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Exame físico do sistema respiratório Apresentação Os métodos propedêuticos para a avaliação do sistema respiratório contemplam inspeção, palpação, ausculta e percussão. Por ser um método desafiador, é sugerida a leitura desta Unidade e a realização das técnicas de ausculta em familiares ou em você mesmo. Nesta Unidade de Aprendizagem, você estudará sobre o exame físico e a anamnese do sistema respiratório. Além disso, esta unidade explora a avaliação do tórax e dos pulmões, revisa a anatomia e a fisiologia pertinentes relacionadas com a função respiratória e pulmonar. Agregados a essa avaliação, esta Unidade contempla os métodos para a coleta de dados subjetivos e métodos propedêuticos para a avaliação de sinais e sintomas respiratórios e também para a identificação de características normais e anormais, rotulados como achados clínicos. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Determinar os limites anatômicos do sistema respiratório, associando-os com os achados anormais. • Coletar dados objetivos na inspeção, na ausculta, na percussão e na palpação do sistema respiratório. • Definir as variáveis respiratórias que se modificam ao longo do ciclo da vida.• Desafio A avaliação do sistema respiratório fornece subsídios indispensáveis para o raciocínio diagnóstico e, consequentemente, para o planejamento e a execução da assistência de enfermagem. Conhecer os princípios anátomo-fisiológicos, os marcos anatômicos e as técnicas de avaliação são de extrema importância. Deste modo, você, enfermeiro especialista em saúde da família, saberia determinar as variáveis respiratórias em uma gestante, em um idoso, em um neonato e em uma criança? Quais as diferenças semiológicas a serem consideradas? Infográfico O sistema respiratório tem como principal função a promoção das trocas gasosas, sendo que é responsável pelo transporte de ar do ambiente para os alvéolos pulmonares, nos quais ocorre a extração de oxigênio e a liberação de dióxido de carbono. Essa função ocorre nas vias aéreas superiores e inferiores. Com o auxílio da fisiopatologia do sistema respiratório, deve-se avaliar o padrão respiratório, utilizando-se das técnicas propedêuticas: inspeção, palpação e ausculta. Acompanhe, no Infográfico, os padrões de anormalidades do sistema respiratório, que devem ser investigados pelo enfermeiro. Conteúdo do livro O sistema respiratório desempenha suas funções por meio de ventilação pulmonar, respiração e perfusão. O funcionamento depende, basicamente, de 3 fatores: 1. A integridade do sistema de vias aéreas para transporte do ar para os pulmões e deles para fora. 2. Sistema alveolar com funcionamento correto dos pulmões para oxigenar o sangue venoso e remover o dióxido de carbono dele. 3. Sistema cardiovascular e hematológico funcionando adequadamente, para levar nutrientes e resíduos para as células do corpo e a partir delas (Taylor et al., 2014). Na obra Semiologia, leia o capítulo Exame físico da sistema respiratório, base teórica desta Unidade de Aprendizagem. Boa leitura. SEMIOLOGIA Letice Dalla Lana Exame físico do sistema respiratório Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Determinar os limites anatômicos do sistema respiratório associando aos achados anormais. � Coletar dados objetivos na inspeção, ausculta, percussão e palpação do sistema respiratório. � Identificar as variáveis respiratórias ao longo do ciclo da vida. Introdução Os métodos propedêuticos para a avaliação do sistema respiratório con- templam a inspeção, palpação, ausculta e percussão, com o intuito de analisar sinais e sintomas, bem como identificar características normais e anormais, rotuladas como achados clínicos. Neste capítulo, você estudará o exame físico e a anamnese do sistema respiratório, avaliando o tórax e os pulmões, bem como revisando a anatomia e a fisiologia relacionadas às funções respiratória e pulmonar. Você também conhecerá os métodos para a coleta de dados subjetivos e os propedêuticos. Limites anatômicos do sistema respiratório e associação aos achados anormais O nariz é o primeiro segmento do sistema respiratório, o órgão sensorial para o olfato que aquece, umidifica e filtra o ar inalado. Externamente, ele possui um formato triangular com um dos lados unido à face e, na sequência, tem-se a boca, definida como o primeiro segmento do sistema digestório e uma via de condução aérea do sistema respiratório, mas sem a função de preparação do ar inalado. Os seios paranasais se tratam de bolsões preenchidos por ar no interior do crânio, os quais se comunicam com a cavidade nasal e contêm o mesmo tipo de membrana mucosa ciliada. Eles aliviam o peso dos ossos do crânio, servem como ressonadores para a produção de som e produzem o muco que é drenado para o interior das cavidades nasais. Suas aberturas são estreitas e podem ser facilmente ocluídas, o que pode causar inflamação ou sinusite. Tem-se dois pares de seios acessíveis para o exame: os frontais no osso frontal em cima da órbita; e os ma- xilares na maxila (osso da face), ao longo das paredes laterais da cavidade nasal. A traqueia e os brônquios compõem o conjunto de transporte do ar, sendo que ela deve ser avaliada sobre sua mobilidade por meio de palpação e ausculta para investigar a obstrução da passagem de ar. O pulmão esquerdo tem dois lobos, e o direito possui três lobos, estando localizado 2,5 cm mais alto do que o esquerdo em virtude do fígado. O esquerdo, por sua vez, é mais estreito do que o direito devido à posição do coração, porém, ambos estendem seu ápice acima da linha da clavícula e podem ser auscultados. Os limites aproximados dos lobos na parede torácica devem ser consi- derados, pois a inserção do cateter venoso central na veia subclávia pode acidentalmente atingir o ápice do pulmão e causar pneumotórax, por isso, antes da instalação de medicamentos, é ideal sua investigação por meio de exames de imagem. O lobo médio anterior com frequência localiza-se sob a mama, sendo mais difícil auscultá-lo, principalmente em mulheres idosas ou obesas, porém, precisa-se investigar o padrão respiratório do paciente em busca de anormalidades. Inspeção, ausculta, percussão e palpação do sistema respiratório O exame físico é identificado a partir das técnicas propedêuticas de inspeção, palpação e ausculta. O método percussão não se trata do achado referente ao padrão respiratório, pois essa ação caracteriza-se pela entrada e saída de ar dos pulmões, por meio da mecânica da ventilação (inspiração e expiração). Inspeção A seguir, você estudará a inspeção dinâmica do tórax, descrevendo a frequência respiratória (FR), os tipos de respiração e seu ritmo. A FR pode ser alterada por razões fisiológicas, como na atividade física, ou distúrbios patológicos, por exemplo, na elevação da temperatura corpo- ral. No indivíduo adulto normal, ela é de 16 a 20 movimentos respiratórios Exame físico do sistema respiratório2 por minuto (mpm), com profundidade e ritmo regulares. Quando está mais rápida e superficial, denomina-se de taquipneia; se for mais lenta, trata-se da bradipneia; e caso seja uma parada dos movimentos respiratórios, intitula-se apneia (POSSO, 2010; BARROS, 2017). Quanto ao tipo de respiração, verificada ao observar os movimentos do tórax e abdome, a classificação é dividida em torácica, abdominal ou diafrag- mática, sobretudo nas crianças pequenas, e toracoabdominal, mais frequente em homens. Alguns distúrbios funcionais podem ocorrer, como a tiragem, uma depressão dinâmica respiratória observada nos espaços intercostais durante toda a inspiração, quando há dificuldade na expansão pulmonar, principalmente em crianças. O ritmo respiratório é o tempo gasto na respiração e amplitude dos movi- mentos (inspiração e expiração). Para avaliá-lo, recomenda-se que o paciente não perceba que está sendo observado paranão mudar o padrão respiratório, verificando por, no mínimo, dois minutos a sequência, a forma e a amplitude dos movimentos (POSSO, 2010). Veja a descrição de alguns ritmos ventilatórios associados a determinadas condições clínicas (BARROS, 2017; TAYLOR et al., 2014): � Hiperventilação é a frequência maior que 24 mpm com ritmo regular e pode estar relacionada à ansiedade extrema, ao medo, à pressão intra- craniana (PIC) elevada, à superdosagem de narcóticos e aos pacientes com diabetes. � Hipoventilação é a frequência menor que 10 mpm, superficial e irregular, podendo estar associada à superdosagem de narcóticos ou anestésico e às lesões do sistema nervoso central. � Respiração suspirosa é uma sequência regular das incursões respira- tórias, constitui-se em uma inspiração mais profunda seguida de uma expiração mais demorada e pode indicar disfunção emocional. Sua persistência pode levar à hiperventilação e síncope. � Respiração de Cheyne-Stokes ou dispneia periódica consiste em mo- mentos de respiração lenta e superficial que evolui gradualmente para rápida e profunda, alternando com apneias. Ela pode ocorrer em overdose de substâncias, nas insuficiências cardíaca, renal e respiratória, nas meningites, bem como no aumento da pressão e da PIC. � Respiração de Biot é também chamada de atáxica e assemelha-se à de Cheyne-Stokes, a não ser por seu padrão irregular, podendo ocorrer em traumatismo craniano, abscesso cerebral, insolação, meningite espinhal e encefalite. 3Exame físico do sistema respiratório � Respiração Kussmaul caracteriza-se por inspirações rápidas e amplas interrompidas por apneia, seguidas de expirações profundas e ruidosas que, por sua vez, são sucedidas pelas pequenas pausas de apneia. Ela está associada à acidose metabólica. � Respiração dispneica é a sucessão regular de movimentos respiratórios amplos e quase sempre desconfortáveis, talvez o padrão com mais alteração respiratória, associada às inúmeras afecções cardíacas e pul- monares, como nas insuficiências cardíacas congestivas, bronquites, pneumonias e asma. Na inspeção estática, é possível encontrar anormalidades na configuração do tórax, que podem prejudicar a mecânica de ventilação. O primeiro aspecto observado inclui a postura do paciente durante a entrevista e o exame físico. Em geral, as pessoas com doença obstrutiva pulmonar crônica (DPOC) sentam- -se em uma posição de tripé na cadeira ou no leito, inclinando-se para frente com os braços estendidos contra os joelhos, em uma tentativa de elevar as clavículas e obter uma capacidade ligeiramente maior de expandir seu tórax. Deve-se observar também abaulamentos e depressões durante a expansão do tórax na respiração. Um tórax normal tem formato elíptico e mantém uma relação entre o diâ- metro anteroposterior e o lateral de 1:2, assim, o diâmetro lateral é geralmente duas vezes maior que o anteroposterior, mas sua forma pode ser alterada em várias situações. No Quadro 1, você pode observar algumas configurações do tórax. Para saber mais sobre um tórax instável, com movimentos paradoxais, assista ao vídeo no link a seguir. https://goo.gl/PqB87J Exame físico do sistema respiratório4 Co nf ig ur aç ão d o tó ra x Co nd iç õe s as so ci ad as D es cr iç ão Ilu st ra çã o Ad ul to n or m al Ac ha do n or m al Ra zã o an te ro po st er io r e la te ra l é de 1 :2 , m ai s a m pl a qu e pr of un da , co m fo rm at o ov al . F or m at o em co ne d a ca be ça a o ar te lh o Tó ra x em b ar ril o u to ne l Re su lta d a hi pe rin su fla çã o pu lm on ar , co m a um en to a nt er op os te rio r d o tó ra x. A ss oc ia do a o D PO C, à a sm a cr ôn ic a e ao e nv el he ci m en to n or m al Ra zã o an te ro po st er io r e la te ra l é pr óx im o de 1 :1, c om fo rm at o ar re do nd ad o. A s c os te la s s ão m ai s h or iz on ta is, e a m ar ge m co st al fi ca a m pl ia da Tó ra x in st áv el Q ua nd o m úl tip la s c os te la s s ão fra tu ra da s, oc as io na m ov im en to s pa ra do xa is do tó ra x D ia fra gm a em pu rr a pa ra b ai xo du ra nt e a in sp ira çã o, a p re ss ão ne ga tiv a fa z a ár ea le sio na da vo lta r-s e pa ra d en tr o e, n a ex pi ra çã o, e la s e m ov e pa ra fo ra Q ua dr o 1. C on fig ur aç õe s d o tó ra x (C on tin ua ) 5Exame físico do sistema respiratório Fo nt e: A da pt ad o de B ar ro s ( 20 17 ). Co nf ig ur aç ão d o tó ra x Co nd iç õe s as so ci ad as D es cr iç ão Ilu st ra çã o Tó ra x em fu ni l ( pe ct us ex ca va tu m ) Co nd iç ão c on gê ni ta q ue p od e co m pr im ir o co ra çã o e os g ra nd es va so s, oc as io na nd o so pr os D ep re ss ão n a pa rt e in fe rio r do e st er no a dj ac en te Tó ra x de p om bo (p ei to c ar in ad o) Co nd iç ão c on gê ni ta An te ro po st er io r a um en ta do e es te rn o de slo ca do a nt er io rm en te , de pr im in do a s c ar til ag en s co st ai s a dj ac en te s Ci fo es co lio se M ui ta s v ez es , p od e se r d e or ig em c on gê ni ta El ev aç ão d a es cá pu la ; o m br o e qu ad ris a pr es en ta m u m a cu rv at ur a em “S ”; as so ci aç ão à e sc ol io se . Co m pr im e o tó ra x an te rio r e re du z o vo lu m e in sp ira tó rio p ul m on ar Q ua dr o 1. C on fig ur aç õe s d o tó ra x (C on tin ua çã o) Exame físico do sistema respiratório6 Ausculta O trânsito de ar pelo trato respiratório na inspiração e expiração é capaz de produzir três tipos de sons, que são normais da respiração. Trata-se do som traqueal, brônquico ou bronquial; do broncovesicular; e do som ou murmúrio vesicular. O traqueal é de tom alto, timbre rude, qualidade áspera e tubular; o broncovesicular se ouve no brônquio do tronco principal, sendo um sopro; já o murmúrio vesicular se trata de um som baixo e suave, mais audível na base dos pulmões durante a inspiração e mais longo que a expiração (TAYLOR et al., 2014; JARVIS, 2012). Os ruídos anormais ouvidos durante a ausculta são denominados de adventí- cios, podem ser contínuos ou descontínuos e devem ser descritos de acordo com sua localização, seu período e sua intensidade. Os sons descontínuos incluem cre- pitações (finas, rudes ou atelectásicas) e atrito pleural; já os contínuos envolvem sibilos (de alta ou baixa frequência) e estridor (TAYLOR et al., 2014; JARVIS, 2012). No Quadro 2, você pode conferir os ruídos adventícios e sua descrição. Ruídos adventícios Descrição Roncos Sons graves provocados pela vibração das paredes brônquicas e pelos gases da respiração. São intensos, altos, palpáveis sob forma de frêmitos e podem desaparecer em curto espaço de tempo, geralmente depois de um acesso de tosse. Sibilos Sons agudos, finos e contínuos, audíveis na inspiração e expiração, porém, mais altos na última. Decorrem do estreitamento dos brônquios menores e são característicos de patologias da árvore brônquica, como bronquite e asma, sendo descritos pelo paciente como um chiado. Crepitações Ruídos provocados pelo deslocamento das paredes alveolares devido à presença de exsudatos ou transudatos, de tonalidade de baixa/grave a alta/ aguda, descontínuos e sempre inspiratórios. Indicam lesões alveolares, por exemplo, pneumonia (fase de congestão), broncopneumonia, tuberculose, edema agudo, insuficiência cardíaca congestiva, etc. Quadro 2. Ruídos adventícios (Continua) 7Exame físico do sistema respiratório Fonte: Adaptado de Taylor et al. (2014) e Jarvis (2012). Ruídos adventícios Descrição Estridor Um som forte que pode serouvido sem estetoscópio, tanto na inspiração como na expiração, e é indicativo de estreitamento das vias aéreas maiores. Atrito pleural Um som que ocorre na inflamação das pleuras em decorrência da fricção entre elas. Quadro 2. Ruídos adventícios Palpação A palpação é usada no exame do tórax para a avaliação das áreas de dor, da simetria da incursão torácica (expansibilidade) e do frêmito toracovocal (TAYLOR et al., 2014; JARVIS, 2012; BARROS, 2017). � Palpação para pesquisa de dor: todas as áreas torácicas devem ser avaliadas para essa pesquisa, basta golpear suavemente o dorso do paciente com seu punho. Uma queixa de dor torácica pode estar rela- cionada apenas à doença musculoesquelética local, e não à do coração ou dos pulmões. � Palpação para avaliação da incursão torácica: pequenas variações da expansibilidade podem ser detectadas pela palpação, o que é um sinal precoce de anormalidades com a caixa torácica, a pleura ou o pulmão subjacente. Avalia-se separadamente a expansibilidade dos ápices e das bases, usando manobras semiológicas específicas. O objetivo desse teste é determinar se os lados do tórax se movem igualmente. � Palpação para avaliar o frêmito toracovocal: vibrações percebidas na parede torácica pela mão do examinador, quando o paciente emite algum som. ■ Frêmito toracovocal aumentado: quando há aumento da densidade do tecido pulmonar, melhorando a condução das vibrações. ■ Frêmito toracovocal diminuído: quando há obstrução da vibração. ■ Frêmito brônquico: quando o ar inalado passa por meio de secreções espessas nos brônquios maiores. (Continuação) Exame físico do sistema respiratório8 ■ Frêmito de atrito pleural: quando a inflamação da pleura visceral ou parietal causa uma diminuição no líquido lubrificante normal. Percussão A percussão da parede torácica é transmitida ao tecido subjacente, refletida de volta e percebida pelo tato e pela audição do examinador. Em um tórax normal, ela produz vibrações lentas e um som de baixa tonalidade com maior duração, chamado de som claro pulmonar ou ressonância (TAYLOR et al., 2014; JARVIS, 2012; BARROS, 2017). � Se existir um aumento na quantidade de ar em relação à de tecido, a percussão produzirá um som de tonalidade mais baixa, duração maior e mais ressonante que o normal. Isso ocorre quando os pulmões estão hiperinsuflados, como nas obstruções crônicas do fluxo aéreo, devido à bronquite crônica, enfisema e asma, tendo um efeito exagerado no pneu- motórax. Esse som varia desde a hiper-ressonância até o timpanismo. � Se a relação ar e tecidos reduzir, o som será de alta frequência e tona- lidade, curto e seco, variando desde a submacicez até a macicez — é como se estivesse percutindo sobre o fígado, um órgão sólido. Essa percussão ocorre quando o ar dos pulmões é retirado, sendo substituído por outro fluido (transudato ou exsudato), por exemplo, na consolidação. Variáveis respiratórias ao longo do ciclo da vida Na gestante, as alterações do funcionamento do sistema respiratório começam com o aumento da congestão nasal, epistaxe e mudanças na voz devido ao edema de mucosas pela vasodilatação e à elevação do volume sanguíneo. Posteriormente, observa-se mudanças importantes no formato da caixa torácica e no diafragma em razão do aumento uterino. O diafragma se eleva aproxi- madamente 4 cm, e sua excursão aumenta cerca de 2 cm. Já a complacência da parede torácica diminui, aumentando o trabalho respiratório, o que leva às dificuldades respiratórias, sendo que o consumo de oxigênio se eleva em torno de 20% devido ao aumento do trabalho cardiorrespiratório e à presença do feto. Em alguns casos, a gestante pode ter tensão ou fratura das costelas em virtude da expansão da caixa torácica. Os neonatos são submetidos ao índice de Apgar, que avalia o nível de adaptação do bebê à vida fora do útero, cujo baixo valor é útil para identificar 9Exame físico do sistema respiratório as crianças que necessitam de cuidados adicionais, mesmo na ausência de dados laboratoriais. Realiza-se seus escores de 1 a 5 minutos após o nascimento para determinar o estado de saúde e a necessidade dela. No componente de Apgar, a enfermeira avalia as ventilações usando uma escala progressiva desde ausente até acompanhada de choro forte. As primeiras ventilações implicam um grande esforço, conforme as vias respiratórias e os alvéolos estão insuflando. Já os sedativos administrados na mãe durante o trabalho de parto (especialmente na cesárea), o suprimento sanguíneo comprometido do recém-nascido ou as vias respiratórias obstruídas por muco podem deprimir a ventilação do bebê. Quanto mais prematuro ele for, mais irregular pode ser a respiração, devido à ausência de um sistema nervoso bem desenvolvido. Os recém-nascidos respiram pelo nariz, e a dilatação nasal é comum, pois seu nariz está congestionado com frequência, o que justifica a aspiração das vias logo após o nascimento. Na ausculta pulmonar, a identificação de estertores é comum devido às pequenas quantidades de líquidos que permanecem nos pulmões. Se os sons pulmonares adventícios forem assimétricos, pode haver aspiração de mecônio. Já nos ruídos gastrintestinais no tórax, existe a grande possibilidade de hérnia diafragmática. O exame físico da criança utiliza alguma estratégia a fim de ganhar sua confiança para que colabore com ele. Deve-se realizar a medida da circunferên- cia torácica, pois nos primeiros 2 anos, ela precisa ser menor que o perímetro encefálico, sendo que aos 6 e 7 anos, as crianças começam a respirar usando os músculos intercostais. Durante a infância, o formato do tórax caracteriza- -se como redondo e, à medida que a criança cresce, o perímetro transverso adquire uma maior extensão. Esse formato persiste após 5 a 6 anos e indica doença pulmonar. Já a profundidade da inspiração é menor, e a FR varia conforme a idade. Geralmente, a interpretação dos dados subjetivos do idoso estão associados às patologias manifestadas durante a vida. O tórax pode possuir formato de barril devido à perda da elasticidade das fibras musculares e do diafragma, já os alvéolos podem ficar mais fibrosos, gerando diminuição da capacidade vital e aumento do grau de dispneia. As mucosas, por sua vez, se tornam mais secas, pois há retenção de muco, aumentando a chance de desenvolver infecções. Durante a velhice, a imobilidade ou a redução da atividade física podem levar ao colapso das vias aéreas respiratórias (atelectasia), à troca de ar redu- zida, hipóxia, hipercapnia e acidose. Na atelectasia e obstrução brônquica, os sons são reduzidos ou interrompidos em determinada área, como você pode ver na Figura 1. Exame físico do sistema respiratório10 Figura 1. Atelectasia. Fonte: Adaptada de Pawel Graczyk/Shutterstock. Atelectasia Contração na atelectasia Reabsorção na atelectasia Compressão na atelectasia No idoso, os reflexos do vômito e da tosse reduzidos elevam o risco de aspiração de secreções, que conduzem à pneumonia por aspiração. BARROS, A. L. B. L. (Org.). Anamnese e exame físico: avaliação diagnóstica de enfermagem no adulto. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. 472 p. CHEST Wall Deformities: An Overview on Classification and Surgical Options. John Wayne Cancer Institute, Santa Monica, 7 June 2018. Disponível em: <https://www. saintjohnscancer.org/blog/2018/06/07/chest-wall-deformities-an-overview-on-clas- sification-and-surgical-options/>. Acesso em: 18 mar. 2019. JARVIS, C. Exame físico e avaliação de saúde para enfermagem. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. 912 p. POSSO, M. B. S. Semiologia e simiotécnica de enfermagem. São Paulo: Atheneu, 2010. 192 p. 11Exame físico do sistema respiratório TAYLOR, C. R. et al. Fundamentos de enfermagem: a arte e a ciência do cuidado de enfermagem. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 1768 p. Leituras recomendadas BAIKIE, P. D. Sinais e sintomas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. 784 p. (Série Práxis). ROSA, A. A. A.; SOARES, J. L. M. F.;BARROS, E. (Orgs.). Sintomas e sinais na prática médica: consulta rápida. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2019. 812 p. SILVA, E. R. R.; LUCENA, A. F. Diagnósticos de enfermagem com base em sinais e sintomas. Porto Alegre: Artmed, 2011. 336 p. Exame físico do sistema respiratório12 Dica do professor Os métodos propedêuticos para a avaliação do sistema respiratório contemplam inspeção, palpação, ausculta e percussão. Contudo, você sabia que o padrão respiratório é identificado apenas pelas técnicas propedêuticas de inspeção, palpação e ausculta. Na Dica do Professor, veja como realizar a anamenese e o exame físico do sistema respiratório, que consta da entrevista, da inspeção, da palpação, da ausculta e da percussão. Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/6e24b9d290dcf52d7e6844c109ef1380 Exercícios 1) Um paciente chega para atendimento no pronto-socorro relatando ter diabetes, sem controle medicamentoso. No exame físico, são constatadas inspirações rápidas e amplas, interrompidas por apneia, seguidas de expirações profundas e ruidosas que, por sua vez, são sucedidas por pequenas pausas de apneia. Frente ao caso, qual tipo de respiração você descreveria? A) Respiração de Biot B) Respiração Kussmaul C) Respiração suspirosa D) Respiração dispneica E) Respiração de Cheyne-Stokes ou dispneia periódica ou regular 2) Leia as afirmativas quanto ao aparelho respiratório e assinale a alternativa correta. I. A cianose periférica é causada por circulação diminuída e extração aumentada de oxigênio dos tecidos periféricos. II. A avaliação clínica do escarro é descrita de acordo com a cor, o cheiro, a consistência, o volume, a ocorrência durante o dia e a presença ou não de sangue, cuja composição inclui material proveniente de pulmões (muco), orofaringe (saliva) e secreções oriundas do nariz. III. As doenças associadas ao hipocratismo digital incluem carcinoma brônquico, sepse pulmonar, cardiopatias cianóticas, endocardite bacteriana, entre outras. IV. Em condições normais, observa-se dois tipos de respiração: a costal superior e a toracoabdominal, que se diferenciam de acordo com o ciclo da vida. V. A fase inspiratória é cerca de três vezes mais longa que a expiratória, sem pausa entre elas quando se ausculta o som traqueal. Já no murmúrio vesicular, as fases inspiratória e expiratória têm duração igual. A) I, II, III, IV, V B) I, III. C) II, III, IV. D) I, II, III, IV. E) I, II, III. 3) Um enfermeiro, ao inspecionar o tórax do paciente, observa uma anormalidade no formato, conforme imagem a seguir. A partir do exame, assinale a opção correta. A) Tórax pectus excavatum: depressão na parte inferior do esterno adjacente B) Peito carinado: AP aumentado - esterno deslocado anteriormente, deprimindo as cartilagens costais adjacentes. C) Tórax em barril ou tonel: as costelas são mais horizontais e a margem costal é ampliada. D) Cifoescoliose: Comprime o tórax anterior e reduz o volume inspiratório pulmonar. E) Tórax pectus excavatum: Razão AP - lateral é de 1:2. 4) A identificação de um diagnóstico médico pode ser sustentada por exames de imagem, laboratoriais e físico. Assinale a alternativa que contém os sinais e sintomas identificados no exame físico e o diagnóstico médico referente ao sistema respiratório. A) Na asma, ausculta-se sibilos, ausência de escarros e, ocasionalmente, hiperressonância ao percutir o tórax. B) No pneumotórax, ausculta-se sons ausentes, escarro espumoso e hiporressonância sobre a área acometida ao percutir o tórax. C) No derrame pleural, há ausência de sons ao auscultar o pulmão acometido, presença de escarro bolhoso e espumoso, bem como macicez sobre esse pulmão. D) No hemotórax, ausculta-se sibilos, escarro purulento e macicez sobre a área acometida. E) Na pneumonia, ausculta-se sibilos, estertores, escarro sanguinolento e espumoso, bem como macicez sobre a área acometida. 5) Um paciente chega na unidade de atenção básica alegando sintomatologias para tuberculose. Após avaliação do enfermeiro, este solicita a avaliação do médico imediatamente. Conforme avaliação do médico e resultado positivo no teste rápido molecular para tuberculose, inicia-se tratamento medicamentoso e orienta-se sobre a coleta de escarro. Após alguns dias, o paciente retorna para receber resultado do exame de escarro, no qual constata-se a presença da doença. Quais sinais e sintomas o enfermeiro identificou para solicitar imediatamente avaliação do médico? Assinale a opção correta: A) Presença de hemoptise, febre vespertina, sudorese noturna, emagrecimento e cansaço/fadiga. B) Ausência de tosse, sudorese vespertina e tuberculose em tratamento pelo filho. Quanto à prevenção, realizou a vacina BCG, a qual protege as formas mais graves, como a tuberculose miliar e a meníngea. C) Teste rápido molecular para tuberculose positivo e presença de tosse seca. D) Febre noturna, sudorese noturna, emagrecimento, expansão torácica assimétrica e presença de frêmito tátil em bases bilaterais. E) Ausência de tosse, febre vespertina, sudorese noturna, emagrecimento e aumento da libido. Na prática Na consulta de enfermagem, o enfermeiro deve realizar o exame físico completo do paciente, que contempla a avaliação do sistema respiratório. Para a realização do exame físico do sistema respiratório, o enfermeiro deve ter em mãos os seguintes materiais: Avental para exame, principalmente quando a temperatura ambiental estiver baixa; estetoscópio e swab de álcool; caneta marcadora; régua pequena para excursão diafragmática. Fazendo uso dos materiais necessários, acompanhe, Na Prática, o estudo de caso no qual o enfermeiro fará o exame físico do sistema respiratório em busca de anormalidades. Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Trauma torácico O politraumatismo é, atualmente, a maior causa de óbitos em pacientes até a quarta década de vida. Estima-se que nos Estados Unidos 25% das mortes devido a politrauma estejam diretamente associadas ao traumatismo torácico. Veja mais neste site. Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar. Anamnese e Exame Físico - Avaliação Diagnóstica de Enfermagem no Adulto Barros, Alba L. B. L. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Ausculta pulmonar: sons pulmonares anormais e som vocal Você poderá acompanhar a ausculta dos sons anormais pulmonares (ruídos adventícios). Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar. http://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/1299/trauma_toracico.htm https://www.youtube.com/embed/OA9jzo_fDV4
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