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LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DESENHO SÉRIE ENERGIA – GERAÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA – CNI Robson Braga de Andrade Presidente DIRETORIA DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA – DIRET Rafael Esmeraldo Lucchesi Ramacciotti Diretor de Educação e Tecnologia SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL – SENAI Conselho Nacional Robson Braga de Andrade Presidente SENAI – Departamento Nacional Rafael Esmeraldo Lucchesi Ramacciotti Diretor Geral Gustavo Leal Sales Filho Diretor de Operações LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DESENHO SÉRIE ENERGIA – GERAÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial Departamento Nacional Sede Setor Bancário Norte • Quadra 1 • Bloco C • Edifício Roberto Simonsen • 70040-903 • Brasília – DF • Tel.: (0xx61) 3317-9001 Fax: (0xx61) 3317-9190 • http://www.senai.br © 2017. SENAI – Departamento Nacional © 2017. SENAI – Departamento Regional da Bahia A reprodução total ou parcial desta publicação por quaisquer meios, seja eletrônico, me- cânico, fotocópia, de gravação ou outros, somente será permitida com prévia autorização, por escrito, do SENAI. Esta publicação foi elaborada pela Equipe de Inovação e Tecnologias Educacionais do SENAI da Bahia, com a coordenação do SENAI Departamento Nacional, para ser utilizada por todos os Departamentos Regionais do SENAI nos cursos presenciais e a distância. SENAI Departamento Nacional Unidade de Educação Profissional e Tecnológica – UNIEP SENAI Departamento Regional da Bahia Inovação e Tecnologias Educacionais – ITED FICHA CATALOGRÁFICA S491l Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial. Departamento Nacional. Leitura e interpretação de desenho / Serviço Nacional de Aprendiza- gem Industrial, Departamento Nacional, Departamento Regional da Bahia. - Brasília: SENAI/DN, 2017. 124 p.: il. - (Série Energia - Geração, Transmissão e Distribuição). ISBN 978-85-505-0238-0 1. Desenho técnico. 2. Desenho industrial. 3. Leitura e interpretação. 4. Normas técnicas. I. Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial. II. Depar- tamento Nacional. III. Departamento Regional da Bahia. IV. Leitura e interpretação de desenho. V. Série Energia - Geração, Transmissão e Distribuição. CDU: 741 Lista de ilustrações Figura 1 - Qualidade do convívio em equipe .........................................................................................................18 Figura 2 - Trabalho em grupo ......................................................................................................................................18 Figura 3 - Importância das relações interpessoais ...............................................................................................20 Figura 4 - Ética nas decisões ........................................................................................................................................26 Figura 5 - Fiscalização da ética profissional ............................................................................................................27 Figura 6 - Organização dos dados .............................................................................................................................31 Figura 7 - Interferência entre projetos .....................................................................................................................34 Figura 8 - Instrumentos de medidas .........................................................................................................................38 Figura 9 - Margens da folha ..........................................................................................................................................40 Figura 10 - Organização de prancha de desenho ................................................................................................41 Figura 11 - Primeira definição da medida do metro ............................................................................................50 Figura 12 - Representação da jarda ...........................................................................................................................53 Figura 13 - Transformação de m² para cm² .............................................................................................................62 Figura 14 - Régua graduada .........................................................................................................................................64 Figura 15 - Metro articulado ........................................................................................................................................65 Figura 16 - Escalímetro ...................................................................................................................................................67 Figura 17 - Torre Eiffel (Paris - França) .......................................................................................................................71 Figura 18 - Apontador em escala de redução ........................................................................................................72 Figura 19 - Apontador em escala natural ................................................................................................................73 Figura 20 - Apontador em escala de ampliação ...................................................................................................73 Figura 21 - Propriedade fundamental da proporção ..........................................................................................76 Figura 22 - Regra de três simples ...............................................................................................................................76 Figura 23 - Cubo representado nas três perspectivas ........................................................................................80 Figura 24 - Gerando as vistas de uma edificação .................................................................................................82 Figura 25 - Representação das vistas de uma edificação ..................................................................................82 Figura 26 - Plano de corte da planta baixa .............................................................................................................83 Figura 27 - Prancha da planta baixa da edificação em estudo ........................................................................84 Figura 28 - Representação parede .............................................................................................................................86 Figura 29 - Janela cortada pelo plano de corte .....................................................................................................88 Figura 30 - Janela acima do plano de corte ............................................................................................................88 Figura 31 - Planta com detalhes dos mobiliários..................................................................................................89 Figura 32 - Componentes de uma cota ....................................................................................................................90 Figura 33 - Simbologia cota nível ...............................................................................................................................91 Figura 34 - Cotagem do projeto em estudo ...........................................................................................................92 Figura 35 - Destaque dos nomes e áreas dos ambientes ..................................................................................92 Figura 36 - Planta de leiaute .........................................................................................................................................94Figura 37 - Planta de situação .....................................................................................................................................95 Figura 38 - Planta de locação e de cobertura ........................................................................................................96 Figura 39 - Fachada principal .......................................................................................................................................97 Figura 40 - Fachada lateral direita ..............................................................................................................................98 Figura 41 - Plano de corte longitudinal e transversal .........................................................................................98 Figura 42 - Corte A-A (corte longitudinal) ...............................................................................................................99 Figura 43 - Corte B-B (corte transversal) ..................................................................................................................99 Figura 44 - Diagrama funcional ................................................................................................................................ 105 Figura 45 - Diagrama multifilar ................................................................................................................................ 105 Figura 46 - Diagrama unifilar .................................................................................................................................... 106 Figura 47 - Planta baixa .............................................................................................................................................. 108 Figura 48 - Disposição dos pontos elétricos ........................................................................................................ 111 Figura 49 - Disposição dos eletrodutos ................................................................................................................. 112 Figura 50 - Identificação dos condutores ............................................................................................................. 113 Figura 51 - Prancha projeto elétrico completo................................................................................................... 114 Quadro 1 - Tipos de folhas e suas dimensões .........................................................................................................40 Quadro 2 - Largura das linhas e das margens da folha .......................................................................................41 Quadro 3 - Dobramento das folhas ...........................................................................................................................42 Quadro 4 - Caracteres da caligrafia técnica .............................................................................................................43 Quadro 5 - Tipos de linha do desenho técnico .......................................................................................................43 Quadro 6 - Grandezas base do SI e suas derivadas ...............................................................................................52 Quadro 7 - Grandezas derivadas do SI .......................................................................................................................52 Quadro 8 - Unidades de medida do sistema inglês ..............................................................................................53 Quadro 9 - Prefixos do SI .................................................................................................................................................55 Quadro 10 - Múltiplos e submúltiplos do metro ...................................................................................................55 Quadro 11 - Perímetros de algumas figuras ............................................................................................................60 Quadro 12 - Área de algumas figuras .........................................................................................................................60 Quadro 13 - Volume de alguns sólidos ......................................................................................................................61 Quadro 14 - Tipos de trena ............................................................................................................................................66 Quadro 15 - Passo a passo das vistas ortográficas ...............................................................................................81 Quadro 16 - Representação de porta .........................................................................................................................87 Quadro 17 - Simbologia de eletrodutos e condutores ..................................................................................... 101 Quadro 18 - Simbologia de quadro de distribuição e medição .................................................................... 102 Quadro 19 - Simbologia de interruptores ............................................................................................................. 102 Quadro 20 - Simbologias tomadas .......................................................................................................................... 103 Quadro 21 - Simbologia de luminárias ................................................................................................................... 104 Quadro 22 - Diagramas elétricos .............................................................................................................................. 107 Quadro 23 - Relação de área e perímetro dos ambientes ............................................................................... 109 Sumário 1 Introdução ........................................................................................................................................................................13 2 Equipes de trabalho ......................................................................................................................................................17 2.1 Trabalho em grupo .....................................................................................................................................18 2.2 Relações interpessoais ...............................................................................................................................20 3 Ética ....................................................................................................................................................................................25 3.1 Postura ética na coleta de dados e informações ..............................................................................26 4 Organização dos dados e informações ..................................................................................................................31 4.1 Coleta ...............................................................................................................................................................32 4.2 Seleção ............................................................................................................................................................33 4.3 Organização ..................................................................................................................................................33 4.4 Análise .............................................................................................................................................................34 5 Normas técnicas do desenho técnico ....................................................................................................................37 5.1 O surgimento da normatização .............................................................................................................385.2 Normas de desenho técnico ...................................................................................................................39 5.2.1 NBR 10647: Desenho técnico ................................................................................................39 5.2.2 NBR 10068: Folha de desenho – Leiaute e dimensões ................................................40 5.2.3 NBR 10582: Apresentação da folha para desenho técnico ........................................41 5.2.4 NBR 13142: Desenho técnico, dobramento de cópia ..................................................42 5.2.5 NBR 8402: Execução de caracter para escrita de desenho técnico .........................43 5.2.6 NBR 8403: Aplicação de linhas em desenhos - Tipos de linhas - Larguras das linhas .............................................................................................................................................43 5.2.7 NBR 8196: Emprego das escalas .........................................................................................44 5.2.8 NBR 10125: Cotagem em desenho técnico ....................................................................44 5.2.9 NRB 6492: Representação de projetos de arquitetura ................................................44 5.2.10 NBR 10067: Princípios gerais de representação em desenho técnico ...............45 5.2.11 NBR 5444: Símbolos gráficos para instalações elétricas prediais ..........................45 6 Unidade de medida ......................................................................................................................................................49 6.1 Sistema internacional ................................................................................................................................51 6.2 Sistema inglês ...............................................................................................................................................53 6.3 Múltiplos e submúltiplos ..........................................................................................................................54 7 Medidas lineares e de área .........................................................................................................................................59 7.1 Cálculo de área, perímetro e volume ...................................................................................................60 7.2 Conversão de unidades .............................................................................................................................62 7.3 Ferramentas e instrumentos de medidas ...........................................................................................64 8 Escala ..................................................................................................................................................................................71 8.1 Definição e aplicação .................................................................................................................................72 8.2 Razão, proporção e regra de três ...........................................................................................................75 9 Leitura e interpretação de desenho ........................................................................................................................79 9.1 Perspectivas, vistas e cortes .....................................................................................................................80 9.2 Planta baixa ...................................................................................................................................................84 9.2.1 Nome da planta e carimbo ....................................................................................................85 9.2.2 Representação dos elementos construtivos ...................................................................85 9.2.3 Representação das informações na planta ......................................................................89 9.3 Planta de leiaute ..........................................................................................................................................94 9.4 Planta de situação .......................................................................................................................................95 9.5 Planta de locação e de cobertura ..........................................................................................................96 9.6 Fachadas .........................................................................................................................................................97 9.7 Cortes ...............................................................................................................................................................98 9.8 Leitura e interpretação de projeto elétrico ..................................................................................... 100 9.8.1 Simbologias ............................................................................................................................. 100 9.8.2 Diagramas elétricos ............................................................................................................... 104 Referências ........................................................................................................................................................................ 117 Minicurrículo dos autores ........................................................................................................................................... 119 Índice .................................................................................................................................................................................. 121 Introdução 1 Prezado aluno, É com grande satisfação que o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) traz o livro didático de Leitura e Interpretação de Desenho. Este livro tem como objetivo levar o aluno a desenvolver fundamentos técnicos e científi- cos relativos às simbologias, aos croquis, aos esquemas e aos diagramas elétricos, bem como desenvolver capacidades sociais, organizativas e metodológicas, de acordo com a atuação do técnico no mundo do trabalho. Nos capítulos a seguir, veremos as normas técnicas e práticas mais comuns que norteiam a apresentação de um desenho técnico, tendo em vista os procedimentos utilizados pelo mer- cado, tão necessários ao desenvolvimento das competências específicas para formação do téc- nico em eletrotécnica, uma vez que as ações de um profissional mal qualificado podem gerar impactos negativos aos negócios da empresa. Você vai se deparar com assuntos que ressaltam a importância do conhecimento das sim- bologias e técnicas mais utilizadas pelos projetistas no mercado de trabalho. Por fim, esta unidade curricular servirá para você desenvolver as habilidades necessárias para tornar-se apto a enfrentar os desafios que são encontrados no dia a dia de quem precisa lidar com leitura e interpretação de projetos. Queremos que você se preocupe com os resulta- dos que uma boa leitura e interpretação do desenho técnico trarão para sua vida profissional. LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DESENHO14 Os estudos desta unidade curricular lhe permitirão desenvolver: CAPACIDADES SOCIAIS, ORGANIZATIVAS E METODOLÓGICAS a) Comunicar-se com clareza; b) Agir de modo ético; c) Adotar postura de cooperação; d) Ser proativo; e) Ser responsável; f) Trabalhar em equipe; g) Demonstrar organização nos dados coletados; h) Ter eficácia na coleta de dados e informações; i) Cumprir normas e procedimentos; j) Manter-se atualizado tecnicamente; k) Ter capacidade de análise; l) Ter senso crítico; m) Ter senso investigativo; n) Ter visão sistêmica. CAPACIDADES TÉCNICAS a) Trabalhar com escalas; b) Efetuar cálculos de perímetro, área e volume; c) Identificar as simbologias utilizadas noprojeto; d) Identificar dimensões dos ambientes (local); e) Identificar escalas de desenho; f) Identificar instrumentos e ferramentas de desenho; g) Identificar tipos de legendas; h) Interpretar as unidades de medidas; i) Interpretar escalas de desenho; j) Interpretar perspectivas, vistas e cortes; k) Interpretar planta baixa e desenhos complementares; 1 INTRODUÇÃO 15 l) Interpretar projetos arquitetônicos; m) Utilizar instrumentos de medidas dimensionais. Lembre-se de que você é o principal responsável por sua formação e isso inclui ações proativas, como: a) Consultar seu professor-tutor sempre que tiver dúvida; b) Não deixar as dúvidas para depois; c) Estabelecer um cronograma de estudo que você realmente cumpra; d) Reservar um intervalo para quando o estudo se prolongar um pouco mais. Bons estudos! Equipes de trabalho 2 Este capítulo traz uma breve descrição sobre o conceito de equipes de trabalho, o seu fun- cionamento e como as diferentes aptidões dos indivíduos de um grupo podem trazer resulta- dos significativos no desempenho de uma organização. O estudo também discorre sobre as características mais relevantes dentro de um grupo ou equipe de trabalho e sobre como obter a melhor combinação de fatores que contribuam para atingir metas e objetivos. Ainda neste capítulo, será realizada uma breve contextualização, destacando a origem do conceito do trabalho em grupo no cenário industrial, ou seja, quando essa filosofia passou a ser aplicada com a finalidade de buscar excelência das indústrias de produção em massa. O novo paradigma substituiu o reconhecimento individual e passou a focar no desenvolvimento cole- tivo em todos os níveis hierárquicos de uma organização, desde o operário do chão de fábrica aos CEO1 da alta gerência executiva. Levando em consideração que o ser humano é dotado de um sistema de decisões autôno- mo, uma vez que não se pode programá-lo como se fosse um computador, percebe-se que a complexidade em determinar padrões comportamentais vai além das características exclusi- vas de cada indivíduo. Estudos recentes sugerem que as relações interpessoais devem ser estudadas de forma que se possa conhecer melhor as reações dos indivíduos em um ambiente organizacional, já que a qualidade do convívio de uma equipe de trabalho interfere diretamente na sua capacidade produtiva – uma equipe bem entrosada produz mais e obtém melhores resultados, pois cada um atua objetivando o sucesso coletivo e não o individual. 1 CEO: Chief Executive Officer - diretor executivo. LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DESENHO18 Figura 1 - Qualidade do convívio em equipe Fonte: SENAI DR BA, 2017. No próximo item abordaremos um pouco sobre o trabalho em grupo, pois, como profissional, você deverá desenvolver essa capacidade de trabalho cooperativo. Apresentaremos a filosofia do trabalho em grupo baseado no Sistema Toyota de produção e a sua importância para o atual sistema organizacional das empresas. 2.1 TRABALHO EM GRUPO Grupo é, basicamente, a conexão entre indivíduos, com valores semelhantes, que se reúnem para atin- gir fins comuns. Geralmente, os grupos se colocam numa posição superior ao indivíduo, ou seja, se algum integrante, porventura, vier a sair do grupo, ele não acaba por causa disso. Um grupo de indivíduos com diferentes aptidões, determinado a desenvolver um trabalho, certamen- te, leva vantagem sobre o trabalho desenvolvido individualmente, pois cada pessoa contribui com aquilo que tem mais experiência, aumentando a agilidade na solução de problemas e na formação de ideias. Figura 2 - Trabalho em grupo Fonte: SENAI DR BA, 2017. 2 EQUIPES DE TRABALHO 19 A alta competitividade no mercado obrigou as organizações a se preocuparem com melhorias nos pro- cessos de produção. Nesse contexto, a filosofia baseada em grupos passou a ser adotada como alternativa para solucionar o problema dos baixos rendimentos que algumas organizações apresentavam. Essa solu- ção passou a apresentar resultados muito satisfatórios no sistema produtivo. Um grande exemplo da aplicação da filosofia baseada em grupos foi a concepção do Sistema Toyota de Produção, em que cada funcionário é inserido em um grupo que tem seu papel bem definido dentro da engrenagem empresarial (figura anterior), de forma que todos tenham a noção do trabalho conjunto em um propósito comum (CORREA, 2011). Esse processo já se mostrou ser eficiente, já que a Toyota é conside- rada uma das maiores montadoras do mundo. SAIBA MAIS Quer saber mais sobre sistema de produção da Toyota? Acesse o site da revista Exame e leia a matéria “Dentro da Maior Montadora do Mundo”. No processo produtivo atual, o trabalho em grupo é algo comum e indispensável. Porém, deve-se ob- servar que ele surge da relação entre as pessoas envolvidas no processo, por isso, há a necessidade de ana- lisar o trabalho em grupo a partir dessas relações interpessoais e como elas acontecem. No item a seguir, falaremos sobre as relações interpessoais e como elas são fatores determinantes em um grupo. CURIOSIDADES Você sabia que no sistema de produção Toyota, onde há a valorização dos indivíduos e dos grupos de trabalho, o salário do presidente da ma- triz chega a atingir, no máximo, dez vezes o salário de um operário? No sistema americano, o presidente chega a ganhar cem vezes mais. (Fonte: CORREA, 2011). LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DESENHO20 2.2 RELAÇÕES INTERPESSOAIS Uma relação interpessoal é o relacionamento entre indivíduos, definido pela circunstância em que se encontram, podendo ser em diversos contextos do cotidiano, como religião, trabalho, família, dentre vá- rias outras situações. Cada indivíduo já desenvolveu noções básicas sobre a conduta das demais pessoas, sendo possível lidar com as ações e reações dos demais dentro do seu convívio. Porém, essas noções nem sempre são as melhores respostas dentro de uma organização. Nas organizações, a relação interpessoal se dá em dois níveis. O da tarefa é o mais explícito, podendo ser observado na execução das tarefas; já o nível socioemocional implica nos sentimentos e sensações que surgem no convívio (MOSCOVICI, 1996). Vejamos os dois níveis mais detalhadamente: a) Tarefa: os sentimentos otimistas geram melhores índices de produtividade. Já sentimentos ne- gativos influenciam na diminuição da produtividade, causando desconforto entre as pessoas en- volvidas; b) Socioemocional: contribui para um bom desenvolvimento das relações e tem impacto nos re- sultados positivos das tarefas se as relações forem construtivas; do contrário, o grupo perde har- monia, diminuindo sua produtividade devido os conflitos internos. Para que uma determinada tarefa se desenvolva bem em grupo, os indivíduos envolvidos devem ter eficiência técnica e, também, emotiva, para obter melhores resultados num sistema produtivo, pois, sem essas características, há ineficiência da equipe, que leva à diminuição dos índices produtivos, gerando des- conforto e insatisfação, o que vai de encontro com a filosofia do trabalho em grupo. Figura 3 - Importância das relações interpessoais Fonte: SHUTTERSTOCK, 2017. FIQUE ALERTA É o tratamento humano que influencia o bem-estar no trabalho e não os benefícios e bons salários, portanto, valorize e respeite os colegas e ouça com gentileza opiniões que divergem das suas. As relações interpessoais também são dinamizadas pelos conflitos que nelas existem. Lidar com situ- ações conflituosas, muitas vezes, exige um grau elevado de maturidade e destreza emocional. Em linhas 2 EQUIPES DE TRABALHO 21 gerais, o que pode ser um desafio para os indivíduos menos experientes, passa a ser uma oportunidade de crescimento coletivo para um grupo ou equipe de trabalho. Os conflitos, necessariamente, sempre vão existir e são situações fundamentais para o desenvolvimento e amadurecimento socioemocional dos indi- víduos, o que caracteriza sua suma importância. CASOS E RELATOS Trabalho em equipe no acampamento Em certo acampamento de verão, umdeterminado grupo foi desafiado pelos organizadores a atra- vessar o rio construindo uma jangada apenas com madeira nativa e cordões de sisal, usando poucas ferramentas. Um dos indivíduos, sempre acostumado a trabalhar sozinho, tomou a dianteira e construiu uma pequena jangada apenas para ele, usando pouca madeira e poucos cordões de sisal. Na hora de atravessar o rio, a pequena embarcação não teve força suficiente para lutar contra a correnteza, tam- pouco pôde suportar a força das águas, ficando às margens do rio. Enquanto isso, o restante do grupo se reuniu, debateu a melhor forma de construir a jangada, fortale- cendo os cordões de sisal com várias tiras trançadas e madeira suficiente para que todos coubessem na embarcação. Fizeram remos suficientes para todos, testaram a jangada, padronizaram as remadas e só depois de todo o planejamento e teste fizeram a primeira tentativa de travessia, chegando ao seu destino sem muitos problemas, diferentemente da primeira pessoa, que fez tudo sozinha. A palavra conflito utilizada não deve ser entendida de forma negativa, nem deve ser relacionada a com- bates, violência, guerras e destruição. É importante a presença de um líder com destreza, maturidade e estabilidade emocional para guiar a equipe através dos conflitos até que ela atinja os objetivos previstos pelo grupo e que resultarão no desenvolvimento da organização. LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DESENHO22 RECAPITULANDO Neste capítulo vimos que, com o desenvolvimento do mercado, filosofias de produção foram criadas como forma de maximizar a eficiência da produção das organizações, o que trouxe vários conceitos e novas descobertas para as indústrias, como o conceito de equipes de trabalho. Aprendemos também que a relação interpessoal é composta por dois níveis, o da tarefa e o socio- emocional, e que se não houver o devido equilíbrio entre esses níveis a produtividade da equipe e, consequentemente, da organização, pode ser afetada diretamente. Pudemos observar durante os assuntos discutidos que o trabalho em grupo é composto de um conjunto de relações interpessoais, que acabam gerando conflitos, que são de grande importância para o desenvolvimento pessoal e do grupo, que objetivam o crescimento da organização de forma saudável e satisfatória para todas as partes envolvidas no processo criativo e produtivo. Neste sentido, um líder emocionalmente inteligente é de grande importância para o desenvolvi- mento da equipe, pois ele será capaz de lidar com os conflitos da melhor maneira possível, elevando os índices produtivos do grupo. 2 EQUIPES DE TRABALHO 23 Ética 3 Neste capítulo, serão abordados alguns tópicos referentes à postura ética do profissional, necessária em algumas situações enfrentadas durante o exercício da profissão, além de refle- xões sobre como proceder durante uma ação e como se deve chegar à decisão mais adequada, de forma que não comprometa a integridade moral2 do indivíduo dentro do contexto em que ele estará inserido. O conceito de ética é amplo. Pode-se observar que cada grupo social tem seu respectivo código de ética, como a ética profissional, ética médica, ética ambiental e muitos outros exem- plos, que dão uma orientação sobre como agir diante de determinado grupo social, sempre buscando o equilíbrio. CURIOSIDADES Você sabia que ética e moral não são a mesma coisa? A ética se relaciona ao estudo dos valores morais que orientam o comportamento humano em sociedade. Já a moral são os próprios costumes, regras e convenções que cada sociedade estabelece. (Fonte: SIGNIFICADOS, [20--]). No mercado de trabalho, o profissional irá se deparar com situações que irão precisar de reflexões sobre como proceder (conforme mostra a figura a seguir), se há alguma implicação em uma decisão tomada e, principalmente, se haverá consequências negativas ou positivas, se existirão prejudicados, sendo ele mesmo, seu grupo ou outros envolvidos. Esse profissional deverá buscar a melhor solução, através dos conceitos técnicos e das noções éticas da sua profissão. 2 Moral: são princípios, costumes, regras, padrões e tudo o que tem relação ao agir ético do indivíduo. LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DESENHO26 CERTO ERRADO Figura 4 - Ética nas decisões Fonte: SENAI DR BA, 2017. No próximo item, abordaremos sobre a postura ética na coleta de dados e informações e apresentare- mos um caso sobre a importância da ética profissional. 3.1 POSTURA ÉTICA NA COLETA DE DADOS E INFORMAÇÕES Nos tempos atuais, há uma facilidade de acesso à informação e várias fontes de pesquisa com uma infinidade de dados disponíveis, a principal delas é a internet. A grande maioria da população tem acesso às informações através dela, porém, é necessário tomarmos alguns cuidados quanto ao conteúdo pesqui- sado e aos dados que serão estudados e utilizados. FIQUE ALERTA Cuidado na hora de extrair informações dos projetos. Informações coletadas de ma- neira errada podem acarretar problemas legais ao profissional, que correrá o risco de ser autuado, multado e até perder a licença para exercer a profissão. Toda informação coletada deve ser criteriosamente analisada para que se confirme a existência de co- erência entre o seu conteúdo e sua fonte. Todos os dados devem ter origem confiável e segura, de forma que seus resultados tenham credibilidade. SAIBA MAIS Para saber mais sobre ética na coleta de informações, leia os artigos contidos na revista PUC VIVA - Ética em Pesquisa, disponível no site da Associação dos Professores da PUC - SP (APROPUC). 3 ÉTICA 27 Na execução de um projeto, por exemplo, espera-se que todos os procedimentos utilizados pelo pro- jetista sejam baseados nas normas técnicas, logo, essas informações têm respaldo legal e atendem aos critérios técnicos preestabelecidos por órgão de competência, como a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Ao alterar qualquer informação contida no projeto, fere-se a ética profissional, já que apenas o autor pode avaliar e modificar os dados contidos nele sem que haja grandes consequências. Vale lembrar que todos os profissionais, independentemente da área de atuação, estão sujeitos a ser fiscalizados por seus órgãos de fiscalização, tanto no que se refere à ética profissional quanto ao correto desempenho das suas funções. Figura 5 - Fiscalização da ética profissional Fonte: SHUTTERSTOCK, 2017. (Adaptado). Grandes e pequenas decisões fazem parte da vida dos profissionais das áreas técnicas, já que são eles que assumem a responsabilidade da execução de um trabalho dentro de uma organização, e é justamente essa capacidade de tomar decisões, de forma ética e segura, que definirá a carreira do profissional. CASOS E RELATOS Consequência da falta de ética Em uma determinada obra, estava prevista a construção de uma garagem, sendo que existiriam três pilares na frente dela, com o espaçamento de três metros um do outro. Dois deles ficariam nos can- tos e um no meio do vão, de acordo com informações retiradas do projeto. Durante a execução, o proprietário ficou insatisfeito com o pilar localizado no meio do vão. Então, pediu para o responsável pela execução da obra que não construísse o pilar, ficando um vão maior do que o previsto no projeto, o que assegurava um espaço maior para a movimentação e estaciona- mento de veículos. LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DESENHO28 Esse fato não foi informado ao projetista, o responsável pela obra apenas retirou o pilar sem qual- quer adequação do projeto ou novo cálculo referente à capacidade de suporte da estrutura da cons- trução sem aquele pilar. Com essa alteração, ocorreu uma sobrecarga na estrutura da garagem e, assim, o rompimento das vigas e pilares e consequente destruição parcial da construção, sendo autuados pelos órgãos de fiscalização o proprietário, o responsável pela obra e o projetista, este devido a sua omissão, já que é papel de todo projetista a fiscalização da construção para garantir que ela está sendo executada como foi projetada.A ética, independentemente do grupo social, é de grande importância, principalmente quando é preci- so tomar decisões, pois, é com base nela que o profissional deve agir no desenvolvimento das suas ativida- des, sejam elas na coleta, na seleção, na organização ou na análise de informações importantes, tendo em vista que órgãos fiscalizadores estarão de vigilância quanto ao exercício profissional. 3 ÉTICA 29 RECAPITULANDO Nesse capítulo, pudemos observar e estudar assuntos relacionados à postura ética do profissional com relação à coleta de dados importantes, trazendo conceitos básicos e reflexões sobre qual o melhor caminho para o desenvolvimento ético das atividades desenvolvidas num ambiente de tra- balho de forma a não prejudicar os outros e nem a si mesmo. Tivemos ainda uma situação real no “Casos e Relatos”, segundo a qual um profissional não agiu de forma ética no desenvolvimento de suas atividades no trabalho e, como consequência dessa de- cisão, atingiu o desenvolvimento das atividades produtivas, como também prejudicou a todos os responsáveis envolvidos no processo da construção da edificação, que sofreram processos legais junto aos órgãos fiscalizadores. Observamos que a ética existe em diversos grupos sociais, sendo assim, cada um define como pro- ceder de forma responsável, considerando as pessoas envolvidas, criando suas regras e órgão fisca- lizadores como forma de vigilância. Organização dos dados e informações 4 Neste capítulo, serão discutidos assuntos relacionados à importância da organização no momento da coleta de dados e informações contidas nos desenhos técnicos, a fim de mostrar que, se for mantida uma boa disciplina durante essa atividade, vários problemas com relação ao desenvolvimento das práticas profissionais podem ser evitados, melhorando, assim, o ren- dimento e a produtividade da equipe e do profissional individualmente. É de grande importância e interesse das organizações que o profissional tenha a capacida- de de coletar os dados contidos nos desenhos e selecioná-los de acordo com as atividades que serão desenvolvidas, isso evita situações nas quais a falta de organização das informações ve- nha a prejudicar o avanço das tarefas executadas, evitando também o alongamento de prazos, que é algo de grande importância nas empresas, já que informações coletadas de forma incor- reta demandarão mais tempo para serem refeitas, além de gerar atrasos no avanço das tarefas. Figura 6 - Organização dos dados Fonte: SHUTTERSTOCK, 2017. Uma grande consequência da falta de organização dos dados e informações contidos nos desenhos técnicos é o retrabalho3, que causa desperdício de tempo, perda na qualidade do produto, diminuição da produção e, consequentemente, insatisfação e perda de clientes, des- gastando a imagem da organização no mercado. 3 Retrabalho: é a repetição de uma atividade que já foi executada, a fim de corrigir erros. LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DESENHO32 Por isso, deve-se utilizar muito tempo no estudo dos desenhos. Dessa forma, é fundamental que a co- leta, seleção, organização e análise dos dados e informações sejam feitos de forma a não gerar retrabalho. A seguir, aprenderemos um pouco sobre cada uma dessas etapas. 4.1 COLETA No momento da coleta dos dados contidos nos desenhos técnicos, o profissional deve conhecer bem a linguagem utilizada neles – simbologias e termos técnicos, geralmente empregados nos projetos pelos profissionais especializados. Sem esse conhecimento essencial, a possibilidade da obtenção de dados ser bem-sucedida é muito pequena, deixando margem para a ocorrência de erros de leitura. É no momento da coleta de informações que ocorrem os erros de leitura, que são informações equivo- cadas, retiradas do projeto por profissionais sem o devido domínio da linguagem utilizada nos desenhos. A leitura executada sem a devida revisão leva a erros executivos e gera o retrabalho. Por esse motivo, tal situação deve ser evitada ao máximo. A eficiência na coleta de informações dos desenhos técnicos está diretamente relacionada ao trabalho em equipe. Um profissional realizando essa tarefa individualmente tende a ser menos eficiente do que tra- balhando em equipe, pois serão várias opiniões sobre um mesmo objeto, aumentando a produtividade na seleção dos dados, diminuindo as chances de erros de leitura e evitando os problemas decorrentes desse descuido. CASOS E RELATOS Eficiência na coleta de dados Em certo empreendimento, um estagiário foi selecionado para realizar a leitura de todos os dese- nhos técnicos, coletar todas as informações possíveis deles e observar se havia interferências ou qualquer outro problema que ele pudesse observar, informando ao seu supervisor, ou a qualquer outro responsável pela execução da obra, sempre que encontrasse algo. O estagiário iniciou as atividades rapidamente, coletando todas as informações possíveis e infor- mando ao supervisor logo que encontrava algum problema, porém, por ser apenas uma pessoa realizando essa atividade, era frequente a ocorrência de erros e os responsáveis pela obra logo se preocuparam com o tempo que era gasto para realizar essa atividade, pois eles precisavam de agili- dade nessa etapa. Para resolver o problema, foram contratados mais dois estagiários, que formaram a equipe de aná- lise de desenhos, o que aumentou significativamente o rendimento na coleta de dados e diminuiu significativamente a incidência de erros de leitura, pois, quando algum estagiário cometia um erro, algum dos outros dois conseguia enxergá-lo e resolvê-lo antes de ser apresentado aos responsáveis. 4 ORGANIZAÇÃO DOS DADOS E INFORMAÇÕES 33 4.2 SELEÇÃO Um desenho técnico contém várias informações relevantes para a fase de execução, sendo assim, o profissional responsável pela leitura deve, após a coleta dos dados, selecioná-los de acordo com a sua im- portância em relação ao andamento das atividades. É nessa fase que há seleção de dados com as características e significados técnicos semelhantes de acordo com a sua importância. Esse passo é fundamental para as decisões que serão tomadas de acordo com o desenvolvimento das tarefas. CURIOSIDADES Os escritórios de projetos, baseando-se nas normas de desenho técnico, elaboram seus padrões de simbologias e representações, a exemplo do padrão em relação a cores, espessuras de linhas etc., que, embora sejam específicos de seus escritórios, não devem divergir muito das represen- tações presentes nas normas. (Fonte: SOUSA JUNIOR; MAIA; CORREIO, 2014). Após todas as informações serem devidamente selecionadas, elas devem ser organizadas de acordo com as etapas referentes à fase de execução, que veremos no item a seguir. 4.3 ORGANIZAÇÃO Na etapa de organização, o profissional deve ficar atento à ordem lógica das atividades que serão de- senvolvidas, agrupando as informações de maneira organizada, evitando interferências de fases executi- vas referentes a uma tarefa. Manter a ordem lógica das atividades quer dizer que o profissional, por exemplo, não deve colocar a fase de passagem dos fios condutores de eletricidade antes da passagem dos eletrodutos na parede, ou colocar a fase da passagem de eletrodutos antes da fase de rasgo da parede, ou seja, a organização dessas informações, se bem feita, evita uma série de problemas executivos, principalmente o retrabalho. FIQUE ALERTA Organizar as informações pode melhorar o desempenho do profissional como tam- bém pode diminuir, caso ocorra erro. Então, não tenha pressa nesse momento, orga- nize os dados com calma e bastante cuidado. Informações bem organizadas, seguindo uma ordem lógica das atividades, além de ajudarem a evitar problemas de execução, auxiliam, e muito, no momento da análise desses dados em outras fases das ativi- dades, permitindo encontrar soluções para problemas mais facilmente. Vejamos a seguir a importância da análise das informações de um desenho técnico. LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DESENHO34 4.4 ANÁLISE Depois da coleta,seleção e organização das informações, elas precisam ser analisadas para definir pon- tos importantes com relação ao desenho técnico. Pontuar os locais onde há dificuldades de execução, possíveis interferências com outros projetos e sequência ideal de execução das atividades são passos es- senciais da leitura e o profissional deve ser capaz de executá-la da melhor maneira possível. Interferências entre projetos são situações que devem ser analisadas de maneira criteriosa pelo profis- sional. Um bom exemplo é o profissional do projeto de instalações elétricas determinar como local da caixa para interruptor o mesmo local onde o profissional do projeto de arquitetura colocou uma porta ou uma janela (ver imagem a seguir). Certamente, essa situação vai gerar problemas, se não for bem analisada no momento da leitura dos desenhos. Figura 7 - Interferência entre projetos Fonte: SENAI DR BA, 2017. SAIBA MAIS Para saber mais sobre interferências entre projetos, leia o artigo Compatibilização de projeto arquitetônico, estrutural e sanitário: uma abordagem teórica e estudo de caso, disponível no site da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). As etapas de coleta, seleção, organização e análise dos dados são muito importantes para a obtenção de informações relacionadas aos desenhos técnicos, pois erros e interferências sempre existirão, mas com um olhar atencioso e crítico de um bom profissional, que conhece bem as normas técnicas, sempre haverá soluções cabíveis para os problemas. 4 ORGANIZAÇÃO DOS DADOS E INFORMAÇÕES 35 RECAPITULANDO Nesse capítulo, vimos quatro fases que devem ser seguidas durante a leitura dos desenhos técni- cos, que são a coleta, seleção, organização e análise dos dados. Se elas não forem bem executadas, podem ocasionar problemas graves, como a ocorrência de erros de interpretação e retrabalho, que dificultam o bom andamento das fases executivas. Vimos também que o profissional precisa ter um bom conhecimento da simbologia utilizada para representar objetos nos desenhos, pois ele precisa interpretá-los e transmitir essa informação para a fase de execução. Pudemos observar que a leitura de desenhos técnicos tem mais eficiência quando realizada em equipe, pois, os erros cometidos por um integrante podem ser observados pelos outros e resolvidos no mesmo momento, sem que haja a necessidade de revisões ou de retrabalho. Quando não há problemas de organização das informações, problemas relacionados às fases exe- cutivas não acontecem, pois as interferências entre projetos são detectadas mais facilmente durante a análise dos dados, melhorando a produtividade, evitando retrabalhos e encurtando prazos na fase executiva. Normas técnicas do desenho técnico 5 Neste capítulo, serão abordados assuntos relacionados à normatização e padronização das representações gráficas em desenho técnico, como forma de linguagem e comunicação entre profissionais, não importando o país e a língua falada. Essa padronização é importante para a simplificação dos processos produtivos, já que as características dos objetos são unificadas. O desenho técnico é uma linguagem universal, utilizada por profissionais na comunicação e na instrução sobre critérios de fabricação e montagem de objetos e que permite criar, através de imagens gráficas padronizadas, um guia ou um manual para facilitar o entendimento dos projetos mesmo para pessoas de nacionalidades diferentes, o que diminui as chances de erros e incompatibilidades entre as peças. A seguir, discutiremos alguns aspectos relacionados às normas de apresentação dos dese- nhos técnicos, como as folhas utilizadas, o dobramento e conteúdo, as linhas e seus significa- dos, a caligrafia técnica, o emprego de cotas e escalas, a representação de cortes por meio de hachuras e a representação das instalações elétricas. LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DESENHO38 5.1 O SURGIMENTO DA NORMATIZAÇÃO Num determinado tempo histórico, surgiu a necessidade de reprodução de objetos que antes eram produzidos apenas por conveniência de um grupo ou sociedade. Tão logo, as técnicas produtivas precisa- vam de alguma forma vencer as barreiras do espaço e do tempo, pois muitas outras pessoas deveriam ser capazes de reproduzi-las, estando elas em lugares diferentes ou em tempos diferentes. A partir da necessidade de reprodução das técnicas, as sociedades começaram a criar instrumentos de medidas calibrados com padrões pré-estabelecidos, especificações e desenhos capazes de garantir a reprodução dos objetos com as mesmas características. Esse conhecimento passou a ser de grande impor- tância para a reprodução e até mesmo para o melhoramento de sistemas produtivos, já que o conheci- mento começou a ganhar forma e passou a ser catalogado e guardado, podendo ser consultado e utilizado por qualquer pessoa. Figura 8 - Instrumentos de medidas Fonte: SHUTTERSTOCK, 2017. Essa transformação da sociedade levou ao surgimento da norma técnica. Os principais agentes cau- sadores desse surgimento foram as crescentes exigências da indústria moderna e o próprio Estado, que comandava a relações econômicas e sociais da época, possibilitando a produção em série e, assim, ofere- cendo maior confiança na compra de produtos industrializados. Com o avanço da tecnologia, novas técnicas de produção foram surgindo, paralelamente com a expan- são do mercado mundial. Com isso, veio junto a necessidade de revisar as anotações das técnicas de pro- dução, que ficavam obsoletas. Foi dentro desse contexto que surgiu a necessidade de se criar instituições que seriam as responsáveis pela elaboração e revisão das normas técnicas. No Brasil, a instituição respon- sável é a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). 5 NORMAS TÉCNICAS DO DESENHO TÉCNICO 39 SAIBA MAIS Para saber mais sobre o processo de normatização e todos os acontecimentos histó- ricos que fizeram surgir tal necessidade, principalmente no Brasil, leia: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. História da normatização brasileira. Rio de Janei- ro: ABNT, 2011. A normatização surgiu dentro do contexto da revolução industrial e, durante a formação do mercado globalizado, esse cenário foi indispensável para a manifestação da necessidade de harmonizar as técnicas produtivas. Isso quer dizer que não havia normas técnicas em períodos anteriores à revolução industrial e à globalização dos mercados (ABNT, 2011). Nos próximos itens, abordaremos as normas técnicas mais importantes para representação do desenho técnico, explicado um pouco sobre cada uma, e abordaremos os pontos de maior interesse para sua área de formação técnica. 5.2 NORMAS DE DESENHO TÉCNICO Com relação à normatização dos desenhos técnicos, a Associação Brasileira de Normas Técnicas apre- senta diversas normas que devem ser seguidas para uma boa compreensão e interpretação dos desenhos por parte dos profissionais. A seguir, veremos um pouco das normas mais importantes para o desenho técnico, apresentando os pontos mais relevantes para os seus estudos. 5.2.1 NBR 10647: DESENHO TÉCNICO Norma que apresenta as definições dos termos empregados em desenho técnico, objetivando padroni- zar a linguagem empregada em desenhos técnicos. Ela divide os desenhos, quanto ao aspecto geométrico, em dois grupos: a) Projetivo: vistas ortográficas e perspectivas; b) Não projetivo: diagramas, esquemas, ábacos, fluxogramas, organogramas e gráficos. Quanto ao grau de elaboração, temos os esboços, desenhos preliminares, croqui e desenho definitivo. LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DESENHO40 5.2.2 NBR 10068: FOLHA DE DESENHO – LEIAUTE E DIMENSÕES Esta norma define as características dimensionais das folhas a serem utilizadas em todos os desenhos técnicos. Os formatos padrão definidos por ela são os formatos da série “A” e estão apresentados no qua- dro a seguir, juntamente com suas dimensões: FOLHA A0 A1 A2 A3 A4 DIMENSÃO (mm) 841 x 1189 594 x 841 420 x 594 297 x 420 210 x 297 Quadro 1 - Tipos de folhas e suas dimensõesFonte: ABNT NBR 10068, 1987. As folhas podem ser utilizadas tanto na horizontal (medidas apresentadas na tabela acima) quanto na posição vertical, isso dependerá das dimensões do elemento desenhado e de qual a melhor forma para dispor na folha. CURIOSIDADES As dimensões dos papéis de projeto seguem a proporção y = x√2, ou seja, para um determinado papel, a sua maior dimensão será sempre o produto entre a menor dimensão e a √2. (Fonte: ABNT NBR 10068, 1987). Outra coisa importante são as margens da folha (figura a seguir), pois são elas que limitam o espaço do desenho. Margem Limite do papel Quadro Espaço para desenho Figura 9 - Margens da folha Fonte: ABNT NBR 10068, 1987. (Adaptado). 5 NORMAS TÉCNICAS DO DESENHO TÉCNICO 41 Cada formato de folha tem uma largura de margem específica, conforme quadro a seguir: FORMATO A0 A1 A2 A3 A4 LARGURA DA LINHA DO QUADRADO (NBR 8403) 1,4 1,0 0,7 0,5 0,5 ESQUERDA 25 25 25 25 25 DIREITA MARGEM (mm) 10 10 7 7 7 Quadro 2 - Largura das linhas e das margens da folha Fonte: ABNT NBR 10068, 1987. 5.2.3 NBR 10582: APRESENTAÇÃO DA FOLHA PARA DESENHO TÉCNICO Esta norma determina as condições para organização e localização dos espaços na prancha, definindo os espaços para o desenho, espaços para texto, espaço para legenda. Define também as informações que devem conter em cada um desses espaços. A seguir, veremos dois exemplos para organização da prancha, o da esquerda apresenta o espaço para o texto na vertical à direita da folha; já a prancha da direita, apresenta o espaço para o texto na horizontal, na parte inferior da prancha. Em ambos, o espaço para a legenda não se altera. Espaço para desenho Espaço para texto Legenda Espaço para desenho Espaço para texto Legenda Figura 10 - Organização de prancha de desenho Fonte: ABNT NBR 10582, 1988. (Adaptado). LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DESENHO42 5.2.4 NBR 13142: DESENHO TÉCNICO, DOBRAMENTO DE CÓPIA Esta norma define as regras para que seja feito o dobramento das folhas dos desenhos, tendo como objetivo, ao final do dobramento, que as folhas A0, A1, A2, e A3 fiquem no formato A4. Elas devem ser dobradas de modo que fique visível a legenda (conforme vistos na figura anterior os locais padronizados para as legendas), além de possibilitar o arquivamento das folhas em pastas. A seguir, veremos um quadro com dobramento de cada folha (as dimensões representadas estão em mm): Formato A0 Formato A1 Formato A2 Formato A3 Quadro 3 - Dobramento das folhas Fonte: ABNT NBR 13142, 1999. (Adaptado). As medidas representadas no desenho das pranchas do quadro anterior, além de apresentarem as di- mensões da folha, mostram as medidas que devem ser seguidas para as dobras, de modo que, ao final, tenham o formato da folha A4. 5 NORMAS TÉCNICAS DO DESENHO TÉCNICO 43 5.2.5 NBR 8402: EXECUÇÃO DE CARACTER PARA ESCRITA DE DESENHO TÉCNICO Esta norma estabelece as condições exigíveis para a escrita utilizada em um desenho técnico. Ela con- templa as exigências mínimas para a compreensão e uniformidade da caligrafia. As letras, números e símbolos devem ser reconhecíveis, não existindo margens para interpretações erradas ou falsas leituras, podendo ser escritos na vertical ou inclinados em um ângulo de 15° para a direita com relação à vertical, conforme pode ser visto no quadro a seguir: CARACTERES CALIGRAFIA TÉCNICA (VERTICAL) CARACTERES CALIGRAFIA TÉCNICA (INCLINADA) A a B b C c D d E e F f G g H h I i J j K k L l M m N n O o P p Q q R r S s T t U u V v W w X x Y y Z z 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1,0 1,0 3,0 ABCDEFGHIJLMNOPQRSTUVXZ abcdefghijlmnopqrstuvxz 0123456789 ½ 75º Quadro 4 - Caracteres da caligrafia técnica Fonte: SENAI DR BA, 2017. 5.2.6 NBR 8403: APLICAÇÃO DE LINHAS EM DESENHOS - TIPOS DE LINHAS - LARGURAS DAS LINHAS Esta norma define os tipos de linhas que devem ser utilizadas em desenhos técnicos, sendo a espessura a sua principal característica e as mais utilizadas são as 0,13; 0,18; 0,25; 0,35; 0,50; 0,70; 1,00; 1,40 e 2,00 mm. As espessuras costumam variar de acordo com a profundidade do objeto que se deseja representar, assim, quanto mais próximo do observador estiver o objeto, mais grossa é a linha e quanto mais longe o objeto estiver do observador, mais fina é a linha. Além das espessuras, as linhas representam outras informações, a depender da sua forma. No quadro a seguir, serão mostrados alguns exemplos: Visíveis Linhas auxiliares, linhas de cota, hachura Arestas não vísiveis Linhas de eixo, simetria e trajetórias Linhas de corte Contínuo largo Contínuo estreito Tracejada larga e estreita Traço e ponto estreita Traço e dois pontos largo LINHAS TRAÇOS EXEMPLO Quadro 5 - Tipos de linha do desenho técnico Fonte: ABNT NBR 8403, 1984. (Adaptado). LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DESENHO44 As linhas seguem uma ordem prioritária num desenho técnico, portanto, se houver alguma coincidên- cia entre elas, essa ordem deve ser observada. Esse critério está relacionado com o significado das linhas, podendo ser observado logo a seguir: a) 1º - Linha contínua larga: arestas e contornos visíveis; b) 2º - Linha tracejada: arestas e contornos não visíveis; c) 3º - Traço e ponto estreitos: superfícies de cortes e seções; d) 4º - Traço e ponto estreito: linhas de centro; e) 5º - Traço e dois pontos: linhas de centro de gravidade; f) 6º - Linha contínua estreita: linhas de cota e auxiliares. FIQUE ALERTA Existe um pequeno limite entre o que é obrigatório e o que é apenas uma recomen- dação quando se trata das normas técnicas, cabendo ao profissional a observação desses casos específicos. 5.2.7 NBR 8196: EMPREGO DAS ESCALAS Norma que define as regras para o emprego das escalas no desenho técnico, mostrando os tipos de escalas existentes e como as mesmas devem ser apresentadas no desenho. Esse conteúdo será visto mais à frente, no capítulo sobre escalas. 5.2.8 NBR 10125: COTAGEM EM DESENHO TÉCNICO Norma que determina os princípios gerais de cotagem dos desenhos técnicos. A cotagem nada mais é do que uma representação gráfica das dimensões do elemento, representadas através de linhas, símbolos, notas ou o valor numérico (em uma dada unidade de medida). Esse conteúdo será visto no capítulo sobre leitura e interpretação de desenho. 5.2.9 NRB 6492: REPRESENTAÇÃO DE PROJETOS DE ARQUITETURA Norma que estabelece os critérios exigíveis para a representação de projetos arquitetônicos, a fim de que haja uma perfeita compreensão destes. Ela apresenta as definições de cada projeto, descrevendo o que deve conter em cada um deles, exemplificando como devem ser representadas as legendas, escalas, caligrafias, indicações, cotas, numerações e títulos dos desenhos, entre outras informações. Utilizaremos essa norma quando estivermos estudando o capítulo sobre leitura e interpretação de desenho. 5 NORMAS TÉCNICAS DO DESENHO TÉCNICO 45 5.2.10 NBR 10067: PRINCÍPIOS GERAIS DE REPRESENTAÇÃO EM DESENHO TÉCNICO Norma que estabelece as formas de representação utilizadas em desenho técnico, definindo as posi- ções e os nomes das vistas relativas ao plano, a quantidade de vistas a serem executadas, além de definir os critérios para representar os cortes e seções dos elementos. 5.2.11 NBR 5444: SÍMBOLOS GRÁFICOS PARA INSTALAÇÕES ELÉTRICAS PREDIAIS Esta norma técnica foi cancelada e não possui norma substituta, mas a recomendação da ABNT é o uso das normas internacionais IEC 60417 – Graphical Symbols for Use on Equipmen e IEC 60617 – Graphical Symbols for Diagram, no entanto, a literatura técnica e muitos setores da área elétrica ainda utilizam a NBR 5444. Por essa razão, utilizaremos essa norma em nossos estudos. A NBR 5444 estabelece as simbologias padrão a serem adotadas nos projetos de instalações elétricas prediais. Os padrões de desenhos técnicos elaborados por profissionais especializados são baseados nes- tas normas técnicas, podendo sofrer pequenas adequações, mas sem perder o princípio mostradonelas. FIQUE ALERTA As normas técnicas estão em constante atualização, podendo ser alteradas, substi- tuídas ou canceladas, por isso é importante consultar e utilizar as normas técnicas atualizadas de modo que as informações disponibilizadas não estejam defasadas ou incorretas. Como se pode perceber, o desenho técnico segue padrões e normas necessárias para o bom entendi- mento por parte dos profissionais. O formato do papel, os tipos de linha e espessura e também a caligrafia são alguns exemplos que constam nas regras, que são usadas por muitos países, seguindo sempre um padrão pré-estabelecido. CASOS E RELATOS Consequências da não observação das normas Um determinado profissional estava elaborando um projeto elétrico para concorrer na licitação de uma obra. Objetivando ganhar a licitação apresentando a proposta mais barata, ele abriu mão de algumas es- pecificações técnicas estabelecida pela norma. Foram apresentadas, além da proposta desse profissional, outras duas propostas, sendo que a dele foi considerada a mais viável em termos de custos. LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DESENHO46 Com o projeto já definido, partiu-se para a execução da obra, que foi feita seguindo todas as especi- ficações e orientações definidas no projeto. Após concluída e entregue a obra, houve um incêndio, felizmente, sem vítimas. Depois de averi- guada as causas do incêndio, constatou-se falha no dimensionamento e especificações técnicas das instalações elétricas. A perícia analisou os projetos e as instalações e observou que tudo havia sido executado conforme as especificações do projeto, no entanto, identificou-se que o projeto possuía muitas incoerências e que, inclusive, estava subdimensionado, o que ocasionou o incêndio nas instalações elétricas. Ao ser indiciado, o profissional responsável pela elaboração do projeto confessou que, a fim de ter a proposta mais vantajosa, abriu mão de itens cruciais da norma. Com essa atitude, o profissional foi preso e ainda perdeu o direito de exercer a profissão. Os assuntos discutidos nos tópicos anteriores trazem detalhes que devem ser observados cuidadosa- mente pelo profissional especializado antes da execução dos desenhos técnicos. Já os outros assuntos, relacionados à elaboração dos desenhos técnicos propriamente ditos, serão abordados nos capítulos que se seguem. 5 NORMAS TÉCNICAS DO DESENHO TÉCNICO 47 RECAPITULANDO Nesse capítulo, vimos um pouco do processo histórico da normatização, os fatores que influencia- ram diretamente no desenvolvimento dela, como o surgimento de um mercado globalizado e a necessidade de padronizar a produção de objetos e produtos para atender a um mercado exigente, cada vez mais tecnológico e competitivo. Vimos também as normas mais utilizadas pelos projetistas na elaboração de desenhos técnicos. Es- sas normas fazem parte de grande parte dos elementos que compõem um projeto, desde fases anteriores ao traçado do desenho até os elementos que integram os desenhos. Os critérios dessas normas não são exclusivos de um país, eles são utilizados por vários países ao redor do mundo. Por fim, foram citados alguns critérios com relação à fase de preparação para a elaboração dos dese- nhos técnicos, como as folhas mais utilizadas e os espaços dentro delas, as linhas mais utilizadas, os seus significados e os graus de importância, a caligrafia técnica, as escalas, entre outras. Unidade de medida 6 Neste capítulo serão discutidos assuntos relacionados às unidades de medida. Veremos quais os sistemas de medida mais utilizados, seus múltiplos e submúltiplos mais comuns, em quais situações são empregados e qual a relação entre as unidades de medidas. Esse entendi- mento é de grande importância para a correta interpretação dos desenhos técnicos, uma vez que você dependerá dele para realizar a chamada conversão de unidades. Já imaginou quem foi o primeiro homem a realizar a medição de algo? Não? É difícil identi- ficar na história exatamente quando o homem começou a medir ou pesar as coisas, mas essa necessidade surgiu da própria necessidade de sobrevivência: a construção de abrigos, por exemplo. Desde o princípio, o homem desenvolveu técnicas de medição rústicas, quase sempre ten- do como referencial partes do corpo humano. O pé, por exemplo, é uma unidade para medida de comprimento. Mas como cada grupo tinha a sua técnica de medição e a realizava à sua maneira, era necessário um método que padronizasse as medidas, por isso, no início do Século XIII, na Inglaterra, instituiu-se um decreto real sobre padrões de pesos e medidas, um extenso conjunto de regras a serem utilizadas no reino. Até então, os padrões de medidas eram pontuais, não havia uma padronização universal. Mas em 1970, durante a revolução francesa, os franceses criaram, por meio de uma comis- são com vários cientistas renomados, o sistema métrico, estabelecendo, dessa forma, o metro como unidade padrão de medida de comprimento. Nessa ocasião, o metro correspondia à distância do Pólo Norte ao Equador dividido por 10.000.000 (conforme mostra a figura a se- guir). Além da unidade de comprimento foram definidas as unidades de massa, tempo, área e volume. LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DESENHO50 Polo Norte Linha do Equador 10 000 000 m etros Figura 11 - Primeira definição da medida do metro Fonte: Fonte: SENAI DR BA, 2017. Apesar da convenção, existem países que não adotaram o sistema métrico proposto pelos franceses, como os Estados Unidos, Mianmar e Libéria, que até os dias de hoje usam o sistema inglês. Já o Reino Unido passou a utilizar o sistema métrico, porém, ainda emprega o sistema inglês como unidade de medida em algumas situações específicas, mas, ainda assim, é considerado um país métrico4. CURIOSIDADES Devido à imprecisão dos instrumentos de medida, foi cometido um erro ao estabelecer o valor do metro. Quando o erro foi descoberto, a infor- mação do comprimento do metro já havia se tornado tão comum que permaneceu sem correção. (Fonte: POZEBON; LOPES, 2013). Veremos na sequência como foi criado o sistema internacional de medidas, que padronizou as medidas que conhecemos hoje e cujo sistema é adotado em nosso país. 4 País métrico: país que possui o sistema métrico como sistema oficial de medidas. 6 UNIDADE DE MEDIDA 51 6.1 SISTEMA INTERNACIONAL No ano de 1960, aconteceu a 11ª Conferência Internacional de Pesos e Medidas, quando se legitimou o Sistema Internacional de Unidades (SI), no qual foram aperfeiçoadas medidas que já haviam sido deter- minadas e criaram-se padrões para medidas que ainda não existiam, como foi o caso da eletricidade. É importante salientar que todo esse acontecimento só foi possível com o incessante avanço dos processos tecnológicos. Após essa conferência, houve outras com igual importância, como a nova determinação do metro, que passou a ser representado como a distância percorrida pela luz no vácuo num intervalo de tempo igual a 1/299.792.458 segundos. Também foi estabelecido que a unidade de massa seria o quilograma, represen- tado por um bloco de platina e irídio com massa semelhante a 1 litro de água a 4°C. E, para representar a unidade de tempo, o segundo, relativo a 1/86.400 de um dia de 24 horas. Todos esses padrões estabelecidos foram documentados e suas cópias encaminhadas a vários países para que fossem legalizados. Dessa forma, estabeleceu-se em vários países o Sistema Internacional de Unidades (SI) como o padrão, sendo deixado em segundo plano apenas por três países, os Estados Unidos, Mianmar e Libéria, como já foi mencionado anteriormente. CASOS E RELATOS Os Estados Unidos e o SI Após o acordo entre vários países, que oficializou o Sistema Internacional de Unidades (SI) como padrão, esse acordo precisava passar pelo congresso nacional de cada país para, só então, ter legi- timidade e se tornar lei. Isso aconteceu em praticamente todos os países do mundo, mas não nos Estados Unidos. Houve algumas tentativas para possibilitar a utilização do SIem seu território, como a tentativa de transformar em lei o sistema SI, em 1975, pelo então presidente Gerald Ford. Porém, a tentativa fracassou já que não se tratou de uma lei imposta, mas, sim, voluntária. Com isso, não houve interesse dos cidadãos americanos em seguir o padrão que estava sendo adotado em todo o mundo. Existiu, na verdade, um posto de gasolina que passou usar a unidade de litro, no entanto, os concor- rentes chegaram a pedir ao governo a interdição do estabelecimento, alegando que estaria iludindo os fregueses, pois o preço do litro acabava sendo menor que o do galão, que representa 3,79 litros. Logo, os americanos não se sentiram à vontade com a troca para o SI. LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DESENHO52 Existem sete unidades de base do SI e delas temos várias unidades derivadas, que são definidas a partir das unidades de base, acrescidos os símbolos de multiplicação e/ou divisão. Veja no quadro a seguir as grandezas de base que compõem o SI, juntamente com as suas respectivas unidades. Comprimento metro m Massa quilograma kg Tempo segundo s Corrente elétrica Ampère A Temperatura termodinâmica Kelvin K Quantidade de matéria mol mol Intensidade luminosa candela cd GRANDEZAS BASE UNID. DE MEDIDA SIGLA Quadro 6 - Grandezas base do SI e suas derivadas Fonte: SENAI DR BA, 2017. As grandezas derivadas são utilizadas nas mais diversas áreas tecnológicas e científicas, sendo de gran- de importância para a padronização de valores de medidas importantes nos mais diversos campos do conhecimento. Como existem muitas grandezas derivadas no SI, selecionamos apenas algumas. Força Newton N Velocidade metro por segundo m/s Aceleração metro por segundo ao quadrado m/s² Área metro quadrado m² Volume metro cúbico m³ GRANDEZAS DERIVADAS UNID. DE MEDIDA SIGLA Quadro 7 - Grandezas derivadas do SI Fonte: SENAI DR BA, 2017. A seguir conheceremos o Sistema Inglês de medidas, sistema adotado pelos Estados Unidos. 6 UNIDADE DE MEDIDA 53 6.2 SISTEMA INGLÊS Apesar do sistema adotado no Brasil ser o Sistema Internacional de Unidades (SI), ainda assim, pode-se encontrar o sistema inglês de medidas em uso, como a polegada (in), muito usada na mecânica; e o diâme- tro, usado na medida das barras de aço dos mais variados tipos e finalidades. No sistema inglês, a unidade de medida base é a jarda, que vem da palavra inglesa yard, e quer dizer vara. O termo jarda nada mais é que uma referência à utilização de varas nas medições, muito comum na- quela época, principalmente no ramo da alfaiataria. Esse padrão seria oficializado pelo rei Henrique I, sen- do, então, estabelecida como a distância entre o polegar do rei e o seu nariz quando o seu braço estivesse esticado, como mostra a figura seguir. 1 Jarda Figura 12 - Representação da jarda Fonte: SENAI DR BA, 2017. Alguns exemplos de unidades utilizadas no sistema inglês são mostrados no quadro a seguir, não con- templando todas, pois, o sistema tem diversas unidades para cada grandeza. Comprimento polegada (inch) in pé (foot) ft jarda (yard) milha (mile) yd GRANDEZAS BASE UNIDADE DE MEDIDA 2,54 cm 30,48 cm 91,44 cm mi 1,61 km Massa onça (ounce) oz libra (pound) lb stone (stone) st 28,35 gramas 0,454 quilogramas 6,35 quilogramas Volume pinta (pint) pt galão (gallon) gal 0,473 litros 3,78 litros RELAÇÃO COM O SI ABRE- VIAÇÃO Quadro 8 - Unidades de medida do sistema inglês Fonte: SENAI DR BA, 2017. LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DESENHO54 Como se pode perceber, as grandezas pertencentes ao sistema inglês eram baseadas nas medidas do corpo humano ou de objetos usados no cotidiano da sociedade, o que tornava o sistema bastante criativo e de fácil utilização. FIQUE ALERTA Existem medidas no sistema inglês americano que não correspondem à medida do sistema inglês da Inglaterra. Por exemplo, na Inglaterra, o galão representa 4,54 li- tros, enquanto o galão americano representa 3,78 litros. O sistema inglês é um sistema que carrega consigo valores diferenciados para as diferentes grandezas, por isso, deve-se ter cuidado ao interpretar as unidades, pois, a depender do país ou região, as informações podem divergir umas das outras. A seguir veremos os múltiplos e submúltiplos adotados no sistema SI. 6.3 MÚLTIPLOS E SUBMÚLTIPLOS A partir das unidades padrão de medida de comprimento, área ou volume, por exemplo, podem surgir outras unidades efetuando-se a multiplicação da unidade padrão por um fator de potência5. A seguir, veremos um quadro de prefixos do SI em que consta uma relação de prefixos utilizados nos múltiplos e submúltiplos das mais diversas unidades de medida. O fator utilizado nessa tabela é a potência de 10, sendo escrito em notação cientifica6. NOME tera giga mega quilo hecto SÍMBOLO FATOR PELO QUAL AUNIDADE É MULTIPLICADA T G M K h deca - da - deci centi d c mili micro m µ nano pico 1012 = 1000 000 000 000 109 = 1000 000 000 106 = 1000 000 103 = 1000 102 = 100 101 = 10 100 = 1 10-1 = 0,1 10-2 = 0,01 10-3 = 0,001 10-6 = 0,000 001 10-9 = 0,000 000 001 10-12 = 0,000 000 000 001 n p 5 Fator de potência: é um valor representado por sucessivas multiplicações de um mesmo número. 6 Notação científica: forma de representar números muito grandes ou muito pequenos de forma a simplificá-los, facilitando sua leitura e utilização nos cálculos. 6 UNIDADE DE MEDIDA 55 NOME tera giga mega quilo hecto SÍMBOLO FATOR PELO QUAL AUNIDADE É MULTIPLICADA T G M K h deca - da - deci centi d c mili micro m µ nano pico 1012 = 1000 000 000 000 109 = 1000 000 000 106 = 1000 000 103 = 1000 102 = 100 101 = 10 100 = 1 10-1 = 0,1 10-2 = 0,01 10-3 = 0,001 10-6 = 0,000 001 10-9 = 0,000 000 001 10-12 = 0,000 000 000 001 n p Quadro 9 - Prefixos do SI Fonte: SENAI DR BA, 2017. Já conhecemos os prefixos que são utilizados nos múltiplos e submúltiplos do sistema SI, agora, vere- mos na prática quais são os múltiplos e submúltiplos da unidade de medida de comprimento, o metro. O quadro a seguir apresenta a relação de múltiplos e submúltiplos do metro. Observe que eles são acréscimos do prefixo do SI. NOME Tetrâmetro Gigametro Megametro Quilômetro Hectômetro SÍMBOLO FATOR PELO QUAL AUNIDADE É MULTIPLICADA Tm Gm Mm Km hm Decâmetro Metro dam m Decímetro Centímetro dm cm Milímetro Micrometro mm µm Nanômetro Picômetro 1012 =1000 000 000 000 m 109 =1000 000 000 m 106 = 1000 000 m 103 = 1000 m 102 = 100 m 101 = 10 m 100 = 1 m 10-1 = 0,1 m 10-2 = 0,01 m 10-3 = 0,001 m 10-6 = 0,000 001 m 10-9 = 0,000 000 001 m 10-12 = 0,000 000 000 001 m nm pm Quadro 10 - Múltiplos e submúltiplos do metro Fonte: SENAI DR BA, 2017. NOME tera giga mega quilo hecto SÍMBOLO FATOR PELO QUAL AUNIDADE É MULTIPLICADA T G M K h deca - da - deci centi d c mili micro m µ nano pico 1012 = 1000 000 000 000 109 = 1000 000 000 106 = 1000 000 103 = 1000 102 = 100 101 = 10 100 = 1 10-1 = 0,1 10-2 = 0,01 10-3 = 0,001 10-6 = 0,000 001 10-9 = 0,000 000 001 10-12 = 0,000 000 000 001 n p LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DESENHO56 Tendo como base os prefixos do SI, é possível determinar a relação de múltiplos e submúltiplos de qualquer unidade de medida. Eles não se aplicam apenas em unidades de comprimento, são aplicados, também, em unidades de área, como o quilômetro quadrado (km²), que é um múltiplo do metro quadrado (m²); em unidades de volume, como o decímetro cúbico (dm³, que é equivalente a um litro), que nada mais é que o submúltiplo do m³. Sendo assim, os múltiplos e submúltiplos podem ser utilizados em diversas situações. SAIBA MAIS Para saber mais sobre múltiplos e submúltiplos das unidades de comprimento e qual a relação entre eles, acesse o conteúdo no site InfoEscola. Lembre-se que os múltiplos e submúltiplos podem ser usados tanto no sistema métrico quanto no sis- tema inglês de medidas seguindo os mesmos critérios abordados anteriormente, representando
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