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Autora: Profa. Joana da Silva Ormundo Colaboradora: Profa. Cielo Festino Análise de Discurso Crítica e Semiótica Re vi sã o: L uc as /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 1/ 05 /1 3 // R ed im en sio na m en to : A m an da - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /1 0/ 20 14 Professora conteudista: Joana da Silva Ormundo Joana da Silva Ormundo é doutora em Linguística pela Universidade de Brasília (2007), mestre em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1998) e Licenciada em Letras – Língua Portuguesa (1985). Atua na área do texto, do discurso e da semiótica. Coordenadora do curso de Letras da Universidade Paulista (UNIP), é professora titular da mesma instituição, na qual ministra disciplinas relacionadas à área de texto e discurso. É também líder da disciplina Análise de Discurso Crítica e Semiótica e do Laboratório de Linguagem e Tecnologia do curso de Letras. Na UNIP, desenvolveu três projetos de pesquisa docente para a elaboração de proposta metodológica para o ensino-aprendizagem em gêneros de comunicação no campo linguístico on-line. Coordena o projeto de pesquisa Multimodalidade, redes sociais e práticas de letramento: aprender e ensinar com gêneros na sala de aula e no campo linguístico on-line. Exerceu a coordenação adjunta do Centro de Pesquisa em Análise de Discurso Crítica (Cepadic- UnB) até 2011. É pesquisadora do Diretório do Grupo de Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) do Grupo Brasileiro de Estudos de Discurso, Pobreza e Identidade – Rede Latino-americana (Redlad) da Universidade de Brasília. É membro da Asociación Latinoamericana de Estudios del Discurso (Aled), do Centro de Pesquisa em Análise de Discurso Crítica (Cepadic), do Núcleo de Estudos de Linguagem e Sociedade (Nelis) e da Associação Brasileira de Linguística (Abralin). © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) O73a Ormundo, Joana da Silva Análise de discurso crítica e semiótica / Joana da Silva Ormundo. - São Paulo: Editora Sol, 2014. 124 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XVII, n. 2-040/14, ISSN 1517-9230. 1. Análise crítica. 2. Semiótica. 3. Análise social. I. Título CDU 81’22 Re vi sã o: L uc as /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 1/ 05 /1 3 // R ed im en sio na m en to : A m an da - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /1 0/ 20 14 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Lucas Ricardi Cristina Z. Fraracio Re vi sã o: L uc as /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 1/ 05 /1 3 // R ed im en sio na m en to : A m an da - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /1 0/ 20 14 Sumário Análise de Discurso Crítica e Semiótica APRESENTAçãO ......................................................................................................................................................7 INTRODUçãO ...........................................................................................................................................................8 Unidade I 1 DA MODERNIDADE à PóS-MODERNIDADE: NOVAS PRáTICAS SOCIAIS E NOVA LINGUAGEM ............................................................................................................................................. 11 1.1 Os atores sociais na sociedade pós-moderna .......................................................................... 13 1.2 Informatização na era pós-moderna ........................................................................................... 16 1.3 A reorganização do espaço e do tempo: quase-interação mediada ............................... 18 2 SOCIEDADE PóS-MODERNA BASEADA NOS MODOS DE INFORMAçãO .................................. 22 2.1 Reinterpretação dos meios de comunicação: o modo de informação .......................... 22 2.2 Meios de comunicação na globalização ..................................................................................... 25 Unidade II 3 MUDANçAS SOCIAIS E TECNOLóGICAS: INTERAçãO MIDIáTICA .............................................. 32 3.1 Mediação e interação midiática na perspectiva de autores da análise de discurso crítica .............................................................................................................................................. 33 3.2 Vozes da globalização como mediação e construção de sentido na perspectiva da análise de discurso crítica .................................................................................................................. 34 3.3 Mídia, agentes sociais e relações de poder na perspectiva da análise de discurso crítica .............................................................................................................................................. 34 4 CONFIGURAçãO DA SOCIEDADE EM REDE .......................................................................................... 35 4.1 Ciberespaço: lugar de comunicação na sociedade digital ................................................... 37 4.2 Comunidades virtuais ......................................................................................................................... 39 4.3 Linguagem e novas tecnologias ..................................................................................................... 41 Unidade III 5 NOçõES PRELIMINARES DA ANáLISE DE DISCURSO CRíTICA ...................................................... 47 5.1 Análise de discurso crítica: do quadro tridimensional à perspectiva transdisciplinar ............................................................................................................................................. 55 5.2 A proposta bidimensional: análise textual externa e interna ............................................ 58 5.3 Análise social e a construção de uma abordagem transdisciplinar ................................. 59 5.4 As abordagens do discurso na ADC .............................................................................................. 61 Re vi sã o: L uc as /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 1/ 05 /1 3 // R ed im en sio na m en to : A m an da - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /1 0/ 20 14 5.4.1 Da prática discursiva à globalização ............................................................................................... 61 5.4.2 Da prática social à globalização ....................................................................................................... 64 5.5 A relação entre a reconfiguração da linguagem, ideologia e poder na perspectiva da análise de discurso crítica ........................................................................................ 66 5.5.1 Da análise textual à globalização– categorias de análise ..................................................... 70 6 ABORDAGEM DA ANáLISE SOCIAL: A PROPOSTA TRANSDISCIPLINAR NA PERSPECTIVA DA ANáLISE DE DISCURSO CRíTICA................................................................................ 74 6.1 Abordagem dos gêneros, discursos e estilos nas novas tecnologias na perspectiva da análise de discurso crítica.......................................................................................... 74 6.2 Categoria analítica para a estrutura genérica .......................................................................... 77 6.3 Categorias analíticas para tipos de gêneros .............................................................................. 77 6.4 O discurso ................................................................................................................................................ 78 6.5 O estilo ...................................................................................................................................................... 79 6.6 Linguagem e globalização na perspectiva da análise de discurso crítica ..................... 81 6.6.1 Linguagem e Teoria Social – Pierre Bourdieu e Loïc Wacquant .......................................... 82 6.6.2 A linguagem na globalização na perspectiva transdisciplinar e o diálogo da ADC com a Teoria Social ................................................................................................................................ 84 Unidade IV 7 SEMIóTICA SOCIAL: A MULTIMODALIDADE, A GRAMáTICA DA SINTAXE VISUAL E A MODALIZAçãO ..................................................................................................................................................... 92 7.1 Categorias analíticas para a gramática do design visual ..................................................... 93 8 ASPECTOS DA ANáLISE DE DISCURSO CRíTICA COM O PROPóSITO DE ORIENTAR A ANáLISE DA SEMIóTICA SOCIAL ............................................................................................................... 99 8.1 Recontextualização em Fairclough como categoria analítica para a análise semiótica ........................................................................................................................................101 7 Re vi sã o: L uc as /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 1/ 05 /1 3 // R ed im en sio na m en to : A m an da - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /1 0/ 20 14 APreSentAçãO Caro aluno, Neste livro-texto, teremos como foco discutir aspectos voltados às questões de linguagem que circulam na sociedade. A perspectiva teórica da análise de discurso crítica (ADC), da semiótica social e de suas categorias analíticas fornecerão a você as orientações relevantes para a análise dos eventos que ocorrem nas práticas sociais. Todos os aspectos teóricos e metodológicos tratados neste material visam a fornecer ao pesquisador os elementos necessários para iniciar uma investigação sobre aspectos da linguagem na sociedade globalizada. Como temos o propósito de analisar a forma como a linguagem constitui-se socialmente – e também os sentidos produzidos–, buscaremos contextualizá-la no universo dos estudos semióticos, especificamente por meio da perspectiva da semiótica social – a multimodalidade. Tomaremos como base os estudos de Gunther Kress e Van Leeuwen, apontando as categorias de análise que poderão contribuir para os trabalhos de pesquisa que propõem desvelar os discursos em uma sociedade globalizada e o processo de construção de sentido com propósitos de mudança social. Você será contextualizado sobre os elementos introdutórios referentes à perspectiva teórica e analítica da ADC e à semiótica social. As questões apresentadas neste livro-texto apontarão caminhos para os interessados em realizar estudos da linguagem e do discurso relacionados às práticas sociais que circulam em uma sociedade pós-moderna, globalizada e tecnológica. Sustentamos a organização deste material com base nos trabalhos dos autores da perspectiva da ADC, Teoria Social e multimodalidade. As pesquisas de Ormundo (2007), Wetter (2009) e Ormundo e Wetter (2012) orientam o percurso escolhido para a apresentação das questões do discurso, da linguagem, da produção de sentido e dos elementos teóricos, metodológicos e analíticos propostos pela perspectiva discursiva crítica por meio de uma abordagem transdisciplinar. Na primeira unidade, será apresentado o momento social atual, considerando alguns aspectos da pós-modernidade, da globalização e as características sociais que contribuem para a constituição de uma sociedade no ambiente da cibercultura, em rede e midiática; em seguida, discorreremos a respeito da linguagem e sua configuração no momento da globalização; após isso, será exposta a perspectiva da Teoria Social da Mídia, da sociedade em rede e os processos de mediação nesse novo contexto. Na segunda unidade, serão abordados os termos de linguagem usados na perspectiva crítica adotada. Discorreremos sobre o percurso em que a ADC se constitui como uma perspectiva teórica e metodológica para a análise das práticas de linguagem, por meio dos discursos que circulam socialmente. Para isso, recorreremos aos trabalhos de Norman Fairclough e faremos a leitura do movimento dessa teoria, partindo do quadro tridimensional e chegando à análise social. Nessa última proposta, considera-se a materialização do projeto transdisciplinar como abordagem das práticas de linguagem em uma sociedade globalizada e essencialmente tecnológica, conforme apontado em Ormundo (2007) e Ormundo e Wetter (2012). 8 Re vi sã o: L uc as /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 1/ 05 /1 3 // R ed im en sio na m en to : A m an da - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /1 0/ 20 14 Na terceira unidade, são apresentadas a perspectiva da semiótica social e as categorias de análise com base na gramática da sintaxe visual e da modalização. Discorremos também sobre o papel da mídia em uma perspectiva crítica, com base nos estudos de Gunther Kress e Van Leeuwen. Nossos objetivos são: • situar o aluno sobre o desenvolvimento dos estudos do discurso no contexto da pós-modernidade e da globalização; • apresentar os aspectos da globalização e da constituição de uma sociedade tecnológica e midiática; • compreender as práticas de linguagem na perspectiva transdisciplinar da ADC e a construção de sentido por meio dos estudos semióticos; • desenvolver a habilidade de análise de textos multimodais e das linguagens materializadas em eventos sociais na perspectiva discursiva crítica; • apresentar as categorias analíticas da ADC e da semiótica social para o estudo das linguagens em uma sociedade globalizada e tecnológica. Você terá contato com a perspectiva teórica da ADC com base nos estudos de Norman Fairclough. Apresentaremos o percurso do desenvolvimento dessa teoria, contemplando uma abordagem transdisciplinar em construção, por meio do trajeto teórico e metodológico apresentado nas obras dos autores da ADC. Nesse estudo, iniciaremos a discussão sobre os fatores que envolvem a constituição de uma sociedade pós-moderna, globalizada e tecnológica, com base em autores da Teoria Social que contribuem com a possibilidade de examinar a ideologia e as relações de poder envolvidas em toda prática social e discursiva. Abordaremos a revisão das obras de Norman Fairclough que articulam um quadro tridimensional para o estudo do discurso até a constituição de uma proposta transdisciplinar em construção e tratada na obra Language and Globalization (2006). Por fim, apresentaremos a perspectiva multimodal da análise das linguagens com base em autores da semiótica social. IntrODuçãO A ADC considera a linguagem como uma forma de prática social. A análise da linguagem nessa perspectiva visa a desvelar os seus fundamentos ideológicos próprios,como prática social. A perspectiva teórica da ADC diferencia-se de outras teorias do discurso, pois tem como relevância estudar as práticas sociais e discursivas que ocorrem em uma sociedade pós-moderna, globalizada e tecnológica. Diante disso, apresenta uma proposta em construção de análise dos discursos, em uma perspectiva transdisciplinar e dialoga com outras teorias sociais, com os aspectos relacionados à economia, política, cultura, semiótica social e perspectiva multimodal. 9 Re vi sã o: L uc as /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 1/ 05 /1 3 // R ed im en sio na m en to : A m an da - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /1 0/ 20 14 O início da discussão parte da compreensão de que as mudanças sociais que caracterizam a sociedade atual, por meio da reestruturação e reorganização do período moderno em direção a uma sociedade pós-moderna, globalizada e tecnológica, ocasionam a reconfiguração na forma como as pessoas atuam socialmente diante de práticas já conhecidas e que se tornam estranhas, devido à nova organização social decorrente da globalização e das novas tecnologias. Dessa forma, a perspectiva da ADC por meio de uma abordagem transdisciplinar nos fornece condições teóricas e metodológicas e também categorias analíticas para a investigação das práticas sociais e dos discursos que nelas se instauram em consonância com as mudanças que estão ocorrendo. 11 Re vi sã o: L uc as /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 1/ 05 /1 3 // R ed im en sio na m en to : A m an da - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /1 0/ 20 14 Análise de discurso críticA e semióticA Unidade I 1 DA mODernIDADe à PóS-mODernIDADe: nOvAS PrátICAS SOCIAIS e nOvA lInguAgem A base para a discussão desta unidade consiste nos trabalhos de Ormundo (2007), Wetter (2009) e de Ormundo e Wetter (2012), referentes aos processos envolvidos na formação de uma sociedade pós-moderna e globalizada. As autoras discorreram sobre o assunto em suas teses de doutorado na Universidade de Brasília e no livro Práticas de Linguagem na Globalização: Introdução à Análise de Discurso Crítica em uma Perspectiva Transdisciplinar (ORMUNDO; WETTER, 2012). O período atual, chamado por alguns autores de pós-moderno, novo capitalismo e capitalismo tardio, possibilita processos intrínsecos relativos à linguagem, os quais afetam radicalmente o discurso globalizado. Essas características históricas precisam ser desveladas para que o estudo linguístico, na perspectiva discursiva crítica, seja viabilizado. Para nos aprofundarmos no assunto, é preciso que o leitor reflita sobre quais foram as mudanças sociais e os desenvolvimentos que afetam e afetarão a vida das pessoas no início do século XXI e sobre como nomear e caracterizar essa fase. Para iniciar essa reflexão, sugerimos que se atentem aos autores que escrevem sobre o período mencionado e se aprofundem, na medida do possível, nos estudos das obras de referência apontadas nessa revisão bibliográfica. De acordo com Giddens (2000b), vamos observar três perspectivas sobre os questionamentos em causa: I – o fato de que vivemos em uma sociedade pós-industrial; II – a ideia de que atingimos um período pós-moderno; III – a teoria a respeito do fim da história. O início do século XXI, de acordo com Giddens (2000b), é apontado por alguns observadores como um momento de transição para uma nova sociedade que não se assenta essencialmente na industrialização, e estaríamos entrando em uma fase de desenvolvimento para muito além dessa era. A chegada de uma sociedade pós-industrial coloca a antiga ordem industrial como ultrapassada pelo desenvolvimento de uma nova ordem social, baseada no conhecimento e na informação. Para o referido autor, essas ideias subestimam o grau em que as ocupações de serviços estão implantadas na produção fabril e realçam em excesso o papel dos fatores econômicos, estabelecendo a 12 Re vi sã o: L uc as /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 1/ 05 /1 3 // R ed im en sio na m en to : A m an da - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /1 0/ 20 14 Unidade I tese de que tal sociedade é descrita como consequência dos desenvolvimentos da economia, os quais conduzem as mudanças em outras instituições. Exemplos de Aplicação Para pensarmos no assunto, sugerimos ao leitor que reflita sobre os pontos a seguir: • Quais são os desenvolvimentos relevantes que afetam nossa vida neste início do século XXI? • Como nomear e caracterizar esse período? Lima (1998, p. 57-58), ao citar o pensamento de Rouanet, faz algumas considerações a respeito da política no mundo pós-moderno. O autor afirma que ela está voltada para a sociedade civil e busca a conquista de objetivos de grupos ou segmentos da sociedade, colocando-se, assim, em oposição à política moderna que atuava no Estado e buscava a conquista ou manutenção do poder estatal. A política pós-moderna apresenta um indivíduo que cede seu lugar aos grupos e suas finalidades não são mais universais, tornam-se micrológicas. A política especifica-se, passando a ser atributo de quem faz parte de campos setoriais de dominação: a dialética homem/mulher, antissemita/judeu, etnia dominante/etnias minoritárias. Assim sendo, extinguiram-se os grandes atores políticos universais. Não existe mais um “poder” central localizado no Estado, mas um poder difuso, estendendo sua rede por toda a sociedade civil. Tem- se, desse modo, uma pós-modernidade social que se dá a conhecer no plano da vida cotidiana por uma onipresença do signo, do simulacro, do vídeo e da hipercomunicação. Ainda referindo-se ao pensamento de Rouanet, Lima (1998, p. 75) observa que não há uma superação da política moderna pelo surgimento dos movimentos segmentares (feministas, homossexuais, ecologistas, negros, índios etc.). Ocorre apenas um enriquecimento do campo político; portanto, o nascimento de outros atores políticos não representa uma ruptura com a modernidade em favor de uma política pós-moderna. Ao contrário, demonstra a concretização de uma tendência imanente do liberalismo moderno, que, por meio de sua doutrina dos direitos humanos, tornou possível a existência de um espaço fértil para a criação de novos direitos defendidos por novos atores sociais, de acordo com novas estratégias. É necessário também salientar que o período da pós-modernidade apresenta as ameaças ecológicas que a humanidade tem de enfrentar – ameaças globais, que são um perigo para o planeta. Os três tipos principais de ameaças ao ambiente são a produção de desperdícios, a poluição e o esgotamento de reservas minerais. Elas são desencadeadas pelo desenvolvimento e pela expansão global das instituições sociais ocidentais associadas à importância dada ao crescimento econômico. 13 Re vi sã o: L uc as /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 1/ 05 /1 3 // R ed im en sio na m en to : A m an da - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /1 0/ 20 14 Análise de discurso críticA e semióticA Sintetizando, não há uma ruptura em relação à modernidade. Exemplos de Aplicação Pesquise documentos oficiais sobre o discurso da sustentabilidade e os acordos das organizações globais que tratam sobre o tema. 1.1 Os atores sociais na sociedade pós-moderna O mundo da modernidade tardia, na visão de Giddens (2002), vai além das fronteiras das atividades pessoais e dos compromissos individuais, estando pautado pelos riscos e perigos, os quais devem ser vistos não como um momento de crise, mas como um estado de coisas mais ou menos permanentes. Esse pensamento é complementado ao chamar atenção para as questões de insegurança, de incerteza e de periculosidade vivenciadas pela sociedade contemporânea, tais como: • a instabilidade em relação ao emprego; • a grande difusão da criminalidade; • os ataques terroristas; • a crise econômica mundial; • o desenvolvimentoda internet como uma rede de conexão planetária que, ao mesmo tempo em que disponibiliza conhecimento, veiculação em tempo real dos acontecimentos mundiais e transações comerciais mais rápidas, instaura um novo paradigma em relação às identidades por intermédio de uma cultura da simulação, na qual se valoriza, sobremaneira, a representação do real (e não a realidade) e por meio da qual inimigos virtuais invadem nossas máquinas e, mais uma vez, nos fragilizamos. Exemplos de Aplicação Sugerimos aos alunos a pesquisa de filmes que retratam os temas apresentados nos itens anteriores. Há, de acordo com Rouanet (1993), um ressentimento moderno que se dirige contra o modelo civilizatório que dá seus contornos à modernidade: o Iluminismo, o qual, em síntese, visava à autoemancipação de uma humanidade razoável, por meio de valores e ideais consubstanciados em tendências como o racionalismo, o individualismo e o universalismo. O racionalismo implicava a fé na razão e na ciência; desse modo, deixava para trás o obscurantismo, libertando a consciência humana do jugo do mito e usando a ciência para tornar mais eficazes as instituições econômicas, sociais e políticas. O individualismo buscava a emancipação do ser humano por meio da individualização: o homem valia por si mesmo e não 14 Re vi sã o: L uc as /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 1/ 05 /1 3 // R ed im en sio na m en to : A m an da - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /1 0/ 20 14 Unidade I pelo estatuto que a sociedade lhe outorgava. O universalismo, por sua vez, partia de postulados gerais sobre a natureza humana, dirigia-se a todos os homens, independentemente de raça, cor, religião, sexo, nação ou classe, e combatia os preconceitos geradores de guerra e de violência. Desse modo, embora o projeto iluminista tivesse propostas emancipatórias, é óbvio, ainda segundo Rouanet (1993), que, para sua concretização, o Iluminismo teve de recorrer a métodos tão coercitivos quanto os do passado. Portanto, poder-se-ia dizer que a pós-modernidade rebela- se contra esse projeto iluminista fracassado. Saiba mais Sobre o tema, conheça as obras a seguir: MACÊDO, K. B. A modernidade e as patologias do vazio (eixo temático cultura). Disponível em: <http://congresos.pccp.com.ar/fepal2012/preview/ pdf-port/71.pdf>. Acesso em: 10 maio 2013. MORENO, L. V. A.; ROSITO, M. M. B. (Org.). O sujeito na educação e saúde: desafios na contemporaneidade. São Paulo: Centro Universitário São Camilo; Edições Loyola, 2007. Exemplos de Aplicação Para dinamizar seu aprendizado, sugerimos que você realize uma pesquisa e escreva um pequeno texto sobre o que seria cada um desses questionamentos, respondendo às seguintes questões: Se estamos vivendo em uma sociedade pós-industrial, pesquise como era uma sociedade industrial, quais as suas características e no que ela contribuiu para o sistema de produção de uma sociedade; por fim, aponte o que você percebe que uma sociedade pós-industrial traz de novidade nas relações sociais cotidianas. Como essa sociedade pós-industrial é reconfigurada? O que seria um período pós-moderno? Pesquise a respeito. A discussão sobre esse período retrata que o foco em uma crise econômica que, por sua vez, desencadeia uma crise social no final de século XX, início de novo milênio, é a perspectiva defendida por Dubar (2006). Este tipo de crise que vivemos, no momento histórico da pós-modernidade, afeta, ao mesmo tempo, os comportamentos econômicos, as relações sociais e, portanto, as subjetividades individuais. Se é verdade que um período de equilíbrio relativo, de crescimento contínuo, de políticas transparentes e de instituições legítimas faz com que esse conjunto de categorias seja partilhado pelo maior número de pessoas, não é menos verdade que a ruptura desse equilíbrio instaure uma situação de crise, a 15 Re vi sã o: L uc as /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 1/ 05 /1 3 // R ed im en sio na m en to : A m an da - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /1 0/ 20 14 Análise de discurso críticA e semióticA qual provoca a mudança de normas, de modelos e de terminologia, ocasiona uma desestabilização das referências, das denominações e dos sistemas simbólicos anteriores e toca, em última análise, em uma perspectiva crucial: a da subjetividade, ou seja, do funcionamento psíquico e das formas de individualidade, ainda segundo o autor (DUBAR, 2006). Em relação às desigualdades sociais, alguns dados contidos no Relatório do Desenvolvimento Humano coordenado pelas Nações Unidas, em 1998, apresentam a globalização como elemento responsável pelo aumento do gap existente entre os países e, inclusive, internamente a eles, conforme relatado em Avelar (2001, p. 32): Em 1960, a renda dos 20% da população mundial referentes aos países ricos era 30 vezes maior que a dos 20% mais pobres; em 1995 essa taxa aumentou para 82 vezes. Portanto, os ultrarricos estão deixando gradualmente atrás o resto do mundo, sua grande riqueza contrastando com as baixas rendas da maioria dos países em desenvolvimento. As três pessoas mais ricas do mundo têm ativos que superam o PIB conjunto de 48 países menos desenvolvidos. Ainda em uma perspectiva relacionada às questões identitárias, é possível estabelecer um diálogo com Leite (2007, p. 251), quando o autor relata o pensamento de Lacan a respeito da pós-modernidade, a qual se configura na “desestruturação dos saberes estabelecidos, no anonimato do modo de vida atual, produzindo laços sociais desarrumados e uma individuação extremada”. Essas características dão origem a um sujeito sem referência e sem valores pessoais, que transita em uma civilização marcada pelo discurso da globalização: a única coisa que vale é a lei do mercado. Nesse contexto, o sujeito pós-moderno procura sua completude no consumo de objetos. Ainda segundo Leite (2007), a respeito do pensamento de Lacan, nesse período, caracterizado pela ausência de paradigmas, o saber muda e, juntamente com ele, o sujeito, o qual é constituído a partir desse mesmo saber, como mostram as figuras do sujeito definido historicamente. Segundo Jenkins (2009), vivemos atualmente em um mundo em que toda história que é relatada a alguém passa por inúmeros veículos: TV, cinema, celular, internet, videogames. O fluxo dessa história, portanto, é moldado tanto por decisões tomadas pelas companhias que produziram o conteúdo quanto pelos sujeitos que a recebem. O referido autor, mestre em Estudos de Comunicação e doutor em Comunicação e Arte, professor de Estudos de Mídia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), chama esse estado da produção e difusão da informação de cultura da convergência. Assim sendo, o conteúdo idealizado pelo produtor é apenas uma parte do processo e, muitas vezes, não a principal. Um programa de TV, exemplifica o autor, depois de criado, será reeditado e redistribuído pela internet, e, com certeza, o público irá falar sobre ele em novas redes sociais e serão escritas novas histórias a partir dele. O conteúdo original torna-se apenas um pontapé inicial, a partir do qual o consumidor irá criar novas experiências. O foco agora, portanto, está em histórias contadas por várias modalidades de veículos, conhecidas como transmidiáticas: em cada mídia diferente, a história ganha uma nova camada, que nos conta algo que não saberíamos assistindo ao programa de TV. O autor exemplifica com a série Lost, considerada a mais famosa da última década. Nos EUA, Lost é veiculada por meio de livro, game e em episódios para celular. 16 Re vi sã o: L uc as /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 1/ 05 /1 3 // R ed im en sio na m en to : A m an da - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /1 0/ 20 14 Unidade I Estamos, ainda na visão do autor, na época da cultura participativa, de grandes culturas de mídia; em uma década, não teremos mais uma empresaque produza conteúdo apenas para a TV, outra que o faça para rádio e outra para jornal. Veremos grandes indústrias de mídia, que englobarão tudo isso. Essa vontade de participação das pessoas foi impulsionada pelo avanço da tecnologia e resulta em uma mudança de comportamento: antes, apenas recebíamos a informação; atualmente, produzimos e participamos. Isso muda radicalmente nossas vidas porque a comunicação está em tudo que realizamos. Podemos, ainda segundo Jenkins (2009), acompanhar a rotina de nossos filhos, enquanto trabalhamos, por meio de um vídeo deles veiculado no celular. Essa nova abordagem da comunicação mudou, inclusive, o modo pelo qual escolhemos os políticos. O autor cita a eleição de Barack Obama, que divulgou a sua campanha em todas as mídias sociais possíveis, de YouTube a videogames, e isso é significativo se notarmos que ele ganhou as eleições, enquanto seu opositor, John MacCain, que nunca usou a internet, não foi eleito. O autor conclui que uma sociedade que possibilita a exposição de seus pensamentos na rede e o acesso a ideias de outras pessoas cria um enorme potencial para o avanço da democracia. Assim sendo, ao conhecermos esses elementos históricos constitutivos da era da globalização, podemos investigar com maior propriedade e acuidade os processos discursivos que aí se instauram. Com essa contextualização do período histórico atual, vamos a outro tópico do nosso livro, que consiste em apresentar a importância da linguagem na sociedade globalizada por uma perspectiva crítica. lembrete A discussão apresentada até o momento deve ser correlacionada com as mudanças sociais de uma sociedade moderna para uma sociedade pós- moderna – globalizada e tecnológica. Observação Buscou-se até aqui contextualizá-lo sobre os pontos principais que estão relacionados à organização de uma sociedade pós-moderna e como ela atinge as relações sociais e a vida dos indivíduos em sociedade. 1.2 Informatização na era pós-moderna As mudanças relativas à informatização na era pós-moderna são discutidas também por Lyotard (2004), no momento em que o filósofo analisa o estatuto do saber na sociedade pós-industrial. A premissa fundamental de Lyotard consiste em dizer que o saber mudou a partir das décadas de 1960 e 1970. Anteriormente, ele fazia parte da formação de todo indivíduo para que se tornasse um cidadão participante. Assim sendo, o indivíduo entregava-se ao processo de interiorização do saber. A escola e os professores eram os donos do saber universal e os principais responsáveis pela transmissão do conhecimento aos alunos, os quais, por definição, tinham um saber incompleto. O desnível justificava a autoridade do professor e a obediência do aluno. 17 Re vi sã o: L uc as /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 1/ 05 /1 3 // R ed im en sio na m en to : A m an da - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /1 0/ 20 14 Análise de discurso críticA e semióticA A partir da informatização, o saber passa a viver uma explosiva exteriorização, tornando-se abundante e acessível. Já não há mais o desnível, de um modo geral, em relação a professor e a aluno quanto à informação. O desnível ocorre no modo de utilização do conhecimento. O saber perde sua condição de uso e passa a ter um valor de venda, vinculando-se às questões do poder econômico e político, ou seja, ele é a moeda que define, na cena internacional, os jogos hegemônicos (entre as nações e entre as empresas multinacionais). O conhecimento atualmente está intimamente vinculado às questões econômicas e de poder, e esse poder refere-se tanto a quem o detém quanto àquele que, via internet, o difunde, atribuindo-lhe, assim, o que Lyotard chama de valor de troca. Exemplos de Aplicação Para aprofundar o assunto, é relevante pesquisar sobre a organização do sistema educacional brasileiro da década de 60 até a nova LDB nº 9.394/96 no que se refere às questões ideológicas. Bauman (2001) afirma que a fluidez ou liquidez são as metáforas mais adequadas para caracterizar o atual estágio da modernidade. Referindo-se ao que chama de modernidade líquida, e aludindo à célebre frase sobre “derreter os sólidos” do Manifesto Comunista de Marx e Engels, o autor afirma que: [...] os poderes de derretimento da modernidade afetaram primeiro as instituições existentes, as molduras que circunscreviam o domínio das ações-escolhas possíveis, como estamentos hereditários com sua alocação por atribuição, sem chance de apelação (BAUMAN, 2001, p. 3). Essas são razões pra considerar “fluidez” ou “liquidez” como metáforas adequadas quando queremos captar a natureza da presente fase, nova de muitas maneiras, na história da modernidade (BAUMAN, 2001, p. 9-10). Recorremos às palavras de Giddens sobre os discursos que circulam no período das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação e sobre o fato de que o universo de eventos que não compreendemos plenamente e que parecem estar fora de controle nos impõe um olhar para a natureza da própria modernidade. Uma interpretação descontinuísta da modernidade, em contraposição às teorias evolucionárias, revela um período em que as consequências da modernidade estão se tornando mais radicalizadas e universalizadas do que antes. Assim, o autor diz que os modos de vida produzidos pela modernidade: [...] estão em descontinuidade com os tipos tradicionais de ordem social, tanto em sua extencionalidade quanto em sua intencionalidade, envolvendo o ritmo de mudança, o escopo da mudança e mesmo a natureza intrínseca das instituições modernas como, por exemplo, o Estado-nação, as fontes de energias inanimadas e a transformação em mercadoria de produtos e trabalho assalariado (GIDDENS, 1991, p. 12). 18 Re vi sã o: L uc as /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 1/ 05 /1 3 // R ed im en sio na m en to : A m an da - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /1 0/ 20 14 Unidade I O autor acrescenta ainda que alta modernidade ou modernidade reflexiva, longe de ser o lugar feliz e seguro suposto por algumas perspectivas sociológicas clássicas, é um mundo carregado e perigoso, envolvendo confiança e risco, em função: • da separação do tempo e do espaço; • do desencaixe dos sistemas sociais; e • da ordenação e reordenação reflexiva das relações sociais pela contínua recombinação do conhecimento produzido e utilizado por indivíduos e grupos. Nesse contexto, a confiança deve ser compreendida em relação ao risco, termo associado especificamente à época moderna. Citando Luhmann, Giddens nota que a confiança pressupõe a consciência das circunstâncias de risco como resultados inesperados decorrentes de nossa própria decisão e na fortuna ou destino. Advém da crença ou fé de que as coisas familiares permanecerão estáveis e podem ser tomadas pelo indivíduo como referência para considerar as alternativas para o curso da ação. Essa característica faz com que a globalização deva ser tomada como a totalidade a partir da qual se pode deduzir a profundidade e extensão das novas configurações das linguagens em contexto midiático e os impactos dela decorrentes, reconfigurando as relações sociais, conforme veremos nos próximos tópicos. 1.3 A reorganização do espaço e do tempo: quase-interação mediada A discussão que se segue tem como base a reorganização da sociedade globalizada sobre as questões da mídia, formas de mediação e configuração das relações espaciais e temporais, conforme as teorias que tratam o assunto, estudadas em Ormundo (2007), Wetter (2009) e Ormundo e Wetter (2012). Vamos à revisão bibliográfica do estudo feito pelas autoras com foco na configuração da linguagem no modelo de sociedade globalizada. As autoras discorrem que a forma de circulação da linguagem no ambiente do novo capitalismo apresenta-se em um movimento de (des)marcação das relações espaciais e temporais, conforme apontado por Giddens (1991). O conceito de tempo-espaço, tão bem delimitadonas sociedades anteriores, foi esvaziado na pós-modernidade. As novas tecnologias trouxeram um movimento de (des)marcação das relações espaciais e temporais. Giddens (1991) tratou disso por meio do conceito de desencaixe, ou seja, o deslocamento das relações sociais de contextos locais de interação e sua reestruturação por meio de extensões indefinidas de tempo-espaço estão interferindo profundamente na forma como a linguagem está se reconfigurando no período do novo capitalismo. Esse conceito fica evidente quando o deslocamento das relações sociais de contextos locais de interação e sua reestruturação por meio de extensões indefinidas de tempo-espaço interferem profundamente na forma como a linguagem se reconfigura na globalização, conforme afirma Ormundo (2007) em sua tese de doutorado sobre a reconfiguração 19 Re vi sã o: L uc as /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 1/ 05 /1 3 // R ed im en sio na m en to : A m an da - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /1 0/ 20 14 Análise de discurso críticA e semióticA da linguagem na globalização. A autora correlacionou o trabalho de Giddens com o apontado por Fairclough (2003b), em relação ao que se estabelece sobre as mudanças no espaço-tempo ligadas ao período da globalização. Para Giddens (1991), a vida moderna – período iniciado com o século XVIII – trouxe mudanças profundas que alteraram substancialmente todos os tipos tradicionais de ordem social. Apesar de entender que essas mudanças tenham ocorrido em várias fases da história da sociedade, para o autor nenhuma delas teve um impacto tão dramático e abrangente como ocorreu nos três ou quatro últimos séculos. O autor afirma que o conceito de desencaixe nada mais é do que o “deslocamento das relações sociais de contextos locais de interação e sua reestruturação por meio de extensões indefinidas de tempo-espaço” (GIDDENS, 1991, p. 29), conforme pode ser percebido no modelo de comunicação em tempo real. Isso quer dizer que indivíduos espacialmente separados podem interagir sincronicamente – em tempo real –, mesmo que cada um esteja em continentes diferentes distanciados por milhares e milhares de quilômetros e em fusos horários diferenciados. Essa facilidade de circulação da comunicação em tempo real possibilitou uma interação maior nas formas como os sujeitos se relacionam socialmente, decorrentes do advento da tecnologia digital. A vida contemporânea, como tem se apresentado por profundas mudanças nas relações interpessoais e institucionais, sofre influência desse conceito. Uma das ações aplicadas ao conceito de desencaixe desenvolvido por Giddens (1991) consiste no fato de que as relações pessoais vão se reconfigurando no mundo atual. Neste, as pessoas, em suas atividades sociais, devem a todo o momento agir no campo para provar seu conhecimento e reconhecimento pelo grupo, por meio dos mecanismos de desencaixe que são representados por fichas simbólicas e sistemas peritos. O especialista é levado a reforçar diante do leigo o seu saber constantemente, o que gera uma grande procura por informações (GIDDENS, 1991, p. 39). Outro ponto da obra de Giddens interessante para uma investigação, que vai contemplar como tema a globalização, está relacionado ao conceito de desterritorialização e reterritorialização. Trata-se de uma reorganização das fronteiras físicas, administrativas, jurídico-políticas e epistemológicas e concorre para que determinadas maneiras de pensar, agir e sentir se tornem universais. Por um lado, isso consolida a globalização dos mercados e a produção flexível do capitalismo atual; por outro, contribui para a transformação das formas de sociabilidade e de solidariedade entre os indivíduos e grupos, assim como da relação destes com o Estado, a sociedade e a natureza. Giddens acrescenta que a desterritorialiação manifesta-se tanto na esfera da economia como na da política e cultura. Ianni (1993, p. 95) acrescenta que todos os níveis da vida social, em alguma medida, são alcançados pelo deslocamento ou dissolução de fronteiras, raízes, centros decisórios e pontos de referências. Ianni (1993, p. 100) diz ainda que “desterritorializar significa dissolver ou deslocar o espaço e o tempo”. Correlacionar a reorganização da sociedade globalizada também no contexto da internet fez com que a autora desta obra estabelecesse um contato entre a Teoria Social sobre pós-modernidade com os estudos de Castells (1999) sobre a definição do espaço como sendo a expressão da sociedade. Uma 20 Re vi sã o: L uc as /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 1/ 05 /1 3 // R ed im en sio na m en to : A m an da - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /1 0/ 20 14 Unidade I vez que as sociedades estão passando por transformações estruturais, surgem novas formas e processos espaciais. Já Harvey (apud CASTELLS, 1999) assinala que concepções temporais e espaciais objetivas são necessariamente criadas por meio de práticas e processos materiais que servem pra reproduzir a vida social e que o tempo e o espaço não podem ser entendidos independentemente da ação social. Estamos nos referindo ao paradigma tecnológico informacional desenvolvido por Castells, no qual a competitividade dos territórios não advém da disponibilidade de recursos naturais e energéticos, da existência de uma base industrial herdada ou da posição geográfica, mas da capacidade de criar e intensificar sinergias entre agentes econômicos, educacionais e científicos. Para Borja e Castells (1997), as estratégias de desenvolvimento local devem contemplar as exigências para a inserção competitiva, principalmente no que diz respeito: • à infraestrutura adequada, no sentido de acesso a serviços essenciais; • a um sistema de comunicações que assegure a conectividade do território aos fluxos globais de pessoas, informações e mercadorias; e • à existência de recursos humanos capazes de produzir e gerenciar no novo sistema técnico-econômico. Ao considerar a perspectiva teórica que será apresentada neste trabalho, é também importante introduzir na discussão inicial o estudo de Thompson (1998, 2002) sobre a forma como ocorreu o advento das telecomunicações, que se configura como uma disjunção entre o espaço e o tempo na transmissão da informação e do conteúdo simbólico, levando à descoberta da simultaneidade não espacial e afetando as maneiras pelas quais os indivíduos experimentam as características de espaço e de tempo da vida social. Para Thompson, há três tipos de interação: • a interação face a face; • a interação mediada; e • a quase-interação mediada (quase-interação midiática). Para o autor, a quase-interação mediada consiste na extensa disponibilidade de informação e de conteúdo simbólico no tempo e no espaço, na disseminação no tempo e no espaço, no estreitamento das deixas simbólicas, na produção de formas simbólicas para um número indefinido de receptores potenciais e no caráter predominantemente monológico. Com o surgimento da quase-interação midiática como uma forma significativa de intercâmbio social das sociedades modernas atuais, ocorreu a transformação da natureza da publicidade e da visibilidade de um indivíduo ou evento. Até então, antes do desenvolvimento da mídia, o público – que é o visível ou acessível a outros, diferentemente do privado, que é um ato invisível, desempenhado secretamente entre um círculo restrito de pessoas – ligava-se à partilha de um local comum, a publicidade tradicional de copresença e potencialmente de caráter dialógico. Com o advento dos meios de comunicação, 21 Re vi sã o: L uc as /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 1/ 05 /1 3 // R ed im en sio na m en to : A m an da - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /1 0/ 20 14 Análise de discurso críticA e semióticA criaram-se novas formas de publicidade, não mais ligadas à partilha de um lugar comum, mas sem substituí-la, ampliando-ae transformando-a. É essa que Thompson chama de publicidade midiática. Quanto à organização social da quase-interação mediada, Thompson (1998) apresenta duas regiões presentes em uma ação interativa: a região frontal e a região de fundo. A região frontal pode ser entendida como certas suposições e as características físicas do ambiente em que ocorre a ação, e a região de fundo é aquela que comporta determinadas ações e expressões consideradas inadequadas. Nesta, o agente social relaxa e tem comportamentos incompatíveis com as utilizadas na região frontal. Tal ação interativa é o que Fairclough (2003a) e Chouliaraki e Fairclough (1999) chamam de ação à distância e é um dos traços definidores da “globalização” contemporânea que facilitam o exercício do poder: é a possibilidade de ações transcenderem diferenças no espaço e no tempo, unindo eventos sociais e práticas sociais diferentes, por meio de alguma tecnologia de comunicação. É a (inter)ação mediada. Eles consideram as mídias de massa como uma parte do aparelho de governância, em que um gênero de mídia, como os jornais, insere-se em um processo altamente complexo de recontextualização e de transformação de outras práticas sociais, tal como política e governo, presentes em textos e em interações de diferentes práticas, como a vida cotidiana. Um dos exemplos mais desenvolvidos por Poster de como o modo de informação dissolve o sujeito estável da modernidade, autônomo e crítico, é a transformação operada pela passagem da informação impressa à informação eletrônica feita em tempo real. Formas mediadas Temos, assim, uma nova forma de interação, em um fluxo de mensagem unidirecional, com uma quase- participação. Os receptores elaboram e reelaboram as mensagens recebidas via meios de comunicação de massa, passando-as aos receptores secundários. Dessa forma, temos o que Thompson (1995, p. 321) chama de “mediação ampliada”, para o qual a capacidade de gerenciamento da visibilidade se faz essencial. Com esse quadro, tornou-se difícil aos que exercem o poder controlar e restringir o acesso à informação; na nova arena política, surge uma nova forma de interação, que o autor chama de quase-interação mediada, através da qual tanto os laços de lealdade e de afeto como os de rejeição podem ser criados. Na perspectiva da análise de discurso crítica (ADC), recorremos a Chouliaraki e Fairclough (1999, p. 137) e à discussão que apresentam sobre escala e reescala, em uma perspectiva discursiva e social, com foco nas questões de linguagem. Os autores analisam os espaços e as práticas sociais, em que pessoas, como cidadãos, dialogam sobre questões de interesse comum de forma que podem afetar a política e provocar mudança social. Na perspectiva da ADC, esferas públicas como práticas sociais significam que, apesar de terem um momento discursivo, elas não são simplesmente discursivas: são práticas de ação social e política, conjunturas em que pessoas reúnem recursos para fazer algo sobre questões ou problemas. Nelas, dialogar é uma atividade primária. Segundo Chouliaraki e Fairclough (1999), com a pluralidade e a fragmentação da vida social da modernidade tardia, a literatura da pós-modernidade enfatiza a diferença social. Os autores mostram que isso se reflete nos processos linguísticos pela fragmentação e pela diferenciação. 22 Re vi sã o: L uc as /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 1/ 05 /1 3 // R ed im en sio na m en to : A m an da - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /1 0/ 20 14 Unidade I O período da pós-modernidade é retratado em Chouliaraki e Fairclough (1999) como sociedade tardia. Os autores consideram que nesse período as análises da esfera pública eram feitas considerando-a como simples e unitária (HABERMAS apud CHOULIARAKI; FAIRCLOUGH, 1999), mas as recentes análises sugerem a existência de muitas esferas públicas diferentes, plurais e inacabadas e de fronteiras permeáveis, cujo diálogo se dá pelo trabalho da diferença. Habermas concebe a esfera pública como um espaço social no qual os debates sobre as questões sociais e políticas são livremente direcionados a grupos de cidadãos fora das estruturas do Estado burguês, constituindo uma forma de usar a linguagem em público. Ou seja, a configuração dessas esferas como sendo a “esfera dos públicos”. Não há como discutir as questões de linguagem sem correlacioná-las com o modelo de sociedade configurado pelos avanços tecnológicos advindos da globalização e da expansão da internet na vida das pessoas. Isso interfere no âmbito público como um espaço global e nos convida a discutir sobre o modelo de sociedade baseado nos modos de informação veiculada pelas mídias. Isso, com a explosão da internet na última década do século XX, reconfigura não só a linguagem como também a forma de produção das mídias sob interferência do avanço tecnológico de transmissão de dados via satélite. Esse modelo de reconfiguração pode ser exemplificado por meio de ferramentas da sociedade tecnológica ao criar novos softwares. Esses softwares possibilitam não só a circulação rápida de qualquer evento social que ocorra na aldeia global como também nas condições de quem pode produzir e retransmitir a informação sobre qualquer evento social. 2 SOCIeDADe PóS-mODernA bASeADA nOS mODOS De InfOrmAçãO Com o propósito de discutir as práticas de linguagem em uma perspectiva da ADC e da semiótica social, é relevante contemplar a constituição da sociedade globalizada com base nos estudos da Teoria Social da Mídia, baseados nos modos de informação, conforme aponta Mark Poster em A Segunda Era das Mídias (2000). Para isso, recorremos ao trabalho de Ormundo (2007) sobre reconfiguração da linguagem no campo linguístico on-line que analisa a forma como a linguagem é reconfigurada pelos aspectos da globalização discutidos em Norman Fairclough (2006) e autores da Teoria Social e Teoria Social da Mídia. A discussão sobre os modos de informação é retratada em Mark Poster (1996, 2000) como a possibilidade da reconfiguração da linguagem por meio de uma abordagem teórica que contemple as novas tecnologias e de uma Teoria Social crítica baseada no modo de informação. Outros autores que contribuirão para a discussão são Castells (1999, 2003), sobre sociedade em rede e o universo da internet; Giddens (1991), sobre o desencaixe; Chouliaraki e Fairclough (1999), sobre campo jornalístico, político e mídia; e Fairclough (1995, 2006), sobre mídia e mediação, globalização e novos paradigmas para pesquisa sobre linguagem e mídia. 2.1 reinterpretação dos meios de comunicação: o modo de informação Mark Poster (1996, 2000) reinterpreta os meios de comunicação por meio de uma abordagem teórica centrada nos meios de informação e no desenvolvimento de uma teoria crítica que explique 23 Re vi sã o: L uc as /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 1/ 05 /1 3 // R ed im en sio na m en to : A m an da - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /1 0/ 20 14 Análise de discurso críticA e semióticA as iminentes reorganizações culturais advindas dos avanços tecnológicos dos novos meios de comunicação, especificamente daqueles advindos da organização da sociedade em rede por meio da internet. Observação A Teoria Crítica está associada ao grupo de investigadores que frequentou a Escola de Frankfurt. Ela representa a contracorrente de pesquisa em comunicação do tipo de conhecimento no âmbito administrativo. Essa proposta está situada naquilo que o autor denominou como segunda era das mídias. Poster defende que essa era está para a nossa época como os meios de produção estiveram para o final do século XIX, quando Marx traçou a Teoria Sobre Modos de Produção, conforme consta em Poster (2000, p. 14): Para uns, a classe operária, em quem a Teoria Marxista depositava tão grande esperança, foi em grande medida politicamente anulada pelos média, mas foi, em sentido lato, incorporada na sociedade moderna comoparte de uma massa maligna. Para outros, a sociedade moderna conseguiu uma integração de classe operária sem recurso, em grande medida, à repressão política explícita, mas mediante operações que Antonio Gramsci denominou de “hegemonia”. Observação Os modos de produção estão associados à força do trabalho, à Revolução Industrial. A Teoria Marxista funda-se em uma classe operária passiva e inerte. Isso decorre do fato que, para os teóricos, essa classe teria se mostrado com dificuldade para impor uma negação frente à força capitalista (POSTER, 2000, p. 18). Em contraposição a esse modo de pensar marcado pela estrutura da sociedade moderna, o autor vai desenvolver uma Teoria Crítica da Mídia. Por meio de dois elementos fundamentais discutidos em Poster (1996), trata-se do modo de informação e do modo de produção. Ele inicia a discussão estabelecendo a diferença que há entre eles e também as suas afinidades. Estas consistem em três pontos essenciais: • todas as relações sociais são transitórias e constituídas historicamente; • o teórico constitui a realidade que analisa; • o objetivo da teoria é revelar tanto as estruturas de dominação como o potencial libertador de todo e qualquer padrão de experiência linguística. 24 Re vi sã o: L uc as /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 1/ 05 /1 3 // R ed im en sio na m en to : A m an da - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /1 0/ 20 14 Unidade I A diferença consiste na ênfase que Marx dá em sua obra para o trabalho. Poster reconhece que o trabalho cumpre um papel importante na sociedade contemporânea, mas não o coloca no mesmo grau de prioridade que ele teve nos estudos de Marx. Poster apresenta quatro elementos para discutir a diferença: • o conceito de trabalho é visto como inadequado para a análise das atuais situações de dominação; • ocorre a eliminação do elemento tecnológico pelo materialismo histórico, uma vez que a preservação da tecnologia no modo de informação coloca o elemento linguístico no centro das atenções do campo social; • o modo de produção está centrado na forma como os objetos que satisfazem as necessidades humanas são produzidos e trocados, enquanto o modo de informação está voltado ao modo como os símbolos são usados para compartilhar sentidos e constituir os objetos; • a sociedade contemporânea, por meio da sofisticação tecnológica, caracteriza-se por diferentes modos de informação que alteram, radicalmente, as inter-relações sociais. Para os estudos linguísticos com foco na perspectiva da ADC é interessante compreender como Ormundo (2007) tratou a proposta de Poster sobre o modo de informação na perspectiva da configuração da linguagem e mudança social. Nesse trabalho, a autora investigou o processo de recontextualização de um determinado evento social para o campo linguístico on-line, tendo como exemplificação a constituição da linguagem no campo jornalístico on-line. Verificou-se que os agentes sociais utilizam a linguagem como forma de poder para constituir-se na luta travada no campo jornalístico em que atuam. Com isso, pôde retratar o que foi abordado por Poster sobre a forma como a linguagem vem sendo alterada pelos sistemas eletrônicos de comunicação. Para o autor, o modo de informação é o conceito usado para designar “o modo como a comunicação eletronicamente mediada desafia e, ao mesmo tempo, reforça os sistemas de dominação emergentes na sociedade e cultura pós-moderna”. Poster (2000 apud ORMUNDO, 2007, p. 45) acrescenta ainda que: Em The Mode of Information sustento que as comunicações eletrônicas constituem o sujeito de forma diferente das grandes instituições modernas. Se a modernidade ou o modo de produção significam práticas padronizadas que resultam em identidades autônomas e (instrumentalmente) racionais, a pós-modernidade ou o modo de informação indicam práticas de comunicação que constituem um sujeito instável, múltiplo e difuso. A super-autoestrada de informação e a realidade virtual irão difundir o modo de informação a outras aplicações, ampliando a sua difusão ao inserir mais práticas e indivíduos no seu padrão de formação. Outro detalhe apontado por Poster consiste na relação de linguagem e poder, em que o discurso é configurado como uma forma de poder e a concepção de poder pressupõe a atuação por meio da linguagem. Discursos e poder são conceitos imbricados e inseparáveis, e esse é o primeiro contributo fundamental que Poster vai buscar nos estudos de Foucault. 25 Re vi sã o: L uc as /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 1/ 05 /1 3 // R ed im en sio na m en to : A m an da - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /1 0/ 20 14 Análise de discurso críticA e semióticA Poster concentra sua discussão na questão das tecnologias da comunicação a partir de três pontos cruciais: • a construção do sujeito na relação com as novas tecnologias; • o tema do corpo; • a pós-modernidade. Observação Outra abordagem possível seria aquela por meio da cultura de massas, conforme analisada por Adorno e Benjamin. Poster faz a opção pela tecnologia da comunicação por entender que esta abordagem tem sido amplamente omitida. Um ponto essencial sobre o trabalho de Poster em A Segunda Era das Mídias consiste na intenção do autor em desenvolver uma Teoria Crítica que explique as iminentes reorganizações culturais massivas da segunda era das mídias, por meio de dois debates sobre o tema. O primeiro era centrado na classe operária, com base na Teoria Marxista, que os anulou da mídia, pois considerava a classe operária uma massa inerte, manipulada pelos meios e pela cultura popular em geral – posição advinda dos membros da Escola de Frankfurt. O segundo considera que a sociedade moderna conseguiu uma integração da classe operária sem recurso, em grande medida, à repressão política explícita, mas mediante operações que Antonio Gramsci denominou de “hegemonia”, considerando que as forças dominantes conseguiram estabelecer uma situação hegemônica, mas a resistência continua ao nível micro da vida cotidiana. A autora deste livro-texto vê em Poster uma indagação sobre “até que ponto o debate assenta numa visão da tecnologia característica da fase de predomínio do modelo de difusão, quando este está a ser suplantado por uma configuração muito diferente?” (POSTER, 2000, p. 2). Essa discussão nos conduz à uma análise aprofundada sobre a mudança na forma de comunicação por meio das novas tecnologias características da globalização. Trata-se de uma abordagem relevante para quem pretende investigar as práticas de linguagem em uma perspectiva da ADC por meio da proposta transdisciplinar – o que será discutido mais adiante. 2.2 meios de comunicação na globalização Para Mark Poster (2000 apud ORMUNDO, 2007), os meios de comunicação de massas introduzidos no século XX, como telefone, rádio, televisão e internet, instauraram novos tipos de ação e de discurso. A vida cotidiana transformou-se radicalmente no último século devido aos avanços tecnológicos e são essas transformações que distinguem, especificamente, a globalização. Justamente essas transformações devem ser consideradas por meio dos discursos que determinam os sujeitos. Para a compreensão dessa relação, deve-se estudar o papel da linguagem que se reconfigura na nova mídia. Será por meio do entendimento dos novos discursos que se instauram nesse meio que se poderá entender a constituição da linguagem. 26 Re vi sã o: L uc as /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 1/ 05 /1 3 // R ed im en sio na m en to : A m an da - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /1 0/ 20 14 Unidade I Poster (2000) encara os sistemas de comunicação eletrônica como linguagens determinantes da vida dos indivíduos e dos grupos em todos os seus aspectos (social, econômico, cultural e político), muito mais do que ocorreu na perspectiva do marxismo tradicional,em que funcionavam como simples dispositivos instrumentais, que em nada ou muito pouco alteraram as relações de poder. Os meios e as formas de comunicação constituem, segundo o autor, tipos de discurso determinantes das relações de poder e de dominação nas sociedades contemporâneas. Assim, Poster (2000 apud ORMUNDO, 2007, p. 71) defende como tese geral que “o modo de informação decreta uma reconfiguração radical da linguagem, que constitui sujeitos fora do padrão do indivíduo racional e autônomo”. É interessante em Poster que o modo de informação mostrará como o “sujeito familiar moderno é deslocado pelo ‘modo de informação’ em favor de um que seja múltiplo, disseminado e descentrado”. Esse movimento da visão do sujeito consiste na marca da globalização e da sociedade contemporânea, que é caracterizada pela instabilidade, flexibilidade e descentralização. Essa discussão apontada em Ormundo (2007, 2013) é relevante para a perspectiva discursiva crítica nas pesquisas que analisam a forma como o sujeito e a estrutura social são transformados por meio da reconfiguração da linguagem, especificamente no trabalho sobre a linguagem no campo linguístico on-line. Eles são marcados pela influência da globalização e pela instabilidade das coisas, uma vez que a rapidez com que as mudanças ocorrem devido ao conhecimento e circulação da informação transforma a relação do sujeito com o conhecimento. Um dos exemplos de Poster (1996, 2000) sobre como o modo de informação dissolve o que era estável na modernidade consiste na transformação que aconteceu na passagem da informação impressa à informação eletrônica em tempo real. O autor cita o exemplo do livro impresso: no processo de interação entre produtor e receptor há um isolamento espaço-temporal entre eles, devido à materialidade espacial da imprensa, a linearidade das frases, a estabilidade da palavra impressa na página e o espaço ordenado de forma sistemática, por meio das letras pretas em um fundo branco. Isso tudo promove, segundo Poster, o afastamento, já que o produto é consumido no isolamento. Esse exemplo serve para demonstrar como a relação de autoridade é criada na modernidade, por meio do distanciamento entre quem produz e quem consome o produto. Exemplos de Aplicação Com o avanço das novas tecnologias de informação e comunicação, houve uma reconfiguração no sistema de produção baseado pelos modos de informação. Uma dessas reconfigurações consistiu na disponibilização do sistema de livros digitais. Reflita a respeito, correlacionando a superestrutura e as características de acesso dos livros digitais e dos livros impressos. A proposta teórica de Poster sobre como o modo de informação entende as linguagens no ambiente tecnológico é contrária à teoria tradicional de como a informação circulava, conforme já exposto neste livro-texto. A lacuna existente na imprensa entre produtor e receptor também aparece no ambiente 27 Re vi sã o: L uc as /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 1/ 05 /1 3 // R ed im en sio na m en to : A m an da - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /1 0/ 20 14 Análise de discurso críticA e semióticA tecnológico, mas há alteração no processo relacional devido à possibilidade de comunicação em tempo real e de interação entre os agentes envolvidos nessa relação, possibilitada pelas ferramentas próprias dos gêneros de comunicação dos websites. A comunicação mediada pelo computador possibilita tanto a aproximação como o distanciamento entre os agentes envolvidos na situação comunicativa. Poster (2000, p. 73) diz que nas comunicações eletrônicas “a linguagem é entendida como performativa, retórica, como um veículo ativo na construção e posicionamento do sujeito”. O papel do agente no processo de comunicação mediada pelo computador aparece em Poster (2000, p. 73) como alguém que se constitui como um “outro”, pois está em um ambiente dinâmico e sujeito a ser reconfigurado em “diferentes pontos do tempo e do espaço”, conforme consta em Ormundo (2007). Por meio das questões apontadas em Poster, pode-se verificar em Ormundo (2007) como esse movimento possibilita entender que a linguagem já não representa a realidade e não é uma ferramenta instrumental que enfatiza a racionalidade mecânica das estruturas sociais. A linguagem reconfigura a realidade. Dessa forma, as estruturas sociais são afetadas por meio da linguagem. Não se pode manter imune diante dessa reconfiguração; ao reconhecê-la, as formas de organização das estruturas sociais são transformadas e a perspectiva da ADC fornece os elementos teóricos para tratar dessa mudança social no que se refere às mudanças na linguagem no momento da globalização. Para compreender essa questão, a autora recorre aos estudos de Norman Fairclough (2006), no que se refere ao fato de que os meios de comunicação de massa foram apresentados desempenhando um papel importante na constituição de novas escalas e na transformação das relações entre elas, na reescala das entidades espaciais e na construção e consolidação da nova “dificuldade” entre um regime de acumulação e um modo de regulamentação social. Para o autor, todos esses processos dependem da disseminação social dos discursos, narrativas, ideias, práticas, valores etc., sobre a sua legitimação, a posição e mobilização dos públicos em relação a eles e a geração do consentimento para no mínimo aceitarem a mudança. Fairclough (2006) apresenta cinco pontos para explicar resumidamente os meios de comunicação de massa e mediação na globalização. Vejamos: • os meios de comunicação de massa são um elemento crucial na difusão da informação global e notícias, e de reações para a interpretação deles, assim como de novas estratégias, discursos, ideias e práticas, novas normas e valores em atividades econômica, sistemas políticos e processos, instituições sociais, organizações e a conduta da vida ordinária, mudanças na atitude, sentimentos, identidades etc. Mensagens sobre todos os aspectos virtuais da vida social agora circulam globalmente; • as mensagens são mediadas, o que significa que qualquer aspecto da vida social é representado no meio de comunicação de massa e passa por códigos semióticos particulares, convenções, normas e práticas de mídias específicas, sendo suas formas e significados transformados no processo. A análise do discurso crítica pode contribuir para analisar esses códigos, convenções, normas e práticas; 28 Re vi sã o: L uc as /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 1/ 05 /1 3 // R ed im en sio na m en to : A m an da - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /1 0/ 20 14 Unidade I • o domínio global de corporações da mídia transnacional e a conexão íntima com os centros de poder na política, governo e negócios significa que, posteriormente, podem usar o meio de comunicação de massa como veículo para disseminar suas próprias mensagens no adiantamento de suas próprias estratégias; • o impacto do meio de comunicação de massas e mediação não pode ser levado em conta para admitir, porque isso depende da recontextualização da mídia, mensagens em ambientes diversos de recontextualização, cujas características específicas estruturais, históricas, institucionais, sociais e culturais específicas e circunstanciais amoldam a recepção e o impacto da mídia-mensagem; • a globalização dos meios de comunicação de massa tem contribuído para a construção de um público e opinião pública globais, igualando a esfera comum cosmopolita na qual são gerados os debates, ações e mobilização em uma base global. Entretanto, esse é ainda um fenômeno limitado e emergente por várias razões, incluindo a continuidade da centralidade da escala nacional pra a imprensa e radiodifusão (broadcasting). A ADC pode produtivamente ser usada para mostrar como o meio de comunicação de massa constrói e contribui para construir certos eventos globais e audiências como um público global.resumo Nesta unidade, inicio com a contextualização da sociedade pós-moderna (com foco nos modos de informação), abordando o assunto a partir dos processos que caracterizam tal sociedade (com foco nos modos de produção), além de abordar temas como as mudanças no campo econômico, social, político e cultural, tendo como base autores da Teoria Social, da Análise de Discurso Crítica e da Teoria Social da Mídia. exercícios Questão 1. Leia o texto abaixo e as afirmativas que o seguem. Enquanto seu lobo não vem Caetano Veloso Vamos passear na floresta escondida, meu amor Vamos passear na avenida Vamos passear nas veredas, no alto, meu amor Há uma cordilheira sob o asfalto 29 Re vi sã o: L uc as /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 1/ 05 /1 3 // R ed im en sio na m en to : A m an da - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /1 0/ 20 14 Análise de discurso críticA e semióticA (Os clarins da banda militar…) A Estação Primeira da Mangueira passa em ruas largas (Os clarins da banda militar…) Passa por debaixo da Avenida Presidente Vargas (Os clarins da banda militar…) Presidente Vargas, Presidente Vargas, Presidente Vargas (Os clarins da banda militar…) Vamos passear nos Estados Unidos do Brasil Vamos passear escondidos Vamos desfilar pela rua onde Mangueira passou Vamos por debaixo das ruas (Os clarins da banda militar…) Debaixo das bombas, das bandeiras (Os clarins da banda militar…) Debaixo das botas (Os clarins da banda militar…) Debaixo das rosas, dos jardins (Os clarins da banda militar…) Debaixo da lama (Os clarins da banda militar…) Debaixo da cama Fonte: Disponível em <http://letras.terra.com.br/caetano-veloso/178224/>. Acesso em 11 mai. 2014. I − Com base no título e no verso “Vamos passear na floresta escondida, meu amor”, verifica-se a ocorrência de intertextualidade. II − Na letra da música marca-se a polifonia, porque duas vozes se distinguem: uma que aceita o sistema político e outra que é transgressora. III − O texto trata da valorização de um símbolo nacional, que é o carnaval, ao se referir à banda e à escola de samba Mangueira. Está correto o afirmado em: A) I. B) II. C) III. 30 Re vi sã o: L uc as /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 1/ 05 /1 3 // R ed im en sio na m en to : A m an da - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /1 0/ 20 14 Unidade I D) I e II. E) II e III. Resposta correta: alternativa D. Análise das afirmativas I – Afirmativa correta. Justificativa: o título “Enquanto seu lobo não vem” e o verso “Vamos passear na floresta escondida, meu amor” apresentam intertextualidade. O conceito de intertextualidade abrange as várias formas pelas quais a produção e a recepção de um texto pressupõem o conhecimento de outros textos. No título e no verso explicitado encontra-se a evocação alegórica da fábula “Chapeuzinho Vermelho” e da cantiga infantil ”Vamos passear na floresta/Enquanto seu Lobo não vem”. II – Afirmativa correta. Justificativa: na letra da música a polifonia é percebida, pois duas vozes são contrapostas no texto. A primeira voz é percebida por meio do posicionamento dos que aceitam o sistema vigente e seguem a marcha institucionalizada: “Os clarins da banda militar…”; a segunda voz é a daqueles que contrariam esse sistema: é a voz transgressora que tenta fugir do controle político. III – Afirmativa incorreta. Justificativa: o texto trata de política, e não de carnaval. Portanto, a afirmativa é incorreta. Questão 2. Leia o texto: O soldado amarelo Era um facão verdadeiro, sim senhor, movera-se como um raio cortando palmas de quipá. E estivera a pique de rachar o quengo de um sem-vergonha. Agora dormia na bainha rota, era um troço inútil, mas tinha sido uma arma. Se aquela coisa tivesse durado mais um segundo, o polícia estaria morto. Imaginou-o assim, caído, as pernas abertas, os bugalhos apavorados, um fio de sangue empastando-Ihe os cabelos, formando um riacho entre os seixos da vereda. Muito bem! Ia arrastá-lo para dentro da caatinga, entregá-lo aos urubus. E não sentiria remorso. Dormiria com a mulher, sossegado, na cama de varas. Depois gritaria aos meninos, que precisavam de criação. Era um homem, evidentemente. Aprumou-se. Fixou os olhos nos olhos do polícia, que se desviaram. Um homem. Besteira pensar que ia ficar murcho o resto da vida. Estava acabado? Não estava. Mas para que suprimir aquele doente que bambeava e só queria ir para baixo? Inutilizar-se por causa de 31 Re vi sã o: L uc as /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 1/ 05 /1 3 // R ed im en sio na m en to : A m an da - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /1 0/ 20 14 Análise de discurso críticA e semióticA uma fraqueza fardada que vadiava na feira e insultava os pobres! Não se inutilizava, não valia a pena inutilizar-se. Guardava a sua força. Vacilou e cocou a testa. Havia muitos bichinhos assim ruins, havia um horror de bichinhos assim fracos e ruins. Afastou-se, inquieto. Vendo-o acanalhado e ordeiro, o soldado ganhou coragem, avançou, pisou firme, perguntou o caminho. E Fabiano tirou o chapéu de couro. ╬— Governo é governo. Tirou o chapéu de couro, curvou-se e ensinou o caminho ao soldado amarelo. Fonte: RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 51. ed. São Paulo: Record, 1983. p. 106-107. Levando em conta o contexto em que ocorre, a frase “Governo é governo” admite apenas uma das leituras que seguem: A) Os dois termos têm significados diferentes: o primeiro significa “instituição administrativa”, e o segundo indica “instituição que serve para oprimir e que, por isso, deve ser respeitada”. B) Os dois termos têm o mesmo significado: por isso a frase de Fabiano é uma mera repetição de termos. C) Nessa frase, um termo nada acrescenta ao outro: por isso a repetição não tem cabimento. D) Os dois termos têm significados diferentes: o primeiro indica “instituição administrativa”, e o segundo indica “instituição que não deve ser levada em consideração”. E) Essa repetição só faz com que o segundo termo esvazie o sentido do primeiro. Resolução desta questão na plataforma. 32 Re vi sã o: L uc as /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 1/ 05 /1 3 // R ed im en sio na m en to : A m an da - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /1 0/ 20 14 Unidade II Unidade II 3 Mudanças sociais e tecnológicas: interação Midiática O papel dos meios de comunicação no processo de mudança social já foi apontado por Fairclough (1992, 1995) e Chouliaraki e Fairclough (1999) como a forma pela qual a linguagem da mídia se configura nas relações de poder e do impacto dos sentidos produzidos na relação de interação. Norman Fairclough (1995) aponta o quanto é importante compreender o papel dos meios de comunicação de massa para a mudança social, uma vez que as transformações dependem da influência desses meios, bem como das crenças, das práticas, dos valores, das atitudes, das identidades e da mediação; a experiência social das pessoas é uma complexa combinação de vivências não mediadas, que ocorrem por meio de interação direta e trocas com outras pessoas e, também, da experiência mediada, na qual cada uma molda e direciona sua resposta ao outro. Com isso, tem-se a interação, em um fluxo de mensagem unidirecional, com uma quase-participação. Os receptores elaboram e reelaboram as mensagens recebidas via meios de comunicação de massa, passando-as aos receptores secundários. Isso nos remete ao que Thompson (1995, p. 321) chama de mediação ampliada. Em uma sociedade globalizada, a informação circula em uma velocidade acelerada, em tempo real, e com isso uma nova forma de divulgar a informação se constitui por meio dos avanços tecnológicos que surgem no contexto de uma sociedade tecnologicamente globalizada. Essa tecnologização da sociedade reconfigura as formas de interação por meio da comunicação midiática e a interação, especificamente no ambiente
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