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3 RELATÓRIO SOBRE A PROPOSTA DE REFORMA DA PREVIDÊNCIA SOCIAL E CUSTO DE TRANSIÇÃO: SIMULANDO UM SISTEMA UNIVERSAL PARA O BRASIL 1. AGENDA Deve-se incluir na agenda, para analisar a proposta de reforma da previdência através do debate público com a intervenção ativa das autoridades públicas, entretanto, a discussão social sobre essa proposta costuma ter uma participação extremamente limitada dos atores públicos. A Agenda movimenta diretamente como atores: o governo, as organizações associativas de nível nacional dos assalariados e dos empresários, os Estados e os Municípios. Os atores públicos são aqueles que, por diversas razões, não oferecem mobilização capaz de entusiasmar diretamente o desenrolar do debate, são aqueles que são afetados pelo assunto em discussão, mas não apresentam a capacidade de intervenção imediata, porém poderão ter reflexos mediatos ou indiretos, citando como exemplo, um grupo de aposentados, onde a capacidade de mobilização imediata é pequena, mas uma política previdenciária (como essa proposta) que não leve em consideração esse público numeroso, poderá acarretar reflexos eleitorais no futuro próximo. 2. O PAPEL DO ESTADO O papel do Estado como instituição e dos seus dirigentes (políticos eleitos e servidores públicos profissionais) é de grande importância, pois eles possuem a possibilidade de controlar a agenda, uma vez que manipulam a informação e a capacidade de movimentar altos recursos em favor dos problemas e ações que estabelecem principalmente nesta questão da proposta da reforma da previdência. O governo é um imprescindível ator, entretanto, apresenta e necessidade de interagir com muitos outros atores (sindicatos, organizações empresariais, imprensa, representantes de grande renome) e com outros muitos públicos, para conduzir adiante a sua agenda referente à proposta da reforma da previdência. 4 3. COMPREEENSÃO DO PROBLEMA Os atores deverão definir o que irão defender nesta proposta na agenda pública. A tomada de decisão conclui por permanecer entre a formação da política e a implementação, apesar de ambos estarem intensamente relacionadas, com decisões afetando a implementação e a implementação inicial afetando os estágios posteriores de tomada de decisão. A decisão envolve não apenas a escolha, mas a elaboração das alternativas dentre as quais se escolhe, pois neste processo decisório, não se deve abstrair do investimento no estudo da análise da proposta e das alternativas a aperfeiçoar. Cada decisão terá seus custos e benefícios, tanto materiais quanto políticos, e a ação de decidir envolve um juízo de valor entre as várias alocações distintas de custos e benefícios entre agentes e grupos sociais. Inicialmente, os responsáveis políticos, os gabinetes, os serviços e as estruturas técnicas, realizarão estudos para compreender melhor essa proposta de reforma da previdência, identificar os parâmetros, analisar a informação disponível (dados, fatos e teorias) e por fim estabelecer um diagnóstico. Diante do problema do déficit da previdência social, se estabelece um diagnóstico de suas causas principais: déficits crescentes, tanto no INSS quanto nos regimes previdenciários dos servidores públicos. A solução assumida nos dois mandatos do governo FHC, a Emenda Constitucional nº 20 em dezembro de 1998 e a criação do fator previdenciário em novembro de 1999, foram medidas de grande relevância. No governo atual (Lula), a solução adotada foi a Emenda Constitucional nº 41 (foco voltado para os problemas da previdência do funcionalismo público). Entretanto, mesmo com todas essas soluções tomadas, a previdência social ainda apresenta déficit, sendo necessária à adoção de um sistema previdenciário mais justo e igualitário, conforme apresentada nessa proposta da reforma da previdência. No entanto, não se pode empreender qualquer ação, ainda com o mínimo de complexidade sem o planejamento adequado, apresentando as opções a adotar, avaliação dos respectivos custos, identificação dos responsáveis pela implementação, o impacto na política e os mecanismos de gestão a serem empregados. Após a formulação e o desenvolvimento de uma opção qualquer, é fundamental antecipar com a máxima exatidão possível, de como será posta em prática, apurar as estimativas de custos e impactos e diminuir a possibilidade de que ocorra a exclusão de uma determinada parte dos potenciais beneficiários da política almejada. Essa avaliação inicial é 5 de grande importância para estabelecer as primeiras abordagens de avaliação da política (debatendo a relação de custos, benefícios e efetividade) e de sustentabilidade da mesma ao longo do tempo. Comprometer os responsáveis pela implementação e avaliação de uma política, é muito importante para avaliar as suas possibilidades práticas, e geralmente esses atores são consultados no estágio já avançado no desenvolvimento das medidas, assim, terão menos comprometimento se não participarem da sua definição. Porém, a ausência dos responsáveis na fase de definição põe em dúvida o próprio mérito da política, pois há grande falta de informação e experiência entre um burocrata planejando um conjunto de medidas em um confortável gabinete refrigerado e aquele profissional (analista ou técnico previdenciário) que vai efetivamente torná-las realidade entre os aposentados e pensionistas. Por mais que tenha buscado reunir o conhecimento e a experiência disponíveis, falta ao analista nos órgãos centrais a visão prática, dos problemas reais da produção nas pontas Na Política Pública, os “riscos” essenciais representam a insuficiência em atingir seus objetivos e imprevistos, que podem ocorrer mesmo com a dedicação dos formuladores de política, para tais possibilidades, os riscos dessa importância exigem um esforço maior de gerenciamento. A mais importante fonte de risco de uma política é a incapacidade (técnica, organizativa, operacional) daqueles que deverão levá-la a campo, tanto um ministério inteiro quanto uma agência autônoma, um governo local ou mesmo um agente privado conveniado. Na avaliação desse risco, é preciso analisar o conhecimento, habilidades e recursos técnicos e materiais á disposição dos responsáveis pela implementação, e o tempo e o custo necessários para que os adquiram. Muitos fatores desfavoráveis podem afetar a capacidade de alcançar aqueles que pretendem que sejam os seus beneficiários. Ao planejar as alternativas que propõe, o analista deve cuidar especialmente para que o serviço oferecido seja acessível ao público alvo, através do esforço de comunicação e divulgação, situado nos meios capazes de atingir a população- alvo. Avaliar os custos de uma determinada política é uma tarefa difícil, neste caso, prolonga- se por vários exercícios, mobilizando uma grande quantidade de recursos financeiros, e recursos materiais e humanos empregados diretamente pelo ente promotor, entretanto, o cuidado de avaliar os custos na precisão possível, é providência indispensável ao 6 desenvolvimento de alternativas de política, pois somente com um estudo dos custos relativos poderá se optar por uma alternativa materialmente viável, e que represente melhor relação custo-benefício frente às demais. Analisadas as alternativas, e os prováveis custos, benefícios, e riscos, reduz-se a apenas uma, que será o curso de ação adotado e definido pela autoridade, ainda que complexo ou com previsões de contingências. Decidir em Políticas Públicas significa maximizar os resultados em relação aos custos, e as vantagens em relação com os inconvenientes, sob o ponto de vista da coletividade. A atividade do decisor é recordar e explorar o pequeno número de alternativas possíveis: aquelas de que ele dispõe, que conhece ou parecem aceitáveis para a coletividade, minimizando a busca e a análise das alternativas. Verifica um critério de escolha “razoável”, mistura de racionalidadee intuição. Não busca “o melhor”, se contenta em evitar a solução pior ou menos razoável, que parece mais satisfatória a si mesmo e aos demais interlocutores relevantes. Nesta proposta de reforma do sistema previdenciário brasileiro, apresenta incentivos no sentido de reduzir os custos de formalização e aumentar a massa de contribuições à previdência social. 4. DESAFIO DA IMPLEMENTAÇÃO Implementar no modelo “top-down” significa que quem decide (o político – superior hierárquico) atribui ao executor (subordinado) uma determinada tarefa, com base em critérios técnicos, impessoais, de competência e de legalidade. A Política Pública se comunica e entrega ao executor sob forma de influência mútua predeterminada e formal, procedimentos operacionais e programas de atividades. O executor realiza as instruções de acordo com os objetivos e indicações estabelecidos pelo tomador de decisão. Assim, no aspecto top-down a influência da implementação é apenas instrumental: existe uma separação radical entre a compreensão de uma política e sua implementação. O topo governa, pela definição do sentido e dos fins e pela manutenção do rigor hierárquico, e a base emprega, por observância da hierarquia. A trilha do topo à base representa a 7 transformação dos objetivos em meios, a substituição da política pela técnica, a volatilização dos desafios de conflito em favor das racionalidades da gestão. Na própria pesquisa acadêmica, há várias décadas persistem em descobrir o que ocorre na base da pirâmide, no local onde as decisões políticas deveriam ser transformadas em produtos concretos, o que sucede é muito mais complexo e diferente do que se desejaria no raciocínio top down. O conceito de implementation gap (déficit de implementação), onde os resultados pretendidos (mesmo com planejamento cauteloso) são abaixo do esperado, não só os resultados finais, mas também as ações executadas pelos agentes da política estatal são diferentes das que faziam parte do plano emitido. A autoridade que idealiza e enuncia a política localiza-se muitas vezes muito distante dos executores, e as muitas políticas faltam clareza e precisão na formulação das medidas concretas destinadas a atingir o objetivo almejado. Foi o que ocorreu com a Emenda Constitucional nº 41, que durante o natural processo de negociação política, essencial a um regime democrático, alguns pontos da proposta original foram alterados, tanto na Câmara, quanto no Senado. O resultado foi à perda significativa do impacto da reforma originalmente dirigida, principalmente, em relação às situações dos atuais funcionários públicos ativos e inativos. As regras mais importantes da reforma comprometerão de forma mais direta os futuros funcionários públicos. Ainda que foi dado um passo na direção correta, os resultados fiscais deverão ter um impacto mais significativo no longo prazo, no entanto, tendo em vista as restrições da reforma realizada no governo Lula, é importante elaborar uma segunda etapa dos cálculos, explorando no importante assunto da mudança entre sistemas previdenciários. 5. INSTRUMENTOS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS Segundo a definição de Salamon (2002, p. 19): INSTRUMENTO DE AÇÃO PÚBLICA Um instrumento de ação pública ou de Política Pública é um método identificável por meio do qual a ação coletiva é estruturada para enfrentar um problema público. 8 Cada instrumento agrupa um conjunto de várias ações concretas que por adquirirem características comuns, passam a estabelecer um método identificável de ação coletiva. A ação organizada pelos instrumentos é ação coletiva, rebatendo a problemas públicos, e não ação governamental em sentido estrito. A diferenciação básica entre uma Política Pública e um instrumento: a política é a soma de ações coletivas, fundamentado nas decisões das autoridades políticas, para o enfrentamento de um especificado problema social. Um instrumento pode ser aplicado em inúmeras políticas, que atinjam vários problemas diferentes. Deste modo, um mecanismo de aposentadoria e pensões como o brasileiro, apresenta o recolhimento pelo beneficiário de uma parcela mensal de prêmio ou poupança, inclui entre os mecanismos de seguro, entretanto, seu fluxo financeiro não é individualizado, e os benefícios pagos individualmente não dependem apenas do montante acumulado no sistema de seguridade social, o tornam, assim, um pagamento ou transferência estatal direta. 6. AVALIAÇÃO COMO UMA REFLEXÃO SOBRE A AÇÃO O analista de políticas estabelece objetivos para sua ação e antecipa medidas para atingi-las. Objetivos, ações e resultados, contudo, necessitam ser analisados, comprovados e calculados. Deve observar a realidade e evidenciar, na prática, se aquilo que planejou de fato acontece. É necessário adquirir da experiência da ação, o máximo de aprendizado para retificar erros e aprimorar a prática futura, e à medida que se realiza essa confirmação, com base nos fatos, fica em ação um mecanismo de avaliação, portanto, esta é a função principal da avaliação das Políticas Públicas, compreendida como uma parte inseparável da função gerencial das políticas públicas em qualquer nível de governo. A avaliação é uma atividade consciente ou planejada, é uma reflexão sobre a ação e fundamentada em metodologia sistemática de coleta e análise de dados, é a ocasião exclusiva para a organização identificar e sistematizar as lições aprendidas, produzindo sugestões para aprimoramento da ação. A avaliação deve servir como insumo a todos os passos do processo de política: na assimilação do problema e constituição de agenda, na formulação de soluções, na tomada de decisão e na implementação do programa. 9 Nesta proposta de reforma do sistema previdenciário brasileiro, foi avaliado que a EC nº 41 deve proporcionar no período de 2004-2023 uma redução no déficit previdenciário, para os servidores do executivo e do judiciário, na ordem de R$ 49 bilhões, apesar da reforma diminuir o déficit, ainda assim não traz paridade entre receitas e despesas, pois segundo essa proposta, continua existindo a necessidade de aportes excessivos, superiores a R$ 12 bilhões por ano. Os autores da proposta mostram a necessidade de mudar o sistema previdenciário, reduzindo privilégios e tornando-o mais equânime. 7. CONCLUSÃO FINAL A proposta de reforma da previdência está fundamentada nos princípios de justiça atuarial, incentivo à formalização, universalização e simplificação da estrutura previdenciária. 8. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA AFONSO, Luís Eduardo; SOUZA, André Portela; ZYLBERSTAJN, Hélio. Reforma da Previdência Social e Custo de Transição: Simulando Um Sistema Universal Para o Brasil. FEA/USP, FGV/EAESP e ESPM. São Paulo.
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