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Análise de Discurso Crítica - Repercussão no Ensino- I

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Análise de Discurso Crítica: 
Repercussão no Ensino
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Autora: Profa. Joana da Silva Ormundo
Análise de Discurso Crítica: 
Repercussão no Ensino
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Professora conteudista: Joana da Silva Ormundo
Doutora em Linguística pela Universidade de Brasília e mestre em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia 
Universidade Católica de São Paulo. Licenciada na área de Letras: Língua Portuguesa e Língua Inglesa pela Universidade 
de Mogi das Cruzes. Iniciou licenciatura em Língua Portuguesa e Latim pela Universidade de São Paulo (interrompida 
pela entrada no mestrado).
Atualmente, vinculada aos grupos de pesquisa do CNPq por meio da Universidade Paulista e da Universidade 
de Brasília, com interesse nas questões sobre representação social, narrativas de vida e mídias sociais. Membro do 
Grupo Brasileiro de Estudos de Discurso, Pobreza e Identidade – Rede Latinoamericana (Redlad), da Asociación 
Latinoamericana de Estudios del Discurso (Aled) e do Centro de Pesquisa em Análise de Discurso Crítica (Cepadic‑UnB).
Lecionou por 14 anos na Educação Básica em São Paulo e no Distrito Federal. Foi coordenadora‑geral de Língua 
Portuguesa no Distrito Federal, especificamente, trabalhando com formação continuada de professores de Língua 
Portuguesa para o Ensino Médio e repensando o currículo para a área de Linguagem e suas Tecnologias.
Professora‑titular da Universidade Paulista desde 2000. Em 2001, começou a coordenar o curso de Letras no 
campus Brasília. Em 2011, foi transferida para São Paulo e, desde então, está na coordenação do curso de Letras 
no campus Vergueiro. Como professora, atua na área de Linguística e Ensino. Responde pela liderança de algumas 
disciplinas e pelo Laboratório de Linguagem e Tecnologia dos cursos de graduação da UNIP. Coordena o projeto de 
pesquisa Multimodalidade, Redes Sociais e Práticas de Letramento: Aprender e Ensinar com Gêneros na Sala de Aula 
e no Campo Linguístico On‑line. Compartilha a coordenação do curso de pós‑graduação em Língua Portuguesa e 
Literatura em Contextos Escolares com as professoras Lígia Menna e Maria Otília. Realizou projetos de metodologia 
de ensino da língua em contextos on‑line no Programa de Pesquisa docente da UNIP e orienta trabalhos de pesquisa 
nessa área. Também é professora‑titular concursada da Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo, na área de 
Língua Portuguesa, Comunicação e Humanidades.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Z13 Zacariotto, William Antonio
Informática: Tecnologias Aplicadas à Educação. / William 
Antonio Zacariotto ‑ São Paulo: Editora Sol.
il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XVII, n. 2‑006/11, ISSN 1517‑9230.
1.Informática e tecnologia educacional 2.Informática I.Título
681.3
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Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Juliana Mendes
 Lucas Ricardi
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Sumário
Análise de Discurso Crítica: Repercussão no Ensino
INTRODUçãO ...........................................................................................................................................................7
Unidade I
1 LINGUAGEM E CONTEXTO ESCOLAR: DA PóS‑MODERNIDADE à GLOBALIZAçãO .............. 11
1.1 Pós‑modernidade e estrutura política: temas relevantes para abordar no 
contexto escolar ........................................................................................................................................... 14
1.2 Compreender a cibercultura para repensar o contexto escolar ........................................ 15
1.2.1 Informatização e mudanças no contexto escolar: novas formas de saber .................... 18
1.2.2 Mudança nos meios de comunicação e implicações para o ensino: do modo 
de produção ao modo de informação ....................................................................................................... 18
1.2.3 Narrativas no contexto da pós‑modernidade: contribuições para repensar a 
prática escolar ..................................................................................................................................................... 21
1.2.4 Por uma Teoria Social do Discurso: linguagem e prática social .......................................... 22
1.2.5 Vozes da globalização como mediação e construção de sentido ....................................... 24
1.2.6 Linguagem e ensino: discurso da mídia ........................................................................................ 25
1.3 Análise de Discurso Crítica e Teoria Semiótica ......................................................................... 26
1.3.1 Conceitos relevantes no percurso da abordagem crítica do discurso ............................... 27
1.3.2 O percurso teórico da Análise de Discurso Crítica: do quadro tridimensional à 
transdisciplinaridade ........................................................................................................................................ 34
1.3.3 A proposta bidimensional: análise textual externa e interna ............................................... 36
1.3.4 A proposta transdisciplinar da Análise de Discurso Crítica ................................................... 37
1.4 Da prática social à globalização ..................................................................................................... 41
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IntRODuçãO
Iniciaremos nosso contato no curso de pós‑graduação em Língua Portuguesa e Literatura em 
Contexto Escolar por meio da disciplina Análise de Discurso Crítica: Repercussão no Ensino. É um prazer 
conhecê‑lo e compartilhar o conhecimento da perspectiva discursiva crítica e alguns aspectos da 
semiótica social, por meio das discussões sobre o texto multimodal, com o objetivo de contribuir para 
repensarmos as práticas escolares em uma sociedade globalizada e tecnológica. Para estreitarmos nosso 
diálogo, segue uma breve apresentação.
Os conteúdos propostos nesta disciplina estão organizados de forma que propiciem a você 
oportunidades de reflexão sobre os aspectos sociais e tecnológicos e sobre o impacto da globalização na 
reconfiguração das instituições sociais. Os tópicos desenvolvidos têm por objetivo desvelar as mudanças 
sociais e a implicação dessas mudanças na configuração da linguagem, bem como de que forma o 
entendimento desses aspectos pode contribuir para pensarmos em novas estratégias, novas práticas 
sociais e novas práticas discursivas no contexto escolar.
Pretendemos despertar, durante os apontamentos apresentadosneste curso, o diálogo, a reflexão 
e o repensar a prática, contribuindo para o seu crescimento profissional e ampliando seu olhar sobre a 
relação entre linguagem, sociedade e ensino.
O momento do nosso encontro será nos fóruns de discussão propostos no Ambiente Virtual de Aprendizagem 
(AVA). Sugerimos que as discussões apresentadas nos fóruns tenham como orientação a perspectiva crítica 
sobre como podemos contribuir para a transformação social, especialmente, para transformar nossa prática 
em relação ao ensino de Língua Portuguesa e Literatura em uma sociedade globalizada e tecnológica.
No decorrer do texto, será indicada a leitura complementar, principalmente do site do Cepadic e 
alguns vídeos. Sugerimos que os assuntos tratados nos vídeos orientem nossas discussões nos fóruns.
As questões apresentadas neste livro‑texto têm como propósito apontar caminhos e possibilidades 
de diálogo com as teorias discursivas e semióticas, visando à reflexão sobre como repensar a prática 
escolar em um contexto de uma sociedade globalizada e informatizada.
Este livro‑texto tem como objetivo apresentar aos estudantes de pós‑graduação, interessados 
nos estudos da linguagem e do discurso, os elementos introdutórios relativos ao universo teórico e às 
categorias analíticas da teoria linguística denominada Análise de Discurso Crítica e Semiótica Social.
Esperamos contribuir para a reflexão por meio da qual os alunos do curso de pós‑graduação em 
Língua Portuguesa e Literatura em Contexto Escolar da Universidade Paulista vislumbrarão possibilidades 
de pensar nas práticas escolares, mediante teorias que analisem os estudos da linguagem e do discurso 
relacionados às práticas sociais instauradas na pós‑modernidade e na globalização.
O interesse em organizar os temas discursivos, no contexto da sociedade pós‑moderna e global, 
originou‑se da experiência acadêmica da autora na área de Estudos do Texto, do Discurso e da 
Semiótica. Compreendemos que as mudanças sociais que caracterizam a sociedade atual, por meio da 
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reestruturação e da reorganização do período moderno em direção a uma sociedade pós‑moderna e 
globalizada, ocasionam a reconfiguração nas formas pelas quais as pessoas atuam socialmente diante de 
práticas já conhecidas. Tais práticas se tornam, no momento atual, estranhas, devido à nova organização 
social decorrente dos efeitos da globalização e do avanço tecnológico no contexto da conexão de uma 
sociedade em rede.
Para situarmos o leitor em relação à nossa compreensão de como a Linguagem se configura na 
sociedade atual, recorremos à perspectiva da Análise de Discurso Crítica (ADC), pois essa abordagem 
teórica nos fornece os elementos de que necessitamos para investigar as práticas de linguagem e a 
produção de sentido nos diversos campos sociais.
Para a realização desse nosso projeto, consideramos os trabalhos de Norman Fairclough sobre os 
estudos da linguagem, uma vez que esse autor conceitua a linguagem sempre vinculada às mudanças 
sociais contemporâneas, ao impacto desta na vida social e à forma dos sujeitos de utilizá‑la, bem como 
os sentidos produzidos.
A ADC considera a linguagem como uma forma de prática social. A análise da linguagem nessa 
perspectiva visa desvelar os fundamentos ideológicos próprios da linguagem como prática social.
O leitor deve considerar que a linguagem está vinculada ao social. Conforme aponta Fairclough 
(2006), o caminho para investigá‑la é por meio da transdisciplinaridade ao dialogar com outras teorias 
sociais, com os aspectos relacionados a economia, política e cultura, à semiótica social e à perspectiva 
multimodal. Dessa forma, a perspectiva teórica da ADC diferencia‑se de outras teorias do discurso, 
pois tem como prioridade estudar as práticas sociais e discursivas que ocorrem em uma sociedade 
pós‑moderna, globalizada e tecnológica.
A perspectiva da Análise de Discurso Crítica por meio dessa abordagem nos fornece condições teóricas 
e metodológicas para a investigação das práticas sociais e dos discursos que nelas se instauram, em 
consonância com as mudanças que ocorrem no contexto escolar devido aos aspectos da globalização 
e das novas tecnologias que nos apresentam um perfil de aluno interconectado com as descobertas, 
que a Internet tem nos oferecido, de uma interação mediada na relação entre professor, aluno, Internet 
e construção do conhecimento.
Sustentamos a organização deste material com base nos trabalhos dos autores da perspectiva de ADC, 
Teoria Social e Multimodalidade. As pesquisas de Ormundo (2007), Wetter (2009) e Ormundo e Wetter 
(2013) orientam o percurso escolhido para a apresentação das questões do discurso, da linguagem, da 
produção de sentido e dos elementos teóricos, metodológicos e analíticos propostos pela perspectiva 
discursiva crítica por meio de uma abordagem transdisciplinar.
Na primeira unidade, será apresentado o momento social atual, considerando alguns aspectos da 
pós‑modernidade e da globalização, bem como aspectos sociais que contribuem para a constituição de 
uma sociedade no ambiente da cibercultura, da constituição de uma sociedade em rede e midiática. Em 
seguida, discorreremos a respeito da linguagem e de sua configuração no momento da globalização. 
Depois, será exposta a perspectiva da Teoria Social do Discurso sobre o percurso em que a ADC se 
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constitui como uma perspectiva teórica e metodológica para a análise das práticas de linguagem, por 
meio dos discursos que circulam socialmente. Para isso, recorremos aos trabalhos de Norman Fairclough 
e fazemos a leitura do movimento dessa teoria, partindo do quadro tridimensional e chegando à 
análise social. Nessa última proposta, é considerada a materialização do projeto transdisciplinar como 
abordagem das práticas de linguagem em uma sociedade globalizada e essencialmente tecnológica, 
conforme apontado em Ormundo (2007) e Ormundo e Wetter (2013).
Na segunda unidade, serão apresentadas a perspectiva da semiótica social e as categorias de análise 
com base na gramática da sintaxe visual e da modalização. Discorreremos também sobre o papel da 
mídia em uma perspectiva crítica, com base nos estudos de Gunther Kress e van Leeuwen, apresentando 
modelos de análise e proposta de atividade para o ensino na área de Linguagem e Tecnologia na Educação 
Básica e no Ensino Superior.
Desejamos a você um ótimo curso!
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Análise de discurso críticA: repercussão no ensino
Unidade I
1 LInguAgEm E COntExtO ESCOLAR: DA PóS‑mODERnIDADE à 
gLObALIzAçãO
A pós‑modernidade, a globalização e os avanços tecnológicos trazem mudanças profundas na forma 
pela qual a linguagem é configurada nas práticas sociais das instituições globalizadas. As consequências 
dessas mudanças devem ser apresentadas para você a fim de que possa compreender como os discursos 
institucionais têm se transformado, especificamente, no contexto escolar. Antes de aprofundarmos o 
assunto, sugerimos uma reflexão inicial para ativar seu conhecimento prévio e depois aprofundá‑lo com 
base nas indicações tratadas neste tópico.
Exemplo de aplicação
Com base no seu conhecimento prévio, já acumulado, sobre a organização da sociedade, discorra sobre 
as características da sociedade moderna e, depois, sobre as características da sociedade pós‑moderna, 
contemplando a organização do ensino e o papel da tecnologia nessas sociedades. Se preferir, responda 
sobre esse assunto por meio das seguintes questões:
1) O que você entende por sociedade moderna e sociedade pós‑moderna?
2) Quais os efeitos da pós‑modernidade e da globalização no ensino?
3) Como as novas tecnologias interferem no ensino?
Para que você tenha um referencial do que se tem produzido sobre as mudanças da sociedade atual, 
apontaremos alguns aspectos da globalizaçãocom o objetivo de contribuir para uma reflexão sobre o 
impacto dessas mudanças sociais e o avanço tecnológico na forma pela qual novas práticas escolares 
têm sido exigidas. Há uma reorganização das instituições globais que tem afetado profundamente a 
linguagem, tornando‑a cada vez mais multimodal.
Para ajudá‑lo a pensar no assunto, sugerimos que reflita sobre quais os acontecimentos relevantes 
que afetaram nossa vida neste início do século XXI. Há vários autores sociais dedicados a tratar sobre o 
assunto. Em Giddens (2000a), temos os seguintes elementos:
•	 o	fato	de	que	vivemos	em	uma	sociedade	pós‑industrial;
•	 a	ideia	de	que	atingimos	um	período	pós‑moderno;
•	 a	teoria	a	respeito	do	fim	da	história.
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Unidade I
Giddens (2000a) entende que o início do século XXI é marcado como um momento de transição para 
uma	nova	sociedade	que	já	não	se	assenta	essencialmente	na	industrialização;	estaríamos	entrando	em	
uma fase de desenvolvimento para muito além dessa era. Para o autor, a chegada de uma sociedade 
pós‑industrial coloca a antiga ordem industrial como ultrapassada pelo desenvolvimento de uma nova 
ordem baseada no conhecimento e na informação.
Temos, também, essa discussão nas obras de Zygmunt Bauman sobre modernidade líquida. Bauman 
(2001) afirma que a fluidez ou a liquidez são as metáforas mais adequadas para caracterizar o atual 
estágio da modernidade. Referindo‑se ao que chama de modernidade líquida e aludindo à célebre frase 
sobre derreter os sólidos do Manifesto Comunista de Marx e Engels, o autor afirma que:
[...] os poderes de derretimento da modernidade afetaram primeiro as 
instituições existentes, as molduras que circunscreviam o domínio das 
ações‑escolhas possíveis, como estamentos hereditários com sua alocação 
por atribuição, sem chance de apelação [...].
Essas são razões pra considerar “fluidez” ou “liquidez” como metáforas 
adequadas quando queremos captar a natureza da presente fase, nova de 
muitas	maneiras,	na	história	da	modernidade	(BAUMAN,	2001,	p.	3;	9‑10).
Trata‑se de uma chamada inicial da obra de Bauman ao discutir os aspectos da modernidade 
líquida com base na distinção entre sólido e líquido, bem como os sistemas de produção e organização 
econômica, política e cultural. Bauman apresenta uma série de publicações em torno do assunto. 
Sugerimos uma visita a uma livraria para ver os vários textos publicados pelo autor sobre a configuração 
de uma sociedade líquida. Para introduzi‑lo nas ideias de Bauman, convidamos você a assistir os vídeos 
elaborados pelo portal Fronteiras do Pensamento, pelo programa Milênio e pelo site Educação 360.
 Saiba mais
Para saber mais sobre sociedade moderna (sólida) e sociedade pós‑moderna 
(líquida) com base nos estudos do Zygmunt Bauman, assista ao vídeo:
DIÁLOGOS com Zygmunt Bauman. Fronteiras do Pensamento, 
29 minutos, 2011. Disponível em: <https://archive.org/details/
DilogosComZygmuntBauman>. Acesso em: 30 out. 2015.
Exemplo de aplicação
Após assistir ao filme, vá ao fórum e discorra sobre as questões a seguir:
1) Consideramos que o mundo pós‑moderno apresenta‑se fragmentado e multifacetado. Como isso 
se reflete na e pela linguagem?
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Análise de discurso críticA: repercussão no ensino
2) Por que o entendimento desse modelo de sociedade é importante para pensarmos na forma pela 
qual você deve pensar sua prática no contexto escolar?
Outro aspecto relevante da pós‑modernidade está relacionado às formas de representação, 
identidade e consumo, bem como aos efeitos colaterais da sociedade líquida e globalizada. Giddens 
(2000a) refere‑se ao mundo da alta modernidade como o da sociedade que extrapola as fronteiras 
das atividades individuais, apresentando riscos e perigos com base na reconfiguração das relações 
interpessoais, no acesso à informação e na construção do conhecimento.
As questões de insegurança, de incerteza e de periculosidade vivenciadas pela humanidade, além da 
instabilidade em relação ao emprego, da grande difusão da criminalidade, dos ataques terroristas, da 
crise econômica mundial e do desenvolvimento da Internet como uma rede de conexão planetária que, 
ao mesmo tempo que disponibiliza conhecimento, veicula em tempo real os acontecimentos mundiais 
e as transações comerciais, instaura um novo paradigma em relação às identidades por intermédio de 
uma cultura da simulação, na qual se valoriza, sobremaneira, a representação do real (e não a realidade), 
como podemos constatar nas formas pelas quais os sujeitos são representados e se representam nas 
mídias sociais, por exemplo, a transformação dos eventos sociais em um espetáculo, caracterizado como 
uma sociedade do espetáculo.
 Saiba mais
Para saber sobre as consequências de uma sociedade de consumo, a 
espetacularização do discurso e os efeitos colaterais da globalização, 
sugerimos que veja o vídeo a seguir:
NóS HIPOTECAMOS o futuro, de Zygmunt Bauman. Milênio, 23 
minutos, 2011.
Vamos ao fórum discutir sobre os efeitos colaterais da globalização com 
base no vídeo de Bauman?
Você também pode assistir ao vídeo:
OLHO na escola: especial Zygmunt Bauman. Futura, 25 minutos, 2015.
E ao filme:
BLING ring: a gangue de Hollywood. Dir. Sofia Coppola, 95 minutos, 2013.
Você pode passá‑lo em sala de aula para refletir com os alunos.
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Unidade I
Exemplo de aplicação
Após verem o filme Bling Ring: A Gangue de Hollywood, vamos discutir no fórum sobre as questões 
apontadas a seguir e a relação delas com o filme.
1) Entendemos que a linguagem se materializa em imagem e que esta é um signo poderoso, 
circulando pelo planeta em inúmeros filmes, vídeos, programas de TV e pela Internet. Essa rapidez 
da circulação das imagens possibilita também a circulação de valores, de crenças, de modos de ser, 
tornando‑os universais, constituídos por outros valores, crenças e modos de ser de outras culturas 
espalhadas pelo globo. Uma das ferramentas que aceleram esse processo consiste no computador. 
Ele passa a ser o nosso objeto de desejo, pois possibilita o acesso à Internet, e, por seu intermédio, 
recebemos o mundo em nossa casa e saímos também para o mundo, de certo modo, libertos de 
nosso invólucro material e de nossa identidade real.
2) Circulamos hoje totalmente desvinculados dos grilhões das eras passadas, somos mentes 
flutuantes, identidades simuladas, vidas imaginariamente germinadas on‑line, transitando em 
um mundo de superfícies mutáveis.
1.1 Pós‑modernidade e estrutura política: temas relevantes para abordar 
no contexto escolar
Ao pensar na pós‑modernidade e no momento atual em que as estruturas políticas estão sendo 
questionadas pelos movimentos sociais que eclodem no contexto das mídias sociais, apresenta‑se outra 
forma de reorganização das questões de gênero, políticas, culturais e econômicas, desvelando‑nos 
uma reorganização das práticas sociais, conforme podemos constatar nas palavras de Lima (1988, p. 
57‑58) ao tratar sobre a política no mundo pós‑moderno, como apresentada no pensamento Rouanet. 
O autor afirma que ela está voltada para a sociedade civil e busca a conquista de objetivos de grupos ou 
segmentos da sociedade, colocando‑se, assim, em oposição à política moderna que atuava no Estado e 
buscava a conquista ou a manutenção do poder estatal.
Na política pós‑moderna, o indivíduo cede seu lugar aos grupos, e suas finalidades não são mais 
universais, tornando‑se micrológicas. A política especifica‑se, passando a ser atributo de quem faz parte 
de campos setoriais de dominação: a dialética homem/mulher, antissemita/judeu, etnia dominante/
etnias minoritárias.
Assim, extinguiram‑se os grandes atores políticos universais. Não existe mais um “poder” central 
localizado no Estado, mas um poder difuso, estendendo sua rede por toda a sociedadecivil. Tem‑se, 
desse modo, uma pós‑modernidade social que se dá a conhecer no plano da vida cotidiana por uma 
onipresença do signo, do simulacro, do vídeo e da hipercomunicação.
Ainda se referindo ao pensamento de Rouanet, Lima (1998, p. 75) observa que não há uma superação 
da política moderna pelo surgimento dos movimentos segmentares (feministas, homossexuais, ecologistas, 
negros,	índios	etc.).	Ocorre	apenas	um	enriquecimento	do	campo	político;	portanto,	o	nascimento	de	outros	
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Análise de discurso críticA: repercussão no ensino
atores políticos não representa uma ruptura com a modernidade em favor de uma política pós‑moderna. 
Ao contrário, demonstra a concretização de uma tendência imanente do liberalismo moderno, que, por 
meio de sua doutrina dos direitos humanos, tornou possível a existência de um espaço fértil para a criação 
de novos direitos defendidos por novos atores sociais, de acordo com novas estratégias.
É necessário também salientar que o período da pós‑modernidade apresenta as ameaças ecológicas 
que a humanidade tem de enfrentar – ameaças essas globais, que são um perigo para o planeta. Os três 
tipos principais de ameaças ao ambiente são a produção de desperdícios, a poluição e o esgotamento de 
reservas minerais. Elas são desencadeadas pelo desenvolvimento e pela expansão global das instituições 
sociais ocidentais associadas à importância dada ao crescimento econômico. Os aspectos apresentados pelo 
autor consistem em temáticas relevantes para discutir no contexto escolar no ensino de Língua Portuguesa 
e Literatura, e, como especificado no Ensino Médio, na área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias.
Exemplo de aplicação
Pesquise sobre o discurso da sustentabilidade e os acordos das organizações globais que tratam sobre 
o tema e reflita sobre como esses assuntos refletem nas práticas sociais da sociedade atual, por meio 
da organização dos movimentos sociais e políticos, bem como da reorganização das práticas a partir do 
avanço tecnológico, dos novos paradigmas para a educação e da conexão de uma sociedade em rede.
1.2 Compreender a cibercultura para repensar o contexto escolar
Ao pensarmos no fenômeno dos movimentos sociais que eclodiram no Brasil em junho de 2013 e 
no início de 2015, temos uma nova configuração no processo de organização dos movimentos sociais. 
Inicialmente, materializada pelo discurso dos 0,20 centavos e, mais recentemente, nos discursos em 
torno das questões políticas e econômicas, bem como dos efeitos dos protestos, nas ruas, contra as 
práticas de corrupção no sistema político brasileiro. Um elemento novo é apresentado. Qual é esse 
elemento? Trata‑se da “convocação” das pessoas comuns a ir para a rua. Vozes como “Vem pra rua!” 
ecoam nas redes sociais, decorrentes da conexão da sociedade em rede, das mídias sociais, da diversidade 
de vozes que circulam nessa conexão.
Esses movimentos não são isolados do que ocorreu em outras partes do mundo. Trata‑se de um dos 
efeitos do processo de globalização e da configuração da sociedade em rede.
 Saiba mais
Para saber mais sobre essa tendência global dos novos movimentos 
sociais, você pode ver este vídeo de Manuel Castells:
REDES de indignação e esperança. Fronteiras do Pensamento, 19 
minutos, 2014.
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Por que iniciamos a discussão sobre o ciberespaço por meio da contextualização desses movimentos 
sociais? Porque eles materializam os efeitos do que Manuel Castells apresenta em suas obras sobre 
A Sociedade em Rede (1999), A Galáxia da Internet (2003) e, a mais recente, Redes de Indignação e 
Esperança (2013), esta com o propósito de analisar os movimentos que se configuraram a partir das 
redes sociais, incluindo o fenômeno Brasil.
O avanço das novas tecnologias desencadeou uma discussão no meio acadêmico e na mídia sobre 
a forma pela qual a sociedade e as práticas de linguagens se consolidaram e ainda se consolidam no 
contexto do ciberespaço.
As linguagens na contemporaneidade mudaram radicalmente em decorrência dos efeitos da 
globalização e da revolução tecnológica com a emergência das novas tecnologias da informação e 
comunicação (NTIC). Elas, da noite para o dia, possibilitaram a sujeitos e instituições o acesso, em 
tempo real, a bancos de dados on‑line, aos softwares e a outras tecnologias cognitivas e provocaram 
mudanças profundas na forma pela qual a sociedade se reorganizou tanto institucionalmente quanto 
no uso da linguagem.
Castells (2003) define a Internet como um meio que permite a comunicação de muitos com muitos, 
num momento escolhido, em escala global. Como definir a rede? A rede pode ser definida como um 
conjunto de agentes que compartilham normas, valores e objetivos, podendo estabelecer‑se no âmbito 
do Estado, no mercado e na sociedade civil. Fukuyama (2000, p. 210‑11) aponta duas características 
importantes da rede:
•	 ela	é	diferente	de	um	mercado	na	medida	em	que	é	definida	por	 suas	normas	e	 seus	valores	
comuns. Isso significa que as trocas econômicas dentro de uma rede serão realizadas em bases 
diferentes	daquelas	das	transações	em	um	mercado;
•	 ela	é	diferente	de	uma	hierarquia	porque	se	baseia	em	normas	comuns	informais,	não	em	uma	
relação formal de autoridade.
Castells (2003, 2014) define as redes como multimodais e como um conjunto de nós interconectados. 
Para o autor, a formação de redes é uma prática humana antiga. Durante a história do homem, as redes 
foram suplantadas como ferramentas de organizações capazes de congregar recursos em torno de 
metas centralmente definidas.
Ele acrescenta ainda que as redes eram o domínio da vida privada, em uma sociedade que 
apresentava hierarquias centradas no feudo do poder e da produção, mas que nos dias atuais 
elas foram ganhando vida nova por meio da introdução da informação e das tecnologias de 
comunicação. Segundo o autor, a Internet possibilita às redes dos dias de hoje uma vantagem 
enorme se comparada à maneira pela qual eram organizadas no passado: elas saem de um 
ambiente centralizado e se constituem em um ambiente com vantagens extraordinárias como 
ferramentas de organização, em virtude de sua flexibilidade e adaptabilidade inerentes, o que 
para o sociólogo é uma característica essencial de sobrevivência e prosperidade num ambiente 
que está em rápida transformação.
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Análise de discurso críticA: repercussão no ensino
Nesse âmbito mutante, os sujeitos participantes do processo e vinculados ao ambiente das redes 
sociais, principalmente aos usuários das linguagens no campo linguístico on‑line, organizam‑se em rede 
com o propósito de acúmulo de capital social – de informação, econômico, político – do qual dependem, 
com um ingrediente diferenciado: estão mais flexíveis para atender às mudanças sociais e adaptados 
às transformações constantes do que aqueles que se encontram desconectados do que acontece na 
dinâmica do mundo on‑line.
O que motiva a reunião de pessoas no ambiente da rede é o interesse comum entre esses agentes, 
visando atingir um fim específico. A flexibilidade marcada pelo ambiente da rede on‑line também é 
marcada pelo fluxo das pessoas que migram de um gênero a outro com muita liberdade. Esse movimento 
marca a democratização e a transparência das decisões e funções sociais que motivam os sujeitos 
a estarem organizados neste ou naquele grupo.
A nova estrutura social é baseada em redes e motivada pelos três processos que Castells apontou 
como independentes, mas que no final do século XX se uniram. Os processos citados pelo autor são:
•	 a	exigência,	apresentada	pela	economia,	de	flexibilidade	administrativa	e	globalização	do	capital,	
da	produção	e	do	comércio;
•	 a	demanda	da	sociedade	por	valores	da	liberdade	individual	e	da	comunicação	aberta;
•	 a	base	da	revoluçãomicroeletrônica,	que	possibilitou	os	avanços	extraordinários	na	computação	
e nas telecomunicações.
Castells (2003) aponta que esses fatores alteraram a forma pela qual a Internet era utilizada. Partiu 
daquilo definido por ele como uma tecnologia obscura, centrada no mundo isolado dos cientistas 
computacionais, dos hackers e das comunidades contraculturais, e transformou‑se em um instrumento 
importante para o estabelecimento de uma nova forma de sociedade – a sociedade em rede.
A configuração de uma sociedade em rede no ambiente da globalização desestrutura toda a forma 
mecanicista de organização da sociedade, surgindo, assim, uma nova economia e também novas 
configurações das práticas sociais com as linguagens no ambiente da rede.
 Saiba mais
Sugerimos que você pesquise os vídeos do sociólogo Manuel Castells 
sobre ciberespaço e educação. Veja, por exemplo:
A OBSOLESCÊNCIA da educação. Fronteiras do Pensamento, 4 minutos, 2014.
Agora, vamos discutir sobre a proposta de uma nova prática escolar 
para a construção do conhecimento apresentada por Castells no fórum?
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1.2.1 Informatização e mudanças no contexto escolar: novas formas de saber
As mudanças relativas à informatização na era pós‑moderna são discutidas também por Lyotard 
(2004), no momento em que o filósofo analisa o estatuto do saber na sociedade pós‑industrial. A 
premissa fundamental de Lyotard consiste em dizer que o saber mudou a partir dos anos 1960‑1970. 
Anteriormente, ele fazia parte da formação de todo indivíduo para que se tornasse um cidadão 
participante. Assim, o indivíduo entregava‑se ao processo de interiorização do saber.
A escola e os professores eram os donos do saber universal e os principais responsáveis pela 
transmissão do conhecimento aos alunos, os quais, por definição, tinham um saber incompleto. O 
desnível justificava a autoridade do professor e a obediência do aluno.
A partir da informatização, o saber passa a viver uma explosiva exteriorização: torna-se 
abundante e acessível. Já não há o desnível, de um modo geral, em relação ao professor e ao aluno, 
quanto à informação. O desnível ocorre no modo de utilização do conhecimento.
O saber perde sua condição de uso, passa a ter um valor de venda e vincula‑se às questões do 
poder econômico e político, ou seja, ele é a moeda que define, na cena internacional, os jogos 
hegemônicos (entre as nações, entre as empresas multinacionais). Acrescentamos que, no nosso 
entender, o conhecimento hoje está intimamente vinculado às questões econômicas e de poder, e esse 
poder se refere tanto a quem o detém quanto àquele que, via Internet, o difunde, atribuindo‑lhe, assim, 
o que Lyotard chama de valor de troca.
 Saiba mais
Sugerimos que você pesquise os vídeos de Pierre Lévy sobre o conceito 
de cibercultura. Há vários vídeos. Selecionamos o vídeo a seguir para iniciar 
o debate sobre cibercultura, informatização da sociedade e educação.
ENTREVISTA com Pierre Lévy. Formas do Saber. Sesc TV, 21 minutos, 
2012. Documentário.
1.2.2 Mudança nos meios de comunicação e implicações para o ensino: do modo de 
produção ao modo de informação
Ainda na direção das mudanças advindas da sociedade da informação e conectada em rede, temos 
em Ormundo (2007) a discussão sobre como as transformações apontadas por Mark Poster ocorrem 
nos meios de comunicação de massa. O autor diferencia o conceito de modos de produção e modos 
de informação. Para Poster (2000), a pós‑modernidade baseia‑se em uma sociedade orientada pela 
disponibilidade de informações, e a circulação dessas informações, na conexão de uma sociedade em 
rede. O autor discute essas questões por meio de uma Teoria Social Crítica com base no surgimento e na 
expansão dos meios de comunicação na vida cotidiana das pessoas e na sociedade em geral.
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Para o autor, o século XX instaurou novos tipos de ação e de discurso com o telefone, o rádio, a 
televisão e a Internet. Segundo ele, a vida cotidiana transformou‑se radicalmente no último século 
devido aos avanços tecnológicos, e são essas transformações que distinguem, especificamente, a 
globalização.
Tais transformações trazem algo que nos interessa particularmente ao tratarmos sobre o ensino 
das linguagens no contexto escolar. Para a compreensão dessa relação, deve‑se estudar o papel da 
linguagem que se reconfigura na nova mídia. Será por meio do entendimento dos novos discursos que 
se instauram nesse meio que se poderá entender a constituição da linguagem.
Poster (2000) encara os sistemas de comunicação eletrônica como linguagens determinantes da 
vida dos indivíduos e dos grupos em todos os seus aspectos (social, econômico, cultural e político), 
muito mais do que ocorreu na perspectiva do marxismo tradicional, em que funcionaram como simples 
dispositivos instrumentais e nada ou muito pouco alteraram as relações de poder.
Os meios e as formas de comunicação constituem, segundo o autor, tipos de discurso determinantes 
das relações de poder e de dominação nas sociedades contemporâneas. Assim, Poster (2000 apud 
ORMUNDO, 2007, p. 71) defende como tese geral que “o modo de informação decreta uma reconfiguração 
radical da linguagem, que constitui sujeitos fora do padrão do indivíduo racional e autônomo”.
É interessante em Poster que o modo de informação mostrará como o “sujeito familiar moderno é 
deslocado pelo ‘modo de informação’ em favor de um que seja múltiplo, disseminado e descentrado”. 
Esse movimento da visão do sujeito consiste na marca da globalização e da sociedade contemporânea, 
que é caracterizada por instabilidade, flexibilidade e descentralização.
Essa discussão apontada em Ormundo (2007, 2013) é relevante para a perspectiva discursiva crítica 
nas pesquisas que analisam a forma pela qual o sujeito e a estrutura social são transformados por meio 
da reconfiguração da linguagem, especificamente no trabalho sobre a linguagem no campo linguístico 
on‑line. Eles são marcados pela influência da globalização e pela instabilidade das coisas, uma vez 
que a rapidez com que as mudanças ocorrem devido ao conhecimento e à circulação da informação 
transforma a relação do sujeito com o conhecimento.
Um dos exemplos de Poster (1996, 2000) sobre como o modo de informação dissolve o que se 
encontrava estável na modernidade consiste na transformação que aconteceu na passagem da 
informação impressa à informação eletrônica em tempo real.
O autor cita o exemplo do livro impresso: na interação de produtor e receptor há um isolamento 
espaçotemporal entre eles, devido à materialidade espacial da imprensa, à linearidade das frases, à 
estabilidade da palavra impressa na página e ao espaço ordenado de forma sistemática, por meio 
das letras pretas em fundo branco. Isso tudo promove, segundo Poster (1996, 2000), o afastamento, 
já que o produto é consumido no isolamento. Esse exemplo serve para demonstrar como a relação 
de autoridade é criada na modernidade, por meio do distanciamento entre quem produz e quem 
consome o produto.
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Exemplo de aplicação
Com o avanço das novas tecnologias de informação e comunicação, houve uma reconfiguração no 
sistema de produção baseado pelos modos de informação. Uma dessas reconfigurações consistiu na 
disponibilização do sistema de livros digitais. Reflita a respeito disso, correlacionando a superestrutura 
e as características de acesso dos livros digitais e dos livros impressos no processo de construção de 
conhecimento no contexto escolar.
A proposta teórica de Poster sobre como o modo de informação entende as linguagens no ambiente 
tecnológico é contrária à teoria tradicional de como a informação circulava antes da conexão da 
sociedade em rede. A lacuna existente naimprensa entre produtor e receptor também aparece no 
ambiente tecnológico, mas há alteração no processo relacional devido à possibilidade de comunicação 
em tempo real e de interação entre os agentes envolvidos nessa relação, possibilitada pelas ferramentas 
próprias dos gêneros de comunicação dos websites.
A comunicação mediada pelo computador possibilita tanto a aproximação quanto o distanciamento 
entre os agentes envolvidos na situação comunicativa. Poster (2000, p. 73) diz que nas comunicações 
eletrônicas “a linguagem é entendida como performativa, retórica, como um veículo ativo na construção 
e [no] posicionamento do sujeito”. O papel do agente no processo de comunicação mediada pelo 
computador aparece em Poster (2000, p. 73) como alguém que se constitui como um “outro”, pois está 
em um ambiente dinâmico e sujeito a ser reconfigurado em “diferentes pontos do tempo e do espaço”, 
conforme consta em Ormundo (2007).
Por meio das questões apontadas em Poster, pode‑se verificar em Ormundo (2007) como 
esse movimento possibilita entender que a linguagem já não representa a realidade e não é uma 
ferramenta instrumental que enfatiza a racionalidade mecânica das estruturas sociais. A linguagem 
reconfigura a realidade.
Dessa forma, as estruturas sociais são afetadas por meio da linguagem. Não é possível manter‑se 
imune	diante	dessa	reconfiguração;	ao	reconhecê‑la,	as	formas	de	organização	das	estruturas	sociais	
são transformadas e a perspectiva da ADC fornece os elementos teóricos para tratar dessa mudança 
social no que se refere às mudanças na linguagem no momento da globalização.
Para compreender essa questão, a autora recorre aos estudos de Norman Fairclough (2006), no que 
se refere ao fato de que os meios de comunicação de massa foram apresentados como desempenhando 
um papel importante na constituição de novas escalas, na transformação das relações entre as escalas, 
na reescala das entidades espaciais e na construção e consolidação da nova “dificuldade” entre um 
regime de acumulação e um modo de regulamentação social.
Para o autor, todos esses processos dependem da disseminação social dos discursos, narrativas, ideias, 
práticas, valores etc., sobre a sua legitimação, a posição e mobilização dos públicos em relação a eles 
e a geração do consentimento para, no mínimo, aceitarem a mudança. Elementos interessantes para 
discutirmos no contexto escolar. Por meio das narrativas, desvelar crenças, valores, ideias, configurações 
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Análise de discurso críticA: repercussão no ensino
das opiniões tanto no campo linguístico on‑line (mídias sociais – Facebook) e como se interconectam 
para a vida “fora” do ambiente da rede.
1.2.3 Narrativas no contexto da pós‑modernidade: contribuições para repensar a 
prática escolar
Vivemos hoje em um mundo no qual toda história que é relatada a alguém passa por inúmeros 
veículos: TV, cinema, celular, Internet, video games, segundo Jenkins (2009), em uma entrevista à 
Revista Superinteressante. O fluxo dessa história, portanto, é moldado tanto por decisões tomadas pelas 
companhias que produziram o conteúdo quanto pelos sujeitos que a recebem. O referido autor chama 
esse estado da produção e difusão da informação de cultura da convergência.
Nesse contexto cultural, o conteúdo idealizado pelo produtor é apenas uma parte do processo 
e, muitas vezes, não a principal. Um programa de TV, exemplifica o autor, depois de criado, será 
reeditado e redistribuído pela Internet, e, com certeza, o público irá falar sobre ele em novas redes 
sociais, e serão escritas novas histórias a partir dele. O conteúdo original torna‑se apenas um 
pontapé inicial, a partir do qual o consumidor criará novas experiências. O foco agora, portanto, 
está em histórias contadas por várias modalidades de veículos, conhecidas como transmidiáticas: 
em cada mídia diferente, a história ganha uma nova camada, que nos conta algo que não 
saberíamos assistindo ao programa de TV. O autor exemplifica com a série Lost, considerada a 
mais famosa da última década. Nos EUA, Lost é veiculada por meio de livro, game e em episódios 
para celular.
Estamos, ainda na visão do autor, na época da cultura participativa, de grandes culturas de 
mídia, e, em uma década, não teremos mais uma empresa que produza conteúdo apenas para a 
TV, outra para rádio, outra para jornal, veremos grandes indústrias de mídia, que englobarão tudo 
isso. Essa vontade de participação das pessoas foi impulsionada pelo avanço da tecnologia e resulta 
em	 uma	 mudança	 de	 comportamento:	 antes	 apenas	 recebíamos	 a	 informação;	 hoje	 produzimos	
e participamos, e isso muda radicalmente nossas vidas porque a comunicação está em tudo que 
realizamos. Podemos, ainda segundo o autor (op. cit.), acompanhar a rotina de nossos filhos, enquanto 
trabalhamos, por meio de um vídeo deles veiculado no celular. Essa nova abordagem da comunicação 
mudou, inclusive, o modo pelo qual escolhemos os políticos. O autor cita a eleição de Barack Obama, 
que veiculou sua campanha em todas as mídias sociais possíveis, de YouTube a video games, e isso 
será significativo se notarmos que ele ganhou as eleições, enquanto seu opositor, John McCain, que 
nunca usou a Internet, não foi eleito. O autor conclui que “uma sociedade que possibilita a exposição 
de seus pensamentos na rede e o acesso a ideias de outras pessoas cria um enorme potencial para o 
avanço da democracia”.
Assim, ao conhecermos esses elementos históricos constitutivos da era da globalização, podemos 
investigar com maior propriedade e acuidade os processos discursivos que aí se instauram e, com essa 
contextualização a respeito do período histórico atual, vamos a outro tópico do nosso livro‑texto 
que consiste em apresentar, no viés da perspectiva crítica, a importância da linguagem na sociedade 
globalizada e repensarmos as práticas escolares.
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Unidade I
 Saiba mais
Para tratarmos do momento atual, sugerimos o vídeo e os textos que 
seguem:
MORIN, E. É preciso educar os educadores. O Globo, Rio de Janeiro, 
20 ago. 2014. Entrevista. Disponível em: <http://www.fronteiras.com/
entrevistas/entrevista‑edgar‑morin‑e‑preciso‑educar‑os‑educadores>. 
Acesso em: 29 out. 2015.
OS LIMITES do conhecimento na globalização. Fronteiras do Pensamento, 
3 minutos, 2014.
RANGEL, A. A educação não pode ignorar a curiosidade das crianças, diz 
Edgar Morin. O Globo, Rio de Janeiro, 17 ago. 2014. Disponível em: <http://
oglobo.globo.com/sociedade/educacao/educacao‑360/a‑educacao‑nao
‑pode‑ignorar‑curiosidade‑das‑criancas‑diz‑edgar‑morin‑13631748>. 
Acesso em: 30 out. 2015.
Após ver os vídeos de Edgar Morin, vamos discuti‑los no fórum.
1.2.4 Por uma Teoria Social do Discurso: linguagem e prática social
A relação entre linguagem e prática social é construída nos trabalhos de Fairclough até se 
concretizar na proposta atual de relacionar a linguagem e a globalização como um tópico da pesquisa 
social (FAIRCLOUGH, 2003a, 2003b, 2006).
A abordagem sobre linguagem e suas relações de poder foi apresentada, respectivamente, por 
Fairclough (1989, 1995) em Language and Power e em Critical Discourse Analysis. O foco dessa 
investigação é centrado na ligação que há entre linguagem em uso e relações desiguais de poder, 
com o propósito de desvelar como o exercício de poder na sociedade é instaurado na análise da 
linguagem e no diálogo com teóricos sociais que privilegiaram a questão da linguagem nas suas 
teorias, especialmente Pierre Bourdieu e Jürgen Habermas, além da proposta de abordar a linguagem 
em uma perspectiva interdisciplinar e da articulação do quadro tridimensional (veremos adiante) para 
o estudo do discurso.
Em Fairclough (1996), a relação da linguagem com questões ligadas à economia foi apresentada 
na Primeira Conferência Internacional sobre Análise de Discurso Crítica, realizada na Universidadede 
Lisboa. O linguista considera que as mudanças dos processos sociais são mediadas linguisticamente, 
portanto ele aproxima a pesquisa em ADC das transformações econômicas, sociais, políticas e culturais 
da vida contemporânea.
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Outro ponto relevante desse encontro foi a ideia defendida por Fairclough de que, na Teoria Social, 
a forma linguística tem de ser compreendida pela mudança na linguagem, uma vez que os aspectos da 
vida social estão centrados na linguagem.
Fairclough (1996) estabeleceu o conceito de marketização do discurso, aliando‑o às 
transformações econômicas que se instauraram nos processos de mudança do novo capitalismo e 
da constante influência das novas tecnologias. Esse modelo de sociedade transforma as relações 
entre linguagem e economia, além de possibilitar o surgimento de novos domínios das práticas 
discursivas do mercado. Dessa forma, a linguagem passa por céleres mudanças ao ser econômica 
e linguisticamente interpenetrada e pelo fato de as mercadorias apresentarem cada vez mais 
aspectos culturais e semióticos. A mercadoria linguística inclui os produtos da cultura industrial 
que passam a representar um instrumento importante nas relações sociais, econômicas e culturais 
que se estabeleceram na era da globalização.
Um exemplo de como esse processo ocorre é demonstrado por Fairclough (1996) mediante as 
funções e os aspectos estéticos próprios do design, tais como a produção de programas de entrevistas, de 
propagandas, de notícias de TV, que têm como meta persuadir e atrair o consumidor. O autor estabelece 
que o design estético da linguagem como mercadoria tem uma característica multissemiótica, 
principalmente em textos contemporâneos que permitem atribuir o conceito de linguagem mercadológica 
e que, na obra de 2006, vinculam‑se a uma abordagem transdisciplinar ao contemplar os aspectos de 
uma economia política cultural.
O linguista entende que o discurso é o novo caminho para perceber e pesquisar a linguagem como 
uma forma de prática social, e essa relação se constitui no decorrer de seus trabalhos.
Em Fairclough (1992), o termo discurso está associado ao uso da linguagem falada ou escrita e 
com indícios de inclusão dos elementos semióticos. Ao referir‑se ao uso da linguagem como discurso, o 
autor sinaliza o seu desejo de investigá‑lo por um método informado social e teoricamente como forma 
de prática social. Percebe‑se, com isso, que a linguagem está vinculada à prática social e, por isso, deve 
ser investigada como modo de ação e de representação. Assim, a pesquisa crítica sobre o discurso é o 
caminho de ação para realizar tal investigação.
Fairclough (2000) discute o poder da linguagem no jogo de interesses que envolve as relações 
entre os agentes nas práticas sociais por meio da Análise de Discurso Crítica do Novo Trabalhismo 
Britânico. O autor refere‑se ao fato de que eventos e personalidades políticas passam à condição 
de produtos e a linguagem utilizada nessa prática social molda‑se para satisfazer à necessidade 
discursiva de uma economia neoliberal, bem caracterizada pelo contexto do novo trabalhismo 
retratado nessa obra.
Nesse contexto, Fairclough (2000) mostra ser fundamental o papel da linguagem como parte da prática 
social. Para exemplificar a importância da linguagem, o autor utiliza o cenário político‑governamental 
do novo trabalhismo em que a linguagem é incrementada por aspectos multimodais por meio da 
imagem e da postura de Tony Blair, então primeiro‑ministro britânico. Vale a pena analisar as formas de 
representação de Tony Blair no cenário político aqui referido.
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Unidade I
Exemplo de aplicação
Sugerimos discutir o assunto tratado aqui com base nos filmes:
1984. Dir. Michael Radford. 113 minutos, 1984.
V de vingança. Dir. James McTeigue, 132 minutos, 2006.
Estabelecendo um diálogo entre o filme baseado na obra 1984, de George Orwell, e V de Vingança, 
podemos ter um debate interessante sobre o conceito de sociedade moderna e sociedade pós‑moderna.
1.2.5 Vozes da globalização como mediação e construção de sentido
Em Language and Globalization (2006), Fairclough classifica algumas vozes da globalização (análise 
acadêmica, agências governamentais, organizações não governamentais, mídia e pessoas comuns). 
Ressaltaremos aqui a importância que o autor dá à voz da mídia e à mediação, com o propósito de 
entender a mediação como parte de um modo de superar a distância na comunicação. As pessoas, ao 
se comunicarem com outras distantes, usam mídias particulares, tais como a televisão (TV), a Internet, 
o telefone, o rádio. Essas mídias têm seus próprios códigos, convenções, formatos, gêneros e assim por 
diante, os quais afetam o caráter da comunicação de maneira particular (SILVERSTONE, 1999).
Fairclough (2006) afirma que as pessoas têm suas próprias experiências da globalização na sua vida 
comum e nas várias comunidades das quais fazem parte, mediante o que elas recebem dos meios de 
comunicação (TV, Internet, rádio e outros). As pessoas reagem a isso de modo muito particular e diverso 
e agem em resposta ao que recebem da produção de representações que se constituem como parte 
significante da fala e da escrita a respeito da globalização.
Como a voz da mídia transita por todas as outras vozes, ela tem uma força maior no processo de 
construção dos significados e, dessa forma, produz representações, as quais são também uma parte 
significante de toda fala e escrita a respeito da globalização. As outras vozes circulam na voz da mídia e 
esta também transita nas outras vozes. Esse processo dialético se dá do seguinte modo:
Organizações 
não 
governamentais
Mídia
Pessoas 
comuns
Agências 
governamentais
Análise 
acadêmica
Voz da 
mídia
Figura 1 – Vozes da globalização
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Análise de discurso críticA: repercussão no ensino
A contribuição desse esquema para nossa discussão sobre o contexto escolar será apresentada na 
Unidade II, por meio das atividades sugeridas para aplicação em contexto escolar.
Quanto às vozes da globalização, temos:
•	 análise	acadêmica:	voz	que	apresenta	características	teóricas	e	analíticas	cujo	propósito	é	produzir	
descrições,	interpretações	e	teorias;
•	 agências	 governamentais:	 voz	 que	 se	 constitui	 nos	 discursos	 de	 governos	 nacionais,	 líderes	
políticos e organizações que são partes do Governo, tais como ministérios e comissões, governo 
local	e	agências	de	governo	internacionais;
•	 organizações	não	governamentais:	voz	que	se	constitui	nos	discursos	de	corporações	empresariais,	
partidos	políticos,	instituições	de	caridade	e	corporações,	tais	como	o	Greenpeace;
•	 mídia:	voz	que	veicula	os	discursos	da	imprensa,	do	rádio,	da	TV,	da	Internet	e,	em	termos	gerais,	
de	todas	as	entidades	que	contribuem	para	o	papel	social	da	mediação;
•	 pessoas	comuns:	vozes	que	reproduzem	experiências	particulares	em	relação	à	globalização,	tais	
como na interação face a face e na interação mediada.
Compreendemos que o conjunto das vozes da globalização é o lugar em que se processam a 
globalização e a reconfiguração da linguagem. Consideramos, também, que a voz da mídia é muito 
relevante para essa perspectiva discursiva, pois todas as outras vozes circulam por ela.
Como o discurso da mídia é fundamental na relação que exerce entre as outras vozes da globalização, 
passamos para o próximo tópico, em que podemos refletir sobre o discurso da mídia e a relação entre 
linguagem e ensino.
1.2.6 Linguagem e ensino: discurso da mídia
As questões apresentadas até o momento expuseram os aspectos que giram em torno das 
práticas de linguagem na globalização. Espera‑se que essas discussões contribuam para que 
o professor e o pesquisador reflitam e encontrem novoscaminhos na organização do seu 
trabalho em contexto escolar. Olhar para as práticas de linguagem por meio da abordagem 
transdisciplinar proposta pela Análise de Discurso Crítica consiste na mobilização de novas 
práticas sociais, nas quais se apresentam aspectos de uso da linguagem como forma de poder 
e capital simbólico – a linguagem podendo representar jogos de cultura promocional quando 
determinados usuários se apropriam dos elementos multissemióticos para se representarem 
em determinadas práticas sociais.
As práticas de linguagem na globalização configuram‑se como forma de representação que 
materializa a relação de poder no qual sujeitos a utilizam para realizar uma performance a fim de 
demonstrar o seu grau de conhecimento e experiência sobre determinado assunto próprio do campo 
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em que atuam. A linguagem transforma a ação dos sujeitos sociais nos diversos campos e se reconfigura 
como capital simbólico no processo de atuação desses sujeitos.
Outro ponto a considerar é que as práticas de linguagem na globalização apresentam uma 
reconfiguração da linguagem ao exercer determinadas funções que citaremos a seguir:
•	 A	linguagem	funciona	como	forma	simbólica,	por	meio	da	sua	constituição	discursiva	multimodal	
e do processo de apropriação de acúmulo de capital econômico, político e cultural de seu usuário 
refletido na linguagem como capital simbólico.
•	 A	linguagem	é	instrumento	com	propósito	claro	de	argumentação	para	a	reivindicação	de	um	espaço.
•	 A	linguagem	é	modalizadora,	pois	produz	a	modalidade	visual	ao	utilizar	os	diversos	elementos	
semióticos para representar uma ideia. Esses fatores mostram que a linguagem, ao reconfigurar a 
realidade, funciona como um instrumento relevante de poder em defesa de interesses particulares.
•	 A	linguagem	se	reconfigura,	como	um	jogo	de	encenações	em	torno	de	interesses	particulares,	
por meio de processos linguísticos, interativos, multimodais, hipertextuais e da prática social, 
bem como da representação (confiabilidade, experiência, poder, produto) dos que a usam com 
propósitos específicos.
Consideramos que as questões aqui discutidas abrem caminho para investigar as práticas de 
linguagem com um olhar mais adequado ao momento atual. Para isso, apontaremos na Unidade II alguns 
passos de uma proposta discursiva transdisciplinar em construção conforme os estudos discursivos 
críticos que visam olhar a linguagem em uma perspectiva de transformação social no contexto escolar.
1.3 Análise de Discurso Crítica e teoria Semiótica
A perspectiva de Fairclough (2006) apresenta uma discussão sobre a reestrutura e a reescala do 
capitalismo que trarão um ingrediente semiótico que instaura uma nova ordem do discurso e novas 
relações entre gêneros, discurso e estilo para a análise da linguagem. O referido autor considera que a 
transformação do capitalismo teve um sentido semiótico baseado na economia do conhecimento e na 
sociedade do conhecimento e da informação. O autor acrescenta que essa transformação envolveu o 
movimento dos discursos e a questão da reescala, e cita, como exemplo, os discursos da nova gerência 
pública e da gerência de qualidade que apresentam novas maneiras de agir e de interagir e novos 
gêneros. Isso é tratado em Fairclough (2006) na relação que a linguagem da globalização estabelece 
com os movimentos políticos, organizações não governamentais (ONGs) e outras vozes da globalização.
 Observação
O conceito de reescala consiste em um dos aspectos da globalização 
discutidos por Fairclough (2006). O autor indica cinco vozes da globalização, 
que apresentamos no tópico anterior.
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Análise de discurso críticA: repercussão no ensino
Fairclough (2003b, 2006) afirma que as transformações no capitalismo têm ramificações em toda a 
vida social e que, ao se utilizar a globalização como tema de pesquisa, deve‑se voltar para os interesses 
de como as transformações sociais no capitalismo impactam a política, a instrução, a produção artística 
e outras áreas da vida social. Para o autor, a atual transformação envolve uma reestruturação das 
relações entre os domínios econômicos, políticos e sociais, incluindo a marketização dos campos – a 
lógica econômica do mercado. Trata‑se de um projeto político para facilitar a reestrutura e a reescala 
das relações sociais de acordo com as demandas do capitalismo global (FAIRCLOUGH,	 2003b,	 2006;	
BOURDIEU, 1990).
Fairclough (2003b, 2006) declara, ainda, que a pesquisa social contemporânea tem de 
contemplar as mudanças da globalização. O autor entende que o estudo de aspectos da 
linguagem na globalização tornou‑se uma área de pesquisa significativa para os analistas 
de discurso crítico e sugere que a linguagem pode ter um papel significativo nas mudanças 
socioeconômicas contemporâneas.
Segundo Fairclough (2003b, 2006), a Análise de Discurso Crítica tem contribuições importantes para 
pesquisar as transformações do capitalismo e acrescenta que pesquisadores sociais deram relevância 
a isso, conforme ocorreu no trabalho de Bourdieu e Wacquant (2005), os quais buscaram caracterizar 
determinados termos linguísticos usados no contexto da globalização, exatamente na relação de poder 
e de reivindicação com base em uma orientação discursiva.
Para o linguista, a análise de Bourdieu e Wacquant (2005) dá a indicação de que a pesquisa social 
necessita da contribuição do analista do discurso, não no processo de criação de uma terminologia 
apropriada, mas no que concerne a analisar textos e interações para mostrar como alguns dos efeitos 
que esses autores identificaram são desvelados nas transformações socioeconômicas do capitalismo 
novo e nas políticas dos governos.
Após essa pequena introdução de como a linguagem foi sendo apresentada na obra de Fairclough, 
faremos uma síntese dos momentos da ADC. Partimos do modelo proposto como quadro tridimensional 
(FAIRCLOUGH, 1989, 1992) até chegar à nova versão da ADC como análise transdisciplinar, conforme 
apresentado na obra Language and Globalization (2006).
1.3.1 Conceitos relevantes no percurso da abordagem crítica do discurso
Há conceitos essenciais da abordagem discursiva que devem ser desvendados para a compreensão 
da teoria. Encontramos esses conceitos na obra Práticas de Linguagem na Globalização: Introdução à 
Análise de Discurso Crítica em uma Perspectiva Transdisciplinar, de Ormundo e Wetter (2013), conforme 
exposto a seguir: texto, discurso, prática discursiva, prática social, ideologia e hegemonia, 
intertextualidade, interdiscursividade, transdisciplinaridade.
O conceito texto é usado por Fairclough no mesmo sentido empregado por Michael Halliday: para 
textos escritos e textos falados. Fairclough (1989, p. 24) enfatiza que o texto é um produto, em vez de ser 
um	processo;	na	verdade,	um	produto	do	processo	de	produção	textual.	O	autor	emprega	esse	conceito	
tanto para os textos escritos quanto para transcrições de fala. O texto compreende um processo de 
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produção,	do	qual	o	texto	é	um	produto;	e	um	processo	de	interpretação,	para	o	qual	o	texto	é	um	
recurso. Fairclough (2006, p. 30) complementa a explicitação anterior por intermédio de especificações 
mais detalhadas: esse termo não diz respeito apenas aos textos escritos, mas também à fala, como um 
elemento ou momento dos eventos, e aos complexos textos multimodais da televisão e da Internet, 
nos quais a língua é usada em combinação com outras formas semióticas (imagens, incluindo filmes e 
fotografias, efeitos sonoros, linguagem corporal).
O discurso é considerado por Fairclough, em sua obra, o uso da linguagem como prática 
social, constituindo um modo de ação e de representação. Existe uma relação dialética entre 
o discurso e a estrutura social: ele contribui paraa constituição de todas as dimensões das 
estruturas sociais ao mesmo tempo que é moldado e restringido por elas. Assim, constitui e 
ajuda a construir identidades, relações sociais e os sistemas de conhecimento e de crenças. 
Esses aspectos constitutivos relacionam‑se a três funções da linguagem: à função identitária, 
que	diz	respeito	às	maneiras	pelas	quais	as	identidades	sociais	são	construídas	nos	discursos;	à	
função relacional, que se refere ao modo pelo qual as relações sociais entre os participantes do 
discurso	são	representadas	e	negociadas;	e	à	função ideacional, maneiras pelas quais os textos 
significam o mundo e seus processos, identidades e relações. Embora discurso aqui englobe o 
uso da linguagem escrita e da falada, é preciso estender esse conceito a outras modalidades 
semióticas, tais como as referentes a elementos não verbais (gestos, imagens etc.), pois nossa 
investigação transita também nesse contexto.
A prática discursiva, na abordagem de Fairclough (1992), realiza‑se como forma linguística, ou 
seja, como texto. A análise de um discurso particular, como exemplo de prática discursiva, envolve os 
processos de produção, de distribuição e de consumo textual, e a natureza desses processos se modifica 
nas diversas modalidades de discurso de acordo com fatores sociais. Os textos são produzidos de modos 
distintos em contextos sociais específicos. No universo midiático, um artigo jornalístico, por exemplo, 
é produzido por meio de rotinas complexas engendradas por um grupo específico de profissionais, 
que são responsáveis por seus vários estágios de produção: o acesso às fontes, a transformação dessas 
fontes em textos jornalísticos, a primeira versão da reportagem, o seu lugar de publicação no jornal e a 
edição da reportagem.
 Observação
O conceito de ordens do discurso, emprestado de Foucault, refere‑se à 
totalidade de práticas discursivas e à relação entre elas no interior de uma 
instituição ou sociedade.
A prática social significa para Fairclough (2003a) uma forma relativamente estabilizada de atividade 
social (ensino na sala de aula, notícias televisivas, refeições familiares, consultas médicas) que articula 
vários elementos sociais no interior de uma configuração de certo modo estável e sempre inclui o 
discurso. Toda prática inclui os seguintes elementos:
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Análise de discurso críticA: repercussão no ensino
Quadro 1 – Elementos constitutivos da prática social
Atividades Tempo e espaço
Sujeitos e suas relações sociais Formas de conscientização
Instrumentos Valores
Objetos Discurso
Fonte: Fairclough (2003a).
Esses elementos são em parte discursivos, mas isso não significa dizer que investigamos relações 
sociais do mesmo modo que fazemos com a linguagem. Eles têm propriedades distintas.
Na verdade, a prática social aborda o conceito de discurso em relação à ideologia e ao poder. Situa 
o discurso em uma perspectiva de poder como hegemonia e considera a evolução das relações de poder 
como luta hegemônica (FAIRCLOUGH, 1992).
A noção de ideologia ancora‑se em Althusser. Há três asserções a respeito dessa noção que 
estabelecem suas bases teóricas: ela tem existência material nas práticas das instituições, o que 
possibilita	a	investigação	das	práticas	discursivas	como	formas	materiais	de	ideologia;	ela	interpela	os	
sujeitos;	e	os	aparelhos	ideológicos	do	Estado	(a	educação,	a	mídia)	são	marcos	delimitadores	das	lutas	
de classe, apontando para uma análise de discurso orientada ideologicamente. O conceito althusseriano 
de ideologia é tomado por base, mas, ao mesmo tempo, é questionado por Fairclough, pelo fato de 
apresentar uma noção de dominação como imposição unilateral e reprodução da ideologia dominante, 
marginalizando a luta, a contradição e a transformação. Ideologias são apresentadas como significações 
ou construções da realidade, que são constituídas nas várias dimensões dos sentidos ou formas das 
práticas discursivas e que “contribuem para a produção, a reprodução ou a transformação das relações 
de dominação” (FAIRCLOUGH, 1992). Os aspectos textuais ou discursivos que podem ser investidos 
ideologicamente são ainda, segundo Fairclough (op. cit.), os sentidos das palavras, as pressuposições, as 
metáforas, a coerência e o estilo de alguns textos.
A interpelação dos sujeitos pela ideologia é questão bastante complexa na perspectiva discursiva 
crítica. Primeiro porque não se deve acreditar que as pessoas sejam conscientes da abrangência ideológica 
de sua própria prática, pois as ideologias que afloram nas convenções podem, muitas vezes, cristalizar‑se, 
tornando‑se conscientemente imperceptíveis. Além disso, mesmo quando os sujeitos realizam práticas de 
resistência, que possivelmente contribuam para mudanças no âmbito da ideologia, a abrangência de sua 
realização, geralmente, não é percebida. Assim, a importância dos estudos linguísticos que investigam 
os processos ideológicos que afloram no discurso está na possibilidade de os sujeitos desenvolverem 
uma consciência crítica maior a respeito de suas próprias práticas e daquelas às quais são submetidos.
A Análise de Discurso Crítica defende a postura dialética a respeito desses processos: o equilíbrio 
entre sujeito efeito ideológico e sujeito agente. Ainda nessa perspectiva crítica da linguagem, as práticas 
discursivas são investidas ideologicamente no momento em que contribuem para manter ou reestruturar 
as relações de poder. Em princípio, as relações de poder podem ser afetadas por práticas discursivas 
de todos os tipos, inclusive as teóricas e as científicas. As ideologias aparecem nas sociedades que se 
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caracterizam por relações de dominação com base na classe, no gênero social, no grupo cultural etc. à 
medida que os sujeitos conseguem transcender tais sociedades, eles conseguem também transcender as 
questões ideológicas, o que significa, portanto, que “nem todo discurso é irremediavelmente ideológico” 
(FAIRCLOUGH, 1992, p. 121).
Os conceitos de hegemonia e poder, na perspectiva de Fairclough (1992, p. 122), estão amparados 
no universo teórico de Gramsci. A luta hegemônica apresenta‑se em ampla perspectiva e considera as 
instituições sociais (a família, os sindicatos, a educação), bem como considera as possíveis desigualdades 
entre os diversos níveis e domínios. Hegemonia implica liderança e dominação nos segmentos econômico, 
político, cultural e ideológico. Diz respeito à construção de alianças e vai muito além da simples 
dominação de classes subalternas, pois se vale de concessões ou de componentes ideológicos para 
obter o consentimento para a ação. Embora represente o poder de uma das classes economicamente 
privilegiadas sobre as outras, essa dominação é parcial e temporária, como se espelhasse um equilíbrio 
instável. Trata‑se de um elemento representativo de luta constante sobre pontos inconstantes entre 
classes e segmentos sociais para reproduzir, reestruturar ou desafiar hegemonias existentes relacionadas 
a formas econômicas, políticas e ideológicas.
Ao se considerar a abordagem discursiva em termos analíticos, pode‑se dizer que a análise textual 
é organizada em quatro direções: investigação do vocabulário, da gramática, dos elementos de coesão 
e	da	estrutura	textual.	O	vocabulário	é	investigado	por	meio	das	palavras	individualmente;	a	gramática,	
por	intermédio	da	combinação	das	palavras	em	frases	ou	orações;	os	elementos	coesivos	são	analisados	
em	 relação	 ao	 modo	 pelo	 qual	 organizam	 as	 junções	 dessas	 frases	 e	 orações;	 e	 a	 estrutura	 textual	
é abordada em relação a suas propriedades de organização textual. Em relação à prática discursiva, 
podem ser examinados elementos tais como a força dos enunciados, ou seja, os atos de fala (promessas, 
pedidos, ameaças etc.) constituídos por eles, a coerência e a intertextualidade dos textos. A prática socialé investigada por intermédio do conceito de hegemonia, o qual fornece uma matriz para a análise das 
relações de poder. Desse modo, a análise textual abrange aspectos de sua produção e interpretação, bem 
como das propriedades formais de sua constituição.
O conceito de intertextualidade é primordial para a análise de textos no âmbito do quadro 
investigativo ora proposto. Os textos são constitutivamente intertextuais, compostos por elementos de 
outros textos. Existe uma inserção histórica do texto, pois ele responde, reacentua e reorganiza textos 
passados e contribui para processos de mudança social ao influenciar textos subsequentes. Segundo 
Fairclough (2001, p.135), “a rápida transformação e reestruturação de tradições textuais e ordens de 
discurso é um extraordinário fenômeno contemporâneo, o qual sugere que a intertextualidade deve ser 
o foco principal na análise de discurso”.
 Observação
O termo intertextualidade foi cunhado por Kristeva, nos anos 1960, 
com base no trabalho de Bakhtin a respeito do desenvolvimento de uma 
abordagem intertextual.
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Análise de discurso críticA: repercussão no ensino
Assim, veremos que um texto se constrói em relação aos outros textos, ou seja, na perspectiva da 
abordagem do outro relacionado ao já-dito (antes, em outro lugar), se buscarmos fundamentação no 
dialogismo de Bakhtin, o qual privilegia a dimensão de outro, de não um na sua abordagem do sentido, 
princípio esse colocado como constitutivo do sujeito e da linguagem.
 Observação
O princípio do dialogismo manifesta‑se na obra de Bakhtin por 
intermédio de investigações feitas em relação ao plurilinguismo 
(variedade de língua, estratificação em dialetos sociais, em falares de um 
grupo, uma geração etc.), ao riso da cultura carnavalesca (a palavra popular 
alegre, livre, lúcida), ao romance polifônico (a personagem como uma outra 
consciência, estrangeira, mas não reificada, sua voz ressoando, ao lado 
daquela do autor), às formas do discurso bivocal (a estilização, a paródia em 
todas as gradações, o diálogo, o skaz estilizado – narração de uma pessoa 
distanciada do autor e portadora de uma forma própria de discurso). Todas 
essas abordagens são relevantes para o estudo da multiplicidade de vozes 
que permeiam a comunicação humana (BAKHTIN, 1981).
A relação existente entre intertextualidade e hegemonia situa o espaço textual entre fronteiras que 
estabelecem certas limitações relativas à apropriação de outros textos e a como estes podem transformar 
e reestruturar as convenções existentes para gerar novos ambientes textuais. Também é preciso salientar 
que a intertextualidade é socialmente limitada e condicionada às relações de poder circundantes, ao 
mesmo tempo que pode apresentar‑se por meio de ordens de discurso influenciando a luta hegemônica 
no momento em que são afetados por ela.
Em Problemas da Poética em Dostoiévski (1981), Bakhtin deixa clara essa perspectiva social da 
linguagem citada no parágrafo anterior, quando afirma que a palavra nunca se apresenta neutra, como 
se fosse tirada do dicionário. As palavras, ao passarem de boca em boca, ao mudarem de um contexto 
ou de um meio social para outro, não perdem seu caminho, mas tampouco se libertam completamente, 
pois, na verdade, elas não estão isentas das aspirações e das avaliações dos outros. A palavra, ao 
mesmo tempo que vem pontilhada por outras palavras, já ditas em outro lugar, não se subjuga ao meio 
constituído	pela	palavra	do	outro,	pois	na	realidade	não	existe	uma	fusão	completa;	há	sempre	uma	
ressalva, um distanciamento, uma refração.
Em Marxismo e Filosofia da Linguagem (1999), Bakhtin enfatiza a construção do discurso em relação 
aos outros discursos e investiga as formas que, nos níveis sintático, discursivo e literário, ilustram 
representações do discurso no discurso, da enunciação na enunciação e, ao mesmo tempo, de um 
discurso sobre o discurso, de uma enunciação sobre a enunciação (BAKHTIN, 1999, p. 144).
Uma questão importante a considerar é a distinção entre intertextualidade manifesta e 
intertextualidade constitutiva (ou interdiscursividade). A intertextualidade manifesta acontece 
quando	 se	 recorre	explicitamente	a	outros	 textos	específicos	em	um	texto;	a	 interdiscursividade	diz	
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respeito a como um tipo de discurso é constituído por intermédio de uma combinação de elementos de 
ordens de discurso.
As questões relativas à intertextualidade, em uma perspectiva das teorias da enunciação, foram 
estudadas em um artigo de 1982, escrito por Authier‑Revuz, no qual ela descreve as formas de 
heterogeneidade mostrada presentes no discurso, vistas como manifestações dos diversos tipos de 
negociação do sujeito falante com aquilo que a autora chama de heterogeneidade constitutiva. 
Inicialmente apresenta as formas explícitas da heterogeneidade, ao afirmar que “No fio do discurso 
que, de fato, um locutor único produz materialmente, um certo número de formas, linguisticamente 
apreensíveis ao nível da frase ou do discurso, inscrevem, na linearidade, o outro”. Essas formas explícitas 
da	 heterogeneidade	 são	 representadas	 de	 vários	 modos;	 alguns	 deles	 são	 os	 seguintes:	 o	 discurso	
relatado (discurso direto, discurso indireto), as várias formas marcadas da conotação autonímica (aspas, 
palavras em itálico, uma entonação, formas de comentário – glosa, retoque, ajustamento –, palavras 
que nomeiam o outro, ou o traduzem, ou o explicam).
 Observação
A conotação autonímica inscreve‑se na linearidade linguística no 
momento em que o locutor faz uso de palavras inscritas no fio do seu 
discurso e, ao mesmo tempo, mostra‑as. O locutor, nesse caso, é, ao mesmo 
tempo, usuário e observador das palavras utilizadas.
Já a heterogeneidade constitutiva é, para a descrição linguística da heterogeneidade mostrada, 
uma ancoragem necessária, na visão de Authier‑Revuz (1982), exterior à linguística, mesmo nas 
formas mais explícitas, intencionais e delimitadas da presença do outro no discurso. A autora 
busca fundamentação teórica para a heterogeneidade constitutiva em duas abordagens exteriores 
à linguística: o dialogismo do círculo de Bakhtin e a psicanálise (por meio de uma releitura de 
Freud feita por Lacan). Enfim, a heterogeneidade constitutiva refere‑se aos processos reais de 
constituição de um discurso, e a heterogeneidade mostrada relaciona‑se aos mecanismos de 
representação, no discurso, de sua constituição. Assim, no universo teórico da referida autora, esses 
dois níveis distintos convivem lado a lado, solidariamente, e são as condições reais de existência de 
um discurso e de sua representação.
Na perspectiva de Fairclough (2003b), é importante trabalhar de um modo transdisciplinar na 
análise de discurso e de textos. A interdisciplinaridade engloba um grande número de práticas e inclui 
o encontro de pesquisadores com conhecimentos e experiências consolidadas em diversas teorias 
para atuarem com um propósito de pesquisa particular sem implicação de que as teorias disciplinares 
e os métodos sejam afetados ou modificados por essa experiência. Já o trabalho transdisciplinar é 
também um modo de trabalho interdisciplinar ou pós‑disciplinar. Sua principal perspectiva é a de 
que o encontro e o diálogo entre disciplinas diversas durante a pesquisa de determinados assuntos 
sejam abordados com o intuito de desenvolver categorias teóricas, métodos de análise, programas de 
pesquisa etc. de uma área por meio da “lógica” da outra. Essa busca da transdisciplinaridade fica bem 
clara em Fairclough (2003a).
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Análise de discurso críticA: repercussão no ensino
Há a necessidade de desenvolver abordagens de análise de texto por meio de um diálogo 
transdisciplinar com perspectivas sobre linguagem e discurso imersos na

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