, São Paulo 2 Resumo: Este trabalho teve como objetivo investigar a influência da presença de homópteros no número de formigas e no patrulhamento destas em Didymopanax vinosum. Para tanto foram considerados 18 pares de indivíduos de D. vinosum sendo que em um deles havia pelo menos um homóptero e no outro não (controle). Foi contado o número de formigas em cada planta do par. Nesses indivíduos foram colados cupins (modelos de iscas) para verificar o tempo de ataque das formigas. Verificou-se que em plantas com homópteros o número de formigas e de ataques a cupins foi maior do que em plantas sem homópteros. Sendo que homópteros secretam exudato rico em nutrientes que serve de fonte de alimento fixa e garantida para as formigas, observa-se mutualismo facultativo entre os mesmos - aqueles as provêm de alimento e estas protegem os primeiros, tratados como fonte de alimento, contra possíveis predadores. Palavras-chave: homópteros, Didymopanax vinosum, exudato, formigas 3 Introdução É freqüentemente observado mutualismo entre formigas e homópteros, sendo o mesmo facultativo. A relação entre os indivíduos baseia-se na proteção dos homópteros pelas formigas contra parasitas e predadores, já que os mesmos são fontes fixas e garantidas de alimento (Cushmam e Addicott 1991, apud Del- Claro & Oliveira, 1993). A substância secretada pelos homópteros (exudato), da qual as formigas se alimentam, é constituída por uma mistura de nutrientes, entre eles, carboidratos, aminoácidos, amidas e proteínas. Alguns estudos mostram ainda que há preferência pela seiva secretada pelos homópteros em relação aos nectários extraflorais (Del Claro & Oliveira, 1999). Algumas hipóteses defendem que a visita de formigas aos nectários extraflorais é benéfica para a planta, de modo que elas se comportam como um mecanismo de defesa contra outros herbívoros (Bentley 1977 a, apud Del-Claro & Oliveira, 1993). Entretanto, outros pesquisadores afirmam que essa relação não é benéfica (e.g. O´Doud & Catchpole 1983, aput Del-Claro & Oliveira, 1993). O objetivo deste trabalho foi investigar a influência da presença de homópteros na planta no número de formigas visitando a planta e no ataque a iscas de cupim. 4 Materiais e métodos O estudo foi realizado no dia 28/04/2004 na Fazenda Campininha, Estação Experimental de Mogi Guaçu (22O 15’ S/ 47O 09’ O), localizada a uma altitude de aproximadamente 642 m. A vegetação na área estudada é o cerrado. O clima típico do local é o Tropical Sazonal de inverno seco, onde a temperatura média anual é em torno de 22 – 23O C e a precipitação anual fica entre 1200 e 1800 mm, concentrando-se nos meses de primavera e verão (outubro a março). A realização do trabalho se deu em uma trilha com aproximadamente 420 m, tendo sido estudadas plantas Didymopanax vinosum (Araliaceae) encontradas assistematicamente a partir dos 250 m. Foram escolhidos 18 pares de Didymopanax vinosum, sendo que em cada par uma planta apresentava pelo menos um indivíduo de G. xiphias e a outra não (controle). Para cada planta do par, foram contadas todas as formigas presentes. Posteriormente, em cada planta do par foi colado um cupim com cola branca (Tenaz®) e o mesmo foi observado por cinco minutos, sendo registrado se o mesmo foi atacado ou não pelas formigas. Este trabalho apresentou como hipóteses se um maior número de formigas seria encontrado em plantas com homópteros e conseqüentemente se haveria um maior ataque às iscas nestas plantas. 5 Resultados Hipótese nula 1: O número de formigas nas plantas com homópteros e sem homópteros são iguais? A média do número de formigas em plantas com homópteros (3,8; σ = 4,77) foi significativamente maior do que em plantas sem homópteros (0,7; σ = 0,84) (T = 2,774910; GL = 34; P = 0,008907). Hipótese nula 2: O número de cupins predados em plantas com homópteros é igual ao número de cupins predados em plantas sem homópteros? Nas plantas com homópteros, os cupins foram significativamente mais atacados (55%) do que em plantas sem homópteros (6%) (χ2 = 5,4, GL = 1, p<0,01). 69 12 0 10 20 30 40 50 60 70 80 1 2 N úm er o de fo rm ig as Figura 1. Número médio de formigas presentes em plantas com homópteros (1) e sem homópteros (2). 6 10 1 0 2 4 6 8 10 12 Plantas com homópteros Plantas sem homópteros Pl an ta s co m a ta qu e Figura 2. Número de ataques de formigas a cupins em plantas com e sem homópteros. 7 Discussão O número maior de formigas encontrado em plantas com homópteros pode ser explicado pelo fato de que estes secretam uma substância açucarada que é extremamente atrativa às formigas, de tal forma que elas mantêm um patrulhamento constante para com os membracídeos (Del-Claro & Oliveira,1993). O número de ataques foi maior em plantas com homópteros, devido a um maior número de formigas encontradas nestas plantas evidenciando que a probabilidade daquelas encontrarem as iscas é mais alta. Os resultados permitem-nos afirmar que pode haver uma relação de mutualismo facultativo entre Guayaquila xiphias e Formicidae, pois para os homópteros é vantajosa a defesa proporcionada pelas formigas e estas se beneficiam se alimentando da secreção liberada por eles. Uma questão levantada pelo projeto foi se para a planta é mais vantajoso ser parasitada pelos homópteros e protegida de herbívoros pelas formigas ou ser atacada por herbívoros sem os homópteros parasitando-a. Mas essa questão só poderia ser respondida através de novas pesquisas pois nosso foco de trabalho não foi esse. 8 Bibliografia COUTINHO, L. M.1978. Conceito de Cerrado. Revista Brasileira de Botânica 1:17-23. DEL-CLARO, K. & OLIVEIRA, P.S. 1993. Ant-homoptera interaction: Do alternative sugar sources distract tending ants? Oikos 68: 202-206. DEL-CLARO, K. & OLIVEIRA, P.S. 1999. Ant-homoptera interactions in a neotropical savanna: The honeydew-producing treehopper Guayaquila xiphias (Membracidae) and its association ant fauna on Didymopanax vinosum (Araliaceae). Biotropica 31:135-144. DEL-CLARO, K., FREITAS, A V.L. & OLIVEIRA, P. S., Ant foraging on plant foliage: Contrasting Effects on the Behavioral Ecology of Insect Herbivores. Cerrados do Brasil 287-303. FONSECA, J. S. & MARTINS, G. A., 1982. Curso de Estatística. Atlas, São Paulo. 9 Apêndice Número de formigas Ataque das formigas Plantas com homóptero Plantas sem homóptero Plantas com homóptero Plantas sem homóptero 11 0 houve não houve 3 0 houve não houve 2 1 não houve não houve 2 1 não houve não houve 1 0 houve não houve 6 0 houve não houve 2 0 não houve não houve 0 0 houve houve 6 2 não houve não houve 1 1 houve não houve 6 1 não houve não houve 0 1 não houve não houve 2 3 houve não houve 5 0 houve não houve 0 0 houve não houve 0 1 não houve não houve 3 1 houve não houve 19 0 não houve não houve Média : 3.833333 Média: 0.666667 10 ataques 1 ataque σ = 4,77 σ = 0,84 10
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